Homilias JOÃO PAULO II 1092

1092 4. Sei que estais a procurar revitalizar o Oratório, para favorecer o crescimento humano e cristão dos jovens e, em particular, dos adolescentes após a Confirmação. Alegro-me e congratulo-me por este vosso generoso esforço em prol da formação das novas gerações. A vós, adolescentes e jovens, desejo propor o luminoso exemplo do vosso Padroeiro, São Domingos Sávio, o jovem discípulo de Dom Bosco. Ao dirigir-se na oração a Jesus e a Maria, ele pedia-Lhes que fossem os seus amigos e o fizessem antes morrer do que cair na desgraça de cometer um só pecado. «A morte, mas não os pecados!», gostava de repetir. Não deve ser este também o ideal da vossa vida, caros jovens? Empenhai-vos, com a sua ajuda, em fugir ao pecado e em amar a Deus com todas as forças.

Na Carta que escrevi aos jovens de Roma, a 8 de Setembro passado, exortava- vos, caros rapazes e moças, a não resignar- vos à mentira, à falsidade, ao compromisso. Eu assim escrevia: «Reagi com vigor a quem tenta capturar a vossa inteligência e seduzir o vosso coração com mensagens e propostas que tornam escravos do consumismo, do sexo desordenado e da violência, até impelir para o vazio da solidão e os meandros da cultura da morte» (Carta aos Jovens, n. 4).

Repito-vos hoje: reagi ao pecado! São Domingos Sávio, que se deixou plasmar pelo Espírito e respondeu com generosidade plena ao chamamento universal à santidade, vos ajude a tornar-vos santos, a redescobrir cada dia o valor da vossa pessoa, onde o Espírito de Deus habita como num templo. Eu acrescentava na Carta aos jovens: «Aprendei a escutar a voz d’Aquele que veio habitar em vós mediante os sacramentos do Baptismo e da Confirmação» (ibid., n. 3). O Oratório se torne, portanto, o vosso melhor lugar de treinamento, a fim de vos preparardes para vencer o mal e fazer o bem!

5. Queridas famílias desta Paróquia, juntamente com todas as famílias de Roma viveis um ano a vós particularmente dedicado. Perseverai na fidelidade e no amor. Ponde o Evangelho de Cristo no centro da vossa existência, procurando assegurar aos vossos filhos, graças também ao contributo precioso dos avós, um ambiente sereno, de acordo com os ensinamentos de Cristo.

Queridas famílias, os jovens esperam de vós uma exemplaridade de vida. Olham para vós também todos os que são menos afortunados, porque não têm o auxílio de uma família que saiba apoiá-los e ajudá-los de maneira eficaz. Sabei ser para eles testemunhas do amor de Cristo. Ilumine-vos e sustentevos neste empenho o Espírito Santo, que invocamos incessantemente neste segundo ano de imediata preparação para o grande Jubileu do Ano 2000.

6. «Reveste-te para sempre dos adornos da glória divina» (
Ba 5,1). Com esta exortação, na época do exílio da Babilónia, o profeta Baruc convidava os seus concidadãos a caminharem na via da santidade. Ele continua a encorajar também nós a não cessarmos de tender à santidade, a fim de irmos com as obras de bem ao encontro do Senhor que vem. Para isto, com efeito, somos chamados a «abaixar todos os montes e colinas eternas» e a «encher os vales» (Ba 5,7).

Faz-lhe eco o profeta Isaías, cujas palavras são referidas por São Lucas à missão de João Baptista. Elas exortam a endireitar as veredas da injustiça e a aplainar os lugares impérvios da mentira, a abater os montes do orgulho e a preencher os precipícios da dúvida e do desânimo (cf. Lc Lc 3,4-5).

Deste modo, seguindo as indicações da Palavra de Deus, caríssimos Irmãos e Irmãs, preparamos o caminho do Senhor. Ele, que no nascimento do Salvador realizou grandes coisas para a humanidade inteira, cumpra o seu plano de amor. E cada homem poderá ver a salvação de Deus, salvação dada a cada homem em Cristo Jesus!

Amém!





DURANTE A SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


PARA O ENCERRAMENTO DA ASSEMBLEIA


SINODAL DOS BISPOS PARA A AMÉRICA


12 de Dezembro 1997

1. «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho... » (Lc 1,39).


