Homilias JOÃO PAULO II 1596


VIAGEM APOSTÓLICA À ARMÊNIA



DURANTE A CELEBRAÇÃO ECUMÉNICA


NA CATEDRAL DE SÃO GREGÓRIO, O ILUMINADOR


Ierevan, 26 de Setembro de 2001



"Como é bom, como é agradável viverem os irmãos em unidade" (Ps 133,1)
Seja louvado Jesus Cristo!

1. No último Domingo, Vossa Santidade e todo o Catolicossado de Etchmiadzin tiveram a alegria de consagrar esta nova Catedral de São Gregório, o Iluminador, como digno memorial de dezassete séculos de fidelidade da Arménia ao nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Este esplêndido Santuário testemunha a fé que vos foi legada pelos vossos pais, e fala-nos a todos nós da esperança que hoje move o povo arménio a olhar o futuro com renovada confiança e corajosa determinação.

Para mim, presidir com Vossa Santidade a esta Liturgia Ecuménica é fonte de grande alegria pessoal. É como se fosse a continuação da nossa Oração comum do ano passado na Basílica de São Pedro em Roma. Ali, venerámos em conjunto a relíquia de São Gregório, o Iluminador, e o Senhor faz-nos hoje repetir o mesmo gesto aqui em Ierevan. Abraço Vossa Santidade com o mesmo afecto fraternal com que me saudou durante a visita a Roma.

Estou grato a Sua Excelência o Presidente da República, pela Sua presença neste encontro ecuménico, sinal da nossa convicção comum de que a Nação será vigorosa e próspera, em virtude do respeito recíproco e da cooperação de todas as suas Instituições. O meu pensamento dirige-se neste momento para Sua Santidade Aram I, Catholicos da Grande Casa da Cilícia, assim como para os Patriarcas Arménios de Jerusalém e de Constantinopla: envio-lhes uma saudação no amor do Senhor. Saúdo cordialmente os distintos membros de todas as organizações civis e religiosas e as comunidades aqui representadas nesta tarde.

2. Quando, através da pregação de São Gregório, o rei Tiridates III se converteu, uma nova luz raiou na longa história do povo arménio. A universalidade da fé uniu-se de maneira inseparável com a vossa identidade nacional. A fé cristã radicou-se de modo permanente nesta terra, situada à volta do monte Ararat, e a palavra do Evangelho influenciou profundamente a língua, a vida familiar, a cultura e a arte do povo arménio.

Mesmo preservando e desenvolvendo a própria identidade, a Igreja Arménia não hesitou em comprometer-se no diálogo com outras tradições cristãs, bebendo no seu património espiritual e cultural. Logo desde os princípios, não só as Sagradas Escrituras, mas também as obras principais dos Padres Siríacos, Gregos e Latinos foram traduzidas para arménio. A liturgia arménia tirou a própria inspiração das tradições litúrgicas da Igreja do Oriente e do Ocidente. Graças a esta extraordinária abertura de espírito, a Igreja Arménia, ao longo da própria história, foi particularmente sensível à causa da unidade dos cristãos. Santos Patriarcas e Doutores, como Santo Isac Magno, Babghèn de Otmus, Zacarias de Dzag, Nerses Snorhali, Nerses de Lambron, Estêvão de Salmasta, Tiago de Julfa e outros eram bem conhecidos pelo seu zelo pela unidade da Igreja.

Na sua carta ao imperador bizantino, Nerses Snorhali traçou os princípios do diálogo ecuménico que não perderam nada do seu valor. Através de muitas das suas instituições, eles insistem no facto de que a procura da unidade é um dever de toda a comunidade e não se pode deixar que se criem divisões no interior das Igrejas; ensina, além disso, que é necessária uma sanação das memórias para superar os ressentimentos e os prejuízos do passado, assim como é indispensável o mútuo respeito e um sentido de igualdade entre os interlocutores que representam as respectivas Igrejas; enfim, ele diz que os cristãos devem ter uma profunda convicção interior de que a unidade é essencial não por uma vantagem estratégica ou um ganho político, mas pelo interesse da pregação do Evangelho como Cristo manda. As intuições deste Doutor arménio são fruto de uma extraordinária sabedoria pastoral e faço-as minhas enquanto estou hoje aqui entre vós.

3. "Como é bom, como é agradável viverem os irmãos em unidade!" (Ps 133,1). Quando, em 1970, o Papa Paulo VI e o Catholicos Vazken I trocaram entre si o beijo da paz, lançaram uma nova era de contactos fraternos entre a Igreja de Roma e a Igreja Arménia. O seu encontro logo foi seguido por outras visitas importantes. Eu mesmo conservo recordações verdadeiramente agradáveis das visitas a Roma de Sua Santidade Karekin I, primeiro como Catholicos da Grande Casa da Cilícia, depois como Catholicos de Etchmiadzin. Desde que tomou parte como observador no Concílio Ecuménico Vaticano II, o Catholicos Karekin I não mais deixou de trabalhar para promover relações fraternas e cooperação prática entre os cristãos do Oriente e do Ocidente. Desejei vivamente fazer-lhe uma visita aqui na Arménia, mas a sua pouca saúde e a seguir a morte prematura tornaram isso impossível. Dou graças ao Senhor por nos ter dado este grande homem de Igreja, um sábio e corajoso campeão da unidade dos cristãos.

