Homilias JOÃO PAULO II 1118


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À CUBA



NA SANTA MISSA CELEBRADA


NA PRAÇA JOSÉ MARTÍ DE HAVANA


25 de Janeiro de 1998



1. «Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus; não vos entristeçais nem choreis» (Ne 8,9). Com grande alegria presido à Santa Missa na Praça «José Martí», no domingo, dia do Senhor, que deve ser dedicado ao descanso, à oração e à convivência familiar. A Palavra de Deus convoca-nos para crescermos na fé e celebrarmos a presença do Ressuscitado no meio de nós, que «fomos baptizados num mesmo Espírito, a fim de formarmos um só corpo» (1Co 12,13), o Corpo místico de Cristo que é a Igreja. Jesus Cristo une todos os baptizados. D'Ele flui o amor fraterno tanto entre os católicos cubanos como entre os que vivem em qualquer outra parte, porque são «corpo de Cristo e cada um é seu membro» (1Co 12,27). A Igreja em Cuba, pois, não está sozinha nem isolada, mas faz parte da Igreja universal espalhada pelo mundo inteiro.

2. Saúdo com afecto o Cardeal Jaime Ortega, Pastor desta Arquidiocese, e agradeço-lhe as amáveis palavras com que, no início desta celebração, me apresentou as realidades e as aspirações que marcam a vida desta comunidade eclesial. Saúdo de igual modo os Senhores Cardeais aqui presentes, vindos de diferentes lugares, assim como todos os meus Irmãos Bispos de Cuba e de outros Países, que quiseram participar nesta solene celebração. Saúdo cordialmente os sacerdotes, religiosos, religiosas e os fiéis reunidos em tão grande número. A cada um asseguro o meu afecto e proximidade no Senhor. Saúdo com deferência o Senhor Presidente, Doutor Fidel Castro Ruz, que quis participar nesta Santa Missa.

Agradeço também a presença das autoridades civis que hoje quiseram vir aqui e estou-lhes reconhecido pela cooperação prestada.

3. «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu, para anunciar a Boa Nova» (Lc 4,18). Todo o ministro de Deus tem que fazer suas na própria vida estas palavras, que Jesus pronunciou em Nazaré. Por isso, ao estar entre vós quero dar-vos a boa nova da esperança em Deus. Como servidor do Evangelho trago-vos esta mensagem de amor e de solidariedade que Jesus Cristo, com a Sua vinda, oferece aos homens de todos os tempos. Não se trata de modo algum de uma ideologia nem de um sistema económico ou político novo, mas de um caminho de paz, justiça e liberdade verdadeiras.

4. Os sistemas ideológicos e económicos, que se sucederam nos dois últimos séculos, com frequência potenciaram o confronto como método, já que continham nos seus programas os germes da oposição e da desunião. Isto condicionou profundamente a sua concepção do homem e as suas relações com os outros. Alguns desses sistemas pretenderam também reduzir a religião à esfera meramente individual, despojando-a de toda a influência ou relevância social. Neste sentido, cabe recordar que um Estado moderno não pode fazer do ateísmo ou da religião um dos seus ordenamentos políticos. O Estado, longe de todo o fanatismo ou secularismo extremo, deve promover um sereno clima social e uma legislação adequada, que permita a cada pessoa e a cada confissão viver de maneira livre a sua fé, expressá-la nos âmbitos da vida pública e contar com os meios e espaços suficientes para oferecer à vida nacional as suas riquezas espirituais, morais e cívicas.

1119 Por outro lado, ressurge em vários lugares uma forma de neoliberalismo capitalista que subordina a pessoa humana e condiciona o desenvolvimento dos povos às forças cegas do mercado, impondo um gravame, a partir dos seus centros de poder, aos povos menos favorecidos com ônus insuportáveis. Assim, por vezes, impõem-se às nações, como condições para receber novas ajudas, programas económicos insustentáveis.Deste modo, assiste-se no concerto das nações ao enriquecimento exagerado de poucos à custa do empobrecimento crescente de muitos, de forma que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

5. Queridos irmãos: a Igreja é mestra em humanidade. Por isso, perante estes sistemas, ela propõe a cultura do amor e da vida, devolvendo à humanidade a esperança no poder transformador do amor, vivido na unidade querida por Cristo. Para isso deve-se percorrer um caminho de reconciliação, de diálogo e de acolhimento fraterno do próximo, de todo o próximo. Pode-se dizer que este é o Evangelho social da Igreja.

