Homilias JOÃO PAULO II 1215


NA PARÓQUIA ROMANA DE SANTA ROSA DE VITERBO


Domingo, 6 de Dezembro de1998




1216 1. «Preparai o caminho do Senhor!» (Mt 3,3). Estas palavras, tiradas do livro do profeta Isaías (cf. 40, 3), são pronunciadas por João Baptista, que Jesus mesmo teve ocasião de definir como o maior entre os nascidos de mulher (cf. Mt Mt 11,11). O evangelista Mateus apresenta-o como o Precursor, aquele que recebeu a missão de «preparar o caminho» para o Messias.

O seu forte convite à penitência e à conversão continua a ressoar no mundo e impele os crentes, peregrinos rumo ao Jubileu do Ano 2000, a acolherem de maneira digna o Senhor que vem. Há pouco teve início o terceiro ano de imediata preparação para o evento jubilar e mais rápido deve tornar-se o nosso caminho espiritual.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, preparemo-nos para encontrar Cristo! Preparemos-Lhe o caminho nos nossos corações e nas nossas comunidades. A figura do Baptista, que se veste de maneira pobre e se alimenta de gafanhotos e mel silvestre, constitui um vigoroso apelo à vigilância e à espera do Salvador.

2. «Brotará uma vara do tronco de Jessé» (Is 11,1). No período do Advento, a Liturgia põe em relevo outra grande figura: o profeta Isaías, que no seio do Povo eleito manteve viva a expectativa, rica de esperança, quanto à vinda do Salvador prometido. Como acabámos de escutar na Primeira Leitura, Isaías descreve o Messias como um rebento que brota do antigo tronco de Jessé. Sobre ele se pousará o Espírito de Deus e o seu reino será caracterizado pelo restabelecimento da justiça e pela consolidação da paz universal.

Também nós temos necessidade de renovar esta confiante espera do Senhor. Escutemos as palavras do Profeta. Elas convidam-nos a olhar com esperança para a instauração definitiva do Reino de Deus, que ele descreve com imagens altamente poéticas, aptas para evidenciar o triunfo da justiça e da paz por obra do Messias. «O lobo habitará com o cordeiro... o novilho e o leão comerão juntos e um menino os conduzirá» (Is 11,6). Trata-se de expressões simbólicas, que antecipam a realidade de uma reconciliação universal. Todos nós somos chamados a colaborar nesta obra de renovação cósmica, sustentados pela certeza de que a criação inteira será completamente submetida ao domínio universal de Cristo.

3. Acolhamos com alegria a mensagem que a hodierna Liturgia nos comunica! Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santa Rosa de Viterbo, saúdo-vos a todos com grande afecto. Saúdo o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso Pároco, Padre Maurício Vismara, e os Sacerdotes seus colaboradores que pertencem à Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus de Bétharram. Um cordial pensamento dirige-se ao Padre Pierino Donini, que permaneceu convosco como Pároco durante 35 anos. Saúdo, além disso, os componentes do Conselho Pastoral, que foi constituído recentemente, e todos aqueles que, a diversos níveis, estão empenhados nos grupos que animam a vida paroquial.

A vossa Comunidade, que conta cerca de dez mil almas, esperou durante longo tempo uma sede idónea e definitiva para as celebrações litúrgicas e para as actividades pastorais. Alegro-me convosco neste dia porque, finalmente, tendes uma bonita igreja, graças à generosidade das Irmãs Filhas da Cruz. Ao exprimir, em nome da Diocese, intenso reconhecimento a estas queridas Religiosas pela hospitalidade oferecida à Paróquia e pela generosa doação feita há poucos anos, desejolhes um fecundo apostolado na escola, seguindo o luminoso exemplo dos santos Fundadores, André Uberto Fournet e Joana Isabel Bichier des Ages. Saúdo os Superiores e os alunos do Colégio Escocês, que tem sede no território da Paróquia, assim como as Irmãs de Nossa Senhora das Dores, que administram a escola materna e a creche «Ancilla Domini». Desejo dirigir um pensamento especial aos professores e aos alunos das escolas católicas presentes no território. A quantos nelas trabalham vai o meu agradecimento pelo empenho quotidiano e pela paixão educativa com que acompanham os alunos, em estreita colaboração com as famílias. O projecto educativo e a identidade específica inspirados no Evangelho fazem da escola católica uma verdadeira comunidade educativa, aberta ao acolhimento e ao diálogo inter-religioso e intercultural entre todos os alunos, para uma plena promoção humana, espiritual e social.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Ao vir visitar-vos, pude constatar os frutos que a graça do Senhor suscita na vossa Comunidade através da «Missão da cidade». Dou graças a Deus pelo bom êxito que está a ter este grande empreendimento apostólico proposto à Cidade. Neste ano, a Missão interessa os ambientes de vida e de trabalho e, no âmbito desta Paróquia, existem importantes centros de trabalho.

