Homilias JOÃO PAULO II 1541


NA SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


PARA A ORDENAÇÃO DE NOVE BISPOS


Segunda-feira, 19 de Março de 2001






1. "Eis o administrador fiel e prudente, que o Senhor pôs à frente da sua família" (cf. Lc Lc 12,42).
A liturgia de hoje apresenta-nos assim São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria e Guardião do Redentor. Ele, servo fiel e prudente, aceitou com obediente docilidade a vontade do Senhor, que lhe confiou a "sua" família na terra, para que se ocupasse dela com dedicação quotidiana.

São José perseverou nesta missão com fidelidade e amor. Por isso, a Igreja no-lo indica como singular modelo de serviço a Cristo e ao seu misterioso desígnio de salvação. E invoca-o como especial padroeiro e protector de toda a família dos crentes. De modo especial, São José é-nos indicado hoje, no dia da sua festa, como o Santo sob cujo patrocínio eficaz a Providência divina quis pôr as pessoas e o ministério de todos os que estão chamados a ser, no âmbito do povo cristão, "pais" e "guardiães".

2. "Olha que Teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura"... "Porque Me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de Meu Pai?" (Lc 2,48-49).

Neste diálogo simples e familiar entre a Mãe e o Filho, que o Evangelho há pouco nos propôs, encontram-se as coordenadas da santidade de José. Elas correspondem ao desígnio divino sobre ele, que, homem justo que era, soube realizar com admirável fidelidade.

1542 "Olha que Teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura", diz Maria. Eu "devia estar em casa de Meu Pai", responde Jesus. São precisamente estas palavras do Filho que nos ajudam a compreender o mistério da "paternidade" de José. Ao recordar aos pais a primazia d'Aquele que chama "Meu Pai", Jesus revela a verdade do papel quer de Maria quer de José. Ele é verdadeiramente "esposo" de Maria e "pai" de Jesus, como ela afirma quando diz: "Teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura". Mas o seu carácter esponsal e a sua paternidade são totalmente relativas às de Deus. Eis o modo como José de Nazaré é chamado a tornar-se por sua vez discípulo de Jesus: dedicando a existência ao serviço do Filho unigénito do Pai e da Virgem Mãe, Maria.

Trata-se de uma missão que ele prolonga em relação à Igreja, Corpo místico de Cristo, à qual não deixa faltar a sua cuidadosa assistência, como fez para a humilde Família de Nazaré.

3. Neste contexto, é fácil dirigir a atenção para o que constitui hoje o centro da nossa celebração. Estou para impor as mãos a nove Sacerdotes, que são chamados a assumir a responsabilidade de Bispos na Igreja. O Bispo desempenha na comunidade cristã uma tarefa que tem muitas analogias com a de São José. O Prefácio da solenidade de hoje põe isto em realce, ao indicar José como "administrador fiel e prudente, que o Senhor pôs à frente da sua família, para guardar, como pai o Filho de Deus". "Pais" e "guardiães" são os Pastores na Igreja, chamados a comportarem-se como "administradores" fiéis e prudentes. A eles é confiada a solicitude quotidiana do povo cristão que, graças à sua ajuda, pode prosseguir com confiança pelos caminhos da perfeição cristã.

Venerados e estimados Irmãos ordenados, a Igreja une-se a vós e garante-vos a sua oração, para que possais desempenhar com fiel generosidade, à imagem de São José, o vosso ministério pastoral. Garantem-vos a sua oração sobretudo aqueles que vos acompanham neste dia de festa: os vossos familiares, os sacerdotes, os amigos, assim como as Comunidades das quais provindes e para as quais sois destinados.

4. As Ordenações episcopais, normalmente por mim conferidas no dia da Epifania, este ano foram adiadas devido à conclusão do Grande Jubileu. Desta forma, tenho a oportunidade de realizar este rito na festa de hoje, tão querida ao povo cristão. Isto permite que eu confie cada um de vós com particular insistência à incessante protecção de São José, Padroeiro da Igreja universal.

Saúdo-vos com grande cordialidade, caríssimos, e juntamente convosco saúdo todos os que se unem à vossa alegria. Desejo-vos de coração que prossigais com generosidade renovada o serviço que já prestais à causa do Evangelho.

