Homilias JOÃO PAULO II 1617


PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA JOSEFA

DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


16 de Dezembro de 2001







1. "Alegrem-se o deserto e a terra seca, o campo floresça de alegria" (Is 35,1).

Um insistente convite à alegria caracteriza a liturgia deste terceiro domingo de Advento, chamado domingo "Gaudete", porque a palavra "Gaudete" é, precisamente, a primeira da antífona de entrada. "Alegrai-vos", "regozijai-vos"! Ao lado da vigilância, da oração e da caridade, o Advento convida-nos ao júbilo e à alegria, porque já está próximo o encontro com o Salvador.

Na primeira leitura, que escutámos há pouco, encontrámos um verdadeiro hino à alegria. O profeta Isaías preanuncia os prodígios que o Senhor realizará em favor do seu povo, libertando-o da escravidão e reconduzindo-os à pátria. Com a sua vinda, realizar-se-á como que um novo e mais importante êxodo, que fará reviver em pleno o júbilo da comunhão com Deus. Para todos os que estão desencorajados e desconfiados ressoa a "boa notícia" da salvação: "os resgatados de Javé sentirão uma alegria sem fim e a tristeza e o pranto fugirão" (cf Is 35,10).

2. "Coragem! Não tenhais medo; eis o vosso Deus... Ele vem salvar-vos" (Is 35,4). Quanta confiança infunde esta profecia messiânica, que deixa entrever a verdadeira e definitiva libertação, realizada por Jesus Cristo. Com efeito, na página evangélica que foi proclamada nesta nossa assembleia, Jesus, respondendo à pergunta dos discípulos de João Baptista, aplica a si próprio quanto Isaís tinha afirmado: é Ele o Messias esperado. "Ide diz Ele contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres" (Mt 11,4-5).

Está aqui a razão profunda da nossa alegria: Em Cristo completou-se o tempo da espera. Deus realizou, finalmente, a salvação para todo o homem e para toda a humanidade. Com esta íntima convicção, preparamo-nos para celebrar a festa do Santo Natal, acontecimento extraordinário que reacende nos nossos corações a esperança e a alegria espiritual.

3. Carísssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santa Maria Josefa do Coração de Jesus! A alegria de estar no meio de vós, hoje, assume uma intensidade particular. É a alegria de poder encontrar a trecentésima comunidade paroquial da amada Igreja de Roma. Desde o início do Pontificado, foi importante para mim exercer o ministério de Bispo de Roma, visitando também, e talvez sobretudo, as comunidades paroquiais da Diocese.

1618 Dirijo um especial pensamento de gratidão ao Cardeal Vigário que, juntamente com Mons. Vice-gerente e os Bispos Auxiliares, me acompanharam nestes encontros dominicais. Não posso deixar de recordar aqui com grande afecto o falecido Cardeal Hugo Poletti, os Prelados que prestaram a sua valiosa colaboração no serviço da Diocese, e tantos Párocos e Cooperadores paroquiais, como também os milhares de fiéis que encontrei neste meu peregrinar pelos bairros da nossa Metrópole. Quis comunicar estes sentimentos na Carta que, nesta ocasião, enderecei ao Cardeal Vigário e, por seu intermédio, a toda a Comunidade diocesana, para partilhar com todos e cada um a alegria de um acontecimento tão singular.

Quanta riqueza de bem, de fervor espiritual, de iniciativas pastorais e caritativas pude encontrar nestas visitas! De quanta riqueza foi cada uma delas para mim, uma ocasião privilegiada para dar e receber coragem. Enquanto desejo continuar esta enriquecedora experiência pastoral, dirigindo-me a outras paróquias que esperam ainda o encontro com o seu Pastor, agradeço a Deus pela missão que me confiou. Ele chamou-me para ser Sucessor do apóstolo Pedro, Bispo da Igreja de Roma, desta Igreja que preside à comunhão universal da caridade (cf. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, Int.). Peço a vossa oração para saber corresponder de modo adequado a este dever.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs desta Paróquia! Obrigado pelo vosso acolhimento. Saúdo-vos com grande afecto. Saúdo o Pároco, Padre Ângelo De Caro e os Missionários Monfortinos que colaboram com ele na orientação da comunidade. Agradeço com particular cordialidade àqueles que, em vosso nome, me deram as boas-vindas, no iníco da celebração. Saúdo os fiéis leigos especialmente empenhados na animação da paróquia, os jovens, as famílias, os doentes, os idosos e todos os moradores nesta zona periférica da Cidade, em constante expansão.

