Homilias JOÃO PAULO II 983

HOMILIA DO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA PARÓQUIA ROMANA DE SANTO ANDRÉ AVELINO


16 de Fevereiro de 1997


1. «Vou estabelecer uma aliança» (Gn 9,8).

984 A Liturgia da Palavra deste primeiro domingo da Quaresma apresenta-nos a aliança estabelecida por Deus com os homens e com a criação, depois do dilúvio, através de Noé. Escutámos de novo as solenes palavras pronunciadas por Deus: «Vou estabelecer uma aliança convosco, com a vossa descendência e com os demais seres vivos que vos rodeiam: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a terra» (Gn 9,9-11).

Esta aliança tem um seu típico valor no interior do Antigo Testamento. Deus, criador do homem e de todos os seres vivos, com o dilúvio tinha destruído, num certo sentido, tudo o que Ele mesmo havia criado. Essa decisão punitiva fora suscitada pelo pecado difundido no mundo, depois da primeira queda dos progenitores.

As águas, contudo, tinham poupado Noé e a sua família, juntamente com os animais que ele pusera consigo na arca. Deste modo, foram salvos o homem e os outros seres vivos que, tendo sobrevivido à punição do Criador, depois do dilúvio constituíram o início de uma nova aliança entre Deus e a criação.

Essa aliança teve o sinal palpável no arco-íris: «Coloquei o Meu arco — diz Deus — nas nuvens para que ele seja o sinal da aliança entre Mim e a terra. Quando cobrir a terra de nuvens e aparecer o arco nas nuvens, recordar-Me-ei da aliança que firmei convosco» (Gn 9,13-15).

2. As Leituras hodiernas permitem-nos, então, olhar dum modo novo o homem e o mundo em que vivemos. O mundo e o homem representam, com efeito, não só a realidade da existência enquanto expressão da obra criativa de Deus, mas são também imagem da aliança. A criação inteira fala desta aliança.

No decurso das épocas da história os homens continuaram a cometer pecados, talvez até maiores do que aqueles descritos antes do dilúvio. Contudo, das palavras da aliança estabelecida por Deus com Noé compreende-se que já nenhum pecado poderá levar Deus a destruir o mundo por Ele mesmo criado.

A Liturgia deste dia abre aos nossos olhos uma visão nova do mundo. Ajuda-nos a tomar consciência do valor que o mundo tem aos olhos de Deus, o Qual inscreveu a inteira obra da criação na aliança contraída com Noé, e Se empenhou em salvaguardá-la da destruição.

3. Quarta-feira passada, com a imposição das Cinzas, teve início a Quaresma e hoje é o primeiro domingo deste tempo forte, que faz referência ao jejum de quarenta dias, iniciado por Cristo depois do baptismo no Jordão. Escreve, a respeito disso, São Marcos, que nos acompanha este ano na Liturgia dominical: «O Espírito impeliu-O para o deserto. E esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; vivia entre as feras e os anjos serviam-n’O» (Mc 1,12-13).

São Mateus, na passagem paralela, anota somente a resposta dada pelo Senhor ao tentador, que O provocava a transformar as pedras em pão: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pão» (Mt 4,3). Jesus respondeu: «Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4,4 cf. Aclamação ao Evangelho ). É, esta, uma das respostas de Cristo a satanás, que procurava insidiá-l’O e vencê-l’O, fazendo referência às três concupiscências da natureza humana corrompida.

No limiar da Quaresma, a vitória de Cristo sobre o diabo constitui como que uma indicação a derrotarmos o mal com o empenho ascético, do qual o jejum é uma manifestação, de modo a vivermos este período com autenticidade.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santo André Avelino! É-me grato estar no meio de vós, hoje, para celebrar o Dia do Senhor neste primeiro domingo da Quaresma! Saúdo o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso zeloso Pároco, Padre Giuseppe Grazioli, e todos vós, que participais nesta Celebração eucarística. Dirijo um afectuoso pensamento às crianças em idade pré-escolar com as suas mães, aos meninos que se preparam para receber a Confirmação ou a Primeira Comunhão, aos jovens, assim como aos membros do Centro para a terceira idade, ao grupo cultural e ao coral, aos redactores do pequeno jornal paroquial e também aos voluntários da Cáritas, aos catequistas e aos membros do Conselho Pastoral. A todos, indistintamente, cheguem a minha saudação e o meu encorajamento a viverem em profundidade a comunhão eclesial e a testemunharem o Evangelho com generosidade.

985 Caríssimos Irmãos e Irmãs, a vossa Paróquia, que constitui um significativo centro de agregação deste bairro, seja lugar sempre mais seguro para as crianças e os jovens, ponto de encontro para os adultos e as pessoas idosas, e espaço de escuta e de partilha para todos. Esta nova e funcional igreja, inaugurada e dedicada pelo Cardeal Vigário no dia 20 de Outubro passado, não deixará de favorecer a participação na vida litúrgica e permitirá a cada um de vós uma comunhão cada vez maior e autêntica solidariedade espiritual.