1093 Quanto é sugestivo ouvir novamente a página evangélica da Visitação durante esta celebração, com a qual se conclui a Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos!

A Igreja está sempre «em viagem», a caminho. Ela é enviada, existe para caminhar no tempo e no espaço, anunciando e testemunhando o Evangelho até os confins extremos da terra.

Há cerca de cinco séculos, a Igreja peregrina na história colocou-se em viagem rumo ao Continente americano, acabado de descobrir. Desde então ela está presente nas múltiplas culturas daquelas terras; o seu vulto assumiu os caracteres da gente local, como ensina o eloqüente ícone da Senhora de Guadalupe, cuja memória celebramos na liturgia hodierna.

E eis que neste ano, enquanto todo o Povo de Deus está a caminho rumo ao grande Jubileu do Ano 2000, se realizou este Sínodo continental. Trata-se certamente de um ponto de chegada; mas ainda mais, de um novo ponto de partida: a Comunidade cristã, seguindo o modelo de Maria, coloca-se ainda em viagem impulsionada pelo amor de Cristo, para realizar a nova evangelização do Continente americano. É o início de uma renovada missão, que encontrou na Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos o seu «Cenáculo» e o seu «Pentecostes », precisamente no início de um ano todo dedicado ao Espírito Santo.

É o Espírito que incessantemente guia o povo cristão ao longo das estradas da história da salvação. Por isso queremos hoje agradecer ao Senhor, reconhecendo que o próprio Cristo está presente entre nós e caminha conosco.

Veneráveis Irmãos no Episcopado, caríssimos Irmãos e Irmãs, dirijamo-nos em espiritual peregrinação a Belém e deponhamos os frutos do nosso empenho aos pés do Filho de Deus, que vem nos salvar: «Regem venturum, Dominum, venite adoremus!».

2. De Cristo, Filho de Deus encarnado, fizemos nossas, durante estas semanas, as Suas últimas palavras, o Seu testamento, que consiste ao mesmo tempo para os batizados no grande mandato missionário: «Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!» (
Mt 28,19-20).

Vós, amados Pastores das Igrejas na América, fiéis a esse mandato sobre o qual se funda o nosso ministério, não vos canseis de anunciar a um mundo faminto da verdade o amor de Cristo vivo, nossa única salvação. Somente Ele é a nossa paz, somente Ele é aquela riqueza da qual sempre podemos receber força e alegria interior.

Durante os trabalhos sinodais ouvimos as vozes dos primeiros evangelizadores da América, que nos recordaram o dever de uma profunda conversão a Cristo, única fonte de autêntica comunhão e de solidariedade. Este é o tempo da nova evangelização, uma ocasião providencial para guiar o Povo de Deus na América a atravessar o limiar do Terceiro Milênio com renovada esperança.

Como não dar graças a Deus, hoje, por todos os missionários que durante cinco séculos de história se empenharam na evangelização do Continente? A eles a Igreja é muito devedora. Nós conhecemos os nomes de muitos deles, pois chegaram à glória dos altares. A maioria é constituída, ao invés, por missionários desconhecidos, sobretudo religiosos, aos quais a América deve muito não somente no plano religioso, mas também no cultural. Como na Europa, de onde eram provenientes os missionários, assim também no Continente americano a íntima relação entre fé, evangelização e cultura deu origem a numerosas obras de arte, de arquitetura, de literatura, como também as celebrações e tradições populares. Nasceu assim uma rica tradição, que constitui um significativo patrimônio das populações da América do Sul, do Centro e do Norte.

Entre estas grandes regiões existem diferenças que remontam às origens da própria evangelização. O Sínodo, todavia, colocou em relevo com grande clareza como o Evangelho as harmonizou, e os participantes no Sínodo fizeram uma experiência desta unidade, fonte de fraterna solidariedade. Deste modo, o Sínodo realizou a sua principal finalidade, indicada no seu próprio nome, synodos, que significa comunhão de caminhos. Rendamos graças ao Senhor por esta comunhão de caminhos, que foram percorridos por inteiras gerações de cristãos naquele grande Continente.

