Homilias JOÃO PAULO II 1062


NA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA


Castel Gandolfo, 15 de Agosto de 1997

1. «Resplandece a Rainha, Senhor, à Vossa dextra!» (Salmo responsorial).


A hodierna Liturgia põe-nos diante do fúlgido ícone da Assunção da Virgem ao céu, na integridade da alma e do corpo. No esplendor da glória celeste brilha Aquela que, em virtude da sua humildade, se fez grande diante do Altíssimo, a ponto de todas as gerações a chamarem bem-aventurada (cf. Lc Lc 1,48). Agora senta-se como Rainha ao lado do Filho, na eterna bem-aventurança do paraíso e do Alto olha para os seus filhos.

1063 Com esta consoladora certeza, dirigimo-nos a Ela e invocamo-la para aqueles que são os seus filhos: para a Igreja e para toda a humanidade, a fim de que todos, imitando-a no fiel seguimento de Cristo, possam alcançar a pátria definitiva do céu.

2. «Resplandece a Rainha, Senhor, à Vossa dextra!».

Primeira entre os remidos pelo sacrifício pascal de Cristo, hoje Maria resplandece como Rainha de todos nós, peregrinos rumo à vida imortal.

N'Ela, que foi elevada ao céu, é-nos manifestado o eterno destino que nos aguarda para além do mistério da morte: destino de felicidade total, na glória divina. Esta perspectiva sobrenatural sustém a nossa peregrinação quotidiana. Maria é a nossa Mestra de vida. Olhando para Ela, compreendemos melhor o valor relativo das grandezas terrenas e o pleno sentido da nossa vocação cristã.

Desde o nascimento até à gloriosa Assunção, a sua existência desenrolou-se ao longo do itinerário da fé, da esperança e da caridade. São estas as virtudes, florescidas em um coração humilde e abandonado à vontade de Deus, que adornam a sua preciosa e incorruptível coroa de Rainha. São estas as virtudes que o Senhor pede a cada fiel, para o admitir na glória da Sua própria Mãe.

O texto do Apocalipse, há pouco proclamado, fala do enorme dragão vermelho que representa a perene tentação que se apresenta ao homem: preferir o mal ao bem, a morte à vida, o prazer fácil do desempenho à exigente mas saciante via de santidade para a qual cada homem foi criado. Na luta contra «o grande Dragão... a antiga Serpente, o Diabo ou Satanás, como lhe chamam, o sedutor do mundo inteiro» (
Ap 12,9), aparece o grandioso sinal da Virgem vitoriosa, Rainha de glória, sentada à direita do Senhor.

E nesta luta espiritual, a sua ajuda à Igreja é determinante para alcançar a vitória definitiva contra o mal.

3. «Resplandece a Rainha, Senhor, à Vossa dextra!».

Maria brilha sobre a terra, «enquanto não chegar o dia do Senhor... como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do povo peregrinante de Deus» (Lumen gentium LG 68). Como Mãe solícita de todos, sustém o esforço dos crentes e encoraja-os a perseverar no empenhamento. Penso aqui de maneira muito particular nos jovens, que estão mais expostos ao fascínio e às tentações de mitos efémeros e de falsos mestres.

Queridos jovens, olhai para Maria e invocai-a com confiança! O Dia Mundial da Juventude, que dentro de alguns dias terá início em Paris, oferecer-vos-á a ocasião de experimentar mais uma vez a sua solicitude materna. Maria ajudar-vos-á a sentir-vos parte integrante da Igreja, encorajando-vos a não ter medo de assumir as vossas responsabilidades de testemunhas credíveis do amor de Deus.

Hoje, a Virgem elevada ao céu mostra-vos aonde conduzem o amor e a plena fidelidade a Cristo na terra: até à alegria eterna do céu.

1064 4. Maria, Mulher revestida de sol, diante dos inevitáveis sofrimentos e das dificuldades quotidianas, ajuda-nos a fixar o olhar em Cristo.

Ajuda-nos a não ter medo de O seguir até ao fim, mesmo quando o peso da Cruz nos parecer excessivo. Faz-nos compreender que só este é o caminho que leva ao ápice da salvação eterna.

E do céu, onde resplandeces como Rainha e Mãe de misericórdia, vela sobre cada um dos teus filhos.

Orienta-os a amar, adorar e servir a Jesus, o bendito fruto do teu seio, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria!





XII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

79ª VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II – PARIS



DURANTE A MISSA DE BEATIFICAÇÃO


DE FREDERICO OZANAM


Catedral de Notre-Dame, 22 de Agosto de 1997




1. «O amor vem de Deus» (1Jn 4,7). O Evangelho deste dia apresenta-nos a figura do bom Samaritano. Mediante esta parábola, Cristo quer mostrar aos Seus ouvintes quem é o próximo citado no maior mandamento da Lei divina: «Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27). Um doutor da Lei perguntava o que devia fazer para ter parte na vida eterna; encontrara nestas palavras a resposta decisiva. Sabia que o amor de Deus e do próximo é o primeiro e o maior dos mandamentos. Apesar disso, pergunta: «Quem é o meu próximo?» (Lc 10,29).