5. «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto. Arrependei-vos e acreditai na Boa Nova» (
Mc 1,15). Ressoam no nosso coração estas palavras do evangelista Marcos. O Evangelho começa com a missão de Jesus, missão que se cumprirá com os eventos pascais. A Igreja prossegue no tempo esta missão, à qual cada um de nós é chamado a oferecer o próprio contributo pessoal, anunciando e testemunhando Cristo, morto e ressuscitado para a salvação do mundo.

É neste contexto que se coloca a Missão da Cidade, que a nível paroquial se realizará na Quaresma do próximo ano. Hoje, precisamente em preparação para essa missão, tem início oficial a distribuição do Evangelho, para que ele chegue a cada família e âmbito da Cidade. É com grande alegria que há pouco também eu entreguei a alguns dos vossos representantes um exemplar do Evangelho de Marcos, discípulo e intérprete fiel do apóstolo Pedro.

6. Escreve São Pedro na sua primeira Carta: «Também Cristo morreu uma vez para sempre pelos nossos pecados — o Justo pelos injustos... Foi com este espírito que Ele pregou aos espíritos que estavam no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes, quando Deus aguardava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram sobre as águas» (1P 3,18-20). Estas palavras de Pedro fazem referência à aliança de Noé, da qual nos falou a primeira Leitura. Esta aliança representa um modelo, um símbolo, uma figura da Nova Aliança contraída por Deus com a humanidade inteira em Jesus Cristo, por meio da Sua morte na Cruz e da Sua ressurreição. Se a antiga aliança interessava antes de tudo a criação, a Nova Aliança, fundada sobre o mistério pascal de Cristo, é a Aliança da Redenção.

No texto que escutámos, o apóstolo Pedro refere-se ao sacramento do Baptismo. As águas destruidoras do dilúvio cedem o lugar às águas baptismais que santificam. O Baptismo é o sacramento fundamental em que se actua a Aliança da redenção do homem. Desde a origem da tradição cristã toda a Quaresma era uma preparação para o Baptismo, administrado aos catecúmenos na solene Vigília da Páscoa.

Irmãos e Irmãs, renovemos em nós mesmos, especialmente neste período quaresmal, a consciência da nossa Aliança com Deus. Deus estabeleceu uma Aliança com Noé e inscreveu-a na obra da criação. Cristo, Redentor do homem e do homem todo, completou a obra do Criador com a Sua morte e a Sua ressurreição.

Fomos remidos pelo sangue de Cristo. Cristo morreu uma vez para sempre pelos nossos pecados, o Justo pelos injustos.

Amém!







NA PARÓQUIA ROMANA DE SANTA CRUZ


Domingo, 23 de Fevereiro de 1997




1. «Este é o Meu Filho muito amado! Escutai o que Ele diz» (Mc 9,7).

As palavras, que ressoaram no momento do baptismo de Jesus no Jordão (cf. Mt 3,17), de novo escutamo-las este dia no contexto da transfiguração do Senhor. «Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João... e... transfigurou-Se diante deles... Apareceu-lhes Elias juntamente com Moisés, e ambos falavam com Ele... Pedro disse: “Rabbi, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: Uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias!”» (Mc 9,2-5). Naquele preciso instante ouviu-se uma voz: «Este é o Meu Filho muito amado. Escutai o que Ele diz!» (Mc 9,7).

986 Não durou muito tempo esta extraordinária manifestação da filiação divina de Jesus. Quando os Apóstolos ergueram de novo os olhos, já não viram ninguém senão Jesus, o Qual, «ao descerem do monte, — prossegue o Evangelista — ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos» (Mc 9,9).

Assim, pois, neste segundo domingo da Quaresma, escutamos juntamente com os Apóstolos o anúncio da Ressurreição. Escutamo-lo enquanto nos encaminhamos com eles rumo a Jerusalém, onde reviveremos o mistério da paixão e morte do Senhor. É precisamente para este evento-chave da inteira economia salvífica que estão, de facto, orientados o jejum e a penitência deste tempo sagrado.

2. A transfiguração do Senhor, que segundo a tradição teve lugar no monte Tabor, põe em primeiro plano a pessoa e a obra de Deus Pai, presente, de modo invisível mas realmente, ao lado do Filho. Explica-se assim o facto que, tendo como pano de fundo o Evangelho da transfiguração, é colocado pela Liturgia hodierna um episódio importante do Antigo Testamento, no qual a paternidade é posta em particular relevância.

