Homilias JOÃO PAULO II 816


SANTA MISSA POR OCASIÃO DA VISITA DO SANTO PADRE

AO INSTITUTO ESLOVACO DE SÃO CIRILO E SÃO METÓDIO


Domingo, 8 de Novembro de 1981




Caros Irmãos no serviço episcopal amados filhos e filhas!

As fontes históricas narram que o Papa Adriano II foi pessoalmente dar as boas-vindas a São Cirilo e São Metódio quando chegavam a Roma e traziam consigo as relíquias de São Clemente, mártir e Bispo de Roma (cf. Vida de Constantino XVII, 1).

817 O actual Sucessor de Clemente e Adriano vem hoje fora das portas da Cidade, para saudar os Santos Irmãos de Tessalonica e venerar a memória deles nesta igreja, na casa que lhes é dedicada.
A saudação alarga-se depois a todos os presentes. — Em primeiro lugar a vós, caríssimos Irmãos no serviço episcopal. Em particular saúdo-o a si, Arcebispo Andréa Pangrazio: como Bispo diocesano vigia, com amor e com olhar atento, pela vida e pela actividade da família eslovaca cirilo-metodiana que vive neste Instituto e lhe assegura a inserção na Igreja universal. — Saúdo-o a si, Bispo Andréa Grutka, como protector e guarda desta família desde o início até hoje. — Saúdo-o também a si, Padre director, Monsenhor Dominik Hrusovsky. Saúdo-vos a vós, todos os que trabalhais no Instituto Eslovaco de São Cirilo e São Metódio: sacerdotes, religiosos, religiosas e auxiliares. Com amor especial vos saúdo a vós, caros seminaristas. — E agora o meu olhar vai espiritualmente ainda mais longe, para todos aqueles que vós aqui, dalgum modo, representais: saúdo-vos, caros Eslovacos, na Pátria e fora da Pátria. Saúdo-vos a todos, com todo o coração e com o amor de pai.

Este amor guiou os meus passos também para o Instituto de São Cirilo e São Metódio: o amor para com os dois Santos irmãos e o amor para convosco. A minha visita a este Instituto é como novo anel na cadeia das manifestações de respeito e de confiança para com os apóstolos dos Eslavos. No fim do ano passado confiei à protecção deles toda a Europa, a fim de que, juntamente com São Bento, a guardassem e guiassem para a união, para a paz e para a fidelidade às próprias fontes espirituais. — A peregrinação ao túmulo de São Cirilo, na basílica de São Clemente, a 14 de Fevereiro deste ano, era a expressão de oração, para que a herança espiritual dos Compatronos da Europa trouxessem também hoje frutos copiosos. — A bênção na cripta da basílica de São Pedro, na segunda-feira desta semana, significava a dedicação permanente daquele insigne lugar ao culto dos protectores da Europa. — Hoje estamos aqui, neste posto onde a mensagem espiritual de São Cirilo e São Metódio é regra de vida e programa consciente de trabalho quotidiano, para meditarmos juntos sobre a sua mensagem, para nos inspirarmos no seu exemplo e invocarmos a sua protecção.

A leitura do Antigo Testamento, que ressoou aqui, há pouco, recorda a Sabedoria. Encontram-na todos os que a estimam e procuram. Vai à procura de todos os que são dignos dela e a procuram (cf. Sab
Sg 6,12 Sab Sg 6,16). Quem não pensaria logo no jovem Constantino que escolhe a Sabedoria para companheira da vida? (cf. Vida de Constantino III, 1-8). Trata-se da Sabedoria Divina, do próprio Deus. Deus pensou em tudo desde a eternidade, criou tudo no tempo e tudo incessantemente governa. Encontrou também o coração puro de Cirilo que O acolheu, se Lhe consagrou e viveu só para Ele. De Deus promanava toda a sabedoria de Cirilo, o seu amor à verdade e o seu desejo de difundir a verdade. Este cientista, buscador de novas estradas em filologia e na maneira de anunciar o Evangelho, este fundador da cultura dos povos eslavos, tudo ia buscar à Sabedoria Divina. Esta restituiu-lhe também a dignidade que fora malbaratada pelo pai; restituiu-lhe a dignidade de filho de Deus, que estimava mais que as riquezas e as posições no mundo (cf. Vida de Constantino IV, 14).

Aqui estão por conseguinte as raízes da cultura eslava: no Cristianismo, em Deus. A fé em Deus precede-a e é garantia da sua plena riqueza. Vale isto para toda a manifestação da vida e da actividade cultural. Seja também para vós, caríssimos, regra de proceder e de acção!