O facto de Jesus propor um Samaritano, como exemplo para responder a esta pergunta, é significativo. Com efeito, os Samaritanos não eram particularmente estimados pelos Hebreus. Além disso, Cristo compara a conduta deste homem àquela de um sacerdote e de um levita, que viram o homem ferido pelos salteadores e deixado meio morto na estrada, e continuaram a sua caminhada sem lhe prestar socorro. Ao contrário o Samaritano, que ao ver o homem sofredor, «encheu-se de piedade» (Lc 10,33); a sua compaixão levou-o a uma série de acções. Em primeiro lugar ligou-lhe as feridas, depois levou-o para uma estalagem a fim de que cuidassem dele; e, antes de partir, deu ao estalajadeiro o dinheiro necessário para se ocupar do ferido (cf. Lc Lc 10,34-35). O exemplo é eloquente. O doutor da Lei recebe uma resposta clara à sua pergunta: quem é o meu próximo? O próximo é todo o ser humano, sem excepção. É inútil perguntar sobre a sua nacionalidade, a sua pertença social ou religiosa. Se está em necessidade, é preciso ir ajudá-lo. É isto que pede a primeira e a maior Lei divina, a lei do amor de Deus e do próximo.

Fiel a este mandamento do Senhor, Frederico Ozanam acreditou no amor, no amor que Deus tem por todos os homens. Ele mesmo se sentiu chamado a amar, dando o exemplo de um grande amor de Deus e dos outros. Ia ao encontro de todos os que tinham mais necessidade de ser amados, daqueles a quem Deus-Amor não podia ser efectivamente revelado senão pelo amor duma outra pessoa. Ozanam descobriu nisto a sua vocação, viu o caminho para o qual Cristo o chamava. Encontrou nisto o seu caminho rumo à santidade. E percorreu-o com determinação.

2. «O amor vem de Deus». O amor do homem tem a sua fonte na Lei de Deus; a primeira leitura do Antigo Testamento demonstra-o. Nela encontramos uma descrição pormenorizada dos actos do amor ao próximo. É como que uma preparação bíblica para a parábola do bom Samaritano.

A segunda leitura, tirada da primeira Carta de São João, desenvolve o que significa a palavra «o amor vem de Deus». O Apóstolo escreve aos seus discípulos: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece-O. Aquele que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor» (1Jn 4,7-8). Esta palavra do Apóstolo constitui verdadeiramente o centro da Revelação, o ápice para o qual nos conduz tudo o que foi escrito nos Evangelhos e nas Cartas apostólicas. São João prossegue: «Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados» (ibid., 10). A remissão dos pecados manifesta o amor que por nós tem o Filho de Deus feito homem. Então, o amor do próximo, o amor do homem, já não é apenas um mandamento. É uma exigência que deriva da experiência vivida do amor de Deus. Eis por que João pode escrever: «Se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros» (1Jn 4,11).

O ensinamento da Carta de João prolonga- se; o Apóstolo escreve: «Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus está em nós e o Seu amor é perfeito em nós. Nisto conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós, porquanto nos deu o Seu Espírito» (1Jn 4,12-13). O amor é então a fonte do conhecimento. Se, por um lado, o conhecimento é uma condição do amor, por outro, o amor faz aumentar o conhecimento. Se permanecermos no amor, temos a certeza da acção do Espírito Santo que nos faz participar no amor redentor do Filho, que o Pai enviou para a salvação do mundo. Ao reconhecermos Cristo como Filho de Deus, permanecemos n’Ele e, por Ele, permanecemos em Deus. Pelos méritos de Cristo, acreditámos no amor, conhecemos o amor que Deus tem por nós, sabemos que Deus é amor (cf. 1Jn 4,16). Este conhecimento mediante o amor é de algum modo o elemento essencial da vida espiritual do cristão. «Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele» (ibid.).

1065 3. No contexto da Jornada Mundial da Juventude, que este ano tem lugar em Paris, procedo hoje à beatificação de Frederico Ozanam. Saúdo cordialmente o Senhor Cardeal Jean-Marie Lustiger, Arcebispo de Paris, cidade onde se encontra o túmulo do novo Beato. Alegro-me também com a presença neste evento de Cardeais e de Bispos de numerosos países. Saúdo com afecto os membros da Sociedade de São Vicente de Paulo, que do mundo inteiro vieram para a beatificação do seu principal fundador, assim como os representantes da grande família espiritual herdeira do espírito de São Vicente. Os vínculos entre vicentinos foram privilegiados desde as origens da Sociedade, pois foi uma Filha da Caridade, Irmã Rosalie Rendu, quem guiou o jovem Frederico Ozanam e os seus companheiros rumo aos pobres do bairro Mouffetard, em Paris. Caros discípulos de São Vicente de Paulo, encorajo-vos a pôr em comum as vossas forças para que, como desejava o vosso inspirador, os pobres sejam cada vez mais amados e servidos e Jesus Cristo, honrado nas suas pessoas!

