Homilias JOÃO PAULO II 1644

VISITA PASTORAL À DIOCESE DE ÍSQUIA (ITÁLIA)


JOÃO PAULO II

NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


Domingo, 5 de Maio de 2002




1645 1. Caríssimos, "reconhecei Cristo como Senhor, estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vos perguntar" (1P 3,15).

Com estas palavras do Apóstolo Pedro, desejo saudar-vos a todos, caríssimos Irmãos e Irmãs de Ísquia. Obrigado pela vossa calorosa hospitalidade!

Em primeiro lugar, saúdo o vosso querido Pastor, D. Filippo Strofaldi, e agradeço-lhe as palavras de boas-vindas que quis dirigir-me em nome de todos vós. Faço extensiva a minha saudação cordial aos Bispos da Campânia e aos outros Prelados presentes, aos presbíteros, aos religiosos, às religiosas e aos vários componentes da Família diocesana.

Dirijo um pensamento de respeito ao representante do Governo italiano, assim como aos representantes do Município, da Província da Nápoles e da Região da Campânia. Saúdo também as outras Autoridades políticas e militares que, com a sua presença aqui, quiseram honrar este nosso encontro. Além disso, agradeço a quantos ofereceram a sua generosa colaboração para preparar esta minha visita.

Enfim, abraço-vos afectuosamente a todos vós, habitantes da Ilha, enquanto dedico uma palavra especial aos idosos, aos doentes, às crianças e às famílias, sem esquecer aqueles que, por vários motivos, hoje não puderam estar presentes aqui connosco.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, no contexto desta solene e festiva celebração eucarística, permiti-me dirigir à vossa comunidade três palavras importantes, tirando-as das leituras bíblicas que acabaram de ser proclamadas.

A primeira é: "Escuta!". Encontramo-la no intenso relato do livro dos Actos dos Apóstolos, onde se narra que "as multidões seguiam com atenção tudo o que Filipe dizia, e todos o escutavam, pois viam os milagres que ele fazia" (8, 6). A escuta da testemunha de Jesus, que fala dele com amor e entusiasmo, produz a alegria como fruto imediato. São Lucas observa que "a cidade se encheu de alegria" (Ac 8,8).

Comunidade cristã de Ísquia, se quiseres experimentar, também tu esta alegria, permanece à escuta da Palavra de Deus! Assim, cumprirás a tua missão, caminhando sob a acção do Espírito Santo. Difundirás o Evangelho da alegria e da paz, permanecendo unida ao teu Bispo e aos Sacerdotes, seus primeiros colaboradores.

Como aconteceu com as comunidades da Samaria, de que fala a primeira Leitura, descerá também sobre ti a abundante efusão do Consolador que como no-lo recorda o Concílio Vaticano II "move e converte para Deus os corações, abre os olhos da alma e dá a todos a suavidade no aderir e dar crédito à verdade" (Constituição dogmática Dei Verbum DV 5).

3. Queridos Irmãos e Irmãs, a segunda palavra que gostaria de vos dirigir é: "Acolhe!". A vossa maravilhosa Ilha, meta de um elevado número de visitantes e de turistas, conhece muito bem o valor da hospitalidade. Portanto, Ísquia pode tornar-se um laboratório privilegiado também da hospitalidade típica, que os discípulos de Cristo são chamados a oferecer a todos, independentemente do seu país de proveniência e da sua cultura de pertença. Somente quem abriu a alma a Cristo é capaz de oferecer uma hospitalidade que nunca é formal nem superficial, mas caracterizada pela "suavidade" e pelo "respeito" (cf. 1P 3,15).

A fé, acompanhada por obras boas, é contagiosa e irradiante, porque torna visível e comunica o amor de Deus. Procurai fazer vosso este estilo de vida, escutando as palavras do Apóstolo Pedro, há pouco proclamadas na segunda Leitura (Ibidem). Ele exorta a responder sempre com disponibilidade "estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vos perguntar". Depois, acrescenta que "se é da vontade de Deus que sofrais, é melhor que seja por praticardes o bem, e não o mal" (1P 3,17).

