Homilias JOÃO PAULO II 1141

1141 Na grande alegria deste evento, saúdo todos os que participam nesta liturgia, em especial o Arcebispo D. Albert Obiefuna, Pastor desta Igreja local de Onitsha, e todos os Bispos da Nigéria e dos países vizinhos. Com particular afecto saúdo os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os catequistas e todos os fiéis leigos. Agradeço aos membros de outras Comunidades Eclesiais Cristãs, da Comunidade muçulmana e de outras Tradições religiosas, que hoje se uniram a nós, e às várias autoridades estatais e locais presentes na nossa celebração. De modo especial, peço a Deus que recompense aqueles que trabalharam de maneira tão incansável, oferecendo com generosidade tempo, talentos e recursos, para que esta Beatificação tivesse lugar no solo nigeriano. Faço minhas as palavras do Salmista, ao convidar todos vós: «Enaltecei comigo o Senhor, em uníssono exaltemos o Seu nome» (Ps 34,3)!

3. A vida e o testemunho do Padre Tansi são fonte de inspiração para todos na Nigéria, País que ele tanto amou. Ele era antes de tudo um homem de Deus: as longas horas passadas diante do Santíssimo Sacramento cumularam o seu coração de amor generoso e corajoso. Os que o conheceram dão testemunho do seu grande amor a Deus. Todos os que se encontraram com ele se sentiram tocados pela sua bondade pessoal. Ele foi também um homem do povo: colocou sempre os outros antes de si mesmo, e esteve especialmente atento às necessidades pastorais das famílias. Assumiu o grande encargo de preparar bem os casais para o sagrado matrimónio e anunciou a importância da castidade. Procurou de todos os modos promover a dignidade das mulheres. De modo especial, considerava preciosa a educação das jovens. Também quando foi enviado pelo Bispo Heerey à Abadia Cisterciense do Monte São Bernardo, na Inglaterra, para seguir a própria vocação monástica, com a esperança de poder trazer para a África a vida contemplativa, ele jamais se esqueceu do seu povo e não deixou de oferecer orações e sacrifícios pela sua contínua santificação.

O Padre Tansi sabia que existe algo do filho pródigo em cada ser humano. Sabia que todos os homens e todas as mulheres são tentados a separar-se de Deus, para procurarem a própria independência e existência egoísta. Sabia que depois eles ficariam desiludidos pelo vazio da ilusão que os havia fascinado e que, no fim, eventualmente achariam nas profundezas do próprio coração o caminho do retorno à casa do Pai (cf. Reconciliatio et paenitentia RP 5). Encorajou as pessoas a confessarem os próprios pecados e a receberem o perdão de Deus no Sacramento da Reconciliação. Pediu-lhes que perdoassem uns aos outros como Deus nos perdoa e transmitissem o dom da reconciliação, tornando isto uma realidade em todos os níveis da vida nigeriana. O Padre Tansi esforçou-se por imitar o pai da parábola: estava sempre disponível para aqueles que procuravam a reconciliação. Difundia a alegria da comunhão restabelecida com Deus. Exortava as pessoas a acolherem a paz de Cristo, e encorajava-as a alimentar a vida da graça com a Palavra de Deus e com a sagrada Comunhão.

4. «Era Deus que reconciliava Consigo o mundo, em Cristo» (2Co 5,19).

Quando falamos do mundo reconciliado com Deus, estamos a falar não só dos indivíduos mas também de cada comunidade: famílias, clãs, tribos, nações, estados. Na Sua providência, Deus estabeleceu muitas alianças com a humanidade: a aliança com os nossos primeiros pais no Jardim do Éden; a aliança com Noé depois do dilúvio; a aliança com Abraão. A leitura de hoje, tirada do livro de Josué, recorda-nos a aliança estabelecida com Israel, quando Moisés libertou os israelitas da escravidão na terra do Egipto. E Deus agora estabeleceu a última e definitiva aliança com toda a humanidade em Jesus Cristo, que reconciliou cada homem e cada mulher — assim como nações inteiras — com Deus mediante a sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Cristo, portanto, faz parte da história das nações. Faz parte da história da vossa própria nação neste continente da África. Há mais de cem anos, os missionários chegaram à vossa terra para proclamar o Evangelho da reconciliação, a Boa Nova da salvação. Os vossos antepassados começaram a conhecer o mistério da redenção do mundo, e a participar na Nova Aliança em Cristo. Assim, a fé cristã está firmemente enraizada nesta terra e continua a crescer e a produzir muitos frutos.