Dirijo uma saudação reconhecida à Congregação das Servas de Jesus da Caridade que, com generoso e autêntico sentido eclesial, tornaram possível a construção desta nova igreja, consagrada no dia 27 de Janeiro passado, e dedicada à sua fundadora, Santa Maria Josefa do Coração de Jesus.

O exemplo desta Santa, que viveu animada por um intenso amor à Eucaristia e aos irmãos em dificuldade, seja um estímulo para vós, queridas Irmãs, a crescer na devoção à Eucaristia e no acolhimento dos irmãos idosos, doentes e necessitados.

Sirva também de encorajamento para vós, queridos paroquianos, para trabalhar sem descanso de modo a fazer do vosso bairro um ambiente verdadeiramente humano, e assim seja reduzidos os riscos de afastamento e de marginalização, que infelizmente estão ainda espalhados, especialmente nas grandes Cidades.

6. A Diocese de Roma recorda hoje o empenho pela construção das novas igrejas; que possamos tocar com as mãos os benefícios que pode trazer a toda a zona um orgânico complexo paroquial. No vosso bairro, com efeito, a vossa igreja constitui um providencial centro de reunião, onde somos formados para a escuta da palavra de Deus e para o serviço do próximo: aqui se cultiva um generoso impulso missionário e vocacional, que envolve em primeiro lugar os jovens, com uma atenção constante às exigências locais e aos desafios mundiais. Possa o louvável esforço, que o Vicariado realiza para dotar cada bairro com um centro pastoral apetrechado, encontrar uma generosa solidariedade da parte de cada Paróquia, especialmente daquelas que dispõem de maiores recursos, assim como das Congregações e Institutos religiosos, de Instituições públicas e privadas.

7. "Sede pacientes até à vinda do Senhor" (Ti 5, 7).

O Advento convida-nos à alegria, mas, ao mesmo tempo, exorta-nos a esperar com paciência a vinda do Salvador que está próxima. Convida-nos a não desanimarmos, resistindo a todo o tipo de adversidades, certos de que o Senhor não tardará a chegar.

Esta paciência vigilante, como sublinha o apóstolo Tiago na segunda Leitura, favorece a consolidação de sentimentos fraternos na Comunidade cristã. Reconhecendo-se pequenos, pobres e necessitados da ajuda de Deus, os crentes unem-se entre si para acolher o seu Messias que está para vir. Ele virá no silêncio, na humildade e na pobreza do Presépio e dará a sua alegria a quem lhe abrir o coração.

Avancemos, portanto, com espírito alegre e generoso para o Natal. Façamos nossos os sentimentos de Maria, que esperou o Redentor na oração e no silêncio e lhe preparou com cuidado o nascimento em Belém.

Bom Natal!



MISSA DA MEIA NOITE


1619
Natal, 24 de Dezembro de 2001

1. «Populus qui ambulabat in tenebris, vidit lucem magnam - O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9,1).


Todos os anos ouvimos estas palavras do profeta Isaías, no âmbito sugestivo da comemoração litúrgica do nascimento de Cristo. De ano para ano, elas assumem um novo sabor e fazem reviver o clima de expectativa e esperança, de assombro e júbilo, que é típico do Natal.

Ao povo oprimido e atribulado que andava nas trevas, apareceu «uma grande luz». Sim, uma luz verdadeiramente «grande», pois a que irradia da humildade do presépio é a luz da nova criação. Se a primeira criação começou com a luz (cf. Gn Gn 1,3), muito mais luminosa e «grande» há-de ser a luz que dá início à nova criação: é o próprio Deus feito homem!

O Natal é acontecimento de luz, é a festa da luz: no Menino de Belém, a luz primordial volta a resplandecer no céu da humanidade e dissipa as nuvens do pecado. O fulgor do triunfo definitivo de Deus aparece no horizonte da história para propor aos homens em caminho um novo futuro de esperança.

