Homilias JOÃO PAULO II 1385


ABERTURA DA PORTA SANTA

DA BASÍLICA DE SÃO PAULO FORA DOS MUROS


Terça-feira, 18 de Janeiro de 2000


Amados Irmãos e Irmãs

1386 1. As palavras de São Paulo à comunidade de Corinto: "Foi num só Espírito que todos nós fomos baptizados, a fim de formarmos um só corpo" (1Co 12,13), parecem servir de contraponto à oração de Cristo: "Para que todos sejam um só, como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti" (Jn 17,21).

É a oração de Cristo pela unidade, a oração que Ele elevou ao Pai quando a sua paixão e morte estavam iminentes. Não obstante as nossas resistências, ela continua a produzir, ainda que de modo misterioso, os seus frutos. Porventura não é dela que brota a graça do "movimento ecuménico"? Como afirma o Concílio Vaticano II: "O Senhor dos séculos... começou ultimamente a infundir de modo mais abundante nos cristãos separados entre si a compunção do coração e o desejo de união", fazendo surgir, "por moção da graça do Espírito Santo, um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos" (Unitatis redintegratio UR 1). Disso mesmo temos sido e somos testemunhas. Todos nós fomos enriquecidos pela graça do Espírito que guia os nossos passos para a unidade e a comunhão plena e visível.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos tem o seu início hoje em Roma com esta celebração que aqui nos reuniu. Quis que coincidisse com ela a abertura da Porta Santa nesta Basílica dedicada ao Apóstolo das nações, para salientar a dimensão ecuménica que deve caracterizar este Ano jubilar 2000. No início dum novo milénio cristão, neste ano de graça que convida a converter-nos de maneira mais radical ao Evangelho, devemos implorar do Espírito, com súplicas mais ardentes, a graça da nossa unidade.

"Baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo": reunidos na Basílica que tem o nome de São Paulo, nós, representantes de diferentes povos e nações, de várias Igrejas e Comunidades eclesiais, sentimo-nos directamente interpelados por estas palavras do Apóstolo das nações. Sabemos que somos irmãos ainda divididos, mas com decidida convicção empreendemos o caminho que conduz à plena unidade do Corpo de Cristo.

2. Amados Irmãos e Irmãs, as minhas boas-vindas a todos! A cada um de vós dou o meu abraço de paz no Senhor que nos reuniu, enquanto vos agradeço cordialmente a presença, que muito estimo. Na pessoa de cada um de vós quero saudar com o "ósculo santo" (Rm 16,16) todos os membros das várias Igrejas e Comunidades eclesiais, que dignamente representais.

Bem-vindos a este encontro que assinala um passo em frente rumo à unidade do Espírito, no Qual "fomos baptizados". Único é o Baptismo que recebemos, criando um vínculo sacramental de unidade entre todos aqueles que, através dele, foram regenerados. Água purificadora, "água viva", o Baptismo permite a nossa passagem pela única "porta" que é Cristo: "Eu sou a porta: se alguém entrar por Mim, salvar-se-á" (Jn 10,9). Cristo é a porta da nossa salvação, que conduz à reconciliação, à paz, à unidade. É a luz do mundo (cf. Jo Jn 8,12); e nós, conformando-nos plenamente a Ele, somos chamados a levar esta luz ao novo século e ao novo milénio.

O símbolo humilde duma porta que se abre contem uma extraordinária riqueza de significado: proclama a todos que Jesus Cristo é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jn 14,6); e é-o para todo o ser humano. Um tal anúncio ressoará com tanto maior força quanto mais unidos estivermos, fazendo-nos reconhecer como discípulos de Cristo amando-nos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo Jn 13,35 Jn 15,12). Justamente recordou o Concílio Vaticano II que a divisão contradiz de modo abertamente a vontade de Cristo, é um escândalo para o mundo e prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura (cf. Unitatis redintegratio UR 1).

3. A unidade que Jesus quer para os seus discípulos é uma participação na unidade que existe entre Ele e o Pai: "Como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós", disse Jesus na Última Ceia, "para que todos sejam um só" (Jn 17,21). Por conseguinte, a Igreja, "povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (São Cipriano, De Dom. orat., 23), não pode deixar de ter constantemente diante dos olhos o supremo modelo e princípio da unidade que refulge no Mistério trinitário.

O Pai e o Filho com o Espírito Santo são um só, na distinção das pessoas. A fé ensina-nos que o Filho encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e Se fez homem (Credo). Às portas de Damasco, Paulo experimenta de um modo muito singular, em virtude do Espírito, Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado e torna-se o apóstolo d'Aquele "que se despojou a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens" (Ph 2,7).