4. Frederico Ozanam amava todos os necessitados. Desde a sua juventude, tomou consciência de que não bastava falar da caridade e da missão da Igreja no mundo: isto devia traduzir-se num empenho efectivo dos cristãos no serviço dos pobres. Estava assim em sintonia com a intuição de São Vicente: «Amemos a Deus, meus irmãos, amemos a Deus, mas que isto aconteça com os nossos braços e com o suor do nosso rosto» (São Vicente de Paulo, XI, 40). Para o manifestar de maneira concreta, com a idade de vinte e cinco anos, com um grupo de amigos, criou as Conferências de São Vicente de Paulo, cuja finalidade era a ajuda aos mais pobres, num espírito de serviço e de partilha. Bem depressa, estas Conferências difundiram-se fora de França, em todos os países da Europa e do mundo. Eu mesmo, como estudante, antes da segunda guerra mundial, fiz parte de uma delas.

O amor pelos mais miseráveis, por aqueles de quem ninguém se ocupa, já está no centro da vida e das preocupações de Frederico Ozanam. Ao falar destes homens e destas mulheres, ele escreve: «Deveríamos cair aos seus pés e dizer-lhes com o Apóstolo: “Tu es Dominus meus”. Vós sois os nossos mestres e nós seremos os vossos servidores; sois para nós as imagens sagradas deste Deus que não vemos e, não sabendo amar doutra maneira, nós O amamos nas vossas pessoas» (A Louis Janmot).

5. Ele observa a situação real dos pobres e procura um empenho cada vez mais eficaz, para os ajudar a crescer em humanidade. Compreende que a caridade deve levar a trabalhar pela reparação das injustiças. Caridade e justiça caminham a par e passo. Tem a coragem lúcida dum empenho social e político de primeiro plano numa época agitada da vida do seu país, pois nenhuma sociedade pode aceitar a miséria como uma fatalidade, sem que a sua honra não seja atingida. É assim que se pode ver nele um precursor da doutrina social da Igreja, que o Papa Leão XIII desenvolverá alguns anos mais tarde na Encíclica Rerum novarum.

Diante das pobrezas que oprimem muitos homens e mulheres, a caridade é um sinal profético do empenho do cristão no seguimento de Cristo. Convido, pois, os leigos e de modo particular os jovens a darem prova de coragem e de imaginação, a fim de trabalharem para a edificação de sociedades mais fraternas, onde os mais necessitados sejam reconhecidos na sua dignidade e encontrem os meios para uma existência respeitável. Com a humildade e a confiança incondicional na Providência, que caracterizavam Frederico Ozanam, tende a audácia da partilha dos bens materiais e espirituais com aqueles que estão na miséria!

6. O Beato Frederico Ozanam, apóstolo da caridade, esposo e pai de família exemplar, grande figura do laicado católico do século XIX, foi um universitário que assumiu uma parte importante no movimento das ideias do seu tempo. Estudante, professor eminente primeiro em Lião e depois em Paris, na Sorbona, teve em vista antes de tudo a investigação e a comunicação da verdade, na serenidade e no respeito das convicções daqueles que não partilhavam as suas. «Aprendamos a defender as nossas convicções sem odiar os nossos adversários, escrevia ele, a amar aqueles que pensam diversamente de nós [...] lamentemo-nos menos dos nossos tempos e mais de nós mesmos» (Cartas, 9 de Abril de 1851). Com a coragem do crente, denunciando todos os egoísmos, ele participa activamente na renovação da presença e da acção da Igreja na sociedade da sua época. Conhece-se também o seu papel na instituição das Conferências da Quaresma nesta catedral de Notre-Dame de Paris, com o objectivo de permitir aos jovens receber um ensinamento religioso renovado, ante as grandes questões que lhes interrogam a fé. Homem de pensamento e de acção, Frederico Ozanam continua a ser para os universitários do nosso tempo, professores e estudantes, um modelo de empenho corajoso capaz de fazer ouvir uma palavra livre e exigente, na busca da verdade e na defesa da dignidade de toda a pessoa humana. Que seja também para eles um apelo à santidade!