1646 4. Quanta sabedoria humana e quanta riqueza espiritual contêm estes simples, mas fundamentais, conselhos ascéticos e pastorais! Eles conduzem para a terceira palavra, que gostaria de vos confiar: "Ama!". A escuta e o acolhimento abrem a alma para o amor. O trecho do Evangelho de João, que acaba de ser lido, ajuda-nos a compreender melhor esta misteriosa realidade. Ele mostra-nos que o amor é o pleno cumprimento da vocação da pessoa, segundo o desígnio de Deus. Este amor é a grande dádiva de Jesus, que nos torna verdadeira e completamente homens. "Quem aceita os meus mandamentos e lhes obedece, esse é que me ama. E quem me ama será amado pelo meu Pai. Eu também o amarei e manifestar-me-ei a ele" (14, 21).

Quando nos sentimos amados, somos mais facilmente impelidos a amar. Quando experimentamos o amor de Deus, somos mais prontos a seguir Aquele que amou os seus discípulos até ao fim" (
Jn 13,1), ou seja, até ao dom total de si.

É deste amor que a humanidade tem necessidade, hoje talvez mais do que nunca, porque somente o amor é credível. É a fé inabalável neste amor que inspira nos discípulos de Jesus, em todas as épocas, pensamentos de paz, abrindo de par em par os horizontes do perdão e da concórdia. Sem dúvida, isto é impossível segundo a lógica do mundo, mas tudo se torna possível para quem se deixa transformar pela graça do Espírito de Cristo, infundida nos nossos corações mediante o Baptismo (cf. Rm Rm 5,5).

5. Igreja que vives em Ísquia, sê dócil e obediente à Palavra de Deus e serás um laboratório de paz e de amor autêntico. Tornar-te-ás Igreja cada vez mais hospitaleira, onde todos se sintam em casa. Aqueles que vêm visitar-te partirão revigorados no corpo, mas ainda mais fortalecidos no espírito.

Sob a orientação iluminada e prudente do teu Pastor, sê uma comunidade que sabe "escutar", uma terra pronta a "acolher" e uma família que se esforça por "amar" todos em Cristo.
Confio-te à Virgem Maria, Mãe do Belo Amor, para que te ajude a fazer resplandecer a tua identidade de Igreja de Cristo, de Igreja do Amor.

Sirvam-te de exemplo e de ajuda os Santos Padroeiros, em quem a caridade divina se tornou concreta de maneira visível e credível.

Igreja que vives em Ísquia! O sopro do Espírito de Cristo impele-te para os horizontes ilimitados da santidade. Não tenhas medo mas, confiadamente, faz-te ao largo! Caminha sempre com confiança! Amen.



NA CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO DE CINCO SANTOS NO DOMINGO DE PENTECOSTES


Domingo, 19 de Maio de 2002


1. "Ouvimo-los anunciar nas nossas línguas as maravilhas de Deus" (Ac 2,11)!

Assim exclama, no dia de Pentecostes, a multidão de peregrinos de "todas as nações que há debaixo do céu" (v. 5), ouvindo a pregação dos Apóstolos.

1647 Também nós somos invadidos pela mesma admiração, ao contemplar os grandes prodígios realizados por Deus na existência dos cinco novos Santos, elevados às honras dos altares precisamente no dia do Pentecostes; Afonso de Orozco, presbítero, da Ordem de Santo Agostinho; Inácio de Santhià, presbítero, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos; Umile de Bisignano, religioso, da Ordem dos Frades Menores; Paulina do Coração Agonizante de Jesus, virgem, fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição; Benedita Cambiagio Frassinello, religiosa, fundadora do Instituto das Irmãs Beneditinas da Providência.

Eles percorreram os caminhos do mundo anunciando e testemunhando Cristo com a palavra e com a vida. Por isso se tornaram sinais eloquentes do Pentecostes perene da Igreja.

2. "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados" (
Jn 20,22-23). Com estas palavras o Ressuscitado transmite aos Apóstolos o dom do Espírito e com ele, o poder divino de perdoar os pecados. A missão de perdoar as culpas e de acompanhar os homens pelos caminhos da perfeição evangélica foi vivida, de modo particular, pelo sacerdote capuchinho Inácio de Santhià, que por amor de Cristo e para progredir mais rapidamente na perfeição evangélica se encaminhou seguindo as pegadas do Pobrezinho de Assis.
Inácio de Santhià foi pai, confessor, conselheiro e mestre de muitos sacerdotes, religiosos e leigos que no Piemonte do seu tempo recorriam à sua orientação sábia e iluminada. Ele continua ainda hoje a recordar todos os valores da pobreza, da simplicidade e da autenticidade de vida.