A parábola das virgens sábias e das virgens loucas leva-nos a considerar a sabedoria vital do homem que está de vela para se encontrar a cada momento preparado para o encontro com Deus. Quando, a esta luz, pensamos na obra dos santos Irmãos de Tessalonica, podemos reflectir na importância do seu contributo para a vida social e cívica. O âmbito da actividade que tiveram não se limitava ao campo exclusivamente religioso, mas da fé em Deus tiraram as consequências eficazes para a vida quotidiana dos particulares, das famílias e de toda a sociedade, a fim de cada sector, cada passo da vida, ter em Deus a fonte e o fim. Assim construíram os fundamentos de uma nova sociedade, da nova justiça e paz. Não temiam combater e sofrer por estes princípios. Em Deus encontravam o fim, o apoio e a força. Quantas acusações injustas, quantas humilhações teve de sofrer Metódio por causa da fidelidade à missão, que tinha como vontade de Deus e desempenhava como a última mensagem do irmão ao morrer!

Um exemplo da sensata vigilância dos santos apóstolos descobre-se também no esforço de prepararem sucessores. É sabido que na viagem para a Cidade eterna os acompanhava também o grupo de discípulos, recolhidos e preparados para o serviço sacerdotal. Não está nisto também uma das finalidades principais deste Instituto? Forcejai por a atingir com discreta vigilância, segundo o grande exemplo dos santos Cirilo e Metódio!

Cirilo, que muito lutou pelas suas iniciativas, e Metódio, que muito sofreu pelas suas actividades, transmitiram aos povos, que eram o campo do seu apostolado, uma ulterior prova de uma esclarecida vigilância, também porque lhes ensinaram a sofrer e os conduziram para o modelo da pessoa que sofre, para a Virgem Maria. Os vossos apóstolos frequentaram as escolas civis e religiosas em Constantinopla, onde a piedade mariana, nos primeiros séculos cristãos, recebeu mais de um esclarecimento. Não terá nisto a sua última raiz também a veneração dos Eslovacos para com Nossa Senhora das Dores? A Cruz no Calvário, na Cruz Cristo a morrer, e aos pés da Cruz a Mãe provada e amante: eis a imagem que pende sobre a história do povo eslovaco no passado e hoje. Cristo a sofrer é a força nas lutas e nos sofrimentos. Maria, por outro lado, é sempre a Mãe. Cristo a morrer dá a certeza da ressurreição, a Mãe elevada ao céu assegura o consolo da vida eterna. Isto valia no passado, vale hoje e será sempre garantia de fidelidade ao conteúdo pleno da herança dos antepassados.

Meus caros, permanecei sempre fiéis a esta herança! Penetrai-a cada vez melhor, em profundidade, em todas as suas dimensões vitais, com todas as consequências para a vida pessoal e social! Vivei segundo esta herança, permanecei-lhe fiéis, defendei-a e enriquecei-a na certeza de que ela constitui a base da vossa grandeza espiritual e da real prandeza cultural do vosso povo, e de todo o povo e toda a nação. Nisto vos guie o exemplo dos vossos Santos apóstolos e a protecção de Nossa Senhora das Dores, Padroeira da Eslováquia.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE NA

PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA DA SAÚDE


Domingo, 15 de Novembro de 1981




Caríssimos fiéis

818 1. "Ditoso o que segue o caminho do Senhor" (Ps 127,1). Com estas palavras da sagrada Liturgia exprimo-vos a alegria por encontrar-me hoje no meio de vós, romanos do bairro de Primavalle, e por me ser possível manifestar-vos pessoalmente, a minha profunda afeição, cumprindo assim a promessa por mim feita a uma vossa representação em Dezembro do ano passado, por ocasião da bênção no Vaticano da Imagem de Nossa Senhora do vosso Centro Desportivo: tinha-lhes dito que vos viria visitar na vossa sede paroquial.

Desejo por isso saudar, primeiro que tudo, o Cardeal Poletti e o Bispo Auxiliar deste sector da diocese de Roma, Dom Remígio Ragonesi; o Pároco, Padre Cosma di Mambro, que, juntamente com os seus irmãos da Ordem Terceira Regular, dirige esta Paróquia, que há 30 anos se tornou ponto de referência espiritual e social para a população deste bairro.

Dirijo também uma saudação cordial a todos os que trabalham e se sacrificam pelo anúncio do Evangelho, pela salvação e santificação das almas, e pelo auxílio caritativo àqueles que têm necessidade de pão e de conforto. Em particular, saúdo, as Irmãs Sacramentinas de Bérgamo, as do Preciosíssimo Sangue de Monza, e do Amor de Deus, as Operariazinhas dos Sagrados Corações e as Filhas da Sabedoria, cujos beneméritos Institutos se dedicam entre vós à educação das crianças da Escola materna e dos meninos das Escolas Elementares, ou se dedicam a receber pobres e peregrinos; saúdo igualmente os representantes do Conselho Pastoral, os Catequistas, os vários grupos de Acção Católica e doutras Associações eclesiais, encontrando-se entre eles o grupo Cavilas paroquial e o do Compromisso Missionário, o Conjunto Coral "Canto Sacro", o grupo de Ajudantes da Missa, como também os membros cia ACLI, da Cruzada Antiblasfema, dos Cristãos da Escola, da Imprensa "Giovani d'Europa", tantos outros.

