Provérbios (CNB) 1




Prólogo e ensinamentos diversos

Prólogo

1 1 Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel:
2
para conhecer a sabedoria e a disciplina,
para entender as sentenças da prudência,
3
para acolher uma instrução esclarecida,
na justiça, no direito e na eqüidade
4
para proporcionar sagacidade aos inexperientes
e, aos jovens, conhecimento e reflexão.
5
Que o sábio escute, e aumentará o seu saber;
e o inteligente vai adquirir habilidades:
6
ele penetrará o provérbio e a alegoria,
as máximas dos sábios e seus enigmas.
7
O temor do Senhor é o princípio do conhecimento;
sabedoria e disciplina, os tolos as desprezam.

Evita a companhia dos violentos

8 Aceita, filho, a disciplina de teu pai
e não desprezes a instrução de tua mãe:
9
elas serão um formoso diadema na tua cabeça,
e colares no teu pescoço.
10
Meu filho, se pecadores quiserem seduzir-te,
não vás atrás deles.
11
Se disserem: “Vem conosco, à emboscada para matar,
mesmo sem motivo, armemos ciladas contra o inocente!
12
Como o Abismo, nós os engoliremos vivos,
inteiros, como os que baixam à cova!
13
Encontraremos toda sorte de riquezas magníficas
e encheremos nossas casas com despojos!
14
Reparte a tua sorte conosco,
e todos teremos uma só bolsa!”
15
Meu filho, não andes com eles,
afasta os passos de seus atalhos,
16
porque seus pés correm para o mal
e se apressam para derramar sangue.
17
– É em vão, porém, que se estende a rede
à vista dos pássaros. –
18
Eles armam ciladas contra si mesmos
e tramam enganos contra suas próprias vidas!
19
Tais são os atalhos de quem se volta para o roubo:
roubam a própria vida de quem o pratica.

Convite da Sabedoria

20 A Sabedoria, lá fora, está clamando,
 levanta sua voz nas praças,
21
grita nas entradas das ruas freqüentadas
 e profere seu discurso nas portas da cidade:
22
“Até quando, ingênuos, amareis a ingenuidade?
Até quando os escarnecedores desejarão
o escárnio para si e os imprudentes desprezarão o conhecimento?
23
Levai em conta a minha advertência
e derramarei para vós o meu espírito
e vos apresentarei minhas palavras.
24
Pois eu chamei, e recusastes,
fiz sinal com a mão e não houve quem olhasse.
25
Desprezastes todos os meus conselhos
e não aceitastes minhas repreensões.
26
Por isso, também eu rirei da vossa desgraça
e zombarei, quando chegar o pânico;
27
quando vos sobrevier o terror qual tempestade,
quando vossa desgraça chegar como um redemoinho,
quando caírem sobre vós a tribulação e a angústia!
28
Então me invocarão, e não os escutarei;
vão procurar-me com ansiedade, e não me encontrarão!
29
Porque tiveram por odiosa a disciplina
e não escolheram o temor do Senhor;
30
não atenderam ao meu conselho
e desprezaram todas as minhas advertências.
31
Pois bem: comerão o fruto do seu comportamento
e ficarão empanturrados dos seus próprios conselhos!
32
A indocilidade dos inexperientes os matará,
e a segurança dos tolos acabará com eles.
33
Quem me escuta, porém, repousará sem medo
e estará tranqüilo, sem temer nenhum mal.”

A Sabedoria vale mais do que tudo

2 1 Meu filho, se aceitares as minhas palavras
e guardares contigo meus mandamentos,
2
dando ouvido atento à Sabedoria
e inclinando teu coração para conheceres a prudência;
3
se invocares a Sabedoria e clamares à prudência;
4
se a procurares como ao dinheiro,
e a esquadrinhares como a um tesouro,
5
então compreenderás o temor do Senhor
e alcançarás o conhecimento de Deus.
6
Porque é o Senhor quem dá a Sabedoria,
e de sua boca procedem conhecimento e prudência.
7
Ele reserva a habilidade aos retos
e será um escudo para os que caminham com integridade:
8
protegerá as veredas de quem anda na justiça
e os caminhos dos santos guardará.
9
Então conhecerás a justiça e o direito,
a eqüidade e todo bom caminho,
10
porque a Sabedoria entrará no teu coração
e o conhecimento será o teu prazer.