3. "A paz seja convosco!" (Jn 20,19), disse Jesus aparecendo aos Apóstolos no Cenáculo. A paz é o primeiro dom que o Ressuscitado faz aos Apóstolos. Da paz de Cristo, princípio inspirador também da paz social, fez-se portador constante Umile de Bisignano, filho digno da nobre terra da Calábria. Partilhou com Inácio de Santhià o mesmo empenho de santidade no seguimento espiritual de São Francisco de Assis, oferecendo por sua vez um particular testemunho de caridade aos irmãos.

Na nossa sociedade, na qual com muitas frequência parece que os vestígios de Deus são perdidos, frei Umile representa um convite feliz e encorajador à mansidão, à benignidade, à simplicidade e o desapego sadio dos bens passageiros deste mundo.

4. "A manifestação do Espírito é dada a cada um para proveito comum" (1Co 12,7). Assim aconteceu na vida de Santo Afonso de Orozco, da Ordem de Santo Agostinho. Tendo nascido na vila de Oropesa, em Toledo, a obediência religiosa levou-o a percorrer muitos lugares da geografia espanhola, terminando os seus dias em Madrid. A sua dedicação pastoral ao serviço dos mais pobres nos hospitais e cárceres faz dele um modelo para todos os que, estimulados pelo Espírito, fundamentam toda a sua existência no amor a Deus e ao próximo, de acordo com o supremo mandamento de Jesus.

5. A ação do Espírito se manifesta de modo especial também na vida e missão de Madre Paulina, inspirando-a a constituir, juntamente com um grupo de jovens amigas, uma casa de acolhida, pouco depois batizada pelo povo de "Hospitalzinho São Virgílio", destinada à atenção material e espiritual de doentes e desamparados. Nasce assim, para atender os planos da Providência, a primeira Comunidade religiosa do sul do Brasil, denominada Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Foi neste Hospital, que o ser-para-os-outros constituiu o pano de fundo da vida de Madre Paulina. No serviço aos pobres e aos doentes, ela tornara-se manifestação do Espírito Santo, "consolador perfeito; doce hóspede da alma; suavíssimo refrigério" (Sequência).

6. "Ó luz ditosa, invade no íntimo o coração dos teus fiéis". As palavras da Sequência constituem uma bonita síntese de toda a existência de Benedita Cambiagio Frassinello e explicam a sua extraordinária riqueza espiritual.

Orientada pela graça divina, a nova Santa preocupou-se em cumprir com fidelidade e coerência a vontade de Deus. Com confiança ilimitada na bondade do Senhor, abandonava-se à sua "Providência amorosa", profundamente convencida de que, como gostava de repetir, é preciso "fazer tudo por amor a Deus e para Lhe agradar". Eis a preciosa herança que Santa Benedita Cambiagio Frassinello deixa às suas filhas espirituais, e que hoje é proposta a toda a Comunidade cristã.

7. "Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vosos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor" (Cântico ao Evangelho). Façamos nossa esta invocação da liturgia de hoje. O Espírito Santo transformou radicalmente os Apóstolos, que se tinham fechado receosos no Cenáculo, em fervorosos Arautos do Evangelho. O Espírito continua a amparar a Igreja na sua missão evangelizadora ao longo dos séculos, suscitando em todas as épocas testemunhas corajosas da fé.
1648 Com os Apóstolos, recebei o dom do Espírito à Virgem Maria (cf. Act Ac 1,14). Juntamente com ela, em comunhão com os novos Santos, imploramos por nossa vez o prodígio de um renovado Pentecostes para a Igreja. Pedimos que desça sobre a humanidade do nosso tempo a abundância dos dons do Espírito Santo.

Vinde, Espírito Santo, inflamai os corações dos vossos fiéis! Ajudai-nos também a nós a difundir no mundo o fogo do vosso amor. Amen!

VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA

JOÃO PAULO II

DURANTE A CONCELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA


NO PALÁCIO DOS DESPORTOS DA CIDADE


Baku, 23 de Maio de 2002



1. "A honra, é, então, para vós que credes" (1P 2,7).

