Lucas (CNB) 7

 O servo do centurião 


7 1 Quando terminou de falar estas palavras ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2 Havia um centurião que tinha um servo a quem estimava muito. Estava doente, à beira da morte. 3 Tendo ouvido falar de Jesus, o centurião mandou alguns anciãos dos judeus pedir-lhe que viesse curar o seu servo. 4 Quando eles chegaram a Jesus, recomendaram com insistência: “Ele merece este favor, 5 porque ama o nosso povo. Ele até construiu uma sinagoga para nós”. 6 Jesus foi com eles. Quando já estava perto da casa, o centurião mandou alguns amigos dizer-lhe: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 7 Por isso, nem fui pessoalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e meu servo ficará curado. 8 Pois eu, mesmo na posição de subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens, e se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e se digo a meu escravo: ‘Faze isto!’, ele faz”. 9 Ao ouvir isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia e disse: “Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei uma fé tão grande”. 10 Aqueles que tinham sido enviados voltaram para a casa do centurião e encontraram o servo em perfeita saúde.

 O filho da viúva de Naim 

11 Em seguida, Jesus foi a uma cidade chamada Naim. Os seus discípulos e uma grande multidão iam com ele. 12 Quando chegou à porta da cidade, coincidiu que levavam um morto para enterrar, um filho único, cuja mãe era viúva. Uma grande multidão da cidade a acompanhava. 13 Ao vê-la, o Senhor encheu-se de compaixão por ela e disse: “Não chores!” 14 Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Ele ordenou: “Jovem, eu te digo, levanta-te!” 15 O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram tomados de temor e glorificavam a Deus dizendo: “Um grande profeta surgiu entre nós”, e: “Deus veio visitar o seu povo”. 17 Esta notícia se espalhou por toda a Judéia e pela redondeza inteira.

 A pergunta de João Batista 

18 Os discípulos informaram a João sobre todos estes fatos. João, então, chamou dois deles 19 e os enviou ao Senhor, para perguntar: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” 20 Eles foram ter com Jesus e disseram: “João Batista nos mandou a ti para perguntar se tu és aquele que há de vir ou se devemos esperar outro”. 21 Naquela ocasião, Jesus havia curado a muitos de suas doenças,­ moléstias e espíritos malignos, e proporcionado a vista a muitos cegos. 22 Respondeu, pois: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e a pobres se anuncia a Boa-Nova. 23 E feliz de quem não se es­candaliza a meu respeito”.

 João, Jesus e a presente geração 

24 Depois que os mensageiros de João partiram, Jesus começou a falar às multidões sobre­ João: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 25 Que fostes ver? Um ho­mem vestido com roupas finas? Os que vestem roupas finas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis. 26 Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais que um pro­feta. 27 Este é de quem está escrito:
Eu envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti’.
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Eu vos digo: entre todos os nascidos de mu­lher não há ninguém maior do que João. No entanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele. 29 Todo o povo que o escuta­va e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus e deixaram-se batizar com o batismo de João. 30 Mas os fariseus e os doutores da Lei recusaram ser batizados por João e desprezaram os planos de Deus a respeito deles.
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Com quem, então, vou comparar as pessoas desta geração? Com quem são parecidas? 32 São parecidas com crianças sentadas nas praças, que gritam umas para as outras:
‘Tocamos flauta para vós e não dançastes!
Entoamos cantos de luto e não chorastes!’
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Veio João Batista, que não come, nem bebe vinho, e dizeis: ‘Tem um demônio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores!’ 35 Ora, a sabedoria é reconhecida por todos os seus filhos”.

 A pecadora 

36 Um fariseu convidou Jesus para jantar. Ele entrou na casa do fariseu e sentou-se à mesa. 37 Havia na cidade uma mulher que era pecadora. Quando soube que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, trouxe­ um frasco de alabastro, cheio de perfume, 38 postou-se atrás, aos pés de Jesus e, chorando, lavou-os com suas lágrimas. Em se­gui­da, enxugou-os com os seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
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Ao ver isso, o fariseu que o tinha convida­do comentou: “Se este homem fosse profeta, saberia quem é a mulher que está tocando nele: é uma pecadora!” 40 Então Jesus falou: “Simão, tenho uma coisa para te dizer”. Ele res­pondeu: “Fala, Mestre”. 41 “Certo credor”, retomou Jesus, “tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro cin­qüenta. 42 Como não tivessem com que pa­gar, perdoou a ambos. Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: “Aquele ao qual per­doou mais”. Jesus lhe disse: “Julgaste cor­retamente”. 44 Voltando-se para a mulher, disse­ a Simão: “Estás vendo esta mulher? Quando entrei na tua casa, não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, lavou meus pés com lágrimas e os enxugou com seus cabelos. 45 Não me beijaste; ela, porém, desde que cheguei, não parou de beijar meus pés. 46 Não der­ramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47 Por isso te digo: os muitos pecados que ela cometeu estão­ perdoados, pois ela mostrou muito amor. Aquele, porém, a quem menos se perdoa, ama menos”. 48 Em seguida, disse à mulher: “Teus pe­cados estão perdoados”. 49 Os convidados começaram a comentar entre si: “Quem é este que até perdoa pecados?” 50 Jesus, por sua vez, disse à mulher: “Tua fé te salvou. Vai em paz!”