5. A ti, D. Fernando Filoni, é confiada a missão de Núncio Apostólico no Iraque e na Jordânia, ao serviço das comunidades cristãs espalhadas naquelas terras: estou certo de que serás para elas um mensageiro de paz e de esperança. Tu, D. Henryk Jósef Nowacki, depois de teres trabalhado por muito tempo ao meu lado, serás, como Representante da Sé Apostólica na Eslováquia, solícito arauto do Evangelho naquele País de antiga tradição cristã. E tu, D. Timothy Paul Broglio, a quem estou grato pela fiel cooperação oferecida ao Cardeal Secretário de Estado, irás para as portas do continente americano como Núncio Apostólico em Porto Rico: sê entre aquelas queridas populações testemunha do afecto do Sucessor de Pedro.

Também a ti, D. Domenico Sorrentino, estou reconhecido pelo precioso serviço desempenhado na Secretaria de Estado, e agora, ao confiar-te a Prelazia de Pompeia e o seu célebre Santuário mariano, ponho o teu ministério sob o olhar abençoador da Virgem do Santo Rosário, pedindo-lhe que guie os teus passos nas pegadas de São Paulino, Bispo de Nola, tua terra natal, e orgulho da Campânia. A Virgem Santíssima continue a vigiar também os teus passos, D. Tomasz Peta, chamado a assumir a Administração Apostólica de Astana, no Cazaquistão, onde já estás empenhado há vários anos com louvável zelo apostólico.

Tu, D. Marcelo Sánchez Sorondo, prosseguirás o apreciado serviço de Chanceler da Pontifícia Academia das Ciências e da de Ciências Sociais, instituições às quais atribuo grande importância para o diálogo da Igreja com o mundo da cultura. A ti, D. Marc Ouellet, quis confiar o Cargo de Secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, tarefa de particular relevo devido à nobilíssima finalidade que o inspira e às renovadas esperanças que a celebração do Ano jubilar suscitou na alma de tantos cristãos.

E tu, D. Giampaolo Crepaldi, assumirás o papel de Secretário do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", continuando com maiores responsabilidades o teu já qualificado serviço nesse Pontifício Conselho. Por fim, abraço-te com afecto a ti, D. Djura Dzudzar, que escolhi como Auxiliar da Eparquia de Mukachevo na Transcarpácia, na Ucrânia, País que em breve, se Deus quiser, terei a alegria de visitar e ao qual envio desde já uma saudaçao cordial e de bons votos.

6. Caríssimos Irmaos, como Sao José, modelo e guia do vosso ministério, amai e servi a Igreja. Imitai o exemplo deste grande Santo, como também o da sua Esposa, Maria. Se por vezes acontecer que encontreis dificuldades e obstáculos, nao hesiteis em aceitar sofrer com Cristo em benefício do seu Corpo místico (cf. Cl
Col 1,24), para que possais rejubilar com Ele de uma Igreja toda bela, sem mancha nem ruga, santa e imaculada (cf. Ef Ep 5,27). O Senhor, que nao vos deixará faltar a sua graça, hoje consagra-vos e envia-vos como apóstolos ao mundo. Levai gravadas no coraçao as suas palavras: "Eu estarei sempre convosco" (Mt 28,20) e nao temais. Como Maria e José, tende sempre confiança n'Ele. Ele venceu o mundo.



DURANTE A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA NA INAUGURAÇÃO DO PONTIFÍCIO COLÉGIO COREANO


1543
Sexta-feira, 23 de março de 2001



1. "Como o pastor se preocupa com o seu rebanho... assim me preocuparei eu com o meu... Reconduzi-lo-ei de todas as partes por onde tenha sido disperso num dia de nuvens e de trevas" (
Ez 34,12-13).

As palavras do profeta Ezequiel, que há pouco ouvimos, dão testemunho da constante solicitude de Deus pelos seus fiéis que, ao longo da história, não se cansa de reunir "de todas as tribos, língua, povo e nação". Reúne-os para fazer deles "um reino de sacerdotes" para Si (cf. Ap Ap 5,9-10), realizando o seu misericordioso desígnio salvífico.

Eis o que Deus realizou também com o querido povo da Coreia, e a celebração de hoje oferece uma renovada ocasião para lhe agradecer. Celebra-se precisamente este ano o bicentenário da grande perseguição de 1801, que causou a morte de mais de trezentos cristãos na vossa pátria. Graças à coragem daquelas testemunhas da fé e de outras que seguiram o seu exemplo, a semente evangélica, semente de esperança, não morreu apesar das sucessivas vagas de perseguição. Ao contrário, foi-se desenvolvendo progressivamente, dando consistência a um crescimento maravilhoso da Igreja no vosso País. É com razão que podemos esta tarde repetir verdadeiramente, Deus foi solícito com o seu povo fiel.