Faço chegar depois a minha saudação a toda a grande família paroquial, com particular pensamento nas crianças que são o conforto e a esperança da família, nos doentes e naquelas pessoas anciãs que sofrem pelas múltiplas dificuldades em que vêm a encontrar-se, por causa da doença e da solidão. Todos aperto ao meu coração, no nome de Cristo e da Virgem Santíssima da Saúde, vossa celestial Protectora.

2. "Ditoso o homem que teme o Senhor" (Ps 127,4). Na Liturgia do presente domingo, 33º "per annum", que nos prepara para o Advento já próximo, a Igreja apela para um vigilante e dinâmico emprego dos talentos que o Senhor confiou a cada um de nós e para sermos generosos na correspondência à graça e aos dons que Ele nos destina. Não são dignos do Senhor, por isso, aquela comunidade e aquele indivíduo em particular que, por medo de comprometer-se, se encerram em si mesmos e se alheiam das realidades deste mundo. Eis que, no Evangelho de hoje, encontramos a atitude típica daquele que não faz frutificar os dons recebidos: "Senhor, compreendi que és homem rígido: colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Tive medo e fui esconder o teu talento na terra" (Mt 25,24-25). Pode acaso dizer-se dele que é "bem-aventurado", porque "teve medo do senhor"? Com certeza que não!: fazem-no compreender as palavras mesmas de Cristo. O senhor da parábola repreende, de facto, o comportamento daquele servo. É servo "mau e preguiçoso", que não utilizou na verdade o dinheiro que lhe fora confiado, não o fez render mas também não o desperdiçou. E eis o que disse o senhor: "Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Pois a todo aquele que tem dar-se-á e terá de sobejo, mas àquele que não tem, até o que tem lhe será tirado" (Mt 25,28-29). Esta parábola dos talentos ensina-nos a distinguir o verdadeiro temor de Deus, do falso. O verdadeiro temor de Deus não é terror, mas antes dom do Espírito, pelo qual se teme ofendê-l'O, entristecê-l'O e não fazer os esforços suficientes para ser fiel a vontade d'Ele; ao passo que o falso temor de Deus é fundado na desconfiança n'Ele e no mesquinho cálculo humano. Verdadeiro temor de Deus tem aquele que "segue o caminho do Senhor" (Ps 127,1), assim como se manifestou no comportamento do primeiro e do segundo servo, ambos louvados pelo Senhor com as palavras: "Muito bem, excelente e fiel servidor! Como foste fiel em coisa pouca, à testa de muita coisa te hei-de colocar" ().

3. Mas qual é o significado destes talentos evangélicos? Como é sabido, têm sentido analógico e por isso podem prestar-se a várias aplicações. A parábola responde, primeiro que tudo, às exigências do Reino: enganam-se aqueles que julgam cumprir o seu dever para com Deus, dando-Lhe aquilo que julgam como "seu" d'Ele, segundo diz o servo preguiçoso: "Aqui tens o que te pertence" (Mt 25,25), isto é sem pensar que se trata de uma relação existencial, em que o homem deve corresponder com tudo o que é, sem soluções ditadas pela comodidade ou por temores. De facto, a parábola, inserida como está no contexto da parusia, faz pensar na plenitude do Reino, como prémio de uma vigilância que é expectativa operante e corajosa, em vista da qual não é possível satisfazermo-nos com reter o tesouro, de maneira que manter infrutuosos os dons dos vários talentos é culpa que merece "pranto e ranger de dentes" (Mt 25,30). Tudo isto comporta, para todo o cristão, não só esforço para corresponder às graças divinas em ordem à perseverança final, mas exige também a vontade de construir um mundo novo. Neste bairro de Primavalle, por exemplo, trata-se de influir para transformar, cada vez mais, a paróquia num centro de promoção espiritual, numa verdadeira comunidade de crentes que louvam o Senhor e, em Seu nome, se amam reciprocamente, sempre solícitos uns com as necessidades dos outros. Tal esforço tende a contribuir para a solução dos mais graves problemas sociais que preocupam os habitantes desta área, como os problemas da casa, do desemprego, da falta de meios de transporte e de escolas superiores, a defesa dos cidadãos diante do fenómeno repetido da violência, da droga e dos maus costumes, que ameaçam muitas vezes os mais fracos, inexperientes e inocentes.