A Sabedoria te protege na vida

11 O conselho te guardará
e a prudência te preservará,
12
para que sejas livre do mau caminho
e da pessoa que diz perversidades;
13
dos que abandonam o caminho reto
para seguirem por atalhos tenebrosos;
14
dos que se alegram fazendo o mal
e exultam com coisas perversas:
15
seus atalhos são tortuosos
e seus passos, infames.
16
Tu te livrarás da mulher alheia,
da estranha que fala com suavidade
17
mas abandonou o companheiro da sua juventude,
e esqueceu-se da aliança do seu Deus.
18
A sua casa pende para a morte
e para o abismo, os seus caminhos:
19
todos os que a freqüentam não retornam,
não encontram os caminhos da vida.
20
Andarás, pois, pela estrada dos bons
e seguirás as pegadas dos justos:
21
porque os retos habitarão a terra
e os íntegros nela permanecerão;
22
os ímpios, porém, da terra serão varridos
e, os que agem iniquamente, dela serão arrancados.

Sabedoria e temor de Deus

3 1 Meu filho, não te esqueças da minha instrução
e teu coração guarde meus preceitos:
2
pois eles trarão dias duradouros para ti,
 muitos anos de vida e a paz.
3
A misericórdia e a verdade não te abandonem:
ata-as ao teu pescoço,
inscreve-as nas tábuas do teu coração,
4
e alcançarás graça e bom sucesso
diante de Deus e dos outros.
5
Confia no Senhor de todo o teu coração
e não te apoies na tua própria prudência:
6
pensa nele em todos os teus caminhos,
e ele conduzirá teus passos.
7
Não sejas sábio a teus próprios olhos;
teme o Senhor e afasta-te do mal:
8
isto trará saúde para teu corpo
e vigor para teus ossos.
9
Honra ao Senhor com a tua riqueza
e com as primícias de todos os teus frutos:
10
e teus celeiros ficarão cheios de trigo
e transbordarão de vinho os teus lagares.
11
Meu filho, não rejeites a disciplina do Senhor
nem a desprezes, quando ele te corrige,
12
pois o Senhor corrige os que ele ama,
como um pai, ao filho preferido.

Pérola preciosa, árvore de vida

13 Feliz aquele que encontrou a Sabedoria,
e que alcançou grande prudência:
14
ganhá-la vale mais do que negociar a prata
e seu fruto, mais que o ouro fino.
15
Ela é mais preciosa do que todas as pedrarias
e tudo o que aprecias não se compara com ela:
16
em sua mão direita, longos anos;
em sua mão esquerda, riquezas e glória!
17
Os seus caminhos são belos
e todas as suas veredas são de paz.
18
Árvore da vida é ela para os que a abraçam,
 e é feliz aquele que a conserva.
19
O Senhor alicerçou a terra com a Sabedoria
e firmou os céus com a prudência:
20
por sua Sabedoria irromperam os abismos
e as nuvens destilam o orvalho.
21
Meu filho, não escapem estas coisas de teus olhos:
conserva a prudência e o conselho,
22
e isto será vida para tua alma
e enfeite para teu pescoço.
23
Então seguirás confiante o teu caminho
sem que tropecem os teus pés;
24
ao dormires, não terás medo,
repousarás, e o sono te será tranqüilo.
25
Não te assustará o terror imprevisto
nem o turbilhão dos ímpios sobre ti, quando vier:
26
pois o Senhor estará ao teu lado
e guardará teu pé, para não caíres na armadilha.

Generosidade para com o próximo

27 Não recuses favor a quem dele necessita,
se está em teu poder fazê-lo.
28
Não digas ao amigo: “Volta depois,
amanhã eu te darei”, se podes atender logo.
29
Não trames o mal contra o amigo,
quando ele vive contigo cheio de confiança.
30
Não abras processo contra alguém sem motivo,
se não te fez mal algum!
31
Não invejes a pessoa injusta
e não imites nenhuma de suas atitudes,
32
pois o Senhor detesta o perverso,
mas reserva sua amizade aos íntegros.
33
A maldição do Senhor está na casa do ímpio,
mas as moradas dos justos serão abençoadas.
34
Ele zomba dos zombadores,
mas concede seu favor aos humildes.
35
Os sábios possuirão a glória,
enquanto a exaltação dos insensatos é a vergonha!

Adquire a sabedoria

4 1 Escutai, ó filhos, a instrução de um pai e ficai atentos, para aprender a prudência:
2
eu vos darei uma doutrina excelente,
não abandoneis a minha lei.
3
Eu também, para meu pai, me portei como filho,
por minha mãe acarinhado como filho único.
4
Ele me ensinava e dizia:
“Teu coração acolha as minhas palavras,
guarda meus preceitos, e viverás.
5
Adquire a Sabedoria, adquire a prudência,
não te esqueças das palavras de minha boca nem delas te afastes.
6
Não abandones a Sabedoria, e ela te guardará;
ama-a, e ela te protegerá.
7
Este é o princípio da Sabedoria: adquire-a e, com todos os bens que possuis,
adquire a prudência!
8
Arrebata-a, e ela te exaltará;
se a abraçares, serás por ela glorificado.
9
Ela porá em tua cabeça um diadema de graça,
e te cingirá com uma brilhante coroa”.

