Homilias JOÃO PAULO II 1697


HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE A SANTA MISSA PARA OS ESTUDANTES

DOS ATENEUS DA CIDADE DE ROMA


Terça-feira 10 de Dezembro de 2002





1. "Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus!" (Is 40,1).

É com este convite que começa o "Livro da consolação", em que o Segundo Isaías transmite ao povo no exílio o jubiloso anúncio da libertação. O tempo do castigo já terminou; agora, Israel pode olhar para o seu futuro com confiança, porque finalmente se prepara para regressar à pátria.
Este anúncio é válido também para nós. Em última análise, todos nós somos peregrinos a caminho. A vida é uma longa senda em que cada ser humano, peregrino do Absoluto, luta por uma morada estável e segura. A passagem do tempo confirma-lhe que esta morada não pode encontrar-se aqui na terra. A nossa pátria verdadeira e definitiva é o Céu. O autor da Carta aos Hebreus dirá: "Na terra não temos uma morada estável, mas vivemos à procura da morada futura" (13, 14).

Nesta perspectiva, a palavra do Profeta é consoladora. Ele garante que Deus caminha connosco: "Consolai, consolai o meu povo... Então, revelar-se-á a glória do Senhor e todos a verão!" (Is 40,1 Is 40,5). Na noite de Belém, o Verbo de Deus fez-se nosso companheiro de viagem; assumiu a nossa própria carne e aceitou compartilhar a nossa condição até ao fim. Portanto, na fé podemos receber em toda a riqueza dos seus significativos bons votos: "Consolai, consolai o meu povo!".

2. É com este sentido de íntima alegria que vos dirijo a minha saudação, a vós, ilustres Reitores e Professores, e a vós, queridos estudantes das Universidades romanas. Exprimo a minha gratidão a cada um, por não ter querido faltar a este encontro tradicional do tempo do Advento.
Saúdo de maneira particular o Vice-Ministro para a Universidade e a Delegação dos Reitores italianos, presentes nesta celebração, assim como os representantes das antigas Universidades europeias. Agradeço ao Reitor da Universidade "Tor Vergata" e à estudante da Universidade "La Sapienza" as palavras que me dirigiu, interpretando os vossos sentimentos. Sinto-me plenamente à vontade convosco.

1698 3. Agora, voltemos a escutar as palavras do Profeta. Ele ajuda-nos a compreender melhor a mensagem de alegria, que o mistério do Natal transmite aos homens de todos os tempos e de cada uma das culturas. O nascimento de Cristo é um anúncio consolador para toda a humanidade.
Sim, "é então que se revelará a glória do Senhor e que todos a verão!" (
Is 40,5). Todos nós podemos contemplá-la e ser iluminados por ela. Diante desta glória, acrescenta o Profeta, "todo o ser humano é como a erva, e toda a sua glória é como a flor do campo" (Ibid., v. 6).

A glória de Deus e a glória dos homens: há, porventura, uma glória humana que possa comparar-se com a divina? Existe um poder humano que possa competir com o Senhor? Mesmo os grandes da terra, como Nabucodonosor, Dário e Ciro são "como a erva", como a flor, "que murcha quando, sobre elas, sopra o vento do Senhor" (Ibid., v. 7). Nada resiste a Deus. Somente Ele, com a sua omnipotência, rege o universo e orienta a sorte da humanidade e da história.

Contemplemos o século que acaba de terminar e este nosso tempo: quão frágeis foram os poderes que pretendiam impor o seu domínio! Em última análise, quando têm pretensões de omnipotência, também a ciência, a técnica e a cultura se mostram como a erva que depressa seca, como uma flor que murcha e morre.

4. Ressoem no coração de cada um estas palavras do Profeta, que juntos escutámos. Elas não destroem a liberdade humana; pelo contrário, enriquecem-na, orientando-a por caminhos de autêntica promoção do homem. Nesta perspectiva, uma grande ajuda é oferecida pela pastoral universitária que, com cuidado diligente, a Igreja promove nos centros de estudo e de investigação científica.