2. «Para os que habitavam na terra da escuridão uma luz começou a brilhar» (Is 9,1).

O anúncio jubiloso, proclamado há pouco na nossa assembleia, vale também para nós, homens e mulheres do alvorecer do terceiro milénio. A comunidade dos crentes reúne-se em oração para de novo o escutar em todas as regiões do mundo. No meio do frio e da neve do inverno ou no calor tórrido dos trópicos, esta noite é Noite santa para todos.

Após longa espera, irrompe finalmente o esplendor do Dia novo. Nasceu o Messias, o Emanuel, Deus connosco! Nasceu Aquele que foi preanunciado pelos profetas e longamente invocado por aqueles que «andavam nas trevas». No silêncio e na escuridão da noite, a luz faz-se palavra e mensagem de esperança.

Mas porventura não contrasta esta certeza de fé com a realidade histórica em que vivemos? Diante dos factos inumanos que ouvimos nos noticiários, esta palavra de luz e de esperança parece um sonho. Mas é nisto mesmo que se encerra o desafio da fé, tornando este anúncio simultaneamente consolador e exigente. A fé faz-nos sentir envolvidos pela ternura amorosa de Deus e ao mesmo tempo empenha-nos activamente no amor de Deus e dos irmãos.

3. «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2,11).

Neste Natal, os nossos corações estão preocupados e inquietos com a persistência, em diversas regiões do mundo, da guerra, das tensões sociais, das penosas carências em que vivem tantos seres humanos. Todos procuramos uma resposta que nos tranquilize.

1620 A página que acabámos de ouvir da Carta de Tito recorda-nos que o nascimento do Filho unigénito do Pai «traz a salvação» a todos os ângulos da terra e em todos os momentos da história. Para todo o homem e mulher, nasce o Menino que tem «o seguinte nome: Conselheiro admirável! Deus valoroso! Pai para sempre! Príncipe da paz!» (Is 9,5). Ele traz consigo a resposta que nos pode tranquilizar dos nossos temores e dar novamente vigor às nossas esperanças.

Sim, nesta noite evocadora de memórias sacrossantas, torna-se mais firme a nossa confiança na força redentora da Palavra feita carne. Quando as trevas e o mal parecem prevalecer, Cristo repete-nos: Não temais! Com a sua vinda ao mundo, Ele derrotou o poderio do mal, libertou-nos da escravidão da morte e readmitiu-nos ao banquete da vida.

Cabe a nós enchermo-nos da força do seu amor vitorioso, assumindo a sua lógica de serviço e humildade. Cada um de nós é chamado a vencer, com Ele, «o mistério da iniquidade», tornando-nos testemunhas de solidariedade e construtores de paz. Vamos, pois, à gruta de Belém para O encontrar a Ele, mas também para, n'Ele, encontrar toda a criança do mundo, todo o irmão chagado no corpo ou oprimido no espírito.

4. Os pastores, «assim que O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino» (Lc 2,17).

À semelhança dos pastores, também nós, nesta noite extraordinária, não podemos deixar de sentir o desejo de comunicar aos outros a alegria do encontro com este «Menino envolto em panos», no Qual se manifesta a força salvadora do Omnipotente. Não podemos contentar-nos com a contemplação extasiada do Messias que jaz na manjedoira, esquecendo o dever que temos de dar testemunho d'Ele.

Devemos retomar rapidamente o nosso caminho. Devemos sair jubilosos da gruta de Belém, para referir por todo o lado o prodígio de que fomos testemunhas. Encontrámos a luz e a vida! N'Ele, foi-nos dado o amor!

5. «Um Menino nasceu para nós...» (Is 9,5).

Nós Vos acolhemos com alegria, Senhor Omnipotente do céu e da terra que, por amor, Vos fizestes Menino «na Judeia, na cidade de David chamada Belém» (Lc 2,4).

Acolhemos-Vos, agradecidos, ó Luz nova que despontais na noite do mundo.

Acolhemo-Vos como nosso irmão, «Príncipe da Paz» que «de dois povos fizestes um só» (cf. Ef Ep 2,14).

Enchei-nos dos vossos dons, Vós que não desdenhastes de iniciar a vida humana como nós. Fazei-nos filhos de Deus, Vós que, por nós, quisestes tornar-Vos filho do homem (cf. Santo Agostinho, Sermões, 184).