Quando escreve: "Foi num só Espírito que todos nós fomos baptizados, a fim de formarmos um só corpo", Paulo quer exprimir a sua fé na encarnação do Filho de Deus e revelar uma peculiar analogia do corpo de Cristo: a analogia entre o corpo de Deus humanado, um corpo físico, com o qual operou a nossa redenção, e o seu corpo místico e social, que é a Igreja. Cristo vive nela que está presente, por meio do Espírito Santo, em todos os que n'Ele formam um só corpo.

4. Pode um corpo estar dividido? Pode a Igreja, Corpo de Cristo, estar dividida? Desde os primeiros Concílios, os cristãos professaram juntos a sua fé na Igreja "una, santa, católica e apostólica". Com São Paulo, eles sabem que um só é o corpo, um só é o Espírito, uma só é a esperança a que foram chamados: "Há um único Senhor, uma única fé, um único baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, actua por meio de todos e Se encontra em todos" (Ep 4,5-6).

1387 Frente a este mistério de unidade que é dom do Alto, as divisões revestem-se de um carácter histórico que testemunha as debilidades humanas dos cristãos. O Concílio Vaticano II reconheceu que elas surgiram "algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado" (Unitatis redintegratio UR 3). Neste ano de graça, deve aumentar em cada um de nós a consciência da própria responsabilidade pessoal nas rupturas que marcam a história do Corpo místico de Cristo. Essa consciência é indispensável para avançar rumo àquela meta que o Concílio qualificou como unitatis redintegratio, restauração da nossa unidade.

Mas, a restauração da unidade não é possível sem a conversão interior, porque o desejo da unidade nasce e amadurece a partir da renovação da mente, do amor à verdade, da abnegação de si mesmo e da livre efusão da caridade. Assim, a conversão do coração e a santidade de vida, a oração pessoal e comunitária pela unidade, são o núcleo donde brota para o movimento ecuménico a sua força e substância.

A aspiração pela unidade caminha a par e passo com uma profunda capacidade de "sacrifício" daquilo que é pessoal, a fim de predispor a alma para uma fidelidade sempre maior ao Evangelho. Predispor-nos ao sacrifício da unidade significa mudar a nossa maneira de ver, ampliar o nosso horizonte, saber reconhecer a acção do Espírito Santo que actua nos nossos irmãos, descobrir novos rostos de santidade, abrirmo-nos a aspectos inéditos do compromisso cristão.

Se soubermos, sustentados pela oração, renovar a nossa mente e o nosso coração, o diálogo existente entre nós acabará por superar os limites de um intercâmbio de ideias para se tornar permuta de dons e ser diálogo da caridade e da verdade, desafiando-nos e solicitando-nos a seguir em frente até podermos oferecer a Deus "o sacrifício maior", o da nossa paz e concórdia fraterna (cf. São Cipriano, De Dom. orat., 23).

5. Nesta Basílica edificada em honra de São Paulo, lembrados das palavras com que o Apóstolo interpelou hoje a nossa fé e a nossa esperança - "foi num só Espírito que todos nós fomos baptizados, a fim de formarmos um só corpo" - pedimos perdão a Cristo por tudo aquilo que, na história da Igreja, prejudicou o seu desígnio de unidade. Com confiança, pedimos-Lhe a Ele, porta da vida, porta da salvação, porta da paz, que sustente os nossos passos, torne consistentes os progressos já realizados, nos conceda o apoio do seu Espírito, para que o nosso empenho seja cada vez mais autêntico e eficaz.

Amados Irmãos e Irmãs, neste momento solene, faço votos de que este ano de graça 2000 seja para ocasião para todos os discípulos de Cristo darem novo impulso ao seu compromisso ecuménico, considerando-o como um imperativo da consciência cristã. Disso depende em grande parte o futuro da evangelização, a proclamação do Evangelho aos homens e mulheres do nosso tempo.

Desta Basílica, que hoje nos vê reunidos com os ânimos repletos de esperança, estendo o olhar para o novo milénio. O desejo, que me vem do coração e se faz ardente oração diante do trono do Eterno, é de que, num futuro não distante, os cristãos, finalmente reconciliados, possam voltar a caminhar juntos como um só povo, obedientes ao desígnio do Pai, um povo capaz de repetir, em uníssono, com a alegria duma renovada fraternidade: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, do alto dos Céus, nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo" (Ep 1,3).

