Homilias JOÃO PAULO II 1733


VIAGEM APOSTÓLICA À CROÁCIA



DURANTE A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA


NO FÓRUM MUNICIPAL DE ZADAR


1734
9 de Junho de 2003

1. Caríssimos fiéis da Arquidiocese de Zadar e das regiões limítrofes, congregados nesta Praça do Fórum, à sombra da Catedral de Santa Anastácia, Mártir de Sirmio, é com alegria que vos saúdo no termo desta minha viagem apostólica à Croácia. Estamos aqui reunidos para celebrar em conjunto a Oração da Hora Sexta.


Saúdo-vos com afecto no nome do Senhor, recordando a presença nesta vossa cidade, do meu Predecessor, o Papa Alexandre III que, em Março de 1177, esteve aqui, visitando também algumas localidades vizinhas. Saúdo o vosso Arcebispo, D. Ivan Prendja, que me acolheu em nome de todos, e o Arcebispo Emérito D. Marijan Oblak, que participou comigo no Concílio Ecuménico Vaticano II. Dirijo um pensamento fraternal aos Bispos croatas, que hoje me rodeiam e que me acompanharam durante esta viagem apostólica. Saúdo cordialmente os Senhores Cardeais Sodano, Vlk e Puljic. Dirijo a minha saudação também ao Bispo sérvio-ortodoxo da Dalmácia, Fotije.

Por fim, saúdo com respeito o Senhor Presidente da República, a quem agradeço sinceramente a presença neste encontro, assim como as outras Autoridades civis e militares, a quem dirijo o meu agradecimento por tudo o que fizeram para a realização da minha visita.

2. A nossa assembleia litúrgica tem lugar no dia seguinte à solenidade do Pentecostes, no dia em que celebrais a Festa de Maria, Mãe da Igreja. A leitura, que acaba de ser proclamada, apresenta-a no Cenáculo, rodeada pela primitiva comunidade. O pequeno grupo, congregado "no andar de cima" da casa (cf. Act
Ac 1,13), reza e espera. Virá o Espírito Santo e, entao, abrir-se-ão as portas do Cenáculo para permitir que o anúncio evangélico saia para a praça de Jerusalém e se encaminhe pelas veredas do mundo.

Como no dia do Pentecostes, a Virgem permanece espiritualmente no meio dos fiéis, ao longo dos séculos, para invocar a constante efusão dos dons do Espírito sobre a Igreja, que enfrenta os desafios emergentes nas várias épocas da história.

Assim, Maria realiza plenamente a sua missão maternal: não é Mãe somente porque deu à luz e alimentou o Filho de Deus; é Mãe também porque é "a Virgem que se fez Igreja", como a exaltava Francisco de Assis (cf. Fontes Franciscanas, 259) que, segundo a tradição, passou por Zadar no começo do século XIII, durante a sua viagem rumo ao Oriente e à Terra Santa.

3. Reunindo à sua volta os Apóstolos e os discípulos tentados pela dispersão, a Virgem Maria entrega-os ao "fogo" do Espírito, que os há-de lançar na aventura da missão. O "sensus fidei" do povo cristão reconhecerá a presença activa de Maria, não apenas na comunidade dos primórdios, mas também nas vicissitudes seguintes da Igreja. Por isso, não hesitará em tributar-lhe o título de "Rainha dos Apóstolos".

A Virgem Santíssima, que segundo o Evangelista Lucas, "conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração" (2, 19), continua a propor à memória dos fiéis os acontecimentos históricos que fundamentam a sua fé. Testemunha das origens, garantia da fidelidade das gerações cristãs, Maria repete em todos os tempos as palavras pronunciadas nas bodas de Caná: "Fazei o que Ele vos disser" (Jn 2,5).

4. As palavras e o exemplo de Maria constituem uma sublime escola de vida, em que se formam os apóstolos, tanto os de ontem como os de hoje. Maria prepara-os continuamente para a missão, com a assiduidade da sua oração ao Pai, com o apego ao Filho e com a sua disponibilidade às sugestões do Espírito.

É-me grato tomar conhecimento do facto de que, nos últimos anos, esta Arquidiocese viu florescer e multiplicar-se várias formas de compromisso e de apostolado dos leigos. Dilectos Irmãos e Irmãs, aprendei de Maria a ser testemunhas credíveis e apóstolos generosos, oferecendo a vossa contribuição para a grandiosa obra da nova evangelização. E recordai sempre que o apostolado autêntico exige como condição prévia o encontro pessoal com Jesus vivo, o Senhor (cf. Ap Ap 1,17-18).

