Homilias JOÃO PAULO II 1084


LIDA PELO CARDEAL BERNARDIN GANTIN


NA MISSA DE SUFRÁGIO PELOS CARDEAIS


E BISPOS DEFUNTOS


11 de Novembro de 1997




1. «Quero que aqueles que Me deste, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a Minha glória » (Jn 17,24). Com estas palavras Jesus, na iminência da Sua morte, confia os Apóstolos ao Pai. Ele está para partir, enquanto eles permanecerão para prosseguir a Sua missão salvífica, anunciando o Evangelho, conservando o depósito da fé e guiando o povo da Nova Aliança. Fá-lo-ão antes pessoalmente e depois mediante a obra dos sucessores, aos quais transmitirão a sua missão.

Também a estes futuros ministros da salvação se estende o pensamento de Jesus na hora suprema da Sua vida: a hora da sua Páscoa de morte e ressurreição. «Quero que aqueles que Me deste, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo...». A íntima comunhão de amor que une Cristo aos Apóstolos e à multidão daqueles que acolherão o seu mandato, encontrará o seu pleno cumprimento quando também eles estiverem com Cristo, acolhidos junto do Pai, para contemplarem a Sua glória, aquela glória que Lhe pertence desde «antes da criação do mundo» (cf. ibid.).

2. No clima típico do mês de Novembro, marcado pela recordação dos fiéis defuntos, estamos hoje reunidos em torno do Altar para recordar os Cardeais, Arcebispos e Bispos que, durante este último ano, retornaram à casa do Pai. Enquanto oferecemos o Sacrifício eucarístico em sufrágio por eles, pedimos ao Senhor que lhes conceda o prémio celeste prometido aos servos bons e fiéis.

Nesta celebração queremos recordar de modo particular os saudosos e venerados Irmãos Cardeais Joseph Louis Bernardin, Jean Jérôme Hamer, Narciso Jubany Arnau, Juan Landázuri Ricketts, Mikel Koliqi, Ugo Poletti, Bernard Yago, que entraram na casa do Pai no decorrer dos últimos doze meses.

Estendemos a nossa afectuosa recordação aos Arcebispos e aos Bispos que, neste mesmo período, deixaram este mundo. Adormeceram no Senhor confiando-se ao Seu amor misericordioso, na esperança bem fundada de poderem participar no banquete eterno do céu (cf. Is Is 25,6).

3. Quando estavam aqui sobre a terra, estes nossos Irmãos proclamaram e testemunharam a fé na ressurreição, com a palavra e com a vida. Quantas vezes tiveram ocasião de repetir as palavras de São Paulo, há pouco proclamadas: «Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram » (1Co 15,20)! Chamados a ser na Igreja dispensadores da vida divina, agora repousam à espera da ressurreição final, quando a morte será destruída para sempre (cf. Is Is 25,8 1Co 15,26) e Deus? será tudo em todos (cf. 1Co 15,28).

Recordamo-los com afecto e reconhecimento pelo generoso serviço pastoral, prestado às vezes também à custa de graves dificuldades e sofrimentos: a inteira Comunidade cristã tirou proveito dos seus labores apostólicos. Ao mesmo tempo, elevamos a nossa fervorosa oração a fim de que o Senhor os acolha ao Seu lado na glória (cf. Jo Jn 17,24). Por eles e juntamente com eles manifestamos o desejo do encontro definitivo com Deus: «Assim como a corça suspira pelas torrentes de água, assim também a minha alma suspira por Vós, ó meu Deus» (Ps 41,2).

4. À Virgem das Dores, que na tradicional imagem da Piedade contemplamos no acto de acolher entre os braços o divino Filho morto e tirado da cruz, confiamos agora as almas destes nossos Irmãos na fé e no sacerdócio. Eles, que durante a vida terrena amaram e veneraram Maria com amor de filhos, sejam por Ela introduzidos no Reino eterno do Pai.

1085 Com o seu olhar solícito vele Maria sobre eles, que agora dormem o sono da paz, à espera da feliz ressurreição! Por eles elevamos a Deus a nossa oração, sustentados pela esperança de nos encontrarmos todos um dia, unidos para sempre no Paraíso.

Dai-lhes, Senhor, o repouso eterno, e brilhe para eles a luz perpétua. Repousem em paz. Amém!