1597 Santidade, estou contente por poder retribuir a visita que me fez em Roma, juntamente com uma delegação de Bispos e de fiéis arménios. Interpretei, então, o Seu generoso convite para visitar a Arménia e a Santa Etchmiadzin como um sinal de amizade e de caridade eclesial. Durante longos séculos, os contactos entre a Igreja Arménia Apostólica e a Igreja de Roma foram intensos e calorosos e o desejo da plena unidade nunca desapareceram de todo. A minha visita, hoje, testemunha o nosso desejo comum de chegar à plena unidade que o Senhor quis para os seus discípulos. Estamos próximos do Monte Ararat, onde, segundo a tradição, a Arca de Noé encontrou ancoradouro. Assim como a pomba voltou com o ramo de oliveira da paz e do amor (cf. Gn Gn 8,11), assim rezo para que a minha visita seja como que uma consagração da rica e frutuosa colaboração já existente entre nós.

Há já uma real e íntima unidade entre a Igreja Católica e a Igreja da Arménia, dado que ambas preservaram a sucessão apostólica e têm Sacramentos válidos, de modo particular o Baptismo e a Eucaristia. A consciência disso deve inspirar-nos a trabalhar ainda mais intensamente para reforçar o nosso diálogo ecuménico. Neste diálogo de fé e de amor, nenhuma questão, ainda que difícil, deverá ser ignorada. Consciente da importância do ministério do Bispo de Roma na procura da unidade dos cristãos, pedi - na minha Carta encíclica Ut umum sint - que os Bispos e teólogos das nossas Igrejas reflictam sobre "formas nas quais este ministério pode prestar um serviço de amor reconhecido de uns pelos outros" (n. 95). O exemplo dos primeiros séculos da vida da Igreja pode guiar-nos neste discernimento. A minha ardente oração é que se possa novamente realizar aquela "troca de dons" de que a Igreja do primeiro milénio deu exemplo maravilhoso. Possa a memória do tempo em que a Igreja respirava com "ambos os pulmões" estimular os cristãos do Oriente e do Ocidente a caminhar em conjunto na unidade da fé e no respeito das legítimas diversidades, aceitando-se e amparando-se uns aos outros como membros do único Corpo de Cristo (cf. Novo millennio ineunte, 48).

4. Com um só coração contemplamos Cristo nossa paz, que uniu o que antes estava dividido (cf. Ef Ep 2,14). Em verdade, o tempo chama por nós e o nosso dever é sagrado e urgente. Devemos proclamar a Boa Nova da salvação aos homens e mulheres do nosso tempo. Depois de ter experimentado o vazio espiritual do comunismo e do materialismo, eles procuram o caminho da vida e da felicidade: estão sedentos do Evangelho. Temos uma grande responsabilidade nos seus confrontos, e eles esperam de nós um testemunho convincente de unidade na fé e no amor recíproco. Uma vez que trabalhamos pela plena união, façamos em conjunto o que não devemos fazer separadamente. Trabalhemos juntos, no pleno respeito das nossas identidades e tradições distintas. Nunca mais cristãos contra cristãos, nunca mais Igreja contra Igreja! Caminhemos, antes, juntos, mão na mão, a fim de que o mundo do século XXI e do novo milénio possa acreditar.

5. Os Arménios sempre tiveram uma grande veneração pela Cruz de Cristo. Ao longo dos séculos, a Cruz foi a sua fonte inexaurível de esperança nos tempos de prova e de sofrimento. As muitas cruzes em forma de katchkar são uma característica tocante desta terra, e testemunham a vossa sólida fidelidade à fé cristã. Nesta época do ano, a Igreja arménia celebra uma das suas grandes festas: a Exaltação da Santa Cruz.

Levantado da terra sobre o madeiro da Cruz, Jesus Cristo, nossa salvação, vida e ressurreição, atrai-nos todos a si (cf Jn 12,32).

Cruz de Cristo, nossa verdadeira esperança! Sempre que o pecado e a fraqueza humana forem causa de divisão, dá-nos a força de perdoar e de nos reconciliar uns com os outros. Cruz de Cristo, sê a nossa força enquanto trabalhamos para restaurar a plena comunhão entre quantos olham para o Senhor crucificado, como nosso Salvador e nosso Deus. Amen.

Agradeço-vos pela vossa atenção e invoco a bênção de Deus sobre os nossos passos para a plena unidade.



VIAGEM APOSTÓLICA À ARMÊNIA

NA

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO ALTAR-MOR


-JARDIM DA CATEDRAL APOSTÓLICA-


Etchmiadzin, 27 de Setembro de 2001








Caríssimos Irmãos e Irmãs
Saúdo-vos e abençoo-vos a todos
"O Senhor é a minha luz e a minha salvação" (Ps 26,1).