2. "Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um, assim como Nós" (Jn 17,11).

Na nossa assembleia ressoaram, ricas de conforto, estas palavras de Jesus, que nos conduzem ao Cenáculo, à dramática vigília da sua morte na cruz. São palavras que continuam a ser proclamadas na Igreja ao longo dos tempos; palavras que sustentaram numerosos mártires e confessores da fé nos momentos da dificuldade e da prova.

Penso nesta tarde nos santos da amada Coreia e, entre eles, em Santo André Kim Tae-gon, escolhido por vós como padroeiro. Podemos imaginar que ele se tenha detido com frequência a meditar estas palavras do Mestre divino. No momento decisivo, encorajado pela invocação do Senhor, não hesitou em "perder" tudo (cf. Fl Ph 3,8) por Ele. Foi fiel até à morte. Conta-se que, enquanto aguardava a sua execução, encorajava os irmãos na fé com expressões que faziam eco de maneira impressionante da oração que Jesus dirigiu ao Pai pelos seus Discípulos. "Não vos deixeis impressionar pelas calamidades - suplicava ele -, nao percais a coragem e nao volteis atrás no serviço de Deus, mas antes, seguindo as pegadas dos santos, promovei a glória da sua Igreja e mostrai-vos verdadeiros soldados e súbditos de Deus. Mesmo se sois muitos, sede um só coração; recordai-vos sempre da caridade; apoiai-vos e ajudai-vos uns aos outros, e esperai pelo momento em que Deus terá piedade de vós".

3. "Sede um só coração!". Santo André Kim Tae-gon exortava os crentes a haurir da divina caridade a força para permanecer unidos e resistir ao mal. Como a comunidade primitiva, dentro da qual todos eram "um só coração e uma só alma" (Ac 4,32), também a Igreja coreana devia encontrar o segredo da própria uniao e do seu crescimento na adesao aos ensinamentos dos Sucessores dos Apóstolos, na oração e na fracção do pão (cf. Act Ac 2,42).

Esta mesma unidade de intenções e o mesmo espirito de caridade - disto tenho a certeza - serão a alma do Pontificio Colégio Coreano, que com a presente celebração inauguramos. Com estes votos, saúdo-vos cordialmente, caríssimos Irmãos e Irmãs. Saúdo de maneira especial o Senhor Cardeal Stephen Kim Sou-hwan, os Bispos aqui presentes, com um particular pensamento de gratidão para D. Michael Pak Jeong-il, que se fez intérprete dos sentimentos de todos. Saúdo também o Reitor do Colégio, os Sacerdotes estudantes, as Autoridades aqui reunidas, as Religiosas colaboradoras e os outros convidados.

Desejo depois recordar toda a Comunidade cristã do vosso Pais, tão querido para mim, os Bispos e os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os leigos, as familias e os jovens. Confio todos e cada um a intercessão de Santo André Kim Tae-gon, para que o amor a Deus e ao próximo continue a encher a alma e a história do povo coreano.

4. Nesta Casa, desejada com tanto fervor pelos Bispos da Coreia, residirão seminaristas e sacerdotes cuja permanencia em Roma se destina a uma sua intensa e especifica preparação para o ministério presbiteral. Além de frequentarem cursos académicos nas Pontificias Universidades de Roma, eles terão a oportunidade de crescer na consciência da sua missão de testemunhas da Verdade, apóstolos do Amor de Cristo, arautos incansáveis do Evangelho e Pastores zelosos do povo cristão.

1544 Toda a formação teológica será orientada para fazer com que cada presbítero seja Cristo para os outros, um sinal do seu amor e da sua acção de salvação que convence. Mas onde poderão eles aprender o segredo deste serviço apostólico senão num contacto íntimo com o Senhor? Por conseguinte, a sua primeira preocupação, nao poderá deixar de ser a incessante familiaridade com Jesus na Eucaristia e o recurso confiante com a oração à sua graça e à luz da sua Palavra.

5. "Dei-lhes a Tua palavra... Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade" (
Jn 17,14 Jn 17,17).

Meditando com frequência as palavras pronunciadas por Jesus no Cenáculo, das quais estas fazem parte, os que viverem neste Colégio conseguirão compreender melhor a missão a que o sacerdote é chamado. Ouvirão ressoar no espírito esta certeza dita pelo Mestre: "Nao fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi e vos nomeei para irdes e dardes fruto, e permanecer, de sorte que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai, Ele vo-lo concederá" (Jn 15,15).Fortificados pela constante comunhão com Ele, poderão proclamar com confiança decisiva: "O Senhor é o meu pastor, nada me falta" (Ps 23,1).