O Beato Cipriano Michael Tansi é um primeiro exemplo dos frutos de santidade que cresceram e amadureceram na Igreja na Nigéria, visto que antes o Evangelho foi anunciado nesta terra. Ele recebeu o dom da fé graças aos esforços dos missionários e, fazendo seu o estilo de vida cristã, tornou-o realmente africano e nigeriano. De igual modo, também os nigerianos de hoje — tanto os jovens como os adultos — são chamados a colher os frutos espirituais que foram plantados no meio deles e estão agora prontos para a colheita. A respeito disso, desejo agradecer e encorajar a Igreja na Nigéria no que se refere à sua obra missionária na Nigéria, em África e noutros lugares. O testemunho que o Padre Tansi deu do Evangelho e da caridade cristã é um dom espiritual que esta Igreja local oferece agora à Igreja universal.

5. Deus, de facto, abençoou esta terra com riqueza humana e natural e é dever de todos assegurar que estes recursos sejam usados para o bem de todo o povo. Todos os nigerianos devem trabalhar para libertar a sociedade de tudo aquilo que ofende a dignidade da pessoa humana ou viola os direitos humanos. Isto significa reconciliar as diferenças, superar as rivalidades étnicas, e infundir honestidade, eficiência e competência na arte de governar. Dado que a vossa nação está empenhada numa transição pacífica para um governo democrático e civil, é necessário que políticos — homens e mulheres — amem profundamente o seu próprio povo e desejem mais servir que ser servidos (cf. Ecclesia in Africa ). Não pode haver espaço para a intimidação nem para a opressão dos pobres e dos fracos, para a exclusão arbitrária de indivíduos e de grupos da vida política, para o uso errado da autoridade ou para o abuso de poder. Com efeito, a chave para resolver os conflitos económicos, políticos, culturais e ideológicos é a justiça; e a justiça não é completa sem o amor pelo próximo, sem uma atitude de serviço humilde e generoso.

Quando consideramos os outros como irmãos e irmãs, então será possível dar início ao processo de eliminação das divisões dentro da sociedade e entre os grupos étnicos. Esta reconciliação é o caminho que conduz à verdadeira paz e ao autêntico progresso da Nigéria e da África. Esta reconciliação não é fraqueza ou covardia. Ao contrário, ela exige coragem e às vezes até mesmo heroísmo: é vitória antes sobre si mesmo do que sobre os outros. Jamais deveria ser considerada como uma desonra. Pois, na realidade, trata-se da paciente e sábia arte da paz.

6. O trecho do Livro de Josué que acabámos de escutar na primeira Leitura da liturgia de hoje, fala da Páscoa que os filhos de Israel celebraram depois de terem chegado à Terra prometida. Celebraram-na com alegria, porque viam com os próprios olhos que o Senhor mantivera as promessas que lhes tinha feito. Depois de quarenta anos de caminhada no deserto, fixaram-se agora na terra que Deus lhes tinha dado. A Páscoa do Antigo Testamento, a recordação do êxodo do Egipto, é a imagem da Páscoa do Novo Testamento, o memorial da passagem de Cristo da morte para a vida, que recordamos e celebramos em cada Missa.

Ao encontrarmo-nos diante do altar do Sacrifício, para daqui a pouco sermos alimentados e nutridos pelo Corpo e Sangue de Cristo, devemos estar convictos de que cada um de nós, segundo o nosso particular estado de vida, é chamado a não fazer menos do que o Padre Tansi fez. Tendo sido reconciliados com Deus, devemos ser instrumentos de reconciliação, considerando todos os homens e todas as mulheres como irmãos e irmãs, chamados a ser membros da única família de Deus.

1142 A reconciliação necessariamente comporta a solidariedade. O efeito da solidariedade é a paz. E os frutos da paz são a alegria e a unidade nas famílias, a cooperação e o desenvolvimento na sociedade, a verdade e a justiça na vida da nação. Oxalá tudo isto seja o radiante futuro da Nigéria!