A Igreja, ao levar a cabo a sua missão, propõe ao mundo uma justiça nova, a justiça do Reino de Deus (cf. Mt
Mt 6,33). Em diversas ocasiões referi-me aos temas sociais. É preciso continuar a falar disto, enquanto no mundo existir uma injustiça, por pequena que seja, pois do contrário a Igreja não seria fiel à missão confiada por Jesus Cristo. Está em jogo o homem, a pessoa concreta. Ainda que os tempos e as circunstâncias mudem, há sempre quem necessita da voz da Igreja, para que sejam reconhecidos as suas angústias, os seus sofrimentos e as suas misérias. Os que se encontram nestas circunstâncias podem estar certos de que não serão defraudados, pois a Igreja está com eles e o Papa abraça, com o coração e com a sua palavra de alento, todo aquele que sofre a injustiça.

João Paulo II, depois de ter sido longamente aplaudido, acrescentou:

Não sou contrário aos aplausos, porque quando aplaudis o Papa pode descansar um pouco.

Os ensinamentos de Jesus conservam íntegro o seu vigor no limiar do ano 2000. São válidos para todos vós, meus queridos irmãos. Na busca da justiça do Reino não podemos deter-nos diante das dificuldades e incompreensões. Se o convite do Mestre à justiça, ao serviço e ao amor é acolhido como Boa Nova, então o coração alarga-se, transformam-se os critérios e nasce a cultura do amor e da vida. Esta é a grande transformação que a sociedade necessita e espera; e só poderá ser alcançada se antes se produzir a conversão do coração de cada um, como condição para as necessárias mudanças nas estruturas da sociedade.

6. «O Espírito do Senhor enviou-Me para proclamar a libertação aos cativos... a mandar em liberdade os oprimidos» (Lc 4,18). A boa nova de Jesus deve ser acompanhada de um anúncio de liberdade, apoiada sobre o sólido fundamento da verdade: «Se permanecerdes na Minha palavra, sereis verdadeiramente Meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á» (Jn 8,31-32). A verdade a que se refere Jesus não é só a compreensão intelectual da realidade, mas a verdade sobre o homem e a sua condição transcendente, sobre os seus direitos e deveres, sobre a sua grandeza e os seus limites. É a mesma verdade que Jesus proclamou com a Sua vida, reafirmou perante Pilatos e, com o Seu silêncio, diante de Herodes; é a mesma que O levou à cruz salvadora e à Sua ressurreição gloriosa.

A liberdade, que não se funda na verdade, condiciona de tal forma o homem que algumas vezes o faz objecto e não sujeito do seu contexto social, cultural, económico e político, deixando-o quase sem nenhuma iniciativa para o seu desenvolvimento pessoal. Outras vezes essa liberdade é de aspecto individualista e, não tendo em conta a liberdade dos outros, encerra o homem no seu egoísmo. A conquista da liberdade na responsabilidade é uma tarefa imprescindível para toda a pessoa. Para os cristãos, a liberdade dos filhos de Deus não é somente um dom e uma tarefa, mas alcançá-la supõe um inestimável testemunho e um genuíno contributo no caminho da libertação de todo o género humano. Esta libertação não se reduz aos aspectos sociais e políticos, mas encontra a sua plenitude no exercício da liberdade de consciência, base e fundamento dos outros direitos humanos.

Respondendo à invocação feita pela multidão:

«O Papa vive e quer-nos todos livres!», Sua Santidade disse:
Sim, vive com aquela liberdade para a qual Cristo vos libertou.

1120 Para muitos dos sistemas políticos e económicos hoje vigentes, o maior desafio continua a ser o conjugar liberdade e justiça, liberdade e solidariedade, sem que nenhuma fique relegada a um plano inferior. Neste sentido, a Doutrina Social da Igreja é um esforço de reflexão e proposta, que procura iluminar e conciliar as relações entre os direitos inalienáveis de cada homem e as exigências sociais, de modo que a pessoa alcance as suas aspirações mais profundas e a sua realização integral, segundo a sua condição de filho de Deus e de cidadão. Eis por que o laicado católico deve contribuir para esta realização, mediante a aplicação dos ensinamentos sociais da Igreja nos diversos ambientes, abertos a todos os homens de boa vontade.

7. No Evangelho proclamado hoje aparece a justiça intimamente ligada à verdade. Assim se vê também no pensamento lúcido dos pais da Pátria. O Servo de Deus Padre Félix Varela, animado pela fé cristã e a fidelidade ao ministério sacerdotal, semeou no coração do povo cubano as sementes da justiça e da liberdade, que ele sonhava ver florescer numa Cuba livre e independente.

A doutrina de José Martí sobre o amor entre todos os homens tem raízes profundamente evangélicas, superando assim o falso conflito entre a fé em Deus e o amor e o serviço à Pátria. Escreve este prócer: «Pura, desinteressada, perseguida, martirizada, poética e simples, a religião do Nazareno seduziu todos os homens honrados... Todo o povo necessita ser religioso. Deve sê-lo não só na sua essência, mas também pela sua utilidade... Um povo irreligioso morrerá, porque nada nele alimenta a virtude. As injustiças humanas desprezam-na; é necessário que a justiça celeste a garanta».