Sei, além disso, que nesta zona a população é em geral caracterizada por um nível social e económico bastante elevado. Enquanto faço votos por que o teor de vida abastado estimule a uma solidariedade mais participada, convido todos os paroquianos a estarem cada vez mais envolvidos na missão. É preciso levar o anúncio evangélico aonde quer que o homem trabalhe, sofra, estude ou descanse. Todo o ambiente é importante para a evangelização, estreitamente ligada à integral promoção do homem. Cristo deve ser anunciado em toda a parte! Só assim a Comunidade cristã pode preparar-se de modo eficaz para o Grande Jubileu do Ano 2000.

5. «Acolhei-vos... uns aos outros, como Cristo também vos acolheu» (Rm 15,7). São Paulo, ao indicarnos o sentido profundo do Advento, põe em evidência a necessidade do acolhimento e da fraternidade no seio de cada família e comunidade. Acolher Cristo e abrir o coração aos irmãos: eis o nosso empenho quotidiano, ao qual nos estimula o clima espiritual deste tempo litúrgico.

Prossegue o Apóstolo: «Que o Deus da constância e da consolação vos conceda que tenhais uns para com os outros os mesmos sentimentos segundo Jesus Cristo, para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo» (Rm 15,5-6). Possa o Advento e a próxima celebração do nascimento de Jesus revigorar em cada crente este sentido de unidade e de comunhão.

1217 Maria, a Virgem da escuta e do acolhimento, nos acompanhe no itinerário do Advento, nos guie a sermos testemunhas críveis e generosas do amor salvífico de Deus.

Amém!

NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO

8 de Dezembro de 1998




1. «Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Foi assim que n'Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos Seus olhos» (Ep 1,3-4).

A Liturgia hodierna introduz-nos na dimensão daquilo que era «antes da constituição do mundo». Para aquele «antes» nos chamam outros textos do Novo Testamento, entre os quais o admirável Prólogo do Evangelho de João. Antes da criação, o eterno Pai escolhe o homem «em» Cristo, Seu Filho eterno. Trata-se de uma escolha que é fruto de amor e exprime amor.

Por obra do Filho eterno que Se fez Homem, a ordem da criação foi ligada para sempre à da redenção, isto é, da graça. É este o sentido da Solenidade hodierna a qual, de modo significativo, é celebrada durante o Advento, tempo litúrgico em que a Igreja se prepara para comemorar no Natal a vinda do Messias.

2. «A criação inteira alegra-se, e não é estranho à festa nem sequer Aquele que tem o céu na mão. Os eventos de hoje são uma verdadeira solenidade. Todos se reúnem num único sentimento de alegria, todos estão penetrados por um único sentimento de beleza: o Criador, todas as criaturas, a própria Mãe do Criador, que O tornou partícipe da nossa natureza, das nossas assembleias, das nossas festas» (Nicolau Cabasilas, Homilia II sobre a Anunciação, em La Madre di Dio, Abadia de Praglia, 1997, pág. 99).

Este texto de um antigo escritor oriental adapta-se bem à festa de hoje. No caminho rumo ao grande Jubileu do Ano 2000, tempo de reconciliação e de alegria, a solenidade da Imaculada Conceição assinala uma etapa densa de fortes indicações para a nossa vida.

Como acabámos de escutar através do Evangelho de São Lucas, «o mensageiro divino diz à Virgem: "Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo" (Lc 1,28)». A saudação do Anjo coloca Maria no centro do mistério de Cristo: nela, «cheia de graça», se cumpre de facto a encarnação do Filho eterno, dom de Deus para a humanidade inteira (cf. Carta Enc. Redemptoris Mater RMA 8).

Na vinda do Filho de Deus todos os homens são abençoados, o maligno tentador é vencido para sempre e a sua cabeça é esmagada, a fim de que ninguém possa estar tristemente associado àquela maldição, que as palavras do Livro do Génesis há pouco nos recordaram (Gn 3,14). Em Cristo, escreve o apóstolo Paulo aos Efésios, o Pai celeste cumula-nos de todas as bênçãos espirituais, escolhe-nos para uma santidade verdadeira, torna-nos Seus filhos adoptivos (cf. Ef Ep 1,3-5). N'Ele nos tornamos sinal da santidade, do amor e da glória de Deus sobre a terra.