«O Deus da paz seja com todos vós. Amém» (
Rm 15,33).



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À NIGÉRIA


Kubwa Arena, Abuja, 22 de Março de 1998

«Sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus» (Ep 2,19).


Caros Irmãos e Irmãs em Cristo!

1. Estas palavras da Carta de São Paulo aos Efésios assumem um particular significado aqui, na nova Capital Federal, a Cidade de Abuja. Num sentido muito real, esta Cidade quer representar o alvorecer duma nova hora para a Nigéria e para os nigerianos, uma era repleta de esperança na qual cada cidadão nigeriano, cada homem e cada mulher, é chamado a participar na construção de uma nova realidade nesta terra. A Nigéria, como a inteira África, está em busca dum modo para satisfazer as aspirações do seu povo e deixar para trás os efeitos da pobreza, dos conflitos, das guerras e do desespero, a fim de poder utilizar de modo adequado os imensos recursos do continente e alcançar a estabilidade política e social. A África tem necessidade de esperança, paz, alegria, harmonia, amor e unidade: é isto que afirmaram os Padres na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África (cf. Ecclesia in Africa ). Eis o que hoje, na nossa oração, pedimos a Deus.

De Abuja desejo exprimir a minha estima e o meu afecto a todos os nigerianos: a vós, presentes nesta Liturgia Eucarística e a quantos a seguem através da televisão ou da rádio. Dirijo uma particular saudação ao Arcebispo John Onaiyekan, aos outros Bispos, aos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos de todas as Igrejas locais da Nigéria e de outras partes da África. Saúdo os representantes do Governo, os chefes tradicionais e as outras autoridades aqui presentes esta manhã. Apresento cordiais boas-vindas aos membros das outras Igrejas e Comunidades Eclesiais cristãs, representadas pela Associação Cristã da Nigéria, e os seguidores das outras Tradições religiosas que se uniram a nós, em particular os membros da Comunidade muçulmana.

2. Caros Irmãos e Irmãs em Cristo, já transcorreram dezasseis anos desde a minha última visita à Nigéria. O entusiasmo com que me acolhestes faz com que, mais uma vez, eu me sinta em casa. E porventura não somos todos nós exortados a sentir-nos em casa como membros da única e grande família de Deus? É precisamente isto que nos diz São Paulo: somos «familiares de Deus», ou seja, membros da família de Deus!

Na ordem natural, a família representa o fundamento e a base de todas as comunidades e sociedades humanas. Do núcleo representado pela família derivam clãs, tribos, povos e estados; também a grande família das nações africanas nasce, em suma, da família humana composta por marido e mulher, mãe, pai e filhos.

A cultura e tradição africanas têm na mais alta consideração a família. É por isso que os povos da África se alegram com o dom da nova vida, uma vida concebida e nascida; eles rejeitam espontaneamente a ideia de que a vida possa ser destruída no seio materno, mesmo quando as chamadas «civilizações avançadas» procuram levá-los nesta direcção; demonstram o seu respeito pela vida humana até ao seu termo natural e reservam no seio da família um lugar para os pais idosos e os parentes (cf. Ecclesia in Africa ). As culturas africanas têm um profundo sentido da solidariedade e da vida comunitária, em particular no que diz respeito à família alargada e à aldeia (cf. ibid.). Estes são sinais de que compreendeis e satisfazeis as exigências daquela justiça e integridade de que fala o profeta Isaías na Primeira Leitura (cf. Is Is 56,1). Precisamente no relacionamento dentro da família e entre as famílias é que a justiça e a integridade se tornam realidade imediata e um empenho prático.

3. Quando esta ordem natural é elevada à ordem sobrenatural, tornamo-nos membros da família de Deus e somos edificados numa casa espiritual, onde habita o Espírito de Deus. Contudo, como pode aquilo que é natural ter acesso ao que é sobrenatural? Como é que nos tornamos membros da família de Deus e passamos a ser templos santos do Espírito de Deus?