Sim, queridos Irmãos e Irmãs da comunidade católica de Baku, e vós, que provindes das comunidades católicas dos Países vizinhos, "honra... a vós que credes"! Saúdo também os cristãos da Igreja ortodoxa, que se uniram a nós neste momento solene de oração, juntamente com o seu Bispo Alexander. Dirijo também a eles a saudação feita pelo apóstolo Pedro aos primeiros cristãos: "honra... a vós que credes"!

A Igreja universal tributa a honra a todos os que souberam manter-se fiéis aos empenhos que derivam do seu Baptismo. Dirijo-me em particular a quantos habitam estavelmente neste País, e conheceram o drama da perseguição marxista, sofrendo as consequências da sua fiel adesão a Cristo. Vós, queridos Irmãos e Irmãs, vistes a vossa religião ridicularizada como uma superstição fácil, como uma tentativa de evitar as responsabilidades do empenho na história. Por isto fostes considerados cidadãos de segunda categoria e fostes, de muitas maneiras, humilhados e marginalizados.

2. "Honra... a vós que credes"! Honra aos vossos avós e às vossas avós, aos pais e às mães, que cultivaram em vós o rebento da fé, e o irrigaram de oração permitindo-lhe crescer e dar fruto. Honra também a ti, desejo repeti-lo mais uma vez, santa Igreja ortodoxa, que abriste as tuas portas aos fiéis católicos, que ficaram sem redil e sem pastor. O Senhor recompense a tua generosidade.

Saúdo com afecto os fiéis católicos que vieram dos Países vizinhos para partilhar hoje a alegria dos seus irmãos do Azerbaijão. Dirijo uma saudação particular ao Superior da "missio sui iuris" e à comunidade salesiana, que trabalha com ele no cuidado dos católicos. Queridos Irmãos e Irmãs, vós sois a prova viva de que a fé em Deus realiza prodígios. Sois poucos, pertencentes a vários grupos étnicos, espalhados num imenso território, mas o Bom Pastor fez com que permanecêsseis unidos.

3. "Eu sou o Bom Pastor, conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me", diz o Senhor no trecho evangélico que ouvimos proclamar. Verdadeiramente, Senhor Jesus, tu conhecias as tuas ovelhas, mesmo quando eram perseguidas e obrigadas a esconder-se. Tu conhecia-las e estavas ao seu lado para as amparar quando, desencorajadas pelo duro isolamento físico e moral, sentiam a tentação de se espalhar.

Por seu lado, as tuas ovelhas não deixaram de Te conhecer e reconhecer, de sentir o conforto da tua presença, de te seguir, apesar das dificuldades do caminho. Que intercâmbio admirável!

Ofereceste a tua vida por elas, e elas ofereceram a sua vida por ti, rezando para que a sua fé não desfalecesse. E assim como tu retomaste de novo a tua vida, assim a comunidade dos que sobreviveram, tendo conquistado a liberdade, redescobriu a alegria de se reunir para celebrar a sua fé na tua casa, da qual agora se eleva de novo ao Céu, como perfume de incenso, a oração de louvor e de agradecimento.

1649 4. Queridos Irmãos e Irmãs, filhos amadíssimos da Igreja católica, hoje o Papa está convosco. Também ele conhece os vossos sofrimentos, e trouxe-vos a todos no coração durante os anos da peregrinação no deserto da perseguição. Hoje veio aqui para participar da vossa alegria pela liberdade reencontrada e para vos apoiar no caminho que tem como última meta a terra prometida do Céu, onde o Senhor da vida enxugará todas as lágrimas: "Não haverá mais morte, nem luto, nem lamentos, nem dor, porque as coisas de antes passaram" (Ap 21,4).

Amparados por esta certeza, vós sentis que chegou o tempo da alegria, o tempo da esperança. Sinal da sua manifestação é a primeira pedra da futura igreja paroquial, que vou benzer no final da Missa. Agradeço sentidamente ao Senhor Presidente da República a doação do terreno sobre o qual surgirá o novo edifício sagrado.

O Papa traz-vos a saudação e o apreço de toda a Igreja católica. Hoje o olhar de todos está voltado para ti, "pequeno rebanho" (Lc 12,33). Não temas! Abre o teu coração, e tem confiança no Senhor. Já estás a experimentar a ressurreição, quase antecipando o encontro definitivo com Cristo glorioso.

5. Igreja que vives no Azerbaijão, hoje desejaria deixar-te como recomendação o que invocamos na Colecta da Eucaristia de hoje. Sente-te "povo reunido de todas as nações da terra na unidade de um só espírito".