7. A Igreja confirma hoje a escolha de vida cristã feita por Ozanam, assim como o caminho que assumiu. Ela diz-lhe: Frederico, o teu caminho foi deveras a via da santidade. Passaram mais de cem anos, e eis o momento oportuno para redescobrir este caminho. É preciso que todos estes jovens, mais ou menos da tua idade, reunidos em tão grande número em Paris, provenientes de todos os Países da Europa e do mundo, reconheçam que esta estrada é também deles. É preciso que compreendam que, se quiserem ser cristãos autênticos, devem empreender este mesmo caminho. Oxalá abram melhor os olhos da própria alma às necessidades tão numerosas dos homens de hoje. Compreendam estas necessidades como desafios. Cristo chama-os, cada um pelo seu nome, a fim de que cada um possa dizer: eis o meu caminho! Nas opções que fizerem, a tua santidade, Frederico, será confirmada de modo particular. E grande será a tua alegria. Tu, que já vês com os teus olhos Aquele que é o amor, sê também um guia em todos os caminhos que estes jovens vão escolher, seguindo hoje o teu exemplo!



XII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

79ª VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II – PARIS



NA MISSA CELEBRADA PARA OS DELEGADOS


AO FÓRUM INTERNACIONAL DA JUVENTUDE


23 de Agosto de 1997




1. «Todos os povos Vos conheçam, Senhor!». Estas palavras da liturgia hodierna dirigem-se antes de mais a vós, representantes de todas as nações que participais no Dia Mundial da Juventude em Paris. A vossa presença testemunha o cumprimento da missão que os Apóstolos receberam de Cristo, depois da ressurreição: «Portanto, ide e fazei com que todos os povos se tornem Meus discípulos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19). Vós sois os representantes dos povos aos quais o Evangelho foi anunciado e pelos quais foi recebido, povos cujas culturas já foram impregnadas e transfiguradas por ele.

Encontrais-vos aqui não apenas porque recebestes a fé e o baptismo, mas também porque desejais transmitir esta fé aos outros. Existem inumeráveis corações que aguardam o Evangelho! O brado da liturgia deste dia adquire todo o seu sentido nos vossos lábios: «Todos os povos Vos conheçam, Senhor!».

2. O Dia Internacional da Juventude possui claramente uma dimensão missionária. A liturgia manifesta-o hoje. A primeira leitura do Livro de Isaías diz: «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, o que traz a boa notícia, que anuncia a salvação, que diz a Sião: “O teu Deus reina!” » (52, 7). Sem dúvida, o profeta pensa no Messias a Quem então se esperava. É Cristo, o Messias, que anunciará em primeiro lugar a Boa Nova. Porém, transmiti-la-á aos Apóstolos. Mediante a participação deles na Sua missão profética, sacerdotal e real, eles e sucessivamente todo o Povo de Deus da Nova Aliança tornar-se-ão os Seus mensageiros no mundo inteiro. Assim, as palavras do profeta dizem-lhes respeito: «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a Boa Notícia...».

1066 Estas palavras dizem respeito a vós, que estais aqui reunidos, que participais no Dia Mundial da Juventude de todas as nações que há debaixo do sol. A vossa reunião é como que um novo Pentecostes. E é preciso que assim o seja! É necessário que, tal como os Apóstolos no Cenáculo e para além da percepção dos nossos sentidos, sintamos o ruído, a irrupção de um vento impetuoso, que apareçam as línguas de fogo do Espírito Santo sobre a cabeça de todos aqueles que estão aqui congregados, e que todos comecem a proclamar as maravilhas de Deus nos diferentes idiomas (cf. Act Ac 2,1-4). Assim, havereis de ser as testemunhas da Boa Nova no terceiro milénio.

3. A leitura do Evangelho de São Mateus recorda-nos a parábola do semeador. Nós conhecêmo-la, mas podemos reler incessantemente as palavras do Evangelho e nelas encontrar sempre uma nova luz. Eis portanto que o semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram pelo caminho, outras no terreno pedregoso, outras ainda no meio dos espinhos e enfim outras na terra boa, e somente estas produziram frutos (cf. Mt Mt 13,3-8).

Jesus não Se contentou com a apresentação da parábola, mas explicou-a. Escutemos também nós a explicação da parábola do semeador. As sementes que caíram pelo caminho designam aqueles que escutam a palavra sobre o Reino de Deus, mas não a compreendem; sobrevém o Maligno e rouba o que foi semeado no seu coração (cf. Mt Mt 13,19). O Maligno caminha com frequência ao longo deste percurso, empenhando-se em impedir que a semente germine no coração dos homens. Esta é a primeira comparação. A segunda é a da semente que cai no terreno pedregoso. Este terreno designa as pessoas que escutam a palavra e a acolhem imediatamente com alegria, mas não têm raízes em si próprias e são inconstantes. Quando chega a tribulação ou a perseguição por causa da Palavra, elas logo sucumbem (cf. Mt Mt 13,20-21). Que psicologia nesta comparação de Cristo! Conhecemos muito bem, em nós e à nossa volta, a inconstância de pessoas desprovidas de raízes que possam fazer crescer a palavra! O terceiro caso é o da semente que cai no meio dos espinhos. Cristo explica que Se refere às pessoas que escutam as palavras mas, devido às suas preocupações neste mundo e ao seu apego às próprias riquezas, sufocam a Palavra e esta deixa de dar frutos (cf. Mt Mt 13,22).