1143 A realidade da família, tal como existe a nível cultural e social, é elevada pela graça e levada a um nível superior. Entre os baptizados, as relações no seio da família assumem um carácter novo: tornam-se uma comunhão de vida e de amor repleta de graça, ao serviço da comunidade mais ampla. Além disso eles edificam a Igreja, a família de Deus (cf. Lumen gentium LG 6). A Igreja, através da sua missão evangelizadora e da sua presença activa em todas as partes do mundo, dá um novo significado ao próprio conceito de família e, como consequência, ao conceito de nação como «família de famílias» e ao de mundo como «família de nações».

Sinal maravilhoso do carácter universal da família de Deus, que inclui realmente todos os povos, foi ontem, em Onitsha, a Beatificação, primeira cerimónia deste género que nunca se tinha realizado no solo nigeriano, em honra de um dos filhos da Nigéria. Tratou-se de uma festa em família para o povo e a nação nigerianos. Ao mesmo tempo, foi uma celebração para toda a família de Deus: a inteira Igreja de Deus, em todo o mundo, alegrou-se com a Igreja na Nigéria e agora recebeu dela o exemplo edificante da vida e do testemunho do Beato Cipriano Michael Iwene Tansi.

Em termos humanos, o Padre Tansi era um filho deste País, tendo nascido no Estado de Anambra. Na ordem sobrenatural da graça, contudo, ele tornou-se algo mais: sem perder a sua origem natural, transcendeu as suas origens terrenas e tornou-se, segundo as palavras de São Paulo, «membro da família de Deus», «edificado sobre o alicerce dos Apóstolos, dos Profetas, tendo Cristo como pedra angular» (Ep 2,19-20).

Mediante a graça, foi colmado «de alegria na casa de oração» (Is 56,7). E compreendeu que a casa de Deus é uma «casa de oração para todos os povos» (ibid.). É uma casa de oração para os Housa, Ioruba e Igbo. É uma casa de oração para os Efik, os Tiv, os Edo, os Gwari, e para muitos outros povos — muito numerosos para serem citados — que habitam esta terra da Nigéria. Não o é porém só para estes povos, mas para todos os povos da África, da Europa, da Ásia, da Oceânia e das Américas: «a Minha casa será chamada uma casa de oração para todos os povos»!

4. No Evangelho de hoje, Jesus mesmo nos ensina como entender a família de Deus e como ela pode abranger todos os povos. Ele diz-nos: «Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe» (Mc 3,35).

E com isto, Jesus revela um segredo do seu Reino.

Ele fala-nos do relacionamento com Maria, Sua mãe. Por mais que Jesus a amasse porque era a Sua mãe, amava-a ainda mais porque fazia a vontade do Pai celeste. Na Anunciação ela disse «sim» à vontade de Deus, manifestada pelo anjo Gabriel (cf. Lc Lc 1,26-28). Compartilhou todas as fases da vida e missão do Filho, até aos pés da Cruz (cf. Jo Jn 19,25). Como Maria, também nós aprendemos e aceitamos que todo o relacionamento humano é renovado, elevado, purificado e recebe novo significado através da graça de Cristo: «Por Ele, todos nós temos acesso junto do Pai num mesmo Espírito... para nos tornarmos, no Espírito, habitação de Deus» (cf. Ef Ep 2,18 Ef Ep 2,22).

É esta a casa espiritual que os missionários começaram a edificar há mais de cem anos. A Nigéria tem para com eles uma grande dívida de gratidão pelos seus esforços de evangelização, despendidos sobretudo nas escolas, nos hospitais e noutros âmbitos de serviço social. Seguindo o exemplo destes intrépidos mensageiros do Evangelho, a Igreja católica na Nigéria está profundamente empenhada na luta em prol do desenvolvimento humano integral. Deus abençoou a Igreja na Nigéria, a tal ponto que os missionários nigerianos trabalham fora das próprias Dioceses, noutros Países africanos e noutros continentes. Guiada pelos vossos Bispos e sacerdotes, a inteira comunidade católica deve continuar a seguir este caminho, colaborando com todos os homens e mulheres de boa vontade, através de um intenso diálogo ecuménico e inter-religioso.