4. Estes fenómenos negativos ameaçam sobretudo a santidade e a integridade da família. O trecho do Livro dos Profetas e o Salmo responsorial, que lemos há instantes, são muito instrutivos a este respeito. Neles descreve-se a mulher ideal no interior da família, e exaltam-se os méritos e a alegria de que ela sabe encher o seu lar. As suas principais qualidades são: a laboriosidade, o interesse pelos pobres, a sabedoria, a bondade e a entrega total ao marido e aos filhos. Deste modo, empregando ela ajuizadamente o seu talento, realiza de maneira plena a sua vocação de mulher no ambiente da família e no mais vasto da Igreja e da sociedade. Em toda a parte fazendo a mulher frutificar o seu talento de fé e de caridade operosa — a família — de que ela é competente guarda e inspiradora, e "na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social, constitui assim o fundamento da sociedade" (Gaudium et Spes GS 52).

5. Por isso, da presente liturgia nasce um duplo apelo para se permanecer em Cristo, como ouvimos no canto da Aleluia: "Vigiai e estai prontos, porque não sabeis em que dia o Senhor virá", e outro apelo para vigiar, segundo a palavra de São Paulo aos Tessalonicenses. Também aqui volta o tema geral do emprego generoso dos talentos, dados por Deus. O cristão não é aquele que perde tempo a discutir, sobre o dia e sobre a hora da vinda do Senhor, mas antes aquele que, instruído pelas palavras de Jesus, vive em comunhão com Ele, vigiando constantemente. Esta espera, para ser autêntica, deve ser operosa. Paulo insiste com os Tessalonicenses para que sejam activos no bem: o bem concreto, o de cada dia. Serão salvos aqueles que são vigilantes e sóbrios, não aqueles que dormem. Uma certeza guia a vida do cristão e determina o seu comportamento: o Senhor virá! E a Sua vinda não se deve considerar só em termos escatológicos, isto é, aquela que se dará no fim do mundo, mas também a que se dá no nosso tempo e no nosso viver de cada dia. Daqui nasce também a nossa responsabilidade diante do mundo pela sua paz e a sua segurança (cf. 1Th 5,3); não por "aquela paz que reina entre os homens, mal segura, instável, mudável e incerta, ... mas por aquela paz proveniente de Jerusalém", como explica Santo Agostinho (Enarr. in Ps 127,16), isto é por aquela paz que é assegurada pelo Senhor. Continua o Santo Bispo de Hipona: "É esta a paz que nós vos pregamos, que nós mesmos amamos e desejamos seja amada por vós. É uma paz que hão-de conseguir aqueles que foram pacíficos aqui na terra. Para estar do lado de lá na paz, é necessário ser pacífico do lado de cá. Estes pacíficos rodeiam a mesa do Senhor" (Ibid. 16).

6. Caríssimos fiéis de Primavalle, com esta paz no coração aproximemo-nos também nós agora, do santo altar, para tomar parte na celebração eucarística. Ao Senhor Jesus, que dentro em pouco se tornará presente no meio de nós sob as espécies de pão e de vinho, peçamos confirme nos nossos corações os auspícios expressos nesta Liturgia da Palavra. Podem resumir-se no empenho quotidiano para sabermos avaliar, cada vez melhor e mais, a função insubstituível da família na Igreja e na sociedade contemporânea; a espera activa e confiante do dia do Senhor, espera que seja capaz de orientar a vida e determinar o comportamento; e por fim o emprego acertado dos talentos recebidos de Deus com amorosa confiança no Pai, sem nos deixarmos dominar pelo medo, próprio do terceiro servo, porque o medo não deve subsistir no cristão, tendo-se ele tornado, com o baptismo, filho de Deus e co-herdeiro de Cristo.

As palavras do Senhor: "Muito bem, excelente e fiel servo... toma parte na alegria do teu senhor" () mostrem-se verdadeiras e realizem-se também para cada um de vós!

Confio estes votos a Maria Santíssima da Saúde. Ela vos ajudará a descobrir e a aplicar todos os vossos talentos. Ajudar-vos-á a fazer deles o melhor uso. Ela, que é a saúde dos enfermos, não deixará de salvar as vossas almas e de conduzir-vos a Jesus, fruto bendito do seu ventre. Amém.



VISITA DO SANTO PADRE AO INSTITUTO SÃO JOÃO BAPTISTA DE LA SALLE


819
Sábado, 21 de Novembro de 1981




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É para mim razão de grande alegria poder-me encontrar convosco, à volta do altar do Senhor, para celebrar a Liturgia Eucarística, encerrando o ano jubilar, com que se quis recordar a fundação deste Instituto realizada há 300 anos em Reims, na França, por São João Baptista de La Salle.

Com toda a exactidão, a data fixada para esta visita, como bem sabeis, era 16 de Maio último; mas a Divina Providência, em que o Fundador dos Irmãos das Escolas Cristãs cria firmemente e a que se entregava com extrema confiança, decidiu doutra forma. Logo porém que foi possível, não deixei de realizar a promessa, e vim tomar parte na vossa alegria e exprimir o apreço e o reconhecimento da Igreja inteira.

