Homilias JOÃO PAULO II 1285


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA


Danzigue, 5 de Junho de 1999



1. «Persuadido disto, sei que ficarei e permanecerei convosco para vosso proveito e alegria da vossa fé, a fim de que a minha volta e a minha presença entre vós sejam motivo de vos glorificar de novo em Cristo Jesus» (Ph 1,25-26), diz o apóstolo Paulo na liturgia de hoje. É a Carta aos Filipenses, mas estas palavras ecoam de modo admirável aqui, nas pegadas de Adalberto. É como se não fosse Paulo quem fala aos Filipenses, mas Adalberto a nós, polacos.

1286 O eco desta voz ressoa incessantemente nesta terra onde o Padroeiro da Igreja de Danzigue sofreu a morte com o martírio. «Cristo era tudo para ele e a morte um lucro» (cf. Fl Ph 1,21). Chegou a Danzigue em 997, onde anunciou o Evangelho e administrou o santo baptismo. Cristo foi glorificado por Santo Adalberto mediante a sua vida fervorosa e uma heróica morte. Durante a minha precedente peregrinação a Gniezno, junto do túmulo de Santo Adalberto, eu disse que ele seguiu Cristo «como um servo fiel e generoso, dando testemunho d'Ele à custa da própria vida. E eis que o Pai o honrou. O Povo de Deus circundou-o na terra com a veneração que se reserva a um santo, na convicção de que um Mártir de Cristo no céu está rodeado da glória do Pai (...). A sua morte por martírio (...) encontra-se no fundamento da Igreja da Polónia, e num certo sentido, também do mesmo Estado nas terras dos Piast» (L'Osserv. Rom. , Rm 5). Dois anos depois da sua morte, a Igreja proclamou-o santo e eu hoje, enquanto celebro este Santíssimo Sacrifício comemoro o milénio da sua canonização.

2. Dou graças a Deus por ter vindo de novo até vós e pela comum celebração deste jubileu. É grande o dia que o Senhor, na sua bondade, nos concedeu. Sinto-me feliz porque tenho a oportunidade de visitar de novo a histórica e bonita cidade de Danzigue. Saúdo os seus habitantes e toda a Arquidiocese, bem como os habitantes de Sopot, de Gdynia e de outras cidades e aldeias. Saúdo o Arcebispo Tadeusz - Pastor desta Igreja, o Bispo Auxiliar, os sacerdotes, as pessoas consagradas e todos os participantes nesta Santíssima Eucaristia. Recordo com veneração os Bispos defuntos, D. Edmund Nowicki e D. Lech Kaczmarek, que desempenharam o seu ministério de pastores nesta Igreja de Danzigue em tempos difíceis. Recordo claramente o meu encontro de há doze anos com esta cidade e com os seus habitantes, sobretudo com os enfermos na basílica mariana e com o mundo do trabalho em Zaspa de Danzigue, e também com os jovens em Westerplatte, ou com os marítimos em Gdynia. Levo tudo isto no profundo do meu coração e na minha memória. Olhando duma perspectiva histórica, sente-se como aquele tempo era diferente! Outras experiências e outros desafios, se apresentavam naquele tempo à nação. Então eu falava a vós, mas também de certa forma em vosso nome. O presente é diverso e agradecemos a Deus por isso. Recordo aqueles momentos com comoção, consciente das grandes coisas que desde aquele tempo se realizaram na nossa Pátria. «Chegou o novo», chegou a esta terra, e Adalberto teve nele uma parte essencial.

O sangue por ele derramado produz sempre novos frutos espirituais. Ele é aquela semente evangélica que caiu na terra e morreu, e produziu uma abundante colheita em todas aquelas nações com as quais estava relacionada a sua missão. Aconteceu assim na Boémia, na Hungria, na Polónia dos Piast e também na Pomerânia, em Danzigue, aos povos que habitavam esta terra. Após mil anos que nos separam da sua morte no Báltico, damo-nos cada vez mais plenamente conta de que precisamente o sangue daquele mártir, derramado neste território há dez séculos, contribuiu de maneira essencial para a evangelização, para a fé, para uma nova vida. Como é grande hoje a nossa necessidade de seguir aquele exemplo da sua vida oferecida totalmente a Deus e à difusão do Evangelho! O seu testemunho de serviço e de fervor apostólico, está enraizado de modo profundo na fé e no amor a Cristo. Podemos dizer de Santo Adalberto com o Salmista: «A sua alma teve incessantemente sede de Deus, aspirava por Ele como terra deserta, árida, sem água» (cf. Sl Ps 62 [63], 2).