Que neste Colégio se respire todos os dias a atmosfera do Cenáculo! Atmosfera indispensável para "fazer gerar - como diz Sao Carlos Borromeu - Cristo em nós e nos outros" (S. Carlos Borromeu, Acta Ecclesiae Mediolanensis, Milao 1559, 1178).

Os santos Padroeiros da Coreia e, especialmente, Santo André Kim Tae-gon, protejam todos os que habitam aqui. Proteja-os sobretudo a Virgem Imaculada, Mae do Redentor e Estrela da evangelização.





NA PARÓQUIA ROMANA DE

SÃO DOMINGOS DE GUSMÃO


Domingo, 25 de Março de 2001


1. "Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus" (2Co 5,20). Hoje, quarto Domingo da Quaresma, ressoam com particular eloquência estas palavras do apóstolo Paulo. Elas constituem um forte apelo à conversão e à reconciliação com Deus. São convite a empreender um caminho de autêntica renovação espiritual. Fazendo a experiência do amor misericordioso do Pai celeste, o crente torna-se, por sua vez, anunciador e testemunha deste dom extraordinário oferecido a toda a humanidade em Cristo crucificado e ressuscitado.

A propósito, o apóstolo recorda: "Tudo isto vem de Deus, que por meio de Cristo nos reconciliou consigo" (Ibid. 5, 18). E acrescenta que Deus continua a exortar por nosso meio "pondo nos nossos lábios a mensagem da reconciliação" (Ibid. 5, 19) . A missão de proclamar a reconciliação compete antes de mais aos apóstolos e aos seus sucessores; envolve além disso, todos os cristãos, segundo a responsabilidade e as modalidades próprias do seu estado. Todos, portanto, somos chamados a ser "missionários da reconciliação" com a palavra e a vida.

2. "Reconciliai-vos com Deus!". Fazendo minha a exortação de Paulo, fico contente por vos saudar a todos vós, caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de São Domingos de Gusmão e aos habitantes do Bairro Cinquina! Continuando a minha peregrinação pastoral nas comunidades paroquiais romanas, hoje tenho a alegria de estar no meio de vós. Saúdo com afecto o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso zeloso Pároco, Dom Paolo Corsi, o vigário paroquial e os outros sacerdotes. Saúdo os religiosos, as religiosas e quantos cooperam activamente nos diversos trabalhos pastorais. Saúdo as famílias, os anciãos, os doentes e quantos não puderam estar connosco, mas estão unidos a nós espiritualmente. Agradeço a todos aqueles que, em nome de toda a família paroquial me dirigiram palavras respeitosas de boas-vindas no início da Santa Missa.

Um especial pensamento vai para vós, caríssimos jovens, que ofereceis à comunidade paroquial um contributo significativo com a vivacidade do vosso entusiasmo. Permiti que aproveite esta ocasião para vos recordar o importante encontro de jovens em cinco de Abril na Praça de São Pedro, às dezassete horas. Juntamente com os outros vossos concidadãos de Roma encontrar-nos-emos para rezar e nos preparamos para o décimo sexto Dia Mundial da Juventude que, como sabeis, este ano se celebra em cada Diocese, no domigo de Ramos. Saúdo-vos também a vós, queridas crianças, e agradeço-vos pelo vosso caloroso acolhimento.

3. A liturgia de hoje, rica de apelos ao perdão e à reconciliação, oferece-nos estímulos úteis para uma revisão de vida, pessoal e comunitária. É também uma oportuna ocasião para a vossa Paróquia reflectir sobre a sua história passada, sobre o seu compromisso presente e as suas perspectivas futuras!

1545 Nos quase vinte e sete anos da sua fundação, realizou notáveis esforços para oferecer aos numerosos agregados familiares, vindos habitar aqui, um acolhimento adequado. Agora, torna-se necessário realizar um passo decisivo em frente, privilegiando de todos os modos a evangelização, mediante percursos apropriados de formação cristã. A vossa comunidade paroquial já começou este itinerário pastoral, participando activamente na Missão da Cidade e na celebração do Grande Jubileu. Uma outra etapa providencial desse caminho será o Congresso diocesano, que terá lugar no próximo mês de Junho e para o qual vos convido a preparar-vos com cuidado e, sobretudo, com a oração.