A fim de edificar a casa espiritual de Deus, a Igreja exorta todos os seus membros a responder com inexaurível compaixão aos necessitados: aos pobres, aos doentes e aos anciãos, aos refugiados que tiveram de fugir da violência e dos conflitos nos seus Países nativos, aos homens, às mulheres e às crianças atingidos pela SIDA, que continua a ceifar numerosas vítimas neste continente e no mundo inteiro; a todas as pessoas que sofrem perseguições, dor e pobreza. A Igreja ensina o respeito por todas as pessoas, por toda a vida humana. Anuncia justiça e amor e insiste sobre os deveres assim como sobre os direitos: os direitos e os deveres dos cidadãos, dos empresários e empregadores, do governo e do povo.

Existem, de facto, direitos humanos fundamentais, dos quais nenhum indivíduo jamais poderá ser legitimamente privado, uma vez que eles estão arraigados na natureza mesma da pessoa humana e reflectem as exigências objectivas e invioláveis de uma lei moral universal. Esses direitos servem de fundamento e parâmetro para qualquer sociedade e organização humana. O respeito por todas as pessoas humanas, pela sua dignidade e os seus direitos, devem sempre ser a inspiração e o princípio que guia os vossos esforços para incrementar a democracia e fortalecer o tecido social do vosso País. A dignidade de cada ser humano, os seus direitos fundamentais inalienáveis, a inviolabilidade da vida, da liberdade e da justiça, o sentido de solidariedade e a rejeição da discriminação: são estas as pedras com que construir uma Nigéria nova e melhor.

5. A Igreja inteira está a preparar-se para celebrar o segundo milénio do nascimento de Cristo, o Verbo de Deus que Se fez homem. Portanto, digo-vos: hoje, vós sois a esperança desta nossa Igreja que completa dois mil anos. Sendo jovens na fé, deveis ser como os primeiros cristãos e irradiar entusiasmo e coragem. Empenhai-vos na via da santidade. Sereis desse modo sinal de Deus no mundo e revivereis no vosso País a epopeia missionária da Igreja primitiva (cf. Ecclesia in Africa ).

1144 O Grande Jubileu quer dar vida ao espírito de renovação proclamado pelo profeta Isaías e confirmado por Jesus: anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos prisioneiros e o recobrar da vista aos cegos, mandar em liberdade os oprimidos (cf. Lc Lc 4,18). Fazei com que este espírito seja o verdadeiro clima da vossa vida nacional. Que o tempo de transição seja um tempo de liberdade, de união e solidariedade!

O Beato Cipriano Michael Tansi compreendeu de maneira clara que é impossível obter alguma coisa de duradouro ao serviço de Deus e do País, sem verdadeiras santidade e caridade. Tomai-o como exemplo. Dirigi a ele as vossas orações pelas necessidades das vossas famílias e da nação inteira.

Com gratidão por tudo o que a Divina Providência continua a fazer em prol do povo da Nigéria, repetimos com o Salmista:

«Cantai ao Senhor,
bendizei o Seu nome...
Anunciai aos pagãos a Sua glória,
A todos os povos
as Suas maravilhas» (Ps 95,2-3).

Amém.







DURANTE A MISSA CELEBRADA


NA PARÓQUIA ROMANA


DE JESUS ADOLESCENTE


Domingo, 29 de Março de 1998




1. «Não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva» (Aclamação ao Evangelho; cf. Ez Ez 33,11).

1145 As palavras da Aclamação ao Evangelho, há pouco proclamadas, introduzem a consoladora mensagem da misericórdia de Deus, que em seguida foi ilustrada pelo hodierno trecho do evangelista João. Alguns escribas e fariseus, «a fim de terem de que O acusar» (Jn 8,6), levam até Jesus uma mulher surpreendida em adultério flagrante. Eles têm em vista pôr o Seu ensinamento sobre o amor misericordioso de Deus em contradição com a Lei, que punia o pecado de adultério com a lapidação.

Jesus, porém, desmacara a malícia deles: «Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra» (Jn 8,7). Esta resposta autorizada, enquanto nos recorda que o juízo pertence unicamente ao Senhor, revela-nos a verdadeira intenção da misericórdia divina, que deixa aberta a possibilidade do arrependimento, colocando em evidência o grande respeito pela dignidade da pessoa, que nem sequer o pecado pode tirar. «Vai e doravante não tornes a pecar» (Jn 8,11). As palavras conclusivas do episódio indicam que Deus não quer a morte do pecador, mas que se arrependa do mal cometido e viva.