Como sabeis, Cuba tem uma alma cristã e isso levou-a a ter uma vocação universal. Chamada a vencer o isolamento, deve abrir-se ao mundo e o mundo deve aproximar-se de Cuba, do seu povo, dos seus filhos que, sem dúvida, são a sua maior riqueza. Esta é a hora de empreender os novos caminhos que exigem os tempos de renovação que vivemos, ao aproximar-se o Terceiro Milénio da era cristã!

8. Queridos irmãos: Deus abençoou este povo com verdadeiros formadores da consciência nacional, claros e firmes expoentes da fé cristã, como o mais valioso sustentáculo da virtude e do amor. Hoje os Bispos, com os sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos, esforçam-se por construir pontes para aproximar as mentes e os corações, propiciando e consolidando a paz, preparando a civilização do amor e da justiça. Estou no meio de vós como mensageiro da verdade e da esperança. Por isso quero repetir o meu apelo a deixar-vos iluminar por Jesus Cristo, a aceitardes sem reservas o esplendor da Sua verdade, para que todos possam empreender o caminho da unidade por meio do amor e da solidariedade, evitando a exclusão, o isolamento e o conflito, que são contrários à vontade do Deus-Amor.

Que o Espírito Santo ilumine com os seus dons todos os que têm diversas responsabilidades sobre este povo, que levo no coração. E que a Virgem da Caridade do Cobre, Rainha de Cuba, obtenha para os seus filhos os dons da paz, do progresso e da felicidade.

Este vento de hoje é muito significativo, porque o vento é símbolo do Espírito Santo. «Spiritus spirat ubi vult, Spiritus vult spirare in Cuba». Digo as últimas palavras em latim, porque Cuba também pertence à tradição latina. A América Latina, Cuba latina, língua latina! «Spiritus spirat ubi vult et vult Cubam». Até à próxima!





DURANTE A MISSA NA PARÓQUIA


DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS EM ROMA


1 de Fevereiro de 1998




1. «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura» (Lc 4,21).

Jesus dá início à Sua pregação na sinagoga de Nazaré, anunciando aos Seus concidadãos que n'Ele se cumprem as antigas profecias concernentes ao esperado Messias. O «hoje», proclamado por Cristo naquele dia, vale já para todos os tempos. Ele ressoa esta manhã também para nós nesta igreja, ao recordar-nos a actualidade da salvação. Deus vem ao encontro dos homens e das mulheres de todas as épocas, na situação concreta em que eles vivem e convida-os a acolher a verdade do Evangelho e a caminhar pelas vias do bem.

As palavras de Jesus em Nazaré provocaram uma forte reacção em quem as escutava: alguns ficaram positivamente fascinados, enquanto outros as rejeitaram e até procuraram matá-l'O (cf. Lc Lc 4,28-30). Jesus revela-Se assim, desde o início, um sinal de contradição para quantos se encontram com Ele, e tal permanece ainda hoje para a humanidade do nosso tempo, no limiar do terceiro milénio.

1121 2. «Eu te constituí profeta entre as nações» (Jr 1,5), Também a narração da vocação de Jeremias, que escutámos na primeira Leitura, sublinha a universalidade da salvação. Com efeito, a missão do profeta não se limita ao povo de Israel, mas abre-se para horizontes universais. O texto bíblico detém-se a descrever os sofrimentos e as dificuldades que Jeremias encontrará no cumprimento da sua missão. Ao profeta, porém, é ao mesmo tempo assegurada a força necessária para realizar quanto lhe tinha sido confiado. O Senhor tranquiliza-o: «Eu estarei contigo para te proteger» (Jr 1,19). Deus está plenamente envolvido na missão do profeta e é precisamente sobre esta promessa que se fundamenta a certeza de fé da superação de todos os obstáculos.

Tudo o que é proclamado por esta significativa passagem do Livro de Jeremias encontrará pleno cumprimento na missão de Jesus e, depois, naquela que foi confiada à Igreja. Ao cumprir o mandato recebido de Cristo, a Comunidade cristã deverá enfrentar não poucas dificuldades ao longo dos séculos. Contudo, sabe que pode contar com a força do Espírito Santo e com a presença, misteriosa mas real, do Ressuscitado.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus no bairro Prati! Na semana passada saudei assim os vossos irmãos em Cuba, os cubanos. Hoje saúdo a vós. É-me grato celebrar a Eucaristia juntamente convosco, na vossa bonita igreja paroquial, que se encontra a pouca distância da casa do Papa. Muitas vezes passei diante deste templo e fiquei impressionado pela sua característica fachada, rica de agulhas, pináculos e estátuas, singular exemplo de estilo neogótico em Roma.