Enfim, a semente que cai na terra fértil representa as pessoas que escutam a Palavra e a compreendem, e nelas a Palavra produz frutos (cf. Mt Mt 13,23). Toda esta magnífica parábola nos fala hoje assim como falava aos ouvintes de Jesus, há dois mil anos. Durante este encontro mundial da juventude, tornemo-nos terra fértil que recebe a semente do Evangelho e dá frutos!

4. Conscientes da tibieza da alma humana no acolhimento da Palavra de Deus, dirijamos ao Espírito esta ardente oração litúrgica:

«Veni Creator
Espiritus Mentes tuorum visita,
Imple superna gratia,
Quoe tu creasti pectora!

Vinde, ó Espírito Criador
Visitai as nossas mentes;
1067 Colmai com a graça do Alto
Os corações das Vossas criaturas!».

Mediante esta oração, abramos o nosso coração, suplicando ao Espírito que o encha de luz e vida.

Espírito de Deus, tornai-nos disponíveis à Vossa visita, fazei crescer em nós a fé na Palavra que salva. Sede a fonte viva da esperança que germina nas nossas vidas. Sede em nós o sopro de amor que nos transforma e o fogo de caridade que nos impele a darmo-nos a nós mesmos, através do serviço aos nossos irmãos.

Vós, que o Pai nos enviou, ensinai-nos todas as coisas e fazei com que compreendamos a riqueza da Palavra de Cristo. Afirmai em nós o homem interior, fazei com que passemos do temor à confiança, a fim de que brote em nós o louvor da Vossa glória.

Sede a luz que vem colmar o coração dos homens e dar-lhe a coragem de Vos buscar indefessamente. Vós, Espírito de verdade, introduzi-nos na Verdade completa, a fim de proclamarmos com determinação o mistério de Deus vivo que age na nossa história. Esclarecei- nos acerca do derradeiro sentido desta história.

Afastai de nós as infidelidades que nos separam de Vós, libertai-nos do ressentimento e da divisão, fazei crescer em nós um espírito de fraternidade e de unidade, a fim de sabermos edificar a cidade dos homens na paz e na solidariedade que nos vêm de Deus. Fazei-nos descobrir que o amor se encontra no mais íntimo da vida divina, e que nós somos chamados a nele participar. Ensinai-nos a amar uns aos outros como o Pai nos amou, dando-nos o seu Filho (cf. Jo
Jn 3,16).

Todos os povos Vos conheçam, a Vós Deus, Pai de todos os homens, que o vosso Filho Jesus veio revelar-nos, a Vós que nos enviastes o vosso Espírito para nos comunicar os frutos da Redenção!

5. Saúdo aqui cordialmente, hoje de manhã, os responsáveis do Pontifício Conselho para os Leigos, organizadores do Fórum Internacional dos Jovens, que vos congregou para este período de reflexão e oração. Agradeço a todos aqueles que asseguraram o bom desenvolvimento deste encontro, de maneira particular aos responsáveis da Escola politécnica, que o acolheram com generosidade e disponibilidade.

Estimados amigos, ontem na Catedral de «Notre-Dame» de Paris, beatifiquei Frederico Ozanam, um leigo, um jovem como vós; recordo-o de bom grado nesta igreja de Santo Estêvão do Monte, pois foi aqui que ele realizou as suas primeiras actividades com outros jovens, em benefício dos pobres do bairro. Iluminado pelo Espírito de Cristo e fiel à meditação quotidiana da sua Palavra, o Beato Frederico propõe-vos um ideal de santidade para hoje, o do dom de si em prol do serviço aos mais desfavorecidos membros da sociedade. Formulo votos por que na recordação deste XII Dia Mundial da Juventude ele continue a ser para vós um amigo e um modelo no vosso testemunho de jovens cristãos!

6. No decurso das jornadas tão intensas que acabastes de viver, também vós fostes ao encontro de Cristo, deixando penetrar em vós a Palavra, a fim de que esta germine e produza frutos. Ao fazerdes uma excepcional experiência da universalidade da Igreja e do património comum a todos os discípulos de Cristo, destes graças pelas maravilhas que Deus realiza no coração da humanidade. Vós também compartilhastes os sofrimentos, as angústias, as esperanças e os anseios dos homens contemporâneos.