1598 1. Estas palavras do Salmista ressoaram no coração dos Arménios quando, há dezassete séculos, a fé cristã, proclamada pela primeira vez nesta terra pelos apóstolos Bartolomeu e Tadeu, se tornou a religião da Nação. A partir daquele tempo, os cristãos arménios viveram e morreram na graça e na verdade (cf. Jo Jn 1,17) de nosso Senhor Jesus Cristo. A luz e a salvação do Evangelho inspiraram-vos e fortaleceram-vos em todas as fases da vossa peregrinação ao longo dos séculos. Hoje, nós honramos e comemoramos a fidelidade da Arménia a Jesus Cristo nesta Eucaristia, que Sua Santidade o Catholicos Karekin II, com amor fraterno, me convidou a celebrar sobre o solo sagrado onde o Filho de Deus apareceu ao vosso pai na fé, São Gregório, o Iluminador.

Quanto esperou por este dia o Bispo de Roma! Com intensa alegria, saúdo Sua Santidade o Catholicos, os seus irmãos Arcebispos e Bispos, assim como todos os fiéis da Igreja Apostólica Arménia. Saúdo calorosamente o Arcebispo Nerses Der Nersessian com o Arcebispo Coadjutor, D. Vartan Kechichian e, por meio deles, o meu pensamento dirige-se a Sua Beatitude o Patriarca Nerses Pedro XIX, Patriarca católico da Cilícia dos Arménios. Abraço os sacerdotes, os consagrados e consagradas, e a vós todos, filhos e filhas da Igreja católica da Arménia. Dou as boas-vindas ao Bispo D. Giuseppe Pasotto, Administrador Apostólico do Cáucaso dos Latinos e a quantos vieram da Geórgia e de outras regiões do Cáucaso.

2. Durante muitos anos a voz do sacerdote não ressoou nas vossas Igrejas, e todavia a voz da fé do povo era ainda ouvida, cheia de devoção e de afecto filial ao Sucessor do apóstolo Pedro.
Quando homens de mau coração disparam para a Cruz do campanário de Panik, eles procuravam ofender aquele Deus em quem não acreditavam. Mas a sua violência era dirigida, antes de mais, contra o povo, que tinha recolhido as pedras para construir uma casa para o Senhor; contra vós, que naquela igreja tínheis recebido o dom da fé nas águas do Baptismo e o dom do Espírito Santo no Crisma; contra vós, que nele vos reuníeis para partilhar o banquete celeste na mesa da Eucaristia; contra vós, cujos matrimónios, naquele lugar de oração, eram abençoados para que as vossas famílias fossem santas, e que ali tínheis dado a última saudação aos vossos queridos na segura esperança de um dia estardes reunidos com eles no Paraíso.

Abriram fogo contra a Cruz; e todavia, vós continuastes a cantar os louvores do Senhor, guardando e venerando as vestes sacerdotais do vosso último padre, como sinal da sua presença no meio de vós. Cantáveis os vossos hinos na firme convicção que, do Céu, a sua voz estava unida à vossa no louvor a Cristo, o eterno Sumo Sacerdote. Adornáveis os vossos lugares de culto o melhor que podíeis; e para além das imagens de Jesus e de sua Mãe, Maria, estava presente a imagem do Papa de Roma junto da do Catholicos da Igreja Apostólica Arménia. Tínheis compreendido que em toda a parte onde os cristãos sofriam, ainda que divididos entre si, existia já uma profunda unidade.

3. Esta é a razão pela qual a vossa história recente não foi assinalada pela triste oposição entre as Igrejas, que fez sofrer os cristãos noutras terras não longe daqui. Recordo ainda quando, uma vez passado o inverno do ateísmo ideológico, o falecido Catholicos Vazken I convidou a Santa Sé de Roma a mandar um sacerdote para os católicos da Arménia. Escolhi então para vós o Padre Komitas, um dos filhos espirituais do Abade Mechitar. Este ano, a comunidade mequitarista celebra os trezentos anos da sua fundação. Damos graças ao Senhor pelo glorioso testemunho que os monges deram; e manifestamos-lhes a nossa gratidão por quanto estão a fazer para renovar a cultura arménia!

Ainda que já não fosse jovem, o Padre Komitas aceitou imediatamente e com entusiasmo unir-se a vós na difícil missão da reconstrução. Veio viver em Panik, onde restaurou a Cruz que as armas de fogo tinham tentado destruir. Com espírito fraterno nos encontros do clero e dos fiéis da Igreja Apostólica Arménia, reabriu e adornou a igreja para os católicos, que a tinham defendido assim tanto tempo. Agora, ele repousa ao lado dela, próximo do seu povo também na morte, enquanto espera a ressurreição dos justos.