Recordo a minha experiência universitária pessoal. Do contacto quotidiano com os alunos e os professores, aprendi que é necessária uma formação integral, capaz de preparar os jovens para a vida: um ensino que os eduque a fim de poderem assumir de maneira responsável o papel que lhes cabe no seio da família e da sociedade, com uma competência não só profissional, mas também humana e espiritual. Daqueles anos, que assinalaram a minha existência, tirei lições úteis, que procurei propor novamente no ensaio de ética cristã, intitulado "Amor e responsabilidade" e na obra dramática sobre o matrimónio "A loja do ourives".

5. Voltemos a reflectir sobre o texto do Profeta, que a liturgia de hoje nos propõe. É uma página repleta de significados, hoje mais do que nunca, que preanuncia ao povo desanimado: "Olhai, o Senhor chega com poder e com o seu braço detém o governo" (Ibid., v. 10). A omnipotência de Deus, como melhor compreenderemos no Natal, está cheia de ternura e de misericórdia. Trata-se de um poder de amor, que se debruça com predilecção sobre os fracos e os humildes.

A página evangélica, que acaba de ser proclamada, ajuda-nos a compreender ainda mais profundamente esta mensagem de esperança. O pastor, de que Jesus fala, abandona noventa e nove ovelhas nos montes, para ir em busca daquela que se tresmalhou (cf. Mt Mt 18,12-14). Deus não considera a humanidade como uma massa anónima, mas detém-se diante de cada indivíduo e cuida de cada um pessoalmente. Cristo é o verdadeiro Pastor, que reúne o rebanho com o seu braço, "traz os cordeirinhos ao colo e guia mansamente as ovelhas que os amamentam" (Is 40,11).

6. Eloquente é a parábola da pequena ovelha que se perdeu. Diversamente dos outros animais, como por exemplo o cão, a ovelha não sabe voltar para casa sozinha e tem necessidade da orientação do pastor. Assim somos também nós, incapazes de nos salvar com as nossas forças.

Nós precisamos da intervenção do Alto. E no Natal realiza-se este prodígio do amor: Deus fez-se um de nós para nos ajudar a encontrar de novo o caminho que leva à felicidade e à salvação.
Ilustres Reitores e Professores, Caríssimos Estudantes! Abramos o coração ao Menino, que em Belém nascerá para nós! Preparemo-nos para receber a sua luz, que ilumina os nossos passos e o seu amor que dá vigor à nossa existência. Acompanhe-nos nesta emocionante expectativa a Virgem Santíssima, Sede da Sabedoria.

1699 Com estes sentimentos, formulo-vos a vós e às vossas famílias os mais sinceros bons votos. Que as próximas festas natalícias sejam serenas e santas! Bom Advento e feliz Natal! Amen.





NO ENCONTRO COM OS FIÉIS


DA PARÓQUIA ROMANA


DE SÃO JOÃO NEPOMUCENO NEUMANN


15 de Dezembro de 2002



1. "Irmãos, andai sempre alegres" (1Th 5,16). Este convite do apóstolo Paulo aos fiéis de Tessalónica, há pouco ouvido na nossa assembleia, exprime bem o clima da liturgia de hoje. De facto, hoje é o terceiro domingo do Advento, chamado tradicionalmente domingo "Gaudete", da palavra latina com que começa a Antífona de Entrada.

"Alegrai-vos sempre no Senhor". Perante as inumeráveis dificuldades da vida, as incertezas e o medo para o futuro, a tentação do desencorajamento e da desilusão, a Palavra de Deus volta sempre a propor-nos o "anúncio alegre" da salvação: o Filho de Deus vem curar "as chagas dos corações despedaçados" (cf. Is Is 61,1). Que esta alegria, prenúncio da alegria do Natal já próximo, possa encher o coração de cada um de nós e todos os âmbitos da nossa existência.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São João Nepomuceno Neumann: sede bem-vindos! É bom encontrar-vos ao aproximarem-se as festividades natalícias. O Natal, como nós sabemos, é um festa sentida de modo particular pelas famílias e pelas crianças, e vós sois uma Paróquia composta de muitas famílias jovens.

Dirijo-vos a todos vós a minha mais cordial saudação. Saúdo o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector Oeste, o vosso Pároco, Padre Danilo Bissacco e os seus Vigários, aos quais está confiado o cuidado da comunidade. Agradeço a quantos, em vosso nome, quiseram exprimir-me sentimentos de afecto e de comunhão no início da celebração. Através de vós aqui presentes, desejo fazer chegar uma palavra de sentida proximidade aos cerca de dez mil residentes no território da Paróquia.