O desafio que tendes diante de vós é comprometedor. É necessário, como vós próprios observais, conseguir executar um verdadeiro e próprio percurso de formação para a fé, que atinja quantos se aproximam dos sacramentos da iniciação cristã e continuam na idade da adolescência e da juventude, interessando depois os noivos e as famílias. Para tal fim, podeis valorizar as diversas modalidades existentes, que vão desde a catequese às interessantes actividades dos jovens, como os encontros para os rapazes do "pós-Crisma", os campos escolares do Verão, o grupo de teatro e as iniciativas do oratório, incluindo as destinadas aos mais pequeninos. Favorecei, além disso, uma presença cada vez mais activa dos leigos nos organismos de participação pastoral. É igualmente importante incentivar a colaboração dos fiéis na vida da paróquia através da adesão às associações, grupos e movimentos eclesiais e às propostas da Caritas e do Voluntariado vicentino.

4. Para cumprir um tão vasto programa apostólico, é necessário em primeiro lugar dedicar-se à oração e à escuta da palavra de Deus. Sei que na Próquia há vários encontros de oração e se faz a adoração eucarística semanal: alegro-me convosco. A Santa Missa seja sempre o coração de cada projecto e plano missionário, caros Irmãos e Irmãs, vivida com fé e com alegria, sobretudo no domingo, "Dia do Senhor".

Contemplando o rosto de Cristo morto e ressuscitado por nós, e celebrando a sua presença eucarística, podereis com mais fidelidade e coragem continuar a grande empresa da "nova evangelização". É um compromisso urgente. No vosso bairro, de facto, não está ausente o desafio das seitas. Não posso deixar de vos dizer que vos esforceis para que o Evangelho seja anunciado às vossas crianças e a todas as pessoas de boa vontade, como há dois mil anos o anuncia a Igreja. Proponde com clareza as verdades da fé cristã, acompanhando-as sempre com a linguagem do amor e da fraternidade compreensível para todos.

5. "Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova; passou o que era velho, eis que tudo se fez novo" (
2Co 5,17). É assim mesmo: em Cristo tudo se renova e renasce constantemente a esperança, mesmo que depois sejam experiências amargas e tristes. A parábola do "filho pródigo", melhor definida como a parábola do "pai misericordioso", hoje proclamada na nossa assembleia, assegura-nos que o amor misericordioso do Pai celeste pode mudar radicalmente a atitude de cada filho pródigo: pode torná-lo nova criatura.

Aquele que, tendo pecado contra o Céu estava perdido e estava morto, agora está realmente perdoado e volta à vida. Prodígio extraordinário da misericórdia de Deus! A Igreja tem como missão anunciar e dividir com todos os homens o grande tesouro do "Evangelho da misericórdia".

Está aqui a fonte da alegria que penetra a liturgia do domingo de hoje, chamada precisamente "Domingo laetare", segundo as primeiras palavras latinas da Antífona de entrada. É a alegria do antigo povo de Israel que, depois de quarenta anos de caminhada no deserto, pôde celebrar a primeira Páscoa e saborear os frutos da Terra Prometida. É também a alegria de todos nós que, percorridos os quarenta dias da Quaresma, voltaremos a viver o Mistério pascal.

Maria nos acompanhe neste itinerário, que com o "fiat" da Anunciação, abriu as portas da humanidade ao dom da salvação. Ela nos obtenha que pronunciemos em cada dia o nosso "sim" a Cristo, para estarmos sempre totalmente "reconciliados com Deus". Amen.





NA PARÓQUIA ROMANA DE


NOSSA SENHORA DO SUFRÁGIO E


SANTO AGOSTINHO DE CANTERBURY


1º de Abril de 2001





1. "O Senhor fez connosco maravilhas" (cf. Sl Ps 125 [126], 3).

Estas palavras, que repetimos como refrão no Salmo responsorial, constituem uma bonita síntese dos temas bíblicos propostos por este quinto Domingo da Quaresma. Já na primeira Leitura, tirada do chamado "Segundo Isaías", o Profeta anónimo do exílio da Babilónia anuncia a salvação preparada por Deus para o seu povo. A saída da Babilónia e o regresso à pátria serão como um êxodo novo e maior.

1546 Então Deus libertara os hebreus da escravidão do Egipto, vencendo o obstáculo do mar; agora Ele reconduz o seu povo à terra prometida, traçando no deserto um caminho seguro: "Eis que vou realizar uma obra nova, a qual já começa: não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto e fazer correr os rios na estepe" (Is 43,19).