Inspirando-vos nos exemplos e na doutrina de São João Baptista de La Salle, verdadeiro génio de educador cristão, vós propagastes, em nada menos de 82 nações, os seus ideais e as suas ansiedades apostólicas. Ele, nesse grande século que foi para a França o de "Seiscentos", intuiu que era necessário ensinar sobretudo a arte de viver cristãmente, e dedicou-se ao ideal da escola cristã com o intento de dar a todos uma sólida cultura à luz do Evangelho.

As inovações e as obras por ele realizadas significam a grandeza daquele homem inteligente e de vistas largas; a profundidade da doutrina e a heroicidade das virtudes demonstram a santidade a que subiu. Recolhestes com ânimo ardente a sua preciosa herança: no dia em que morreu, o que sucedeu em Ruão a 7 de Abril de 1719, os Irmãos eram 101 e tinham escolas em várias regiões da França e uma também em Roma, com a aprovação pontifícia; hoje cerca de 11 mil ensinam em todas as partes da terra.

Tudo isto é motivo, para vós e para a Igreja, de alegria e de acções de graças ao Senhor, que, apesar das dificuldades e adversidades, manteve viva a chama acesa pelo Fundador e permitiu lhe fosse continuada a obra tão necessária e benemérita.

2. O hodierno encontro, tão solene e significativo, oferece-nos ocasião de meditar sobre os ensinamentos de São João Baptista de la Salle, inspirando-nos na cena descrita pelo Evangelho, que foi agora proclamado.

É um episódio que à primeira vista pode desconcertar. Por um lado nota-se o afecto de Maria e dos parentes para com Jesus, os quais O amam, O seguem, tremem por Ele, e por vezes ficam até perplexos pelos Seus discursos e o Seu modo de proceder; por outro vê-se a dedicação da gente por Jesus, aplicada à atenta auscultação da Sua palavra. E Jesus, quando lhe anunciam que Sua Mãe e os Seus parentes desejam encontrar-se com Ele, percorre com o olhar a multidão e diz: "Quem são a minha Mãe e os meus irmãos? Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha Mãe" (
Mc 3,31-35). Jesus, com palavras serenas, parece desprender-se dos afectos humanos e terrenos, para afirmar um tipo de parentesco espiritual e sobrenatural que deriva do cumprimento da vontade de Deus. Certamente Jesus, com aquela frase, não queria eliminar o próprio amor por Sua Mãe e seus parentes, nem menos ainda negar o valor dos afectos familiares. Pelo contrário, é exactamente a mensagem cristã que sublinha sem cessar a grandeza e a necessidade dos laços familiares. Jesus queria, em certo modo, antecipar ou explicar a doutrina fundamental da videira e dos sarmentos, isto é da mesma vida divina que passa de Cristo Redentor para o homem remido pela Sua "graça". Cumprindo a vontade de Deus, nós somos levados à dignidade suprema da intimidade com Ele. Esta foi a preocupação contínua do vosso Santo Fundador, que perto da morte disse ainda: "Adoro em todas as coisas a vontade de Deus a meu respeito", e este ideal Ele no-lo aponta com toda a sua riqueza espiritual. Trata-se de descobrir qual é, com efeito, a vontade do Altíssimo!

Pode-se dizer, em geral e primeiramente, que fazer a vontade de Deus significa aceitar a mensagem de luz e de salvação anunciada por Cristo, Redentor do homem. De facto, se Deus quis entrar na nossa história, assumindo a natureza humana, é sinal certo de que deseja e quer ser conhecido, amado e seguido na sua histórica e concreta presença. E como Deus é "Verdade" por essência, revelando-se na história sempre mudável e contrastada, Ele devia necessariamente, pela lógica intrínseca da verdade, garantir a Revelação e a consequente Redenção mediante a Igreja, composta de homens mas por Ele mesmo assistida de modo particular, para que a verdade revelada fosse mantida íntegra e segura na lida dos tempos. São João Baptista de La Salle entendeu perfeitamente esta primeira exigência da vontade de Deus que é a fé em Cristo e na Igreja. Quis portanto as "Escolas Cristãs" para a educação e a formação das crianças e dos jovens no sentido do "encontro com Cristo": e no testamento espiritual pedia a Deus a graça de que a família por ele fundada "estivesse sempre sinceramente sujeita ao Papa e à Igreja Romana". É este um ensinamento muito valioso mesmo na nossa época, em que é necessário ensinar a descobrir e a valorizar tudo o que há de bom nas correntes do pensamento moderno, sem todavia ceder em nada quanto ao que é património da "Verdade". Juntamente com a fé em Cristo, é do mesmo modo vontade de Deus a vida em "graça", quer dizer a prática da "lei moral", expressão precisamente da vontade divina quanto ao ser racional e volitivo, criado à Sua imagem. Existe hoje infelizmente a tentativa de eliminar o sentido da culpa e da realidade do pecado. Nós sabemos, pelo contrário que a "lei moral" existe e que a preocupação fundamental do homem deve ser amar sinceramente a Deus cumprindo as Suas vontades, que formam depois, na realidade, a autêntica felicidade humana, Vontade de Deus é por isso o viver em "graça", longe do pecado, e voltar à "graça" mediante o arrependimento e a Confissão sacramental, todas as vezes que ela tenha sido perdida. Este foi também o intento de São João Baptista de La Salle com a instituição das Escolas Cristãs: "Estamos neste mundo unicamente para salvar-nos!" — escrevia nas suas "Meditações sobre as principais festas do ano" e convidava a que se pedisse à Virgem Santíssima a graça de poder evitar o mal.