A vossa comunidade, queridos Irmãos e Irmãs, exprime simbolicamente esta universalidade, constituída, como está, por pessoas de diversas proveniências, algumas com um passado e uma perspectiva de estabilidade, outras de passagem em direcção a outras terras. Todos formamos um só povo, animado por um só Espírito. Onde se celebra a Eucaristia, ali está presente a Igreja "una, santa, católica e apostólica".

Neste momento, parece-me que a colunata de Bernini, aqueles braços que da Basílica de São Pedro se abrem para abraçar o mundo, cheguem espiritualmente até nós para te apertar ao peito de Cristo e da sua Igreja também a ti, pequena comunidade católica do Azerbaijão. Neste abraço, o coração de toda a Igreja palpita de emoção e de amor por ti. Com ela e nela bate o coração do Papa, que veio até aqui para te dizer que te ama e que nunca se esqueceu de ti.

6. Sê fiel à tua missão! Conseguiste sê-lo na provação, quando levavas com lágrimas a semente para lançar à terra. Sê-o agora na alegria, quanto te preparas para colher os feixes das espigas (cf. Sl Ps 125,6). A tua missão consiste em conservar a fé e em testemunhá-la com uma vida que seja profecia, para que o mundo creia. Oxalá, olhando para ti, os teus irmãos e as tuas irmãs deste País, possam ver quanto crês, quanto esperas e quanto amas. Será esta a tua forma de mostrar a presença do Ressuscitado. O teu testemunho, que não pode contar com a abundância dos meios, se imponha pela força da graça de Cristo, fermento invisível, mas capaz de fermentar toda a massa.

Partilha as alegrias e as esperanças da humanidade que vive ao teu lado e contigo: tu fazes parte dela, e com ela deves esperar e trabalhar por um futuro que seja melhor para todos. Mesmo na prudência, tem a coragem da novidade. Há necessidade de novidades também aqui, nesta terra! Não a novidade que traz apenas a incerteza e a precariedade, não! Uma novidade que dê de novo a todos, sobretudo aos mais jovens, a vontade de viver e de lutar por um mundo mais justo e solidário.

7. Olha para estes jovens! Correm o risco de cair na miragem do ócio desmotivado, da riqueza fácil e desonesta. Mas também são capazes de vibrar por um ideal e de arriscar o heroísmo do sacrifício para fazer triunfar a justiça e favorecer a afirmação da liberdade e da paz. É necessário ensinar-lhes a serem corajosos. É preciso abrir-lhes a perspectiva luminosa da fé, da amizade de Cristo. Não há ousadia no bem que não encontre compreensão em Cristo, que é eternamente jovem!

Igreja que rezas, esperas e amas nesta terra do Azerbaijão, o Papa invoca sobre ti a bênção do Senhor. Leva-a aos teus pobres e doentes, às pessoas que sofrem. Leva-a a todos, como um contágio de graça e de amor. Nunca esqueças que és chamada a ser fermento que anima, porque o Senhor está contigo e precede-te no caminho. Amen!



VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA


JOÃO PAULO II

NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA


A BEATIFICAÇÃO DE TRÊS SACERDOTES


Plovdiv, 26 de Maio de 2002




1650 1. "Louvor e glória vos sejam dados em todos os séculos!".

Estas foram as palavras que acabámos de entoar no Salmo responsorial. Caríssimos Irmãos e Irmãs, a nossa assembleia reúne-se hoje, no dia do Senhor, para celebrar a grandeza e a santidade do nosso Deus e para professar a fé da Igreja.

Com a descida do Espírito Santo no Pentecostes, chegou ao seu termo o ciclo dos acontecimentos com que Deus, ao longo de consecutivas etapas históricas, veio ao encontro dos homens e lhes ofereceu o dom da salvação. Hoje, a liturgia convida-nos a voltar à Fonte suprema desta dádiva: Deus Pai, Filho e Espírito Santo, na Santíssima Trindade.

2. O Antigo Testamento realça a unidade de Deus. Na primeira Leitura, escutámos Deus proclamar diante de Moisés: "Senhor, Senhor! Deus de compaixão e de piedade, lento para a cólera e cheio de amor e de fidelidade" (
Ex 34,6). Moisés, por sua vez, admoesta o seu povo: "Ouve, Israel! Javé, nosso Deus, é o único Senhor" (Dt 6,4).