 Mulheres entre os seguidores de Jesus 

8 1 Depois disso, Jesus percorria cidades e povoados proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, 2 e também algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus e de doenças: Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios; 3 Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Su­sa­na, e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens.

 Parábolas. O semeador 

4 Ajuntou-se uma grande multidão, e de todas as cidades iam até Jesus. Ele, então, contou uma parábola: 5 “O semeador saiu a semear. Ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho e foi pisada; e os pássaros do céu a comeram. 6 Outra parte caiu sobre as pedras; brotou, mas secou, por falta de umidade. 7 Outra parte caiu entre os espinhos e, crescendo ao mesmo tempo, os espinhos a sufocaram. 8 Ainda outra parte caiu em terra boa; brotou e deu frutos, até cem por um”. Depois de dizer isso, ele exclamou: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”

 Explicação da parábola do semeador 

9 Seus discípulos faziam perguntas sobre o sentido da parábola. 10 Jesus, então, lhes disse: “A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus. Aos outros, porém, só por meio de parábolas, de modo que, olhando, não enxergam e, ouvindo, não entendem.
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A parábola quer dizer o seguinte: a semente é a Palavra de Deus. 12 Os que caem à beira do caminho são os que escutam, mas logo vem o Diabo e arranca a palavra do seu coração, para que não acreditem e não se salvem. 13 Os que ficam sobre as pedras são os que ouvem e acolhem a palavra com alegria, mas não têm raízes. Por um momento, acreditam, mas quando chega a tentação, desistem. 14 Aquilo que caiu entre os espinhos são os que escutam, mas vivendo em meio às preocupações, as riquezas e os prazeres da vida, são sufocados e não chegam a amadurecer. 15 O que caiu em terra boa são aqueles que, ouvindo com um coração bom e generoso, conservam a Palavra e dão fruto pela perseverança.

 A lâmpada 

16 “Ninguém acende uma lâmpada para es­condê-la debaixo de uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama; ela é posta no candelabro,­ a fim de que os que entram vejam a claridade. 17 Ora, nada há de escondido que não venha a ser descoberto. Nada há de secreto que não ve­nha a ser conhecido e se tornar público. 18 Olhai, portanto, a maneira como ouvis! Pois a quem tem será dado, e a quem não tem, até aquilo que julga ter lhe será tirado!”

 A verdadeira família de Jesus 

19 Sua mãe e seus irmãos vieram ter com ele, mas não podiam se aproximar, por causa­ da multidão. 20 Alguém lhe comunicou: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem te ver”. 21 Ele respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são estes: os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”.

 A tempestade acalmada 

22 Num daqueles dias, Jesus entrou no barco com seus discípulos e lhes disse: “Vamos para a outra margem do lago!” E partiram. 23 Enquanto navegavam, ele dormiu. Abateu-se, en­tão, uma ventania tão forte sobre o lago, que o barco ia se enchendo de água e eles corriam­ perigo. 24 Então dirigiram-se a Jesus e o acordaram, dizendo: “Mestre! Mestre! Estamos perecendo!” Ele acordou e deu ordens ao vento e à fúria das águas. E a tempes­tade parou e veio a calmaria. 25 Então disse aos discípulos: “Onde está a vossa fé?” Cheios de temor e admirados, eles diziam uns aos outros: “Quem é este que dá ordens aos ventos e à água, e lhe obedecem?”