3. Por estes motivos, a Acção Católica Italiana escolheu Maria Imaculada como rainha e especial padroeira nos seus itinerários formativos para o empenho missionário. Por esta razão, caríssimos Irmãos e Irmãs, estais aqui hoje, junto da sede de Pedro, participando na vossa décima Assembleia Nacional. Transcorreram cento e trinta anos desde a vossa fundação e comemorais neste ano o trigésimo aniversário do novo Estatuto, que traduz, em termos operativos, a doutrina do Concílio Vaticano II sobre o laicado e sobre a missão na Igreja.

1218 Saúdo cordialmente o Assistente-Geral, D. Agostino Superbo, e o Presidente nacional, Adv. Giuseppe Gervásio, e agradeço-lhes as palavras que me dirigiram. Saúdo os venerados Irmãos Cardeais e Bispos, assim como os numerosos Assistentes diocesanos, presentes nesta celebração. Saúdo todos vós, que representais a imensa plêiade dos inscritos na Acção Católica em todas as dioceses da Itália.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! A vossa missão, no limiar do terceiro Milénio, torna-se ainda mais urgente na perspectiva da nova evangelização. Sois chamados a favorecer, com a vossa intervenção quotidiana, um encontro sempre mais fecundo entre Evangelho e culturas, como requer o projecto cultural orientado em sentido cristão.

Para as Igrejas que estão na Itália, como eu já recordava no Encontro eclesial de Palermo, trata-se de renovar o empenho de uma autêntica espiritualidade cristã, para que todo o baptizado se possa tornar cooperador do Espírito Santo, «agente principal da nova evangelização» (n. 2).

Neste contexto, a vossa obra de membros da Acção Católica deve actuar-se segundo algumas direcções claras, que eu desejaria aqui evocar: a formação de um laicado adulto na fé; o desenvolvimento e a difusão de uma consciência amadurecida, que oriente as opções de vida das pessoas; a animação da sociedade civil e das culturas, em colaboração com todos os que se põem ao serviço da pessoa humana.

Para proceder segundo estas direcções, a Acção Católica deve confirmar a própria característica de Associação eclesial; isto é, ao serviço do crescimento da comunidade cristã, em estreita união com os ministérios ordenados. Este serviço requer uma Acção Católica viva, atenta e disponível, a fim de contribuir de maneira eficaz para abrir a pastoral ordinária à tensão missionária, ao anúncio, ao encontro e ao diálogo, com todos os que, mesmo baptizados, vivem uma pertença parcial à Igreja ou mostram atitudes de indiferença, de estraneidade e, quem sabe, às vezes até de aversão.

O encontro entre Evangelho e culturas possui, de facto, uma intrínseca dimensão missionária e exige - no actual contexto cultural e na vida quotidiana - o testemunho e o serviço dos fiéis leigos, não só como indivíduos, mas também como associados, ao serviço da evangelização. Indivíduos e associações, precisamente pela índole secular que os caracterizam, são chamados a percorrer a via da partilha e do diálogo, através da qual passam, todos os dias, o anúncio da Palavra e o crescimento na fé.

5. O renovado encontro entre Evangelho e culturas é também o terreno no qual a Acção Católica, como associação eclesial, pode desenvolver um específico e significativo serviço para a renovação da sociedade italiana, dos seus costumes e das suas instituições: é a animação cristã do tecido social, da vida civil e da dinâmica económica e política.

A vossa rica história mostra que a animação cristã é particularmente necessária em circunstâncias como as actuais, nas quais a Itália é chamada a enfrentar questões nodais para o futuro do País e da sua civilização milenária. É urgente procurar estratégias eficazes e dar vida a soluções concretas, tendo sempre presentes o bem comum e a inalienável dignidade da pessoa. Entre as grandes questões, nas quais é pedido o vosso empenho, devem ser recordados o acolhimento e o respeito sagrado da vida, a tutela da família, a defesa das garantias de liberdade e de equidade na formação e na instrução das novas gerações, o efectivo reconhecimento do direito ao trabalho.

6. Eis delineada, caríssimos Irmãos e Irmãs, a vossa missão, já às portas do terceiro Milénio: trabalhar para que à Itália jamais falte a esplêndida luz do Evangelho, que sempre deveis anunciar com franqueza e viver com coerência. Só assim sereis testemunhas críveis da esperança cristã e podereis difundi-la a todos.

Proteja-vos Maria, a «cheia de graça», Aquela que hoje contemplamos esplendorosa na glória e na santidade de Deus.

