Marco (SAV) 9

9 1 E dizia-lhes: Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não experimentarão a morte, enquanto não virem chegar o Reino de Deus com poder.
2
Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E
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transfigurou-se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas.
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Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus.
5
Pedro tomou a palavra: Mestre, é bom para nós estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.
6
Com efeito, não sabia o que falava, porque estavam sobremaneira atemorizados.
7
Formou-se então uma nuvem que os encobriu com a sua sombra; e da nuvem veio uma voz: Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o.
8
E olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles.
9
Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do homem houvesse ressurgido dos mortos.
10
E guardaram esta recomendação consigo, perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos.
11
Depois lhe perguntaram: Por que dizem os fariseus e os escribas que primeiro deve voltar Elias?
12
Respondeu-lhes: Elias deve voltar primeiro e restabelecer tudo em ordem. Como então está escrito acerca do Filho do homem que deve padecer muito e ser desprezado?
13
Mas digo-vos que também Elias já voltou e fizeram-lhe sofrer tudo quanto quiseram, como está escrito dele.

O jovem epiléptico

14 Depois, aproximando-se dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e os escribas a discutir com eles.
15
Todo aquele povo, vendo de surpresa Jesus, acorreu a ele para saudá-lo.
16
Ele lhes perguntou: Que estais discutindo com eles?
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Respondeu um homem dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo.
18
Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a teus discípulos que o expelissem, mas não o puderam.
19
Respondeu-lhes Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei-mo cá!
20
Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando.
21
Jesus perguntou ao pai: Há quanto tempo lhe acontece isto? Desde a infância, respondeu-lhe.
22
E o tem lançado muitas vezes ao fogo e à água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de nós!
23
Disse-lhe Jesus: Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê.
24
Imediatamente exclamou o pai do menino: Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!
25
Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai deste menino e não tornes a entrar nele.
26
E, gritando e maltratando-o extremamente, saiu. O menino ficou como morto, de modo que muitos diziam: Morreu...
27
Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o e ele levantou-se.
28
Depois de entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em particular: Por que não pudemos nós expeli-lo?
29
Ele disse-lhes: Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração.

Segunda predição da Paixão

30 Tendo partido dali, atravessaram a Galiléia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse.
31
E ensinava os seus discípulos: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte.
32
Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de lho perguntar.
33
Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: De que faláveis pelo caminho?
34
Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior.
35
Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.
36
E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes:
37
Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que me enviou.

Inveja

38 João disse-lhe: Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em teu nome, e lho proibimos.
39
Jesus, porém, disse-lhe: Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar mal de mim.
40
Pois quem não é contra nós, é a nosso favor.

Escãndalo

41 E quem vos der de beber um copo de água porque sois de Cristo, digo-vos em verdade: não perderá a sua recompensa.
42
Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!
43
Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível
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.
45
Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível
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.
47
Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo,
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onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga.


49 Porque todo homem será salgado pelo fogo.
50
O sal é uma boa coisa; mas se ele se tornar insípido, com que lhe restituireis o sabor? Tende sal em vós e vivei em paz uns com os outros.

O casamaneto é indissolúvel

10 1 Saindo dali, ele foi para a região da Judéia, além do Jordão. As multidões voltaram a segui-lo pelo caminho e de novo ele pôs-se a ensiná-las, como era seu costume.
2
Chegaram os fariseus e perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher.
3
Ele respondeu-lhes: "Que vos ordenou Moisés?"
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Eles responderam: "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher."
5
Continuou Jesus: "Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei;
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mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.
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Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher;
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e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9
Não separe, pois, o homem o que Deus uniu."
10
Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto.
11
E ele disse-lhes: "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira.
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E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério."

Jesus abençoa as crianças

13 Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.
14
Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham.
15
Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará."
16
Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos.

Perigo das riquezas

17 Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?"
18
Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.
19
Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe."
20
Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."
21
Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
22
Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.
23
E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"
24
Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas!
25
É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."
26
Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"
27
Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.

Promessa do cêntuplo

28 Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."
29
Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho
30
que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna.
31
Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros."

Terceira predição da Paixão

32 Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E tomando novamente a si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer:
33
"Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e entregá-lo-ão aos gentios.
34
Escarnecerão dele, cuspirão nele, açoitá-lo-ão, e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá.
35
Aproximaram-se de; Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: "Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te pedirmos."
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"Que quereis que vos faça?"
37
"Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda."
38
"Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?"
39
"Podemos", asseguraram eles. Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo em que eu devo ser batizado.
40
Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem está destinado."
41
Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.
42
Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas.
43
Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo;
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e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.
45
Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos."

Cura de Bartimeu

46 Chegaram a Jericó. Ao sair dali Jesus, seus discípulos e numerosa multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando, Bartimeu, que era cego, filho de Timeu.
47
Sabendo que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, em compaixão de mim!"
48
Muitos o repreendiam, para que se calasse, mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim!"
49
Jesus parou e disse: "Chamai-o" Chamaram o cego, dizendo-lhe: "Coragem! Levanta-te, ele te chama."
50
Lançando fora a capa, o cego ergueu-se dum salto e foi ter com ele.
51
Jesus, tomando a palavra, perguntou-lhe: "Que queres que te faça? Rabôni, respondeu-lhe o cego, que eu veja!
52
Jesus disse-lhe: Vai, a tua fé te salvou." No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.