1621 Vós, «Conselheiro admirável», promessa segura de paz; Vós, presença eficaz do «Deus valoroso»; Vós, o nosso único Deus, que jazeis pobre e humilde na sombra do presépio, acolhei-nos junto do vosso berço.

Vinde, povos da terra e abri-Lhe as portas da vossa história! Vinde adorar o Filho da Virgem Maria, descido entre nós nesta noite, desde há séculos preparada.

Noite de alegria e de luz.

Venite, adoremus!



NA

CELEBRAÇÃO DO SOLENE


"TE DEUM" DE AÇÃO DE GRAÇAS


31 de Dezembro de 2001





1. "Senhor, este é o tempo?": quantas vezes o homem faz esta interrogação, especialmente nos momentos dramáticos da história! Ele sente o profundo desejo de conhecer o sentido e a dinâmica dos acontecimentos individuais e comunitários em que se encontra implicado. Gostaria de saber "antes" o que acontecerá "depois", de maneira a não ser tomado de surpresa.

Também os Apóstolos não se mostraram insensíveis a este desejo. Porém, Jesus nunca satisfez esta curiosidade. Quando lhe foi feita esta pergunta, Ele respondeu que somente o Pai celeste conhece e cadencia os tempos e os momentos (cf. Act Ac 1,7). Porém, acrescentou: "Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas... até aos confins do mundo" (Ac 1,8). Isto é, convidou-os a assumir uma atitude "nova" em relação ao tempo.

Jesus exorta-nos a não investigar inutilmente aquilo que está reservado a Deus que é, precisamente, o decurso dos acontecimentos mas a utilizar o tempo que cada uma tem à disposição o presente agindo com amor filial para a difusão do Evangelho em todos os quadrantes do planeta. Esta reflexão é mais oportuna do que nunca também para nós, no encerramento de um ano e a poucas horas do início do novo ano.

2. "Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher" (Ga 4,4). Antes do nascimento de Jesus, o homem estava sujeito à tirania do tempo, semelhante ao escravo que não sabe o que se passa pela mente do seu patrão. Porém, quando o Verbo se fez homem e habitou entre nós" (Jn 1,14), esta perspectiva foi totalmente alterada.

Na noite de Natal, que celebrámos há uma semana, o Eterno entrou na história, o "não ainda" do tempo, ritmado pelo inexorável fluxo dos dias, ligou-se misteriosamente ao "já" da manifestação do Filho de Deus. No insondável mistério da Encarnação, o tempo alcança a sua própria plenitude. Deus abraça a história dos homens na terra, para os levar ao seu cumprimento definitivo.
Portanto para nós, crentes, o sentido e o fim da história e de cada uma das vicissitudes humanas estão em Cristo. Nele, Verbo eterno que se fez carne no seio de Maria, a eternidade envolve-nos também a nós, porque Deus quis tornar-se visível, revelando a finalidade da própria história e o destino dos cansaços de cada pessoa que vive sobre a face da terra.

1622 Este é o motivo por que nesta liturgia, enquanto nos despedimos do ano de 2001, sentimos a necessidade de renovar, com íntima alegria, a nossa gratidão a Deus que, no seu Filho, nos introduziu no seu mistério dando início ao tempo novo e definitivo.

3. Te Deum laudamus / Te Dominum confitemur.

Com as palavras deste antigo hino, elevamos a Deus a expressão do nosso profundo reconhecimento pelo bem que, durante os últimos doze meses, Ele nos concedeu.

Enquanto passam diante dos nossos olhos os inúmeros acontecimentos do ano de 2001, quereria saudar com afecto o Cardeal Vigário, rodeado pelos seus Bispos Auxiliares e por numerosos Párocos, meus preciosos colaboradores no serviço pastoral à Igreja de Roma. Faço extensiva a minha saudação ao Senhor Presidente da Câmara Municipal e aos membros da Junta e do Conselho Municipal, assim como às outras Autoridades presentes e a quantos estão aqui presentes, em representação das diversas Institutições da Cidade.