NA MISSA DE ENCERRAMENTO

DA ASSEMBLEIA ESPECIAL


DO SÍNODO DOS BISPOS


PARA A AUSTRÁLIA E A OCEÂNIA


12 de Dezembro de 1998




1219 1. «O amor de Cristo nos constrange »: Caritas Christi urget nos! (2Co 5,14). Estas palavras do Apóstolo Paulo orientam-nos na meditação, durante a hodierna Celebração eucarística que encerra os trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Austrália e a Oceânia.

No início da evangelização, o amor de Cristo levou os Apóstolos a todas as partes do mundo. De modo particular guiou São Paulo, chamado o Apóstolo das Nações, porque depois da sua conversão ele levou o Evangelho de Cristo a não poucos dos países então conhecidos. O itinerário da sua evangelização desenrolou-se no mediterrâneo: de Jerusalém a Roma, passando pela Grécia, avançando depois até à Espanha.

Sucessivamente, abriram-se outros caminhos, alargando as dimensões da pregação cristã, na medida em que quantos anunciavam o Evangelho entravam em contacto com novas terras. Gradualmente, a evangelização chegou ao Norte da África e ao Norte dos Alpes na Europa, às populações do império romano, àquelas germânicas e depois às eslavas. O baptismo da Rus' deu início à evangelização não só do Oriente europeu mas, ao longo do tempo, também dos grandes territórios transcaucasianos. À Ásia meridional já tinham chegado os missionários da primeira geração, entre os quais São Tomé, Apóstolo das Índias, em conformidade com uma tradição muito querida às Comunidades cristãs desse grande País.

2. A evangelização da Austrália e da Oceânia teve lugar mais tarde, quando os grandes navegadores chegaram a essa parte do mundo, mais distante da Europa. Juntamente com eles, os missionários foram a essas terras levando o Evangelho e com frequência confirmando a verdade divina do mesmo, mediante o próprio martírio. Basta-nos citar, entre outros, São Pedro Chanel.

Durante estas semanas da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Oceânia, tivemos a oportunidade de reviver tudo isto. Procurámos fazê-lo juntos - Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos - conscientes das palavras de São Paulo: Caritas Christi urget nos! O tema geral que nos guiou foi: «Jesus Cristo e os Povos da Oceânia: seguindo o Seu caminho, proclamando a Sua verdade e vivendo a Sua vida».

O ano 2000 aproxima-se rapidamente e à nossa frente está o grande evento do Ano Santo. Logo celebraremos o Jubileu que assinala o segundo milénio do nascimento de Cristo e também evoca o início do Evangelho e da Igreja. Com o nascimento de Jesus, o mistério trinitário de Deus Pai, Filho e Espírito Santo ingressou na história humana, a fim de fazer do homem uma nova criatura em Jesus Cristo. Em Cristo apareceu ao mundo a grande lei do amor, proclamada na Liturgia hodierna: a nova lei das Bem-Aventuranças, que acabámos de escutar no Evangelho.

Ao aproximar-se o ano 2000 - tertio millennio adveniente - a Igreja tornou-se peregrina, percorrendo os caminhos do mundo inteiro. Ela sente a profunda necessidade de reflectir e, de alguma forma, de se redescobrir a si mesma ao longo das sendas em que o Evangelho caminha e até mesmo «corre», revelando o Amor mediante o poder do Espírito de Cristo. A história da salvação continua a progredir ao longo das vias do passado.

3. O Sínodo que hoje se encerra, assim como as precedentes Assembleias especiais consagradas aos vários continentes, corresponde precisamente a esta finalidade: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje, e será sempre o mesmo» (He 13,8). Ao confirmá-lo, desejamos transmitir aos séculos vindouros e às sucessivas gerações o rico património da evangelização da Oceânia. Com efeito, é necessário que essas populações participem plenamente no amor de Cristo, que outrora impeliu os arautos da Boa Nova ao longo de todas as veredas do mundo, onde eles encontraram novas populações e nações, também elas chamadas a ser herdeiras do Reino de Deus.

Dilectos Padres Sinodais que constituís esta Assembleia para a Austrália e a Oceânia, saúdo-vos com afecto e agradeço-vos o trabalho realizado e sobretudo o testemunho de comunhão que me destes, a mim e à Igreja inteira. Estou grato ao Cardeal Schotte e aos seus colaboradores do Secretariado Geral do Sínodo dos Bispos pelo seu serviço às Igrejas particulares.