Obrigado, Santo Adalberto pelo exemplo de santidade, porque, com a tua vida, nos ensinastes o significado das palavras «para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro» (cf. Fl Ph 1,21). Agradecemos-te o milénio de fé e de vida cristã na Polónia, e também em toda a Europa central.

3. «Sede, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste» (Mt 5,48) - diz Cristo no Evangelho de hoje. Na vigília do Terceiro Milénio estas palavras escritas por S. Mateus, ecoam com um novo vigor. Resumem o ensinamento das oito bem-aventuranças, exprimindo simultaneamente toda a plenitude da vocação do homem. Ser perfeito à medida de Deus! Ser, como Deus, grande no amor porque Ele é amor e é Ele quem «faz que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair chuva sobre os justos e os pecadores» (Mt 5,45).

Tocamos aqui o mistério do homem criado à imagem e semelhança de Deus, e por isso capaz de amar e receber o dom do amor. Esta originária vocação do homem foi inscrita pelo Criador na natureza humana e é ela que faz com que cada homem procure o amor, mesmo se por vezes o faz escolhendo o mal do pecado, que se apresenta sob as aparências do bem. Procura o amor, porque no profundo do coração sabe que só o amor o pode tornar feliz. Contudo, muitas vezes o homem procura esta felicidade às apalpadelas. Procura-a nos prazeres, nos bens materiais e naquilo que é terreno e passageiro. «Abrir-se-ão os vossos olhos e tornar-vos-eis como Deus, conhecendo o bem e o mal» (cf. Gn Gn 3,5) - ouviu Adão no Paraíso. Disse-lhe isto o inimigo de Deus - satanás, no qual ele teve confiança. Contudo, como se manifestou dolorosa para o homem esta opção da busca da felicidade sem Deus! Como conheceu imediatamente as trevas do pecado e o drama da morte. De facto, todas as vezes que o homem se afasta de Deus, sente por conseguinte uma grande desilusão, acompanhada do medo. E acontece assim, porque como efeito do seu afastamento de Deus o homem permanece sozinho e começa a sentir a dolorosa solidão, sente-se perdido. Deste medo emerge contudo a busca do Criador, visto que nada pode satisfazer a fome de Deus enraizada no homem.

Queridos Irmãos e Irmãs, não vos deixeis «atemorizar em nada pelos adversários» - recorda-nos S. Paulo na primeira leitura. Não vos deixeis atemorizar por aqueles que indicam no pecado o caminho que conduz à felicidade. Estais «travando o mesmo combate que me vistes sustentar» (Ph 1,30) - acrescenta o Apóstolo das Nações, eis a luta contra os nossos pecados pessoais, e sobretudo os pecados contra o amor: eles podem assumir dimensões preocupantes na vida social. O homem nunca será feliz em desvantagem doutro homem, espezinhando a dignidade das pessoas e cultivando o egoísmo. A nossa felicidade é o irmão que nos foi dado e confiado por Deus, e através dele esta felicidade é Deus mesmo, Deus através do homem. De facto, «todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece-O, porque Deus é amor» (1Jn 4,7-8).

Digo isto na terra de Danzigue, que foi testemunha de combates dramáticos pela liberdade e pela identidade cristã dos polacos. Recordemos o mês de Setembro de 1939: a heróica defesa de Westerplatte e do Correio polaco em Danzigue. Recordemos os sacerdotes martirizados no campo de concentração na vizinha Stutthof, que a Igreja elevará à honra dos altares durante esta peregrinação, ou então os bosques de Piasnica, em Wejherowo, onde foram fuziladas milhares de pessoas. Tudo isto faz parte da história do povo desta terra e está inscrito no conjunto dos trágicos acontecimentos dos tempos de guerra. «Milhares foram vítimas das prisões, das torturas e de execuções capitais (...). Digno de admiração e de eterna recordação foi este impulso inigualável de toda a sociedade e de modo especial da geração jovem dos polacos em defesa da Pátria e dos seus valores essenciais» (L'Osserv. Rom. , Rm 8,2) - escrevi na Mensagem à Conferência Episcopal da Polónia por ocasião do 50° aniversário do início da segunda guerra mundial. Abracemos com a oração estas pessoas, recordando os seus sofrimentos, o seu sacrifício, e sobretudo a sua morte. Nem sequer nos é lícito esquecer a história mais recente, à qual pertence antes de mais o trágico Dezembro de 1970, quando os operários manifestaram nas estradas de Danzigue e de Gdynia, e depois o mês de Agosto de 1980, repleto de esperança, e por fim o dramático período do estado de guerra.