2. «Em tudo isso só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo» (Ph 3,8). O apóstolo Paulo experimentou pessoalmente a justiça salvífica. O seu encontro com Jesus no caminho de Damasco abriu-lhe a via para uma profunda compreensão do mistério pascal. Paulo compreendeu com clareza como é ilusória a pretensão de se construir uma justiça assente unicamente na observância da Lei. Só Cristo justifica o homem, cada homem, mediante o sacrifício da Cruz.

Sensibilizado pela graça, de perseguidor cruel dos cristãos Paulo torna-se o incansável anunciador do Evangelho, porque é «conquistado por Jesus Cristo» (ibid.). Também nós somos convidados, especialmente durante este tempo da Quaresma, a deixar-nos conquistar pelo Senhor: pelo fascínio da Sua palavra de salvação, pela força da Sua graça e pelo anúncio do Seu amor redentor.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Jesus Adolescente! É-me grato celebrar convosco este quinto domingo da Quaresma, que assinala outra etapa no itinerário litúrgico rumo à Páscoa já próxima. Saúdo cordialmente o Cardeal Vigário, o Ex.mo Mons. Vice-Gerente, o vosso zeloso Pároco, Padre Enzo Policari, e os seus Colaboradores, a Comunidade salesiana que vive e trabalha na Paróquia e os Seminaristas ucranianos, que estão aqui hospedados durante o actual período de reestruturação do seu colégio.

Desejo dirigir um particular pensamento à inteira Família salesiana que, precisamente no domingo passado, recordou o quinquagésimo aniversário da sua presença e actividade neste bairro romano. Trata-se de uma presença bastante apreciada, porque está ligada ao Instituto «Borgo Ragazzi Don Bosco», benemérita instituição que nasceu imediatamente após a guerra, para oferecer hospitalidade aos adolescentes sem família ou sem casa, obrigados a viver de expedientes.

Ao comemorar os cinquenta anos do «Borgo Ragazzi Don Bosco», tão querido ao meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Papa Paulo VI, quereria prestar homenagem aos numerosos Salesianos que, seguindo o carisma de São João Bosco, se sucederam aqui e se têm dedicado generosamente às jovens gerações desta vasta zona da periferia de Roma. Obrigado, caríssimos, pelo bem que fizestes e continuais a realizar de maneira incansável, mediante as vossas actividades em favor dos jovens. Penso em particular no oratório interparoquial, na escola popular em benefício dos jovens e das jovens que não têm qualificações de estudo, na preparação para os sacramentos através dos numerosos grupos juvenis e, enfim, em muitas outras iniciativas formativas e recreativas.

4. Os jovens são o futuro da humanidade. Preocupar-se pela sua maturação humana e cristã representa um precioso investimento para o bem da Igreja e da sociedade. Alegro-me com tudo o que já estais a realizar e faço votos por que, em sintonia com as directrizes pastorais diocesanas, o vosso louvável esforço neste sector se intensifique cada vez mais. Assim como nos primeiros tempos do «Borgo Ragazzi Don Bosco», infelizmente também hoje não faltam os chamados «jovens em dificuldade», sem trabalho e desprovidos de sólidos pontos de referência, envolvidos em microcriminalidades ou entregues ao ócio, com todos os perigos que comporta uma existência desorientada. Não abandoneis estes jovens e adolescentes em dificuldade; oferecei-lhes uma amizade sincera e abri-lhes o vosso coração, para que experimentem a ternura do Amor divino.

Caríssimos paroquianos de Jesus Adolescente! O próprio título da vossa Paróquia representa um estímulo a prestar atenção e cuidar das novas gerações. Trata-se de um empenho que exige a colaboração de todos aqueles que desempenham tarefas de responsabilidade educativa.

Igual sinergia de propósitos e de esforços exige o trabalho missionário, que cada Comunidade paroquial é chamada a realizar. Fazei com que para cada um a Paróquia seja uma casa hospitaleira, capaz – sobretudo a partir deste especial tempo de graça que é a grande Missão da Cidade – de não excluir ninguém do anúncio pessoal de Jesus morto e ressuscitado para a nossa salvação. Este anúncio deve ser sempre acompanhado de uma real atenção às necessidades do próximo, com a consciência de que a caridade constitui a melhor via para abrir as almas a Cristo. Paróquia de Jesus Adolescente, imita a Sagrada Família de Nazaré! Procura oferecer-te como um sereno ambiente educativo; faz com que todos respirem um ar de família, favorecendo a colaboração e a co-responsabilidade na obra evangelizadora.