As duas vias

10 Meu filho, ouve e acolhe as minhas palavras,
e os anos de tua vida se multiplicarão.
11
Eu te mostrei as vias da Sabedoria
e te conduzi pelos caminhos da eqüidade:
12
se entrares por eles, teus passos não se deterão;
se correres, não encontrarás obstáculo.
13
Apega-te à disciplina, não a deixes!
Conserva-a, porque ela é a tua vida!
14
Não entres nos atalhos dos ímpios,
não percorras o caminho dos maus.
15
Evita-o, não passes por ele;
afasta-te e deixa-o de lado.
16
Pois eles não dormem sem terem feito o mal;
chegam a perder o sono se não fizeram alguém cair.
17
Comem o pão que ganharam com a impiedade
e bebem o vinho que é fruto da iniqüidade.
18
A vereda dos justos, ao contrário, é como luz esplêndida,
que surge e cresce até tornar-se pleno dia.
19
O caminho dos ímpios é tenebroso:
não sabem onde irão tropeçar.
20
Meu filho, escuta as minhas palavras
e dá ouvido às minhas sentenças.
21
Que elas não se afastem de teus olhos:
pelo contrário, guarda-as no fundo do coração:
22
elas são vida para os que as encontram
e saúde para todo o seu corpo.
23
Com todo o cuidado guarda teu coração,
pois dele procede a vida.
24
Afasta de ti a boca perversa
e lábios maldizentes estejam longe de ti.
25
Teus olhos olhem o que é reto
e tuas pálpebras se dirijam para a frente.
26
Observa a vereda dos teus pés,
e todos os teus caminhos serão seguros.
27
Não te desvies para a direita nem para a esquerda,
mas afasta do mal os teus pés.

Cuidado com a mulher estranha

5 1 Meu filho, atende à minha sabedoria e dá ouvido à minha prudência.
2
Assim guardarás teus pensamentos
e teus lábios conservarão a disciplina.
3
Pois os lábios da meretriz destilam o mel
e mais untuosa que o óleo é a sua conversa.
4
Seu fim, porém, é amargo como o absinto
e cortante como uma espada de dois gumes.
5
Seus pés descem para a morte,
para o Abismo tendem os seus passos:
6
como não segue a vereda da vida,
seus passos são inseguros, e ela própria não sabe.
7
Agora, pois, filho, escuta-me
e não te afastes das palavras de minha boca:
8
passe longe dela o teu caminho
e não te aproximes da entrada de sua casa.
9
Não cedas a estranhos a tua honra,
nem teus anos a um desalmado,
10
para que estranhos não venham a
fartar-se de tuas forças
e teus trabalhos não terminem em casa alheia.
11
Caso contrário, virias a gemer, no fim de tudo,
consumidas tuas forças e teu corpo,
12
dizendo: “Por que fui detestar a disciplina
e meu coração rejeitou as advertências?
13
Por que não escutei a voz dos que me ensinavam
e não inclinei meu ouvido aos mestres?
14
Por pouco não cheguei ao cúmulo da desgraça,
no meio da assembléia e da comunidade!”
“Bebe do teu próprio poço”
15
Bebe da água da tua cisterna
e das vertentes do teu poço,
16
para que não se derramem tuas fontes para fora
nem teus regatos pelas praças:
17
preserva tua água para ti
e não sejam teus sócios os estranhos.
18
Seja bendita a tua fonte
e alegra-te com a esposa da tua juventude:
19
corça querida e gazela graciosa,
suas carícias te inebriem em todo o tempo,
e te alegres sempre no seu amor.
20
Por que te deixarias seduzir, meu filho, pela mulher alheia
 e repousarias no seio de uma estranha?
21
Diante do Senhor estão os caminhos do ser humano,
e ele observa todos os nossos passos.
22
As próprias iniqüidades enredarão o ímpio,
que será preso pelos laços de seus próprios pecados.
23
Ele morrerá, porque não observou a disciplina,
iludido por sua imensa estupidez.

