Pastores gregis PT 68

O diálogo interreligioso, a bem sobretudo da paz no mundo

68 Como já tive ocasião de afirmar em diversas circunstâncias, o diálogo entre as religiões deve estar ao serviço da paz entre os povos. De facto, as tradições religiosas possuem os recursos necessários para superar as divisões e favorecer a recíproca amizade e o respeito entre os povos. O Sínodo lançou o apelo aos Bispos para que se façam promotores de encontros, incluindo representantes dos povos, para reflectir atentamente sobre os litígios e as guerras que dilaceram o mundo, a fim de individuar caminhos percorríveis para chegar a um compromisso comum de justiça, concórdia e paz.

Os padres sinodais sublinharam com ênfase a importância que o diálogo interreligioso tem para a paz, e pediram aos Bispos que se empenhem em tal sentido nas respectivas dioceses. Podem ser abertas novas estradas para a paz, através da afirmação da liberdade religiosa, de que falou o Concílio Vaticano II no Decreto Dignitatis humanae, e também através da obra educativa em prol das novas gerações, e do correcto uso dos meios de comunicação social.283

O horizonte do diálogo interreligioso, porém, é seguramente mais amplo; por esse motivo, os padres sinodais reafirmaram que tal diálogo é parte da nova evangelização, sobretudo nestes tempos – mais do que no passado – em que, nas mesmas regiões, nas mesmas cidades, nos lugares de trabalho da vida quotidiana convivem pessoas pertencentes a diversas religiões. Assim, o diálogo interreligioso é exigido pela vida quotidiana de muitas famílias cristãs, devendo também por isso os Bispos, como mestres da fé e pastores do Povo de Deus, dedicar-lhe uma justa atenção.

Deste contexto de convivência com pessoas doutras religiões, nasce para os cristãos um especial dever de testemunhar a unicidade e universalidade do mistério salvífico de Jesus Cristo e a consequente necessidade da Igreja como instrumento de salvação para toda a humanidade. « Esta verdade de fé nada tira ao facto de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas ao mesmo tempo exclui de forma radical a mentalidade indiferentista imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” ».284 É claro, pois, que o diálogo interreligioso nunca pode substituir o anúncio e propagação da fé, os quais constituem a finalidade prioritária da pregação, da catequese e da missão da Igreja.

Afirmar com desassombro e sem ambiguidade que a salvação do homem depende da redenção operada por Cristo não impede o diálogo com as outras religiões. E, na perspectiva da profissão da esperança cristã, não se há-de esquecer que é precisamente aquela que fundamenta o diálogo interreligioso. De facto, como se afirma na Declaração conciliar Nostra aetate, « os homens constituem todos uma só comunidade; todos têm a mesma origem, pois foi Deus quem fez habitar em toda a terra o inteiro género humano; têm também todos um só fim último, Deus, que a todos estende a sua providência, seus testemunhos de bondade e seus desígnios de salvação até que os eleitos se reúnam na cidade santa, iluminada pela glória de Deus e onde todos os povos caminharão na sua luz ».285

283 Cf. Propositiones 61 e 62.
284 Congr. para a Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus (6 de Agosto de 2000), 22: AAS 92 (2000), 763.
285 N.
NAE 1.


A vida civil, social e económica

69 Na acção pastoral do Bispo, não pode faltar uma particular atenção às exigências de amor e de justiça que derivam das condições sociais e económicas das pessoas mais pobres, abandonadas, maltratadas, em cada uma das quais o crente vê um ícone especial de Jesus. A sua presença nas comunidades eclesiais e civis põe à prova a autenticidade da nossa fé cristã.