Viestes da Austrália, da Nova Zelândia, das Ilhas do Pacífico, de Papua-Nova Guiné e das Ilhas Salomão, e trouxestes convosco as riquezas espirituais dos vossos povos e os problemas que eles encontram. Efectivamente, como deixar de pôr em evidência o facto de que até mesmo nas vossas sociedades a religião padece ameaças e tentativas de isolamento? Como deixar de salientar o facto de que às vezes se deseja reduzi-la a uma experiência individual que não pode ter qualquer influência na vida social? Falastes das consequências da colonização e da imigração, das condições em que as minorias étnicas vivem e dos problemas da fé dos jovens. Também foram evidenciados os desafios da modernidade e da secularização; estes exigem a solicitude e a caridade pastoral em diferentes sectores: vocações, justiça e paz, família, comunhão eclesial, educação católica, vida sacramental, ecumenismo e diálogo inter-religioso.

4. Todos vós vos confrontastes e estivestes unidos à volta do tema de base: Jesus Cristo, também para os povos da Oceânia, é o Caminho a seguir, a Verdade a proclamar e a Vida a viver. No mundo inteiro a nova evangelização tem este programa e actua-se na generosa colaboração com o Espírito Santo, que renova a face da terra (cf. Sl Ps 104 [103], 30).

1220 Caríssimos, ao saudar cada um de vós com um abraço de paz, confio ao Senhor, Caminho, Verdade e Vida, as Igrejas que estão na Oceânia, enquanto lhes dirijo as seguintes palavras do profeta Isaías:

«Cantai a Javé um cântico novo!
Que O louvem
até aos confins da terra;
que O celebrem o mar
e tudo o que nele existe,
as ilhas com os seus habitantes»

(@IS 42,10@).

Acompanhe-vos Maria, Mãe da Igreja.

O amor de Cristo vos constranja e permaneça sempre convosco.

Amém!





NA MISSA CELEBRADA NA PARÓQUIA ROMANA


DE SANTA JÚLIA BILLIART


13 de Dezembro de 1998




1221 1. «Alegrai-vos sempre no Senhor: repito-vos, o Senhor está próximo» (Antífona de entrada).

Deste premente convite à alegria, que caracteriza a hodierna Liturgia, toma o nome o terceiro Domingo de Advento, tradicionalmente chamado Domingo «Gaudete». Com efeito, em latim esta é a primeira palavra da Missa de hoje: «Gaudete», isto é, alegrai-vos porque o Senhor está próximo!

O texto evangélico ajuda-nos a compreender o motivo do nosso júbilo, ressaltando o grandioso mistério de salvação que se realiza no Natal. O Evangelista Mateus fala-nos de Jesus, «Aquele que há-de vir» (11, 3), que Se revela como o Messias esperado, através da sua obra salvífica: «Os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam... aos pobres é anunciada a Boa Notícia» (11, 5). Ele vem consolar, dar nova serenidade e esperança àqueles que sofrem, que estão cansados e que perderam a confiança na vida.

Mesmo hoje existem muitas pessoas que se encontram envolvidas pelas trevas da ignorância e não receberam a luz da fé; muitos paralíticos que caminham com dificuldade pelas veredas do bem; muitas pessoas que perderam a confiança; muitos que são atingidos pela lepra do mal e do pecado, e esperam ser salvos. É a todos estes que se dirige o «feliz anúncio» do Evangelho, confiado à comunidade cristã. No limiar do terceiro milénio, a Igreja proclama com vigor que Cristo é o verdadeiro libertador do homem, Aquele que reconduz toda a humanidade ao abraço paterno e misericordioso de Deus.

2. «Sede fortes! Não tenhais medo! Olhai para o vosso Deus: Ele... vem para vos salvar» (
Is 35,4).

Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santa Júlia Billiart! Ao saudar-vos com grande afecto, faço minhas as palavras do profeta Isaías, há pouco proclamadas: «Sede fortes! Não tenhais medo... o Senhor vem para vos salvar!». Estas palavras constituem os bons votos que renovo a quantos Deus me concede encontrar em todas as partes do mundo. Elas compendiam aquilo que, nesta manhã, desejo repetir também a vós. A minha presença quer ser um convite à coragem, à perseverança em dar razão da esperança que a fé suscita em cada um de vós.

«Sede fortes!». Não tenhais medo diante das dificuldades que se encontram no anúncio do Evangelho. Sustentados pela graça do Senhor, não vos canseis de ser apóstolos de Cristo nesta nossa Cidade que, não obstante seja ameaçada pelos multíplices perigos da secularização, típicos das metrópoles, contudo conserva com firmeza as próprias raízes cristãs, das quais pode haurir a linfa espiritual para enfrentar os desafios do nosso tempo. Os frutos positivos que a Missão da Cidade está a dar, pelos quais estamos gratos ao Senhor, representam outros tantos estímulos encorajadores a continuar sem hesitar na obra da nova evangelização.