1735 5. Maria Santíssima permanece como modelo de quantos escutam a Palavra de Deus e a poem em prática (cf. Lc Lc 8,21). Então, como poderia deixar de existir um profundo entendimento espiritual entre os fiéis e a Virgem do Magnificat? Os pobres e os humildes de todos os tempos não se enganaram, fazendo de Maria no silêncio, a sua porta-voz e, de Maria no serviço, a sua Rainha.

Também nós nos aproximamos dela, para aprender a sua docilidade e a sua abertura a Deus. Inclusivamente nós, peregrinos do terceiro milénio, nos confiamos aos seus cuidados a fim de que, através da sua intercessão, sustente a nossa fé, alimente a nossa esperança e torne fecunda a nossa caridade:

Santa Maria,
Mãe de Deus e nossa Mãe,
lembra-te de todos os teus filhos,
vem em nossa ajuda.

Orienta-nos rumo a Cristo,
Caminho, Verdade e Vida;
implora do Pai, para nós,
os dons do Espírito,
a protecção contra as ameaças
1736 e a libertação do mal.

Ajuda-nos a dar testemunho,
em todas as circunstâncias,
da fecundidade do teu amor
e do sentido autêntico da vida;
ensina-nos a edificar contigo
o Reino do teu Filho,
Reino de justiça, de amor e de paz!

Reza por nós
e se a nossa Padroeira,
agora e sempre.

1737 Confiamo-nos, hoje, a nós mesmos,
assim como toda esta terra
e todo o povo da Croácia
a ti, que és também
Nossa Senhora
do Grande Voto Baptismal Croata,
Rainha do Santo Rosário.




Saudação final


No momento de voltar para Roma, desejo dirigir uma vez mais a minha saudação cheia de respeito por todos e por cada um de vós.

Em primeiro lugar, agradeço aos meus Irmãos Bispos da Croácia, que me receberam e me acompanharam nas suas Igrejas locais, cuja vitalidade e zelo apostólico não deixei de admirar: conservo no meu coração estes momentos de comunhão.

Estou grato às Autoridades do País, de modo particular ao Senhor Presidente da República. Transmito-lhes a minha gratidão pelo empenho com que organizaram esta minha visita. Agradeço aos Responsáveis do serviço de segurança, aos Operadores no campo das comunicações sociais e a todos aqueles que, de várias formas, mais ou menos evidentes, colaboraram para o bom êxito destes dias.

1738 Agradeço-te especialmente a ti, amado povo da Croácia, que me abriste os braços e o coração ao longo das estradas da Dalmácia, da Eslavónia e do Quarnero. Recordo o sofrimento causado por uma guerra que ainda marca o teu rosto e a tua vida, e sinto-me próximo de quantos sofrem devido às tristes consequências desse conflito. Porém, conheço também a tua força, a tua coragem e a tua esperança, e sei que a constância do teu compromisso vai permitir-te ver dias melhores.
Estou-te grato igualmente a ti, juventude croata. Deus te proteja!

Terra da Croácia, Deus te abençoe!


HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA

NA SOLENIDADE DO CORPUS CHRISTI


Basílica de S. João de Latrão, 19 de Junho de 2003



1. "Ecclesia de Eucharistia vivit A Igreja vive da Eucaristia". Começa com estas palavras a Carta encíclica sobre a Eucaristia, que assinei na passada Quinta-Feira Santa, durante a Missa in Cena Domini. A solenidade de hoje do "Corpus Domini" recorda aquela sugestiva celebração, fazendo-nos reviver, ao mesmo tempo, a intensa atmosfera da Última Ceia.

"Tomai, isto é o Meu corpo... Isto é o Meu sangue" (Mc 14,22-24). Ouçamos de novo as palavras de Jesus, enquanto oferece aos seus discípulos o pão que se tornou seu Corpo, e o vinho que se tornou seu Sangue. Ele inaugura assim o novo rito pascal: a Eucaristia é o sacramento da nova e eterna Aliança.

Com aqueles gestos e com aquelas palavras, Cristo leva a cumprimento a longa pedagogia dos ritos antigos, recordada há pouco na primeira Leitura (cf. Êx Ex 24,3-8).

2. A Igreja volta sempre constantemente ao Cenáculo como lugar do seu nascimento. Volta ali porque o dom eucarístico estabelece uma misteriosa "contemporaneidade" entre a Páscoa do Senhor e o provir do mundo e das gerações (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 5).

Também esta tarde, com profunda gratidão a Deus, nos detemos em silêncio diante do mistério da fé mysterium fidei. Contemplamo-lo com aquele sentimento íntimo que chamei, na Encíclica, a "estupefacção eucarística" (ibid., 6). Estupefacção grande e grata diante do Sacramento no qual Cristo quis "concentrar" para sempre todo o seu mistério de amor (cf. ibid., 5).

