Homilias JOÃO PAULO II 1348

1348 Penso depois, com reconhecimento, nos Padres Marianistas, que nos recebem para esta Celebração. Já há longo tempo, eles acolhem a casa prefabricada das obras paroquiais nos terrenos que pertencem à sua Congregação. Um agradecimento sentido dirige-se também às Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia que, desde a fundação da Paróquia, com generosidade puseram à disposição a sua igreja, assegurando o serviço da sacristia e numerosas outras formas de colaboração.

Caros Religiosos e Religiosas, obrigado pela vossa disponibilidade em relação às necessidades pastorais da Paróquia. Formulo ardentes votos por que esta fecunda cooperação prossiga e se aprofunde sempre mais, não só aqui mas em toda a parte. Com efeito, o desafio da nova evangelização concerne às diversas componentes do Povo de Deus e pede que cada um ponha à disposição os próprios recursos, para melhor servir o Evangelho. Desse modo, os Sacerdotes diocesanos e religiosos, as Comunidades paroquiais e as Famílias religiosas masculinas ou femininas, trabalham juntos embora no respeito pelas legítimas autonomias, para anunciar e testemunhar Cristo, único Redentor da humanidade. Nesta estrada caminhou até agora a vossa Paróquia; encorajo-vos a prosseguir nela com confiança e generosidade.

Depois dos primeiros e difíceis anos da fundação, a vossa Paróquia, de facto, percorreu um intenso caminho comunitário, alcançando um bom nível de estruturação e organização pastoral. Ainda que seja desprovida de um verdadeiro e próprio centro para as obras paroquiais, ela foi capaz de oferecer aos habitantes do território um percurso continuado de catequese e de formação para a vida cristã, assim como um concreto testemunho de caridade evangélica. Ide avante!

Enquanto de coração formulo votos por que possais quanto antes obter um terreno para construir um adequado lugar de culto, convido-vos a valorizar a experiência maturada nestes anos. Na vossa acção apostólica, não vos contenteis com vos dirigir a quantos já frequentam ou têm contactos, ainda que esporádicos, com a fé cristã. Ide em busca de todas as pessoas e anunciai a todos o Evangelho, lá onde o povo vive, trabalha, sofre ou transcorre o tempo livre.

4. Eis a missão a que fomos chamados especialmente em vista do Ano jubilar, que terá início dentro de poucos meses com a abertura da Porta Santa. Sirva-vos de exemplo a vossa celeste Padroeira, Santa Catarina que, humilde e intrépida terciária dominicana, se despendeu pela Igreja sem poupar energias. Esta grande Santa seja para todos, além de particular Protectora, modelo a seguir no caminho da santidade.

Segui-a, caros jovens, que estais a preparar-vos para o Dia Mundial da Juventude. A esse respeito, recordo o que escrevi na Mensagem para esse Dia: "Tende a santa ambição de ser santos, como Ele é santo!" (em L'Osservatore Romano, ed. port. de 10/7/99, pág. 5, n. 3). Catarina de Sena exprime, de maneira admirável, a síntese entre contemplação e acção para a qual deveis tender, a fim de serdes os apóstolos do novo milénio.

Roma prepara-se para celebrar o Congresso Eucarístico Internacional: possa o amor pela Eucaristia, que Santa Catarina nutriu, ser fonte de inspiração para todo o crente, a fim de que não diminua o entusiasmo do amor a Deus e ao próximo, de modo especial o mais necessitado. Para Santa Catarina de Sena olhai especialmente vós, mulheres desta Comunidade: o típico génio feminino, que a tornou intrépida e corajosa, vos incentive a ser fortes, construtivas e criativas no amor a Deus e no cuidado dos irmãos.

5. "Tudo posso n'Aquele que me dá força" (
Ph 4,13). Com estas palavras São Paulo exprime o sentido profundo da sua vida missionária. É esta também a síntese da experiência espiritual de Santa Catarina de Sena e de todo o fiel servidor do Evangelho. Os meus votos são por que também a vossa Comunidade possa repetir, com o apóstolo Paulo e com os verdadeiros discípulos de Cristo: "Tudo posso n'Aquele que me dá força"!