 O possesso de Gerasa 

26 Eles aportaram na região dos gerasenos, que fica em frente da Galiléia. 27 Enquanto Jesus?de­sembarcava em terra, um homem da cidade?que tinha vários demônios veio ao seu encontro. Havia muito tempo que ele não vestia roupa, nem morava em casa, mas nos túmulos. 28 Ao ver Jesus, prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: “Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Eu te peço, não me atormentes”. 29 Pois Jesus estava ordenando ao espírito impuro que saísse daquele homem. Muitas vezes o espírito o tinha dominado. Para protegê-lo, amarravam-no com correntes e grilhões. Ele, porém, arre­bentava as correntes, e o demô­nio o levava para lugares desertos. 30 Jesus, en­tão, lhe perguntou: “Qual é o teu nome?” Ele respondeu:­ “Legião!”, porque muitos demônios tinham entrado nele. 31 Eles pediam a Jesus que não os mandasse para o abismo.
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Estava ali, no morro, uma grande manada de porcos pastando. Pediram, então, que os deixasse entrar nos porcos, e Jesus permitiu. 33 Saindo do homem, os demônios entraram nos porcos. E a manada precipitou-se no mar pe­lo despenhadeiro e se afogou. 34 Vendo isso, os homens que cuidavam dos porcos fugiram e espalharam a notícia pela cidade e pelas aldeias. 35 Então, as pessoas foram ver o que ti­nha acontecido. Chegaram perto de Jesus e encontraram, sentado, o homem de quem tinham saído os demônios. Ele estava aos pés?de Jesus, vestido e no seu perfeito juízo. Eles,?en­tão, ficaram com medo. 36 Os que tinham presenciado o fato contaram-lhes como o posses­so tinha ficado são. 37 Toda a multidão da região­ dos gerasenos pediu a Jesus que fosse embora,­ pois estavam com muito medo. Jesus entrou no barco e voltou. 38 Entretanto, o homem de quem saíram os demônios pedia a Jesus para fi­car com ele. Ele o despediu, dizendo: 39 “Volta para casa e conta tudo o que Deus fez por ti”. Ele foi embora, anunciando por toda a cidade o que Jesus tinha feito por ele.

 A filha de Jairo e a mulher com hemorragias

40 Quando Jesus voltou, a multidão foi recebê-lo, pois todos estavam esperando por ele. 41 Veio, então, um homem chamado Jairo, um dos chefes da sinagoga, e caindo aos pés de Jesus pediu que fosse à sua casa. 42 Sua filha única, de doze anos, estava nas últimas. Enquanto Jesus estava a caminho, a multidão o comprimia. 43 Uma mulher que sofria hemorragias já por doze anos e gastara tudo o que possuía com médicos, sem que ninguém conseguisse curá-la, 44 aproximou-se dele, por detrás, e tocou na franja de seu manto. Instan­taneamente, a hemorragia estancou. 45 Jesus, então, perguntou: “Quem tocou em mim?” Enquanto todos negavam, Pedro disse: “Mestre, são as multidões que te cercam e te apertam”. 46 Jesus, porém, disse: “Alguém me tocou. Eu senti uma força saindo de mim”. 47 Ven­do que tinha sido descoberta, a mulher, tremendo, lançou-se por terra aos pés dele. Diante de todos, explicou a razão por que o tinha tocado, e como tinha ficado curada instantaneamente. 48 Jesus, então, lhe disse: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz!”
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Enquanto ainda estava falando, chegou al­guém da casa do chefe da sinagoga dizendo:­ “Tua filha acaba de morrer. Não incomodes mais o mestre”. 50 Ouvindo isto, Jesus lhe disse: “Não tenhas medo. Somente crê, e ela será curada”. 51 Quando chegaram à casa, não deixou ninguém entrar com ele, a não ser Pedro, João, Tiago e o pai e a mãe da menina. 52 Todos choravam e lamentavam. Mas Jesus disse:­ “Não choreis. Ela não está morta, mas dorme”. 53 Zombaram dele, pois sabiam que ela tinha morrido. 54 Então ele pegou a menina pela mão e exclamou: “Menina, levanta-te!” 55 Ela voltou a respirar e imediatamente se levantou. Jesus mandou que lhe dessem de comer. 56 Seus pais ficaram extasiados, mas Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinha acontecido.

 A missão dos Doze 

9 1 Jesus convocou os Doze e deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças. 2 Ele os enviou para anunciar o Reino de Deus e curar os enfermos. 3 E disse-lhes: “Não leveis nada pelo caminho: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas. 4 Na casa onde entrardes, permanecei ali, até partirdes daí. 5 Quanto àqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, para que sirva de testemunho­ contra eles”. 6 Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa No­va e fazendo curas por toda parte.