A primeira Leitura, tirada do Livro do Génesis, recorda-nos com efeito o sacrifício de Abraão. Ele tinha um filho, Isaac, que lhe nascera na velhice. Era o filho da promessa. Mas um dia Abraão recebeu de Deus a ordem de o oferecer em sacrifício. O patriarca ancião encontra-se diante da perspectiva de um sacrifício que para ele, pai, é certamente o maior que se possa imaginar. Contudo, não hesita nem um instante e, depois de ter preparado o necessário, parte juntamente com Isaac para o lugar estabelecido. Constrói um altar, dispõe a lenha e, tendo atado o menino, pegou na faca para o imolar. Só então é detido por uma ordem do alto: «Não levantes a tua mão sobre o menino e não lhe faças mal algum! Porque sei agora que, na verdade, temes a Deus, visto não me teres recusado o teu único filho» (Gn 22,12).

Tem algo de extraordinário este evento, no qual a fé e o abandono em Deus de um pai atingem o ápice. Com razão São Paulo chama a Abraão «pai de todos os crentes» (cf. Rm Rm 4,11 Rm Rm 4,17). À sua fé fazem referência a religião hebraica e a cristã. Também o Alcorão não ignora a figura de Abraão. A fé do pai dos crentes é espelho no qual se reflecte o mistério de Deus, mistério de amor que une o Pai e o Filho.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santa Cruz na «Via Flaminia»! É para mim uma grande alegria celebrar hoje a Santa Missa nesta bonita igreja, construída por vontade do meu venerado predecessor São Pio X e visitada, em 1964, pelo Servo de Deus o Papa Paulo VI, e por ele elevada a Basílica Menor. Saúdo o Cardeal Vigário, o Cardeal Baum, Titular desta Basílica, o Bispo Auxiliar encarregado do Sector, o Pároco, Padre Carlo Zanini, os Vigários paroquiais e os Padres Estigmatinos, aos quais desde o início foi confiado o cuidado pastoral da vossa Comunidade. Muitos deles, exercendo aqui o seu ministério, incidiram de modo profundo na vida da paróquia. Entre os muitos que mereceriam ser particularmente mencionados, quereria citar, além do Padre Emílio Recchia, durante longos anos pároco da vossa Comunidade, o famoso filósofo e teólogo, Padre Cornélio Fabro, falecido há dois anos.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, sei que a Missão da Cidade, há pouco iniciada, teve pronta e generosa adesão também na vossa Paróquia. Exprimo apreço pela vossa disponibilidade e exorto-vos a ser testemunhas do Evangelho neste bairro que, como outras zonas de Roma, está a passar por rápidas transformações sociais.

Mas para que o anúncio resulte eficaz, é preciso que os crentes estejam e trabalhem profundamente unidos. Valorizai portanto ao máximo, nesta perspectiva, as multiformes energias apostólicas aqui presentes. Penso nos Institutos religiosos dos Irmãos das Escolas Cristãs, das Irmãs Elisabetinas, das Filhas da Misericórdia e das Apóstolas da Vida Interior, assim como na riqueza de grupos paroquiais empenhados nos vários campos da catequese, da liturgia e da caridade.

Penso no Oratório paroquial que, uma vez reestruturado, poderá constituir um lugar privilegiado de encontro formativo para o inteiro bairro. Tornem-se cada vez mais, a Igreja e as obras paroquiais, um ponto de referência para todos. Esteja a vossa Comunidade pronta a acolher todas as pessoas, especialmente os numerosos imigrados filipinos e peruanos, que muitas vezes vivem aqui como «paroquianos sem casa na Paróquia».

5. «Deus, que não poupou o próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também, com Ele, todas as coisas?» (Rm 8,32). Estas palavras de São Paulo na Carta aos Romanos levam-nos de novo ao tema fundamental da Liturgia hodierna: o mistério do amor divino revelado no sacrifício da Cruz. O sacrifício de Isaac antecipa o de Cristo: o Pai não poupou o próprio Filho, mas O entregou para a salvação do mundo. Ele, que deteve o braço de Abraão no momento em que estava para imolar Isaac, não hesitou em sacrificar o próprio Filho para a nossa redenção.

O sacrifício de Abraão põe assim em relevo que jamais e em lugar algum se devem realizar sacrifícios humanos, pois o único sacrifício verdadeiro e perfeito é o do unigénito e eterno Filho do Deus vivo. Nascido de Maria Virgem para nós e para a nossa salvação, Jesus imolou-Se voluntariamente uma vez para sempre, como vítima de expiação pelos nossos pecados, proporcionando-nos assim a salvação total e definitiva (cf. Heb He 10,5-10). Depois do sacrifício do Filho de Deus, não há necessidade de nenhuma outra expiação humana, pois aquele Seu sacrifício na Cruz abrange e supera todos os outros que o homem poderia oferecer a Deus. Estamos aqui no centro do mistério pascal.