Ser fiador é perigoso

6 1 Meu filho, se ficaste fiador do teu amigo,
prendeste a tua mão com um estranho;
2
com as palavras da tua boca te enredaste
e ficaste preso por teus próprios discursos.
3
Faze, pois, filho, o que te digo e livra-te a ti mesmo,
pois caíste nas mãos do teu próximo:
corre de cá para lá, prostra-te, insiste com o amigo.
4
Não concedas o sono a teus olhos,
nem descanso às tuas pálpebras!
5
Escapa da rede como a gazela,
ou como a ave, da mão do passarinheiro.

A preguiça

6 Vai ter com a formiga, ó preguiçoso,
observa seu proceder e dela aprende a Sabedoria.
7
Ela, embora não tenha chefe,
nem vigilante, nem príncipe,
8
prepara seu alimento no verão
e ajunta, no tempo da ceifa, a sua comida.
9
Até quando dormirás, ó preguiçoso?
quando te levantarás do teu sono?
10
Dormes um pouco, outro pouco cochilas,
um pouco cruzas os braços, para dormires...
11
e a indigência virá a ti como um andarilho,
a miséria, como um homem armado.

Reconhecer o malvado

12 É um iníquo, um ser inútil,
o que anda com a falsidade na boca:
13
pisca os olhos, bate com o pé,
faz sinais com os dedos,
14
trama perversidades em seu coração,
maldade em todo o tempo, semeia discórdias...
15
Por isso, chegará de repente a sua perdição
e de improviso ele ruirá, sem remédio.

As sete coisas que Deus abomina

16 Seis coisas detesta o Senhor
e uma sétima sua alma abomina:
17
olhos empinados, língua mentirosa,
mãos que derramam sangue inocente,
18
coração que maquina projetos perversos,
pés velozes para correrem ao mal,
19
testemunha falsa, proferindo mentiras,
e quem semeia a discórdia entre irmãos.

Advertência contra o adultério

20 Meu filho, guarda os preceitos de teu pai
e não rejeites a instrução de tua mãe.
21
Leva-os sempre atados ao teu coração,
e pendurados ao teu pescoço.
22
Quando caminhares, te guiarão;
quando dormires, te guardarão
e, quando acordares, falarão contigo.
23
Pois o mandamento é uma lâmpada e a Lei uma luz,
e caminho de vida é a lição da disciplina:
24
eles te preservarão da mulher perversa
e da língua sedutora da estranha.
25
Não deseje a sua beleza o teu coração,
nem te deixes prender com seus acenos,
26
pois o preço de uma prostituta é um pedaço de pão,
enquanto a adúltera custa uma vida preciosa.
27
Acaso pode alguém esconder fogo consigo,
sem que se queime a sua roupa?
28
Ou andará alguém sobre brasas,
sem que se queimem as plantas dos seus pés?
29
Assim é aquele que se achega à mulher do próximo:
não ficará puro quem quer que a toque.
30
Não se recrimina o ladrão,
se roubou para matar a fome;
31
mesmo assim, se apanhado,
restituirá sete vezes mais
e entregará tudo o que possui.
32
Quem, porém, comete adultério, está louco:
perde sua vida quem faz tal coisa.
33
Pois arranja surras e desonra para si,
e sua infâmia não se apagará.
34
Pois o ciúme enfurece o marido,
que não perdoará no dia da vingança:
35
não aceitará a expiação de ninguém
nem receberá presentes, por maiores que sejam.

7 1 Meu filho, guarda as minhas palavras e conserva contigo meus preceitos.
2
Observa meus mandamentos e viverás;
guarda a minha lei, como a pupila dos teus olhos.
3
Prende-os em teus dedos
e inscreve-os nas tábuas do teu coração.
4
Dize à Sabedoria: “És minha irmã!”
e chama a prudência de “amiga”,
5
para que te preserve da mulher estranha,
da alheia que tem palavras sedutoras.