4. Em seguida, com a fraterna compreensão do Catholicos Vazken, que no Parlamento nacional defendeu os direitos dos católicos na Arménia, fiquei em posição de vos enviar como Pastor um outro mequitarista, Padre Nerses, que consagrei Bispo na Basílica de São Pedro. Ele é filho de um confessor da fé que pagou a sua fidelidade a Cristo nas prisões comunistas. Ao Arcebispo Nerses quero dizer uma palavra especial de gratidão. Quando lhe foi pedido, deixou prontamente a sua amada comunidade mequitarista na ilha de São Lázaro, em Veneza, para vir prestar serviço entre vós como pai amoroso e mestre respeitado. Agora, é ajudado pelo Arcebispo Vartan, um outro filho espiritual do Abade Mequitar. Desejo- lhe, também, um longo e frutuoso ministério pastoral.

Em conjunto com o seu Vigário precedente, tornado depois Bispo dos católicos arménios no Irão, e agora com o Arcebispo Coajutor, os sacerdotes e as religiosas que despendem assim generosamente as suas energias por amor ao Evangelho, o Arcebispo Nerses ensinou-vos e fez-vos ver que a Igreja católica, nesta terra, não é uma rival. As nossas relações são marcadas por um espírito fraterno. Como nos anos de silêncio tínheis posto a imagem do Papa ao lado da do Catholicos, assim hoje, nesta liturgia, rezaremos não só pela hierarquia católica,mas também por Sua Santidade Karekin II, Catholicos de Todos os Arménios.

Com amabilidade, Vossa Santidade convidou o Bispo de Roma para celebrar a Eucaristia com a comunidade católica na Santa Etchmiadzin e honra-nos com a Sua presença nesta alegre circunstância. Não é, por acaso, isto um sinal maravilhoso da nossa fé comum? Não exprime o ardente desejo de tantos irmãos e irmãs, que desejam ver-nos seguir rapidamente pelo caminho da unidade? O meu coração anseia por apressar o dia em que celebraremos em conjunto o Divino Sacrifício, que faz de todos nós uma só coisa. Neste, que é o Seu altar, Santidade, peço ao Senhor que perdoe as nossas faltas passadas contra a unidade e nos conduza ao amor que ultrapassa todas as barreiras.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs católicos, sede justamente orgulhosos desta antiga terra dos vossos pais e sede vós próprios herdeiros da sua história e cultura. Na Igreja católica o hino de louvor a Deus eleva-se de muitos povos e em muitas línguas.

1599 Mas esta mistura de vozes diferentes numa única melodia não destrói de modo algum a vossa identidade de Arménios. Vós falais a doce língua dos vossos antepassados. Cantais a vossa liturgia como vos foi ensinada pelos santos Padres da Igreja Arménia. Com os vossos irmãos da Igreja Apostólica, dai testemunho ao mesmo Senhor Jesus, que não está dividido. Vós não pertenceis nem a Apolo, nem a Cefas, nem a Paulo: "Vós sois de Cristo e Cristo é de Deus" (1Co 3,23).
6. Como Arménios, com os mesmos direitos e os mesmos deveres de todos os outros Arménios, ajudais a reconstruir a Nação. Em tal dever de grande importância, estou certo de que os nossos irmãos e irmãs da Igreja Apostólica Arménia consideram os membros da comunidade católica como filhos da mesma Mãe, a terra bendita da Arménia, terra de mártires e de monges, de sábios e de artistas. As divisões que aconteceram deixaram intactas as raízes. Devemos competir entre nós não no criar de divisões ou em acusações recíprocas, mas sim na demonstração mútua de caridade. A única competição possível entre os discípulos do Senhor é a de verificar quem está em situação de oferecer um amor cada vez maior! Recordemos as palavras do vosso grande Bispo Nerses de Lambrón: "Não há modo de estar em paz com Deus, para ninguém, se antes não se fez a paz com os homens... Se amamos e esta é a nossa medida, o amor será a nossa parte; se o rancor e o ódio são a nossa medida, esperam-nos ódio e rancor".

Hoje, a Arménia espera de todos os seus filhos e filhas esforços vivazes e renovados sacrifícios. A Arménia tem necessidade de que todos os seus filhos trabalhem com todo o coração para o bem comum. Só isto assegurará que o serviço honesto e generoso de quantos trabalham na vida pública seja recompensado com a confiança e a estima do povo; que as famílias sejam unidas e fiéis; que toda a vida humana seja acolhida amorosamente desde o momento da concepção e solicitamente cuidada mesmo quando é ferida pela doença ou pela pobreza. E onde podereis encontrar força para este grande compromisso comum? Encontrá-la-eis onde o povo arménio sempre encontrou a inspiração para perseverar nos seus altos ideais e para defender a própria herança cultural e espirtitual: na luz e na salvação que vos vem de Jesus Cristo.

A Arménia tem fome e sede de Jesus Cristo, pelo qual muitos dos vossos antepassados deram a vida. Nestes tempos difíceis, as pessoas andam à procura de pão. Mas quando o têm, o seu coração quereria mais, quereria uma razão para viver, uma esperança que os anime no duro trabalho de cada dia. Quem os levará a pôr a sua confiança em Jesus Cristo? Vós, cristãos da Arménia, todos vós em conjunto!