987 Do Tabor, o monte da transfiguração, o itinerário quaresmal conduz-nos até ao Gólgota, monte do supremo sacrifício do único Sacerdote da nova e eterna Aliança. Naquele sacrifício está contida a maior força de transformação do homem e da história. Assumindo sobre Si todas as consequências do mal e do pecado, Jesus ressuscitará ao terceiro dia e sairá desta experiência dramática como vencedor da morte, do inferno e de Satanás. A Quaresma prepara-nos para participar pessoalmente neste grande mistério da fé, que celebraremos no Tríduo da paixão, da morte e da ressurreição de Cristo.

Peçamos ao Senhor a graça de podermos preparar-nos de modo conveniente: «Jesus, Filho predilecto do Pai, dai-nos a graça de Vos escutar e de Vos seguir até ao Calvário, até à Cruz, a fim de podermos participar Convosco da glória da ressurreição».

Amém!







NA MISSA EXEQUIAL DE SUFRÁGIO


PELA ALMA DO CARDEAL UGO POLETTI


27 de Fevereiro de 1997

1. «Scio quod Redemptor meus vivit» (Jb 19,25).


No grande silêncio que envolve o mistério da morte, eleva-se repleta de esperança a voz do antigo crente. Job implora salvação Àquele que vive, no Qual toda a vicissitude humana encontra o seu sentido e a sua meta definitiva.

«Eu mesmo O verei, e não outro; eu O verei com os meus próprios olhos» (Jb 19,27), prossegue o texto inspirado deixando entrever, no final da peregrinação terrena, o Rosto misericordioso do Senhor. «O meu Redentor levantar-Se-á do pó», sublinha o autor sagrado que, na bondade misericordiosa do Omnipotente, repõe o fundamento da sua expectativa e o apoio da sua esperança.

2. Esta firme esperança guiou o caminho do nosso saudoso e amadíssimo Cardeal Poletti, ao longo de todo o arco da sua existência entre nós: uma esperança que se apoiava na fé inquebrantável e simples, aprendida na família e na comunidade cristã de Omegna, na Diocese de Novara, onde nascera há oitenta e três anos.

Foi precisamente esta relação de familiaridade e diálogo com o Senhor que levou o jovem Ugo a compreender o chamamento divino e a entrar no Seminário de Novara. Foi esta relação, alimentada quotidianamente na oração, que susteve os seus primeiros passos no ministério sacerdotal. Deixou-se guiar pelo Mestre divino em cada sucessivo serviço à Diocese de Novara, da qual foi nomeado antes Pró-Vigário e, em seguida, Vigário-Geral. Ao lado do seu Bispo e mestre, D. Gilla Gremigni, ex-pároco romano, o Senhor preparava-o para assumir responsabilidades maiores.

Nomeado Bispo Auxiliar de Novara em 1958, seis anos depois a D. Poletti foi confiada a direcção das Pontifícias Obras Missionárias. Em 1967 tornou-se Arcebispo de Espoleto e, depois de apenas dois anos, foi chamado a Roma como Vice-Gerente e colaborador do saudoso Cardeal Dell’Acqua. Em 1972 o Papa Paulo VI nomeou-o Pró-Vigário da Diocese de Roma e, no ano sucessivo, Cardeal e seu Vigário-Geral. Em 1985 confiei-lhe a presidência da Conferência Episcopal Italiana, encargo que ele aceitou com grande disponibilidade e exerceu com a habitual generosidade, até Janeiro de 1991.

Tendo deixado a direcção da Diocese de Roma, assumiu de bom grado o encargo de Arcipreste da Basílica Liberiana, passando sob a protecção da «Salus Populi Romani» — «Spes certa poli», como diz o seu lema episcopal — os últimos silenciosos, e certamente não menos fecundos anos da sua vida.

988 3. «Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo. Faço tudo isto por causa do Evangelho, para me tornar participante dele» (1Co 9,22-23). Estas palavras do apóstolo Paulo, proclamadas há pouco, bem condizem à constante preocupação apostólica do saudoso Cardeal Ugo Poletti. Recordamo-lo este dia no seu incansável doar-se à causa do Evangelho, sobretudo no cargo de Cardeal Vigário, no qual ele expressou as suas energias mais amadurecidas ao serviço da Igreja.

Um amor particular ligou-o à cidade de Roma, que ele considerava a sua segunda pátria. Teve para com o meu venerado predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, sentimentos de veneração e de obediência sincera que, em seguida, reservou com igual cordialidade à minha pessoa, introduzindo-me no serviço pastoral desta singular Cidade, quando fui chamado pela Providência à Cátedra de Pedro. Recordo com comoção os muitos encontros tidos com ele e a paixão com que falava da Diocese, dos Sacerdotes, dos Religiosos, do laicado, dos problemas da gente comum, das luzes e das sombras que se observavam nas rápidas transformações do tecido da Cidade.