Contemplamos o rosto eucarístico de Cristo, como fizeram os Apóstolos e, em seguida, os santos de todos os séculos. Contemplamo-lo sobretudo pondo-nos na escola de Maria, "mulher "eucarística" em toda a sua vida" (Ibid., 53), ela que foi "o primeiro "tabernáculo" da história" (Ibid., 55).

3. É este o significado da bonita tradição do Corpus Domini que esta tarde se renova. Com ela, também a Igreja que está em Roma manifesta o seu vínculo constitutivo com a Eucaristia, professa com alegria que "vive da Eucaristia".

1739 Vivem da Eucaristia o seu Bispo, Sucessor de Pedro, e os Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio; da Eucaristia vivem os Religiosos e as Religiosas, os leigos consagrados e todos os baptizados.

Da Eucaristia vivem, sobretudo, as famílias cristãs, às quais foi dedicado há poucos dias o Congresso eclesial diocesano. Caríssimas famílias de Roma! A viva presença eucarística de Cristo alimente em vós a graça do matrimónio e vos permita progredir no caminho da santidade conjugal e familiar. Tirai desta fonte o segredo da vossa unidade e do vosso amor, imitando o exemplo dos beatos esposos Luigi e Maria Beltrame Quatrocchi, que começavam as suas jornadas recebendo o banquete eucarístico.

4. Depois da santa Missa dirigir-nos-emos rezando e cantando para a Basílica de Santa Maria Maior. Com esta procissão desejamos exprimir simbolicamente o nosso ser peregrinos, "viatores", para a pátria celeste.

Não estamos sozinhos na nossa peregrinação: connosco caminha Cristo, pão da vida, "panis angelorum / factus cibus viatorum pão dos anjos / pão dos peregrinos" (Sequência).

Jesus, pão espiritual que alimenta a esperança dos crentes, ampara-nos neste itinerário para o Céu e fortalece a nossa comunhão com a Igreja celeste.

A Santíssima Eucaristia, pedaço de Paraíso que se abre sobre a terra, penetra as nuvens da nossa história. Como raio de glória da Jerusalém celeste, ela lança luz sobre o nosso caminho (cf. Ecclesia de Eucharistia
EE 19).

5. "Ave, verum corpus natum de Maria Virgine": Ave, verdadeiro corpo de Cristo, nascido da Virgem Maria!

A alma expande-se em adoração maravilhada diante de um Mistério tão sublime.

"Vere passum, immolatum in cruce pro homine". Da tua morte na Cruz, ó Senhor, surge para nós a vida que não perece.

"Esto nobis praegustatum mortis in examine". Fazei, ó Senhor, com que cada um de nós, alimentado por vós, possa enfrentar com esperança confiante qualquer provação da vida, até ao dia em que serás viático para a última viagem, para a casa do Pai.

"O Iesu dulcis! O Iesu pie! O Jesu, fili Mariae! Ó doce Jesus! Ó Jesus piedoso! Ó Jesus, Filho de Maria"! Amen.





VIAGEM À BÓSNIA-HERZEGOVINA




NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


PARA A BEATIFICAÇÃO DE IVAN MERZ


1740
Banja Luka, 22 de Junho de 2003








1. "Vós sois a luz do mundo". Caríssimos Irmãos e Irmãs, Jesus repete hoje esta afirmação para nós, na nossa assembleia litúrgica. Não é uma simples exortação moral. É uma constatação, que exprime uma exigência insuprimível que deriva do Baptismo recebido.

Com efeito, em virtude deste Sacramento, o ser humano está inserido no Corpo místico de Cristo (cf. Rm
Rm 6,3-5). O apóstolo Paulo afirma: "todos os que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo" (Ga 3,27). Justamente por isso, Santo Agostinho exclamava: "Alegremo-nos e agradeçamos: tornámo-nos não só cristãos, mas Cristo... Enchei-vos de alegria e rejubilai: tornámo-nos Cristo" (In Ioann. Evang. tract., 21, 8: CCL 36, 216).

Mas Cristo "é a luz verdadeira, que a todo o homem ilumina" (Jn 1,9). Por isso, o cristão é chamado a tornar-se por sua vez reflexo desta Luz, seguindo e imitando Jesus. Por isso ele escutará e meditará a sua palavra, participará de maneira consciente e activa na vida litúrgica e sacramental da Igreja, praticará o mandamento do amor servindo os irmãos, sobretudo se são pequeninos, pobres e se sofrem.