O inexperiente seduzido

6 Estava eu à janela de minha casa
quando, olhando pelas grades,
7
observei, entre os ingênuos,
entre os adolescentes, um jovem insensato.
8
Ele passou pela praça, junto à esquina,
e se dirigiu para a rua daquela mulher.
9
Era já escuro, entardecendo o dia,
no meio das trevas e da escuridão.
10
De repente, vem-lhe ao encontro a mulher, enfeitada como meretriz,
ardilosa no coração, loquaz e atrevida,
11
cansada do silêncio
e não conseguindo manter os pés dentro de casa.
12
Ora nas praças, ora nas ruas,
fica armando ciladas junto às esquinas.
13
Pegando o jovem, ela o beija
e, com ar deslavado, o lisonjeia, dizendo:
14
“Prometi sacrifícios pela saúde reencontrada
e hoje paguei minhas promessas.
15
Por isso é que saí à tua procura,
desejando ver-te, e te encontrei.
16
Cobri minha cama com colchas,
com tecidos multicores de linho do Egito.
17
Perfumei minha alcova com mirra,
com aloés e cinamomo.
18
Vem, embriaguemo-nos de prazer,
até o amanhecer desfrutemos do amor.
19
Pois meu marido não está em casa,
partiu para uma longa viagem;
20
levou consigo a bolsa do dinheiro
e só na lua cheia voltará”.
21
Com tantas palavras ela o enredou,
e o arrastou com as artimanhas dos seus lábios.
22
O insensato a segue como um boi conduzido ao matadouro,
como a caça presa no laço,
23
até que a flecha lhe atravesse o fígado.
É como o pássaro que voa para a armadilha,
sem saber que sua vida corre perigo.
24
Agora, pois, meu filho, escuta-me;
presta atenção às palavras de minha boca.
25
Não se extravie a tua mente nos caminhos dessa mulher,
nem te deixes enganar com suas trilhas.
26
Pois a muitos ela fez cair, feridos,
e até os mais valentes foram mortos por ela:
27
a sua casa é o caminho do Abismo,
caminho que desce até as entranhas da morte.

Elogio da Sabedoria

8 1 Não é a Sabedoria que está clamando?
e a prudência não está levantando a voz?
2
Nos mais altos postos, ao longo do caminho,
de pé, no meio das estradas,
3
junto às portas, na entrada da cidade,
nos portões de saída, ela grita:
4
“A vós, humanos, estou continuamente clamando,
aos filhos de Adão se dirige a minha voz.
5
Aprendei, ingênuos, a sagacidade
e vós, insensatos, prestai atenção!
6
Escutai, pois falarei de coisas importantes,
e se abrirão meus lábios para
anunciarem o que é reto.
7
Meu paladar saboreia a verdade,
e meus lábios detestam o que é ímpio.
8
Todas as sentenças de minha boca são justas,
nelas não há nada de tortuoso ou perverso;
9
são todas leais para os que têm inteligência
e retas, para quem encontrou o conhecimento.
10
Acolhei minha disciplina, e não o dinheiro;
e minha doutrina, mais que o ouro puro.
11
Pois a Sabedoria é melhor do que as jóias,
e tudo o que é desejável não se compara com ela!
12
Eu, a Sabedoria, moro com a prudência,
e descobri a arte da reflexão.
13
O temor do Senhor odeia o mal.
Detesto o orgulho e a soberba,
a má conduta e a boca falsa.
14
É meu o conselho e a prudência,
são minhas a inteligência e a fortaleza.
15
É por mim que reinam os reis
e os príncipes decretam leis justas;
16
por mim governam os chefes,
e os poderosos dão sentenças justas.
17
Amo aqueles que me amam,
e os que por mim madrugam me encontram.
18
Comigo estão a riqueza e a glória,
as grandes fortunas e a justiça.
19
Meu fruto é melhor do que o ouro, e o ouro fino,
e meus produtos valem mais do que a prata preciosa.
20
Eu ando pelos caminhos da justiça,
no meio das sendas do direito,
21
para enriquecer os que me amam
e encher os seus tesouros.

Mestre-de-obras do universo

22 O Senhor me gerou no início de suas obras,
antes de ter feito coisa alguma, no princípio;
23
desde a eternidade fui designada,
desde os tempos antigos, antes que a terra fosse feita.
24
Ainda não havia os abismos, e eu já fora concebida,
quando ainda não havia os mananciais das águas:
25
antes que fossem plantadas as montanhas,
antes das colinas, eu fui dada à luz.
26
Ele ainda não havia feito a terra e os campos,
nem os primeiros elementos do orbe terrestre.
27
Quando preparava os céus, ali eu estava,
quando, por uma lei inviolável, delimitava os abismos;
28
quando firmava as nuvens lá no alto
e as fontes do abismo mostravam sua violência;
29
quando fixava ao mar os seus termos,
para que as águas não transgredissem sua ordem,
e lançava os fundamentos da terra,
30
eu estava ao seu lado como mestre-de-obras;
eu era seu encanto, dia após dia,
brincando, todo o tempo, na sua presença,
31
brincando na superfície da terra
e alegrando-me em estar com os filhos dos homens.
32
Agora, meus filhos, escutai-me:
felizes os que guardam meus caminhos!
33
Ouvi a disciplina para vos tornardes sábios,
e não a desprezeis.
34
Feliz aquele que me escuta,
velando em meu portal cada dia,
guardando os umbrais da minha porta!
35
Quem me encontrar, encontrará a vida
e gozará das delícias do Senhor.
36
Mas quem pecar contra mim
prejudica-se a si mesmo:
todos os que me odeiam, amam a morte.