DURANTE A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


DE ABERTURA DA ASSEMBLEIA ESPECIAL


DO SÍNODO DOS BISPOS PARA A AMÉRICA


16 de Novembro de 1997




1. «Vigiai e estai preparados, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor » (Aclamação ao Evangelho, cf. Mt Mt 24,42 Mt Mt 24,44).

Esta vigilância na oração, para a qual a Liturgia de hoje nos convida, adapta-se bem ao importante acontecimento que estamos a viver: a abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, que tem o seguinte tema: «Encontro com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na América». É uma Assembleia que vê reunidos os Prelados de todos os episcopados do Continente americano, do Norte ao Centro e ao Sul, incluindo a região das Caraíbas. Dirijo a todos a minha cordial saudação e as calorosas boas-vindas a quantos vieram de além do Oceano para esta ocasião.

Hoje, a Palavra de Deus oferece-nos uma perspectiva que corresponde bem à obra de discernimento que nos preparamos para realizar: a perspectiva é aquela própria do olhar de fé sobre a história, a perspectiva «escatológica».

Eis o modo de considerar as vicissitudes humanas, para as quais o Senhor educa os crentes. Escutámos um oráculo tirado do Livro de Daniel, que o próprio profeta recebe pelos lábios dum mensageiro celeste, enviado a «anunciar-lhe a verdade» (Da 11,2) acerca dos acontecimentos históricos. É um oráculo que fala de angústias e de salvação para o povo: como não reconhecer nele um prenúncio do mistério pascal, único centro da história e chave para a sua autêntica interpretação?

À luz do mistério pascal, a Igreja prepara e cumpre cada passo da sua peregrinação na terra. E hoje celebra o solene início de um particular tempo de reflexão e de confronto sobre a missão que é chamada a desempenhar no Continente americano. A palavra de Deus oferece-lhe o recto olhar da fé para ler, como diz o anjo a Daniel, «o que está escrito no Livro da Verdade» (Da 10,21). Nesta perspectiva a Igreja inclina-se a olhar para o caminho até agora percorrido, para se projectar com renovado fervor missionário rumo ao novo Milénio.

2. Não passou muito tempo desde quando, em 1992, recordámos de maneira solene os quinhentos anos da evangelização da América. O Sínodo, que hoje inicia solenemente os seus trabalhos nesta Basílica de São Pedro, recorda de modo ideal aqueles tempos em que os habitantes do chamado «Velho Mundo», graças à admirável empresa de Cristóvão Colombo, conheceram a existência de um «Novo Mundo», o qual até àquele momento desconheciam. A partir desse dia histórico teve início a obra dos colonizadores e, ao mesmo tempo, a missão dos evangelizadores, dando a conhecer Cristo e o Seu Evangelho aos povos desse Continente.

Fruto desta extraordinária tarefa missionária é a evangelização da América ou, de maneira mais exacta, das chamadas «três Américas», que hoje se consideram em grande parte cristãs. Por conseguinte, é muito importante, à distância de cinco séculos e já no limiar do novo Milénio, percorrer mentalmente o caminho realizado pelo Cristianismo em todas aquelas terras. Além disso, é oportuno não separar a história cristã da América do Norte da história da América do Centro e do Sul. É preciso considerá-las juntas, salvaguardando contudo a originalidade de cada uma delas, porque pareceram uma realidade unitária aos olhos dos que ali chegaram há mais de quinhentos anos, e sobretudo porque a comunhão entre as Comunidades locais é um sinal vivo da unidade natural da única Igreja de Jesus Cristo, da qual são parte orgânica.

3. Não passa despercebido aos olhos de ninguém que no grande Continente americano os sinais da actividade dos colonizadores resultam hoje diversificados sob o aspecto político e económico, com indubitáveis reflexos culturais e religiosos. A América do Norte alcançou, em relação aos outros Países, um nível mais elevado, sobretudo no que se refere às capacidades tecnológicas, ao bem-estar económico e ao desenvolvimento das instituições democráticas.

1086 Perante estes fenómenos, não podemos deixar de interrogar-nos acerca das causas históricas que deram origem a essas diferenças sociais. Em que medida elas se radicam na história dos últimos cinco séculos Até que ponto pesa sobre elas a herança da colonização E que influência exerceu a primeira evangelização?