2. Saúdo com afecto o Bispo de Banja Luka e Presidente da Conferência Episcopal, D. Franjo Komarica, e agradeço-lhe as palavras cordiais que me dirigiu no começo desta Celebração eucarística. O meu pensamento deferente dirige-se, depois, para os outros Bispos da Bósnia e Herzegovina, sobretudo ao Senhor Cardeal Vinko Puljic, Arcebispo de Vrhbosna e originário desta diocese, e aos outros Cardeais e Bispos que nos acompanham. Dirijo uma saudação no Senhor a todos os peregrinos aqui reunidos das diversas partes do País e das Nações vizinhas.
Envio uma saudação fraterna a Sua Beatitude o Patriarca Pavle e aos Membros do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa sérvia. O novo vigor que, em tempos recentes, o nosso caminho para a mútua compreensão, o respeito recíproco e a solidariedade fraterna adquiriu são motivo de alegria e de esperança para esta região.

O meu pensamento dirige-se também para os fiéis das outras comunidades eclesiais da Bósnia e Herzegovina, assim como para os fiéis da Comunidade hebraica e da Comunidade islâmica.
Saúdo os Senhores Membros da Presidencia da Bósnia e Herzegovina e todas as outras Autoridades civis e militares. Aprecio muito a vossa presença e agradeço-vos pelo que fizestes para a organização desta minha visita à vossa Terra.

E depois, a vós, amados filhos desta Igreja peregrina na Bósnia e Herzegovina, abro os meus braços para vos estreitar e dizer-vos que ocupais um lugar importante no coração do Papa. Ele leva constantemente na oração diante do Senhor o sofrimento que ainda torna difícil o vosso caminho e partilha convosco na esperança a expectativa de dias melhores.

Desta cidade, marcada no curso da história por tanto sofrimento e por tanto sangue, peço ao Senhor Omnipotente que tenha misericórdia para as culpas cometidas contra o homem, contra a sua dignidade e a sua liberdade, até por filhos da Igreja católica, e infunda em todos o desejo do perdão recíproco. Só num clima de verdadeira reconciliação, a memória de tantas vítimas inocentes e o seu sacrifício não serão vãos, e encorajar-nos-ão a construir relações novas de fraternidade e de compreensão.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o justo, inundado pela luz divina, torna-se por sua vez chama que resplandece e aquece. É o que nos ensina hoje a figura do novo Beato Ivan Merz.

1741 Jovem brilhante, soube multiplicar os ricos talentos naturais dos quais era dotado e obteve numerosos sucessos humanos: pode-se falar da sua vida como de uma vida com bom êxito. Mas a razão pela qual hoje ele é inscrito no álbum dos Beatos não é essa. O que o introduz no coro dos Beatos é o seu sucesso diante de Deus. De facto, a grande aspiração de toda a sua vida foi "nunca esquecer Deus, desejar sempre estar unido a Ele". Em todas as suas actividades, ele procurou "a sublimidade do conhecimento de Jesus Cristo" e deixou-se "conquistar" por Ele (cf. Fl Ph 3,8 Fl Ph 3,12).

4. Na escola da liturgia, fonte e auge da vida da Igreja (cf. Sacrosanctum Concilium, SC 10), Ivan Merz acreditou até à plenitude da maturidade cristã e tornou-se um dos promotores da renovação litúrgica na sua Pátria.

Participando na Missa, alimentando-se do Corpo de Cristo e da Palavra de Deus, ele tirou o estímulo para se fazer apóstolo dos jovens. Não foi por acaso que escolheu como mote "Sacrifício Eucaristia Apostolado". Consciente da vocação recebida no Baptismo, fez da sua existência uma corrida para a santidade, "medida alta" da vida crista (cf. Novo millennio ineunte, 31). Por isso, como afirma a primeira leitura, "não desaparecerá a sua recordação, o seu nome viverá de geração em geração" (Si 39,9).

5. O nome de Ivan Merz significou um programa de vida e de acção para toda uma geração de jovens católicos. Também hoje deve continuar a sê-lo! A vossa Pátria e a vossa Igreja, caríssimos jovens, viveram momentos difíceis e agora é necessário trabalhar para que a vida recomece plenamente a todos os níveis. Por conseguinte, dirijo-me a cada um de vós, convidando-vos a não desistir, a não ceder à tentação do desencorajamento, mas a multiplicar as iniciativas para que a Bósnia e Herzegovina volte a ser terra de reconciliação, de encontro e de paz.
O futuro destas terras depende também de vós! Não procureis noutras partes uma vida mais fácil, não fujais das vossas responsabilidades esperando que outros resolvam os problemas, mas ponde resolutamente remédio ao mal com a força do bem.