Peçamos ao Senhor, com as palavras da Colecta deste dia, que preceda e acompanhe sempre com a sua graça, o nosso caminho pessoal e comunitário a fim de que, sustentados pela sua ajuda paterna e pela materna intercessão de Maria, Mãe da Igreja, jamais nos cansemos de fazer o bem. Amém!





NA MISSA DE ABERTURA DO ANO ACADÉMICO DAS UNIVERSIDADES ECLESIÁSTICAS ROMANAS


15 de Outubro de 1999

1. "Abraão creu em Deus e isso foi-lhe tido de justiça" (Rm 4,3). As palavras do apóstolo Paulo, que há pouco ressoaram nesta Basílica, introduzem-nos no coração da hodierna Liturgia de inauguração do Ano académico 1999-2000.


1349 Com grande afecto saúdo o Senhor Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica. Saúdo-vos, caros Reitores, Professores e Alunos, que quisestes participar nesta solene Celebração eucarística. A todos desejo um frutuoso ano escolar. Este será um ano particular, pois coincide com o Grande Jubileu do Ano 2000. Possa este tempo de alegria ser para vós ocasião propícia não só para aprofundar o conhecimento teológico, mas sobretudo para crescer na fé em Jesus Cristo.

2. Desta fé fala o Apóstolo, ao apresentar o exemplo de Abraão, pai dos crentes. Ele ilustra um ponto fundamental da sua pregação apostólica: a fé como fundamento da justificação. O homem é justificado diante de Deus mediante a fé. A justiça que salva o homem não deriva das obras da lei, mas da fé, isto é, da atitude de total abertura e pleno acolhimento em relação à graça de Deus, que transforma o ser humano e o torna nova criatura.

O acto de fé não é simplesmente adesão do intelecto às verdades reveladas por Deus, nem sequer apenas atitude de entrega confiante à acção de Deus. É sobretudo a síntese destes elementos, pondo-se como acto integral da pessoa humana.

Estas reflexões sobre a natureza da fé têm consequências no modo de elaborar, ensinar e aprender a teologia. Se, com efeito, o acto de fé que conduz à justificação do homem envolve a pessoa no seu todo, também a reflexão teológica sobre a Revelação divina e sobre a resposta humana não pode deixar de ter na devida consideração os múltiplos aspectos - intelectual, afectivo, moral e espiritual - que intervêm na relação de comunhão entre o Criador e a criatura.

3. "Confessei-Vos o meu pecado" (
Ps 31,5). O Salmo responsorial que juntos repetimos, sublinha a consciência quer da impossibilidade de alcançar a Deus, só com as nossas forças, quer da nossa condição de pecadores. É a partir da tomada de consciência do próprio e original afastamento de Deus, que a pessoa humana se põe à procura do encontro com Ele e se abre à acção da graça.
Através da fé, o homem acolhe a salvação que o Pai lhe oferece em Jesus Cristo. Verdadeiramente feliz é o homem ao qual o Senhor dá a salvação (cf. Refrão ao Salmo resp.); o coração de quem está em paz com Deus transborda de alegria. "Ó justos, alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor; exultai vós todos, os rectos de coração" (Ps 31,11).

A esta sincera confissão dos próprios pecados e à necessidade de se abrir à acção de Deus faz referência a primeira parte do hodierno trecho evangélico. A dureza em não reconhecer as próprias culpas e a incapacidade de acolher o dom de Deus, são definidas por Jesus "fermento dos fariseus": "Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia" (Lc 12,1). Com estas palavras Jesus estigmatiza não só a atitude de falsidade e a busca das aparências, mas a presunção de ser justo em si mesmo, que impede toda a possibilidade de autêntica conversão e de fé em Deus.

O acto de fé, considerado na sua integridade, deve necessariamente traduzir-se em atitudes e decisões concretas. Desse modo, torna-se possível superar a aparente contraposição entre a fé e as obras. Uma fé entendida em sentido pleno não permanece um elemento abstracto, desligado da vida de cada dia, mas envolve todas as dimensões da pessoa, incluindo os âmbitos existenciais e os aspectos de experiência da sua existência.