Para dar uma resposta satisfatória a estas perguntas, torna-se sem dúvida necessário, durante o Sínodo, examinar o Continente no seu conjunto, do Alasca à terra do Fogo, sem separar o Norte do Centro e do Sul, para não correr o risco de os contrapor. Pelo contrário, é preciso investigar sobre as profundas motivações desta visão unitária, apelando às comuns tradições religiosas e cristãs.

Estas poucas indicações fazem compreender quanto é importante o Sínodo que hoje inauguramos.

4. «Vigiai e estai preparados, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor ».

Esta exortação, que escutámos há pouco na Aclamação ao Evangelho, alude ao clima espiritual que estamos vivendo, na medida em que o ano litúrgico se aproxima do fim. É um clima entretecido de temáticas escatológicas, colocadas em evidência especialmente pela passagem evangélica de São Marcos, onde Cristo sublinha a caducidade do céu e da terra: «O céu e a terra passarão, mas as minhas Palavras não passarão» (13, 31).

Passa a figura deste mundo, mas não passará a Palavra de Deus. Como é eloquente esta contraposição! Deus não passa, e tampouco passa o que d'Ele provém. Não passa o sacrifício de Cristo, acerca do qual se lê hoje na Carta aos Hebreus: Jesus «ofereceu pelos pecados um único sacrifício» (10, 12); e também: «com um só sacrifício, Ele tornou perfeitos para sempre os que foram santificados» (10, 14).

Ao longo desta Assembleia Sinodal, deter-nos-emos a considerar o passado, mas especialmente o presente do Continente Americano. Procuraremos identificar em cada uma das suas regiões, os sinais da presença salvadora de Cristo, da sua Palavra e do seu Sacrifício, para que se reavivem todas as nossas energias ao serviço da conversão e da evangelização.

5. Como não recordar aqui as expressões reconfortantes da vontade, sobretudo no que se refere à colaboração entre os pastores em vista da nova evangelização, manifestada no final da quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Santo Domingo, em 1992 Tratava-se então de intensificar a pastoral missionária de todas as comunidades, para reavivar nas consciências o empenho por ir além das fronteiras, «a fim de levar a outros povos a fé que há 500 anos chegou até nós» (Mensagem, L'Osser. Rom. , pág.
Rm 7,30).

Demos graças a Deus, porque hoje se realizam os votos que exprimi na abertura dos trabalhos dessa Conferência. Nessa ocasião, ressaltei: «esta Conferência Geral poderia considerar a oportunidade de que, num futuro não remoto, possa realizar-se um Encontro de representantes dos Episcopados de todo o Continente americano — que poderia ter também carácter sinodal —, visando incrementar a cooperação entre as diversas Igrejas particulares nos distintos campos da ação pastoral, e no qual, no âmbito da nova evangelização e como expressão da comunhão episcopal, se enfrentem também os problemas relativos à justiça e à solidariedade entre todas as nações da América» (Discurso, L'Osser. , pág. Rm 12,17).

Eis-nos aqui reunidos com o propósito de concretizar estas resoluções de caridade pastoral, preocupados com a Igreja que está na América e em espírito de afectiva e efectiva colegialidade entre os Pastores das Igrejas particulares.

6. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Abrimos os trabalhos sinodais no contexto da iminente conclusão do Ano litúrgico e do próximo início do Advento. Oxalá esta coincidência tão significativa determine a orientação fundamental das nossas reflexões e das nossas decisões!

1087 Estimados Irmãos e Irmãs, este tempo convida deveras a uma grande vigilância. Devemos vigiar e orar, recordando que um dia nos apresentaremos diante do Filho do homem, como Pastores da Igreja que está no Continente americano.

A vós, Maria, Mãe da esperança, amada e venerada nos numerosos santuários espalhados em todo o Continente americano, confiamos esta Assembleia sinodal. Ajudai os cristãos da América a serem testemunhas vigilantes do Evangelho, a fim de estarem despertos e preparados no grande e misterioso dia, quando Cristo vier, como Senhor glorioso dos povos, a julgar os vivos e os mortos.

Amém!







NA PARÓQUIA ROMANA DA SANTÍSSIMA TRINDADE


23 de Novembro de 1997

1. Neste domingo, que encerra o ano litúrgico, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo. Escutámos no Evangelho a pergunta dirigida a Jesus por Pôncio Pilatos: «Tu és o rei dos judeus?» (Jn 18,33). Jesus, por sua vez, responde perguntando: «Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram a Meu respeito?» (Jn 18,34). E Pilatos responde: «Acaso sou eu judeu? O Teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?» (Jn 18,35).