Reunidos à volta da Eucaristia, facilmente damos conta de que a missão de cada comunidade é a de levar a mensagem do amor de Deus a todos os homens. Eis a razão por que é importante que a Eucaristia seja o coração da vida dos fiéis, como acontece hoje para a vossa Paróquia, ainda que nem todos os membros tenham podido participar pessoalmente.

3. Fundada há dois anos, a vossa comunidade não dispõe ainda de um centro de culto apropriado. Precisamente neste terceiro domingo do Advento, a diocese celebra o Dia de oração e de sensibilização para que todas as zonas da Cidade, especialmente as da periferia, tenham uma igreja com as estruturas necessárias para o desenrolar normal das actividades litúrgicas, de formação e pastorais.

Desejo que, o mais rápido possível, se possa realizar este projecto também para vós, sem, todavia, perder o estilo missionário que nestes anos tornou viva e dinâmica a vossa família paroquial.

Conheço as dificuldades com que, em cada dia, ela tem de se confrontar. A antiga Borgata Fogaccia, actualmente mais conhecida como Borgata Montespaccato, onde a Paróquia está situada, é uma zona densamente povoada, com construções feitas sem um plano regular, privada de estruturas sociais, onde é notável a presença de imigrados extra-comunitários assim como de pessoas à procura de uma ocupação estável.

4. Todavia, não temos necessidade de perder a coragem. De resto, à vossa jovem comunidade não falta a iniciativa, graças também aos queridos Padres Redentoristas que, como verdadeiros filhos de Santo Afonso, no ano do Grande Jubileu, aceitaram ocupar-se de vós. Mas, na pobreza de estruturas e no cansaço de cada dia, vós já prestais atenção a quem se encontra em dificuldade.
1700 Continuai neste caminho, carísssimos Irmãos e Irmãs. Sobretudo, prestai atenção às crianças e adolescentes, não deixando faltar-lhes a atenção, amizade e confiança. Defendei as famílias, em particular as jovens e as pobres ou em dificuldade.

Proteja-vos, caríssimos, o vosso celeste Padroeiro, São João Nepomuceno Neumann, por muitos talvez menos conhecido do que o que ele merecia. Esta grande figura de Bispo missionário, extraordinãrio pioneiro do Evangelho na América do Norte em meados do século dezanove, nos breves anos da sua existência, gastou-se pelo Senhor, pela Igreja e pelo povo que lhe estava confiado. Imitai o seu zelo pelo anúncio do Evangelho e o ardente amor pela Igreja e pelo próximo necessitado.

5. "Preparai o caminho do Senhor" (
Jn 1,23). Acolhamos este convite do Evangelista! A aproximação do Natal estimula-nos a uma atitude mais vigilante de espera do Senhor que vem, enquanto a liturgia de hoje nos apresenta João Baptista como exemplo a imitar.

Volvamos, por fim, o nosso olhar para Maria, "causa" da nossa verdadeira e profunda alegria, para que obtenha para cada um de nós a alegria que vem de Deus e que ninguém nos poderá tirar. Amen!



MISSA DA MEIA NOITE


Natal, 24 de Dezembro de 2002

1. «Dum medium silentium omnia... - Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas e a noite estava no meio do seu curso, a vossa Palavra omnipotente, Senhor, desceu do seu trono real» (Ant. ao Magn. 26 de Dezembro).


Nesta Santa Noite cumpre-se a antiga promessa: o tempo de espera terminou, e a Virgem dá à luz o Messias.

Jesus nasce para a humanidade que vai em busca de liberdade e de paz; nasce para cada homem oprimido pelo pecado, necessitado de salvação e sedento de esperança.

Ao clamor incessante dos povos: Vem, Senhor, salvai-nos!, Deus responde nesta noite: a sua eterna Palavra de amor assumiu a nossa carne mortal. «Sermo tuus, Domine, a regalibus sedibus venit». O Verbo entrou no tempo: nasceu o Emanuel, o Deus connosco.

Nas catedrais e nas basílicas, como nas mais pequenas e longínquas igrejas de todos os recantos do mundo, eleva-se comovido o cântico dos cristãos: «Hoje nasceu para nós o Salvador» (Sal. resp.).