Exemplo eloquente desta síntese entre fé e obras, contemplação e acção é a Santa carmelitana Teresa de Ávila, doutora da Igreja, cuja festa hoje celebramos. Ela alcançou os vértices da intimidade com Deus e, ao mesmo tempo, foi sempre muito activa do ponto de vista apostólico e concreta no seu agir. A sua experiência mística, como de resto a de todos os Santos, demonstra com clareza como em quem procura Deus tudo converge para um centro único: a resposta integral a Deus que se comunica. Também a teologia, fiel à própria natureza de reflexão sapiencial sobre a fé, redunda por sua natureza nos campos da moral e da espiritualidade.

4. No texto de Lucas, há pouco proclamado, lemos: "Nada há encoberto que não venha a descobrir-se" (Lc 12,2). Esta expressão não indica simplesmente o facto que Deus perscruta o coração de todo o homem. Aquilo que está encoberto e que deve ser revelado reveste um significado muito mais vasto e tem um alcance universal: trata-se do anúncio evangélico semeado no íntimo das consciências, que pede para ser proclamado até às extremidades da terra.

Estas palavras de Jesus acrescentam uma parte importante à reflexão sobre o acto de fé: isto é, a passagem da esfera pessoal e, por assim dizer, do íntimo do homem, à esfera comunitária e missionária. A fé, para ser plena e amadurecida, traz consigo o impulso a ser comunicada, prolongando num certo sentido o movimento que parte do amor trinitário e tende para abraçar a humanidade e a inteira criação.

1350 5. O anúncio evangélico não é sem riscos. A história da Igreja está constelada de exemplos de heróica fidelidade ao Evangelho. Também no nosso século, nos nossos dias, muitos dos nossos irmãos e irmãs na fé selaram com o supremo sacrifício da vida a sua plena adesão a Cristo e o seu serviço ao Reino de Deus.

Diante da perspectiva da renúncia e do sacrifício, que nalguns casos pode conduzir até ao martírio, vem ao nosso encontro a palavra confortadora de Jesus: "Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer" (
Lc 12,4). As forças do mal tentam contrastar o caminho do Evangelho, procuram anular a obra da salvação e matar as testemunhas de Cristo, mas precisamente o sacrifício destes corajosos trabalhadores da vinha do Senhor constitui a prova eloquente do poder de Deus. Quantos momentos de provação a Igreja superou com a força do Espírito Santo! Quantos mártires do nosso século ofereceram a sua existência pela causa de Cristo! Do seu sacrifício brotaram abundantes frutos para a Igreja e para o Reino de Deus.

A palavra de Jesus, portanto, conforta-nos e encoraja-nos no início deste novo Ano académico: "Não temais" (Ibid., v. 7). Caríssimos, não tenhamos medo de abrir as portas do nosso coração à fé, de a tornar experiência viva na nossa existência e de a anunciar sem cessar aos nossos irmãos.
A Virgem Santa, modelo de fé e sede da Sabedoria divina, nos torne fiéis discípulos do seu Filho Jesus e generosos anunciadores da sua Palavra.

Amém!





NA MISSA CELEBRADA NA


PARÓQUIA ROMANA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS


17 de Outubro de 1999



1. "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mt 22,21).
Na hodierna página do Evangelho sobressai a resposta dada por Jesus a alguns hebreus que procuravam, como noutras circunstâncias, colocá-lo à prova. Jesus evita a armadilha, revelando-se como um Mestre de grande sabedoria, que ensina fielmente a via de Deus sem ceder a compromissos.

Dai a Deus o que é de Deus! Emerge claramente que o que mais conta é o Reino de Deus. As palavras de Cristo iluminam a linha de conduta do cristão no mundo. A fé não lhe pede que se marginalize das realidades temporais; pelo contrário, torna-se-lhe um ulterior estímulo para que se comprometa com álacre generosidade na transformação a partir de dentro, contribuindo desta forma para a instauração do Reino dos céus.

Também a primeira Leitura, tirada do Livro do Profeta Isaías, põe em grande evidência esta verdade. Para os fiéis existe um só Deus, que com a sua Providência guia o caminho da humanidade através da história (cf. Is Is 45,5-6). Precisamente por isso, eles comprometem-se na edificação da cidade terrena, com a finalidade de a tornar mais justa e humana. São sustentados neste esforço pela esperança de um dia participar na comunhão da cidade celeste, onde Deus será tudo em todos.