1094 3. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Durante a Assembléia sinodal foram discutidas as problemáticas e perspectivas da nova evangelização na América. Cada solução parte da consciência do urgente dever de proclamar com ardor e coragem Jesus Cristo, Redentor de todo o homem e do homem todo. Somente haurindo daquela fonte viva se pode ser capaz de afrontar vitoriosamente todos os desafios.

Gostaria de sublinhar aqui alguns: o autêntico ensinamento da doutrina da Igreja e uma catequese fiel ao Evangelho e adequada às exigências dos tempos; os deveres e a interação das diversas vocações e dos diferentes ministérios na Igreja; a defesa da vida humana desde o momento de sua concepção até o seu fim natural; o papel primordial da família na sociedade; a exigência de tornar a sociedade, com as próprias leis e instituições, compatível com os ensinamentos de Cristo; o valor do trabalho humano, com o qual a pessoa coopera na atividade criadora de Deus; a evangelização do mundo da cultura nos seus diferentes aspectos. Graças a uma ação apostólica radicada no Evangelho e aberta aos desafios da sociedade, podereis contribuir para difundir em toda América a auspiciada civilização do amor, que sublinha com vigor o primado do homem e a promoção de sua dignidade em todas as suas dimensões, a partir daquela espiritual.

De maneira mais profunda e difusa, a Igreja na América poderá experimentar as conseqüências da autêntica reconciliação com Cristo, que abre os corações e torna possível um novo modo de cooperar entre irmãos na fé. De fundamental importância para a nova evangelização é a efetiva colaboração entre as diversas vocações, os diferentes ministérios, os vários apostolados e carismas suscitados pelo Espírito, quer aqueles dos Institutos religiosos tradicionais quer os que brotaram em tempos mais recentes, graças a novos movimentos e associações laicais.

4. Veneráveis e queridos Padres Sinodais, que formasteis a Assembléia Especial do Sínodo para a América, a cada um de vós vai neste momento a minha cordial saudação, junto com o meu mais vivo agradecimento. Sempre que me foi possível, procurei, também eu, estar presente nos trabalhos sinodais. Para mim foi uma experiência significativa, que me facilitou reforçar os vínculos de comunhão afetiva e pastoral que me unem a vós em Jesus Cristo. Esta unidade espiritual conclui-se agora com a celebração da Eucaristia, centro e cume da vida da Igreja e de todo o seu projeto apostólico.

Ao deixardes Roma, de retorno às várias dioceses da América, levai convosco a minha bênção e transmiti-a aos vossos fiéis, especialmente aos sacerdotes, vossos colaboradores, aos religiosos e às religiosas que integram vossas Comunidades, aos leigos comprometidos no apostolado, aos jovens, aos doentes e aos anciãos. Assegurai-lhes minhas preces e meu afeto. O Espírito Santo, neste ano que lhe é especialmente dedicado, nos ajude a caminhar unidos em nome do Senhor!

Concluímos os trabalhos sinodais no dia dedicado à Virgem de Guadalupe, primeira testemunha da presença de Cristo na América. O seu Santuário, no coração do Continente americano, constitui uma memória indelével da evangelização realizada ao longo destes cinco séculos. A Mãe de Cristo apareceu a um homem simples, um índio de nome Juan Diego. A ele mesmo escolheu, como representante de todos os amados filhos e filhas daquelas terras, para anunciar que a divina Providência chama para salvar os homens de todas as raças e culturas; os indígenas, que lá habitavam desde há muitos séculos, como as pessoas vindas da Europa para trazer, mesmo com seus limites e culpas, o imenso dom da Boa Nova.

Durante o Sínodo, experimentamos a especial proximidade de Nossa Senhora, Mãe de Deus, venerada na Basílica de Guadalupe. E hoje queremos confiar-Lhe o futuro caminho da Igreja no grande Continente da América.

5. Ao concluirdes os trabalhos, nos dias passados, vós, acolhendo a proposta dos três Presidentes Delegados, manifestastes-me o desejo de que, para a promulgação da Exortação Apostólica pós-sinodal, eu retorne como peregrino a seu Santuário, na Cidade do México. A este propósito, confio todo projeto e anseio a Ela. Porém, já a partir deste momento prostro-me espiritualmente a seus pés, recordando a minha primeira peregrinação no mês de janeiro de 1979, quando me ajoelhei diante de sua prodigiosa imagem para invocar sobre o meu serviço pontifical, há pouco iniciado, sua assistência e proteção maternas. Naquela circunstância coloquei em suas mãos a evangelização da América, especialmente da América Latina, e tomei parte depois na Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Puebla.