O Senhor Jesus atenda os nossos votos e a nossa súplica ardente. Amém!

O brado "Unitade, unitade", que ouvi em Bucareste durante a minha visita, retorna hoje como um eco forte. "Unitade, unitade!", gritava o povo durante a Celebração eucarística: todos os cristãos católicos, ortodoxos e protestantes evangélicos todos gritavam "Unitade, unitade". Obrigado por esta voz voz cheia de consolação dos nossos irmãos e irmãs! Talvez possamos nós também sair desta Basílica, gritando como eles: "Unidade, unità,unité, unity".Obrigado!



JUBILEU DOS DOENTES



NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


Praça de São Pedro, 11 de Fevereiro de 2000




1. "Visitar-nos-á a luz do alto" (Lc 1,78). Com estas palavras, Zacarias prenunciava a já próxima vinda do Messias ao mundo.

1388 Na página evangélica, há pouco proclamada, revimos o episódio da Visitação: a visitação de Maria à prima Isabel, a visitação de Jesus a João, a visitação de Deus ao homem.

Caríssimos Irmãos e Irmãs enfermos, que estais hoje reunidos nesta Praça para celebrar o vosso Jubileu, também o evento que estamos a viver è expressão de uma particular visitação de Deus. Com esta consciência vos acolho e vos saúdo cordialmente. Vós estais no coração do Sucessor de Pedro, que compartilha toda a vossa preocupação e anseio: sede bem-vindos! Com íntima participação celebro hoje o Grande Jubileu do Ano 2000 juntamente convosco, e com os agentes da saúde, os familiares, os voluntários que estão ao vosso lado com solícita dedicação.

Saúdo o Arcebispo D. Javier Lozano Barragán, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, com os seus colaboradores, que cuidaram da organização deste encontro jubilar. Saúdo os Senhores Cardeais e os Bispos presentes, assim como os Prelados e os sacerdotes que acompanharam grupos de doentes para a celebração deste dia. Saúdo o Ministro da Saúde do Governo italiano e as outras Autoridades presentes. Uma reconhecida saudação dirige-se, por fim, aos numerosíssimos profissionais e voluntários, que se fizeram disponíveis ao serviço dos doentes durante estes dias.

2. "Visitar-nos-á a luz do alto". Sim! Hoje Deus visitou-nos. Em cada visitação Ele está connosco. Mas o Jubileu é experiência duma sua visita mais singular do que nunca. Ao fazer-se homem, o Filho de Deus veio visitar cada pessoa e tornou-se para cada um a "Porta": Porta da vida, Porta da salvação. O homem deve entrar através desta Porta se quiser encontrar a salvação. Cada um é convidado a cruzar este limiar.

Hoje sois convidados a cruzá-la, especialmente vós, queridos enfermos e sofredores, vindos de Roma, da Itália e do mundo inteiro à Praça de São Pedro. Sois convidados também vós que, unidos através de uma especial ponte televisiva, vos unis a nós na oração desde o santuário de Czestochowa na Polónia: chegue a vós a minha saudação cordial, que de bom grado faço extensiva a quantos mediante a televisão e a rádio seguem na Itália e no estrangeiro a nossa celebração.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, alguns de vós estão há anos retidos num leito de dor: peço a Deus que o encontro hodierno seja para eles de extraordinário alivio físico e espiritual! Desejo que esta comovedora celebração ofereça a todos, sadios e doentes, a oportunidade de meditar sobre o valor salvifíco do sofrimento.

3. O sofrimento e a doença fazem parte do mistério do homem sobre a terra. Certamente, é justo lutar contra a doença, porque a saúde é um dom de Deus. Mas é importante também saber ler o desígnio de Deus quando o sofrimento bate à nossa porta. A "chave" dessa leitura é constituída pela Cruz de Cristo. O Verbo encarnado veio ao encontro da nossa debilidade, assumindo-a sobre si no mistério da Cruz. A partir de então, todo o sofrimento adquiriu uma possibilidade de sentido, que o torna singularmente precioso. Há dois mil anos, desde o dia da Paixão, a Cruz brilha como suprema manifestação do amor que Deus tem por nós. Quem a sabe acolher na sua vida experimenta como o sofrimento, iluminado pela fé, se torna fonte de esperança e de salvação.