Gostaria de dedicar algumas palavras ao complexo fenómeno da chamada globalização, uma das características do mundo actual. Existe efectivamente uma « globalização » da economia, da finança e também da cultura, que se vai progressivamente consolidando graças aos rápidos progressos das tecnologias informáticas. Como já tive ocasião de dizer noutras ocasiões, aquela requer um atento discernimento com o objectivo de individuar os seus aspectos positivos e negativos e as várias consequências que daí podem derivar para a Igreja e para o género humano inteiro. Para tal discernimento, é importante a contribuição dos Bispos, que sempre hão-de recordar a urgência de se chegar a uma globalização na caridade, sem marginalização. Também os padres sinodais lembraram o dever de promover uma « globalização da caridade », considerando neste mesmo contexto as questões relativas ao perdão da dívida pública externa, que compromete as economias de populações inteiras, travando o seu progresso social e político.286

Não podendo retomar aqui toda esta grave problemática, limito-me a repetir alguns pontos fundamentais, expostos já noutros lugares: nesta matéria, a visão da Igreja tem três pontos de referência essenciais e concomitantes que são a dignidade da pessoa humana, a solidariedade e a subsidiariedade. E, por conseguinte, « a economia globalizada deve ser analisada à luz dos princípios da justiça social, respeitando a opção preferencial pelos pobres, que devem ser colocados em condições de defender-se numa economia globalizada, e as exigências do bem comum internacional ».287 Inserida no dinamismo da solidariedade, a globalização deixa de ser marginalizadora. De facto, a globalização da solidariedade é consequência directa daquela caridade universal que é a alma do Evangelho.

286 Cf. Propositio 56.
287 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in America (22 de Janeiro de 1999), : AAS 91 (1999), 790-791.


O respeito pelo ambiente e a salvaguarda da criação

70 Os padres sinodais lembraram também os aspectos éticos do problema ecológico.288 De facto, o sentido profundo do apelo para globalizar a solidariedade tem a ver também, e urgentemente, com a questão da salvaguarda da criação e dos recursos da terra. O « gemido das criaturas », a que alude o Apóstolo (cf. Rom Rm 8,22), hoje parece verificar-se numa perspectiva invertida, porque se trata, não já duma tensão escatológica na expectativa da revelação dos filhos de Deus (cf. Rom Rm 8,19), mas dum espasmo de morte que tende a agarrar o próprio homem para o destruir.

Com efeito, é aqui que se manifesta, na sua forma mais insidiosa e perversa, o problema ecológico. Na realidade, « o índice mais profundo e mais grave das implicações morais, situadas na problemática ecológica, é constituído pela falta de respeito pela vida, como se pode verificar em muitos comportamentos inquinantes. Muitas vezes as razões da produção prevalecem sobre a dignidade do trabalhador, e os interesses económicos são postos acima do bem de cada pessoa, senão mesmo acima do bem de populações inteiras. Nestes casos, o inquinamento e a destruição do ambiente são fruto de uma visão redutiva e artificial que, algumas vezes, denota um verdadeiro desprezo do homem ».289

É evidente que está em jogo não só uma ecologia física, ou seja, preocupada com tutelar o habitatdos vários seres vivos, mas também uma ecologia humana, que proteja o bem radical da vida em todas as suas manifestações e prepare para as futuras gerações um ambiente o mais próximo possível do projecto do Criador. Há necessidade, pois, duma conversão ecológica, para a qual os Bispos hão-de dar a sua contribuição ensinando a correcta relação do homem com a natureza. À luz da doutrina sobre Deus-Pai, criador do céu e da terra, vê-se que se trata duma relação « ministerial »: o homem está efectivamente colocado no centro da criação, como ministro do Criador.

288 Cf. Propositio 56.
289 João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz - 1990 (8 de Dezembro de 1989), 7:AAS 82 (1990), 150.


O ministério do Bispo em prol da saúde

71 A solicitude pelo homem leva o Bispo a imitar Jesus, o verdadeiro « bom samaritano », cheio de compaixão e misericórdia, que cuida do homem sem discriminação alguma. A defesa da saúde ocupa lugar destacado entre os desafios actuais. Muitas são ainda, infelizmente, as formas de doença presentes nas várias partes do mundo e, embora a ciência humana avance de modo vertiginoso na procura de novas soluções ou ajude a enfrentá-las melhor, aparecem sempre novas situações onde acaba minada a saúde física e psíquica.