A este ponto do diálogo, Cristo afirma: «O Meu reino não é deste mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas o Meu reino não é daqui» (Jn 18,36).

Agora tudo é claro e transparente. Perante a acusação dos sacerdotes, Jesus revela que se trata doutro tipo de realeza, uma realeza divina e espiritual. Pilatos pergunta de novo: «Então Tu és rei?» (Jn 18,37). A este ponto Jesus, excluindo qualquer forma de interpretação errada da Sua dignidade real, indica a verdadeira: «Tu estás a dizer que Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a verdade ouve a Minha voz» (Jn 18,37).

Ele não é rei no sentido que pensavam os representantes do Sinédrio: com efeito, não aspira a nenhum poder político em Israel. O Seu reino, pelo contrário, ultrapassa em grande medida os confins da Palestina. Todos os que estão com a verdade ouvem a Sua voz (cf. Jo Jn 18,37) e reconhecem n'Ele um Rei. Eis o âmbito universal do Reino de Cristo e a sua dimensão espiritual.

2. «Dar testemunho da verdade» (Jn 18,37). A Leitura tirada do Livro do Apocalipse diz que Jesus Cristo é «a testemunha fiel» (1, 5). Ele é testemunha fiel porque revela o mistério de Deus e anuncia o Seu Reino já presente. Ele é o primeiro servidor deste Reino. Tornando-Se «obediente até à morte, e morte de cruz!» (Ph 2,8), Ele dará testemunho do poder do Pai sobre a criação e sobre o mundo. E o lugar do exercício desta sua realeza é a Cruz, abraçada no Gólgota. A Sua foi uma morte ignominiosa, que representa uma confirmação do anúncio evangélico do Reino de Deus. Mas aos olhos dos seus inimigos, aquela morte deveria ter sido a prova de que tudo o que Ele havia dito era falso: «Se é o Rei de Israel... desça agora da cruz, e acreditaremos n'Ele» (Mt 27,42). Não desceu da cruz mas, como o Bom Pastor, deu a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo Jn 10,11). A confirmação do Seu poder real é dada pouco depois quando, no terceiro dia, ressuscitou dos mortos, revelando-Se «o primogénito dos mortos» (Ap 1,5).

Ele, Servo obediente, é Rei, porque tem «as chaves da Morte e do Inferno» (Ap 1,18). E, enquanto vencedor da morte, do inferno e de satanás, é «o Príncipe dos reis da terra» (Ap 1,5). Com efeito, todas as coisas terrenas estão sujeitas à morte. Ao contrário, Aquele que tem poder sobre a morte, abre a toda a humanidade a perspectiva da vida imortal. Ele é o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim de toda a criação (cf. Ap Ap 1,8), por isso todas as gerações podem repetir: Bendito o Seu reino que está a chegar (cf. Mc Mc 11,10).

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia da Santíssima Trindade em «Castel di Lunghezza»! Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosco para celebrar a Eucaristia, na Solenidade de Cristo Rei.

1088 Saúdo com afecto cada um de vós aqui presentes, dirigindo um pensamento cordial ao Cardeal Vigário, ao Monsenhor Vice-Gerente e ao vosso Pároco. Pe. Bruno Sarto. Saúdo, depois, os Padres Monfortinos com os seus seminaristas, as Irmãs da Sagrada Família de Bordéus e quantos colaboram, de diversos modos, na guia e no serviço pastoral da vossa Comunidade. Por fim, saúdo todos vós, caríssimos paroquianos, dirigindo uma recordação particularmente afectuosa aos anciãos, aos doentes e às pessoas que se encontram sós.

Desejo garantir a todos os habitantes desta zona, situada nos confins do Município de Roma, que mesmo se vos encontrais fisicamente distantes da casa do Papa, me estais sempre próximos. Este vosso bairro, que surgiu como outros, sem um claro plano regulador, infelizmente ainda carece de numerosas estruturas e sobretudo de serviços sociais a favor dos anciãos, dos jovens e das crianças. Também aqui a Paróquia representa o único centro de reunião e oferece um contributo fundamental à socialização de todo o bairro. Por conseguinte, encorajo a dar continuidade ao louvável esforço que a Diocese de Roma está a realizar, a fim de dotar de estruturas adequadas aquelas zonas onde não só faltam dignos lugares de culto, mas também outros serviços. A este respeito, quereria aproveitar esta ocasião para exortar-vos, a vós e a todos os cidadãos de Roma, a apoiar de maneira generosa o projecto denominado «Cinquenta Igrejas para Roma – Ano 2000», que se propõe oferecer uma igreja a cada bairro de Roma.