1068 Hoje de manhã, o Espírito Santo envia-vos, como «uma carta de Cristo», para proclamardes as obras de Deus em cada um dos vossos países e serdes ardorosas testemunhas do Evangelho de Cristo no meio dos homens de boa vontade, até aos confins da terra. A missão que vos é confiada exige que, ao longo de toda a vossa vida, dediqueis o tempo necessário à formação espiritual e doutrinal, a fim de aprofundardes a fé e, por vossa vez, tornardes-vos formadores. Desta maneira haveis de responder ao apelo «a crescer, amadurecer continuamente e dar cada vez mais frutos» (Christifideles laici CL 57).

O tempo de renovação espiritual que acabastes de viver juntos vos empenhe em progredir juntamente com os vossos irmãos cristãos, na busca da unidade almejada por Cristo. Ele vos conduza, com uma caridade fraternal, ao encontro dos homens e das mulheres de outras convicções religiosas ou intelectuais, para o conhecimento autêntico e o respeito recíproco que fazem crescer em humanidade. O Espírito de Deus vos envie, a fim de vos tornardes juntamente com todos os vossos irmãos e todas as vossas irmãs do mundo, construtores de uma civilização reconciliada, fundamentada sobre o amor fraterno. No alvorecer do terceiro milénio, exorto-vos a estar alertas à voz e aos sinais da presença e da acção do Espírito Santo na Igreja e no mundo. Contemplando e imitando a Virgem Maria, modelo da fé vivida, sereis assim verdadeiros discípulos de Cristo, seu divino Filho, d'Aquele que funda a esperança, manancial de vida. Caríssimos jovens, a Igreja tem necessidade de vós, precisa do vosso compromisso ao serviço do Evangelho. Também o Papa conta convosco. Acolhei o fogo do Espírito do Senhor a fim de vos tornardes fervorosos arautos da Boa Nova!





XII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

79ª VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II – PARIS



NO ENCERRAMENTO DO ENCONTRO


COM OS JOVENS EM «LONGCHAMP»


Paris, 24 de Agosto de 1997


1. «Mestre, onde moras?» (Jn 1,38). Certo dia, esta pergunta foi feita a Jesus de Nazaré por dois jovens. Isto aconteceu nas margens do Jordão. Jesus tinha ido receber o baptismo de João; mas o Baptista, ao ver Jesus que vinha ao seu encontro, diz: «Eis o Cordeiro de Deus» (Jn 1,36). Estas palavras proféticas indicavam o Redentor, Aquele que ia dar a Sua vida pela salvação do mundo. Assim, desde o baptismo no Jordão, João indicava o Crucificado. Foram precisamente estes dois discípulos de João Baptista que, ao ouvirem estas palavras, seguiram Jesus: não é isto rico de sentido? Quando Jesus lhes perguntou: «Que buscais?» (Jn 1,38) eles, por sua vez, responderam com uma pergunta: «Rabbi – que quer dizer Mestre – onde moras? » (ibid.). Jesus respondeu-lhes: «“Vinde ver”. Foram, pois, e viram onde morava, e permaneceram junto d’Ele nesse dia» (Jn 1,39). Tornaram-se os primeiros discípulos de Jesus. Um deles era André, que conduziu também a Jesus o seu irmão Simão Pedro.

Caros amigos, estou feliz por poder meditar este Evangelho convosco, juntamente com os Cardeais e os Bispos que estão ao redor de mim. É-me grato saudá-los. Quero agradecer a D. James Francis Stafford e ao Pontifício Conselho para os Leigos a sua activa preparação deste maravilhoso encontro, no seguimento do Cardeal Eduardo Pironio, que muito trabalhou para as Jornadas Mundiais. A minha gratidão dirige-se ao Cardeal Jean-Marie Lustiger pelo seu acolhimento, a D. Michel Dubost, aos Bispos de França e aos dos numerosos países do mundo que vos acompanham e enriqueceram as vossas reflexões. Saúdo também cordialmente os sacerdotes concelebrantes, os religiosos, as religiosas, todos os responsáveis dos vossos movimentos e dos grupos diocesanos.

Agradeço a presença dos nossos irmãos cristãos de outras comunidades, assim como as personalidades civis que quiseram associar-se a esta celebração litúrgica.

Ao saudar todos vós de novo, desejo em particular exprimir o meu encorajamento afectuoso àqueles de entre vós que são deficientes; estamos-lhes gratos por terem vindo connosco e nos trazerem o seu testemunho de fé e de esperança. Recordo igualmente na oração todos os doentes, assistidos no hospital ou na própria casa.

Em nome de todos vós, quereria também exprimir a nossa gratidão aos numerosos voluntários que asseguram, com devotamento e competência, a organização da vossa reunião. Quereria elogiar sentidamente os voluntários pela sua seriedade. Voltemos ao Evangelho.