Desta Basílica, que é tão querida aos romanos, transmito os meus bons votos a toda a população da Urbe e, de maneira especial, a todos aqueles que passam estes dias de festa no meio de privações e dificuldades. A todos quero assegurar a minha recordação, corroborada pela minha prece intensa e ardente, enquanto convido cada um a continuar com empenhamento o seu próprio caminho, confiando na Providência, sempre amorosa nos seus misteriosos desígnios.

4. Na nossa Cidade ainda é forte o eco do Grande Jubileu, que assinalou profundamente a vida de Roma e dos seus habitantes, incutindo na comunidade dos crentes muita riqueza de graças. A Assembleia diocesana de Junho de 2001, pormenorizadamente preparada nas Paróquias e no seio das realidades eclesiais, voltou a propor o compromisso da missão permanente como objectivo a ter decididamente em vista durante estes anos, em conformidade com as indicações da Carta Apostólica Novo millennio ineunte e do programa pastoral diocesano, que nela encontra a sua inspiração.

Roma sente uma necessidade constante do anúncio de Cristo e do encontro com Ele, na escuta da sua palavra, na Eucaristia e na caridade. Por conseguinte, é preciso que aumente o anseio apostólico no coração dos sacerdotes, dos religiosos, das religiosas e dos inúmeros leigos que compreenderam a sua vocação de ser testemunhas do Senhor junto das famílias e nos lugares das actividades de trabalho.

Repito a todos aqui presentes aquilo que escrevi na mensagem enviada à Assembleia diocesana do passado mês de Junho: ""Fazei-vos ao largo", para levar o anúncio do Evangelho aos lares, aos ambientes, aos bairros e a toda a Cidade" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 16.6.2001, pág. 3, n. 4).

Cada comunidade cristã seja uma escola de oração e uma lugar de santidade, seja uma família de famílias onde a recepção do Senhor e a fraternidade vivida à volta da Eucaristia se traduzam no impulso de uma evangelização renovada.

5. Ligado à missão permanente existe outro grande objectivo, indicado no programa pastoral diocesano, e que será objecto de uma reflexão singular da Assembleia diocesana do mês de Junho de 2002: a pastoral vocacional.

Cada paróquia e cada comunidade são chamadas à oração constante, a fim de que o Senhor mande trabalhadores para a sua messe, e a uma dinâmica e confiante obra de formação junto dos jovens e das famílias, para que o chamamento de Deus seja compreendido na sua força libertadora e recebido com alegria e gratidão.

1623 Dirijo-me sobretudo a vós, caros Párocos e queridos Sacerdotes, a fim de que a alegria de ser ministros de Cristo e a generosidade do serviço à Igreja se tornem manifestas sempre de modo evidente na vossa vida. Esta é uma importante condição para a eficácia da pastoral vocacional. Na base de cada vocação sacerdotal e religiosa existe, quase sempre, um presbítero que, com o exemplo e a orientação espiritual, introduziu e acompanhou a pessoa na procura do caminho do "dom" e do "mistério".

6. Te Deum laudamus! Nesta noite eleva-se do nosso coração reconhecido este cântico de louvor e de acção de graças. Estou grato pelos benefícios recebidos, pelas metas apostólicas alcançadas e pelo bem realizado. Gostaria de exprimir o meu obrigado, de forma especial, pelas trezentas Paróquias da nossa Cidade, que até agora pude visitar. Peço a Deus a força de continuar, até quando Ele quiser, no serviço à Igreja de Roma e ao mundo inteiro.

Todavia, caríssimos Irmãos e Irmãs, no termo de um ano é particularmente necessário tomar consciência também das nossas fragilidades e dos momentos em que não somos plenamente fiéis ao amor de Deus. Pelas nossas culpas e omissões, peçamos perdão ao Senhor: Miserere nostri, Domine, miserere nostri. Continuemos a abandonar-nos com confiança na bondade do Senhor. Ele não deixará de ser misericordioso para connosco e de nos ajudar a dar continuidade ao nosso compromisso apostólico.

7. In te, Domine, speravi: non confundar in aeternum! Confiamos e abandonamo-nos nas tuas mãos, Senhor do tempo e da eternidade. Tu és a nossa esperança: a esperança de Roma e do mundo; o sustentáculo dos fracos; o conforto de quem se sente confuso; e a alegria e a paz de quem te recebe e te ama!