Como o Beato Ivan, procurai o encontro pessoal com Cristo que enche a nossa vida de nova luz. O Evangelho seja o grande critério que guia as vossas orientações e as vossas opções! Desta forma, tornar-vos-eis missionários com os gestos e com as palavras e sereis sinais do amor de Deus, testemunhas credíveis da presença misericordiosa de Cristo. Não esqueçais que não "se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire" (Mt 5,15).

6. Queridos Irmãos e Irmãs que participais com tanto fervor nesta Celebração, a paz de Deus Pai, que está acima de qualquer sentimento, guarde o vosso coração e o vosso espírito no conhecimento e no amor de Deus e de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo!

É a oração e os votos que, por intercessão do Beato Ivan Merz, o Papa eleva hoje por vós e por todas as populações da Bósnia e Herzegovina.



HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE AS PRIMEIRAS VÉSPERAS

NA VIGÍLIA DA SOLENIDADE DOS SANTOS


APÓSTOLOS PEDRO E PAULO


28 de Junho de 2003







1. "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo. Feliz és tu, Simão, porque o Pai to revelou" (Antífona 1).

É com esta Antífona que começa a salmodia das primeiras Vésperas da solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. Estas palavras remetem-nos para o diálogo entre Jesus e Simão Pedro, perto de Cesareia de Filipe. Elas ressoam constantemente nesta Basílica: estão como que impressas nos mosaicos e, sobretudo, neste lugar central, chamado "Confissão".

1742 "Tu és Cristo! repete nesta tarde o Sucessor de Pedro, juntamente com os seus Irmãos Bispos, os sacerdotes e o povo cristão da Europa e de todos os quadrantes da Terra. Ele proclama esta verdade fundamental da fé cristã com vigor e com íntima alegria. Só Cristo é o Redentor do homem, só Cristo é a nossa esperança!

2. "Jesus Cristo, vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa". Este foi o tema da II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa, que teve lugar no Vaticano de 1 a 23 de Outubro de 1999.

É com alegria que, nesta tarde, assino e entrego a Exortação Apostólica "Ecclesia in Europa", que reúne e elabora tudo aquilo que foi realçado durante essa significativa Assembleia sinodal.
A breve Leitura bíblica que escutámos o início da Carta aos Romanos insere este gesto na perspectiva mais autêntica e ampla da missão evangelizadora da Igreja, modelada segundo a missão dos Apóstolos. Em particular, as três características com que São Paulo se qualifica diante da comunidade cristã de Roma podem ser aplicadas em sentido lato a toda a Igreja, que é precisamente serva de Cristo Jesus, apostólica por vocação e escolhida para anunciar o Evangelho de Deus (cf. Rm
Rm 1,1).

Exprimo o meu mais sincero e cordial reconhecimento ao Cardeal Jan Pieter Schotte, à Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos e também a todos aqueles que cooperaram para a realização da Assembleia do Sínodo para a Europa, em 1999, lançando assim as bases para este Documento.
Saúdo os Cardeais, Arcebispos e Bispos aqui presentes, assim como os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os leigos que se reuniram para participar nesta solene celebração. Faço extensiva a minha saudação fraternal inclusivamente à Delegação enviada pelo Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu I, chefiada pelo venerável Arcebispo da América, Demétrio. Conforta-nos a consciência de que também eles compartilham as nossas mesmas preocupações pela salvaguarda e a promoção dos valores morais da nova Europa.

3. "Jesus Cristo, vivo na sua Igreja". A evidência de que Cristo está vivo na Igreja é a história bimilenária do Cristianismo. Das margens orientais do Mediterrâneo, a mensagem evangélica começou a espalhar-se pelo império romano, para depois penetrar nas múltiplas formações étnicas e culturais presentes no Continente europeu. A todas elas, a Igreja definida precisamente como "católica" transmitiu a única e universal mensagem de Cristo.

A "Boa Nova" foi e continua a ser fonte de vida para a Europa. Se é verdade que o Cristianismo não se pode reduzir a uma cultura em particular, mas dialoga com cada uma delas, com vista a orientá-las a todas para a sua melhor expressão em cada campo do saber e do agir humano, as raízes cristãs são para a Europa a principal garantia do seu futuro. Poderia uma árvore desprovida de raízes viver e desenvolver-se? Europa, não te esqueças da tua história!