5. «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados... Eis que vou realizar uma obra nova» (Is 43,18-19). Neste dia, o profeta Isaías convida-nos a considerar com olhos atentos as novidades que Deus realiza quotidianamente para os Seus fiéis. «Eis que vou realizar uma obra nova». O Espírito está sempre em acção e os Seus frutos são as maravilhas que Ele não cessa de actuar para nós.

1146 «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados». Não volteis o olhar – diz o Profeta – para o passado; pelo contrário, dirigi-o a Cristo «ontem, hoje e sempre». No mistério da Sua morte e ressurreição, Ele transformou definitivamente o destino da humanidade. À luz dos eventos pascais, a existência humana não teme a morte, porque o Ressuscitado reabre aos fiéis as portas da vida verdadeira. Nestes últimos dias da Quaresma, que nos separam do Tríduo pascal, disponhamos o nosso coração para acolher a graça do Redentor morto e ressuscitado, que revigora os passos da nossa fé.

Maria, que permaneceu silenciosa aos pés da Cruz, e depois voltou a encontrar o seu Filho ressuscitado, nos ajude a preparar-nos para celebrar dignamente as Festas pascais.





NO DOMINGO DE RAMOS


5 de Abril de 1998,



1. "Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!" (Lc 19,38).

O Domingo de Ramos faz-nos reviver o ingresso de Jesus em Jerusalém, na proximidade da Páscoa. O trecho evangélico apresentou-no-l'O enquanto entra na cidade, circundado por uma multidão em festa. Pode-se dizer que naquele dia as expectativas de Israel em relação ao Messias atingiram o seu ápice. Tratava-se de expectativas alimentadas pelas palavras do antigos profetas e confirmadas por Jesus de Nazaré mediante o Seu ensinamento e especialmente através dos sinais realizados.

Aos fariseus que Lhe pediam que fizesse a multidão calar, Jesus respondeu: "Digo-vos que, se eles calarem, gritarão as pedras" (Ibid., 19, 40). Ele referia-se em particular aos muros do templo de Jerusalém, construído em vista da vinda do Messias e reedificado com grande cuidado depois de ter sido destruído no momento da deportação para a Babilónia. A memória da destruição e da reconstrução do templo permanecera viva na consciência de Israel, e Jesus fazia referência a essa consciência, quando afirmava: "Destruí este santuário e Eu em três dias o levantarei" (Jn 2,19). Assim como o antigo templo de Jerusalém foi destruído e reconstruído, de igual modo o novo e perfeito templo do corpo de Jesus devia morrer na Cruz e ressuscitar ao terceiro dia (cf. Ibid., 2, 21-22).

2. Entrando em Jerusalém, Jesus sabe porém que a exultação por parte da multidão O introduz no coração do "mysterium" da salvação. Está consciente de que vai ao encontro da morte e não receberá uma coroa régia, mas uma coroa de espinhos.

As Leituras da celebração hodierna trazem a marca do sofrimento do Messias e encontram o seu ápice na descrição que o evangelista Lucas faz na narração da paixão. Este indizível mistério de sofrimento e de amor é proposto pelo profeta Isaías, considerado como que o evangelista do Antigo Testamento, e também pelo Salmo responsorial e pelo refrão há pouco cantado: "Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?". São Paulo retoma-o na Carta aos Filipenses, na qual se inspira a antífona que nos acompanhará durante o "Triduum Sacrum": "Por nós Cristo fez-Se obediente até à morte, e morte de cruz" (cf. 2, 8). Na Vigília pascal acrescentaremos: "Por isso é que Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome" (Ph 2,9).

Na celebração eucarística quotidiana a Igreja volta a fazer memória da paixão, da morte e da ressurreição do Senhor: "Anunciamos, Senhor, a Vossa morte – dizem os fiéis após a consagração – e proclamamos a Vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus".