O Novo Testamento revela-nos que o único Deus é Pai, Filho e Espírito Santo: uma única natureza divina em três Pessoas, perfeitamente idênticas e, na realidade, distintas. Jesus cita-as de maneira explícita, ordenando aos Apóstolos que vão e baptizem "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19).

Todo o Novo Testamento constitui um anúncio contínuo e explícito deste mistério que a Igreja, guardiã fiel da Palavra de Deus, sempre proclamou, explicou e defendeu. Por isso, ao Deus Altíssimo e Omnipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, também neste dia digamos: "Louvor e glória vos sejam dados em todos os séculos!".

3. Enquanto, juntamente com o Apóstolo Paulo, desejo a todos "a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo" (2Co 13,13), saúdo-vos com afecto em primeiro lugar a vós, estimados Irmãos e Irmãs, filhos da Igreja católica, que viestes aqui juntamente com os vossos Bispos das Dioceses de Sófia-Plovdiv e de Nicópolis, assim como do Exarcado Apostólico para os fiéis de rito bizantino-eslavo. Agradeço ao Pastor desta Igreja particular, D. Gheorghi Jovcev, as palavras de boas-vindas que me quis dirigir, e faço extensiva a minha saudação cordial também aos meus Irmãos no Episcopado, D. Christo Proykov, Exarca Apostólico e Presidente da Conferência Episcopal, e D. Petko Christov, Bispo de Nicópolis. Além disso, saúdo os Senhores Cardeais e Bispos provenientes dos Países vizinhos para compartilhar este dia de festa com a Igreja que está na Bulgária.

Depois, dirijo uma saudação especial a Sua Eminência Arsenij, Metropolita ortodoxo de Plovdiv que, demonstrando profunda sensibilidade, quis participar na celebração desta Sagrada Liturgia, e a quem agradeço as cordiais palavras que me dirigiu no início da celebração. Juntamente com ele, saúdo no Senhor todos os fiéis da Igreja ortodoxa da Bulgária, que quiseram associar-se a nós. A sua presença aqui é um grato testemunho de fraternidade, que nos faz antegozar na esperança a alegria da unidade plena, quando nos for concedido celebrar em conjunto o Sacrifício eucarístico, memorial da morte e da ressurreição do Senhor.

Depois, dirijo um pensamento particular para os fiéis do Islão, também eles adoradores, embora de maneira diversa, do único Deus Omnipotente.
Enfim, saúdo as Autoridades civis que nos honram com a sua presença e agradeço-lhes a contribuição eficaz que desejaram oferecer para a realização desta minha viagem à Bulgária.

4. Deus Uno e Trino encontra-se presente no meio do seu povo, que é a Igreja. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que recebemos o Baptismo; é neste mesmo Nome que nos são conferidos os outros Sacramentos. Em particular a Missa, "centro de toda a vida cristã", é caracterizada pela recordação das Pessoas divinas: do Pai, a quem se faz a oferta; do Filho, sacerdote e vítima do sacrifício; do Espírito Santo, invocado para transformar o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo, e para fazer dos participantes um só corpo e um só espírito.

1651 A vida do cristão está totalmente orientada para este mistério. É da correspondência fiel ao amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo que depende o bom êxito do nosso caminho sobre a face da terra.

Quem estava perfeitamente consciente desta verdade eram os três sacerdotes assuncionistas, que no dia de hoje tenho a alegria de inscrever no álbum dos Beatos: a causa pela qual os Sacerdotes Kamen Vitchev, Pavel Djidjov e Josafat Chichkov não hesitaram em dar a sua vida foi a fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, o amor a Cristo, Filho de Deus encarnado, a quem se deram sem reservas, ao serviço da sua Igreja.

O Padre Josafat Chichkov afirmava: "Procuremos fazer da melhor maneira que nos for possível, tudo aquilo que as pessoas esperam de nós, para podermos santificar-nos a nós mesmos". Depois, acrescentava: "A coisa principal é chegar a Deus, vivendo para Ele; o resto é acessório". Alguns meses antes do infame processo que os condenou à morte, juntamente com o Bispo D. Bossilkov, como que prevendo aquilo que os esperava, o Padre Kamen Vitchev escrevia ao seu Superior Provincial: "Obtenha-nos, com a oração, a graça de sermos fiéis a Cristo e à Igreja na nossa vida quotidiana, para nos tornarmos dignos de o testemunhar, quando chegar o momento". E o Padre Pavel Djidjov dizia: "Estamos à espera do nosso momento: seja feita a vontade de Deus".