Queridos doentes chamados neste momento a carregar uma cruz mais pesada, Cristo seja para vós a Porta. Cristo seja a Porta também para vós, caros acompanhantes, que cuidais deles. Como o bom Samaritano, todo o crente deve oferecer amor a quem vive no sofrimento. Não é consentido "passar adiante" perante quem é provado pela doença. É preciso, antes, deter-se, inclinar-se sobre a sua enfermidade e compartilhá-la de maneira generosa, aliviando-lhe os pesos e as dificuldades.

4. São Tiago escreve: "Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor recebe-lo-á; e, se cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados" (5, 14-15). Reviveremos de modo singular esta exortação do Apóstolo quando, daqui a pouco, alguns de vós, queridos doentes, receberem o sacramento da Unção dos Enfermos. Ao dar de novo vigor espiritual e físico, ele põe em grande evidencia o facto de Cristo ser para a pessoa sofredora a Porta que conduz à vida.

Queridos doentes, este é o momento culminante do vosso Jubileu! Ao cruzardes o limiar da Porta Santa, uni-vos a todos aqueles que, em toda a parte do mundo, já a atravessaram e a quantos hão-de cruzá-la durante o Ano jubilar. Passar através da Porta Santa seja sinal do vosso ingresso espiritual no mistério de Cristo, o Redentor crucificado e ressuscitado, que por amor "tomou sobre si as nossas doenças e carregou as nossas dores" (
Is 53,4).

5. A Igreja entra no novo milénio estreitando no seu coração o Evangelho do sofrimento, que é anúncio de redenção e de salvação. Irmãos e Irmãs doentes, vós sois testemunhas singulares deste Evangelho. O terceiro milénio espera dos cristãos sofredores este testemunho. Espera-o também de vós, Agentes da pastoral da saúde que, com papéis diversos, exerceis ao lado dos doentes uma missão tao significativa e muito apreciada.

1389 Incline-se sobre cada um de vós a Virgem Imaculada, que em Lourdes nos veio visitar, como hoje recordamos com alegria e reconhecimento. Na Gruta de Massabielle, Ela confiou a Santa Bernadette uma mensagem que leva ao coração do Evangelho: à conversão e à penitencia, à oração e ao confiante abandono nas mãos de Deus.

Com Maria, a Virgem da Visitação, elevemos também nós ao Senhor o "Magnificat", que é o cântico da esperança de todos os pobres, doentes e sofredores do mundo, que exultam de alegria porque sabem que Deus está ao seu lado como Salvador.

Então juntamente com a Virgem Santíssima queremos proclamar: "A minha alma glorifica o Senhor", e dirigir os nossos passos rumo à verdadeira Porta jubilar: Jesus Cristo, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre!

Saudações

Inglês
Saúdo calorosamente os peregrinos anglófonos que participam nesta celebração jubilar especial para os doentes e para os agentes da saúde. Ao confiar todos vós à poderosa intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, auxílio dos cristãos e conforto dos aflitos, invoco sobre vós força e paz no seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.

Francês
Dirijo uma saudação muito cordial aos doentes e a quantos os acompanham. Vindos aqui para viverdes juntos este Jubileu, formais uma magnífica comunidade de fé e de esperança. O vosso testemunho e a vossa oração são um tesouro precioso e constituem uma missão fundamental para a Igreja e para o mundo. Com efeito, toda a oração, mesmo a mais escondida, contribui para elevar o mundo a Deus. Servir os próprios irmãos significa servir Cristo. A Virgem Maria vos guie todos os dias!

Espanhol
Dirijo-me agora aos peregrinos de língua espanhola que participam nesta celebração do Jubileu dos Doentes.
Que a graça jubilar vos ajude a ser testemunhas corajosas de Jesus Cristo, oferecendo juntamente com Ele a vossa vida, alegrias e tristezas, pela salvação de todos.

Alemão
1390 Saúdo com particular cordialidade todos os peregrinos de língua alemã, que vieram a Roma por ocasião do Jubileu dos Doentes. Exprimo a minha estima a quantos se ocupam do cuidado e da assistência dos doentes. Que a celebração deste ofício divino revigore a vossa fé, da qual possais haurir uma renovada coragem de viver.

Português
A minha saudação amiga e solidária a todos os doentes de língua portuguesa, participantes física ou espiritualmente nesta peregrinação jubilar. Desejo assegurar-vos que diariamente confio a Deus e Pai de toda a consolação o vosso calvário, para que não desfaleçam a vossa fé e esperança no divino Crucificado; Ele pode mudar em júbilo a vossa aflição, e as vossas dores em remédio de salvação para quantos amais.