Ao mesmo tempo que termina este ano e o olhar já se projecta para o novo, o coração abandona-se com confiança nos teus misteriosos desígnios de salvação.

Fiat misericordia tua, Domine, super nos quaemadmodum speravimus in Te.

A tua misericórdia esteja sempre connosco: em Ti esperámos. Continuamos a esperar unicamente em Ti, ó Cristo, Filho da Virgem Maria, tua e nossa terna Mãe!







                                                                2002



JOÃO PAULO II

NO DIA MUNDIAL DA PAZ


1 de Janeiro de 2002


1. "Salve, Mãe santa: destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos sem fim" (cf. Antífona da entrada).

Com esta antiga saudação, a Igreja dirige-se hoje, oito dias depois do Natal e primeiro do ano de 2002, a Maria Santíssima, invocando-a como Mãe de Deus.

1624 O Filho eterno do Pai assumiu nela a nossa própria carne e, através d'Ela, tornou-Se "filho de David e filho de Abraão" (Mt 1,1). Portanto, Maria é a sua verdadeira Mãe: Theotokos, Mãe de Deus!

Se Jesus é a Vida, Maria é a Mãe da Vida.

Se Jesus é a Esperança, Maria é a Mãe da Esperança.

Se Jesus é a Paz, Maria é a Mãe da Paz, Mãe do Príncipe da Paz.

Ao entrar no novo ano, pedimos a esta Mãe santa que nos abençoe. Peçamos-lhe que nos dê Jesus, nossa Bênção plena, com que o Pai abençoou a história, de uma vez para sempre, fazendo-a tornar-se história da salvação.

2. Salve, Mãe Santa! É sob o olhar materno de Maria que se coloca, hoje, o Dia Mundial da Paz. Reflectimos sobre a paz num clima de constante preocupação por causa dos recentes acontecimentos dramáticos que abalaram o mundo. Mas, ainda que humanamente possa parecer difícil olhar o futuro com optimismo, não devemos ceder à tentação do desencorajamento. Pelo contrário, devemos trabalhar pela paz com coragem, certos de que o mal não prevalecerá.
A luz e a esperança para este nosso empenho vêm-nos de Cristo. O Menino nascido em Belém é a palavra eterna do Pai feita carne para nossa salvação, é o "Deus connosco", que traz consigo o segredo da verdadeira paz. Ele é o Príncipe da Paz.

3. Com estes sentimentos, saúdo respeitosamente os ilustres Senhores Embaixadores junto da Santa Sé, que quiseram tomar parte nesta solene celebração. Saúdo afectuosamente o Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, o Senhor Cardeal François Xavier Nguyên Van Thuân e todos os seus colaboradores, agradecendo-lhes o esforço que fizeram para espalhar a minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz, que este ano tem como tema: "Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão".

Justiça e perdão: eis os dois pilares que eu quis pôr em evidência. Entre justiça e perdão não há contraposição, mas complementaridade, porque ambas são essenciais para a promoção da paz. Esta, de facto, muito mais que uma temporária cessação das hostilidades, é restabelecimento profundo das feridas que enfraquecem os ânimos (cf. Mensagem, 3). Só o perdão pode extinguir a sede de vingança e abrir o coração a uma reconciliação autêntica.

4. Volvamos hoje o olhar para o Menino, que Maria estreita nos seus braços. Nele reconhecemos Aquele em quem se encontram a misericórdia e a verdade, e se beijam a justiça e a paz (cf. Sl Ps 84,11). Adoremos nele o verdadeiro Messias, no qual Deus uniu, para nossa salvação, a verdade e a misericórdia, a justiça e o perdão.

Em nome de Deus renovo o meu apelo angustioso a todos, crentes e não-crentes, para que o binómio "justiça e perdão" marquem sempre as relações entre as pessoas, entre os grupos sociais e entre os povos.

1625 Este apelo é, acima de tudo, para quantos acreditam em Deus, em particular para as três grandes religiões abramíticas, Hebraísmo, Cristianismo e Islão, chamadas a pronunciar sempre a mais firme e decisiva recusa da violência. Ninguém, por nenhum motivo, pode matar em nome de Deus, único e misericordioso. Deus é Vida e fonte da Vida. Acreditar nele significa dar testemunho da misericórdia e do perdão, recusando instrumentalizar o seu santo Nome.