4. "Jesus Cristo, fonte de esperança para a Europa". Infelizmente, ao longo dos séculos, a pureza da linfa evangélica experimentou a poluição devida aos limites e aos pecados de alguns membros da Igreja. Por isso, durante o Grande Jubileu do Ano 2000, senti a necessidade de me fazer intérprete do pedido de perdão, especialmente por algumas dolorosas divisões que se verificaram precisamente na Europa e que feriram o Corpo místico de Cristo.

Porém, no século XX o Espírito Santo suscitou uma nova primavera, que se tornou fecunda em virtude do testemunho de numerosos santos e mártires. Uma profunda renovação espiritual nasceu, graças ao Concílio Vaticano II.

5. "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo!". A profissão de fé de Pedro não vacilou na Igreja, apesar das dificuldades e das provações que assinalaram o caminho bimilenário do povo cristão.
1743 A Exortação Apostólica pós-sinodal, que nesta tarde entrego simbolicamente aos Bispos, presbíteros, diáconos, consagrados, consagradas e fiéis leigos da Europa, constitui um convite para renovar esta adesão incondicional a Cristo e ao seu Evangelho. Só Tu, Jesus Cristo, vivo na tua Igreja, és fonte de esperança!

Proclamamos-te presente no Continente europeu, deste o Atlântico até aos Urais. Em conjunto, comprometemo-nos a dar testemunho de ti, seguindo o exemplo e com a ajuda dos Apóstolos Pedro e Paulo e dos Santos Padroeiros: Bento, Cirilo e Metódio, Brígida da Suécia, Catarina de Sena e Edith Stein.

Do céu nos sustente Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe de Cristo, nossa esperança. Amen!



HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

DA SOLENIDADE DOS SANTOS


APÓSTOLOS PEDRO E PAULO


Domingo, 29 de Junho de 2003




1. "O Senhor assistiu-me e deu-me forças" (2Tm 4,17).

Assim São Paulo descreve a Timóteo a experiência que vivera na prisão romana. Todavia, estas palavras podem referir-se a todas as vicissitudes missionárias do Apóstolo das Gentes, assim como às de São Pedro. É o que confirma, na Liturgia do dia de hoje, o trecho dos Actos dos Apóstolos, que apresenta a prodigiosa libertação de Pedro da prisão de Herodes e de uma provável condenação à morte.

Portanto, a primeira e a segunda Leituras realçam o desígnio providencial de Deus para estes dois Apóstolos. É o próprio Senhor que os orientará para o cumprimento da sua missão, cumprimento este que terá lugar precisamente aqui em Roma, onde estes seus eleitos darão a vida por Ele, fecundando a Igreja com o seu próprio sangue.

2. "E tornaram-se amigos de Deus" (Antífona da entrada). Amigos de Deus! O termo "amigos" é mais eloquente do que nunca, se considerarmos que saiu da boca de Jesus, durante a última Ceia: "Não vos chamo mais servos disse Ele (...) chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi de meu Pai" (Jn 15,15).

Pedro e Paulo são "amigos de Deus" de modo singular, porque beberam o cálice do Senhor. Jesus mudou o nome de ambos, no momento em que os chamou para o seu serviço: a Simão, deu o nome de Cefas, ou seja, "rocha", de onde derivou Pedro; a Saulo, deu o nome de Paulo, que significa "pequeno". O Prefácio do dia de hoje põe-nos em linha paralela: "Pedro, que foi o primeiro a confessar a fé em Cristo / Paulo, que iluminou as profundidades do mistério / o pescador da Galileia / que constituiu a primeira comunidade com os justos de Israel / o mestre e doutor, que anunciou a salvação a todas as gentes".

3. Bendito o Senhor que liberta os seus amigos" (Salmo responsorial). Se pensamos na vocação e na história pessoal dos Apóstolos Pedro e Paulo, observamos que a sua carga apostólica e missionária foi proporcional à profundidade da sua conversão. Provados pela triste experiência da miséria humana, foram libertados pelo Senhor.

Graças à humilhação da negação e ao choro abundante, que o purificou interiormente, Simão tornou-se Pedro, isto é, a "rocha": revigorado pela força do Espírito, por três vezes declarou a Jesus o seu amor, recebendo dele o mandato de apascentar o seu rebanho (cf. Jo Jn 21,15-17).
1744 A experiência de Saulo foi semelhante: o Senhor que ele perseguia (cf. Act Ac 9,5) "chamou-o com a sua graça" (Ga 1,15), iluminando-o no caminho de Damasco. Assim, libertou-o dos seus preconceitos, transformando-o radicalmente, e fez dele "um instrumento eleito" para anunciar o seu Nome a todas as gentes (cf. Act Ac 9,15). Deste modo, ambos foram "amigos de Deus".