Renovo hoje, em vosso nome, a invocação que então lhe dirigi: Maria, Senhora de Guadalupe, Mãe de toda a América, ajudai-nos a ser fiéis dispensadores dos grandes mistérios de Deus. Ajudai-nos a ensinar a verdade que teu Filho anunciou e a estender o amor, que é o primeiro mandamento e o primeiro fruto do Espírito Santo. Ajudainos a confirmar na fé nossos irmãos. Ajudai-nos a difundir a esperança na vida eterna. Ajudai-nos a preservar os grandes tesouros espirituais dos membros do povo de Deus que nos foram confiados.

Rainha dos Apóstolos! Aceitai nossa disponibilidade a servir sem reservas a causa de vosso Filho, a causa do Evangelho e a da paz, fundamentada na justiça e no amor entre os homens e entre os povos.

Rainha da paz! Salvai as nações e os povos de todo o Continente que tanto confiam em vós; salvai-os das guerras, do ódio e da subversão. Fazei com que todos, governantes e governados, aprendam a viver em paz, se eduquem para a paz, cumpram tudo o que exigem a justiça e o respeito dos direitos de cada homem, para que assim se consolide a paz.

1095 Escutai-nos, Virgem «morena», Mãe da Esperança, Mãe de Guadalupe!







NA PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA


DOMINGAS MAZZARELLO


14 de Dezembro de 1997




1. «Alegra-te, ó filha de Sião» (So 3,14). «Alegrai-vos sempre no Senhor» (Antífona da entrada). O insistente convite à alegria é o motivo condutor deste terceiro domingo do Advento, tradicionalmente indicado com a primeira palavra latina da Antífona da entrada da Missa: «Gaudete». O «tempo forte» do Advento, tempo de vigilância, oração e solidariedade, tende a suscitar na nossa alma sentimentos de alegria e paz, alimentados pelo encontro já próximo com o Senhor.

Alegramo-nos, então, pela festa do Natal, sempre mais próxima, mas também pela luminosa perspectiva do Jubileu do Ano 2000. Encaminhamo-nos de maneira decisiva para este histórico encontro, tendo já iniciado o segundo ano de preparação imediata, dedicado à reflexão sobre o Espírito Santo.

2. «Alegra-te, ó filha de Sião... Alegra- te de todo o teu coração, filha de Jerusalém... O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso Salvador» (So 3,14 So 3,17). Com estas palavras o profeta Sofonias exortava os compatriotas a festejar a salvação que Deus estava a proporcionar ao Seu povo. A tradição cristã viu neste famoso texto profético um prenúncio da alegria messiânica, com uma particular referência à Virgem Maria.

Como não recordar, a respeito disso, a solenidade da Imaculada Conceição, celebrada precisamente há poucos dias? Maria é a «Filha de Sião», que exulta pela plena e definitiva realização das promessas de salvação, cumpridas por Deus no mistério da encarnação do Verbo. Ela eleva ao Senhor um cântico de louvor e de agradecimento pelos dons de graça com que foi colmada.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs: «Alegrai- vos no Senhor, sempre; repito, alegrai- vos» (Ph 4,4).

Com estes sentimentos, saúdo o Cardeal Vigário, o Arcebispo Vice-Gerente, o vosso jovem e activo pároco, Padre Stefano Tarducci, juntamente com o vice- pároco, os colaboradores e as colaboradoras que oferecem uma importante contribuição nas várias actividades paroquiais.

A todos repito: «Alegrai-vos sempre no Senhor!». Alegrai-vos, antes de tudo, pelo caminho realizado pela vossa Comunidade, que hoje tem cerca de 14 mil almas. O pensamento dirige-se ao primeiro pároco, Mons. Gino Retrosi, que iniciou o caminho desta Paróquia. Trabalhava- se então em condições precárias e escassos eram os recursos estruturais disponíveis. Se por um lado isto tornava difícil o trabalho pastoral, precisamente por causa das limitadas possibilidades de oferecer hospitalidade, acolhimento e formação adequados, por outro, favorecia como que um clima mais fraterno e um solidário entendimento entre todos.