Foi sobretudo ele que me introduziu no conhecimento das paróquias, que gradualmente eram por mim visitadas. Graças à sua guia experiente e sábia, pude ler com particular acuidade a complexa realidade da Cidade, entrando em sintonia, cada vez mais profunda, com o rebanho que a Providência me confiou. Por tudo isto sinto hoje o dever de exprimir ao caríssimo Cardeal Poletti o meu sincero reconhecimento.

4. «Faço tudo isto por causa do Evangelho! ». O Purpurado falecido, ao qual hoje apresentamos a despedida espiritual, fez próprias estas palavras de São Paulo. Ele considerava a missão da Igreja intimamente ligada à concreta realidade humana e eclesial da Cidade eterna. Com particular zelo se dedicou a suscitar na Diocese, além da consciência do ligame profundo que a une ao Romano Pontífice, também a consciência e a alegria de contribuir para o seu ministério universal, redescobrindo a própria identidade de Igreja local.

Acolhendo o impulso do Concílio Ecuménico Vaticano II, soube imprimir à Diocese de Roma, nas suas diversas componentes, uma vitalidade nova: marcos miliários para o crescimento da vida diocesana foram as assembleias eclesiais, que tinham em vista recuperar, para a evangelização da Cidade, forças vivas e preciosas a fim de as inserir, de maneira harmoniosa, na actividade diocesana.

5. «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!». Dir-se-ia que este brado do Apóstolo ressoava constantemente na alma do Cardeal falecido. A sua acção visava suscitar nos Romanos uma consciência viva do extraordinário património de valores, herdado dos antepassados, e um empenho cada vez maior em relação à missão histórica da Cidade em vista do futuro.

Pondo-se à escuta dos que estavam perto e distantes, dos homens de cultura e das pessoas mais simples, dos responsáveis da Administração pública e de quantos eram críticos em relação às instituições, contribuiu para suscitar nos sacerdotes, nos religiosos, nos leigos empenhados uma atitude de acolhimento e de tolerância, que não deixou de influenciar também a vida da comunidade civil.

Com esses propósitos iniciou a preparação do Sínodo diocesano, que constituiu um ulterior momento de leal e positivo confronto entre os cristãos e os cidadãos da Urbe.

6. «Conheço as Minhas ovelhas e elas conhecem-Me» (Jn 10,14).

As palavras do Evangelho, que há pouco ressoaram nesta Basílica, indicam qual deve ser o estilo do Pastor para com as pessoas a ele confiadas. Não foi este o modo de agir que assinalou o ministério episcopal do Cardeal Poletti? Não se empenhou ele em estabelecer com todos uma relação pessoal e afectuosa

Podemos dizer que talvez esteja aqui o segredo do seu profícuo serviço eclesial. «Não sou um intelectual, mas um homem que procura estar próximo das pessoas», disse certa vez a um amigo. O seu coração de pastor levava-o a pôr em primeiro lugar este «estar próximo das pessoas», orientando para ele quer as suas energias quer a notável competência teológica, pastoral e administrativa, acumulada nos longos anos de sacerdócio e de episcopado.

989 O povo de Roma conhecia-o e era por ele conhecido. Para além dos momentos oficiais, o seu zelo pastoral tornava-o capaz de relações repletas de humanidade, nos numerosos contactos durante as visitas às paróquias, às escolas, às sedes de associações, às comunidades religiosas, assim como nas peregrinações diocesanas a Lourdes, nas quais procurou estar sempre presente.

Por isso era amado pelo clero e pelo povo. Saúdo a quantos vieram testemunhar-lhe o seu afecto também nesta extrema despedida: o Presidente da República Italiana, Óscar Luigi Scalfaro, o Ministro Giovanni Maria Flick, as Autoridades civis, os numerosos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas e a grande representação dos fiéis leigos.

7. «O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas». Com a hodierna liturgia fúnebre, iluminada pela presença de Cristo ressuscitado, nós apresentamos a extrema saudação aos restos mortais deste amado Irmão, meu validíssimo colaborador. Recomendamo-lo confiantes ao Bom Pastor, enquanto invocamos para a sua alma eleita a misericórdia divina.

Agradeçamos ao Pai tê-lo dado à Sua Igreja. Acolha-o Cristo Bom Pastor, na Sua morada de luz e de paz e lhe conceda a recompensa reservada aos servos bons e fiéis.

E a Virgem Maria, «Salus Populi Romani », da qual ele foi filho devoto, o introduza na jubilosa liturgia do Céu. «In paradisum deducant te Angeli», dilectissime Frater! Amém.





NA PARÓQUIA ROMANA DE SÃO JULIANO MÁRTIR


Domingo, 2 de Março de 1997




1. «Senhor, Tu tens palavras de vida eterna» (cf. Jo Jn 6,68).