4. Caríssimos e venerados Irmãos Arcebispos Metropolitanos, vindos para receber o Pálio, diversas são as vicissitudes pessoais de cada um, mas todos vós fostes incluídos por Cristo no número dos seus "amigos".

No momento em que me preparo para vos impor esta tradicional insígnia litúrgica, de que vos revestireis nas celebrações solenes, em sinal de comunhão com a Sé Apostólica, convido-vos a considerá-la sempre como memória da sublime amizade de Cristo, que temos a honra de compartilhar. Em nome do Senhor tornai-vos, por vossa vez, "amigos" de quantos Deus vos confiou.

As vossas Sedes episcopais estão situadas em várias regiões da Terra: imitando o Bom Pastor, velai e cuidai de cada uma das vossas Comunidades. Transmiti-lhes também a minha saudação, juntamente com a certeza de que o Papa reza por todos e, de modo especial, por aqueles que são submetidos a duras provas e que encontram maiores dificuldades.

5. A alegria da festa de hoje torna-se ainda mais intensa, em virtude da presença da Delegação enviada, também neste ano, pelo Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu I. Ela é chefiada pelo venerado Irmão, o Arcebispo da América, Demétrio. Estimados e venerados Irmãos, sede bem-vindos! Saúdo-vos em nome do Senhor e peço-vos que transmitais o meu abraço de paz ao dilecto Irmão em Cristo, o Patriarca Bartolomeu.

Com o passar do tempo, o intercâmbio recíproco de delegações, por ocasião da festa de Santo André em Constantinopla e pela solenidade dos Santos Pedro e Paulo em Roma, tornou-se um sinal eloquente do nosso compromisso em ordem à plena unidade.

O Senhor, que conhece as nossas debilidades e hesitações, promete-nos a sua ajuda para superar os obstáculos que impedem a concelebração da única Eucaristia. Por isso, venerados Irmãos, receber-vos e estar ao vosso lado neste solene encontro litúrgico torna mais sólida a esperança e dá forma concreta àquele anseio que nos impele rumo a plena comunhão.

6. "[Eles] edificaram a Igreja com diferentes dons" (Prefácio). Esta afirmação, referida aos Apóstolos Pedro e Paulo, parece pôr em evidência precisamente o compromisso de procurar a unidade com todos os esforços, respondendo ao convite que Jesus reiterou várias vezes no Cenáculo: "Ut unum sint!".

Como Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, renovo no dia de hoje, na sugestiva moldura desta festa, a minha plena disponibilidade a pôr a minha pessoa ao serviço da comunhão entre todos os discípulos de Cristo. Caríssimos Irmãos e Irmãs, ajudai-me com o apoio incessante da vossa oração. Invocai para mim a intercessão celestial de Maria, Mãe da Igreja e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo.

Deus nos conceda cumprir a missão que Ele mesmo nos confiou, em plena fidelidade, até ao último dia, para formar no vínculo da sua caridade um só coração e uma só alma (cf. Oração após a Comunhão).

Amen!





VIAGEM APOSTÓLICA À ESLOVÁQUIA




NA CELEBRAÇÃO DO SANTO NOME DE MARIA


1745
Banská Bystrica, 12 de Setembro de 2003






1. "O meu coração exulta no Senhor" (Salmo responsorial). Com intima alegria e profundo reconhecimento em Deus encontro-me hoje nesta praça juntamente convosco, queridos Irmãos e Irmãs, para celebrar a memória do Santo Nome de Maria.

O lugar em que nos encontramos é particularmente significativo na história da vossa cidade: de facto, ele recorda o respeito e a devoção dos vossos antepassados para com o Senhor Omnipotente e a Virgem Santíssima e, ao mesmo tempo, a tentativa de profanação desta preciosa herança, perpetrada por um regime obscuro em anos não muito distantes. De tudo isto a coluna da Virgem Maria é uma testemunha silenciosa.

Saúdo-vos a todos do fundo do coração: em primeiro lugar o vosso Bispo, D. Rudolf Baláz, a quem agradeço as cordiais palavras com que me recebeu, e o Bispo auxiliar, D. Tomás Gális.

Saúdo também os Cardeais, os Bispos, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os seminaristas, assim como os leigos que nos vários âmbitos são forças vivas desta Igreja diocesana, e, por fim, todos os que vieram das Dioceses e dos Paises vizinhos.

Dirijo com deferente cordialidade a minha saudação também ao Senhor Presidente da República e às Autoridades civis e militares presentes. Agradeço a todos a ajuda preciosa que deram para a preparação desta minha visita.