Foi graças ao entusiasmo de então que na vossa Paróquia cresceu um forte espírito missionário. Este mesmo espírito missionário deve continuar a animar a vossa Comunidade e a inteira Diocese. É este o objectivo da grande «Missão da Cidade», que está a desenvolver-se. Caríssimos Irmãos e Irmãs, ao exortar-vos a prosseguir neste caminho para levar o anúncio evangélico a toda a parte, de coração faço votos por que a Missão da Cidade, na qual participais activamente, produza frutos de bem a cada um de vós e à inteira Cidade de Roma.

4. Caros Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santa Maria Domingas Mazzarello! A vossa Comunidade paroquial dispõe finalmente de um templo digno, inaugurado no passado mês de Março. Agora podeis celebrar a liturgia com maior decoro, receber as crianças, os jovens e os adultos para as actividades de formação cristã e de evangelização. A vossa paróquia é um lugar acolhedor, que recorda aos habitantes do bairro os valores do espírito. Quem se sente sozinho pode encontrar aqui uma família que lhe abre os braços; aqui é possível encontrar Cristo e experimentar a alegria da fraternidade entre todos os que acreditam n’Ele.

1096 Os encorajadores resultados obtidos nestes anos com a graça de Deus e com a boa vontade de todos, longe de esmorecer o vosso empenho, porque finalmente alcançastes quanto por todos foi durante muito tempo almejado, deve, ao contrário, tornar-vos ainda mais determinados a anunciar e testemunhar o Evangelho. Trata-se agora de prosseguir no esforço missionário, para comunicar o dom da fé a quantos ainda não encontraram pessoalmente a Deus, que nos ama e vem ao nosso encontro com a Sua misericórdia. Quantas pessoas, quantas famílias deste populoso bairro esperam uma palavra de esperança! Mesmo aquele que se define não-crente está em busca de um sentido autêntico a dar à vida. No coração de todo o ser humano existe uma necessidade inata de Deus, e a tarefa dos baptizados é oferecer a todos a possibilidade de O encontrar, através do próprio anúncio e testemunho.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, para que possais ser estes intrépidos apóstolos do Evangelho, é necessário que cresçais continuamente na comunhão com o Senhor, mediante a oração, a escuta da Palavra, a vida sacramental e o testemunho da caridade. A adoração eucarística, que a vossa Comunidade já louvavelmente faz todas as semanas, alimente e sustente a vossa vida espiritual e as várias iniciativas apostólicas.

5. «A vossa mansidão seja notória a todos os homens» (
Ph 4,5). Esta mansidão, com que o cristão é chamado a aproximar-se de cada pessoa, constitui para os discípulos de Cristo uma espécie de «carta credencial». No decurso da Missão da Cidade, indo às casas e aos diversos ambientes de vida e de actividade da Metrópole, encontrareis irmãos e irmãs que esperam de vós gestos concretos de acolhimento, compreensão e amor. Oferecei-lhes o testemunho da divina caridade. Talvez alguém, graças a vós, possa recomeçar a viver a fé de modo mais intenso; outros poderão aproximar-se dela pela primeira vez de maneira séria e convicta. A vossa mansidão, que nasce da certeza de que o Senhor está próximo, permitir-vos-á entrar em contacto genuíno com as pessoas, com os jovens e com as famílias, transmitindo-lhes a Palavra que salva, o Evangelho da esperança e da alegria. Em missão apostólica tão empenhativa, vos sustenta, estou certo disto, a intercessão da vossa Padroeira, Santa Maria Domingas Mazzarello que, seguindo as pegadas de São João Bosco, foi sempre serena, repleta de alegria e activa ao conduzir todos aqueles com quem se encontrava no caminho da verdade e do bem.

6. «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar Quem é mais poderoso do que eu... Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo» (Lc 3,16). João Baptista pregava um baptismo de penitência, a fim de preparar os corações para acolher dignamente a vinda do Salvador. Àqueles que se perguntavam se ele era o Messias, respondeu atestando que a sua missão era a do Precursor, encarregado de preparar o caminho para Cristo: era Ele que os haveria de baptizar no Espírito Santo e no fogo.