 Reação de Herodes

7 O rei Herodes ouviu falar de tudo o que?es­tava acontecendo, e ficou confuso, porque al­guns diziam que João Batista tinha ressuscita­do dos mortos. 8 Outros diziam que Elias tinha­ aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado. 9 Então Herodes disse: “Eu mandei cortar a cabeça de João... Quem será esse homem, sobre quem ouço falar estas coisas?” E procurava ver Jesus.

 Milagre dos pães 

10 Ao voltarem, os apóstolos contaram a Jesus quanto haviam feito. Ele tomou-os consigo e retirou-se, à parte, para uma cidade cha­mada Betsaida. 11 Mas as multidões souberam disso e o seguiram. Jesus as acolheu e falava-lhes sobre o Reino de Deus; e curava todos os que precisavam. 12 O dia já estava chegando ao fim, quando os Doze se aproximaram de Jesus e disseram: “Despede a multidão, para que possam ir aos povoados e sítios vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto”. 13 Mas ele disse: “Vós mesmos, dai-lhes de comer”. Eles responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes – a não ser que fôssemos comprar comida para toda essa gente!” 14 Havia mais ou menos cinco mil homens. Jesus então disse aos discípulos: “Mandai o povo sentar-se em grupos de cinqüenta”. 15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram. 16 Então ele pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, pronunciou sobre eles a bênção, partiu-os e os deu aos discípulos para que os distribuíssem à multidão. 17 Todos comeram e se sacia­ram. E ainda foram recolhidos doze cestos dos pedaços que sobraram.

 Profissão de fé de Pedro. Primeiro anúncio da Paixão 

18 Jesus estava orando, a sós, e os discípulos estavam com ele. Então, perguntou-lhes: “Quem dizem as multidões que eu sou?” 19 Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; outros ainda acham que algum dos antigos profetas ressus­citou”. 20 Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21 Mas ele advertiu-os para que não contassem isso a ninguém. 22 E explicou: “É necessário o Filho do Homem sofrer mui­to e ser rejeitado pelos anciãos, sumos sa­cerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar”.

 Tomar a cruz e seguir Jesus 

23 Depois, Jesus começou a dizer a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. 24 Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a salvará. 25 Com efeito, de que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se e a arruinar a si mesmo? 26 Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também se envergo­nhará dele quando vier na sua glória, na glória do Pai e dos santos anjos. 27 Em verdade vos digo: alguns dos que estão aqui presentes­ não provarão a morte, sem antes terem visto o Reino de Deus”.

 Transfiguração 

28 Uns oito dias depois destas palavras, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para orar. 29 Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante. 30 Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias. 31 Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. 32 Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Quando acorda­ram, viram a glória de Jesus e os dois homens­ que estavam com ele. 33 E enquanto esses homens iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Nem sabia o que estava dizendo. 34 Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Ao entrarem na nuvem, os discípulos fi­caram cheios de temor. 35 E da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” 36 Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

 O menino epilético 

37 No dia seguinte, ao descerem da montanha, uma grande multidão foi ao encontro de Jesus. 38 Nisso, um homem, no meio da multidão, começou a gritar: “Mestre, peço-te que olhes para o meu filho! É o único filho que tenho. 39 Um espírito o domina e, de repente, ele começa a gritar e o sacode com violência, e ele espuma. Com muita dificuldade o deixa, depois de machucá-lo. 40 Pedi a teus discípulos que o expulsassem, mas não conseguiram”. 41 Jesus respondeu: “Ó geração sem fé e pervertida! Até quando vou ficar convosco e suportar-vos? Traze aqui o teu filho”. 42 Enquanto o menino se aproximava, o demônio o jogou no chão e o sacudiu violentamente. Mas Jesus repreendeu o espírito impuro, curou o menino e o entregou ao pai. 43 E todos ficaram maravilhados com o poder de Deus.

 Segundo anúncio da Paixão 

Enquanto todos se admiravam com tudo o que Jesus fazia, ele disse aos discípulos: 44 “Pres­tai bem atenção às palavras que vou di­zer: o Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens”. 45 Mas eles não compreendiam esta palavra. O sentido lhes ficava oculto, de modo que não podiam entender. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.

 Quem é o maior? 

46 Surgiu entre os discípulos uma discussão sobre qual deles seria o maior. 47 Sabendo o que estavam pensando, Jesus pegou uma criança, colocou-a perto de si 48 e disse-lhes: “Quem receber em meu nome esta criança, estará recebendo a mim mesmo. E quem me receber, estará recebendo Aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior”.