De várias partes do mundo se levanta uma pungente invocação pela paz; levanta-se particularmente daquela Terra que Deus abençoou com a sua Aliança e a sua Incarnação e que, por isso, chamamos "Santa". "A voz do sangue" grita para Deus daquela terra (cf. Gn
Gn 4,10); sangue de irmãos derramado por irmãos, que têm como ponto de referência o mesmo Patriarca, Abraão; filhos, como todos os homens, do mesmo Pai do Céu.

5. "Salve, Mãe Santa"! Virgem Filha de Sião, quanto deve sofrer por causa deste sangue o teu coração de Mãe!

O Menino, que estreitas ao teu peito, traz um nome querido aos povos de religião bíblica: "Jesus" que significa "Deus salva". Assim o chamou o arcanjo antes de ser concebido no teu seio (cf. Lc Lc 2,21). No rosto do Messias recém-nascido reconhecemos o rosto de cada um dos vossos filhos vilipendiados e explorados. Reconhecemos especialmente o rosto das crianças, seja qual for a raça, nação ou cultura a que pertençam. Por eles, ó Maria, pelo seu futuro, te pedimos que movas os corações endurecidos pelo ódio, para que se abram ao amor e a vingança ceda, finalmente, o passo ao perdão.

Obtende-nos, ó Mãe, que a verdade desta afirmação Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão - se imprima nos corações de todos. A família humana poderá obter, assim, aquela paz verdadeira, que brota do encontro entre a justiça e a misericórdia.

Mãe santa, Mãe do Príncipe da paz, ajudai-nos!

Mãe da humanidade e Rainha da paz, rogai por nós!





JOÃO PAULO II

NA ORDENAÇÃO DE DEZ NOVOS BISPOS


NO DIA DA EPIFANIA


6 de Janeiro de 2002




1. Lumen gentium... Christus", "Cristo é a luz dos povos" (LG 1).

O tema da luz domina a solenidade do Natal e da Epifania, que antigamente e ainda hoje no Oriente estavam unidas numa só grande "festa das luzes". No sugestivo clima da Noite Santa apareceu a luz; nasceu Cristo "luz dos povos". É ele o "sol que surge do alto (cf. Lc, Lc 1,78). Sol vindo ao mundo para dissipar as trevas do mal e inundá-lo com o esplendor do amor divino. Escreve o evangelista João: "O Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina" (1, 9).

"Deus lux est Deus é luz", recorda sempre São João, sintetizando não uma teoria gnóstica, mas "a mensagem que recebemos dele (1Jn 1,5), isto é de Jesus. No Evangelho, ele lembra de novo a expressão recolhida dos lábios do Mestre: "Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida" (Jn 8,12).

1626 Encarnando, o Filho de Deus manifestou-se como luz. Luz não só para o exterior, na história do mundo, mas também para o interior do homem, na sua história pessoal. Fez-se um de nós dando sentido e valor renovado à nossa existência terrena. Deste modo, no pleno respeito pela liberdade humana, Cristo tornou-se " lux mundi a luz do mundo". Luz que brilha nas trevas (Jn 1,5).

2. Hoje, solenidade da "Epifania", que significa "Manifestação", volta com vigor o tema da luz. Hoje, o Messias, que em Belém se manifestou a humildes pastores da região, continua a revelar-se luz dos povos de todos os tempos e de todos os lugares. Para os magos, vindos do Oriente para o adorar, a luz do "rei dos Judeus que acaba de nascer" (Mt 2,2) assume a forma de um astro celeste, muito brilhante, a ponto de atrair o seu olhar e os guiar até Jerusalém. Põe-nos, assim, nas pegadas da antigas profecias messiânicas: "uma estrela sai de Jacob e um ceptro flamejante surge do seio de Israel..." (Nb 24,17).

Como é sugestivo o símbolo da estrela que se repete em toda a iconografia do Natal e Epifania!

Ainda hoje, evoca profundos sentimentos, mesmo se, como tantos outros sinais do sagrado, corre o risco de se tornar banalizada pelo uso consumista que dela é feito. Todavia, recolocada no seu contexto original, a estrela que contemplamos no presépio fala ao espírito e ao coração do homem do terceiro milénio.