Há um lugar mais apropriado para falar disto, a não ser este, em Danzigue? Com efeito, nesta cidade, há dezanove anos surgiu «Solidarnosc». Foi um acontecimento que assinalou uma viragem na história da nossa nação e também na história da Europa. «Solidarnosc» abriu as portas à liberdade nos países tornados escravos pelo sistema totalitário, derrubou o muro de Berlim e contribuiu para a unidade da Europa dividida em dois blocos desde o tempo da segunda guerra mundial. Jamais devemos cancelar isto da nossa memória. Este evento faz parte do nosso património nacional. Então ouvi de vós em Danzigue: «Não há liberdade sem solidariedade». Hoje é o caso de dizer: «Não há solidariedade sem amor». Aliás, não há felicidade, não há futuro para o homem e para a nação sem amor, sem aquele amor que perdoa, apesar de não esquecer, que é sensível à desaventura do próximo, que não procura o próprio interesse, mas deseja o bem dos outros; o amor que está ao serviço, que se esquece de si e está disposto a doar com generosidade. Portanto, somos chamados a construir o futuro baseado no amor de Deus e do próximo, a fim de edificar a «civilização do amor». Hoje o mundo e a Polónia têm necessidade de homens com um coração generoso, que servem com humildade e amor, que bendizem e não maldizem, que conquistam a terra com a bênção. Não é possível construir o futuro sem se referir à fonte do amor que é Deus, o qual «amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jn 3,16).

Jesus Cristo é Aquele que revela o amor ao homem, mostrando-lhe ao mesmo tempo a sua suprema vocação. No Evangelho de hoje Ele indica com as palavras do sermão da montanha como é preciso realizar esta vocação: «Sede, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste».

4. Mas voltemos às palavras da hodierna liturgia. O Apóstolo Paulo escreve: «Procurai somente comportar-vos de maneira digna do Evangelho de Cristo, a fim de que, quer eu vá ter convosco, quer continue ausente, ouça dizer de vós que permaneceis firmes num só espírito, combatendo juntos pela fé do Evangelho» (Ph 1,27).

1287 É o apóstolo Paulo quem diz isto aos Filipenses e o mesmo nos diz Adalberto. Depois de dez séculos, estas palavras parecem repletas de maior eloquência. A uma distância de tempo tão grande volta até nós, volta este santo Bispo, o apóstolo da nossa terra, para examinar, verificar num certo sentido se perseveramos na fidelidade ao Evangelho. A nossa presença litúrgica sobre os seus percursos deve ser a resposta. Queremos garantir-lhe que sim, perseveramos e desejamos continuar a fazê-lo. Ele preparou os nossos antepassados para entrar no segundo milénio, com uma perspectiva clarividente. Hoje nós, aqui, respondendo a estas palavras, preparamo-nos todos juntos para entrar no Terceiro Milénio. Queremos entrar nele com Deus, como um povo que depositou a confiança no amor e que amou a verdade. Como um povo que deseja viver em espírito de verdade, porque só a verdade nos pode tornar felizes. Cantemos o Te Deum, glorificando Deus Pai, Filho e Espírito Santo, Deus Criador e Redentor por tudo o que realizou nesta terra por meio do seu servo, o Bispo Adalberto. E pedindo ao mesmo tempo: Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic haereditati tuae.

Muito mudou e está a mudar na terra polaca. Passam os séculos, e a Polónia cresce entre mutáveis destinos, como um grande sobreiro da história, com raízes sadias. Demos graças à Divina Providência porque abençoou o milenário processo deste crescimento com a presença de Santo Adalberto e com a sua morte por martírio no Báltico. É uma grande herança, com a qual caminhamos rumo ao futuro. Que por obra de Santo Adalberto e de todos os Padroeiros polacos reunidos em redor da Mãe de Deus os frutos da redenção permaneçam e se consolidem entre as gerações que virão. Que os homens do Terceiro Milénio assumam a missão transmitida outrora, há mil anos, por Santo Adalberto e por sua vez a transmitam às novas gerações.

Eis que o grão que caiu na terra, nesta terra, produziu o cêntuplo do fruto.

Amém!



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA


Pelplin, 6 de Junho de 1999

1. «Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11,28). Esta bênção de Cristo acompanha hoje o nosso caminho através da terra polaca. Pronuncio-a com alegria em Pelplin, saudando todos os fiéis desta Igreja, juntamente com D. Jan Bernard, a quem agradeço as palavras de boas-vindas. Saúdo também D. Pedro, todos os Cardeais, Arcebispos e Bispos polacos aqui reunidos, tendo à frente o Senhor Cardeal Primaz, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e todos vós, dilectos Irmãos e Irmãs. «Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática». Esta bênção esteja convosco!