2. "Eis a escrava do Senhor" (
Lc 1,38), diz Maria no trecho evangélico que ouvimos há pouco. Ela dirige-se ao Anjo Gabriel, que lhe comunica a chamada de Deus para ser a mãe do seu Filho.

A encarnação do Verbo constitui o ponto decisivo do "projecto" manifestado por Deus desde o começo da história humana, depois do primeiro pecado. Ele quer comunicar aos homens a sua própria vida, chamando-os a tornarem-se seus filhos. É uma chamada que espera a resposta de todos. Deus não impõe a salvação; propõe-na como iniciativa de amor, à qual é preciso responder com uma opção livre, também ela motivada pelo amor.

O diálogo entre o Anjo e Maria, entre o céu e a terra, é, neste sentido, paradigmático: queremos tirar dele algumas indicações para nós.

3. O Anjo apresenta as expectativas de Deus para o futuro da humanidade, Maria responde orientando responsavelmente a atenção para o seu presente: está comprometida com José, prometida em esposa (cf. Lc Lc 1,34). Maria não faz objecções sobre o futuro de Deus, mas pede para ser esclarecida acerca do presente humano no qual está envolvida. Deus responde ao seu pedido estabelecendo com ela um diálogo. Apraz-Lhe relacionar-se com pessoas responsáveis e livres.

Qual é, em tudo isto, a lição que tiramos? Maria ensina-nos o caminho para uma liberdade madura. No nosso tempo, não são poucos os cristãos baptizados que ainda não fizeram sua, de modo adulto e consciente, a sua fé. Dizem que são cristãos, mas não reagem com responsabilidade total à graça recebida; ainda não sabem o que querem e porque o querem.

1746 Eis a lição que hoje devemos aprender: é urgente educar-se para a liberdade. Sobretudo, é urgente que, nas famílias, os pais eduquem os seus filhos para a liberdade justa, a fim de os preparar para que dêem a resposta oportuna à chamada de Deus. As famílias são o viveiro no qual se formam as pequenas plantas das novas gerações. Nas famílias forja-se o futuro da Nação.

Precisamente nesta perspectiva, faço votos para que o Sinodo Diocesano, que vos preparais para celebrar, constitua uma ocasião privilegiada para lançar de novo a pastoral familiar e descobrir caminhos sempre novos para anunciar o Evangelho às novas gerações desta nobre Terra eslovaca.

4. "Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (
Lc 1,38). Maria tem fé e por isso diz sim. É uma fé que se torna vida: torna-se compromisso para com Deus, que a enche de si com a maternidade divina, e compromisso para com o próximo, que espera a sua ajuda na pessoa da sua prima Isabel (cf. Lc Lc 1,39-56). Maria abandona-se livre e conscientemente à iniciativa de Deus, que realizará nela as suas "maravilhas": mirabilia Dei.

Perante a atitude da Virgem, cada um de nós está convidado a reflectir: Deus tem um projecto para cada um, a cada um Ele dirige a sua "chamada". O que conta é saber reconhecer esta chamada, saber aceitá-la e saber ser-lhe fiéis.

5. Queridos Irmãos e Irmãs, façamos espaço para Deus! Na variedade e na riqueza das diversas vocações, cada um está chamado, a exemplo de Maria, a acolher Deus na própria vida e a percorrer com Ele os caminhos do mundo, anunciando o seu Evangelho e testemunhando o seu amor.

Seja este o compromisso que hoje, todos juntos, assumimos, colocando-o confiantes nas mãos maternas de Maria. A sua intercessão nos obtenha o dom de uma fé forte, que torne límpido o horizonte da existência e transparente a mente, o espírito e o coração.

Confio à Virgem Maria a vossa diocese de Banská Bystrica, o vosso Bispo, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, e todos vós.

Amen!

No fim da Celebração Eucarística, antes da Bênção final, o Sumo Pontífice disse em eslovaco:

Agradeço-vos os bonitos cânticos, a liturgia e a praça tão bem enfeitada. Agradeço-vos de coração esta celebração comum da Eucaristia. Abençôo-vos a todos. A Eslováquia foi e será sempre fiel a Cristo e à Igreja. Agradeço-vos o vosso testemunho. Saúdo os jovens, vós sois o futuro de Banská Bystrica.

E concluiu em polaco:

1747 Desejo saudar o Cardeal de Cracóvia e os peregrinos da Polónia. Queridos Irmãos e Irmãs, viestes a Banská Bystrica para juntamente com os irmãos eslovacos celebrar e glorificar com o Papa o Deus bondoso. A fé, a esperança e o amor que nos reuniram aqui, unam sempre as nossas nações para o bem comum. Deus nos abençoe.



Homilias JOÃO PAULO II 1733