Fala ao homem secularizado, despertando nele a nostalgia da sua condição de viandante à procura da verdade e desejoso de absoluto. A própria etimologia do verbo "desejar" evoca a experiência dos navegantes, que se orientam durante a noite observando os astros, que em latim se chamam "sidera".

3. Quem não sente a necessidade de uma "estrela" que o guie no seu caminho sobre a terra? Sentem esta necessidade tanto os indivíduos como as nações. Para vir ao encontro deste desejo de salvação universal, o Senhor escolheu para si um povo, que fosse estrela orientadora para "todas as famílias da terra" (Gn 12,3). Com a Encarnação de seu Filho, Deus alargou, depois, a eleição a todos os outros povos, sem distinção de raça e cultura. Assim nasceu a Igreja, formada por homens e mulheres que, "unidos em Cristo, são dirigidos pelo Espírito Santo na sua peregrinação para o Reino do Pai e receberam uma mensagem de salvação, que devem comunicar a todos" (GS 1).

Ressoa, portanto, para toda a Comunidade eclesial o oráculo do profeta Isaías, que escutámos na primeira leitura: Levanta-te e resplandece, chegou a tua luz; a glória do Senhor levanta-se sobre ti!... As nações caminharão à tua luz, os reis, ao resplendor da tua aurora" (Is 60,1 Is 60,3).

4. Deste povo singular que é a Igreja, vós, caríssimos Irmãos, sois constituídos Pastores, mediante a Ordenação episcopal de hoje. Cristo faz de vós outros tantos ministros seus e chama-vos a ser missionários do seu Evangelho. Alguns de vós exercerão este "ministério da graça de Deus" (Ep 3,2) como Representantes Pontifícios em alguns Estados: tu, Mons. Giuseppe Pinto, no Senegal e Mauritânia; tu, Mons. Claudio Gugerotti, na Geórgia, Arménia e Azerbaijão; tu, Mons. Adolfo Tito Yllana, na Papua-Nova Guiné; e tu, Mons. Giovanni d'Aniello, na República Democrática do Congo.

Outros serão pastores de Igrejas particulares: tu, Mons. Daniel Mizonzo, guiarás a Diocese de Nkayi, na República do Congo; tu, Mons. Louis Portella, a de Kingala, na mesma República do Congo. A ti, Mons. Marcel Utembi Tapa, confiei a Diocese de Mahagi-Nioka, na República Democrática do Congo; e a ti, Mons. Franco Agostinelli, a de Grosseto, na Itália. Tu, Mons. Amândio José Tomás, ajudarás, como Bispo Auxiliar, o Arcebispo de Évora, em Portugal.
Tu, enfim, Mons. Vittorio Lanzani, como Delegado da Fábrica de São Pedro, prosseguirás o teu serviço à Igreja aqui no Vaticano, nesta Basílica Patriarcal particularmente tão querida para ti.

5. Há um ano, nesta festa da Epifania, para conclusão do Ano Santo, confiei em espírito, à família dos crentes e a toda a humanidade a Carta apostólica Novo millennio ineunte, que se abre com o convite de Cristo a Pedro e aos outros: "Duc in altum! Faz-te ao largo".

1627 Volto àquele momento inesquecível, caríssimos Irmãos, e volto a entregar este texto programático da nova evangelização a cada um de vós. Repito-vos a palavra do Redentor: "Duc in altum!". Não temais as trevas do mundo, porque aquele que vos envia é "luz do mundo" (Jn 8,12), "a estrela resplandecente da manhã" (Ap 22,16).

E Tu, Jesus, que um dia disseste aos teus discípulos: "vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14), faz que o testemunho evangélico destes nossos Irmãos resplandeça diante dos homens do nosso tempo. Torna eficaz a sua missão, para que todos os confiados ao seu cuidado pastoral dêem sempre glória ao Pai que está nos céus (cf. Mt Mt 5,16).

Mãe do Verbo encarnado, Virgem fiel, conserva estes novos Bispos sob a tua constante protecção, para que sejam missionários corajosos do Evangelho; fiel reflexo do amor de Cristo, luz dos povos e esperança do mundo.



JOÃO PAULO II

Homilias JOÃO PAULO II 1617