2. Durante mais de mil anos, através destas terras passaram muitos homens que escutavam a palavra de Deus. Acolhiam-na dos lábios daqueles que a anunciavam. Receberam-na em primeiro lugar dos lábios do grande missionário destas terras, Santo Adalberto e foram testemunhas do seu martírio. As gerações sucessivas cresceram nesta sementeira, graças ao ministério de outros missionários - bispos, presbíteros e religiosos: as fileiras dos apóstolos da palavra de Deus. Alguns confirmaram com o martírio a mensagem do Evangelho; outros, mediante o lento consumar-se no cansaço apostólico, segundo o espírito do ora et labora - reza e trabalha - beneditino. A palavra anunciada adquiria uma particular força como palavra confirmada com o testemunho da vida.

É longa nesta terra a tradição da escuta da palavra de Deus; é longa a tradição do testemunho que se deu do Verbo, que em Cristo se fez Homem. Ela continua nos séculos. Esta tradição inscreve-se também no nosso século. Um eloquente e trágico símbolo desta continuidade foi o chamado «Outono de Pelplin», cujo 60º aniversário é celebrado neste ano. Nessa época, 24 corajosos sacerdotes, professores do seminário maior, que trabalhavam na cúria episcopal, testificaram a sua fidelidade ao serviço do Evangelho com o sacrifício do sofrimento e da morte. Durante o período da ocupação foram erradicados desta terra de Pelplin 303 pastores que, à custa da própria vida, transmitiram com heroísmo a mensagem da esperança no dramático período da guerra e da ocupação. Se hoje recordamos estes sacerdotes mártires é porque foi dos seus lábios que a nossa geração escutou a palavra de Deus e graças ao seu testemunho experimentou e experimenta o poder da mesma.

É necessário recordar esta histórica sementeira da palavra e do testemunho, especialmente agora, enquanto nos aproximamos do fim do segundo milénio. Esta plurissecular tradição não pode interromper-se no terceiro milénio. Sim, considerando os novos desafios que se apresentam ao homem de hoje e a inteiras sociedades, devemos continuamente renovar em nós mesmos a consciência daquela que é a palavra de Deus, qual é a sua importância na vida do cristão, naquela da Igreja e de toda a humanidade. Qual é o seu poder!

3. Que diz Cristo a este propósito na página do Evangelho hodierno? Terminando o sermão da montanha, disse: «Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas esta não caiu, porque fora construída sobre a rocha» (Mt 7,24-25). O contrário daquele que edificou sobre a rocha é o homem que construiu na areia. A sua casa demonstrou-se pouco resistente. Diante das provas e das dificuldades, ruiu. É isto que Cristo nos ensina.

Uma casa construída na rocha. O edifício da vida. Como o construir a fim de que não caia sob a pressão das vicissitudes deste mundo? Como construir este edifício para que, de «habitação na terra», se torne «habitação recebida de Deus, uma casa eterna nos céus, não construída pelas mãos do homem» (cf. 2Co 5,1)? Hoje escutamos a resposta a estes interrogativos essenciais da fé: na base da construção cristã existe a escuta e a prática da palavra de Cristo. E quando dizemos «a palavra de Cristo», temos em mente não só o seu ensinamento, as parábolas e as promessas, mas também as suas obras, os sinais e os milagres. E sobretudo a sua morte, a ressurreição e a descida do Espírito Santo. Mais ainda: temos em mente o Filho de Deus mesmo, o eterno Verbo do Pai no mistério da encarnação. «E a Palavra fez-Se homem e habitou entre nós. E nós contemplámos a sua glória: glória do único Filho do Pai, cheio de amor e fidelidade» (Jn 1,14).

1288 É com este Verbo - Cristo vivo, ressuscitado - que Santo Adalberto chegou à terra polaca. Durante séculos vieram com Cristo também outros arautos que Lhe deram testemunho. Por Ele entregaram a vida as testemunhas dos nossos tempos, membros do clero e leigos. O seu serviço e sacrifício tornaram-se para as gerações sucessivas o sinal de que nada pode destruir uma construção cujo fundamento é Cristo. Eles caminharam através dos séculos, repetindo com São Paulo: «Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (...) Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou» (Rm 8,35 Rm 8,37).

4. «Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática». Se no limiar do terceiro milénio nos perguntarmos como serão os tempos vindouros, não podemos simultaneamente evitar o interrogativo acerca do fundamento que colocamos debaixo desta construção, que será continuada pelas gerações futuras. É preciso que a nossa geração seja uma prudente edificadora do futuro. Construtor prudente é aquele que escuta a palavra de Cristo e a põe em prática.