Polonês
Saúdo com afecto os sofredores e os doentes que vieram da Polónia, juntamente com as pessoas que os acompanham e estão presentes neste encontro por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000. Através do vosso sofrimento estais de modo particular próximos de Cristo. Seja sempre a vossa força no sofrimento, Ele que pela sua paixão e morte na cruz remiu o mundo.

Caríssimos Irmãos e Irmãs sofredores, devemos muito a vós. A Igreja e o Papa são vossos devedores!

Rezai por nós.





JUBILEU DA CÚRIA ROMANA


HOMILIA DE JOÃO PAULO II


DURANTE A MISSA CONCELEBRADA


NA BASÍLICA VATICANA


Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2000

1. "Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18).


Como peregrinos cruzámos a Porta Santa da Basílica do Vaticano, e agora a Palavra de Deus chama a nossa atenção para aquilo que Cristo disse a Pedro e a respeito de Pedro.

Estamos reunidos à volta do Altar da Confissão, colocado sobre o túmulo do Apóstolo, e a nossa assembleia é formada por aquela especial comunidade de serviço que se chama Cúria Romana. O "ministerium petrinum", isto é, o serviço próprio do Bispo de Roma, com o qual cada um de vós no próprio campo de trabalho é chamado a colaborar, une-nos numa única família e inspira a nossa oração no momento solene que a Cúria Romana vive hoje a festa da Cátedra de São Pedro.

1391 Todos nós, e em primeiro lugar eu mesmo, somos tocados profundamente pelas palavras do Evangelho há pouco proclamadas: "Tu és o Cristo... Tu és Pedro" (Mt 16,16 Mt 16,18). Nesta Basílica, junto da memória do martírio do Pescador da Galileia, elas ressoam com eloquência singular, aumentada pelo intenso clima espiritual do Jubileu bimilenário da Encarnação.

2. "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16,16): é esta a confissão de fé do Príncipe dos Apóstolos. Esta é também a confissão que nós hoje renovamos, venerados Irmãos Cardeais, Bispos e Sacerdotes, juntamente com todos vós, caríssimos Religiosos, Religiosas e Leigos, que prestais a vossa apreciada colaboração no âmbito da Cúria Romana. Repetimos as luminosas palavras do Apóstolo com particular emoção neste dia, no qual celebramos o nosso especial Jubileu.

E a resposta de Cristo soa forte na nossa alma: "Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18). O evangelista João afirma que Jesus atribuíra a Simão o nome de "Cefas" desde o primeiro encontro, quando a Ele o tinha conduzido o irmão André (cf. Jo Jn 1,41-42). A narração de Mateus, ao contrário, confere a este acto de Cristo o maior destaque, colocando-o num momento central do ministério messiânico de Jesus, o qual explica o significado do nome "Pedro" referindo-o à edificação da Igreja.

"Tu és o Cristo": sobre esta profissão de Pedro e sobre a consequente declaração de Jesus: "Tu és Pedro" se funda a Igreja. Um fundamento invencível, que as potências do mal não podem abater: como sua tutela, há a própria vontade do "Pai que está nos céus" (Mt 16,17). A Cátedra de Pedro, que hoje celebramos, não se apoia em seguranças humanas - "a carne nem o sangue" - mas em Cristo, pedra angular. E também nós, como Simão, nos sentimos "felizes", porque sabemos que não temos motivo algum de vanglória, senão no desígnio eterno e providente de Deus.

3. "Eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas e Me interessarei por elas" (34, 11). A primeira Leitura, tirada do célebre oráculo do profeta Ezequiel sobre os pastores de Israel, evoca com força o carácter pastoral do ministério petrino. É o carácter que qualifica, indirectamente, a natureza e o serviço da Cúria Romana, cuja missão é precisamente colaborar com o Sucessor de Pedro para o cumprimento da tarefa que lhe foi confiada por Cristo, de apascentar o seu rebanho.
"Sou Eu que apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar" (Ez 34,15).

"Eu mesmo": são estas as palavras mais importantes. Com efeito, manifestam a determinação com que Deus quer tomar a iniciativa ocupando-se do seu povo em primeira pessoa. Sabemos que a promessa - "Eu mesmo" - se tornou realidade. Cumpriu-se na plenitude dos tempos, quando Deus enviou o seu Filho, o Bom Pastor, para apascentar o rebanho "com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor" (Mi 5,3). Enviou-O para reunir os filhos dispersos de Deus, oferecendo-Se a Si mesmo como cordeiro, mansa vítima de expiação, sobre o altar da cruz.