 O exorcista estranho 

49 Tomando a palavra, João disse: “Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome, mas nós lhe proibimos, porque não anda conosco”. 50 Jesus respondeu: “Não o proibais, pois quem não é contra vós, está a vosso favor”.


Subida a Jerusalém

 Recusa dos samaritanos 

51 Quando ia se completando o tempo para ser elevado ao céu, Jesus tomou a firme de­cisão de partir para Jerusalém. 52 Enviou então­ mensageiros à sua frente, que se puseram a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para lhe preparar hospedagem. 53 Mas os samaritanos não o queriam receber, porque mostrava estar indo para Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua?” 55 Ele, porém, voltou-se e os repreendeu. 56 E partiram para outro povoado.

 Exigências do seguimento 

57 Enquanto estavam a caminho, alguém disse a Jesus: “Eu te seguirei aonde quer que tu vás”. 58 Jesus respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. 59 Então disse a outro: “Segue-me.” Este respondeu: “Permite-me primeiro ir enterrar meu pai”. 60 Jesus respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai e anuncia o Reino de Deus”. 61 Um outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de minha casa”. 62 Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus.”

 Episódio dos setenta e dois 

10 1 O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. 2 E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita. 3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não vos demoreis para saudar ninguém pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós.
7
Permanecei naquela mesma casa; comei e be­bei do que tiverem, porque o trabalhador?tem direito a seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9 curai os doentes que nela houver e dizei: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’. 10 Mas quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: 11 ‘Até a poeira de vossa cidade que se grudou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!’ 12 Eu vos digo: naquele dia, Sodoma receberá sentença menos dura do que aquela cidade.

 As cidades sem fé 

13 “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Se em Tiro e Sidônia se tivessem realizado os mi­lagres feitos no meio de vós, há muito tempo teriam demonstrado arrependimento, vestindo-se de saco e sentando-se sobre a cinza. 14 Pois bem: no dia do julgamento, Tiro e Si­dô­nia terão uma sentença menos dura do que vós. 15 E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Até o inferno serás rebaixada! 16 Quem vos escuta, a mim escuta; e quem vos despreza, a mim despreza; ora, quem me despreza, despreza Aquele que me enviou”.

 Volta dos setenta e dois 

17 Os setenta e dois voltaram alegres, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do teu nome.” 18 Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. 19 Eu vos dei o poder de pisar em cobras e escorpiões, e sobre toda a força do inimigo. Nada vos poderá fazer mal. 20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos nos céus”.
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Naquela mesma hora, ele exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
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E voltando-se para os discípulos em particular, disse-lhes: “Felizes os olhos que vêem o que vós estais vendo! 24 Pois eu vos digo: muitos profetas e reis quiseram ver o que vós estais vendo, e não viram; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram”.

 O principal mandamento. O bom samaritano

25 Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” 26 Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” 27 Ele respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!” 28 Jesus lhe disse: “Respondeste corretamente. Faze isso e viverás”.
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Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” 30 Jesus retomou: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto. 31 Por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. 32 O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. 33 Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão. 34 Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. 35 No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: ‘Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gasto a mais’. 36 Na tua opinião –  perguntou Jesus –, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37 Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa”.

 Marta e Maria 

38 Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. 40 Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!” 41 O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. 42 No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

 O Pai-nosso 

11 1 Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2 Ele respondeu: “Quando orardes, dizei:
Pai, santificado seja teu nome;
venha o teu Reino;
3
dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano,
4
e perdoa-nos os nossos pecados,
pois nós também perdoamos a todo
aquele que nos deve;
e não nos introduzas em tentação”.

 A oração insistente 

5 E Jesus acrescentou: “Imaginai que um de vós tem um amigo e, à meia-noite, o procura, dizendo: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6 pois um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’. 7 O outro responde lá de dentro: ‘Não me incomodes. A porta já está trancada. Meus filhos e eu já estamos deitados, não posso me levantar para te dar os pães’. 8 Digo-vos: mesmo que não se levante pa­ra dá-los por ser seu amigo, vai levantar-se por causa de sua impertinência e lhe dará quan­to for necessário. 9 Portanto, eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; ba­tei e a porta vos será aberta.10 Pois todo aque­le que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. 11 Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 12 Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13 Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos,­ quanto mais o Pai do céu saberá dar o Espírito Santo­ aos que lhe pedirem!”