Desde o dia do Pentecostes a Igreja conserva estas palavras de Cristo como o tesouro mais precioso. Anotadas nas páginas do Evangelho, elas chegaram até aos nossos dias. Hoje cabe a nós a responsabilidade de as transmitir às gerações futuras, não como letra morta, mas como manancial de conhecimento da verdade sobre Deus e sobre o homem - fonte de uma sabedoria genuína. Neste contexto, adquire uma particular actualidade a exortação conciliar, dirigida a todos os fiéis, «a aprender 'a sublime ciência de Cristo' (Ph 3,8) com a frequente leitura das Sagradas Escrituras.

'Na verdade, o desconhecimento das Escrituras é o desconhecimento de Cristo' (São Jerónimo)» (Dei Verbum DV 25). Por isso, enquanto durante a liturgia tomo nas mãos o livro do Evangelho e em sinal de bênção o elevo acima da assembleia e sobre toda a Igreja, faço-o com a esperança de que este continue a ser o Livro da vida de todos os fiéis, de cada família e de todas as sociedades. Com a mesma esperança peço-vos hoje: entrai no novo Milénio com o Livro do Evangelho! Ele não falte em nenhum lar polaco! Lede-o e meditai-o! Deixai Cristo falar! «Oxalá escuteis hoje o que Ele diz: 'Não endureçais os vossos corações...'» (cf. Sl Ps 95 [94], 7-8).

5. Durante vinte séculos, a Igreja debruçou-se sobre as páginas do Evangelho para ler da forma mais correcta possível aquilo que Deus quis ali revelar. Ela compreendeu os mais profundos conteúdos das palavras e dos eventos, formulou as verdades, declarando que essas são rectas e salvíficas. Os santos puseram-nas em prática e compartilharam a própria experiência do encontro com a palavra de Cristo. É deste modo que se desenvolveu a Tradição da Igreja, fundada no mesmo testemunho dos Apóstolos. Se hoje interpelamos o Evangelho, não podemos separá-lo deste património secular e desta Tradição.

Falo disto porque existe a tentação de interpretar a Sagrada Escritura separadamente da Tradição plurissecular da fé da Igreja, aplicando chaves interpretativas que são próprias da literatura contemporânea ou do publicismo. Isto gera o perigo das simplificações, da falsificação da verdade revelada e até mesmo da sua adaptação às necessidades de uma filosofia individual da vida ou ainda da ideologia, aceites a priori. Já o Apóstolo São Pedro se opunha às tentativas deste género, escrevendo: «Antes de mais nada, sabei que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação particular» (2P 1,20). Depois, «o múnus de interpretar autenticamente a palavra de Deus (...) foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo» (Dei Verbum DV 10).

Sinto-me feliz por que a Igreja que está na Polónia ajuda com eficácia os fiéis no conhecimento dos conteúdos da Revelação. Bem sei como é grande a importância que os pastores atribuem à liturgia da palavra durante a Santa Missa e à catequese. Dou graças a Deus, porque nas paróquias e no âmbito das comunidades e dos movimentos eclesiais nascem continuamente e se desenvolvem círculos bíblicos e grupos de debate. Todavia, é necessário que aqueles que assumem a responsabilidade de uma autorizada exposição da Verdade revelada não confiem na própria intuição, muitas vezes falível, mas num saber sólido e numa fé inflexível.

Como deixar de expressar aqui a gratidão por todos os pastores que, com dedicação e humildade, realizam o serviço do anúncio da palavra de Deus! Como não mencionar toda a inumerável plêiade de bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas e catequistas leigos que, com fervor e não raro apesar das dificuldades, se dedicam a esta missão profética da Igreja? Como deixar de dizer obrigado aos exegetas e aos teólogos que, com um interesse digno de admiração, perscrutam as fontes da Revelação, oferecendo aos pastores uma ajuda competente? Dilectos Irmãos e Irmãs, o bom Deus recompense com a sua bênção o vosso trabalho apostólico! «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa notícia, que anuncia a salvação!» (Is 52,7).

6. Bem-aventurados são também aqueles que, com o coração aberto, usufruem de tal serviço. São deveras «felizes aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática». De facto, eles experimentam esta graça especial em virtude da qual a semente da palavra de Deus não cai no meio dos espinhos, mas na terra fértil, e dá frutos abundantes. É precisamente esta acção do Espírito Santo, consolador, defensor e socorredor que sensibiliza os corações e os orienta para Deus, que abre os olhos da mente e concede «a todos a suavidade no aderir e dar crédito à verdade» (cf. Dei Verbum DV 5). Eles são felizes porque, discernindo e cumprindo a vontade do Pai, encontram incessantemente o sólido fundamento para a construção da própria vida.

Àqueles que atravessarão o limiar do terceiro milénio, queremos dizer: edificai a casa sobre a rocha! Construí na rocha a casa da vossa vida pessoal e social! E a rocha é Cristo - Cristo vivo na sua Igreja. Cristo que perdura nesta terra desde há mil anos. Chegou até vós através do ministério de Santo Adalberto. Cresceu no fundamento do seu martírio e persevera. A Igreja é Cristo vivo em todos nós. Cristo é a videira e nós somos os ramos. Ele é a base e nós somos as pedras vivas.