Saúdo cordialmente o Cardeal-Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso zeloso Pároco, Padre Roberto Zambolin, e todos os seus colaboradores da família religiosa dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus. O meu afectuoso pensamento vai também aos agentes paroquiais, aos membros dos vários grupos e a todos aqueles que ofereceram a sua disponibilidade para sustentar as várias iniciativas da «Missão da cidade».

Precisamente hoje, eu mesmo darei início à fase da Missão denominada «vi- sita às famílias». No final da Santa Missa, com efeito, terei a alegria de visitar uma família desta Comunidade, à qual deixarei em recordação o livro dos Actos dos Apóstolos, acompanhado da carta que, como Bispo de Roma, enviei a todas as famílias desta amada Cidade. Ao encontrar-me com estas pessoas, quereria de algum modo estar próximo de todas as famílias da paróquia e dirigir-lhes o convite, que desejo fazer extensivo a todos os núcleos familiares da cidade: «Abri a porta a Cristo!».

Nas próximas semanas, mais de treze mil missionários visitarão as famílias romanas e convidá-las-ão a dar espaço, na própria vida, a Cristo, único Redentor do homem. Peço a todos que acolham com confiança e alegria estes missionários, que levam uma mensagem de esperança. Eles vão às casas para anunciar e testemunhar Cristo e, ao mesmo tempo, para exprimir solidariedade e amizade, oferecendo atenção aos problemas e levando o conforto da fé. Caberá aos párocos promover encontros nos numerosos centros de escuta que, durante o tempo da Quaresma, se realizarão em todas as paróquias. Recordarão a todos e a cada um as várias iniciativas que em cada paróquia se programam por ocasião da «Missão da cidade», que quer ser uma resposta à profunda necessidade de Deus presente na nossa Cidade.

4. A «Missão da cidade» quer ser, além disso, uma preparação para o Ano Santo 2000, feita não só de obras exteriores, mas sobretudo de renovação interior, a fim de que a Igreja e a população de Roma possam acolher fraternalmente os peregrinos do Ano 2000, testemunhando uma fé corajosa e rica de alegria.

Caríssimos paroquianos! A vossa Comunidade, precisamente por causa da sua proximidade à Sede de Pedro, durante o Ano Santo constituirá um significativo lugar de encontro com muitos peregrinos. Convido-vos, desde agora, a preparar-vos para esta vossa tarefa de acolhimento fraterno e de testemunho generoso, de comum envolvimento na oração de louvor, de acção de graças e de intercessão a Deus, que há dois mil anos veio visitar a humanidade e continuamente visita a sua Igreja.

Já agora a vossa paróquia, que conta com um considerável número de habitantes, representa um ponto de passagem e de confluência de peregrinos, cidadãos, homens políticos e profissionais. Numerosos são os lugares de hospitalidade e de encontro para jovens e adultos. Muitas instituições públicas têm aqui a sua sede, a começar pelo Palácio da Justiça. Fazei com que não falte a atenção por ninguém, oferecendo a todos a oportunidade de escutarem o anúncio do Evangelho.

5. Com singular atenção, pensai na família e nos jovens. Precisamente hoje a Igreja italiana celebra o Dia pela Vida, e a nossa comunidade diocesana inicia a Semana pela Família, que concluiremos juntos no próximo sábado, na Sala Paulo VI, no Vaticano. Cada núcleo familiar, grande ou pequeno, composto de pessoas jovens ou menos jovens, deve sentir-se amado e sustentado pela Igreja. Em cada família seja dado espaço e acolhimento à vida. Ela deve ser sempre, e em todos os casos, servida com generosidade; é um bem inviolável que deve ser acolhido, amado e defendido desde o momento da concepção até ao seu termo natural.

Exorto-vos a empenhar-vos, em particular, no apoio à vida de quem é pobre, ancião ou está sozinho, favorecendo a obra do Voluntariado Vicentino e do Grupo dos Anciãos, que já tanto fazem na vossa paróquia.

1122 Reservai uma especial atenção aos jovens, cuja presença nesta paróquia é numerosa e activa. A comunidade cristã os ajude a abrirem-se ao amor, a viverem o tempo do noivado como tempo de graça, a prepararem-se bem para o matrimónio. As famílias cristãs já formadas têm aqui um papel particular e empenhativo a desempenhar: o de transmitir aos filhos e netos os valores fundamentais do matrimónio, tais como a fidelidade, a indissolubilidade e a abertura ao dom da vida.