4. Tenho conhecimento de que nesta zona, os filhos espirituais de S. Vicente de Paulo realizaram uma louvável obra de evangelização, sobretudo mediante as missões populares. Manifesto-lhes o meu apreço e o meu cordial reconhecimento pelo generoso empenho pastoral. Destas missões, têm necessidade ainda hoje não só as áreas agrícolas em redor de Roma, mas toda a cidade. Trata-se de as organizar de maneira renovada, que exprima a própria realidade do Povo de Deus, como «povo-em-missão». É precisamente este o empenho que a Diocese está a pôr em prática com a Missão da cidade.

No próximo domingo, ao abrir o ano dedicado ao Espírito Santo em preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, entregarei a cruz aos missionários e às missionárias que, nos próximos meses, visitarão as famílias e anunciarão o Evangelho nas casas desta e de todas as Paróquias romanas.

Estimados catequistas, queridos membros do Conselho paroquial, caros aderentes aos vários grupos, desejo dirigir a cada um de vós um convite particular: prossegui generosamente o vosso trabalho de evangelização, mesmo se por vezes ele se torna difícil e pouco gratificante! O Senhor está convosco e nunca abandona a sua Igreja.

Queridas famílias, exorto-vos a que nunca renuncieis viver um amor exigente que tenha, como escreve o apóstolo Paulo, as características da paciência, da benignidade e da esperança (cf.
1Co 13,4 1Co 13,7).

A vós, queridos jovens, desejo repetir que a Igreja tem necessidade de vós, e quereria acrescentar: vós precisais da Igreja, porque a Igreja deseja unicamente fazer com que encontreis Jesus Cristo, Aquele que torna o homem livre para amar e servir.

A Igreja tem necessidade de vós para que, depois de ter conhecido a verdadeira liberdade, que só Cristo vos pode oferecer, sejais capazes de testemunhar o Evangelho junto dos vossos coetâneos com coragem, com muita criatividade, de acordo com a sensibilidade e os talentos próprios da vossa juventude. A Missão jovem, no âmbito da grande Missão da cidade, favoreça esta aproximação entre os jovens e Cristo, entre os jovens e a Igreja!

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs! A Liturgia de hoje recorda-nos que a verdade acerca de Cristo Rei constitui o cumprimento das profecias da Antiga Aliança. O profeta Daniel anuncia a vinda do Filho do homem, ao qual foi dado «poder, glória e reino». Ele é servido por «todos os povos, nações e gentes» e o seu «poder é um poder eterno que nunca Lhe será tirado» (cf. Dn Da 7,14). Sabemos bem que tudo isto encontrou o seu cumprimento perfeito em Cristo, na sua Páscoa de morte e ressurreição.

A Solenidade de Cristo Rei do universo convida-nos a repetir com fé a invocação do Pai Nosso, que o próprio Jesus ensinou: «Venha a nós o Vosso Reino». Venha a nós o Vosso Reino, ó Senhor! «Reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz» (Prefácio).

Amém!





NA MISSA DE ABERTURA DO SEGUNDO ANO


DE PREPARAÇÃO PARA O GRANDE JUBILEU


1089
30 de Novembro de 1997




1. «Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força... para aparecerdes firmes diante do Filho do Homem » (
Lc 21,36).

As palavras de Cristo, referidas pelo Evangelho de Lucas, introduzem-nos no significado profundo da Liturgia que estamos a celebrar. Neste primeiro domingo do Advento, que assinala o início do segundo ano de preparação imediata para o Jubileu do Ano 2000, ressoa mais do que nunca viva e actual a exortação a vigiar e a orar, para estarmos prontos para o encontro com o Senhor.

O pensamento dirige-se, antes de tudo, para o encontro do próximo Natal, quando mais uma vez nos ajoelharemos diante da manjedoura do Salvador recém-nascido. Mas a mente corre também para a grande data do Ano 2000, na qual a Igreja inteira reviverá com intensidade muito particular o mistério da Encarnação do Verbo. Somos convidados a acelerar o passo rumo a essa meta, fazendo-nos guiar, sobretudo durante o presente ano litúrgico, pela luz do Espírito Santo. Com efeito, entra «nos compromissos primários da preparação para o Jubileu a redescoberta da presença e acção do Espírito, que age na Igreja » (Tertio millennio adveniente, 45).