7. Todos os cristãos arménios olham em conjunto para a Cruz de Jesus Cristo como única esperança do mundo e verdadeira luz e salvação da Arménia. Todos nascestes sob a Cruz, do lado aberto de Cristo (cf. Jo Jn 19,34). Amais a Cruz porque sabeis que ela é vida e não morte, vitória e não derrota. Vós o sabeis, porque aprendestes a verdade que São Paulo proclama aos Filipenses: a sua prisão serviu somente para fazer progredir o Evangelho (1, 12). Considerai a vossa amarga experiência, que foi também, a seu modo, uma forma de prisão. Tomastes sobre vós a vossa Cruz (cf. Mt Mt 16,24) e ela não vos destruiu! Antes, vos alegrou de modos misteriosos e maravilhosos. Esta é a razão pela qual, depois de mil e setecentos anos, podeis afirmar com as palavras de Miqueias: "Não te alegres, minha inimiga, a meu respeito: se caí hei-de tornar a levantar-me; se estou sentada nas trevas, o Senhor será minha luz" (7, 8). Cristãos da Arménia, depois da grande prova, é tempo de vos levantardes! Ressurgi com Aquele que em cada época foi a vossa luz e a vossa salvação!

8. Nesta peregrinação ecuménica, desejava ardentemenete visitar os lugares onde os fiéis católicos vivem em grande número. Queria rezar junto dos túmulos das vítimas do terrível terramoto de 1988, sabendo que muitos sofrem ainda as suas trágicas consequências. Desejava visitar pessoalmente o hospital Redemptoris Mater, para o qual eu próprio fiquei feliz por contribuir quando a Arménia estava em dificuldades e que sei ser muito apreciado pelo serviço que oferece, graças ao infatigável trabalho dos Camilianos e das Pequenas Irmãs de Jesus. Mas nada disso, infelizmente, foi possível. Sabei que todos vós tendes um lugar no meu coração e nas minhas orações. Caríssimos Irmãos e Irmãs, quando voltardes deste lugar santo a casa, lembrai-vos de que o Bispo de Roma esteve aqui para honrar a fé do povo arménio, do qual sois uma parte muito querida para ele. Ele veio para celebrar a vossa fidelidade e a vossa coragem, e para louvar a Deus que vos concedeu ver o dia da liberdade. Aqui, junto deste esplêndido altar, recordemo-nos de quantos combateram para ver este dia e não o viram, mas o contemplam agora, na glória eterna do Reino de Deus.

A grande Mãe de Deus, amada ternamente por vós, vele sobre os seus filhos arménios e a todos guarde para sempre as crianças, os jovens, as famílias, os idosos, os doentes debaixo do seu manto protector.

Armenia semper fidelis! A paz de Deus esteja sempre convosco! Amen.



NA MISSA DE ABERTURA DA X ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA


DO SÍNODO DOS BISPOS


Basílica de São Pedro, 30 de Setembro de 2001









"O Bispo servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo".

Sob este tema se desenrolarão os trabalhos da décima Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que estamos agora a abrir em nome do Senhor. Ela continua uma série de Assembleias especiais de carácter continental, realizadas como preparação do Grande Jubileu do Ano 2000, Assembleias associadas no seu conjunto pela perspectiva da evangelização, como testemunham as Exortações apostólicas pós-sinodais até agora publicadas. Nesta mesma perspectiva se coloca a actual, que se põe na continuidade das precedentes Assembleias ordinárias, dedicadas às diversas vocações no Povo de Deus; os leigos em 1987; sacerdotes, em 1990; vida consagrada, em 1994. O tema sobre os Bispos completa assim o quadro de uma eclesiologia de comunhão e de missão, que sempre devemos ter diante de nós.

1600 Acolho-vos com grande alegria, caríssimos e venerados Irmãos no Episcopado, vindos de todas as partes do mundo. O vosso encontro e o trabalho em conjunto, sob a orientação do Sucessor de Pedro, manifesta que "todos os Bispos, em comunhão hierárquica, são participantes da solicitude de toda a Igreja" (Christus Dominus, CD 5). Estendo a minha cordial saudação aos outros membros da Assembleia e a quantos, nos próximos dias, cooperarão no seu eficaz desenvolvimento. De modo particular, agradeço ao Secretário Geral do Sínodo, o Cardeal Jan Pieter Schotte, em conjunto com os seus colaboradores, que prepararam activamente a presente reunião sinodal.
2. Na noite de Natal de 1999, inaugurando o Grande Jubileu, depois de ter aberto a Porta Santa, atravessei-a tendo nas mãos o Livro dos Evangelhos. Era um gesto altamente simbólico. Nele podemos ver encerrado todo o conteúdo do Sínodo que hoje abrimos e que tem como tema: "O Bispo servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo".

O Bispo é "minister, servidor". A Igreja está ao serviço do Evangelho. "Ancilla Evangelii": assim se poderia definir, evocando as palavras pronunciadas pela Virgem no anúncio do Anjo. "Ecce ancilla Domini" (Eis a serva do Senhor), disse Maria; "Ecce ancilla Evangelii" (Eis a serva do Evangelho) continua a dizer hoje a Igreja.