O Salmo responsorial, há pouco proclamado, conduz-nos ao centro da mensagem da liturgia hodierna. O poder da Palavra divina manifestou-se pela primeira vez na criação do mundo, quando Deus disse: «Faça-se» (cf. Gn Gn 1,3), chamando à existência todas as criaturas. Mas as leituras bíblicas deste terceiro Domingo da Quaresma põem em evidência outra dimensão do poder da Palavra de Deus: a que se refere à ordem moral.

Javé entregou ao povo eleito o Decálogo no alto do monte Sinai, montanha que reveste singular valor simbólico na história da salvação. Precisamente por este motivo, por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000 foi proposto um encontro no alto desse monte (cf. Tertio millennio adveniente, 53). Dos mandamentos dados a Israel, a primeira leitura de hoje, tirada do Livro do Êxodo, desenvolve de modo particular os primeiros três, os da “chamada primeira tábua”: «Eu sou o Senhor, teu Deus. Não terás outro deus além de Mim. Não pronunciarás em vão o nome do Senhor, teu Deus. (...) Recorda-te do dia de sábado, para o santificar» (Ex 20,2-3 Ex 20,7-8).

2. Fundamental é o primeiro mandamento, no qual é solenemente afirmada a unicidade de Deus: não há ao lado d’Ele outras divindades. Na Lei dada a Moisés, manifesta-se o Deus invisível, que nenhuma imagem produzida pelas mãos do homem pode representar dignamente. Com a encarnação do Verbo, Deus Se fez homem e assim o Deus invisível Se tornou visível e, a partir daquele momento, à humanidade é dado contemplar a Sua glória. A questão da representação artística de Deus foi amplamente examinada no segundo Concílio de Niceia e, então, foi esclarecido que, tendo-Se o Deus invisível feito homem na Encarnação, a Sua reprodução artística, para os cristãos, era legítima.

Conexo com o primeiro é o segundo mandamento, que não visa somente condenar o abuso do nome de Deus, mas tem também a finalidade de alertar contra o seguimento da idolatria difundida nas religiões pagãs. Também no que se refere ao

990 Também no que se refere ao terceiro mandamento: «Recorda-te do dia de sábado, para o santificar» (Ex 20,8) a norma é pormenorizada, e deve remontar ao modelo originário do repouso, do qual Deus deu exemplo no final da criação.

De maneira sintética são, ao contrário, descritos os mandamentos da chamada “segunda tábua”.

3. «Senhor, Tu tens palavras de vida eterna». As palavras pronunciadas por Deus no Antigo Testamento encontram pleno cumprimento em Cristo, Palavra de Deus encarnada. Na Antiga Aliança, o poder criativo de Deus em âmbito moral expressou-se no Decálogo; na Nova Aliança, ao contrário, Cristo é a actuação plena desse poder: portanto, não uma lei escrita, mas a própria Pessoa do Salvador.

Trata-se de uma verdade que São Paulo exprime com eficácia, ao escrever aos Gálatas e aos Romanos: ele contrapõe à justificação mediante a observância da lei, a justificação mediante a fé em Cristo. Hoje ao contrário, na segunda leitura, tirada da Primeira Carta aos Coríntios, lemos assim: «Nós pregamos a Cristo crucificado escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os eleitos, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder e a sabedoria de Deus» (1Co 1,22-24).

O poder e a sabedoria, que Deus manifestou ao criar o mundo e o homem feito «à Sua imagem e semelhança» (cf. Gn Gn 1,26), são expressos plenamente na ordem moral. Ela, portanto, está ao serviço do homem e da sociedade humana. Isto é confirmado no Novo Testamento que, com clareza, determina o papel da moral ao serviço da salvação eterna do homem.

Precisamente por isto, na aclamação ao Evangelho, foram proclamadas há pouco as palavras pronunciadas por Jesus no colóquio nocturno com Nicodemos: «... Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jn 3,16). Não só os mandamentos, mas sobretudo o Verbo eterno que Se fez homem é a fonte da vida eterna.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São Juliano Mártir! É-me grato estar aqui convosco, hoje, para celebrar a Eucaristia no terceiro Domingo da Quaresma. Saúdo o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso zeloso pároco Pe. Luciano D’Erme, o vigário paroquial, as religiosas que vivem neste território e todos vós que pertenceis a esta Comunidade paroquial, dedicada de modo particular ao Coração Imaculado de Maria e ao Coração Misericordioso de Jesus.

O pensamento dirige-se hoje, naturalmente, ao venerado e querido Cardeal Ugo Poletti, falecido há alguns dias. Esta vossa paróquia, erigida em 1980, é uma das mais de setenta por ele construídas no decurso do seu longo serviço à diocese de Roma. Enquanto mais uma vez agradeço ao Senhor tê-lo concedido como meu válido Vigário-Geral, convido todos a orar por ele, recomendando a sua alma eleita à Misericórdia divina.