 O demônio mudo. Jesus e Beelzebu 

14 Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admi­radas. 15 Alguns, porém, disseram: “É pelo po­der de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. 16 Outros, para tentar­ Je­sus, pediam-lhe um sinal do céu. 17 Mas, co­nhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: “To­do reino dividido internamente será destruído; cairá uma casa sobre a outra. 18 Ora, se até Satanás está dividido internamente, como poderá manter-se o seu reino? Pois dizeis que é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os?de­mônios. 19 Se é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios, pelo poder de quem então vossos discípulos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20 Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já chegou até vós.
21
Quando um homem forte e bem armado guarda o próprio terreno, seus bens estão seguros. 22 Mas, quando chega um mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura­ em que confiava e distribui os despojos. 23 Quem não está comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha.
24
Quando o espírito impuro sai de alguém, fi­ca vagando por lugares áridos, à procura?de repouso. Não o encontrando, diz: ‘Vou voltar­ para minha casa de onde saí’. 25 Chegando aí, encontra a casa varrida e arrumada. 26 Então ele vai e traz outros sete espíritos piores do que ele, que entram e se instalam aí. No fim, o estado dessa pessoa fica pior do que antes”.

 Bem-aventurança da mãe de Jesus

27 Enquanto Jesus assim falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. 28 Ele respondeu: “Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”.

 O sinal de Jonas 

29 Acorrendo as multidões em grande número, Jesus começou a dizer: “Esta geração é uma geração perversa. Busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. 30 De fato, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. 31 No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará jun­ta­mente com esta geração e a condenará, pois ela veio dos confins da terra para ouvir a?sa­be­doria de Salomão, e aqui está quem é mais do que Salomão. 32 No dia do juízo, os ni­ni­vitas se levantarão juntamente com esta gera­ção­ e a condenarão; pois eles mostraram ar­rependimento com a pregação de Jonas, e aqui está quem é mais do que Jonas”.

 A luz do corpo 

33 Ninguém traz uma lâmpada para colocá-la num lugar escondido ou debaixo de uma vasilha; coloca-a no suporte, a fim de que os que entram vejam a claridade. 34 A lâmpada que ilumina o corpo é o olho. Se teu olho for límpido, ficarás todo cheio de luz; mas se teu olho for ruim, ficarás todo em trevas! 35 Examina, pois, se a luz em ti não são trevas! 36 Se então teu corpo estiver todo cheio de luz, sem traço algum de escuridão, ficarás totalmente iluminado, como acontece quando a lâmpada te ilumina com seu clarão”.

 Crítica aos fariseus e os escribas

37 Enquanto Jesus estava falando, um fariseu o convidou para jantar em sua casa. Jesus foi e pôs-se à mesa. 38 O fariseu ficou admirado ao ver que ele não tinha feito a lavação ritual antes da refeição. 39 O Senhor disse-lhe: “Vós, fariseus, limpais por fora o copo e a travessa, mas o vosso interior está cheio de roubos e mal­dades. 40 Insensatos! Aquele que fez o exte­rior não fez também o interior? 41 Antes, dai em esmola o que está dentro, e tudo ficará puro para vós. 42 Ai de vós, fariseus, porque pa­gais o dízimo da hortelã, da arruda e de to­das as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Isto é que deveríeis praticar, sem negligenciar aquilo. 43 Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro assento nas sinagogas e de serdes cumprimentados nas praças. 44 Ai de vós, porque sois como túmulos que não se vêem, sobre os quais as pessoas an­dam sem saber”.
45
Um doutor da Lei tomou a palavra e disse: “Mestre, falando assim, insultas também a nós!” 46 Jesus respondeu: “Ai de vós igualmente, doutores da Lei, porque carregais as pessoas com fardos insuportáveis, e vós mesmos, nem com um só dedo, não tocais nesses fardos! 47 Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas! No entanto, foram vossos pais que os mataram. 48 Com isso, sois testemunhas e aprovais as ações de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. 49 É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: ‘Eu lhes enviarei profetas e apóstolos, e a alguns, eles matarão ou perseguirão; 50 por isso se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo, 51 desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o Santuário. Sim, eu vos digo: esta geração terá de prestar conta disso. 52 Ai de vós, doutores da Lei, porque ficastes com a chave da ciência: vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar”.
53
Quando Jesus saiu de lá, os escribas e os?fa­riseus começaram a importuná-lo e a provocá-lo em muitos pontos, 54 armando ciladas para apanhá-lo em suas próprias palavras.


Lucas (CNB) 7