2. Maria «deu à luz o seu filho primogénito; envolveu-O em panos e recostou-O numa manjedoira» (Lc 2,7)

1701 Eis o ícone do Natal: um frágil recém-nascido, que as mãos de uma mulher protegem com pobres panos e depõe na manjedoira.

Quem pode pensar que aquele pequeno ser humano é o «Filho do Altíssimo» (
Lc 1,32)? Somente Ela, a Mãe, conhece a verdade e conserva o seu mistério.

Nesta noite, nós também podemos ‘passar' através do seu olhar, para reconhecer neste Menino o rosto humano de Deus. Para nós também, homens do terceiro milénio, é possível encontrar Cristo e contemplá-Lo com os olhos de Maria.

A noite de Natal torna-se então escola de fé e de vida.

3. Na segunda Leitura, há pouco proclamada, o apóstolo Paulo nos ajuda a compreender o evento-Cristo, que celebramos nesta noite de luz. Ele escreve: «Manifestou-se a graça de Deus, que nos traz a salvação para todos os homens» (Tt 2,11).

A «graça de Deus que manifestou-se» em Jesus é o seu amor misericordioso, que preside a inteira história da salvação e a guia em direcção à sua definitiva realização. A revelação de Deus «na humildade da natureza humana» (Prefácio do Advento I) constitui a antecipação, na terra, da sua «manifestação» gloriosa no fim dos tempos (cf Tt 2,13).

Mais: o acontecimento histórico que estamos vivendo no mistério é o "caminho" que nos é oferecido para poder encontrar a Cristo glorioso. De facto, com a sua Encarnação, Jesus «nos ensina - como observa o Apóstolo - a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos e a viver com ponderação, justiça e piedade, no mundo presente, enquanto aguardamos a ditosa esperança» (Tt 2,12-13).

Ó Natal do Senhor, que inspirastes Santos de todos os tempos!

Penso, entre outros, em São Bernardo e nas suas elevações espirituais diante das cenas comovedoras do presépio; penso em São Francisco de Assis, idealizador da primeira animação "ao vivo" do mistério da Noite Santa; penso em Santa Teresa do Menino Jesus, que diante da orgulhosa consciência moderna voltou a propor, com o seu "pequeno caminho", o autêntico espírito do Natal.

4. «Achareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira» (Lc 2,12).
O Menino jaz na pobreza duma manjedoira: este é o sinal de Deus. Passam os séculos e os milénios, mas o sinal permanece, e vale também para nós, homens e mulheres do terceiro milénio. É sinal de esperança para a inteira família humana; sinal de paz para os que sofrem por causa de todo género de conflito; sinal de libertação para os pobres e oprimidos; sinal de misericórdia para quem se encerra no círculo vicioso do pecado; sinal de amor e de consolação para quem se sente só e abandonado.

1702 Sinal pequeno e frágil, humilde e silencioso, mas rico do poder de Deus, que por amor fez-se homem.

5. Senhor Jesus, nós nos aproximamos,
com os pastores, do vosso presépio
para Vos contemplar envolto em panos
e reclinado na manjedoira.
Ó Menino de Belém,
Vos adoramos em silêncio com Maria,
vossa Mãe sempre Virgem.
A Vós glória e louvor nos séculos,
divino Salvador do mundo! Amen.





NA CELEBRAÇÃO DO SOLENE


"TE DEUM" DE AÇÃO DE GRAÇAS


31 de Dezembro de 2002





1703 1. "Nascido de mulher, nascido sujeito à Lei" (Ga 4,4).

Com esta expressão o apóstolo Paulo resume o mistério do Filho de Deus, gerado mas não criado, da mesma substância do Pai".

"Tu Patris sempiternus es Filius" cantámos há pouco no hino Te Deum. No abismo imperscrutável de Deus tem origem ab aeterno a missão de Cristo, destinada a "reunir... todas as coisas que há no Céu e na Terra" (Ep 1,10).

O tempo, que teve início com a criação, alcança a sua plenitude quando é "visitado" por Deus na Pessoa do Filho unigénito. No momento em que Jesus nasce em Belém, acontecimento que tem um alcance incalculável na história da salvação, a bondade de Deus adquire um "rosto" visível e sensível (cf. Tt Tt 3,4).