Convite para o banquete da Sabedoria

9 1 A \Dama Sabedoria construiu sua casa, talhando sete colunas.
2
Abateu suas reses, misturou o vinho e preparou a mesa.
3
Enviou as empregadas para proclamarem,
na fortaleza e nos pontos mais altos da cidade:
4
“Se há um ingênuo, venha a mim!”
Aos ignorantes ela diz:
5
“Vinde comer do meu pão
e beber do vinho que preparei para vós!
6
Deixai a ingenuidade e vivereis!
Segui os caminhos da prudência!

Sabedoria versus zombaria!

7 Quem instrui o zombador, arrisca receber insultos;
quem repreende o ímpio, arrisca ser desonrado.
8
Por isso, não repreendas o zombador, para que não te odeie;
mas repreende o sábio, e ele te amará.
9
Dá ao sábio, e ele será mais sábio;
ensina o justo, e ele aumentará seu saber.
10
Começo da Sabedoria é o temor do Senhor,
e o conhecimento do Santo é a prudência.
11
De fato, por mim se prolongarão teus dias,
e teus anos de vida serão multiplicados.
12
Se fores sábio, tu o serás para teu proveito;
se fores um zombador, só tu sofrerás o dano.

O convite da Insensatez

13 A Dama Insensatez é espalhafatosa, pedante, e nada sabe.
14
Ela se posta à frente de sua casa, num assento, no ponto mais alto da cidade.
15
E chama os que passam pela rua, os que vão seguindo o seu caminho:
16
“Quem for ingênuo, venha a mim!”
E ao sem-juízo ela diz:
17
“A água roubada é mais doce,
o pão clandestino é mais gostoso!”
18
Ele, porém, não sabe que aí estão as Sombras,
e seus convidados, no fundo do Abismo.


Primeira coleção salomônica

10 1 Provérbios de Salomão.

Viver para a justiça

O filho sábio é a alegria do pai,
o filho insensato entristece sua mãe.
2 De nada servem tesouros iníquos,
mas a justiça livra da morte.
3
O Senhor não deixa que o justo passe fome,
mas derrubará a cobiça dos ímpios.
4
Mão preguiçosa produz a indigência,
a mão dos diligentes adquire a riqueza.
5
Quem recolhe na colheita é sábio,
quem dorme no verão é desprezível.
6
As bênçãos do Senhor estão sobre a cabeça do justo,
mas a boca dos ímpios disfarça a violência.
7
A memória do justo é abençoada,
enquanto o nome dos ímpios apodrece.
8
Quem tem um coração de sábio aceita os mandamentos,
quem é insensato no falar se arruína.
9
Quem anda na integridade anda seguro,
quem falseia seus caminhos será descoberto.
10
Quem pisca com os olhos provoca sofrimento,
quem é insensato no falar se arruina.
11
A boca do justo é fonte de vida,
 enquanto a boca dos ímpios encobre a violência.
12
O ódio provoca rixas,
o amor encobre todos os delitos.
13
Nos lábios do sábio encontra-se a Sabedoria,
nas costas de quem não tem juízo, a vara.
14
Os sábios entesouram o saber,
mas a boca do insensato está perto da ruína.
15
Defesa do rico é a sua fortuna;
ruína dos pobres, a sua indigência.
16
O trabalho do justo conduz à vida,
o ganho do ímpio leva ao pecado.
17
Quem observa a disciplina caminha para a vida,
quem despreza as correções se extravia.
18
Os lábios mentirosos encobrem o ódio,
quem profere injúrias é insensato.
19
No muito falar não faltará o pecado,
ao passo que é muito prudente quem modera os lábios.
20
A boca do justo é prata finíssima,
enquanto o coração dos ímpios nada vale.
21
Os lábios do justo ensinam a muitos,
mas os que não foram instruídos morrerão na ignorância.
22
É a bênção do Senhor que faz os ricos,
e nada lhe acrescenta o nosso esforço.
23
Como por brincadeira, o insensato pratica o crime,
ao passo que a Sabedoria pertence ao prudente.
24
Ao ímpio acontece o que ele teme,
mas aos justos se concede o que desejam.
25
Como um temporal que passa, desaparece o ímpio,
enquanto o justo é como um fundamento seguro.
26
Como vinagre para os dentes e fumaça para os olhos,
assim é o preguiçoso para aqueles que lhe dão uma tarefa.
27
O temor do Senhor prolonga os dias,
enquanto os anos dos ímpios serão abreviados.
28
A expectativa dos justos é alegria,
mas a esperança dos ímpios fracassa.
29
O proceder do Senhor é fortaleza para o íntegro,
mas é terror para os que praticam a maldade.
30
O justo jamais será abalado,
mas os ímpios não habitarão a terra.
31
Na boca do justo germina a Sabedoria,
ao passo que a língua perversa vai ser cortada.
32
Os lábios do justo se ocupam com o que é bom,
mas a boca dos ímpios, com a perversidade.