É este o modelo de Pastor, que Pedro e os outros Apóstolos aprenderam a conhecer e a imitar, ao estarem com Jesus e ao compartilharem o seu ministério messiânico (cf. Mc Mc 3,14-15). Ouve-se o eco disto na segunda Leitura, na qual Pedro se define "testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que se deve manifestar" (1P 5,1). O pastor Pedro está inteiramente plasmado pelo Pastor Jesus e pelo dinamismo da sua Páscoa. O "ministério petrino" está arraigado nesta singular conformação de Pedro e dos seus Sucessores a Cristo Pastor, uma conformação que tem o seu fundamento num peculiar carisma de amor: "Tu amas-Me mais do que estes?... Apascenta os meus cordeiros" (Jn 21,15).

4. Numa ocasião como a que estamos a viver, o Sucessor de Pedro não pode esquecer aquilo que aconteceu antes da paixão de Cristo, no Jardim das Oliveiras, após a Última Ceia. Nenhum dos Apóstolos parecia dar-se conta daquilo que estava para acontecer e que Jesus bem conhecia: Ele sabia que se dirigia para lá a fim de vigiar e orar, e assim preparar-se para a "sua hora", a hora da morte na cruz.

Ele dissera aos Apóstolos: "Todos vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas dispersar-se-ão" (Mc 14,27). E Pedro retorquiu: "Mesmo que todos venham a sucumbir, eu não!" (Mc 14,29). "Jamais me escandalizarei, nunca Te deixarei"... E Jesus disse-lhe: "Em verdade te digo, hoje, nesta mesma noite, antes de o galo cantar duas vezes, negar-Me-ás três vezes" (Mc 14,30). "Mesmo que tenha de morrer Contigo, não Te negarei" (Mc 14,31), replicou Pedro com firmeza, e com ele os outros Apóstolos. E Jesus: "Simão, Simão, olha que Satanás vos reclamou para vos joeirar como o trigo. Mas Eu roguei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos" (Lc 22,31-32).

Eis a promessa de Cristo, nossa consoladora certeza: o ministério petrino não se funda sobre as capacidades e sobre as forças humanas, mas sobre a oração de Cristo, que suplica ao Pai para que a fé de Simão "não desfaleça" (Lc 22,32). "Uma vez convertido", Pedro poderá exercer o seu serviço no meio dos irmãos. O arrependimento do Apóstolo - podemos como que dizer a sua conversão - constitui assim a passagem decisiva no seu itinerário de seguimento do Senhor.

1392 5. Caríssimos Irmãos e Irmãs que participais nesta celebração jubilar da Cúria Romana, as palavras de Cristo a Pedro jamais devem sair da nossa memória. O nosso cruzar a Porta Santa, para haurir a graça do grande Jubileu, deve ser animado por um profundo espírito de conversão. Nisto serve-nos de ajuda precisamente a vicissitude de Pedro, a sua experiência da debilidade humana, que o levou, pouco depois do diálogo com Jesus há pouco recordado, a esquecer as promessas feitas com tanta insistência e a renegar o seu Senhor. Apesar do seu pecado e das suas limitações, ele foi escolhido por Cristo que o chamou a uma missão altíssima: ser o fundamento da unidade visível da Igreja e confirmar os irmãos na fé.

Decisivo na vicissitude foi aquilo que aconteceu na noite entre a quinta-feira e a sexta-feira da Paixão. Cristo, levado para fora da casa do sumo sacerdote, fixou Pedro nos olhos. O Apóstolo, que pouco antes O renegara três vezes, fulgurado por aquele olhar, compreendeu tudo. Retornaram-lhe à mente as palavras do Mestre e sentiu trespassado o coração. "E, vindo para fora, chorou amargamente" (
Lc 22,62).

O pranto de Pedro comove o nosso íntimo, a ponto de nos impelir a uma autêntica purificação interior. "Afasta-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador", exclamara ele certa vez, depois da pesca milagrosa (Lc 5,8). Façamos nossa, caríssimos Irmãos e Irmãs, esta invocação de Pedro, enquanto celebramos o nosso santo Jubileu. Cristo renovará também para nós - esperamo-lo com humilde confiança - os seus prodígios: conceder-nos-á em medida superabundante a sua graça saneadora e fará novas pescas milagrosas, repletas de promessas para a missão da Igreja no terceiro milénio.