Diante do Menino, que Maria envolve em panos e coloca na manjedoira, parece que tudo pára. Aquele que é o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim, geme entre os braços de uma mulher: o Criador nasceu entre nós!

Em Jesus o Pai celeste quis resgatar-nos do pecado e adoptar-nos como filhos (cf. Gl Ga 4,5). Detenhamo-nos com Maria em silêncio e em adoração face a um mistério tão grande!

2. Eis o sentimento que se apodera de nós, quando celebramos as Primeiras Vésperas da solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus. A Liturgia faz coincidir esta significativa festa mariana com o fim de um ano e o início de outro. Portanto, esta tarde, à contemplação do mistério da divina maternidade da Virgem unimos o cântico da nossa gratidão, ao terminar o ano de 2002, enquanto se apresenta ao horizonte da história o ano de 2003. Agradecemos a Deus do fundo do coração todos os benefícios que nos concedeu ao longo dos passados doze meses.

Penso de modo particular na generosa resposta de numerosos jovens à proposta cristã; penso na crescente sensibilidade eclesial aos valores da paz, da vida e da salvaguarda da criação; penso também nalguns momentos significativos do nosso difícil caminho ecuménico. Por tudo, damos graças a Deus. De facto, os seus dons antepõem-se e acompanham sempre qualquer gesto positivo realizado por nós.

3. Sinto-me feliz por viver estes momentos, como todos os anos, com todos vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, que representais a Comunidade diocesana de Roma. Dirijo a cada um de vós uma cordial saudação. Saúdo o Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares, os sacerdotes e as religiosas empenhados no serviço pastoral nas várias Paróquias e nos Cargos diocesanos. Saúdo o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Roma, os membros da Junta e do Conselho Municipal, bem como as demais Autoridades provinciais e regionais. O meu pensamento vai ainda para quantos vivem na nossa Cidade e Região, sobretudo para todos os que se encontram em situações de dificuldade e mal-estar.

O caminho da Igreja de Roma, este ano, caracterizou-se por um empenho especial pelas vocações sacerdotais e religiosas. Para este tema, decisivo para o presente e para o futuro da evangelização, dirigiu a sua atenção o Congresso diocesano do passado mês de Junho. Para este mesmo objectivo convergem as várias iniciativas e actividades pastorais promovidas pela Diocese. A atenção dedicada às vocações está justamente inserida no âmbito da opção de missionariedade que, depois da Missão da Cidade, constitui a orientação básica da vida pastoral da Igreja de Roma.

4. Todos devem sentir-se empenhados nesta ampla acção missionária e vocacional. Mas compete em primeiro lugar aos sacerdotes trabalhar pelas vocações, antes de mais, vivendo com alegria o grande dom e mistério que Deus lhes confiou, de modo a "gerar" novas e santas vocações.
1704 A pastoral vocacional deve ser uma prioridade para as paróquias, chamadas a serem escolas de santidade e de oração, lugares de caridade e de serviço aos irmãos, e sobretudo para as famílias que, enquanto células vivas, constituem a Comunidade paroquial. Quando reina o amor entre os cônjuges, os filhos crescem moralmente sadios e as vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada desabrocham mais facilmente. Neste ano, que eu quis proclamar "Ano do Rosário", convido-vos particularmente a vós, queridas famílias de Roma, à recitação quotidiana do Rosário, para que se crie no vosso interior o clima favorável para a escuta de Deus e para a realização fiel da sua vontade.

5. "Fiat misericordia tua, Domine, super nos, quemadmodum speravimus in Te A Tua misericórdia esteja connosco: em Ti esperamos".

A tua misericórdia, Senhor! Nesta Liturgia de fim de ano o louvor e a acção de graças são acompanhados por um sincero exame de consciência pessoal e comunitário. Pedimos perdão ao Senhor pelas faltas de que somos culpados, com a certeza de que Deus, rico em misericórdia, é infinitamente maior que os nossos pecados.

"Em Ti esperamos". Em Ti, Senhor, reafirmamos esta tarde depomos a nossa esperança. Tu, no Natal, trouxestes a alegria ao mundo, irradiando no caminho dos homens e dos povos a tua luz. As ansiedades e as angústias não podem extingui-la; o esplendor da Tua presença conforta-nos constantemente.