5. Pensando nos três novos Beatos, sinto o dever de prestar homenagem à memória dos outros Confessores da fé, filhos da Igreja ortodoxa que, sob o mesmo regime comunista, padeceram o martírio. Este tributo de fidelidade a Cristo uniu as duas comunidades eclesiais na Bulgária, até chegarem ao testemunho supremo. "Isso não poderá deixar de ter uma dimensão e uma eloquência ecuménica. O ecumenismo dos santos, dos mártires, é talvez o mais persuasivo. A communio sanctorum fala com voz mais alta que os factores de divisão" (Tertio millennio adveniente, 37).
Efectivamente, como poderia deixar de ser já perfeita a comunhão que se realiza "naquilo que todos nós consideramos como o ápice da vida de graça, o martyria até à morte"? (Ut unum sint
UUS 84). Não é porventura esta "a comunhão mais verdadeira que possa existir com Cristo, que derrama o seu Sangue e, neste sacrifício, aproxima aqueles que outrora estavam longe (cf. Ef Ep 2,13)" (Ut unum sint UUS 84)?

6. A coerência corajosa diante do sofrimento e da prisão, demonstrada pelos Sacerdotes Josafat, Kamen e Pavel, foi reconhecida pelos seus ex-alunos - católicos, ortodoxos, judeus e muçulmanos - pelos seus paroquianos, pelos seus irmãos religiosos e pelos seus companheiros de sofrimento. Com o seu dinamismo, a sua fidelidade ao Evangelho, o seu serviço desinteressado à Nação, eles propõem-se como modelos para os cristãos dos dias de hoje, de maneira especial para os jovens da Bulgária, que procuram dar um sentido à sua vida e desejam seguir Cristo no laicado, na vida religiosa ou no sacerdócio.

A dedicação especial com que os novos Beatos acompanharam os candidatos ao presbiterado constitua um estímulo para todos: exorto a Igreja particular que está na Bulgária a considerar seriamente a possibilidade de instituir de novo um Seminário em que os jovens, através de uma sólida formação nos campos humano, intelectual e espiritual, possam preparar-se para o sacerdócio ministerial ao serviço de Deus e dos irmãos.

7. O mistério da Trindade revela-nos o amor que existe em Deus, o amor que é o próprio Deus, o amor com que Deus ama todos os homens. "Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna" (Jn 3,16). O Filho crucificado e ressuscitado, por sua vez, enviou o Espírito Santo em nome do Pai, para que alimente no coração dos crentes o desejo e a expectativa da eternidade.

Esta expectativa foi vivida de maneira activa pelos novos Beatos, que agora gozam da feliz contemplação da Santíssima Trindade. Confiemo-nos à sua intercessão, recitando com a Liturgia bizantina a seguinte oração (Hora sexta, prece da despedida):

"Deus eterno,
que vives numa luz inacessível...
1652 protege-nos, a nós que depositámos
em ti a nossa esperança,
cumulando-nos com a tua
graça divina e adorável.
Porque o poder é teu, a majestade
é tua, a fortaleza e a glória
são tuas,
Pai, Filho e Espírito Santo,
agora e sempre,
pelos séculos dos séculos. Amen!".

Deus abençoe sempre a Bulgária! Paz e progresso ao povo búlgaro. Obrigado!



JOÃO PAULO II

NA MISSA CELEBRADA NA


SOLENIDADE DO CORPUS DOMINI


1653
30 de Maio de 2001



1. "Lauda, Sion, Salvatorem, lauda ducem et pastorem in hymnis et canticis": Louva, Sião, o Salvador, o teu guia, o teu pastor com hinos e cânticos".

Cantamos há pouco com fé e devoção estas palavras da tradicional sequência, que faz parte da liturgia do Corpus Domini.

Hoje é festa solene, festa na qual revivemos a primeira Ceia Sagrada. Com um acto público e solene, glorificamos e adoramos o Pão e o vinho que se tornaram verdadeiro Corpo e verdadeiro Sangue do Redentor. "É um sinal o que se vê realça a sequência mas "esconde no mistério sublimes realidades".