2. O breve trecho do Evangelho de João, que acabámos de escutar, diz o essencial do programa da Jornada Mundial da Juventude: um intercâmbio de perguntas, depois uma resposta que é um apelo. Ao apresentar este encontro com Jesus, a liturgia quer mostrar hoje o que mais vale na vossa vida. E eu, Sucessor de Pedro, vim pedir-vos que façais, vós também, esta pergunta a Cristo: «Onde moras?». Se Lhe dirigirdes sinceramente esta pergunta, podereis ouvir a Sua resposta e receber d’Ele a coragem e a força para O seguir.

A pergunta é o fruto duma busca. O homem procura a Deus. O jovem compreende no fundo de si mesmo que esta busca é a lei interior da sua existência. O ser humano procura o seu caminho no mundo visível; e, através do mundo visível, procura o invisível ao longo da sua peregrinação espiritual. Cada um de nós pode repetir as palavras do salmista: «É a Vossa face, Senhor, que eu procuro; não escondais de mim o Vosso rosto » (Sl 27/26, 8-9). Cada um de nós tem a sua história pessoal e traz em si o desejo de ver a Deus, um desejo que se experimenta ao mesmo tempo que se descobre o mundo criado. Este mundo é maravilhoso e rico, desvela diante da humanidade as suas inumeráveis riquezas, seduz, atrai a razão tanto quanto a vontade. Mas, no final das contas, não colma o espírito. O homem dá-se conta de que este mundo, na diversidade das suas riquezas, é superficial e precário; num certo sentido, está destinado à morte. Hoje tomamos mais consciência da fragilidade da nossa terra, com muita frequência degradada pela própria mão do homem, a quem o Criador a confiou.

Quanto ao homem mesmo, ele vem ao mundo, nasce do seio materno, cresce e matura; descobre a sua vocação e desenvolve a sua personalidade ao longo dos seus anos de actividade; depois, aproxima-se o momento em que deve deixar este mundo. Quanto mais longa é a sua vida, tanto mais o homem sente a sua própria precariedade, tanto mais faz a pergunta sobre a imortalidade: o que existe para além das fronteiras da morte? Então, no profundo do ser, surge a pergunta feita Àquele que venceu a morte: «Rabbi, onde moras?». Mestre, Vós que amais e respeitais a pessoa humana, Vós que partilhastes o sofrimento dos homens, que desvelais o mistério da existência humana, fazei-nos descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida e da nossa vocação! «É a Vossa face, Senhor, que eu procuro; não escondais de mim o Vosso rosto» (Sl 27/26, 8-9).

1069 3. Nas margens do Jordão, e ainda muito mais tarde, os discípulos não sabiam quem era verdadeiramente Jesus. Terão necessidade de muito tempo para compreender o mistério do Filho de Deus. Nós também trazemos em nós o desejo de conhecer Aquele que revela o rosto de Deus. Cristo responde à pergunta dos discípulos através de toda a Sua missão messiânica. Ele ensinava; para confirmar a verdade daquilo que proclamava, fazia grandes prodígios, curava os doentes, ressuscitava os mortos, aplacava as tempestades do mar. Mas todo este caminho fora do comum chegou à sua plenitude no Gólgota. É ao contemplá-l’O na Cruz, com o olhar da fé, que se pode «ver» quem é o Cristo Salvador, Aquele que carrega os nossos sofrimentos, o justo que fez da Sua vida um sacrifício para a justificação das multidões (cf. Is Is 53,4 Is Is 53,10-11).

São Paulo resume a sabedoria suprema na segunda leitura deste dia, com palavras muito impressionantes: «A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, e poder de Deus para os que se salvam, isto é, para nós, pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes”. [...] Pois, já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os crentes por meio da loucura da pregação. [...] Nós anunciamos a Cristo crucificado» (1Co 1,18-23). O Apóstolo falava ao povo do seu tempo, aos filhos de Israel que tinham recebido a revelação de Deus no monte Sinai e aos Gregos que elaboravam uma alta sabedoria humana, uma grande filosofia. Mas agora, o fim e o ápice da sabedoria, é Cristo crucificado, não só por causa da Sua palavra, mas porque Se doou para a salvação da humanidade!

Com o seu excepcional ardor, São Paulo repete: «Anunciamos a Cristo crucificado ». Aquele que, aos olhos dos homens, parece não ser senão debilidade e loucura, nós proclamamos como Potência e Sabedoria, plenitude da Verdade. É verdade que em nós a confiança experimenta altos e baixos. É verdade que o nosso olhar de fé é muitas vezes obscurecido pela dúvida e pela nossa própria fragilidade. Humildes e pobres pecadores, aceitamos a mensagem da Cruz. Para responder à nossa pergunta: «Rabbi, onde moras?», Cristo dirige-nos um apelo: vinde ver; na Cruz vós vereis o sinal luminoso da redenção do mundo, a presença amorosa do Deus vivo. Precisamente porque compreenderam que a Cruz domina a história, os cristãos colocaram o crucifixo nas igrejas e à margem dos caminhos, ou levam-no no seu coração. Pois a Cruz é um sinal verdadeiro da presença do Filho de Deus; através deste sinal Se revela o Redentor do mundo. In hoc signo vinces!