Oremos para que o Senhor envie o seu Espírito Santo sobre nós, para podermos prosseguir a nossa missão ao serviço do Reino de Deus. O Espírito nos ajude a aliviar os corações extenuados e desorientados, a libertar aqueles que se encontram sob o jugo do mal e do pecado, a fim de poderem celebrar dignamente o ano de misericórdia do Senhor (cf. Aclamação ao Evangelho; Is 61,1). Maria, Aquela que foi colmada pelo poder salvífico de Deus, obtenha para cada um de nós os dons do Espírito Santo e a alegria de servir fielmente o Senhor.

Amém!





DURANTE A MISSA PARA


OS UNIVERSITÁRIOS ROMANOS


16 de Dezembro de 1997


Rorate caeli, desuper, et nubes pluant iustum: aperiatur terra, et germinet Salvatorem (Entrada; cf. Is Is 45,8).

1. Com estas palavras a liturgia hodierna exprime a espera do Salvador do mundo que há-de vir.

Há alguns anos o tempo do Advento, que exorta os crentes a «irem com as boas obras ao encontro» de Cristo que vem, constitui para os professores e os alunos das Universidades romanas a ocasião para compartilharem com o seu Bispo a graça e a alegria da espera do Senhor. A participação de representantes de Ateneus não romanos, depois, dá ao encontro uma dimensão mais rica e ampliada, tornando-o como que a celebração do Advento de todo o mundo académico italiano. Nesta ocasião desejo formular a cada um de vós cordiais felicitações natalícias, e sobretudo pedir ao divino Menino as graças necessárias para quantos trabalham no mundo universitário. Em particular agradeço ao professor e à estudante, que se fizeram intérpretes dos vossos comuns sentimentos.

2. A Palavra de Deus, há pouco proclamada, faz referência à vinha do Senhor, alegoria sugestiva que com frequência está presente nos Evangelhos e constitui o tema principal da perícope deste dia. O que é que evoca a imagem da vinha? Seguindo os textos evangélicos, poder-se-ia dizer que ela representa todo o cosmos criado que, graças à vinda de Cristo, se torna propriedade de Deus a título particular. Com efeito, graças à redenção de Cristo, o cosmos e o homem começam a pertencer de modo novo a Deus. Podemos, pois, afirmar que o Natal do Senhor é, em certo sentido, o dia santo em que o mundo visível e o homem se tornam a vinha do Senhor. O universo animado e inanimado assume, a partir desse evento, um significado diferente e inesperado, pois «Deus – como recorda o evangelista João – amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jn 3,16). Não está, porventura, contido nestas palavras o sentido expressivo da imagem da vinha, à qual muitas vezes se refere Jesus na sua pregação?

1097 Pelo mistério da Encarnação do Verbo, o homem e o cosmos podem alegrar-se, descobrindo-se como «vinha do Senhor», objecto do amor salvífico de Deus.

3. «Vai trabalhar na minha vinha!» (cf. Mt
Mt 21,28), diz o pai da parábola evangélica aos seus filhos, e espera deles uma resposta: não se contenta com palavras, quer um empenho eficaz. Os dois respondem de modo diferente: o primeiro declara-se disponível, mas depois nada faz; o outro, ao contrário, aparentemente rejeita o convite paterno, mas depois de alguma tergiversação faz aquilo que lhe é pedido. O evangelista Mateus apresenta assim uma tipologia das atitudes que os homens, no arco da história, assumem em relação a Deus. O convite evangélico a trabalhar na vinha do Senhor ressoa na vida e no coração de cada homem e de cada mulher, chamados a empenhar-se de maneira concreta na vinha divina e a deixar-se envolver na missão de salvação. Nesta parábola cada um de nós pode reconhecer a própria experiência pessoal.

4. Caríssimos, o mundo universitário, que aqui representais, constitui o terreno particularmente fértil para o desenvolvimento dos talentos humanos, com os quais o Senhor dota cada um para o bem de todos. Empenhando-os e valorizando-os através do estudo e da investigação, quem os possui é capaz de empreender aquelas iniciativas que são aptas para promover o autêntico progresso do mundo.

Todavia, como recorda o Concílio Vaticano II, «o progresso humano, tão grande bem para o homem, traz consigo também uma grande tentação: perturbada a ordem de valores e misturado o bem com o mal, os homens e os grupos consideram apenas o que é seu, esquecendo o dos outros. Deixa assim o mundo de ser um lugar de verdadeira fraternidade, enquanto que o acrescido dos homens ameaça já destruir o próprio género humano» (Gaudium et spes GS 37).