"Uma obra nova": nós, cristãos, sabemos que, quando no Antigo Testamento se fala de "realidades novas", a referência última é à verdadeira grande "novidade" da história: Cristo, que veio ao mundo para libertar a humanidade da escravidão do pecado, do mal e da morte.

2. "Mulher... ninguém te condenou? Nem Eu te condeno... vai, e doravante não tornes a pecar" (Jn 8,10-11). Jesus é novidade de vida para quem abre o coração e, reconhecendo o próprio pecado, acolhe a sua misericórdia que salva. Na página evangélica de hoje, o Senhor oferece este seu dom de amor à adúltera, perdoada e reconduzida à sua plena dignidade humana e espiritual. Oferece-o também aos seus acusadores, mas o espírito deles permanece fechado e impermeável.

Está nisto um convite a meditar acerca da paradoxal recusa do seu amor misericordioso. É como se já se iniciasse o processo contra Jesus, que reviveremos daqui a poucos dias nos acontecimentos da Paixão: ele conduzirá à sua injusta condenação à morte na cruz. Por um lado, o amor redentor de Cristo, oferecido gratuitamente a todos; por outro, o fechar-se de quem, levado pela inveja, procura uma razão para o matar. Acusado até de estar contra a Lei, Jesus é "posto à prova": se perdoa a mulher colhida em flagrante adultério, dir-se-á que transgrediu os preceitos de Moisés; se a condena, dir-se-á que foi incoerente com a mensagem de misericórdia para com os pecadores.

Mas Jesus não cai na armadilha. Com o seu silêncio, convida cada um a reflectir sobre si próprio. Por um lado, convida a mulher a reconhecer a culpa cometida; por outro, convida os seus acusadores a não se subtraírem ao exame de consciência: "Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra!" (Jn 8,7).

A situação da mulher é sem dúvida grave. Mas precisamente disto surge a mensagem: qualquer que seja a condição em que nos possamos vir a encontrar, é sempre possível abrir-nos à conversão e receber o perdão dos pecados: "Nem Eu te condeno... vai, e doravante não tornes a pecar" (Jn 8,10-11). No Calvário, com o sacrifício supremo da vida, o Messias sela para cada homem e mulher o dom infinito do perdão e da misericórdia de Deus.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosco, nesta vossa Paróquia fundada recentemente. Tendo surgido da fusão das Paróquias de "Nossa Senhora do Sufrágio" e de "Santo Agostinho de Canterbury", ela foi consagrada há um ano pelo Cardeal Vigário, que saúdo com afecto. Juntamente com ele, saúdo o Monsenhor Vice-Gerente, o vosso querido Pároco, D. Giulio Ramiccia, e os sacerdotes colaboradores. Exprimo um cordial obrigado a quantos me deram as boas-vindas em vosso nome, no início da Santa Missa.

Dirijo um agradecido pensamento às Religiosas que vivem e actuam neste território: as Irmãs Mínimas de Nossa Senhora do Sufrágio, as Irmãs Filhas do Sagrado Coração, as Irmãs da Congregação da Mãe do Carmelo, as Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia e a Comunidade Adsis. Abraço com afecto todos os que estão internados nas casas de saúde presentes no âmbito paroquial e quem está ao seu serviço quotidiano. Saúdo os membros do Conselho Pastoral e dos Assuntos Económicos, e também os membros dos vários grupos e associações da vossa comunidade. Saúdo-vos a vós, meninos, jovens, moças e todos os que aquiu se encontram, alargando a minha recordação aos habitantes de todo o bairro de Torre Maura.

4. Venho até vós no Domingo que a nossa Diocese dedica de maneira particular ao testemunho da caridade. Também na vossa Paróquia, como noutras partes periféricas da Cidade, não faltam situações de mal-estar: do fenómeno da toxicodependência à usura, da prostituição às dificuldades juvenis, do desemprego à integração dos imigrados, que nem sempre é fácil.

Perante estes problemas a vossa comunidade é bastante activa e procura dar respostas concretas a quem vive em graves dificuldades. Caríssimos, intensificai neste tempo da Quaresma, a atenção aos que se encontram em necessidade. Juntamente com o jejum e a oração, a caridade é um dos elementos característicos do itinerário quaresmal. Por conseguinte, difundi cada vez mais o bem e fazei da atenção para com os "últimos" um dos fundamentos da vossa acção pastoral.