No âmbito da própria diocese, cada Bispo, com a ajuda de pessoas qualificadas, é chamado a fazer com que seja integralmente anunciado o « Evangelho da vida ». O empenho em humanizar a medicina e a assistência aos doentes por cristãos, que solicitamente testemunham a sua solidariedade a quem sofre, despertam no espírito de cada um a figura de Jesus, médico dos corpos e das almas. Entre as instruções dadas aos seus Apóstolos, não deixou de inserir a exortação a curar os enfermos (cf. Mt
Mt 10,8).290 Assim, a organização e a promoção duma adequada pastoral para os agentes sanitários merecem verdadeiramente uma prioridade no coração dum Bispo.

De modo particular, os padres sinodais sentiram a necessidade de manifestar bem alto a sua solicitude pela promoção duma autêntica « cultura da vida » na sociedade contemporânea: « Talvez o que mais surpreende o nosso coração de pastores sejam o desprezo pela vida, desde a concepção até ao seu ocaso, e a desagregação da família. O não da Igreja ao aborto e à eutanásia é um sim à vida, um sim à bondade originária da criação, um sim que pode alcançar cada ser humano no santuário da sua consciência, um sim à família, primeira célula de esperança em que Deus Se compraz a ponto de chamá-la a tornar-se igreja doméstica ».291

290 Cf. Propositio 57.
291 X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Mensagem (25 de Outubro de 2001), 12:L'Osservatore Romano (ed. port. de 3/XI/2001), 606.


O cuidado pastoral do Bispo pelos migrantes

72 Os movimentos dos povos assumiram hoje proporções inéditas, apresentando-se como movimentos de massa que envolvem um número enorme de pessoas. Entre elas, há muitas expulsas ou em fuga do seu país por causa de conflitos armados, de precárias condições económicas, de lutas políticas, étnicas e sociais, de catástrofes naturais. Todas estas migrações, apesar da sua diversidade, colocam sérias questões às nossas comunidades, relacionadas com problemas pastorais como a evangelização e o diálogo interreligioso.

Por isso, convém que, nas dioceses, se providencie à instituição de estruturas pastorais concretas para o acolhimento e o cuidado pastoral destas pessoas, adequado às condições em que se encontram. É preciso também fomentar a colaboração entre dioceses limítrofes para se garantir um serviço mais eficiente e competente, cuidando também da formação de sacerdotes e agentes laicais particularmente generosos e disponíveis para este serviço exigente, sobretudo quanto aos problemas de natureza legal que possam aparecer na inserção destas pessoas no novo ordenamento social.292

Neste contexto, os padres sinodais originários das Igrejas Católicas Orientais puseram outra vez o problema – novo em certos aspectos e de graves consequências na vida concreta – da emigração dos fiéis das suas Comunidades. Na realidade, há um número bastante significativo de fiéis vindos das Igrejas Católicas Orientais que residem habitual e estavelmente fora das terras de origem e das sedes das Hierarquias Orientais. Trata-se, como é compreensível, duma situação que diariamente interpela a responsabilidade dos pastores.

Por isso, o Sínodo dos Bispos considerou necessário um exame mais profundo sobre os modos como poderiam as Igrejas Católicas, tanto Orientais como Ocidentais, estabelecer as estruturas pastorais oportunas e apropriadas, capazes de satisfazer as exigências destes fiéis que vivem em condições de « diáspora ».293 De qualquer forma, é um dever dos Bispos do lugar, não obstante a diversidade de rito, serem verdadeiros pais para estes fiéis de rito oriental, garantindo-lhes, no cuidado pastoral, a salvaguarda dos valores religiosos e culturais específicos, nos quais nasceram e receberam a sua formação cristã inicial.

Estes são apenas alguns dos âmbitos onde o testemunho cristão e o ministério episcopal são reclamados com particular urgência. A assunção de responsabilidades que dizem respeito ao mundo, aos seus problemas, aos seus desafios, às suas expectativas pertence à obrigação de anunciar o Evangelho da esperança. De facto, está em jogo o futuro do homem, enquanto « ser de esperança ».