5. Só quando o homem, deixando-se guiar pelo Espírito divino, se empenha em animar as realidades terrenas na perspectiva do Reino de Deus (cf. Ibid., 72), coopera na realização do autêntico progresso da humanidade. É o Espírito que, favorecendo o encontro com o Filho do Deus vivo, afasta do coração do homem toda a presunção intelectual e conduz para o verdadeiro bem e para a legítima sabedoria, que é dom a ser pedido e acolhido com humildade. Como escrevi na Carta enviada aos jovens de Roma por ocasião da Missão da Cidade – compete a vós, caros jovens, escutar o Espírito do Senhor, a fim de libertardes aquelas energias culturais generosas e vigorosas, de que o entusiasmo da vossa idade é certamente capaz. É uma tarefa que o Papa vos confia de modo especial, como vossa vocação e serviço no itinerário de preparação para o Grande Jubileu do Terceiro Milénio.

Isto corresponde, de resto, ao esforço que a Igreja italiana está a fazer oportunamente, para elaborar e fazer frutificar um projecto cultural orientado em sentido cristão. O saber que se funda sobre a fé, com efeito, tem dignidade cultural autêntica.

O saber da fé ilumina a investigação do homem, torna-a plenamente humana, porque «o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado – como ensina o Concílio Vaticano II – se esclarece verdadeiramente... Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» (Ibid., 22).

Desenvolve-se assim uma cultura que é do homem e para o homem; uma cultura densa de valores, atraída pelo esplendor da Verdade, Evangelho de vida para o homem de todos os tempos, que se difunde e impregna os campos do saber, nas formas de vida e de costume, no correcto ordenamento da sociedade. A ordem dos valores éticos, com efeito, tem função de primordial importância em todas as culturas.

6. Na perspectiva da evangelização da cultura, é-me grato aqui recordar dois encontros de alto significado. Celebrar-se-á, no já próximo ano de 1998, o quinquagésimo aniversário da Capela universitária de «La Sapienza», dom precioso do meu venerado Predecessor Pio XII. A celebração do aniversário desse lugar de alto valor simbólico verá reunidos em Congresso, pela primeira vez, os Capelães das Universidades europeias: iniciativa oportuna, que desejo encorajar, e pela qual desde agora quero manifestar gratidão à Congregação para a Educação Católica e aos Pontifícios Conselhos para os Leigos e para a Cultura, juntamente com os Capelães e todas as componentes da Universidade «La Sapienza», a começar pelo seu Magnífico Reitor.

Menos próxima no tempo, mas sempre de grande relevo, é a iniciativa à qual se fez referência no início da Celebração: o Encontro mundial dos Professores universitários, que terá lugar no Ano 2000, por ocasião do Grande Jubileu, sobre o tema: A Universidade para um novo humanismo. Os Congressos científicos de cada uma das áreas disciplinares, que precederão o encontro plenário com o Papa e terão lugar em diversas Sedes universitárias, serão ocasião singular para mostrar como a Palavra da fé sabe iluminar os percursos nos quais o homem exprime os dons autênticos da sua inteligência que procura, descobre e, em todos os tempos, se exprime com as diversas elaborações culturais das ciências, das letras e das artes.

7. Caros Irmãos e Irmãs que viveis e actuais no mundo universitário, o clima sugestivo do Natal, que já pregustamos, convida-nos a acolher com plena disponibilidade o Verbo, que Se faz carne para salvar e enobrecer a criatura humana. Congregados ao redor do altar para a Celebração eucarística, contemplando o mistério do nascimento de Cristo, somos estimulados a interrogar-nos sobre o modo de sermos operários fiéis e generosos, ao serviço da Sua vinha.

1098 Jesus chama cada um a multiplicar nesta nossa Cidade os lugares onde a sua Palavra de verdade seja proclamada e aprofundada, a fim de que se torne luz e sustento para todos. Abramos o coração ao Senhor que vem para que, ao chegar, encontre todos nós prontos a cumprir a Sua vontade.

Maria, Mãe da Sabedoria, ajuda-nos a ser, como Tu, dóceis servidores do Teu Filho Jesus.

Amém!