Com estes sentimentos, saúdo o Cardeal Vigário, o Mons. Vice-Gerente, o Pe. Adriano Graziani, dos Filhos de Maria Imaculada - Pavonianos - e os seus coirmãos, que com ele compartilham a responsabilidade na guia desta Comunidade. Depois, a minha cordial saudação dirige-se aos membros do Conselho pastoral e a todos os sócios dos grupos, associações e movimentos que trabalham nesta Paróquia. Dedico uma lembrança reconhecida também ao saudoso Pároco, Pe. Fortunato Dellandrea, que tanto amou esta Paróquia e muito se prodigalizou em vista da realização deste novo templo, onde agora nos encontramos. Juntamente com ele, queremos recordar todos os defuntos da Comunidade, os quais confiamos à misericórdia de Deus.

3. A vossa Comunidade nasceu em 1976, desmembrando-se do populoso território da Paróquia do Apóstolo São Barnabé, também ela confiada aos cuidados pastorais dos queridos Padres Pavonianos. Habitado sobretudo por pessoas que aqui chegaram nos anos 60, provenientes do Centro e do Sul da Itália, o bairro de «Torpignattara» conheceu momentos de grande expansão até quando, na última década, muitos jovens casados foram morar alhures.

Assim como noutras áreas da periferia, onde faltam adequados lugares de encontro, instrução e recreação, também aqui a Paróquia constitui de facto o único centro de agregação social. Por isso, justamente se pensou em enriquecê-la com uma nova e bela igreja, dotada de espaços destinados às actividades apostólicas e comunitárias.

Neste dia dedicado à colecta de ofertas para a construção de novas igrejas, dou graças a Deus pela obra de edificação de novos e indispensáveis centros de culto para a periferia da Cidade. Ao mesmo tempo, convido todos os fiéis a colaborarem com generosidade na importante obra eclesial denominada «50 igrejas para Roma 2000».

1222 Além disso, tanto aqui como em outros bairros, apresentam-se não poucas dificuldades quando se trata de educar para a fé as crianças, os adolescentes e os jovens. Sei também que a vossa Paróquia quis enfrentar este desafio mediante uma renovada pastoral familiar. Alegro-me convosco e exorto-vos a fazer progredir este projecto de apoio às famílias, de maneira especial às que estão em dificuldade, a fim de que as jovens gerações encontrem, precisamente no contexto de um ambiente familiar sadio, a ajuda para amadurecerem nas suas opções de fé e de vida cristã.

Não vos canseis de oferecer qualificados momentos de acolhimento e de formação aos jovens, de forma especial quando eles infelizmente não podem contar com o apoio das suas famílias. Nestes casos, a Comunidade paroquial é chamada a intervir através da contribuição de pessoas prontas a responderem aos seus interrogativos e a corresponderem às suas expectativas existenciais e religiosas.

4. «O Espírito do Senhor enviou-me para levar o feliz anúncio aos pobres».

Estas palavras da Aclamação ao Evangelho aplicam-se bem à atmosfera da Missão da Cidade, que entrou na sua última fase, durante a qual todos os cristãos são impelidos a levar o Evangelho aos vários ambientes da Cidade. Na terça-feira passada, solenidade da Imaculada Conceição, tornou-se pública a Carta que lhes enderecei. Nela, pus em evidência o facto de que «a qualidade do ambiente [em que se trabalha] depende antes de tudo das pessoas. Efectivamente, é o seu compromisso que pode torná-lo um lugar vital de colaboração, de comunhão e de relações caracterizadas pelo respeito e a estima recíprocos, pela colaboração e a solidariedade, pelo testemunho coerente com os valores morais da própria profissão. Como recorda a Escritura: "Irmão ofendido é pior que fortaleza" (
Pr 18,19)» (n. 6).

Confiando simbolicamente hoje de manhã esta minha Carta a vós, bem como a todas as paróquias de Roma, formulo votos de coração por que todos os cristãos sintam a urgência de transmitir aos outros, mas de forma especial aos jovens, os valores evangélicos que favorecem a instauração da «civilização do amor».

5. «Sede pacientes até à vinda do Senhor » (Jc 5,7). À mensagem de júbilo, típica deste Domingo «Gaudete», a Liturgia une o convite à paciência e à expectativa vigilante, em vista do já iminente advento do Salvador.

Nesta perspectiva, é necessário saber aceitar e enfrentar com ânimo feliz as dificuldades e as adversidades, esperando com paciência o Salvador que vem. O exemplo do agricultor, que a Carta de São Tiago nos propõe, é eloquente: Ele «espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a chuva do Outono e da Primavera». «Tende também vós paciência - continua o Apóstolo - fortalecei os corações, pois a vinda do Senhor está próxima» (5, 7-8).