Entrada de Jesus em Jerusalem

11 1 Jesus e seus discípulos aproximavam-se de Jerusalém e chegaram aos arredores de Betfagé e de Betânia, perto do monte das Oliveiras. Desse lugar Jesus enviou dois dos seus discípulos,
2
dizendo-lhes: "Ide à aldeia que está defronte de vós e, logo ao entrardes nela, achareis preso um jumentinho, em que não montou ainda homem algum; desprendei-o e trazei-mo.
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E se alguém vos perguntar: Que fazeis?, dizei: O Senhor precisa dele, mas daqui a pouco o devolverá."
4
Indo eles, acharam o jumentinho atado fora, diante duma porta, na curva do caminho. Iam-no desprendendo,
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quando alguns dos que ali estavam perguntaram: "Ei, que estais fazendo? Por que soltais o jumentinho?"
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Responderam como Jesus lhes havia ordenado; e deixaram-no levar.
7
Conduziram a Jesus o jumentinho, cobriram-no com seus mantos, e Jesus montou nele.
8
Muitos estendiam seus mantos no caminho; outros cortavam ramos das árvores e espalhavam-nos, pelo chão.
9
Tanto os que precediam como os que iam atrás clamavam: "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!
10
O Bendito o Rei?.que vai começar, o reino de Davi, nosso pai! Hosana no mais alto dos céus!"

Purificação do templo

11 Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-se ao templo. Aí lançou-os olhos para tudo o que o cercava. Depois, como já fosse tarde, voltou para Betânia com os Doze.
12
No outro dia, ao saírem de Betãnia, Jesus teve fome.
l3 Avistou de longe uma figueira coberta de folhas e foi ver se encontrava nela algum fruto. Aproximou-se da árvore, mas só encontrou folhas pois não era tempo de figos.
14
E disse à figueira: "Jamais alguém coma fruto de ti!" E os discípulos ouviram esta maldição.
15
Chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no templo. E começou a expulsar os que no templo vendiam e compravam; derrubou as mesas dos trocadores de moedas e as cadeiras dos que vendiam pombas.
16
Não consentia que ninguém transportasse algum objeto pelo templo.
17
E ensinava-lhes nestes termos: "`Não está porventura escrito: A minha casa chamar-se-á casa de oração para todas as nações (Is 56,7)? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11).
18 Os príncipes dos sacerdotes e os escribas ouviram-no e procuravam um modo de o matar. Temiam-no, porque todo o povo se admirava da sua doutrina.
19
Quando já era tarde, saíram da cidade.
20
No dia seguinte pela manhã, ao passarem junto da figueira, viram que ela secara até a raiz.
21
Pedro lembrou-se do que se tinha passado na véspera e disse a Jesus: "`Olha, Mestre, como secou a figueira que amaldiçoaste!"
22
Respondeu-lhes Jesus: "Tende fé em Deus.
23
Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre.
24
Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado.
25
E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os vossos pecados.
26
Mas se não perdoardes, tampouco vosso Pai que está nos céus vos perdoará os vossos pecados.]"

Autoridade de Jesus

27 Jesus e seus discípulos voltaram outra vez a Jerusalém. E andando Jesus pelo templo, acercaram-se dele os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos,
28
e perguntaram-lhe: "Com que direito fazes isto? Quem te deu autoridade para fazer essas coisas?"
29
Jesus respondeu-lhes: "Também eu vos farei uma pergunta; respondei-ma, e dir-vos-ei com que direito faço essas coisas.
30
O batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me."
31
E discorriam lá consigo: "Se dissermos: Do céu, ele dirá: Por que razão, pois, não crestes nele?
32
Se, ao contrário, dissermos: Dos homens, tememos o povo." Com efeito, tinham medo do povo, porque todos julgavam ser João deveras um profeta.
33
Responderam a Jesus: "Não o sabemos." "E eu tampouco vos direi, disse Jesus, com que direito faço estas coisas."

Parábola dos vinhateiros homicidas

12 1 E começou a falar-lhes em parábolas. Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a vinhateiros e ausentou-se daquela terra.
2
A seu tempo enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles uma parte do produto da vinha.
3
Ora, eles prenderam-no, feriram-no e reenviaram-no de mãos vazias.
4
Enviou-lhes de novo outro servo; também este feriram na cabeça e o cobriram de afrontas.
5
O senhor enviou-lhes ainda um terceiro, mas o mataram. E enviou outros mais, dos quais feriram uns e mataram outros.
6
Restava-lhe ainda seu filho único, a quem muito amava. Enviou-o também por último a ir ter com eles, dizendo: Terão respeito a meu filho!...
7
Os vinhateiros, porém, disseram uns aos outros: Este é o herdeiro! Vinde, matemo-lo e será nossa a herança!
8
Agarrando-o, mataram-no e lançaram-no fora da vinha.
9
Que fará, pois, o senhor da vinha? Virá e exterminará os vinhateiros e dará a vinha a outro.
10
Nunca lestes estas palavras da Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular.
11
Isto é obra do Senhor, e ela é admirável aos nossos olhos (Ps 117,22s)?
12 Procuravam prendê-lo, mas temiam o povo; porque tinham entendido que a respeito deles dissera esta parábola. E deixando-o, retiraram-se.