Sigo com afecto e atenção as fases progressivas da Missão e, de modo especial, acompanho a entrega do Evangelho de Marcos às famílias e a prática dos Exercícios espirituais, que estão a realizar-se durante este tempo quaresmal. Deveras oportuna é a iniciativa dos Exercícios espirituais, que constituem uma forte ajuda para os cristãos, chamados a «renovar-se espiritualmente... e a revestirem-se do homem novo, criado em conformidade com Deus na justiça e na santidade verdadeiras» (cf. Ef Ep 4,23-24). Fruto da rica tradição espiritual da Igreja, os Exercícios espirituais respondem autenticamente às profundas exigências do homem. Recomendo-os, pois, aos jovens, no âmbito do seu caminho de discernimento vocacional, aos esposos cristãos, às famílias e a todos aqueles que estão em busca sincera de Deus.

5. «Ele falava do santuário do Seu corpo» (Jn 2,21).

No Evangelho relemos o episódio da expulsão dos vendedores do templo. A descrição de São João é viva e eloquente: de um lado está Jesus, que, «com umas cordas, fez um chicote e os expulsou a todos do Templo, com as ovelhas e os bois» (Jn 2,14-15) e, doutro lado, estão os Judeus, em particular os Fariseus. O contraste é forte, a ponto de alguns dos presentes perguntarem a Jesus: Jesus: «Que sinal nos apresentas para justificares o Teu proceder?» (Jn 2,18).

991 «Destruí este santuário e Eu em três dias o levantarei» (Jn 2,19), responde Cristo. Ao que replica a gente: «Foram precisos quarenta e seis anos para edificar este santuário e Tu reedificarás em três dias?» (Jn 2,20). Não tinham compreendido — observa São João — que o Senhor estava a falar do templo vivo do Seu corpo, que, no decurso dos eventos pascais, haveria de ser destruído na morte de cruz, mas que haveria de ressuscitar ao terceiro dia. «Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, — escreve o Evangelista — recordaram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra que Jesus dissera» (Jn 2,22).

É o evento pascal que dá significado autêntico a todos os vários elementos presentes nas leituras hodiernas. Na Páscoa se revela em plenitude o poder do Verbo encarnado, poder do Filho eterno de Deus, que Se fez homem para nós e para a nossa salvação.

«Senhor, Tu tens palavras de vida eterna».

Nós cremos que Vós sois verdadeiramente Filho de Deus.

E damo-Vos graças por nos ter feito partícipes da Vossa própria vida divina.

Amém.







NA PARÓQUIA ROMANA DE SÃO GAUDÊNCIO


Domingo, 9 de Março de 1997

1. «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jn 3,16).


Estas palavras, pronunciadas por Jesus durante o colóquio com Nicodemos, exprimem de modo sintético e eficaz o tema principal da liturgia hodierna. Elas, com efeito, fazem referência à salvação trazida ao mundo pelo Filho único de Deus, revelando-a na sua realidade profunda, enquanto obra de «Deus rico em misericórdia»: Dives in misericordia!

Do Evangelho faz eco São Paulo, que escreve aos Efésios: «Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, estando nós mortos pelos nossos delitos, deu-nos a vida juntamente com Cristo» (Ep 2,4-5). Somos assim introduzidos na perspectiva pascal: com efeito, o que é a salvação senão a participação na morte e na ressurreição de Cristo?

O Apóstolo apresenta depois a obra da salvação, indicando os seus frutos de bem que produz na vida dos crentes. Ele considera a redenção como uma nova criação; aquela criação que radica o homem em Jesus Cristo, tornando-o capaz de realizar as boas obras segundo o plano de Deus (cf. Ef Ep 2,10).

992 2. A salvação e a redenção, que Deus dá à humanidade com a morte de Seu Filho único, são descritas na Primeira Leitura e no Salmo Responsorial como libertação da escravidão, com referência à escravidão em Babilónia, experimentada pelos filhos de Israel por ocasião da queda do reino de Judá. Essa dolorosa experiência ressoa de forma altamente poética nos lamentos do Salmista:

«Junto dos rios de Babilónia estávamos sentados e chorando, lembrando-nos de Sião...» (cf. Sl
Ps 136,1). O autor deste Salmo recorda com imagens vivas o sofrimento do exílio e a nostalgia de Jerusalém, provados pelos deportados: «Se de ti, Jerusalém, eu me esquecer, seja ressequida a minha dextra. Pegue-se-me a minha língua ao paladar, se me não lembrar de ti» (cf. Sl Ps 136,5-6).

O Segundo Livro das Crónicas recorda- nos que a deportação para Babilónia foi uma punição infligida por Javé ao seu povo, por causa dos seus graves pecados, especialmente por aquele de idolatria. O período da escravidão, contudo, tinha em vista o seu arrependimento e a sua conversão e terminou quando Ciro, rei da Pérsia, permitiu aos Israelitas retornar à pátria e reconstruir em Jerusalém o templo destruído.