Abramos o espírito a este convite; caminhemos com alegria rumo ao mistério do Natal. Maria, que esperou silenciosamente e na oração o nascimento do Redentor, ajude-nos a fazer do nosso coração uma morada para O acolher com dignidade.

Amém!





NA MISSA PARA OS UNIVERSITÁRIOS


EM PREPARAÇÃO PARA O NATAL


15 de Dezembro de 1998




1. «O Senhor está perto de quem O busca».

1223 As palavras do Salmo responsorial recordam o sentido do Advento e ressaltam a atitude que devemos assumir, para viver em plenitude este tempo litúrgico. O anúncio resulta particularmente significativo para aqueles que são levados, pela fé e pelo empenho profissional, a fazer da pesquisa uma dimensão importante da sua vida.

Hoje, este anúncio é dirigido de modo especial a vós, ilustres e caros representantes das Universidades de Roma e da Itália: reitores, professores e estudantes, sempre mais numerosos neste tradicional encontro do Advento em preparação para o santo Natal. A todos dirijo as minhas cordiais boas-vindas. Saúdo o Ministro da Universidade e da Investigação científica e as outras autoridades académicas; saúdo a representação de Directores administrativos que, pela primeira vez, vieram a este encontro. Agradeço ao Reitor Magnífico e à estudante que se fizeram porta-vozes, num certo sentido, da inteira comunidade académica romana e italiana.

2. O nosso encontro coloca-se no tempo litúrgico do Advento, que oferece mensagens sugestivas e profundas. Diante do Senhor já próximo - «Dominus prope!» (
Ph 4,5) - e do Rei a quem devemos adoração - «Regem venturum, Dominum, venite adoremus» (Do Breviário Romano) - não podemos deixar de ser interpelados pelas grandes questões da vida. Trata-se de interrogativos sempre actuais, que se referem à origem e ao fim do homem. São as perguntas feitas pelo próprio Concílio Vaticano II na Constituição «Gaudium et Spes». Elas acompanham-nos constantemente, ou melhor, poder-se-ia dizer que existem juntamente connosco. Quem sou? De onde venho e para onde vou? Qual é o sentido do meu existir e do meu ser uma criatura humana? Por que existe em mim esta perene «inquietude», como gostava de a chamar Santo Agostinho? Por que razões devo responder constantemente às exigências da moral, distinguir o bem do mal, fazer o bem e evitar e repelir o mal? São perguntas a que ninguém pode evadir. A elas oferece respostas exaurientes a Sagrada Escritura, a começar pelo Livro do Génesis. E estas respostas constituem, de algum modo, o conteúdo do Advento da Igreja, que actualiza o passado e nos projecta para o futuro.

«O Senhor está perto de quem O busca », diz a Liturgia hodierna, abrindo-nos perspectivas fascinantes: «Perto» e «distante » são, com efeito, categorias ligadas à distância que se pode medir no espaço, à distância que se pode medir em horas, anos, séculos, milénios. O contexto do Advento, porém, convida-nos a considerar sobretudo a dimensão espiritual e profunda dessa distância, isto é, a sua referência a Deus. O que é e como é possível perceber a proximidade ou o afastamento de Deus? Não é talvez no «coração inquieto» do homem que a dimensão espiritual da distância e da proximidade de Deus encontra a relevância mais sensível e adequada?

3. Pois bem, o homem é tudo isto: visibilidade e mistério, proximidade e afastamento de Deus, frágil posse e contínua pesquisa. Só aceitando estas íntimas coordenadas do ser humano, podemos compreender o Advento como tempo de espera do Messias.

Quem é o Messias, Redentor do mundo? Para que e em que consiste a Sua vinda? Mais uma vez, para entrarmos neste caminho, devemos fazer referência ao Livro do Génesis. Ele revela-nos que é o pecado e o seu ingresso na história a causa da distância entre o homem e Deus, da qual é símbolo eloquente a expulsão dos primeiros pais do paraíso terrestre.

Deus mesmo, em seguida, manifesta que o afastamento do homem por causa do pecado não é irrevogável. Antes, exorta a humanidade a esperar o Messias, Aquele que virá no poder do Espírito Santo, para Se confrontar com o mal, antes, com o príncipe da mentira. O Livro do Génesis anuncia de maneira expressa que este é o Filho da mulher, e convida a esperá-l'O e a preparar-se para O acolher dignamente. Esclarecendo e ampliando esse anúncio, os livros sucessivos da Antiga Aliança falam do Messias que nascerá no seio de Israel, o povo eleito por Deus entre todas as nações.