7. «Senhor, fica connosco!» (cf. Lc Lc 24,29), disseram os discípulos que encontraram Cristo ressuscitado ao longo do caminho de Emaús, e «o coração deles estava a arder, enquanto Ele lhes falava e explicava as Escrituras» (cf. Lc Lc 24,32). Hoje queremos repetir as palavras dos discípulos: «Senhor, ficai connosco!». Encontramo-vos ao longo do caminho da nossa história. Encontraram-vos os nossos antepassados, de geração em geração. Vós os confirmastes com a vossa palavra, mediante a vida e o ministério da Igreja.

1289 Senhor, ficai com aqueles que vierem depois de nós! Desejamos que estejais com eles da mesma forma que estivestes connosco. É isto que queremos e que vos imploramos.

Ficai connosco, quando cair a noite! Ficai connosco, enquanto o tempo da nossa história está prestes a chegar ao termo do segundo milénio.

Ficai connosco e ajudai-nos a caminhar sempre ao longo da senda que leva à Casa do Pai.

Ficai connosco na vossa palavra - naquela palavra que se torna sacramento: a Eucaristia da vossa presença.

Queremos escutar a vossa palavra e cumpri-la.

Desejamos viver na bênção.

Queremos ser felizes por «ouvir a palavra de Deus e a pôr em prática».



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA



NO ENCONTRO DE ORAÇÃO


PARA O ACTO DE DEVOÇÃO


AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


Elblag, 6 de Junho de 1999



1. «Ao teu coração prestamos honra, ó Jesus nosso, ó Jesus...».

Dou graças à Divina Providência, por poder juntamente convosco, aqui presentes, prestar louvor e glória ao Santíssimo Coração de Jesus, no qual se manifestou do modo mais completo o amor paterno de Deus. Sinto-me feliz porque a pia prática de recitar ou cantar todos os dias, no mês de Junho, as Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus, é tão viva e persevera sempre na Polónia.

Saúdo quantos estão presentes hoje nesta função, nesta tarde de domingo. Saúdo de modo especial o Bispo Andrzej, Pastor desta Diocese, o Bispo Auxiliar e todo o Episcopado polaco juntamente com o Cardeal Primaz que celebrou a hodierna função, saúdo os sacerdotes, as pessoas consagradas e todo o Povo de Deus da Diocese de Elblag. Dirijo cordiais boas-vindas aos peregrinos da Rússia, do distrito de Caliningrado, que vieram aqui com o seu Arcebispo, D. Tadeusz. Saùdo também os fiéis da Igreja Greco-Católica. Saúdo toda a jovem Igreja de Elblag, particularmente unida à figura de Santo Adalberto. Não distante daqui - segundo a tradição - ele deu a vida por Cristo, em Swiety Gaj. No decurso da história, a morte deste mártir produziu nesta terra frutos abundantes de santidade. Quero recordar, neste lugar, a beata Dorota de Matowy, esposa e mãe de nove filhos, e também a serva de Deus Rainha Protmann, fundadora da Congregação das Irmãs de Santa Catarina, que - se Deus quiser - a Igreja elevará à glória dos altares durante esta peregrinação, através do meu ministério em Varsóvia. Será inserido no álbum dos beatos também um filho desta terra, Pe. Wiadyslaw Demski, que deu a vida no campo de concentração de Sachsenhausen, defendendo publicamente a cruz ultrajada de maneira sacrílega pelos carnífices. Vós recebestes esta magnífica herança espiritual e é necessário que a tuteleis, a desenvolvais e construais o futuro desta terra e da Igreja de Elblag, sob a base firme da fé e da vida religiosa.

1290 2. «Coração de Jesus, fonte de vida e de santidade, tem piedade de nós».

Invocamo-lo assim nas Ladainhas. Tudo o que Deus nos queria dizer de si e do seu amor, depositou-o no Coração de Jesus e mediante este Coração exprimiu-o. Encontramo-nos perante um mistério inescrutável. Através do Coração de Jesus lemos o eterno plano divino da salvação do mundo. E é um projecto de amor. As Ladainhas que cantámos de maneira admirável contêm toda esta verdade.