Virgem Santa, que acompanhaste com a oração os primeiros passos da Igreja nascente, vela sobre o nosso caminho jubilar. Obtém para nós a graça de experimentarmos, como Pedro, o constante apoio de Cristo. Ajuda-nos a viver a nossa missão ao serviço do Evangelho na fidelidade e na alegria, à espera do retorno glorioso do Senhor, Cristo Jesus, o mesmo ontem, hoje e sempre.





NA CELEBRAÇÃO EM RECORDAÇÃO DE


ABRAÃO, "PAI DE TODOS OS CRENTES"


23 de Fevereiro de 2000

1. "Eu sou Javé, que te fez sair de Ur dos Caldeus, para te dar esta terra como herança... Nesse dia, Javé estabeleceu uma aliança com Abraão nestes termos: "À tua descendência darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates"" (Jn 15,7 Jn 15,18).


Antes de Moisés ter ouvido no monte Sinai as célebres palavras de Javé: "Eu sou Javé teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa da escravidão" (Ex 20,2), o Patriarca Abraão já ouvira estas palavras: "Eu sou Javé, que te fez sair de Ur dos Caldeus". Portanto, devemos dirigir-nos com o pensamento rumo a esse importante lugar na história do Povo de Deus, para ali buscar os primórdios da aliança de Deus com o homem. Eis por que, neste ano do Grande Jubileu, enquanto com o coração remontamos ao início da aliança de Deus com a humanidade, o nosso olhar se volta para Abraão, para o lugar onde ele ouviu a chamada de Deus e lhe respondeu com a obediência da fé. Juntamente connosco, também os judeus e os muçulmanos olham para a figura de Abraão como para um modelo de incondicional submissão à vontade de Deus (cf. Nostra aetate NAE 3).

O autor da Carta aos Hebreus escreve: "Pela fé Abraão, chamado por Deus, partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde" (11, 8). Eis que Abraão, que o Apóstolo Paulo denomina "nosso pai na fé" (cf. Rm Rm 4,11-16), acreditou em Deus e confiou n'Aquele que o chamava. Acreditou na Sua promessa. Javé disse à Abraão: "Sai da tua terra, do meio dos teus parentes e da casa de teu pai, e vai para a terra que Eu te mostrar. Farei de ti um grande povo e abençoar-te-ei; tornarei famoso o teu nome, de modo que seja uma bênção... Em ti, todas as famílias da terra serão abençoadas" (Gn 12,1-3). Estamos porventura a falar do trajecto de uma das múltiplas migrações, típicas de uma época em que a pastorícia era uma fundamental forma de vida económica? Provavelmente sim. Porém, sem dúvida não se tratava só disto. Na vicissitude de Abraão, com quem teve início a história da salvação, já podemos captar outro significado da chamada e da promessa. A terra, rumo à qual começa a caminhar o homem guiado pela voz de Deus, não pertence exclusivamente à geografia deste mundo. Abraão, o crente que recebe o convite de Deus, é aquele que caminha na direcção de uma terra prometida que não é deste mundo.

2. Na Carta aos Hebreus, lemos: "Pela fé Abraão, colocado à prova, ofereceu Isaac; e justamente ele que havia recebido as promessas ofereceu o seu único filho, do qual fora dito: "De Isaac sairá uma descendência que terá o teu nome"" (11, 17-18). Eis o apogeu da fé de Abraão. Ele é posto à prova por aquele Deus em quem depositara a própria confiança, por aquele Deus de quem recebera a promessa concernente ao longínquo futuro: "De Isaac sairá uma descendência que terá o teu nome" (He 11,18). Porém, é chamado a oferecer em sacrifício a Deus precisamente Isaac, o seu único filho, a quem estava ligada toda a sua esperança, conforme de resto à promessa divina. Como poderá cumprir-se a promessa que Deus lhe fez de uma descendência numerosa, se Isaac, o seu filho unigénito, deverá ser oferecido em sacrifício?

Mediante a fé, Abraão sai vitorioso desta provação, uma prova dramática que punha em questão directamente a sua fé. "De facto, Abraão pensava escreve o autor da Carta aos Hebreus que Deus é capaz de ressuscitar os mortos" (11, 19). Nesse momento humanamente trágico, em que já estava pronto a infligir o golpe mortal contra o seu filho, Abraão não cessou de acreditar. Pelo contrário, a sua fé na promessa de Deus alcançou o ápice. Ele pensava: "Deus é capaz de ressuscitar os mortos". Assim pensava este pai provado, humanamente falando, para além de toda a medida. E a sua fé, o seu total abandono em Deus, não o desiludiu. Está escrito: "Por isso, Abraão recuperou o seu filho" (Ibid.). Recuperou Isaac, porque acreditou em Deus até ao fim e de maneira incondicional.