Ciro representa, num certo sentido, o Messias esperado por Israel. Ele é imagem do Redentor prometido, que devia libertar o Povo de Deus da escravidão do pecado, para o introduzir no Reino da verdadeira liberdade.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São Gaudêncio em Torre Nova! Com grande alegria celebro hoje a Eucaristia nesta nova igreja paroquial, juntamente com a vossa jovem Comunidade. Saúdo cordialmente o Cardeal-Vigário e Sua Excelência Reverendíssima o Mons. Vice-Gerente, o vosso caro Pároco, Padre Virgínio Bolchini, o Vigário paroquial e todos os Presbíteros que colaboram com ele na guia da Paróquia. O vosso pároco provém da diocese de Novara e isto oferece-me a oportunidade para exprimir vivo reconhecimento ao Bispo e à inteira Diocese de Novara, pela generosidade com que foram oferecidos à Igreja de Roma alguns sacerdotes, para que exerçam entre nós o seu ministério.

Dirijo depois um particular pensamento às Irmãs de Maria Auxiliadora e de Nossa Senhora das Mercês e, de modo especial, aos membros da Comunidade de Santo Egídio que, desde 1977, têm sustentado, animado e promovido a pastoral e a caridade neste bairro.

A nova igreja é dedicada a São Gaudêncio, Padroeiro de Novara. Como não pensar neste momento no saudoso Cardeal Ugo Poletti, também ele originário daquela amada Diocese e que Deus recentemente chamou a Si Sob a protecção de São Gaudêncio, este meu ilustre e generoso colaborador iniciou em Novara o próprio ministério sacerdotal e episcopal, que depois continuou nesta Igreja de Roma, por ele tão amada. O Senhor o recompense pelo incansável serviço ao Evangelho, despendido a mãos-cheias durante toda a sua vida!

4. Caríssimos!

A vossa Comunidade é jovem. Jovem é a paróquia, porque de fundação recente, e jovem é sobretudo a idade dos paroquianos, que registra um número relevante de meninos e meninas. A atenção às novas gerações deve, portanto, ser uma das vossas prioridades pastorais. Com muita frequência, com efeito, os jovens, tão ricos de potencialidades e de dons, encontram-se sem trabalho, sem uma adequada formação, sem o apoio de uma autêntica família. Eles são por isso, muitas vezes, presa da solidão, da falta de projectos, da desilusão, quando não acabam na rede da toxicodependência, da criminalidade e de outras formas de desvio.

A vossa Comunidade paroquial foi instituída recentemente, mas o primeiro povoamento nesta zona remonta a 1600, quando Beatriz Cenci mandou construir no Castelo uma torre e uma igreja dedicada a São Clemente. Eles tornaram-se assim um natural ponto de paragem para os peregrinos desejosos de visitar as memórias dos Apóstolos, ao chegarem já quase à proximidade da cidade de Roma. Nos próximos anos um grande número de fiéis e turistas virá a Roma, por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000. Faço votos por que possam encontrar Comunidades acolhedoras e vivas na fé. A Missão da Cidade, que também que também nesta Paróquia estais a celebrar com entusiasmo e generosidade, seja como um canteiro de obras do Espírito, aberto e operoso para construir uma Comunidade diocesana cada vez mais generosa e solidária.

5. «A luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz» (Jn 3,19).

993 A hodierna Liturgia da Palavra apresenta a antítese entre a escravidão e a liberdade, ilustrada pelas leituras do Antigo Testamento, paralelamente à antítese entre as trevas e a luz, desenvolvida no Evangelho. Esta última contraposição é proposta por Jesus no colóquio com Nicodemos e retoma, duma forma discursiva, um dos traços característicos do Evangelho de João, presente já desde as primeiras expressões do Prólogo: «No princípio já existia o Verbo... N’Ele estava a Vida, e a Vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a admitiram» (Jn 1,1 Jn 1,4-5).

No colóquio com Nicodemos está presente esta mesma contraposição radical entre a luz e as trevas: «A luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz... Todo aquele que faz o mal odeia a luz... Mas quem pratica a verdade, aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus» (Jn 3,19-21).

Como não sublinhar a referência ao juízo divino O homem é julgado não só por um juiz exterior, mas por aquela luz interior que se manifesta mediante a voz de uma consciência recta. É quanto o Concílio Vaticano II recordou na Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo actual, Gaudium et spes: «No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer... A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser» (n. 16).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, no nosso itinerário quaresmal rumo à Páscoa já próxima, deixemo-nos guiar pela voz de Deus que nos chama através da consciência. Poderemos assim ir ao Seu encontro, com uma vida santa e rica de obras boas, sempre de acordo com a Sua vontade e segundo o Seu coração.

Amém!







Homilias JOÃO PAULO II 983