Depois, ajudai com todos os meios os habitantes da vossa área a descobrir que Cristo e o seu Evangelho correspondem às necessidades reais do homem e da família. Seja animada por este espírito a iniciativa das visitas às famílias, iniciada por ocasião da Missão da Cidade e que agora estais oportunamente a prosseguir.

1547 Neste momento, penso com afecto especial em vós, queridos jovens, que sois os protagonistas do passado Dia Mundial da Juventude, no centro do Grande Jubileu. Sei que hospedastes, no âmbito da paróquia, cerca de 1500 jovens provenientes de várias partes do mundo. Mas congratulo-me convosco por tudo o que fizestes com espírito de abnegação, dando também aos adultos um testemunho de boa vontade. Continuai a influir na comunidade com a vossa fidelidade evangélica, para que muitos coetâneos vossos, graças a vós, possam encontrar Jesus. Espero por vós na próxima quinta-feira, juntamente com todos os jovens de Roma, na Praça de São Pedro, para nos prepararmos para celebrar o Dia Mundial da Juventude que, como sabeis, será no próximo domingo, Domingo de Ramos.

5 "Em tudo isto só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor" (
Ph 3,8). Conhecer Cristo! Nesta última fase do itinerário quaresmal somos ainda mais estimulados pela liturgia a aprofundar o nosso conhecimento de Jesus, a contemplar o seu rosto sofredor e misericordioso, preparando-nos para experimentar o esplendor da sua ressurreição. Não podemos deter-nos à superfície. É necessário fazer uma experiência pessoal e profunda da riqueza do amor de Cristo. Só desta forma, como afirma o Apóstolo, poderemos "conhecê-lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-nos à Sua morte, para ver se podemos chegar à ressurreição dos mortos" ( cf. Fil Ph 3,10-11).

Como Paulo, cada cristão está a caminho; a Igreja está a caminho. Irmãos e Irmãs, não paremos nem abrandemos o passo. Pelo contrário, orientemo-nos com todas as forças em direcção à meta para a qual Deus nos chama. Corramos para a Páscoa que já está próxima. Maria, a Virgem do Caminho, nos guie e nos acompanhe com a sua protecção. Que Ela, a Senhora que aqui venerais como "Nossa Senhora do Sufrágio", interceda por nós, agora e na hora do nosso encontro supremo com Cristo. Amen!



NO DOMINGO DE RAMOS

8 de Abril de 2001




1. "Hossana!", "Crucifica-O!". Poder-se-ia resumir com estas duas palavras, provavelmente pronunciadas pela mesma multidão à distância de poucos dias, o significado dos dois acontecimentos que recordamos neste liturgia dominical.

Com a aclamação "Bendito Aquele que vem!", num ímpeto de entusiasmo, o povo de Jerusalém, agitando ramos de oliveira, acolhe Jesus que entra na cidade levado por um jumento. Com o "Crucifica-O!", gritado por duas vezes num furor continuado, a multidão pede ao governador romano a condenação do réu que, em silêncio, está de pé no Pretório.

Portanto, a nossa celebração inicia-se com um "Hossana!" e concluiu-se com um "Crucifica-O!". O ramo do triunfo e a cruz da Paixão: não é uma contradição, ao contrário, é o coração do mistério que queremos proclamar. Jesus entregou-se voluntariamente à Paixão, não foi esmagado por forças maiores do que Ele. Enfrentou livremente a morte na cruz e triunfou na morte.

Perscrutando a vontade do Pai, Ele compreendeu que tinha chegado a "hora" e aceitou-a com a obediência livre do Filho e com infinito amor pelos homens: "sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele que amara os seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por eles" (Jn 13,1).

2. Hoje olhamos para Jesus que se aproxima do final da sua vida e se apresenta como Messias esperado pelo povo, enviado por Deus e vindo em seu nome para trazer a paz e a salvação, mesmo se de uma forma diferente da que os seus contemporâneos esperavam.

A obra de salvação e de libertação realizada por Jesus continua nos séculos. Por isso a Igreja, que crê firmemente que Ele está presente mesmo se é invisível, não se cansa de O aclamar com louvores e adorações. Por conseguinte, mais uma vez a nossa assembleia proclama: "Hossana! Bendito Aquele que vem em nome do Senhor!".

3. A leitura da página evangélica pôs diante dos nossos olhos as terríveis cenas da paixão de Jesus: o seu sofrimento físico e moral, o beijo de Judas, o abandono por parte dos discípulos, o processo perante Pilatos, os insultos e as injúrias, a condenação, o caminho doloroso, a crucifixão. Por fim, o sofrimento mais misterioso: "meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?". Um forte brado, e depois a morte.