Reunimo-nos hoje aqui para contemplar o amor do Senhor Jesus, a sua bondade que se compadece de cada homem, e para contemplar o seu Coração fervoroso de amor pelo Pai, na plenitude do Espírito Santo. Cristo que nos ama, mostra-nos o seu Coração como fonte de vida e de santidade, como fonte da nossa redenção. Para compreender de modo mais profundo esta invocação, talvez seja preciso retornar ao encontro de Jesus com a Samaritana, na pequena cidade de Sicar, à beira do poço, que se encontrava ali desde os tempos do Patriarca Jacob. Tinha ido ali para tirar água. Então Jesus disse-lhe: «Dá-Me de beber», e ela respondeu-lhe: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?». O evangelista acrescenta então que os Judeus não se davam com os samaritanos. E Jesus respondeu-lhe: «Se conhecesses o dom de Deus e Quem é Aquele que te diz: 'Dá-Me de beber', tu é que lhe terias pedido, e Ele dar-te-ia uma água viva (...) a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente de água a jorrar para a vida eterna» (cf. Jo
Jn 4,1-14). Palavras misteriosas.

Jesus é fonte; n'Ele tem início a vida divina no homem. É preciso apenas aproximar-se d'Ele, permanecer n'Ele, para ter esta vida. E o que é esta vida a não ser o início da santidade do homem? Da santidade que está em Deus e que o homem pode alcançar com a ajuda da graça? Todos desejamos beber do Coração Divino, que é fonte de vida e de santidade.

3. «Felizes os que observam os preceitos, os que em todo o tempo fazem o bem!» (Sl 105[106], 3).

Irmãos e Irmãs, a meditação do amor de Deus, que se revelou no Coração do seu Filho, exige do homem uma resposta coerente. Não fomos chamados apenas a contemplar o mistério do amor de Cristo, mas a participar nele. Cristo diz: «Se Me amardes, guardareis os mandamentos» (Jn 14,15). Desta forma, Ele faz-nos uma grande chamada e ao mesmo tempo põe-nos uma condição: se Me queres amar, guarda os Meus mandamentos, observa a santa lei de Deus, segue as veredas que Deus te indicou e que Eu te indiquei com o exemplo da minha vida.

É vontade de Deus que observemos os mandamentos, isto é, a lei de Deus dada no Monte Sinai a Israel, por meio de Moisés. Dada a todos os homens. Conhecemos estes mandamentos. Muitos de vós repetem-nos todos os dias na oração. É um costume muito bonito e devoto. Repitamo-los como estão escritos no Livro do Êxodo, para confirmar e renovar o que recordamos.

«Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egipto, de uma casa de escravidão. Não terás outro Deus além de Mim.
Não pronunciarás em vão o nome do Senhor, teu Deus.
Recorda-te do dia de sábado, para o santificar.
Honra o teu pai e a tua mãe, para que os teus dias se prolonguem na terra que o Senhor, teu Deus, te dará.
Não matarás.
1291 Não cometerás adultério.
Não roubarás.
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo.
Não cobiçarás a mulher do teu próximo» (cf. 20, 2-17).

Eis o fundamento da moral dada ao homem pelo Criador: o Decálogo, as dez palavras de Deus pronunciadas com firmeza no Monte Sinai e confirmadas por Cristo no sermão da montanha, no contexto das oito bem-aventuranças. O Criador, que é ao mesmo tempo o legislador, inscreveu no coração do homem toda a ordem da verdade. Esta ordem condiciona o bem e a ordem moral e constitui a base da dignidade do homem criado à imagem de Deus. Os mandamentos foram dados para o bem do homem, para o seu bem pessoal, familiar e social. Para o homem, eles são verdadeiramente a via. Apenas a ordem material não basta. Precisa ser completada e enriquecida pela sobrenatural. Graças a ela, a vida adquire um novo sentido e o homem torna-se melhor. Com efeito, a vida tem necessidade de forças e de valores divinos, sobrenaturais, e então adquire o pleno esplendor.

Cristo confirmou esta lei na Antiga Aliança. No sermão da montanha falava com clareza àqueles que o escutavam: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas: não vim revogá-la, mas completá-la» (
Mt 5,17). Cristo veio para completar a Lei, antes de mais para colmar o seu conteúdo e o seu significado, e para mostrar desta forma o pleno sentido e toda a sua profundidade: a lei é perfeita quando está repleta do amor de Deus e do próximo. É o amor que decide da perfeição moral do homem, da sua semelhança com Deus. «Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, - diz Cristo - esse é que Me ama, e aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele» (Jn 14,21). A hodierna função litúrgica dedicada ao Santíssimo Coração de Jesus recorda-nos este amor de Deus, intensamente desejado pelo homem, e indica que uma concreta resposta a este amor é a observância na vida quotidiana dos mandamentos de Deus. Deus quis que eles nã se ofuscassem na memória, mas permanecessem impressos para sempre nas consciências dos homens, para que o homem conhecendo e guardando os mandamentos, «tenha a vida eterna».