O justo é premiado,  o ímpio, castigado

11 1 Balança falsa é abominação diante do Senhor,
    o peso exato é de sua vontade.
2
Quando vem a soberba, vem também a injúria;
entre os humildes, porém, está a Sabedoria.
3
  A integridade dos justos os guia,
a falsidade dos perversos os arruina.
4
De nada adiantam as riquezas no dia da vingança,
mas a justiça liberta da morte.
5
A justiça do íntegro fá-lo acertar o seu caminho,
o ímpio se arruina por sua própria impiedade.
6
A justiça dos retos os livrará,
enquanto os iníquos serão colhidos em
suas próprias ciladas.
7
Morto o ímpio, não há mais esperança;
também a expectativa das suas riquezas perecerá.
8
O justo é libertado da sua angústia,
enquanto, em vez dele, é apanhado o ímpio.
9
O hipócrita engana com a boca seu amigo,
mas os justos serão libertados pelo conhecimento.
10
Com o êxito dos justos se alegra a cidade,
como na perdição dos ímpios ela canta de alegria.
11
Com a bênção dos justos prospera a cidade,
pela boca dos ímpios ela se destrói.
12
Quem mostra desprezo pelo próximo não tem bom senso;
quem é prudente mantém-se calado.
13
Quem anda tagarelando revela os segredos;
quem é leal, guarda o que lhe foi confiado.
14
Onde não há diretivas, o povo se arruína;
a salvação se dá no amplo aconselhamento.
15
Será afligido pelo mal quem se torna fiador de um estranho:
quem evita ser fiador estará seguro.
16
Mulher bonita encontra a fama,
e pessoas enérgicas alcançam a riqueza.
A boa conduta é que faz bem
17
Faz bem a sua alma quem é misericordioso;
quem é cruel aflige sua própria carne.
18
O ímpio só produz enganação;
quem semeia a justiça terá recompensa condigna.
19
Quem é firme na justiça prepara a vida;
quem vai atrás dos maus, a morte.
20
É abominável para o Senhor um coração perverso:
o seu agrado está nos que andam com integridade.
21
Cedo ou tarde, o mau não ficará impune,
mas a descendência dos justos se salvará.
22
Anel de ouro em focinho de porco:
tal é a mulher bela, mas insensata.
23
O desejo dos justos é tudo o que é bom,
mas o que aguarda os ímpios é o furor.
24
Alguns repartem o que é seu e tornam-se mais ricos;
outros poupam mais do que é justo e estão sempre na miséria.
25
Quem promove o bem se enriquecerá,
quem dá de beber, mata a própria sede.
26
Quem esconde o trigo será amaldiçoado pelo povo;
mas a bênção estará sobre os que o vendem.
27
Quem procura sempre o bem, procura agradar;
quem, porém, anda à cata de males,
estes lhe sobrevirão.
28
Quem confia nas suas riquezas, cairá;
os justos, porém, como folhas verdes germinarão.
29
Quem perturba a própria casa, herdará o vento;
quem é insensato acabará como escravo do sábio.
30
Árvore da vida é o fruto do justo;
aquele que é sábio cativa as pessoas.
31
Se o justo recebe, aqui na terra, a sua retribuição,
quanto mais o ímpio e o pecador!

“A casa dos justos permanece”