2. "Pão vivo que dá a vida: é este o tema do teu cântico, objecto do teu louvor".

Celebramos hoje uma festa solene, que exprime a admiração do povo de Deus: uma admiração repleta de reconhecimento pelo dom da Eucaristia. No sacramento do Altar Jesus quis perpetuar a sua presença viva entre nós, da mesma maneira com que nos entregou os Apóstolos no Cenálculo. Deixa-nos o que fez na Última Ceia, e nós renovamo-lo fielmente.

Segundo os costumes locais, já consolidados, a solenidade do Corpus Domini é constituída por dois momentos: a santa Missa, na qual se realiza a oferenda do Sacrifício, e a procissão, que manifesta publicamente a adoração do Santíssimo Sacramento.

3. "Obedientes ao seu mandamento, consagramos o pão e o vinho, hóstia de salvação". Renova-se em primeiro lugar o memorial da Páscoa de Cristo.

Passam os dias, os anos, os séculos, mas não passa este gesto santíssimo no qual Jesus condensou todo o seu Evangelho de amor. Ele não deixa de se oferecer a si mesmo, Cordeiro imolado e ressuscitado, para a salvação do mundo. Com este memorial a Igreja responde ao mandamento da Palavra de Deus, que também hoje ouvimos na primeira Leitura: "Recorda-te... Não te esqueças" (cf . Dt
Dt 8,2 . Dt Dt 8,14).

A Eucaristia é a nossa Memória viva! Na Eucaristia, como recorda o Concílio, "está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa e pão vivo, o Qual, por sua carne sob a acção do Espírito Santo, dá vida aos homens, que deste modo são convidados e incitados a oferecerem-se a si mesmos, os seus trabalhos e todas as coisas criadas" (Presbyterorum Ordinis, PO 5).

Da Eucaristia, "fonte e ponto culminante de toda a evangelização" (ibid.), também a nossa Igreja de Roma deve tirar todos os dias a força e o impulso para a própria acção missionária e para qualquer forma de testemunho cristão na cidade dos homens.

1654 4. "Bom pastor, verdadeiro pão, ó Jesus, tem piedade de nós: alimenta-nos e defende-nos".
Tu, Bom Pastor, passarás daqui a pouco pelas ruas da nossa cidade. Nesta festa, todas as cidades, tanto a metrópole como a aldeia mais pequena do mundo, se tornam espiritualmente a Sião, a Jerusalém que louva o Salvador: o novo Povo de Deus, reunido de todas as nações e alimentado com o único Pão de vida.

Este povo tem necessidade da Eucaristia. De facto, é a Eucaristia que o torna Igreja missionária. Mas isto é possivel sem os sacerdotes, que renovam o mistério eucarístico?

Eis por que, neste dia solene, vos convido a rezar pelo bom êxito do Congresso eclesial diocesano, que será celebrado na Basílica de São João a partir da próxima segunda-feira e que dedicará particular atenção ao tema das vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada.
Jovens romanos! Repito-vos a vós as mesmas palavras que dirigi, durante o Dia Mundial da Juventude de 2000, aos jovens reunidos em "Tor Vergata": "Se algum de vós... sente dentro de si o chamamento do Senhor para se entregar totalmente a Ele e O amar "com coração indiviso" (cf.
1Co 7,34), não se deixe retrair pela dúvida nem pelo medo. Mas, com coragem, diga o seu "sim" sem reservas, confiando n'Ele que é fiel a todas as suas promessas" (Homilia, n. 6).

5. "Ave, verum Corpus, natum de Maria Virgine". "Adoramos-te, verdadeiro Corpo nascido da Virgem Maria".

Adoramos-te, nosso Santo Redentor, que encarnaste no seio puríssimo da Virgem Maria. Ao templo mariano mais insigne do Ocidente, a Basílica de Santa Maria Maior, levar-nos-á daqui a pouco a solene procissão. Damos-te graças, ó Senhor, pela tua presença eucarística no mundo.

Por nós tu aceitaste sofrer, e na cruz manifestaste até ao extremo o teu amor por toda a humanidade. Adoramos-te, viático quotidiano de todos nós, peregrinos sobre a terra!

"Tu, que tudo sabes e podes, que nos sustentas na terra, guia os teus irmãos para a mesa do céu na glória dos teus Santos".

Amen!



JOÃO PAULO II

Homilias JOÃO PAULO II 1644