E que dizer, depois, da escola católica, que tem um importante serviço formativo a realizar nesta tarefa de preparação para a vida e de educação para o amor cristão? Nesta sua missão fundamental, ela se sinta encorajada pelo Papa e ajudada por todos os crentes. Quereria saudar com afecto o Instituto das Mestras Pias Venerinas, que têm aqui sua Casa Geral, e o Instituto das Religiosas de Nazaré, que também trabalham ao serviço da juventude. Deus abençoe e torne frutuosos os esforços que se fazem ao serviço da educação cristã no âmbito escolar, graças também à contribuição das famílias.

6. «... se não tiver caridade, de nada me aproveita» (
1Co 13,3). Depois de ter apresentado a multiplicidade dos dons e dos carismas, São Paulo indica na suprema lei do amor o «caminho que ultrapassa tudo» (1Co 12,31). Este texto bíblico, que a Liturgia hodierna propõe na segunda Leitura, recorda-nos que a caridade deve ser considerada sempre em primeiro lugar: na família, na sociedade, na paróquia, na Igreja. É a caridade a alma de tudo. Ela é dinamismo divino que dá vigor aos crentes e os torna missionários ao serviço do Evangelho.

Caros fiéis desta Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, sede testemunhas do Evangelho da caridade. Difundi o amor de Deus entre todos aqueles que vivem, trabalham, estudam ou transcorrem o seu tempo livre neste bairro. Servi a verdade de Cristo com tenacidade, coragem e fidelidade. O Senhor, que prometeu permanecer sempre com os Seus discípulos, vos acompanhe no vosso caminho. Dirigi a Ele o vosso olhar.

Maria, Mãe de Jesus, que a Igreja invoca incessantemente, vos acompanhe na missão junto das famílias e torne a vossa comunidade paroquial cada vez mais fervorosa e zelosa.

Amém!







NA SOLENIDADE DA APRESENTAÇÃO


DO SENHOR NO TEMPLO E FESTA


DE NOSSA SENHORA DA CANDELÁRIA


2 de Fevereiro de 1998




1. «Lumen ad revelationem gentium!» «Luz para iluminar as nações» (Lc 2,32).

Estas palavras ressoam no templo de Jerusalém, enquanto Maria e José, quarenta dias depois do nascimento de Jesus, se preparam «para O apresentar ao Senhor» (Lc 2,22). O evangelista Lucas, ressaltando o contraste entre a iniciativa modesta e humilde dos dois genitores e a glória do acontecimento percebida por Simeão e Ana, parece querer sugerir que o próprio templo espera a vinda do Menino. Na atitude profética das duas pessoas anciãs, com efeito, é a inteira Antiga Aliança que exprime a alegria do encontro com o Redentor.

Ambos à espera do Messias, ambos inspirados pelo Espírito Santo, Simeão e Ana dirigem-se ao templo enquanto Maria e José, em obediência às prescrições da Lei, levam ali Jesus. Ao verem o Menino, eles, Simeão e Ana, intuem que é precisamente Ele o Esperado, e Simeão, quase em êxtase, proclama: «Agora, Senhor, podes deixar o Teu servo partir em paz, segundo a Tua palavra, porque os meus olhos viram a Salvação, que preparaste em favor de todos os povos: Luz para iluminar as nações e glória de Israel, Teu povo» (Lc 2,29-32).

2. Lumen ad revelationem gentium!

1123 Simeão, o homem da Antiga Aliança, o homem do templo de Jerusalém, com as suas palavras inspiradas exprime a convicção de que aquela Luz é destinada não só a Israel, mas também aos pagãos e a todos os povos da terra. Com ele a «velhice» do mundo acolhe entre os braços o esplendor da eterna «juventude» de Deus. No fundo, porém, já se delineia a sombra da Cruz, porque as trevas rejeitarão aquela Luz. Com efeito, Simeão, ao dirigir-se a Maria, profetiza: «Este Menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações» (Lc 2,34-35).

3. Lumen ad revelationem gentium!

As palavras do Cântico de Simeão ressoam em muitos templos da Nova Aliança, onde os discípulos de Cristo todas as noites terminam com a recitação das Completas a oração litúrgica das Horas. Deste modo a Igreja, povo da Nova Aliança, acolhe como que a última palavra da Aliança Antiga e proclama o cumprimento da promessa divina, anunciando que a «luz para iluminar as nações» se difundiu por toda a terra e está presente, em todos os lugares, na obra redentora de Cristo.

Juntamente com o Cântico de Simeão, a liturgia das Horas faz-nos repetir as últimas palavras pronunciadas por Cristo na cruz: In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum – «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito» (cf. Lc Lc 23,46). Convida-nos, além disso, a contemplar com admiração e gratidão a acção salvífica de Cristo, «luz que ilumina as nações», em relação à humanidade: Redemisti nos, Domine, Deus veritatis – «Redimiste-nos, Senhor, Deus da verdade».

A Igreja anuncia deste modo que se cumpriu a redenção do mundo, esperada pelos profetas e anunciada por Simeão no templo de Jerusalém.