Oxalá todosos homens e mulheres de boa vontade encontrem e conheçam o poder do Teu amor e da Tua paz. Oxalá a cidade de Roma e toda a humanidade Te acolham como seu único Salvador. São estes os meus votos para todos; votos que confio nas mãos de Maria, Mãe de Deus Salus Populi Romani.





                                                                         2003




NA JORNADA MUNDIAL DA PAZ


1 de Janeiro de 2003



1. "Que o Senhor te abençoe e te proteja... que o Senhor dirija o Seu olhar para ti e te conceda a paz! (Nb 6,24 Nb 6,26): esta é a bênção que, no Antigo Testamento, os sacerdotes pronunciavam sobre o povo eleito nas grandes festas religiosas. A Comunidade eclesial volta hoje a ouvi-la, enquanto pede ao Senhor que abençoe o novo ano que agora iniciamos.

"Que o Senhor Te abençoe e te proteja". Perante os acontecimentos que perturbam o Planeta, aparece com clareza que só Deus pode tocar o espírito humano na sua profundidade; só a sua paz pode voltar a dar esperança à humanidade. É preciso que Ele volva para nós o seu rosto, nos abençoe, nos proteja e nos dê o dom da sua paz.

Por isso, é muito oportuno começar o novo ano pedindo-Lhe este dom tão precioso. Façamo-lo por intercessão de Maria, Mãe do "Príncipe da paz".

2. Nesta solene celebração, sinto-me feliz por dirigir a minha respeitosa saudação aos ilustres Senhores Embaixadores do Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé. A minha afectuosa saudação vai, depois, para o meu Secretário de Estado e para os outros Responsáveis dos Dicastérios da Cúria Romana, com um pensamento particular para o novo Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz. Desejo manifestar-lhes o reconhecimento pelo seu empenho de todos os dias em favor de uma pacífica convivência entre os povos, segundo as linhas das Mensagens para a Jornada Mundial da Paz. A Mensagem deste ano evoca a Encíclica Pacem in terris, no quadragésimo aniversário da sua publicação. O conteúdo deste notável e histórico documento do Papa João XXIII constitui "um compromisso permanente" para os crentes e para os homens de boa vontade neste nosso tempo sobrecarregado de tensões, mas também cheio de tantas atitudes positivas.

1705 3. Quando foi escrita a Pacem in terris, perfilavam-se nuvens ameaçadoras no horizonte mundial e sobre a humanidade pairava o pesadelo de uma guerra atómica.

O meu venerado Predecessor, que tive a alegria de elevar às honras dos altares, não se deixou vencer pela tentação do desânimo. Pelo contrário, apoiando-se numa sólida confiança em Deus e na potencialidade do coração humano, indicou com força "a verdade, a justiça, o amor e a liberdade" como os "quatro pilares" sobre os quais construir uma paz duradoura (cf. Mensagem citada, nº 3).

O seu ensinamento permanece actual. Hoje como então, apesar dos graves e repetidos atentados contra a serena e solidária convivência dos povos, a paz é possível e necessária. Assim, a paz é um bem precioso a pedir a Deus e a construir com todo o esforço, mediante gestos concretos de paz, da parte de todos os homens e mulheres de boa vontade (cf. Mensagem citada, nº 9).

4. A página evangélica, que há pouco escutámos, conduziu-nos em espírito a Belém, onde os pastores se dirigiram para adorar o Menino na noite de Natal (cf. Lc
Lc 2,16). Como não dirigir o olhar com apreensão e dor para aquele lugar santo onde nasceu Jesus?

Belém! A Terra Santa! A dramática e persistente tensão em que se encontra esta região do Médio Oriente, torna mais urgente a procura de uma solução positiva do conflito fratricida e insensato, que há demasiado tempo a está a ensanguentar. É necessária a cooperação de todos os que crêem em Deus, conscientes de que a autêntica religiosidade, longe de pôr os indivíduos e os povos em conflito entre si, antes os impele a construir, em conjunto, um mundo de paz.