"Propter spem mundi" (para a esperança do mundo). A esperança do mundo está em Cristo. As expectativas da humanidade encontram nele um real e sólido fundamento. A esperança de cada ser humano vem da Cruz, sinal de vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança, da verdade sobre a mentira, da solidariedade sobre o egoísmo. A nós compete comunicar este anúncio salvífico aos homens e mulheres do nosso tempo.

3. "Bem-aventurados os pobres em espírito".

A bem-aventurança evangélica da pobreza constitui uma mensagem preciosa para a Assembleia sinodal que estamos a iniciar. A pobreza é, de facto, um traço essencial da pessoa de Jesus e do seu ministério de salvação e representa um dos requisitos indispensáveis, para que o anúncio evangélico encontre atenção e acolhimento junto da humanidade actual.

À luz da primeira Leitura, tirada do profeta Amós, e ainda mais da célebre parábola do "rico comilão" e do pobre Lázaro, contada pelo evangelista Lucas, nós, venerados Irmãos, somos levados a examinar-nos acerca da nossa atitude para com os bens terrenos e acerca do uso que deles fazemos. Somos convidados a verificar até onde chega na Igreja a conversão pessoal e comunitária para uma efectiva pobreza evangélica. Voltam-nos à memória as palavras do Concílio Vaticano II: "Tal como Cristo consumou a redenção na pobreza e na perseguição, também, para poder comunicar aos homens os frutos da salvação, é a Igreja chamada a seguir o mesmo caminho" (Lumen gentium LG 8).

4. É o caminho da pobreza que nos permitirá transmitir aos nossos contemporâneos "os frutos da salvação". Como Bispos, somos chamados, portanto, a ser pobres ao serviço do Evangelho. Ser servidores da palavra revelada, que, quando é necessário, levantam a sua voz em defesa dos últimos, denunciando os abusos daqueles que Amós chama os "que vivem comodamente" e os "voluptuosos". Ser profetas que põem, em evidência com coragem os pecados sociais ligados ao consumismo, ao hedonismo, a uma economia que produz uma inaceitável diferença entre luxo e miséria, entre povos "comilões" e inumeráveis "Lázaros" condenados à miséria. Em todas as épocas, a Igreja fez-se solidária com estes últimos, e teve Pastores santos, que se puseram ao lado dos pobres, como apóstolos intrépidos da caridade.

Mas, para que a voz dos Pastores seja credível, é necessário que eles próprios dêem prova de uma conduta desligada dos interesses privados e solícita para com os mais fracos. É necessário que sejam exemplo para a comunidade que lhes está confiada, ensinando e amparando o conjunto de princípios de solidariedade e de justiça social que formam a doutrina social da Igreja.

5. "Tu, homem de Deus" (1Tm 6,11): Com este título, qualifica São Paulo a Timóteo na segunda Leitura, há pouco proclamada. É uma página em que o Apóstolo traça um programa de vida perenemente válido para o Bispo. O Pastor deve ser "homem de Deus"; a sua vida e o seu ministério estão inteiramente sob a senhoria divina e tiram luz e vigor do sobreeminente mistério de Deus.

Continua São Paulo: "Tu, homem de Deus, ... segue a piedade, a justiça, a fé, a caridade, a paciência e mansidão" (v. 11). Quanta sabedoria naquele "segue"! A Ordenação episcopal não infunde a perfeição das virtudes: o Bispo é chamado a prosseguir o seu caminho de santificação com maior intensidade, para chegar à estatura de Cristo, Homem perfeito.

1601 Acrescenta o Apóstolo: "Combate o bom combate da fé e conquista a vida eterna..." (v. 12). Orientados para o Reino de Deus, enfrentemos, caros Irmãos, a nossa fadiga de cada dia pela fé, sem procurar outra recompensa senão aquela que Deus nos dará no fim. Somos chamados a fazer esta "solene profissão de fé diante de muitas testemunhas" (v. 12). O esplendor da fé torna-se, assim, testemunho: reflexo da glória de Cristo nas palavras e nos gestos de todo o seu fiel ministro.
Conclui São Paulo: "Ordeno-te diante de Deus que guardes este mandamento sem máculas e sem repreensão até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo" (v. 14). "O mandamento"!

Nesta palavra está Cristo todo: o seu Evangelho, o seu testamento de amor, o dom do seu Espírito que leva a lei ao seu cumprimento. Os Apóstolos receberam dele esta herança e confiaram-no-la a nós, para que seja conservada e transmitida intacta até ao fim dos tempos.

6. Caríssimos Irmãos no Episcopado! Cristo, hoje, repete-nos: "Duc in altum Faz-te ao largo!" (
Lc 5,4). À luz deste seu convite, podemos reler o tríplice múnus que nos foi confiado na Igreja: múnus de ensinar, santificar e governar (cf. Lumen gentium, LG 25-27 Christus Dominus, CD 12-16).