Por fim, é certamente vontade de Deus o esforço na caridade. "Se não tiver caridade — escrevia São Paulo — sou como bronze que ressoa ou um címbalo que tine"... E continuava "Ainda que possua a fé em plenitude, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou" (1Co 13,1-2). Impelido por este apaixonado espírito de caridade, São João Baptista de La Salle quis dedicar-se aos jovens mais pobres — económica, cultural e espiritualmente — e inculcou que, debaixo do vestuário humilde e miserável, fosse sempre vista a pessoa de Cristo.

820 O Santo Fundador interpretou exactamente a afirmação de Jesus. Exorto-vos também a vós a que o sigais sempre e em todo o lugar, com amor, com fervor, com generosidade e alegria.

3. Caríssimos!

Hoje, 21 de Novembro, Festa da Apresentação de Maria no templo, ocorre espontaneamente concluir esta Homilia recordando a terna devoção que sempre cultivou São João Baptista de La Salle por Maria Santíssima, devoção de que são densas as suas obras ascéticas e pedagógicas. Dizia explicitamente: "Se tivermos verdadeira devoção pela Santíssima Virgem, nada poderá faltar-nos de quanto for necessário para a nossa salvação" ("Meditações sobre as principais festas do ano") e insistia particularmente na reza quotidiana do Rosário; desejava que o dia se encerrasse com a oração "Maria Mater gratiae", a última que ele mesmo rezou no leito da morte.

São João Baptista de La Salle seja-vos de exemplo e de guia no empenho de cumprir a vontade de Deus e no esforço para adquirir uma terna e autêntica devoção a Nossa Senhora, que não deixará de obter-vos a perseverança no amor a Cristo e aos irmãos.

Desejo acrescentar uma palavra na língua do vosso Fundador, que é também a de certo número dentre vós. Todos — mestres, pais e alunos — tende confiança nas capacidades de fé, de bem e de dom de si mesmo, que repousam no coração das jovens gerações, mas que é preciso despertar, reforçar e desenvolver, segundo o amor exigente de Jesus Cristo, "não como vasos para encher, mas almas para formar", segundo a expressão de São João Baptista de La Salle. Para vós ilumine este grande Santo o caminho, e suscite novos Irmãos, a fim de que, por vós e por eles, a Igreja de hoje continue com ardor a sua missão educadora.



VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE

AO SANTUÁRIO DE COLLEVALENZA E A TODI

(22 DE NOVEMBRO DE 1981)

SANTA MISSA NA ESPLANADA

DO SANTUÁRIO DE COLLEVALENZA




Domingo, 22 de Novembro de 1981




1. "Vinde, benditos de Meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo" (Mt 25,34). Ouvimos estas palavras há pouco, no Evangelho da solenidade de hoje. Estas palavras pronunciará o Filho do homem quando, como rei, se encontrar diante de todos os povos da terra, no fim do mundo. Então, quando "Ele apartar as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos" (Mt 25,32), a todos os que se encontrarem à Sua direita dirigirá as palavras: "recebei em herança o Reino".

Este reino é o dom definitivo do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É o dom preparado "desde a criação do mundo" (Mt 25,34), no decurso de toda a história da salvação. É o dom do Amor misericordioso.

Por isso hoje, festa de Cristo, Rei do universo, e último domingo do ano litúrgico, desejei vir ao santuário do Amor misericordioso. A liturgia deste domingo torna-nos conscientes, de modo particular, de no reino, revelado por Cristo crucificado e ressurgido, se dever completar definitivamente a história do homem e do mundo:

"Cristo de facto, ressuscitou dos mortos /como primícias dos que morreram" (1Co 15,20).

2. O reino de Cristo, que é dom do eterno Amor, do Amor misericordioso, foi preparado "desde a criação do mundo".

821 Todavia, "por um homem veio a morte" (1Co 15,21) e "todos morrem em Adão" (1Co 15,22). À essência do reino, nascido do Eterno Amor, pertence a Vida e não a morte.