3. Há mais de dez anos, o Domingo de Ramos tornou-se um almejado encontro para a celebração do Dia Mundial da Juventude. O facto de a Igreja dirigir precisamente neste dia a sua particular atenção aos jovens é, por si só, bastante eloquente. E isto não só porque, há dois mil anos, foram os jovens que acompanharam Cristo festivamente no Seu triunfal ingresso em Jerusalém — pueri Hebraeorum —, mas sobretudo porque, após vinte séculos de história cristã os jovens, guiados pela sua sensibilidade e por uma justa intuição, descobrem na Liturgia do Domingo de Ramos uma mensagem que se dirige especialmente a eles.

Caros jovens, hoje a mensagem da Cruz é reproposta a vós. A vós, que sereis os adultos do terceiro milénio, é confiada esta Cruz que precisamente daqui a pouco será entregue por um grupo de jovens franceses a uma representação da juventude de Roma e da Itália. De Roma a Buenos Aires; de Buenos Aires a Santiago de Compostela; de Santiago de Compostela a Czéstochowa; de Jasna Góra a Denver; de Denver a Manila, de Manila a Paris, esta Cruz peregrinou com os jovens de um país para outro, de um Continente para outro. Jovens cristãos, a vossa opção é clara: descobrir na Cruz de Cristo o sentido da vossa existência e a fonte do vosso entusiasmo missionário.

1147 A partir de hoje ela far-se-á peregrina pelas Dioceses da Itália, até ao Dia Mundial da Juventude do Ano 2000, que será celebrado aqui em Roma, por ocasião do Grande Jubileu. Em seguida, com a chegada do novo milénio, retomará o seu caminho pelo mundo inteiro, mostrando desse modo que a Cruz caminha com os jovens e os jovens caminham com a Cruz.

4. Como não dar graças a Cristo por esta singular aliança que une os jovens fiéis? Neste momento quereria agradecer a todos aqueles que, guiando os jovens nesta iniciativa providencial, contribuíram para a grande peregrinação da Cruz pelas estradas do mundo. Com afecto e gratidão, penso de modo especial no caríssimo Cardeal Eduardo Pironio, falecido recentemente. Ele esteve presente e presidiu a muitas celebrações do Dia Mundial da Juventude. O Senhor o cumule das recompensas celestes prometidas aos servos bons e fiéis!

Enquanto daqui a pouco a Cruz passará de forma ideal de Paris para Roma, permiti que o Bispo desta Cidade exclame juntamente com a Liturgia: Ave Crux, spes unica! Nós te saudamos, ó santa Cruz! Em ti vem a nós Aquele que em Jerusalém, há vinte séculos, foi aclamado por outros jovens e pela multidão: "Bendido Aquele que vem em nome do Senhor".

Todos nós nos unimos a este cântico, repetindo: Bendito Aquele que vem em nome do Senhor!

Sim! Bendito sois Vós, ó Cristo, que também hoje vindes a nós com a Vossa mensagem de amor e de vida. E bendita é a Vossa santa Cruz, da qual brota a salvação do mundo ontem, hoje e sempre.

Ave Crux!

Louvado seja Jesus Cristo.





NA MISSA CRISMAL


Quinta-feira Santa, 9 de Abril de 1998




1. «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu» (Lc 4,18).

Estas palavras do Livro do profeta Isaías, referidas pelo evangelista Lucas, retornam várias vezes na hodierna Liturgia crismal e constituem-lhe como que o fio condutor. Elas evocam um gesto ritual que na Antiga Aliança tem uma longa tradição, porque na história do Povo eleito se repete para a consagração de sacerdotes, profetas e reis. Com o sinal da unção Deus mesmo confia a missão sacerdotal, real e profética aos homens que Ele chama, e torna visível a sua bênção para o desempenho do cargo que lhes é confiado.

Todos os que na Antiga Aliança foram ungidos, foram-no em vista de uma só pessoa, daquele que devia vir: Cristo, o único e definitivo «Consagrado», o «Ungido» por excelência. Será a Encarnação do Verbo que revelará o mistério de Deus Criador e Pai que, através da unção do Espírito Santo, envia ao mundo o seu Filho unigénito.


Homilias JOÃO PAULO II 1141