2. Dilectos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São Francisco de Assis no Monte Mário! Hoje estou feliz por visitar a vossa Comunidade e celebrar a Eucaristia juntamente convosco. Neste período de imediata preparação para o Jubileu, é permanente o convite a contemplar o mistério da Encarnação do Filho de Deus, a fim de nos prepararmos para cruzar o limiar do terceiro milénio com a justa atitude interior.

1351 Saúdo todos vós com grande afecto. Cumprimento o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, D. Vincenzo Apicella, o vosso zeloso Pároco Pe. Maurizio Fagnani, o Prepósito-Geral dos Escolápios e todos os Padres das Escolas Pias da Província Romana, que colaboram com ele na guia pastoral da Comunidade.

Depois, penso com reconhecimento nos inúmeros membros de Institutos religiosos presentes neste território paroquial, assim como nos numerosos grupos de leigos que, com várias iniciativas de catequese, caridade e animação do tempo livre, enriquecem a vida da Paróquia, e também nos membros do Conselho pastoral e do Conselho para os Assuntos Económicos.

Dirijo uma cordial saudação ao grupo Agesci 27, aos jovens animadores do "Oratório Calasanz", que recentemente foi fundado com a finalidade de realizar um centro de agregação para as crianças e os adolescentes deste bairro.

Felicito-vos por esta actividade a favor das jovens gerações e, sobretudo, estou feliz porque os adultos compartilham compromissos e responsabilidades da pastoral juvenil, não abandonando os jovens no seu caminho de crescimento e de educação na fé. Para os jovens o facto de terem ao seu lado adultos maturos, que saibam propor-lhes metas elevadas, capazes de escutá-los e de oferecer-lhes respostas válidas aos fundamentais interrogativos existenciais, constitui uma garantia para o seu futuro e para o enriquecimento da Igreja e da sociedade. Por conseguinte, exorto-vos a prosseguir ao longo deste caminho, inspirando-vos no exemplo de São José de Calasanz, Fundador das Escolas Pias e Padroeiro das escolas populares cristãs, que muito se prodigalizou pelo bem e pela formação cristã e cultural da juventude.

3. Falando aos jovens, o meu pensamento dirige-se naturalmente para o próximo Dia Mundial da Juventude que, como se sabe, vai ser celebrado em Roma de 15 a 20 de Agosto de 2000. Não obstante se trate de uma inciativa destinada em primeiro lugar aos jovens, ela não pode deixar de contar com a participação da inteira Comunidade cristã de Roma, em cada um dos seus componentes e sectores. É necessário preparar-se para oferecer uma calorosa hospitalidade aos jovens e às jovens que vierem a Roma para essa circunstância. Através da intercessão de Maria, confiemos ao Senhor o feliz êxito e os frutos espirituais que este grandioso evento não deixará de produzir.

Além do vosso louvável compromisso em benefício da formação dos jovens, não quero esquecer as inúmeras outras iniciativas de caridade e de evangelização presentes na vossa Paróquia, especialmente aquelas que constituem o fruto da Missão da Cidade que há pouco se concluiu, mas cujo espírito e estilo devem continuar a impregnar todas as actividades apostólicas. Refiro-me em particular à realização de um núcleo de hospitalidade e de conforto para os pobres, assim como aos centros de escuta do Evangelho, que abristes em muitas partes deste bairro. Jamais nos devemos cansar de ser missionários e de difundir o Evangelho da caridade.

4. Caríssimos paroquianos da Paróquia de São Francisco de Assis no Monte Mário! Ao vir hoje de manhã ao meio de vós, observei que a vossa Comunidade dispõe de uma igreja pequena que, não obstante se glorie com mais de três séculos de história, se revela contudo insuficiente para as vossas exigências litúrgicas e pastorais. Enquanto formulo votos por que muito cedo possais contar com uma igreja maior, exorto-vos a haurir das pequenas dimensões do edifício um ulterior estímulo a ser uma Comunidade viva, comprometida na transmissão do Evangelho em toda a parte. Sede uma Paróquia missionária, composta de fiéis apaixonados por Cristo e capazes de testemunhar a fé com a vida.

A Virgem Maria vos proteja, e os Santos José de Calasanz e Francisco de Assis obtenham de Deus para cada um de vós o dom da perseverança nos propósitos de bem, no espírito e nos compromissos da nova evangelização.