Com a acumulação dos desafios a que está exposta a esperança, é bem compreensível que surja a tentação do cepticismo e do desânimo. Mas, o cristão sabe que pode enfrentar mesmo as situações mais difíceis, porque o fundamento da sua esperança está no mistério da Cruz e da Ressurreição do Senhor. Só daí é possível haurir a força necessária para se colocar e permanecer ao serviço de Deus, que quer a salvação e a libertação integral do homem.

292 Cf. Propositio 58.
293 Cf. Propositio 23.


CONCLUSÃO


73 À vista de cenários humanamente tão complexos para o anúncio do Evangelho, vem à memória quase espontaneamente o relato da multiplicação dos pães narrado nos evangelhos. Os discípulos referem a Jesus as suas perplexidades a respeito da multidão que, faminta da sua palavra, O seguiu até ao deserto, propondo-Lhe: « Dimitte turbas... Despede a multidão... » (Lc 9,12). Talvez tenham medo de não conseguir verdadeiramente saciar a fome de tamanha multidão de pessoas.

Análoga atitude poderia irromper no nosso espírito, descoroçoado pela grandeza dos problemas que interpelam as Igrejas e pessoalmente a nós, Bispos. Neste caso, é preciso recorrer àquela novafantasia da caridade que deve explicitar-se não só nem sobretudo na eficiência das ajudas prestadas, mas na capacidade de ser solidário com quem padece necessidade, fazendo com que os pobres sintam cada comunidade cristã como a sua própria casa.294

Porém, Jesus tem o seu modo próprio de resolver os problemas. Como se quisesse provocar os Apóstolos, diz-lhes: « Dai-lhes vós mesmos de comer » (Lc 9,13). Já conhecemos a conclusão da narração: « Todos comeram e ficaram saciados; e ainda apanharam o que lhes tinha sobrado: doze cestos cheios de fragmentos » (Lc 9,17). Aquela abundância até sobrar ainda hoje aparece na vida da Igreja!

Pede-se aos Bispos do terceiro milénio que façam o que muitos santos Bispos souberam fazer ao longo da história até hoje. Por exemplo, S. Basílio quis construir, mesmo às portas de Cesareia, uma vasta estrutura de acolhimento para os necessitados, uma verdadeira cidadela da caridade, chamada « basilíade » em homenagem ao seu nome; daí transparece claramente que « a caridade das obras garante uma força inequivocável à caridade das palavras ».295 Tal é o caminho que devemos percorrer nós também: o Bom Pastor confiou o seu rebanho a cada Bispo, para que o alimente com a palavra e o eduque com o exemplo.

Mas aonde poderemos nós, Bispos, ir buscar o pão necessário para dar resposta a tantas perguntas, internas e externas às Igrejas e à Igreja? Teríamos vontade de desabafar o nosso desalento, como o fizeram os Apóstolos a Jesus: « Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão? » (Mt 15,33). Quais são os « lugares » donde extrair os recursos? Pelo menos podemos apontar algumas respostas fundamentais.

O nosso primeiro e transcendente recurso é o amor de Deus derramado nos nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido (cf. Rom Rm 5,5). O amor com que Deus nos amou é tal que nos pode sustentar sempre na busca dos justos caminhos para chegar ao coração do homem e da mulher de hoje. A cada instante o Senhor concede-nos, pela força do seu Espírito, a capacidade de amar e inventar as formas mais adequadas e nobres do amor. Chamados a ser servidores do Evangelho para a esperança do mundo, sabemos que esta esperança não provém de nós, mas do Espírito Santo, que « não cessa nunca de ser o guarda da esperança no coração do homem: da esperança de todas as criaturas humanas, e especialmente daquelas que “possuem as primícias do Espírito” e “aguardam a redenção do seu corpo” ».296

Outro recurso nosso é a Igreja, na qual estamos inseridos através do Baptismo com tantos outros irmãos e irmãs, e com eles confessamos o único Pai celestial e bebemos do único Espírito de santidade.297 Fazer da Igreja « a casa e a escola da comunhão » é o empenho a que nos convida a situação actual, se quisermos dar resposta às expectativas do mundo.298