A morte entrou na história do homem juntamente com o pecado.

A essência do reino, nascido do eterno Amor, pertence a Graça, não o pecado.

O pecado e a morte são inimigos do reino, porque neles se sintetiza, em certo sentido, a soma do mal que há no mundo, penetrado no coração do homem e na sua história.

O Amor misericordioso tende à plenitude do bem. O reino "preparado desde a criação do mundo" é reino da verdade e da graça, do bem e da vida. Tendendo para a plenitude do bem, o Amor misericordioso entra no mundo assinalado com o ferrete da morte e da destruição. O Amor misericordioso penetra no coração do homem, agravado pelo pecado e pela concupiscência, que é "do mundo". O Amor misericordioso inicia um encontro com o mal; enfrenta o pecado e a morte. E precisamente nisto se manifesta e reconfirma o facto de este Amor ser maior que todo o mal.

São Paulo, todavia, torna-nos conscientes de quanto é longo o caminho que este Amor deve percorrer, o caminho que leva a que se complete o Reino "preparado desde a criação do mundo". Ele, escrevendo sobre Cristo Rei, exprime-se deste modo: "É necessário que Ele reine, até que haja posto todos os inimigos debaixo de Seus pés. O último inimigo a ser destruído será a morte" (1Co 15,25 s.).

A morte foi já aniquilada, pelo primeira vez, na ressurreição de Cristo, que em tal vitória se manifestou Senhor e Rei.

Todavia, no mundo continua a dominar a morte: "todos morrem em Adão", porque no coração do homem e na sua história pesa o pecado. Dir-se-ia que pesa de modo particular na nossa época.

Quão grande é o poder do Amor do misericordioso, que esperamos até Cristo colocar todos os inimigos de baixo dos Seus pés, vencendo até ao fundo o pecado e aniquilando, como último inimigo, a morte!

O reino de Cristo é uma tensão para a vitória definitiva do Amor misericordioso, para a plenitude escatológica do bem e da graça, da salvação e da vida.

Esta plenitude tem o seu início visível, sobre a terra, na cruz e na ressurreição. Cristo, crucificado e ressuscitado, é até ao fundo autêntica revelação do Amor misericordioso. É rei dos nossos corações.

822 4. "É necessário que Ele reine" na Sua cruz e ressurreição, é necessário que reine até "entregar o Reino a Deus Pai..." (). Quando, de facto, reduzir ao nada "todo o principado, potestade e dominação", que mantêm o coração humano na escravidão do pecado, e o mundo na submissão à morte; quando "tudo lhe estiver submetido", então também o Filho fará acto de submissão Àquele que Lhe submeteu todas as coisas, porque Deus está todo em todos" (1Co 15,28).

Eis aqui a definição do reino, preparado "desde a criação do mundo".

Eis aqui a definitiva realização do Amor misericordioso: Deus, tudo em todos!

Todos os que no mundo repetem cada dia as palavras "venha a nós o vosso reino", pedem afinal "que, Deus seja tudo em todos". Todavia, "por causa de um homem veio a morte" (1Co 15,21), a morte, cuja dimensão interna no espírito humano é o pecado.

E eis, o homem, permanecendo nesta dimensão de morte e de pecado, o homem tentado desde o princípio com as palavras: "sereis como Deus" (cf. Gén Gn 3,5), quando pede "venha a nós o vosso reino", infelizmente opõe-se à vinda dele, repele-a mesmo. Parece dizer: se afinal Deus vier a ser "tudo em todos", que ficará para mim, homem? Este reino escatológico não absorverá o homem mesmo, não o aniquilará?

Se Deus é tudo, o homem é nada; não existe. Assim o proclamam os autores das ideologias e dos programas, que exortam o homem. a voltar as costas a Deus, a opor-se ao Seu reino com absoluta firmeza e determinação, pois só assim pode construir o próprio reino; isto é, o reino do homem no mundo, o reino indivisível do homem.

5. Assim pensam, assim proclamam e por isto se batem. Empenhando-se em tal batalha, parecem não reparar em que o homem não pode reinar enquanto nele prosseguir dominando o pecado; não reparar que ele não é verdadeiramente rei enquanto sobre ele dominar a morte... Que qualidade de reino é este, se não se liberta o homem daquele "principado, potestade e dominação", que arrastam ao mal a sua consciência e o seu coração, e fazem brotar, das obras do génio humano, horríveis ameaças de destruição?

Tal é a verdade sobre o mundo em que vivemos. A verdade sobre o mundo em que o homem, com toda a sua firmeza e determinação, repele o reino de Deus, para fazer deste mundo o próprio reino indivisível. E, ao mesmo tempo, sabemos que no mundo já existe o reino de Deus. Existe de modo irreversível. Está no mundo: está em nós!