Nesta perspectiva, a Comissão do Grande Jubileu continua a realizar o seu trabalho com louvável empenho. O seu precioso serviço eclesial merece ser encorajado, de modo especial nesta fase já tão próxima da histórica ocorrência. Graças às iniciativas de animação e de coordenação postas em prática por esse organismo central, poderá ser sempre melhor orientado e estimulado o caminho que conduzirá o Povo de Deus a cruzar o limiar do terceiro milénio.

2. A Igreja que está em Roma reúne-se hoje nesta Basílica, também por um outro motivo: a entrega da Cruz aos missionários e às missionárias, que assumem a tarefa de anunciar o Evangelho nos diversos ambientes da Metrópole.

Acabámos de escutar as palavras do apóstolo Paulo: «Que o Senhor vos faça aumentar e abundar em caridade uns para com os outros e para com todos...» (1Th 3,12). É precisamente este o augúrio com que o Bispo de Roma entrega a Cruz a todos vós, caríssimos missionários e missionárias, e às vossas comunidades paroquiais. Não está porventura aqui o segredo para o bom êxito da Missão da Cidade? Jesus mesmo ligou ao amor recíproco dos Seus discípulos a eficácia do Seu anúncio evangélico: «... que todos sejam um só... para que o mundo creia...» (Jn 17,21).

O sucesso da Missão depende da intensidade do amor. A terceira Pessoa da Santíssima Trindade é o Amor subsistente. Quem melhor do que Ele poderá infundir o amor nos nossos corações (cf. Rm Rm 5,5)? A coincidência entre a abertura do segundo ano de preparação para o grande Jubileu, dedicado ao Espírito Santo, e a entrega da Cruz a vós, que durante este ano sereis protagonistas da Missão na Cidade inteira, é então providencial. Assegura-vos uma particular assistência por parte do Espírito Santo, no Qual a Missão reconhece o seu primeiro e indubitável protagonista.

3. «Abre a porta a Cristo, teu Salvador! ». É este o convite que está no centro da Missão da Cidade, mas que deve ressoar, antes de tudo, no nosso coração. Devemos ser os primeiros a abrir a porta da nossa consciência e da nossa vida a Cristo Salvador, fazendo-nos dóceis à acção do Espírito para sermos cada vez mais conformes ao Senhor. De facto, não se O pode anunciar, sem reflectir a Sua imagem que se tornou viva em nós pela graça e obra do Espírito.

Caros missionários e missionárias! Tende um forte amor pelas pessoas e as famílias com as quais vos haveis de encontrar. As pessoas têm necessidade de amor, de compreensão, de perdão. Tornai-vos atentos e próximos sobretudo daquelas famílias que vivem situações de dificuldade, quer no plano da fé, quer no do seu matrimónio, e também no plano da pobreza e do sofrimento. Possa cada família de Roma perceber nos vossos gestos e nas vossas palavras outros tantos sinais da misericórdia divina e do acolhimento da Igreja. Conservai na medida do possível, também depois da vossa visita, uma relação pessoal com as famílias que encontrardes e com todos os seus componentes individualmente.

Amai a Igreja, da qual sois membros, que vos envia como missionários. Ensinai com a palavra e com o exemplo a amá-la. Compartilhai com ela a paixão pela salvação dos homens. Amai a Igreja que é santa, porque purificada pelo sangue de Cristo derramado na cruz.

1090 Esforçai-vos por ser santos também vós! Acolhei a exortação de São Paulo, ressoada na segunda Leitura, a «tornardes firmes e irrepreensíveis os vossos corações na santidade» (cf. 1Th 3,13). O chamamento à missão deriva do apelo à santidade. Respondei-lhe com generosidade. Abri as portas da vossa vida ao dom do Espírito Santo, o Santificador, Aquele que renova a face da terra e transforma os corações de pedra em corações de carne, capazes de amar como Cristo nos amou (cf. Jo Jn 15,12).