Também a nossa comunhão no corpo episcopal, onde fomos inseridos pela consagração, é uma riqueza estupenda, constituindo um apoio muito válido para ler com atenção os sinais dos tempos e discernir com clareza aquilo que o Espírito diz às Igrejas. No coração do Colégio dos Bispos, há o apoio e a solidariedade do Sucessor do apóstolo Pedro, cujo poder supremo e universal não anula, antes confirma, reforça e reivindica o poder dos Bispos, sucessores dos Apóstolos. Nesta perspectiva, será importante valorizar os instrumentos da comunhão segundo as grandes directrizes do Concílio Vaticano II. Não há dúvida que existem realmente circunstâncias – e não são poucas hoje – em que uma Igreja particular por si só ou mesmo várias Igrejas vizinhas se sentem incapazes ou praticamente impossibilitadas de intervir adequadamente sobre problemas de maior vulto. É sobretudo em tais circunstâncias que o recurso aos instrumentos da comunhão episcopal pode oferecer uma autêntica ajuda.

Um último e imediato recurso para o Bispo à procura do « pão » para aliviar a fome dos seus irmãos é a própria Igreja particular, quando nela aflora a espiritualidade da comunhão como princípio educativo « em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as comunidades ».299 E aqui se evidencia uma vez mais a ligação entre a X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos e as três assembleias gerais que imediatamente a precederam. É que um Bispo nunca está só: não está só na Igreja universal, nem o está na sua Igreja particular.

294 Cf. João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), NM 50: AAS 93 (2001), 303.
295 Cf. ibid., NM 50: o.c., 303.
296 João Paulo II, Carta enc. Dominum et Vivificantem (18 de Maio de 1986), DEV 67: AAS 78 (1986), 898.
297 Cf. Tertulliano, Apologeticum, 39, 9: CCL 1, 151.
298 Cf. João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), NM 43: AAS 93 (2001), 296.
299 Ibid., NM 43: o.c., 296.


74 O compromisso do Bispo, ao início dum novo milénio, está claramente delineado. É o seu compromisso de sempre: anunciar o Evangelho de Cristo, salvação do mundo. Mas tal compromisso aparece marcado por novas urgências, que exigem a dedicação concorde de todas as componentes do Povo de Deus. O Bispo há-de poder contar com os membros do presbitério diocesano e com os diáconos, ministros do sangue de Cristo e da caridade; com as irmãs e os irmãos consagrados, chamados a ser na Igreja e no mundo testemunhas eloquentes do primado de Deus na vida cristã e da força do seu amor na fragilidade da condição humana; e com os fiéis leigos, dotados de maiores possibilidades de apostolado na Igreja, que constituem para os Pastores uma fonte de particular apoio e um motivo de especial conforto.

No termo das reflexões exaradas nestas páginas, damo-nos conta de quanto o tema da X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos encaminhe cada um de nós, Bispos, ao encontro de todos os nossos irmãos e irmãs na Igreja e de todos os homens e mulheres da terra. A eles nos envia Cristo, como um dia enviou os Apóstolos (cf. Mt
Mt 28,19-20). Tarefa nossa é ser de maneira eminente e visível, para cada pessoa, um sinal vivo de Jesus Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor.300

Jesus Cristo é, portanto, o ícone para o qual nós, venerados Irmãos no episcopado, olhamos no desempenho do nosso ministério de arautos da esperança. Como Ele devemos, também nós, saber oferecer a nossa existência pela salvação de quantos nos foram confiados, anunciando e celebrando a vitória do amor misericordioso de Deus sobre o pecado e sobre a morte.

Sobre esta nossa tarefa invocamos a intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos. Ela, que no Cenáculo sustentou a oração do Colégio Apostólico, nos obtenha a graça de nunca faltar à dádiva de amor que Cristo nos confiou. Testemunha da verdadeira vida, Maria « brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante – e por isso em particular para nós, que somos os seus Pastores – até que chegue o dia do Senhor ».301

Dado em Roma, junto de S. Pedro, no dia 16 de Outubro do ano de 2003, vigésimo quinto aniversário da minha eleição para o Pontificado.



JOANNES PAULUS PP. II


300 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, LG 21.
301 Ibid., LG 68.

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