1548 Porquê tudo isto? O início da oração eucarística dar-nos-á a resposta: "Ele, que não tinha pecado, aceitou a paixão por nós pecadores e, entregando-se a uma condenação injusta, carregou o peso dos nossos pecados. Com a sua morte lavou as nossas culpas e com a sua ressurreição obteve-nos a salvação" (Prefácio).

Por conseguinte, a nossa celebração quer ser gratidão e amor Àquele que se sacrificou por nós, ao Servo de Deus que, como dissera o profeta, não opôs resistência, não se afastou para trás, mas apresentou os ombros aos flageladores e não desviou o rosto dos que o ultrajavam e lhe cuspiam (cf. Is
Is 50,4-7).

4. Mas a Igreja, lendo a narração da Paixão não se limita a considerar unicamente os sofrimentos de Jesus; aproxima-se ansiosa e confiante deste mistério, sabendo que o seu Senhor ressuscitou. A luz da Páscoa faz descobrir o grande ensinamento contido na Paixão: a vida afirma-se através do dom sincero de si até enfrentar a morte pelo próximo, pelo Outro.

Jesus não concebeu a sua existência terrena como busca do poder, como corrida ao sucesso e à carreira, como vontade de domínio sobre os outros. Ao contrário, Ele renunciou aos privilégios da sua igualdade com Deus, assumiu a condição de servo tornando-se semelhante aos homens, obedeceu ao projecto do Pai até à morte na cruz. E desta forma deixou aos seus discípulos e à Igreja um ensinamento precioso: "se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (Jn 12,24).

5. O Domingo de Ramos tornou-se, já há anos, também o Dia Mundial da Juventude, o vosso Dia, caríssimos jovens, aqui reunidos de várias paróquias da diocese de Roma e de outras partes do mundo: juntamente convosco saúdo com afecto e esperança também os vossos coetâneos que nas diversas Igrejas locais celebram hoje o XVI Dia Mundial da Juventude, o primeiro do novo milénio.

Saúdo em particular os jovens da Delegação do Canadá, guiada pelo Arcebispo de Toronto, Card. Ambrozic, que estão aqui entre nós para receber a Cruz à volta da qual se reunirão os jovens de todos os continentes no próximo Dia Mundial de 2002. Mais uma vez, a todos e a cada um indico com vigor na Cruz de Cristo o caminho de vida e de salvação, o caminho para chegar ao ramo do triunfo no dia da ressurreição.

Que vemos na Cruz que se eleva diante de nós e que, há dois mil anos, o mundo não cessa de interrogar e a Igreja de contemplar? Vemos Jesus, o Filho de Deus que se fez homem para restituir o homem a Deus. Ele, sem pecado está agora diante de nós crucificado. Ele é livre, apesar de estar pregado no madeiro. É inocente, mesmo se está sob a inscrição que anuncia o motivo da sua condenação. Não lhe quebraram nenhum osso (cf Ps 34,21), porque é a coluna-mestra de um mundo novo. A sua túnica não foi rasgada (cf. Jo Jn 19,24), porque ele veio para reunir os filhos de Deus que o pecado tinha dispersado (cf. Jo Jn 11,52). O seu corpo não será lançado à terra mas colocado numa rocha (cf. Lc Lc 23,53), porque o corpo do Senhor da vida, que venceu a morte, não pode sofrer a corrupção.

6. Caríssimos jovens, Jesus morreu e ressuscitou, e agora Ele vive para sempre! Deu a sua vida, Mas ninguém lha tirou; deu-a "por nós" (Jn 10,18). Por meio da sua cruz veio a nós a vida. Graças à sua morte e à sua ressurreição, o Evangelho triunfou, e nasceu a Igreja.

Ao entrarmos confiantes no novo século e no novo milénio, queridos jovens, o Papa repete-vos as palavras do apóstolo Paulo: "Se morrermos por Ele, também com Ele reviveremos; se perseverarmos, reinaremos com Ele" (2Tm 2,11). Porque só Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo Jn 14,6).

Quem nos separará então do amor de Cristo? O Apóstolo Paulo respondeu também por nós: "Porque estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades nem a altura, nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor" (Rm 8,38-39).

Glória e louvor a Ti, ó Cristo, Verbo de Deus, salvador do mundo!







Homilias JOÃO PAULO II 1541