4. «Bem-aventurados os que praticam a Lei».

O Salmista chama deste modo aquele que caminha pela via dos mandamentos e os guarda até ao fim (cf. Sl 118[119], 32-33). De facto, guardar a lei divina é a base para obter o dom da vida eterna, ou seja, da felicidade que jamais tem fim. Ao jovem rico que perguntava: «Mestre, que hei-de fazer de bom para alcançar a vida eterna? (Mt 19,16), Jesus respondeu: «Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos» (Mt 19,17). Esta chamada por parte de Cristo é particularmente actual na realidade de hoje, na qual muitos vivem como se Deus não existisse. A tentação de organizar o mundo e a própria vida sem Deus ou contra Deus, sem os seus mandamentos e sem o Evangelho, existe e ameaça também a nós. A vida humana e o mundo construídos sem Deus, no fim voltar-se-ão contra o homem. Disto tivemos numerosas provas neste século XX que está a terminar. Transgredir os mandamentos divinos, abandonar o caminho traçado por Deus, significa cair na escravidão do pecado, e «o salário do pecado é a morte» (Rm 6,23).

Encontramo-nos perante a realidade do pecado. Ele é ofensa a Deus, é uma desobediência a Deus, à sua lei, à norma moral, que Deus deu ao homem, inscrevendo-a no coração humano, confirmando-a e aperfeiçoando-a mediante a Revelação. O pecado contrapõe-se ao amor de Deus por nós e afasta d'Ele os nossos corações. O pecado é «o amor por si vivido até ao desprezo de Deus», como diz S. Agostinho (De Civitate Dei, 14, 28). O pecado é um grande mal em toda a sua múltipla dimensão. Começando pelo original, através de todos os pecados pessoais de cada homem, dos pecados sociais, dos pecados que pesam na história da humanidade inteira.

Devemos estar sempre conscientes deste grande mal, devemos adquirir constantemente a subtil sensibilidade e o claro conhecimento do estímulo de morte contido no pecado. Ele tem a sua origem na consciência moral do homem, está relacionado com o conhecimento de Deus, com o sentido da união com o Criador, Senhor e Pai. Quanto mais profunda é esta consciência de união com Deus, reforçada pela vida sacramental do homem e pela oração sincera, mais claro é o sentido do pecado. A realidade de Deus revela e ilumina o mistério do homem. Fazemos de tudo para tornar sensíveis as nossas consciências, e preservá-las da deformação ou da insensibilidade.

1292 Vejamos quais são as grandes tarefas que Deus nos confia. Devemos formar em nós um verdadeiro homem à imagem e semelhança de Deus. Um homem que ama a lei de Deus e quer viver de acordo com ela. O Salmista que brada: «Tende piedade de mim, Senhor, segundo a Vossa misericórdia, segundo a Vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados. Lavai-me totalmente das minhas iniquidades, purificai-me dos meus delitos» (Sl 50[51], 3-4), não é para nós um comovedor exemplo dum homem que se apresenta arrependido diante de Deus, que deseja a metanoia do próprio coração, para se tornar uma nova criactura, diferente, transformada pelo poder de Deus?

Apresenta-se diante de nós Santo Adalberto. Sentimos aqui a sua presença, porque nesta terra ele deu a sua vida por Cristo. Há mil anos que ele nos diz, com o testemunho do martírio, que a santidade se alcança mediante o sacrifício, que aqui não há espaço para qualquer compromisso, que é preciso ser fiéis até ao fim, que é necessário ter a coragem de proteger a imagem de Deus na própria alma, até ao preço supremo. A sua morte de mártir chama os homens para que, morrendo para o mal e para o pecado, deixem nascer neles um homem novo, um homem de Deus, que guarda os mandamentos do Senhor.

5. Queridos Irmãos e Irmãs, contemplemos o Sagrado Coração de Jesus, que é fonte de vida, porque por seu intermédio se realizou a vitória sobre a morte. Ele é também fonte de santidade, porque nele é derrotado o pecado, que é inimigo da santidade, inimigo do progresso espiritual do homem. No Coração do Senhor Jesus, tem início a santidade de cada um de nós. Aprendamos deste coração o amor a Deus e a compreensão do mistério do pecado - mysterium iniquitatis.

Façamos actos reparadores ao Divino Coração pelos pecados cometidos por nós e pelo nosso próximo. Reparemos pela recusa da bondade e do amor de Deus.

Aproximemo-nos todos os dias desta fonte de água viva. Invoquemos com a mulher samaritana: «dai-nos desta água», porque ela dá a vida eterna.

Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,
Coração de Jesus, fonte de vida e de santidade,
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados - tende piedade de nós. Amém.



Homilias JOÃO PAULO II 1285