Quis recordá-lo com vigor na Mensagem para esta Jornada Mundial da Paz: "a religião possui uma função vital para suscitar gestos de paz e consolidar condições de paz". E acrescentei que "ela pode desempenhá-la de forma tanto mais eficaz quanto mais decididamente se concentrar naquilo que lhe é próprio: a abertura a Deus, o ensino da fraternidade universal e a promoção duma cultura solidária" (Mensagem citada, nº 9).

Perante os conflitos de hoje e as tensões ameaçadoras do momento, mais uma vez convido a rezar a fim de que sejam procurados "meios pacíficos" de entendimento, inspirados por "uma vontade de acordo, leal e construtiva", de harmonia com os princípios do direito internacional (cf. Mensagem citada, nº 8).

5. "Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, ...para que recebêssemos a adopção de filhos" (Ga 4,4-5). Na plenitude do tempo, recorda São Paulo, Deus mandou ao mundo um Salvador, nascido de mulher. O novo ano abre-se, portanto, sob o sinal de uma mulher, sob o sinal de uma mãe: Maria.

No prolongamento espiritual do Grande Jubileu, do qual ainda não se apagaram os ecos, quis proclamar, em Outubro passado, o Ano do Rosário. Depois de ter ter proposto de novo e com vigor Cristo como único Redentor do mundo, desejei que este ano fosse assinalado por uma particular presença de Maria. Na Carta apostólica Rosarium Virginis Mariae escrevi que "o Rosário é, por natureza, uma oração orientada para a paz, precisamente porque consiste na contemplação de Cristo, Príncipe da paz e "nossa paz" (Ep 2,14). Quem assimila o mistério de Cristo e o Rosário visa isto mesmo apreende o segredo da paz e dele faz um projecto de vida" (40).

Seja Maria a ajudar-nos a descobrir o rosto de Jesus, Príncipe da Paz. Que Ela nos defenda e nos acompanhe neste novo ano: e obtenha para nós e para o mundo inteiro o desejado dom da paz.
Louvado seja Jesus Cristo!





DURANTE A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


PARA A ORDENAÇÃO DE DOZE BISPOS


NA SOLENIDADE DA EPIFANIA


1706
6 de Janeiro de 2003



1. "Levanta-te e resplandece" (
Is 60,1).

O profeta Isaías dirige-se com estas palavras à cidade de Jerusalém. Convida-a a deixar-se iluminar pelo seu Senhor, luz infinita que faz resplandecer a sua glória sobre Israel. O povo de Deus está chamado a tornar-se, ele próprio, luz, para orientar o caminho das nações, sobre as quais pesam as "trevas" e a "escuridão" (Is 60,2).

Este oráculo ressoa com plenitude de significado nesta solenidade da Epifania do Senhor. Os Magos, que vêm do Oriente a Jerusalém são guiados por um astro celeste (cf. Mt Mt 2,1-2) e representam as primícias dos povos atraídos pela luz de Cristo. Eles reconhecem em Jesus o Messias, e antecipadamente mostram que se está a cumprir o "mistério" do qual fala São Paulo na segunda Leitura: "os gentios... pertencem ao mesmo Corpo e comparticipam na Promessa, feita em Cristo Jesus por meio do Evangelho" (Ep 3,6).

2. Caríssimos Irmãos eleitos ao Episcopado, vós tornais-vos hoje, a título pleno, ministros deste mistério, recebendo o Sacramento que faz de vós sucessores dos Apóstolos.

Os vossos nomes e os vossos rostos falam da Igreja universal: a Catholica, na linguagem dos antigos Padres. De facto, vós provindes de várias nações e continentes; e agora, sois destinados para diversos Países.

A fé em Cristo, luz do mundo, guiou os vossos passos desde a juventude até à oferenda de vós próprios na consagração presbiteral. Não oferecestes ao Senhor ouro, incenso ou mirra, mas a vossa própria vida. Agora Cristo pede que renoveis esta oblação, para assumir na Igreja o ministério episcopal. Assim como fez um dia com os Doze, assim convida agora cada um de vós a partilhar plenamente a sua vida e a sua missão (cf. Mc Mc 3,13-15).

Recebei a plenitude do dom; é-vos pedida, ao mesmo tempo, a plenitude do compromisso.