4. «Rabbi, onde moras?». A Igreja responde todos os dias: Cristo está presente na Eucaristia, o sacramento da Sua morte e ressurreição. Nela e por ela, reconheceis a morada do Deus vivo na história do homem. Pois a Eucaristia é o sacramento do amor vencedor da morte, é o sacramento da Aliança, puro dom de amor para a reconciliação dos homens; é o dom da presença real de Jesus, o Redentor, no pão que é o seu Corpo imolado, no vinho que é o seu Sangue derramado por todos. Mediante a Eucaristia, incessantemente renovada em todos os povos do mundo, Cristo constitui a sua Igreja: Ele une-nos no louvor e na acção de graças pela salvação, na comunhão que só o amor infinito pode selar. O nosso encontro mundial toma todo o seu sentido agora, pela celebração da Missa. Jovens, meus amigos, que a vossa presença seja uma real adesão na fé! Pois eis que Cristo responde à vossa pergunta e, ao mesmo tempo, aos interrogativos de todos os homens que buscam o Deus vivo. Responde com o Seu convite: este é o Meu Corpo, comei-o todos. Confia ao Pai o Seu desejo supremo da unidade, na mesma comunhão de todos aqueles que por Ele são amados.

5. A resposta à pergunta: «Mestre, onde moras» comporta então numerosas dimensões. Tem uma dimensão histórica, pascal e sacramental. A primeira leitura de hoje sugere-nos ainda outra dimensão da resposta à pergunta-tema da Jornada Mundial da Juventude: Cristo habita no seu Povo. É o povo de que fala o Deuteronómio, em relação à história de Israel: «Foi porque o Senhor vos ama, porque é fiel ao juramento que fez aos vossos antepassados; por isso, a Sua mão poderosa vos arrancou e salvou da casa da escravidão [...]. Reconhece, então, que o Senhor, teu Deus, é o único Deus, um Deus verdadeiro e fiel ao pacto de misericórdia que estabeleceu com aqueles que O amavam e obedecem às Suas leis, até à milésima geração» (Dt 7,8-9). Israel é o Povo que Deus escolheu para Si, com o qual estabeleceu uma Aliança.

Na Nova Aliança, a eleição de Deus estende-se a todos os povos da terra. Em Jesus Cristo, Deus escolheu toda a humanidade. Revelou a universalidade da eleição mediante a redenção. Em Cristo, já não há Judeu nem Grego, nem escravo nem homem livre, todos não fazem senão um só (cf. Gl Ga 3,28). Todos foram chamados a participar da vida de Deus, graças à morte e à ressurreição de Cristo. O nosso encontro, nesta Jornada Mundial da Juventude, não está a pôr em evidência esta verdade? Todos vós, aqui reunidos, provenientes de tantos países e continentes, sois as testemunhas da vocação universal do Povo de Deus remido por Cristo! A última resposta à pergunta «Mestre, onde moras?» deve, então, ser entendida assim: habito em todos os seres humanos salvos. Sim, Cristo habita no seu Povo, que aprofundou as suas raízes em todos os povos da terra, o povo que O segue, a Ele, o Senhor crucificado e ressuscitado, o Redentor do mundo, o Mestre que tem palavras de vida eterna, Ele «a Cabeça do povo novo e universal dos filhos de Deus» (Lumen gentium LG 13). O Concílio Vaticano II disse de modo admirável: é Ele que «nos deu do Seu Espírito, o qual, sendo um e o mesmo na Cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro» (ibid., n. 7). Graças à Igreja que nos faz participar da vida mesma do Senhor, todos nós podemos agora retomar as palavras de Pedro a Jesus: Para quem havemos nós de ir? Para quem outro havemos nós de ir? (cf. Jo Jn 6,68).

6. Caros jovens, o vosso caminho não se detém aqui. O tempo não pára hoje. Ide pelas estradas do mundo, pelos caminhos da humanidade, permanecendo unidos na Igreja de Cristo!

Continuai a contemplar a glória de Deus, o amor de Deus; e sereis iluminados para construir a civilização do amor, para ajudar o homem a ver o mundo transfigurado pela sabedoria e o amor eternos.

Perdoados e reconciliados, sede fiéis ao vosso baptismo! Testemunhai o Evangelho! Como membros da Igreja, activos e responsáveis, sede discípulos e testemunhas de Cristo que revela o Pai, permanecei na unidade do Espírito que dá a vida!





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