4. Ao apresentar-vos em cada casa, às famílias das vossas paróquias, podereis afirmar com o apóstolo Paulo: Vim até vós, na fraqueza e com muito temor e trepidação, para vos anunciar Jesus Cristo, e Este crucificado (cf. 1Co 2,1-3). Esta simplicidade no anúncio, acompanhada do amor para com as pessoas a quem vos apresentais, é a verdadeira força do vosso serviço missionário. Diante do ressoar persuasivo e cativante das inúmeras mensagens humanas que cada dia investem a existência das pessoas, o Evangelho talvez possa, a um olhar superficial, parecer débil e pobre, mas na realidade é a palavra mais poderosa e eficaz que se pode pronunciar, porque penetra no coração e, graças à acção misteriosa do Espírito Santo, abre o caminho da conversão e do encontro com Deus.

Desejo fazer meu o convite do Apóstolo a crescerdes e a distinguir-vos no caminho do bem: «De nós recebestes as normas sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus... Tratai de progredir sempre» (1Th 4,1). A Missão deve, com efeito, constituir para cada paróquia a ocasião oportuna para iniciar um relacionamento novo com as pessoas do território, a fim de serdes mais capazes de alcançar a todos com a proposta da fé, mais disponíveis em relação às exigências e às expectativas, mais presentes no tecido quotidiano de cada um. Deste modo, a paróquia poderá ser ela mesma de maneira mais autêntica, no generoso empenho apostólico e missionário em favor de quantos vivem afastados dela.

5. Caros missionários e missionárias de Roma! Digo-vos hoje quanto escrevi aos jovens a 8 de Setembro passado, convidando-os a tornar-se disponíveis para acolher e ajudar todos aqueles que querem aproximar-se da fé e da Igreja. Que nenhum de quantos o Pai põe nos nossos caminhos se tresmalhe! (cf. Carta aos jovens de Roma, n. 9).

Repito-o também a vós, sacerdotes e diáconos, para que reaviveis o dom de Deus que está em vós por imposição das mãos do Bispo (cf. 2Tm 1,6). Com o amor e a preocupação do Bom Pastor, ide em busca de quantos se afastaram e esperam um vosso gesto, uma vossa palavra, para poderem redescobrir o amor de Deus e o Seu perdão.

A vós, religiosos e religiosas, é-me grato indicar na Missão o terreno propício para dar um forte testemunho de alegre serviço ao Evangelho. Às religiosas de clausura, em particular, peço que se ponham no centro mesmo da Missão, com a sua constante oração de adoração e de contemplação do mistério da Cruz e da ressurreição.

A vós, queridos jovens e moças, digo mais uma vez: a vossa activa participação na Missão da Cidade é um dom indispensável para a comunidade. Tornai-vos protagonistas da aventura mais bela e entusiasmante, pela qual vale a pena despender a vida: a do anúncio de Cristo e do seu Evangelho. Com os vossos dons e talentos, postos à disposição do Senhor, podeis e deveis contribuir na obra da salvação nesta nossa amada Cidade.

Renovo o convite também a vós, queridas famílias cristãs, ricas do dom da fé e do amor; o convite a viverdes com empenho o chamamento à missão, oferecendo o vosso serviço às outras famílias que vivem ao vosso lado, com amizade, solidariedade e coragem em propor a verdade evangélica.

Dirijo um pensamento particular a vós, queridos doentes, anciãos e pessoas sozinhas. A vós é confiada uma tarefa de grande importância na Missão: oferecer as vossas orações e sofrimentos quotidianos pelo bom êxito desta empresa apostólica, a fim de que a graça do Senhor acompanhe a visita dos missionários nas famílias e torne abertos e disponíveis à conversão os corações daqueles que os acolherem.

6. «Eis que virão dias... em que cumprirei a palavra favorável que dei» (Jr 33,14). Mediante a acção do Espírito, o Senhor conduz a história da salvação através dos séculos, até à sua completa realização. «Enviai o vosso Espírito e renovai a face da terra!». Como sobre Maria, Virgem do Advento, enviai sobre nós o vosso Espírito.

Enviai o vosso Espírito, ó Senhor, sobre a cidade de Roma e renovai o seu rosto! Enviai o vosso Espírito sobre o mundo inteiro que se prepara para entrar no terceiro milénio da era cristã. Ajudai-nos a acolher, como Maria, o dom da vossa presença divina e da vossa protecção.

1091 Ajudai-nos a ser dóceis às sugestões do Espírito, a fim de podermos anunciar com coragem e ardor apostólico o Verbo que Se fez carne e veio habitar entre nós: Jesus Cristo, o Deus feito Homem, que nos remiu com a Sua morte e ressurreição.