DURANTE A MISSA NA PARÓQUIA ROMANA


DE SANTO BARTOLOMEU APÓSTOLO


Domingo, 21 de Dezembro de 1997




1. «Feliz daquela que acreditou» (Lc 1,45). A primeira bem-aventurança referida nos Evangelhos é reservada à Virgem Maria. Ela é proclamada «feliz», devido à sua atitude de total confiança em Deus e de plena adesão à Sua vontade, que se manifesta com o «sim» pronunciado no momento da Anunciação.

Ao proclamar-se «serva do Senhor» (Aclamação ao Evangelho; cf. Lc Lc 1,38), Maria exprime a fé de Israel. Nela tem o seu cumprimento o longo caminho da expectativa da salvação que, tendo iniciado no jardim do Éden, passa através dos Patriarcas e da história de Israel, para chegar àquela «cidade da Galileia chamada Nazaré» (Lc 1,26). Graças à fé de Abraão, começa a manifestar-se a grande obra da salvação; graças à fé de Maria, tem início o tempo novo da Redenção.

Escutámos no texto evangélico de hoje a narração da visita da Mãe de Deus à sua prima Isabel, já idosa. Através da saudação das respectivas mães tem lugar o primeiro encontro entre João Baptista e Jesus. São Lucas recorda que Maria «se dirigiu à pressa» (cf. Lc Lc 1,39) para a casa de Isabel. Esta pressa de ir à casa da prima indica a vontade de a ajudar no período da gravidez, mas sobretudo o desejo de partilhar com ela a alegria do tempo da salvação que estava para chegar. Na presença de Maria e do Verbo encarnado, João teve um sobressalto de alegria e Isabel ficou cheia do Espírito Santo (cf. Lc Lc 1,41).

2. Na Visitação de Maria encontramos reflectidas as esperanças e as expectativas do povo humilde e temente a Deus, que esperava a realização das promessas proféticas. A primeira Leitura, tirada do Livro do profeta Miqueias, anuncia a vinda de um novo rei, segundo o coração de Deus. Um rei que não procurará manifestações de grandeza nem de poder, mas terá origens humildes como David e, como ele, será sábio e fiel ao Senhor. «Mas tu, Bet- Ephrata, tão pequena... é de ti que me há-de sair aquele que governará em Israel » (5, 1). Este rei prometido guardará o seu povo com a própria força de Deus e levará paz e segurança até aos extremos confins da terra (cf. Mq Mi 5,3). Cumprir-se-ão no Menino de Belém todas estas antigas promessas.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de S. Bartolomeu Apóstolo! Sinto-me feliz por celebrar juntamente convosco a Eucaristia neste quarto domingo do Advento, encontrando-nos já próximos do Santo Natal. Saúdo todos vós com afecto. Saúdo o Cardeal Vigário de Roma, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso Pároco, Pe. Alfonso Carlos Urrechua Líbano, e os seus colaboradores mais directos. Dirijo um pensamento particular aos Membros do Instituto dos Missionários e das Missionárias «Identes », ao qual o Pároco pertence.

Como há pouco recordei, o Evangelho de hoje apresenta-nos o episódio «missionário» da visita de Maria a Isabel. Ao aceitar a vontade divina, Maria ofereceu a sua colaboração activa, para que Deus pudesse tornar-Se homem no seu ventre materno. O Verbo divino estava nela quando foi visitar a idosa prima que, por sua vez, esperava o nascimento de João Baptista. Neste gesto de solidariedade humana, Maria testemunhou aquela caridade autêntica que aumenta em nós quando Cristo está presente.

4. Caríssimos paroquianos de S. Bartolomeu Apóstolo, oxalá toda a acção da vossa comunidade se inspire sempre nesta mensagem evangélica! Conheço o empenho com que procurais difundir o Evangelho no vosso bairro e os desafios e dificuldades que encontrais. São desafios espirituais, mas não faltam os sociais e económicos. Penso de modo particular, no flagelo da droga que, infelizmente, insidia numerosos jovens deste bairro, como também de outras áreas da Cidade. Penso na falta de centros capazes de oferecer distracções sadias e ocasiões de crescimento cultural aos adolescentes e aos adultos. Penso na situação de isolamento, por vezes também físico, que muitos aqui vivem.


Homilias JOÃO PAULO II 1092