Amém!



HOMILIA DO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO SOLENE ENCERRAMENTO DA


II ASSEMBLEIA ESPECIAL DO SÍNODO DOS BISPOS


PARA A EUROPA


Sábado, 23 de Outubro de 1999




Venerados Irmãos
1352 no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Com esta solene Celebração eucarística conclui-se a Segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa. A Vós, Pai omnipotente, por Vós, Filho Redentor, em Vós, Espírito Santo, hoje damos graças. Manifestamos o nosso reconhecimento também pela série das Assembleias sinodais continentais, através das quais a Igreja realizou durante estes anos uma ampla reflexão na vigília do Grande Jubileu bimilenário da vinda de Cristo ao mundo.

Motivo de renovada gratidão à divina Providência é a mesma oportunidade que nos foi concedida de nos encontrarmos, de ouvirmos e de nos confrontarmos: desta forma aprofundámos o conhecimento recíproco e edificámo-nos mutuamente, sobretudo graças aos testemunhos dos que, sob os passados regimes totalitários, suportaram pela fé duras e prolongadas perseguições.
Profundamente grato a cada um de vós, venerados Irmãos no Episcopado, que encontrei quase todos os dias durante estas semanas de intenso trabalho, faço minhas as palavras do Salmista: "Aos santos que há sobre a terra, o Senhor os honra; neles tem a sua complacência" (15, 3). Muito obrigado pelo tempo e pelas energias que dedicastes generosamente em benefício do bem da Igreja peregrina na Europa.

Desejo depois dirigir uma especial palavra de gratidão a quantos colaboraram nos trabalhos do Sínodo, prestando a sua ajuda aos Padres sinodais: o pensamento dirige-se sobretudo ao Secretário-Geral e aos seus colaboradores, aos Presidentes delegados e ao Relator-Geral. Manifesto o meu mais sentido reconhecimento a todos os que tiveram uma parte meritória neste importante acontecimento eclesial.

2. "Jesus Cristo - Aquele que crucificastes e que ressuscitou dos mortos" (
Ac 4,10).
No alvorecer da Igreja, ecoaram em Jerusalém estas firmes palavras de Pedro: era o querigma, o anúncio cristão de salvação, destinado por vontade do próprio Cristo, a cada homem e a todos os povos da terra.

Passados vinte séculos, a Igreja apresenta-se no limiar do terceiro milénio com este mesmo anúncio, que constitui o seu único tesouro: Jesus Cristo é o Senhor; n'Ele, e em mais ninguém, há salvação (cf. Act Ac 4,12); Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb He 13,8).

É o brado que sai do peito dos discípulos de Emaús, que regressam a Jerusalém depois de terem encontrado o Ressuscitado. Ouviram a Sua palavra fervorosa e reconheceram-n'O ao partir o pão. Esta Assembleia sinodal, a segunda para a Europa, inserida oportunamente à luz do ícone bíblico dos discípulos de Emaús, encerra-se no sinal do testemunho jubiloso que brota da experiência de Cristo, vivo na sua Igreja. A fonte da esperança, para a Europa e para o mundo inteiro, é Cristo, o Verbo feito homem, o único mediador entre Deus e o homem. E a Igreja é o canal através do qual passa e se difunde a onda de graça que surgiu do Coração trespassado do Redentor.

3. "Acreditai em Deus e acreditai também em Mim... Se Me conheceis, conhecereis também Meu Pai. Desde agora O conheceis e já O vistes" (Jn 14,1 Jn 14,7). O Senhor conforta, com estas palavras, a nossa esperança e convida-nos a dirigir o olhar para o Pai celeste.

1353 Neste ano, o último do século e do milénio, a Igreja faz sua a invocação dos discípulos: "Senhor, mostra-nos o Pai... Eu estou no Pai e... o Pai está em Mim" (Jn 14,9-10). Cristo é a fonte da vida e da esperança, porque n'Ele "habita... toda a plenitude da divindade" (Col 2,9). Na vicissitude humana de Jesus de Nazaré o Transcendente entrou na história, o Eterno no tempo, o Absoluto na precariedade da condição humana.