12 1 Quem ama a disciplina ama o conhecimento; quem detesta as repreensões é tolo.
2
Quem é bom recebe o favor do Senhor;
ao trapaceiro, porém, Ele condena.
3
Ninguém se consolidará com a impiedade,
mas a raiz dos justos não será abalada.
4
A mulher diligente é o diadema do seu marido;
a desavergonhada, porém, é a cárie de seus ossos.
5
Os pensamentos dos justos se norteiam pelos preceitos;
os planos dos ímpios são traiçoeiros.
6
As palavras dos ímpios são ciladas mortais;
aos justos, porém, sua boca os salva.
7
Os ímpios são derrubados e já não existem;
a casa dos justos, porém, permanece.
8
Uma pessoa será louvada segundo o seu conhecimento;
quem tem o coração perverso está votado ao desprezo.
9
É melhor o pobre que se mantém a si mesmo,
do que o pretenso rico que sequer tem pão.
10
O justo cuida da vida até de seus animais,
enquanto as entranhas dos ímpios são cruéis.
11
Quem cultiva a sua terra terá alimento em abundância;
quem vai atrás de inutilidades é insensato.
12
O ímpio quer aproveitar-se da rede dos malvados;
mas é a raiz dos justos que prospera.
13
O mau se enreda pelo pecado de seus lábios,
mas o justo escapa da dificuldade.
14
Cada um se fartará de bens segundo as suas palavras,
e em proporção a seu trabalho receberá a recompensa.
15
O proceder do insensato é reto aos seus olhos,
mas quem é sábio atende aos conselhos.
16
O tolo demonstra logo a sua raiva,
enquanto o esperto dissimula a ofensa.
17
Quem profere a verdade manifesta a justiça;
a testemunha mentirosa sustenta a falsidade.
18
   Falastrão falando dá golpe de espada,
a língua dos sábios produz a cura.
19
Quem diz a verdade permanece para sempre,
a língua mentirosa não vai longe.
20
É falso o coração dos que tramam o mal;
aos que promovem a paz, porém,
acompanha-os a alegria.
21
Nenhuma desgraça sobrevirá ao justo,
mas os ímpios serão repletos de males.
22
São uma abominação para o Senhor os lábios mentirosos;
os que agem fielmente, porém, lhe agradam.
23
A pessoa hábil esconde o conhecimento,
enquanto o coração dos tolos solta besteiras.
24
A mão dos que se esforçam chega ao poder;
a dos preguiçosos, porém, acaba na escravidão.
25
A aflição no coração deprime a pessoa,
mas uma palavra de animação lhe traz alegria.
26
O justo conduz o amigo para a retidão,
enquanto o caminho dos maus os desorienta.
27
O preguiçoso nem sequer cozinha a sua caça;
quem é esforçado, porém, adquire uma fortuna valiosa.
28
Na senda da justiça está a vida,
enquanto a estrada larga conduz à morte.

Sabedoria e insensatez

13 1 Filho sábio aceita a disciplina paterna;
    o insolente não ouve quando é advertido.
2
Com o fruto de seus lábios a pessoa se enriquece;
o ânimo dos rebeldes, porém, é só violência.
3
Quem guarda a própria boca preserva a vida;
 quem se descuida no falar causa a própria ruína.
4
O preguiçoso quer e não tem,
aquele que trabalha se enriquece.
5
O justo detesta a palavra mentirosa,
o ímpio causa vergonha e difama.
6
A justiça guarda quem procede retamente;
a impiedade faz cair o pecador.

Ricos e pobres

7 Há quem seja tido por rico, e nada tem;
e há quem se faz de pobre, possuindo muitos bens.
8
A garantia da vida de um rico são as suas riquezas;
quem é pobre não sofre ameaças.
9
A luz dos justos traz alegria,
enquanto a lâmpada dos ímpios se apaga.
10
Entre os soberbos há só contendas;
entre os humildes, Sabedoria.
11
Fortuna rápida logo diminui;
quem junta pouco a pouco, multiplica.
12
Esperança adiada aflige a alma;
desejo que se cumpre é árvore de vida.
Aprender e deixar-se corrigir
13
Quem despreza a palavra, se condena,
quem respeita o preceito, recebe a recompensa.
14
A instrução do sábio é fonte de vida;
ela afasta dos laços da morte.
15
A boa compreensão desperta a simpatia,
o caminho dos traiçoeiros leva ao abismo.
16
Todo astuto age com prudência;
quem é tolo, porém, alardeia a sua estupidez.
17
O mau mensageiro faz cair na desgraça,
enquanto o embaixador fiel traz bem-estar.
18
Miséria e desonra a quem abandona a correção;
o que atende, porém, a quem o censura, será glorificado.
19
Um desejo que se cumpre alegra a alma;
os tolos, porém, não querem fugir do mal.
20
Quem anda com os sábios torna-se sábio;
quem é amigo dos insensatos torna-se mau.
21
Aos maus persegue a desgraça,
aos justos se recompensa com o bem.
22
Quem é bom deixa herança a filhos e netos,
a riqueza do pecador é guardada para o justo.
23
Há muito alimento nas lavouras dos pobres,
mas quem não pratica o direito, se arruina.
24
Quem poupa a vara, odeia seu filho;
quem o ama, corrige-o prontamente.
25
O justo come e se farta;
o ventre dos ímpios, porém, é insaciável.


Provérbios (CNB) 1