Amém!





NA PARÓQUIA ROMANA DE SÃO DOMINGOS SÁVIO


7 de Dezembro de 1997




1. «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas! Todo o homem verá a salvação de Deus!» (Aclamação ao Evangelho; cf. Lc Lc 3,4 Lc Lc 3,6).

O eco da pregação de João Baptista, a «voz que brada no deserto» (Lc 3,4 cf. Is Is 40,3), chega até nós neste segundo Domingo do Advento. Ele, que é o Precursor, aquele que recebeu a missão de preparar o povo eleito para a vinda do Salvador prometido, continua ainda hoje a convidar-nos à conversão, para irmos ao encontro do Senhor que vem.

Convida-nos, já no limiar do terceiro milénio cristão, a preparar o caminho do Senhor na nossa vida pessoal e no mundo. Disponhamos o nosso coração, caríssimos Irmãos e Irmãs, para celebrar na festividade do próximo Natal o grande mistério da Encarnação, na perspectiva do grande Jubileu do Ano 2000, que se aproxima a largos passos!

2. Ao apresentar o Precursor e a sua missão em referência à manifestação pública do Messias, São Lucas tem o cuidado de inserir estes factos no seu preciso contexto temporal. Com efeito, o Evangelista demonstra grande sensibilidade histórica quando, no início da sua narração, menciona os principais dados que ajudam a colocar no tempo os factos que ele se apresta a narrar: o décimo quinto ano do imperador Tibério, a administração de Pôncio Pilatos na Judeia, a tetrarquia de Herodes, Filipe e Lisânias e os sumos sacerdotes Anás e Caifás (cf. Lc Lc 3,1-2).

Deste modo São Lucas ancora a vida e o ministério de Jesus num ponto preciso no interior do transcorrer do tempo e da história. O grande acontecimento da manifestação do Salvador tem sólidas ligações temporais com os outros factos da época. Unimo-nos com grande interesse àqueles eventos, bem sabendo que a eles está ligada a salvação nossa e do mundo. Em particular, o grande mistério da Encarnação do Verbo vê-nos de modo particular atentos, porque constituirá o coração do Jubileu do Ano 2000, do qual estamos a aproximar-nos rapidamente.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São Domingos Sávio! É-me grato saudar-vos, fazendo minhas as palavras do Apóstolo Paulo, que escutámos na segunda Leitura: «Em todas as minhas orações peço sempre com alegria por todos vós, recordando-me da parte que tomastes na difusão do Evangelho » (Ph 1,4). Todos os dias, de facto, confio-vos ao Senhor, juntamente com todas as comunidades paroquiais da Diocese. Oro muito mais por vós neste tempo da Missão da Cidade, na qual o empenho apostólico em preparar o caminho do Senhor (cf. Lc Lc 3,4) na cidade de Roma é mais intenso e, em certos aspectos, se faz mais difícil. Tendo confiança em que «Aquele que começou em vós a boa obra a completará» (Ph 1,6), convido-vos a anunciar com coragem o Senhor que vem, superando toda a dificuldade e obstáculo que se oponha ao vosso empenho de levar a todos a verdade e o amor de Cristo.

Saúdo todos vós com afecto, em particular o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso amado Pároco, Pe. Marco Saba, e os Sacerdotes, filhos de São João Bosco, que compartilham a responsabilidade da animação pastoral desta esplêndida e activa Comunidade.

A vossa Paróquia, surgida em 1961 com novos povoamentos de numerosas famílias jovens, assistiu depois à partida das novas gerações, que iam residir em zonas onde era menos oneroso adquirir ou alugar uma casa. A população da Paróquia mudou assim gradualmente, ainda que agora se registe a chegada de novas famílias à zona de «Prato lungo – Via Rosaccio». Certamente, estas dificuldades não enfraquecem o vosso empenho pastoral. Exorto, em particular, os numerosos grupos paroquiais a prosseguirem, com impulso apostólico e alegria, a sua indispensável contribuição nas actividades da Paróquia. Como São Domingos Sávio, sede todos missionários do bom exemplo, da boa palavra, da boa acção em casa, com os vizinhos e com os colegas de trabalho. Em todas as idades, com efeito, pode-se e deve-se testemunhar Cristo! O empenho do testemunho cristão é permanente e quotidiano.


Homilias JOÃO PAULO II 1084