Por conseguinte, com firme convicção, a Igreja repete aos homens e às mulheres do Ano 2000, de maneira particular a todos os que vivem imersos no relativismo e no materialismo: aceitai Cristo na vossa existência! Quem O encontra conhece a Verdade, descobre a Vida, desvela o caminho que conduz a ela (cf. Jo Jn 14,6 Ps 15,11). Cristo é o futuro do homem: "debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos" (Ac 4,12).

4. Este anúncio de esperança, esta Boa Nova é o centro da evangelização.Ela é antiga no que diz respeito ao seu núcleo essencial, mas nova no que se refere ao método e às formas da sua expressão apostólica e missionária. Vós, venerados Irmãos, durante os trabalhos da Assembleia que hoje se conclui, recebestes o apelo que o Espírito dirige às Igrejas na Europa a fim de as empenhar perante os novos desafios. Não receastes ver com olhos abertos a realidade do Continente, ressaltando as suas luzes e ao mesmo tempo as sombras. Aliás, perante os problemas do actual momento, indicastes orientações úteis para tornar cada vez mais visível o rosto de Cristo mediante um anúncio mais incisivo, corroborado por um coerente testemunho.

Dos Santos e das Santas que constelam a história do continente europeu provêm luz e conforto. O pensamento dirige-se, em primeiro lugar, às Santas Edith Stein, Brígida da Suécia e Catarina de Sena, que precisamente no início desta Assembleia sinodal proclamei co-Padroeiras da Europa, situando-as ao lado dos Santos Bento, Cirilo e Metódio. Mas como não pensar nos inúmeros filhos da Igreja que, ao longo destes dois milénios, viveram no escondimento da vida familiar, profissional e social uma santidade não menos generosa e autêntica? E como não prestar homenagem à plêiade de confessores da fé e aos numerosos mártires deste último século? Todos eles, como "pedras vivas" aderentes a Cristo "pedra angular", construíram a Europa como edifício espiritual e moral, deixando aos vindouros a herança mais preciosa.

O Senhor Jesus havia prometido: "quem acredita em Mim fará as obras que Eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai" (Jn 14,12). Os Santos são a prova viva da realização desta promessa e encorajam a crer que isto é possível também nos momentos mais difíceis da história.

5. Se olharmos para os séculos passados, não podemos deixar de dar graças ao Senhor porque o Cristianismo foi no nosso Continente um factor primário de unidade entre os povos e as culturas e de promoção integral do homem e dos seus direitos.

Se se verificaram comportamentos e escolhas que, infelizmente, por vezes eram contrárias, no momento em que nos preparamos para cruzar a Porta Santa do Grande Jubileu (cf. Incarnationis mysterium, 11) sentimos a necessidade de reconhecer humildemente as nossas responsabilidades. É pedido a todos os cristãos este necessário discernimento para que, cada vez mais unidos e reconciliados, possam com a ajuda de Deus apressar o advento do seu Reino.

Trata-se duma cooperação fraterna ainda mais urgente no período que estamos a atravessar, caracterizado por uma nova fase do processo de integração europeia e por uma sua forte evolução em sentido multiétnico e multicultural. A respeito disto, fazendo minhas as palavras da Mensagem final do Sínodo, desejo juntamente convosco, venerados Irmãos, que a Europa saiba garantir, em atitude de fidelidade criativa à sua tradição humanista e cristã, a primazia dos valores éticos e espirituais. Estes são os votos que "surgem da firme convicção de que não existe unidade verdadeira e fecunda para a Europa se não for construída sobre os seus fundamentos espirituais".

6. Por isto rezamos durante a presente celebração. Convidados pelo Salmo responsorial, repetimos: "Mostrai-nos, ó Senhor, o caminho da vida" (Refrão do Salmo respons.). Em cada momento da vida, Senhor, indicai-nos o caminho a ser percorrido.

Estas palavras vêm aos lábios dos crentes sobretudo no momento em que a Segunda Assembleia Especial para a Europa se está a concluir: Só Vós, Senhor, nos podeis indicar o caminho a percorrer para oferecer aos nossos irmãos e irmãs da Europa a esperança que não desilude. E nós, Senhor, seguir-vos-emos docilmente.