À medida que se aproxima a «plenitude dos tempos» (Ga 4,4), a expectativa está a realizar-se e compreendem-se sempre mais o seu sentido e valor. Com João Baptista, esta expectativa torna-se uma pergunta concreta, a que os discípulos do Precursor dirigem a Cristo: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro» (Lc 7,19)? Esta mesma pergunta ser-Lhe-á feita muitas vezes; sabemos que a resposta de Cristo foi a causa da Sua morte e crucifixão, mas indirectamente podemos dizer que ela foi a causa da Sua ressurreição, da manifestação plena da Sua messianidade. Eis aquilo a que se chama história da salvação. Deste modo admirável cumprir-se-á a promessa feita à humanidade depois do pecado original.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! O tempo do Advento é-nos dado para que possamos mais uma vez fazer nosso o conteúdo daquela pergunta: és Tu o Messias?, és Tu o Filho de Deus? Não se trata simplesmente de imitar os discípulos de João Baptista ou de repropor o passado; é preciso, ao contrário, viver intensamente os interrogativos e as esperanças dos nossos dias.

A experiência quotidiana e os eventos de cada época demonstram que a humanidade e cada pessoa individualmente estão em perene expectativa desta resposta de Cristo. Cristo avança na história, vem ao nosso encontro como o esperado cumprimento das vicissitudes dos homens. Só n'Ele, colmado o horizonte transitório do tempo e das realidades terrestres, às vezes maravilhosas e atraentes, encontraremos a resposta definitiva à pergunta sobre o advento do Messias que faz vibrar o espírito humano.

A espera de Cristo, também para nós, caros jovens estudantes e ilustres professores, deve traduzir-se em quotidiana busca da verdade, que ilumina as veredas da vida em cada uma das suas expressões. A verdade, depois, impele à caridade, testemunho autêntico que transforma a existência da pessoa e as próprias estruturas da sociedade.

1224 A revelação bíblica põe em clara evidência o nexo profundo e intrínseco que existe entre verdade e caridade, quando exorta a «praticar a verdade na caridade... » (Ep 4,15); e sobretudo quando Jesus, o revelador do Pai, afirma: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jn 14,6).

O vértice do conhecimento de Deus é alcançado no amor, que ilumina e transforma com a Verdade de Cristo o coração do homem. O homem tem necessidade de amor, precisa da verdade, para não dispersar o frágil tesouro da liberdade.

5. Na Universidade há um sinal vivo de Evangelho: a Capela. Vejo com satisfação que elas estão a multiplicar-se nos vários centros universitários da Cidade. A todas e a cada uma quero entregar nesta tarde a cruz da Missão da cidade. Caríssimos, amai as Capelanias universitárias, dai de bom grado a vossa colaboração para as obras pastorais, numerosas e importantes, que cada vez mais são promovidas.

Desejo aqui exprimir a minha viva satisfação a quantos entre os Professores estão a dedicar tempo e energias à preparação do Jubileu dos Professores Universitários e àqueles que estão a preparar de modo activo o Dia Mundial da Juventude do Ano 2000 depois daquele de Paris. Congratulo-me, depois, pelo desenvolver-se dos grupos culturais nas diversas Faculdades, e faço votos por que eles estejam ao serviço da Palavra que, semeada nos terrenos das mais audazes pesquisas, os torna fecundos de bem para o homem.

De igual modo, oro para que a iniciativa das catequeses sobre o Pai-Nosso na Universidade, que se está a intensificar neste ano de missão nos ambientes, ajude cada crente a aprofundar a consciência da chamada a ser fermento evangélico no interior do mundo universitário.

6. «Regem venturum, Dominum, venite adoremus»! O tempo do Advento, e de maneira especial a Novena do Natal que amanhã iniciaremos, estimula-nos a dirigir o olhar para o Senhor que vem. É precisamente na certeza do Seu retorno glorioso que encontram sentido a nossa expectativa e o nosso trabalho quotidiano. Ao olhar para Ele com a atitude interior de Maria, Virgem da escuta, assume vigor o nosso empenho às vezes árduo e fadigoso e torna-se fecunda a nossa operosa pesquisa. O Senhor está perto de quem O busca!, repete-nos a Liturgia nestes dias. Dirijamos o olhar para Ele e invoquemo-l'O:

Vinde, Senhor Jesus!
Vinde, Redentor do homem!
Vinde salvar-nos!
Dominus prope: o Senhor está perto
de quem O busca!
Vinde e adoremo-lO

Amém!




Homilias JOÃO PAULO II 1215