Aqui o autor da Carta parece exprimir algo mais: toda a experiência de Abraão lhe se manifesta como uma antologia do evento salvífico da morte e da ressurreição de Cristo. Este homem, que se encontra na origem da nossa fé, faz parte do eterno desígnio divino. Segundo uma tradição, o lugar onde Abraão estava prestes a sacrificar o próprio filho é o mesmo lugar em que outro pai, o Pai eterno, teria aceite a oferta do seu Filho unigénito, Jesus Cristo. Assim, o sacrifício de Abraão apresenta-se como anúncio profético do sacrifício de Cristo. "Pois Deus escreve São João amou de tal forma o mundo que entregou o seu Filho único" (Jn 3,16). Sem o saber, o Patriarca Abraão, nosso pai na fé, introduz de certa forma todos os crentes no desígnio eterno de Deus, no qual se realiza a redenção do mundo.

1393 3. Certo dia, Cristo afirmou: "Garanto-vos: antes que Abraão existisse, Eu sou!" (Jn 8,58), e estas palavras surpreenderam os ouvintes, que objectaram: "Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?" (Ibid., v. 57). Quem reagia assim, raciocinava de maneira meramente humana, e por isso não aceitava quanto Cristo dizia. "Acaso és maior que o nosso pai Abraão, que morreu? Os profetas também morreram. Quem é que pretendes ser?" (Ibid., v. 53). Jesus retorquiu-lhes: "Abraão, vosso pai, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria" (Ibid.,v. 56).

A vocação de Abraão, parece estar inteiramente orientada para o dia de que Cristo fala. Aqui, não contam os cálculos humanos; é preciso aplicar a medida de Deus. Só assim podemos compreender o justo significado da obediência de Abraão que, "esperando contra toda a esperança... acreditou" (Rm 4,18). Esperou tornar-se pai de numerosas nações, e hoje sem dúvida alegra-se connosco porque a promessa de Deus se realiza ao longo dos séculos, de geração em geração.

O facto de ter acreditado, esperando contra toda a esperança, "foi-lhe creditado como justiça" (Ibid., v. 22), não só em consideração dele, mas também de todos nós, seus descendentes na fé. Nós "acreditamos n'Aquele que ressuscitou dos mortos, Jesus nosso Senhor" (Ibid., v. 24), condenado à morte pelos nossos pecados e ressuscitado pela nossa justificação (cf. v. 25). Abraão não o sabia; todavia, mediante a obediência da fé, dirigia-se para o cumprimento de todas as promessas divinas, animado pela esperança de que estas se realizassem. E existe por ventura maior promessa do que aquela que se cumpriu no mistério pascal de Cristo? Verdadeiramente, na fé de Abraão, Deus todo-poderoso entreteceu uma aliança eterna com o género humano, e o cumprimento definitivo dessa é Jesus Cristo. O Filho unigénito do Pai, da sua mesma substância, fez-Se homem para nos introduzir, mediante a humilhação da Cruz e a glória da ressurreição, na terra de salvação que, desde o princípio, Deus rico de misericórdia prometeu à humanidade.

4. Modelo insuperável do povo remido, no caminho rumo ao cumprimento desta promessa universal, é Maria, "Aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu" (Lc 1,45).

Filha de Abraão segundo a fé e a carne, Maria participou pessoalmente na sua experiência. Também Ela, como Abraão, aceitou a imolação do Filho, mas enquanto a Abraão não foi pedido o sacrifício efectivo de Isaac, Cristo bebeu até à última gota o cálice da amargura. E Maria participou pessoalmente na provação do Filho, acreditando e esperando com firmeza aos pés da cruz (cf. Jo Jn 19,25).

Era o epílogo de uma longa expectativa. Formada na meditação das páginas proféticas, Maria pressentia o que estava à sua espera e, exaltando a misericórdia de Deus, fiel ao seu povo de geração em geração, exprimia a pronta adesão ao seu desígnio de salvação; expressava de modo especial o seu "sim" ao evento central daquele projecto, o sacrifício daquele Menino que Ela trazia no seio. Como Abraão, aceitou o sacrifício do Filho.

Hoje, unimos a nossa voz à sua e, juntamente com Ela, a Virgem Filha de Sião, proclamamos que Deus se recordou da sua misericórdia, "conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e da sua descendência para sempre" (Lc 1,55).



Homilias JOÃO PAULO II 1385