Duc in docendo (caminha ensinando)! "Prega a palavra diremos com o Apóstolo insiste oportuna e inoportunamente, repreende, censura e exorta com bondade e doutrina" (2Tm 4,2).
Duc in santificando (Caminha santificando)! As "redes" que somos chamados a lançar no meio dos homens são, antes de tudo, os Sacramentos, de que somos os principais dispensadores, reguladores, guardas e promotores. (cf. Christus Dominus CD 15). Eles formam uma espécie de "rede" salvífica, que liberta do mal e conduz à plenitude da vida.

Duc in regendo (Caminha governando! Como Pastores e verdadeiros Pais, ajudados pelos Sacerdotes e pelos outros colaboradores, temos o dever de congregar a família dos fiéis e nela fomentar a caridade e a comunhão fraterna (cf. ibid., 16).

Embora se trate de uma missão árdua e fatigante, nenhum perca a coragem. Com Pedro e os primeiros discípulos também nós renovamos confiantes a nossa sincera profissão de fé: Senhor, "à tua palavra lançarei as redes" (Lc 5,5)! À tua palavra, ó Cristo, queremos servir o teu Evangelho para a esperança do mundo!

E também nos confiamos à tua assistência maternal, ó Virgem Maria. Tu, que guiaste os primeiros passos da comunidade cristã, sê também amparo e encorajamento para nós. Intercede por nós, Maria, que, com as palavras do Servo de Deus, Paulo VI, invocamos como "Auxílio dos Bispos e Mãe dos Pastores". Amen



DURANTE A BEATIFICAÇÃO DE SETE SERVOS DE DEUS


Praça São Pedro, 7 de Outubro de 2001







1. "O justo viverá pela sua fidelidade" (Ha 2,4): com estas palavras, repletas de confiança e de esperança, o profeta Habacuc dirige-se ao povo de Israel, num momento particularmente difícil da sua história. Lidas novamente pelo Apóstolo Paulo, à luz do mistério de Cristo, estas mesmas palavras são utilizadas para expressar um princípio universal: é com a fé que o homem se abre para a salvação que lhe vem de Deus.

1602 Hoje, temos a alegria de contemplar este grande mistério de salvação actualizado nos novos Beatos. Eles são os justos que, pela sua fidelidade, vivem eternamente ao lado de Deus: Inácio Maloyan, Bispo de mártir; Nicolau Grass, pai de família e mártir; Afonso Maria Fusco, presbítero; Tomás Maria Fusco, sacerdote; Emília Tavernier Gamelin, religiosa; Eugénia Picco, virgem; e Maria Eutímia Üffing, virgem.

Estes nossos irmãos, hoje elevados às honras dos altares, souberam traduzir a sua fé indómita em Cristo, numa extraordinária experiência de amor a Deus e de serviço ao próximo.

2. D. Inácio Malayan, mártir aos 46 anos de idade, recorda-nos o combate espiritual de todos os cristãos, cuja fé é exposta aos ataques do mal. Era da Eucaristia que ele hauria, todos os dias, a força necessária para cumprir com generosidade e paixão o seu ministério sacerdotal, consagrando-se à pregação, à pastoral dos sacramentos e ao serviço dos mais pobres. Ao longo da sua existência, viveu plenamente a palavra de São Paulo: "Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, amor e sabedoria" (
2Tm 1,7). Diante dos perigos da perseguição, o Beato Inácio não aceita qualquer compromisso, enquanto declara àqueles que lhe fazem pressão:

"Deus não quer que eu renegue Cristo, meu Salvador. O desejo mais forte do meu coração é derramar o meu sangue em favor da minha fé!". O seu exemplo ilumine hoje todas as pessoas que querem ser verdadeiras testemunhas do Evangelho, para a glória de Deus e para a salvação dos seus irmãos!

3. Na sua vida de mãe de família e de religiosa fundadora das Irmãs da Providência, Emília Tavernier Gamelin foi o modelo de um abandono corajoso à Providência. A sua atenção às pessoas e às situações levaram-na a criar novas formas de caridade. Tinha um coração aberto a todo o género de angústia, servindo de modo especial os pobres e os pequeninos, que desejava tratar como reis. Considerando o facto de que tinha recebido tudo do Senhor, também dava sem medida. Este era o segredo da sua profunda alegria, até mesmo na adversidade. Num espírito de confiança total em Deus e com um profundo sentido de obediência, como o "servo inútil" do Evangelho, ela cumpria o dever da sua condição com um mandamento divino, em tudo desejando fazer a vontade do Senhor. A nova Beata seja um modelo de contemplação e de acção para as Religiosas do seu Instituto e para as pessoas que trabalham com elas!

4. Ambos os novos Beatos alemães nos levam para um momento obscuro do século XX. Dirigimos o nosso olhar para o Beato Nicolau Gross, jornalista e pai de família. Compreendeu com sagacidade que a ideologia nacional-socialista não podia concordar com a fé cristã. Com a caneta, defendeu corajosamente a dignidade das pessoas. Nicolau Gross amava muito a sua esposa e os seus filhos. Todavia, nem sequer um momento o vínculo que o unia à família fez com que abandonasse Cristo e a sua Igreja. Ele sabia muito bem que "se hoje não entregamos a nossa vida, como poderemos pretender um dia apresentar-nos diante de Deus e do nosso povo?".