4. Lumen ad revelationem gentium!

Hoje também nós, com as velas acesas, vamos ao encontro d'Aquele que é «a Luz do mundo» e acolhemo-l'O na sua Igreja com todo o impulso da nossa fé baptismal. A quantos professam sinceramente esta fé é prometido o «encontro» último e definitivo com o Senhor no seu Reino. Na tradição polaca, assim como na de outras Nações, estas velas benzidas têm um significado especial porque, levadas para casa, são acendidas nos momentos de perigo, durante os temporais e os cataclismos, em sinal da entrega de si, da família e de quanto se possui à protecção divina. Eis por que, em polaco, estas velas se chamam «gromnice», isto é, velas que afastam os raios e protegem contra o mal, e esta festividade é chamada com o nome de Candelária (literalmente: Santa Maria das Candeias [«gromnice»]).

Ainda mais eloquente é o costume de colocar a vela, benzida neste dia, entre as mãos do cristão, no leito de morte, para que ilumine os últimos passos do seu caminho rumo à eternidade. Com esse gesto quer-se afirmar que o moribundo, seguindo a luz da fé, espera entrar nas moradas eternas, onde já não se tem «necessidade da luz da lâmpada nem da luz do sol, porque o Senhor Deus o iluminará» (cf. Ap Ap 22,5).

A este ingresso no Reino da luz alude também o hodierno Salmo responsorial: «Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória» (Sl 23[24], 7).

São palavras que se referem directamente a Jesus Cristo, o Qual entra no templo da Antiga Aliança, levado nos braços dos seus pais, mas por analogia podemos referi-las a cada crente que ultrapassa o limiar da eternidade, levado entre os braços da Igreja. Os crentes acompanham-no a extrema passagem, orando: «Brilhe para ele a luz eterna!», para que os anjos e os santos o acolham e Cristo, Redentor do homem, o circunde com a Sua luz eterna.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Celebramos, neste dia, a segunda Jornada da Vida Consagrada, que quer suscitar na Igreja uma renovada atenção pelo dom da vocação à vida consagrada. Caros religiosos e religiosas, queridos membros dos Institutos Seculares e das Sociedades de Vida Apostólica, o Senhor chamou-vos ao Seu seguimento de modo mais íntimo e singular! No nosso tempo, dominado pelo secularismo e materialismo, vós constituís, com a vossa total e definitiva doação a Cristo, o sinal duma vida alternativa à lógica do mundo, porque radicalmente inspirada no Evangelho e projectada para as realidades escatológicas futuras. Permanecei sempre fiéis a esta vossa especial vocação!

1124 Quereria, neste dia, renovar-vos a expressão do meu afecto e da minha estima. Saúdo, antes de tudo, o Cardeal Eduardo Martínez Somalo, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, que preside a esta Celebração eucarística. Juntamente com ele saúdo os membros desse Dicastério e quantos trabalham ao serviço da vida consagrada. Penso especialmente em vós, jovens aspirantes à vida consagrada, em vós, homens e mulheres já professos nas várias Congregações religiosas e nos Institutos Seculares, em vós que, pela idade avançada ou pela doença, sois chamados a oferecer o contributo precioso do vosso sofrimento à causa da evangelização. A todos repito com as palavras da Exortação Apostólica «Vita consecrata»: «Vós sabeis em quem pusestes a vossa confiança (cf. 2Tm 1,12): dai-Lhe tudo!... Vivei a fidelidade ao vosso compromisso com Deus, na mútua edificação e apoio recíproco... Não esqueçais que vós, de modo muito particular, podeis e deveis dizer não só que sois de Cristo, mas que "vos tornastes Cristo"» (n. 109).

Os círios acesos, trazidos por cada um na primeira parte desta solene liturgia, manifestam a vigilante espera do Senhor, que deve caracterizar a vida de cada crente e de modo especial daqueles que o Senhor chama a uma especial missão na Igreja. São um forte apelo a testemunhar ao mundo Cristo, a luz que não conhece ocaso: «Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai, que está nos Céus» (Mt 5,16).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, a vossa total fidelidade a Cristo pobre, casto e obediente seja, para aqueles com quem vos encontrardes, fonte de luz e de esperança: «Lumen ad revelationem gentium».

Maria, Aquela que cumpriu a vontade do Pai, pronta à obediência, corajosa na pobreza, acolhedora na virgindade fecunda, obtenha de Jesus que, «quantos receberam o dom de O seguir na vida consagrada, saibam testemunhá- l'O com uma existência transfigurada, caminhando jubilosamente, com todos os outros irmãos, para a pátria celeste e para a luz que não conhece ocaso» (Ibid., 112).

Louvado seja Jesus Cristo!