Oh! de quanta potência de Amor têm necessidade o homem de hoje e o mundo! De quanta potência do Amor misericordioso! Para aquele reino, que já existe no mundo, poder reduzir a nada o reino do "principado, potestade e domínio", que levam o coração do homem ao pecado, e sobre o mundo estendem a horrível ameaça da destruição.

Oh! quanta potência do Amor misericordioso se deve manifestar na cruz e na ressurreição de Cristo!

"É necessário que Ele reine...".

823 6. Cristo reina, por isso mesmo que tudo e todos conduz ao Pai, reina para entregar "o reino a Deus Pai" (1Co 15,24), para se submeter a Si mesmo Àquele que Lhe submeteu todas as coisas" (1Co 15,28).

Ele reina como Pastor, como o Bom Pastor.

Pastor é aquele que ama as ovelhas e delas tem cuidado, protege o rebanho da dispersão e reúne-o "de todas as partes por onde tenha sido disperso num dia de nuvens e trevas" (Ez 34,12).

A hodierna liturgia contém um comovido diálogo do Pastor com o rebanho.

Diz o Pastor: "Sou Eu que apascentarei as Minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar... Procurarei a ovelha perdida; reconduzirei a transviada; a que está ferida tratá-la-ei; à doente darei força, ao mesmo tempo que vigiarei a que está gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça" (Ez 34,15-16),

Diz o Rebanho:

"O Senhor é o meu pastor,
nada me falta.
Em verdes prados me faz recostar.
Conduz-me junto das águas refrescantes para repousar.
Reconforta a minha alma, e guia-me por caminhos rectos,
824 Por amor do Seu nome...
Graça e misericórdia hão-de acompanhar-me
Todos os dias da minha vida. Habitarei na casa do Senhor,
Durante larguíssimos tempos" (Sl 22/23, 1-3.6).

Este é o falar quotidiano da Igreja.

O diálogo que se trava entre o Pastor e o Rebanho e em tal diálogo apresenta-se na maturidade o reino "preparado desde a criação do mundo" (
Mt 25,24).

Cristo Rei, como Bom Pastor, prepara de diversos modos o Seu Rebanho, isto é todos aqueles que Ele deve entregar ao Pai "para que Deus seja tudo em todos" (1Co 15,28).

7. Quanto deseja, Ele dizer a todos um dia: "Vinde, benditos de Meu Pai, recebei em herança, o Reino" (Mt 25,34).

Quanto deseja Ele encontrar, ao desfiar-se a história do mundo, aqueles a quem poderá dizer: "...tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e destes-Me de vestir; adoeci e visitastes-Me; estive na prisão e fostes ter Comigo" (Mt 25,35-36)!

Quanto não deseja Ele reconhecer as Suas ovelhas por meio das obras de caridade, mesmo por uma só delas, mesmo por causa de um copo de água dado em Seu nome (cf. Mc Mc 9,41)!

Quanto não deseja Ele reunir as Suas ovelhas num só redil definitivo, para colocá-las "à sua direita" e dizer: "recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo"!

825 Todavia, na mesma parábola, fala Cristo também dos cabritos que se encontrarão "à esquerda". São aqueles que recusaram o reino. Recusaram não só a Deus, considerando e proclamando que o Seu reino aniquila o indiviso reino do homem no mundo, mas recusaram também o homem: não o recolheram, não o visitaram nem lhe deram de comer nem de beber.

O reino de Cristo, de facto, confirma-se, nas palavras do juízo final, como reino do amor para com o homem. A última base da condenação terá precisamente esse motivo: "Sempre que deixastes de fazer isto a um destes mais pequeninos, foi a Mim que o deixastes do fazer" (
Mt 25,45).

Este é portanto o reino do amor para com o homem, do amor na verdade; e é por isso o reino do Amor misericordioso. Este reino é o dom "preparado... desde a criação do mundo", dom do Amor. E também fruto do Amor, que no decorrer da história do homem e do mundo se abre constantemente caminho através das barreiras da indiferença, do egoísmo, do desleixo e do ódio; através das barreiras da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida (cf. 1Jn 2,16); através do foco do pecado que traz em si cada homem, através da história dos pecados humanos e dos crimes, como por exemplo os que pesam sobre o nosso século e sobre a nossa geração,... através de tudo isto!

Amor misericordioso, pedimos-Te, não nos faltes!

Amor misericordioso, sê infatigável! Sê cada vez maior que todo o mal, que há no homem e no mundo. Sê maior que esse mal que aumentou no nosso século e na nossa geração!

Sê mais poderoso com a força do Rei crucificado!

"Bem-aventurado o Seu Reino que vem".



Homilias JOÃO PAULO II 816