Em virtude desta sua convicção foi levado para o patíbulo, mas abriram-se-lhe as portas do céu. No Beato mártir Nicolau Gross realiza-se a profecia do profeta: "O justo viverá pela sua fidelidade" (Ha 2,4).

5. A Irmã Eutímia ofereceu um testemunho muito diverso. Esta religiosa clementina dedicou-se ao cuidado dos doentes, em particular dos prisioneiros de guerra e dos imigrados. Chamavam-lhe também "mãe Eutímia". Depois da guerra, teve de se ocupar de uma lavandaria, e não mais da cura dos enfermos. Certamente teria desejado servir as pessoas, e não as máquinas! Contudo, permaneceu uma religiosa cheia de empatia, que para todos tinha um sorriso amistoso e uma palavra de encorajamento. Assim exprimia o seu desejo: "O Senhor deve usar-me como um raio de sol que ilumina todos os dias". Maria Eutímia viveu segundo este lema: independentemente do que fazemos, somos sempre e unicamente "servos inúteis. Fizemos o que devíamos fazer" (Lc 17,10). A sua grandeza está na fé nas coisas pequenas.

6. "Se tivésseis fé como um grão de mostarda...", exclama Jesus, conversando com os discípulos (Lc 17,6).

Foi uma fé genuína e tenaz que orientou a vida e a obra do Beato Padre Afonso Maria Fusco, fundador das Irmãs de São João Baptista. Desde quando era adolescente, o Senhor pôs no seu coração o desejo apaixonado de dedicar a vida ao serviço dos mais pobres, especialmente das crianças e dos jovens, que encontrava em grande número na sua cidade natal de Angri, na Campânia. Por isso, empreendeu o caminho do Sacerdócio e tornou-se, num certo sentido, o "Dom Bosco do Sul". Desde o início, quis empenhar na sua obra alguns jovens que compartilhavam o seu ideal, propondo-lhes como seu lema as palavras de São João Baptista:

"Parate viam Domini!", "Preparai os caminhos do Senhor" (Lc 3,4). Confiando na Providência divina, o Beato Afonso Maria e as Irmãs Baptistinas realizaram uma obra muito superior às suas próprias expectativas. De uma simples casa de acolhimento, nasceu um instituto que hoje está presente em 16 países e quatro continentes, ao lado dos "pequeninos" e dos "últimos".

1603 7. A singular vitalidade da fé, atestada pelo Evangelho de hoje, sobressai também na vida e na actividade de Padre Tomás Maria Fusco, fundador do Instituto das Filhas da Caridade do Preciosíssimo Sangue. Em virtude da sua fé soube viver, no mundo, a realidade do Reino de Deus de modo totalmente especial. Entre as suas jaculatórias, há uma que lhe estava particularmente a peito: "Creio em ti, meu Deus; aumenta a minha fé!". É precisamente este seu pedido que os Apóstolos dirigem a Jesus no Evangelho de hoje (cf. Lc Lc 17,6). Com efeito, o Beato Tomás Maria compreendeu que a fé é antes de mais nada uma dádiva, uma graça. Ninguém pode conquistá-la ou obtê-la sozinho. Ela só pode ser pedida, implorada do Alto. Por isso, iluminados pelo precioso ensinamento do novo Beato, nunca nos devemos cansar de invocar o dom da fé, porque "o justo viverá pela sua fidelidade" (Ha 2,4).

8. A síntese vital entre contemplação e acção, assimilada a partir da participação quotidiana na Eucarisia, foi o fundamento da experiência espiritual e do impulso de caridade de Eugénia Picco. Na sua vida, esforçou-se sempre para se pôr à escuta da voz do Senhor, em conformidade com o convite desta liturgia dominical (cf. Rit. ao Salmo resp.), sem jamais se subtrair aos serviços exigidos pelo amor ao próximo. Em Parma, ela assumiu a responsabilidade pela pobreza das populações, respondendo às necessidades dos jovens e das famílias indigentes e assistindo as vítimas da guerra, que nesse período ensanguentava a Europa. Mesmo diante do sofrimento, com os inevitáveis momentos de dificuldade e de confusão que ele comporta, a Beata Eugénia Picco soube transformar a experiência do sofrimento numa ocasião de purificação e de crescimento interior. Da nova Beata aprendemos a arte de escutar a voz do Senhor, para ser testemunhas credíveis do Evangelho da caridade neste início de milénio.

9. "Mirabilis Deus in sanctis suis!". Com as Comunidades em que os novos Beatos viveram e às quais deram as suas melhores energias humanas e espirituais, queremos agradecer a Deus, admirável nos seus santos". Ao mesmo tempo pedimos-lhe, por intercessão deles, que nos ajude a responder com renovado ardor à vocação universal para a santidade. Amen!



Homilias JOÃO PAULO II 1596