NA MISSA DE SUFRÁGIO

PELO CARDEAL EDUARDO FRANCISCO PIRONIO


Sábado, 7 de Fevereiro de 1998




1. «E a vontade de Meu Pai é esta; que todo aquele que vê o Filho e acredita n'Ele tenha a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jn 6,40).

A promessa de Cristo, que há pouco escutámos no Evangelho, abre o nosso coração à esperança: Ele, que é o Senhor da vida, veio para que «nada se perca de quanto o Pai lhe deu». Diante da morte, o ser humano sente precisamente este medo, o de se perder. O seu coração vacila, toda a sua certeza se faz precária e o obscuro do incógnito lança-o no assombro.

A palavra de Cristo torna-se, então, a única chave para resolver o enigma da morte. Ela é a luz que desvela o caminho da vida e dá valor a todos os seus momentos: mesmo à dor, ao sofrimento e à extrema separação. «Todo aquele que vê o Filho e acredita n'Ele tem a vida eterna», afirma Jesus. Crer n'Ele é ter confiança na Sua palavra, contando só com o poder do Seu amor misericordioso.

Estas considerações, caríssimos Irmãos e Irmãs, surgem espontâneas no nosso coração, enquanto nos encontramos recolhidos em oração ao lado dos restos mortais do nosso Irmão, o caro Cardeal Eduardo Francisco Pironio, que hoje acompanhamos à extrema morada. Ele foi testemunha daquela fé corajosa que sabe confiar em Deus mesmo quando, nos desígnios misteriosos da sua Providência, Ele consente a prova.

2. Sim, este nosso venerado Irmão acreditou com fé inquebrantável nas promessas do Redentor. Com estas palavras inicia o seu Testamento espiritual: «Fui baptizado no nome da Santíssima Trindade; acreditei firmemente n'Ela, pela misericórdia de Deus; saboreei a Sua presença amorosa na pequenez da minha alma... Agora entro na "alegria do meu Senhor", na contemplação directa, ieface a facele, da Trindade. Até agora "peregrinei de longe rumo ao Senhor", agora "vejo-O como Ele é". Sou feliz. Magnificat!».

1125 Aprendera a sua fé no regaço da mãe, mulher de formação cristã firme, embora simples, que soube imprimir no coração dos filhos o genuíno sentido evangélico da existência. «Na história da minha família – disse um dia o saudoso Cardeal – existe algo de miraculoso. Quando concebeu o seu primeiro filho, a minha mãe tinha apenas dezoito anos e adoeceu gravemente. Curada, os médicos disseram-lhe que já não poderia ter filhos sem pôr em perigo a própria vida. Foi então consultar o Bispo Auxiliar de La Plata, que lhe disse: "Os médicos podem enganar-se: ponha-se nas mãos de Deus e cumpra os seus deveres de esposa". A partir de então, a minha mãe deu à luz outros vinte e um filhos. Eu sou o último nascido, e ela viveu até aos oitenta e dois anos. Mas a história não termina aqui, porque nos anos sucessivos fui nomeado Bispo Auxiliar de La Plata, precisamente no lugar daquele que abençoara a minha mãe. No dia da minha ordenação episcopal – continua ainda o Cardeal Pironio – o Arcebispo deu-me de presente a cruz peitoral daquele Bispo, sem conhecer a história que havia por detrás. Quando lhe revelei que devia a vida ao proprietário daquela cruz, ele chorou».

Quis referir este episódio narrado pelo próprio Cardeal, porque põe em evidência as razões que sustentaram o seu caminho de fé. A sua existência foi um cântico de fé ao Deus da vida. Diz ainda ele no seu Testamento espiritual: «Como é belo viver! Tu nos fizeste, Senhor, para a vida. Amo-a, ofereço-a, espero-a. Tu és a Vida, como sempre foste a minha Verdade e o meu Caminho».

3. Há pouco escutámos as palavras da carta de São Pedro: «Então rejubilareis, se bem que vos sejam ainda necessárias, por algum tempo, diversas provações, para que a vossa prova, a que é submetida a vossa fé... seja digna de louvor, de glória e de honra quando Jesus Cristo Se manifestar» (
1P 1,6-7). Elas fotografam o ministério sacerdotal do Cardeal Pironio. Ele testemunhou a sua fé na alegria: alegria de ser sacerdote e desejo constante de «comunicá-la aos jovens de hoje, como o meu melhor testamento e herança», como ele mesmo deixou escrito. Alegria de servir o Evangelho, nas várias e onerosas tarefas que lhe foram confiadas.