A tradição iconográfica do Oriente cristão completa a nossa oração, oferecendo-nos um eloquente modelo de referência: é o ícone da Virgem Hodigitria, "que indica o caminho". A Mãe mostra com a mão o Filho que tem no seio e recorda aos cristãos de todas as épocas e lugares que Cristo é o caminho a ser seguido. Por seu lado a Igreja, reflectindo-se no ícone, reencontra-se em Maria, por assim dizer, a si mesma e a sua missão: indicar ao mundo Cristo, única via que leva à Vida.

1354 Maria, Mãe solícita da Igreja, vem ao nosso encontro e indica-nos o teu Filho. Sentimos que a Virgem responde à nossa confiante imploração, indicando Jesus e dizendo como aos servos das bodas de Caná: "Fazei o que Ele vos disser" (Jn 2,5).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, mantendo o olhar fixo em Cristo, regressai às vossas Comunidades, fortalecidos pela consciência de que Ele vive na Igreja, fonte de esperança para a Europa.

Amém.





NA MISSA CELEBRADA NA PARÓQUIA ROMANA


DE SÃO BENTO JOSÉ LABRE


31 de Outubro de 1999

1. "Um só é o vosso Guia: o Messias" (Mt 23,10). O trecho evangélico que acabámos de escutar refere-se ao debate de Jesus com os escribas e os fariseus. Fazendo-se eco da voz dos profetas do Antigo Testamento (cf. Ml Ml 2,1-10), Jesus estigmatiza a hipocrisia deles, fundada na presunção de serem justos diante de Deus. Esta é uma atitude que afasta o homem do caminho do bem. Trata-se de um comportamento que também hoje pode inserir-se no coração humano.


As palavras de Jesus alertam contra qualquer "farisaísmo", isto é, contra a busca das aparências, do fácil compromisso com a falsidade e da tentação de afirmar-se independentemente da vontade divina. Perante esta orgulhosa pretensão que o homem tem de poder viver sem Deus, Jesus o verdadeiro Mestre dirige um premente convite a acolher com disponibilidade humilde a acção da graça divina: "Quem se elevar será humilhado e quem se humilhar será elevado" (Mt 23,11).

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São Bento José Labre! Saúdo todos vós com afecto, com um particular pensamento para o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar deste Sector D. Enzo Dieci, o vosso estimado Pároco Pe. Francesco Troiani, e todas as pessoas que colaboram com ele na animação pastoral desta jovem Comunidade paroquial.

Sim, a vossa Comunidade é jovem! Jovem pela data do seu nascimento: com efeito, as primeiras famílias chegaram a este novo bairro em 1993. Jovem pela sua composição: a maioria da população é formada por famílias jovens, que vieram habitar neste bairro, chamado "La Torraccia", imediatamente depois do matrimónio e agora acolhem nestas novas habitações o dom dos filhos, com o qual Deus quis abençoar a sua união esponsal. A este propósito, sei que na Paróquia anualmente são administrados mais de 200 baptismos e há numerosas crianças inscritas no catecismo. A vós, queridos jovens, catequistas e educadores, dirige-se a minha cordial saudação e encorajamento a continuardes com generosidade a participação activa na vida da comunidade paroquial e no jubiloso testemunho dos valores cristãos.

3. Enquanto agradeço a Deus o papel fundamental que tem, na Igreja e na sociedade, a família fundada no matrimónio e enriquecida pela dádiva dos filhos, hoje não podemos deixar de pensar com solicitude nos inúmeros núcleos familiares que infelizmente vivem em dificuldades e nas pessoas que embora sejam felizes no matrimónio não têm a coragem de abrir-se à vida. Possa o Senhor sensibilizar os corações destes nossos irmãos e torná-los capazes da perseverança na vida conjugal e da generosidade no acolhimento da prole.

A hodierna Visita pastoral à vossa Paróquia proporciona-me a ocasião de fazer meu o apelo que há alguns dias os Bispos do Lácio dirigiram aos responsáveis políticos e institucionais, bem como a todos os cidadãos. Peço mais uma vez às Autoridades civis que se comprometam a fim de que a família fundada sobre o matrimónio seja promovida e tutelada, sem ser confundida com outras e muito diferentes formas de união. Exorto as Comunidades eclesiais e cada fiel a empenharem-se cada vez mais em benefício da família e dos valores de que esta é portadora, na certeza de contribuir assim de modo eficaz para o bem comum.