3. Saúdo-vos com afecto e abraço espiritualmente cada um de vós. Saúdo-vos a vós, queridos Monsenhores Paul Tschang In-nam, Celestino Migliore, Pierre Nguyên Van Tôt, e Pedro López Quintana, que sereis meus Representantes nos Países da Ásia e da África e junto da Organização das Nações Unidas. Agradeço-vos o precioso serviço prestado até agora à Santa Sé, e faço votos para que o vosso ministério pastoral contribua para fazer resplandecer entre os povos a luz de Cristo. No respeito das instituições e das culturas, convidai as Nações, para as quais sois enviados, a abrirem-se ao Evangelho. Só Cristo pode garantir uma profunda renovação das consciências e dos povos.

Saúdo-vos a vós, estimados Monsenhores Angelo Amato e Brian Farrell, a quem confiei na Cúria Romana os cargos, respectivamente, de Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé e de Secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Fidelidade à Tradição católica e empenho no diálogo ecuménico: que o vosso serviço progrida sempre por este caminho seguro.

Saúdo-vos depois a vós, amados Monsenhores Calogero La Piana, Bispo de Mazara del Vallo (Itália); René-Marie Ehuzu, Bispo de Abimey (Benim); Ján Babjak, Bispo da Eparquia de Presov (Eslováquia); Andraos Abouma, Auxiliar do Patriarcado de Babilónia dos Caldeus (Iraque); Milan Sasik, Administrador Apostólico "ad nutum Sanctae Sedis" da Eparquia de Mukacheve (Ucrânia); e Giuseppe Nazzaro, Vigário Apostólico de Alepo dos Latinos (Siria).

1707 Que as queridas comunidades eclesiais que vos receberao, e que saùdo com afecto, encontrem em vós Pastores diligentes e generosos. A exemplo e com a ajuda do Bom Pastor, guiai sempre os crentes para os prados da vida eterna.

4. "É por isto que todos saberao que sois Meus discipulos: se vos amardes uns aos outros" (
Jn 13,35).

Estimados e venerados Pastores, o Mestre divino pede-vos que vivais e testemunheis o seu amor. De facto, é o anùncio do amor salvifico de Deus a sintese da missao que hoje, Solenidade da Epifania do Senhor, a Igreja vos confia.

Fazei resplandecer a beleza do Evangelho, compendio da caridade divina, aos olhos do rebanho que vos é confiado. Oferecei a todo o povo cristao um testemunho claro de santidade. Sede sempre epifania de Cristo e do seu amor misericordioso, e nada vos impeça de cumprir esta missao.

Maria Santissima, mestra de conformidade perfeita com o seu Filho divino, vos ampare e vos proteja nas várias tarefas que sois chamados a desempenhar.

Como exorta o Apóstolo, preocupai-vos por reflectir, "como um espelho, a glória do Senhor" e sereis transformados "naquela mesma imagem, de glória em glória" (cf. 2Co 3,18). Oxalá isto se realize em cada um de vós, para glória de Deus e para o bem das almas. Amen!



HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

NA FESTA DO BATISMO DO SENHOR

12 de Janeiro de 2003





1. "Buscai o Senhor, enquanto se pode encontrar; invocai-O enquanto está perto" (Is 55,6).
Estas palavras, tiradas da segunda parte do Livro de Isaías, ressoam neste domigo que encerra o tempo do Natal. Elas constituem um convite a aprofundar o significado que hoje tem para nós a festa do Baptismo do Senhor.

Voltamos espiritualmente às margens do Jordão, onde João Baptista administra um baptismo de penitência, exortando à conversão. Diante do Precursor chega também Jesus, que, com a sua presença transforma aquele gesto de penitência numa solene manifestação da sua divindade. Improvisadamente ouve-se uma voz que provém do céu: "Tu és o Meu Filho muito amado, em Ti pus toda a Minha complacência" (Mc 1,11), e o Espírito desce sobre Jesus em forma de pomba.

Naquele acontecimento extraordinário João vê realizar-se quanto fora dito a respeito do messias nascido em Belém, adorado pelos pastores e pelos Magos. É precisamente Ele o anunciado pelos Profetas, o Filho predilecto do Pai, que devemos procurar enquanto Ele se deixa encontrar, e devemos invocar enquanto está próximo de nós.


Homilias JOÃO PAULO II 1697