Tendo nascido a 3 de Dezembro de 1920, foi ordenado sacerdote na Basílica de Nossa Senhora de Luján, no dia 5 de Dezembro de 1943. Nos primeiros anos de ministério desenvolveu uma intensa actividade educativa e didáctica no Seminário de Buenos Aires. Durante a Assembleia ecuménica do Vaticano II foi-lhe pedido que interviesse nos trabalhos como perito conciliar. Em 1964, Paulo VI nomeou-o Auxiliar do Arcebispo de La Plata. Depois, foi eleito Administrador Apostólico de Avellaneda e Secretário-Geral do CELAM, do qual veio a tornar-se também Presidente. Sucessivamente, foi promovido à sede de Mar del Plata. Paulo VI o quis ao seu lado, confiando-lhe a então Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares, e em 1976 elevou-o à dignidade cardinalícia. Eu mesmo, a 8 de Abril de 1984, o chamei a dirigir o Pontifício Conselho para os Leigos, onde permaneceu até ao dia 20 de Agosto de 1996, trabalhando sempre com entusiasmo juvenil e profunda competência.

4. O seu serviço à Igreja, então, foi aos poucos assumindo uma dimensão cada vez mais ampla e universal: em primeiro lugar, uma diocese na Argentina, depois o Continente latino-americano e sucessivamente, chamado à Cúria Romana, a inteira comunidade católica. Aqui em Roma ele continuou com o estilo pastoral de sempre, manifestando um acentuado amor pela vida consagrada e pelos leigos, em particular pelos jovens. No seu Testamento espiritual, escreveu: «Como amo os religiosos, as religiosas e todos os leigos consagrados no mundo! Como invoco Maria Santíssima por eles! Como ofereço hoje, com alegria, a minha vida para que sejam fiéis!... Amo-os intensamente, abraço-os e abençoo-os». E acrescenta: «Rendo graças a Deus por ter podido consumar as minhas pobres forças e talentos na dedicação aos caríssimos leigos, cuja amizade e testemunho me enriqueceram espiritualmente».

Como esquecer a grande contribuição por ele dada às celebrações das Jornadas Mundiais da Juventude? Desejaria prestar aqui publicamente um cordial agradecimento a este Irmão, que me foi de grande ajuda no exercício do ministério petrino.

5. Esta sua incessante cooperação tornou-se ainda mais apostólica nestes seus últimos anos, marcados pela doença. O apóstolo Pedro falou-nos há pouco do «valor da fé, muito mais precioso que o ouro», e recordou-nos que não nos devemos maravilhar se somos submetidos à prova, dado que aquele metal, «embora perecível, contudo é provado pelo fogo» (1P 1,7). A fé do Cardeal Pironio foi provada duramente no crisol do sofrimento. Minado no físico por uma grave enfermidade, soube aceitar com resignação e paciência a pesada prova que lhe era pedida. A respeito desta sua árdua experiência, deixou escrito: «Agradeço ao Senhor o privilégio da cruz. Sinto-me extremamente feliz por ter sofrido muito. Só me desagrada não ter sofrido bem e não ter saboreado sempre em silêncio a minha cruz. Desejo que, pelo menos agora, a minha cruz comece a ser luminosa e fecunda».

E no ocaso da sua existência, soube haurir ainda da fé aquele optimismo e aquela esperança que caracterizaram a sua vida inteira. «Todos são Vossos, ó Senhor, que amais a vida» (Sg 11,26), gostava de repetir, e o seu lema cardinalício era como que o seu sigilo: «Cristo em vós, esperança da glória».

6. Ao confiar à misericórdia do Senhor a alma eleita deste caríssimo Irmão, façamos nossas as palavras do livro da Sabedoria que acabámos de escutar: Vós, ó Senhor, «não olhais para os pecados dos homens, a fim de os trazer à penitência» (11, 23).

O Cardeal Pironio tinha um vivo sentido da fragilidade humana: no seu Testamento espiritual, que nos serviu de guia nestas nossas reflexões, várias vezes pede perdão. Pede-o com humildade, com confiança. Diante da santidade de Deus, toda a criatura humana não pode senão bater no peito e confessar: «Tendes compaixão de todos, porque podeis tudo» (Ibid.).

Acompanhemo-lo com a oração, agora que entra na casa do Pai. Confiemo-lo a Maria, Mãe da esperança e da alegria, para com a qual a sua devoção foi grande. Ao terminar os dias, quando já era tempo de içar as velas para a última viagem, escrevia no seu Testamento: «Abraço todos verdadeiramente de coração pela última vez, no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Deponho todos no coração de Maria, a Virgem pobre, contemplativa e fiel. Ave Maria! A ela peço: "Depois deste exílio mostra-nos Jesus, o fruto bendito do teu seio!"».

1126 Queira a Mãe de Deus acolhê-lo entre os seus braços e introduzi-lo na morada eterna, que o Senhor prepara para os Seus servos fiéis. E tu, caro Irmão, repousa em paz!

Amém.







Homilias JOÃO PAULO II 1118