A este propósito, exprimo os bons votos por que também neste vosso bairro de recente construção possam surgir com prontidão as indispensáveis estruturas de apoio às famílias aqui residentes, que lhes permitam abrir-se com maior abnegação ao dom da vida e continuar com serenidade a sua experiência esponsal. Penso na necessidade de jardins-de-infância, de escolas infantis e de todas as estruturas que auxiliam os pais na sua tarefa educativa.

1355 4. Dilectos Irmãos e Irmãs! Ao vir hoje de manhã ao meio de vós, dei-me conta de que a vossa nova igreja paroquial constitui praticamente o único centro agregativo deste bairro. Por este motivo, as estruturas paroquiais devem abrir-se à recepção de quem bate à porta em busca de assistência espiritual e material.

Sei que nesta Paróquia a actividade pastoral iniciou de forma itinerante, em virtude da falta de um lugar de culto estável e de estruturas paroquiais. Alegro-me convosco por terdes sabido transformar esta inicial condição de incomodidade numa ocasião de testemunho autenticamente evangélico, segundo o exemplo do seu Padroeiro, São Bento José Labre. Como se sabe, ele era um peregrino. Denominado o "Santo francês", veio a Roma de além dos Alpes e aqui viveu desprovido de uma morada fixa, confiando apenas em Deus e nutrindo-se abundantemente com a sua Palavra e a Eucaristia. Romano de adopção, faleceu piedosamente no mísero armazém de um açougueiro, a poucos passos do Coliseu, onde morava no meio das ruínas.

A exemplo de São Bento José Labre, também vós sabei conservar o entusiasmo e o estilo dos primeiros anos de vida da vossa Comunidade paroquial, caracterizados pelo anúncio evangélico peregrinante de casa em casa e pela celebração da Eucaristia nos pátios dos edifícios. Este deve ser o vosso estilo pastoral, não obstante agora possais alegrar-vos por esta bonita e nova igreja paroquial, dando continuidade às intenções e aos métodos da Missão da Cidade.

5. O Ano Santo 2000 aproxima-se a largos passos! Será um ano intensamente "eucarístico", em particular durante o mês de Junho, quando aqui em Roma se celebrará o Congresso Eucarístico internacional. Enquanto convido toda a comunidade cristã a predispor-se a viver com confiança e devoção este grande evento de fé, exorto todos a redescobrirem o precioso dom do Pão eucarístico, que constitui "a força dos fracos, o sustento dos enfermos, o bálsamo que cura os feridos, o viático de quem parte deste mundo. É o vigor dos fiéis que trabalham em ambientes e circunstâncias em que a sua presença é a única possibilidade de anúncio do Evangelho" (Documento preparatório para o Congresso Eucarístico internacional de 2000, n. 11). A celebração do Congresso Eucarístico internacional conceda aos cristãos de Roma e do mundo inteiro a força de viverem cada vez mais intensamente aquele espírito missionário que deve animar a Igreja do terceiro milénio.

6. Com efeito, todos os discípulos de Cristo são portadores de uma mensagem de salvação que provém de Deus e tem como destinatário o mundo inteiro. Não se trata de uma palavra dotada de uma autoridade apenas humana; pelo contrário, ela possui uma autoridade que deriva directamente de Deus. É o que recorda São Paulo na segunda leitura deste Domingo: "Quando ouvistes a Palavra de Deus que vos anunciámos, acolheste-la não como palavra humana, mas como ela realmente é, como Palavra de Deus, que age com eficácia em vós que acreditais" (
1Th 2,13).
Estai conscientes do grande tesouro da Palavra de Deus, confiado à Igreja na sua integridade e a cada um dos fiéis. Deixai-vos evangelizar pela Palavra de Cristo, a fim de vos tornardes por vossa vez evangelizadores dos vossos irmãos.

Maria, Estrela da Evangelização, que foi a primeira a acolher docilmente no seu seio o Verbo de Deus para O oferecer ao mundo inteiro, nos torne atentos ouvintes da Palavra e corajosas testemunhas de seu Filho Jesus, único Mestre e Salvador do mundo.

Amém!



Homilias JOÃO PAULO II 1348