Tributo a César

13 Enviaram-lhe alguns fariseus e herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
14
Aproximaram-se dele e disseram-lhe: Mestre, sabemos que és sincero e que não lisonjeias a ninguém; porque não olhas para as aparências dos homens, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. É permitido que se pague o imposto a César ou não? Devemos ou não pagá-lo?
15
Conhecendo-lhes a hipocrisia, respondeu-lhes Jesus: Por que me quereis armar um laço? Mostrai-me um denário.
16
Apresentaram-lho. E ele perguntou-lhes: De quem é esta imagem e a inscrição? De César, responderam-lhe.
17
Jesus então lhes replicou. Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E admiravam-se dele.

Os saduceus e a ressurreição

18 Ora, vieram ter com ele os saduceus, que afirmam não haver ressurreição, e perguntaram-lhe:
19
Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se morrer o irmão de alguém, e deixar mulher sem filhos, seu irmão despo-se a viúva e suscite posteridade a seu irmão.
20
Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência.
21
Então o segundo desposou a viúva, e morreu sem deixar posteridade. Do mesmo modo o terceiro.
22
E assim tomaram-na os sete, e não deixaram filhos. Por último, morreu também a mulher.
23
Na ressurreição, a quem destes pertencerá a mulher? Pois os sete a tiveram por mulher.
24
Jesus respondeu-lhes: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.
25
Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como os anjos nos céus.
26
Mas quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6)?
27 Ele não é Deus de mortos, senão de vivos. Portanto, estais muito errados.

Os dois maiores mandamentos

28 Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
29
Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor;
30
amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças.
31
Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe.
32
Disse-lhe o escriba: Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele.
33
E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios.
34
Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas.

O Messias, filho de Davi

35 Continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: Como dizem os escribas que Cristo é o filho de Davi?
36
Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Ps 109,1).
37 Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho? E a grande multidão ouvia-o com satisfação.

Contra o hipocrisia dos escribas

38 Ele lhes dizia em sua doutrina: Guardai-vos dos escribas que gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas
39
e de sentar-se nas primeiras cadeiras nas sinagogas e nos primeiros lugares nos banquetes.
40
Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso.
41
Jesus sentou-se defronte do cofre de esmola e observava como o povo deitava dinheiro nele; muitos ricos depositavam grandes quantias.
42
Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de apenas um quadrante.
43
E ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou mais do que todos os que lançaram no cofre,
44
porque todos deitaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, da sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento.

Profecia da destruição do templo

13 1 Saindo Jesus do templo, disse-lhe um dos seus discípulos:Mestre, olha que pedras e que construções!
2
Jesus replicou-lhe: Vês este grande edifício? Não se deixará pedra sobre pedra que não seja demolida.
3
E estando sentado no monte das Oliveiras, defronte do templo, perguntaram-lhe à parte Pedro, Tiago, João e André:
4
Dize-nos, quando hão de suceder essas coisas? E por que sinal se saberá que tudo isso se vai realizar?
5
Jesus pôs-se então a dizer-lhes: Cuidai que ninguém vos engane.
6
Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu. E seduzirão a muitos.
7
Quando ouvirdes falar de guerras e de rumores de guerra, não temais; porque é necessário que estas coisas aconteçam, mas não será ainda o fim.
8
Levantar-se-ão nação contra nação e reino contra reino; e haverá terremotos em diversos lugares, e fome. Isto será o princípio das dores.
9
Cuidai de vós mesmos; sereis arrastados diante dos tribunais e açoitados nas sinagogas, e comparecereis diante dos governadores e reis por minha causa, para dar testemunho de mim diante deles.
10
Mas primeiro é necessário que o Evangelho seja pregado a todas as nações.
11
Quando vos levarem para vos entregar, não premediteis no que haveis de dizer, mas dizei o que vos for inspirado naquela hora; porque não sois vós que falais, mas sim o Espírito Santo.
12
O irmão entregará à morte o irmão, e o pai, o filho; e os filhos insurgir-se-ão contra os pais e dar-lhes-ão a morte.
13
E sereis odiados de todos por causa de meu nome. Mas o que perseverar até o fim será salvo.
14
Quando virdes a abominação da desolação no lugar onde não deve estar o leitor entenda , então os que estiverem na Judéia fujam para os montes;
15
o que estiver sobre o terraço não desça nem entre em casa para dela levar alguma coisa;
16
e o que se achar no campo não volte a buscar o seu manto.
17
Ai das mulheres que naqueles dias estiverem grávidas e amamentando!
18
Rogai para que isto não aconteça no inverno!
19
Porque naqueles dias haverá tribulações tais, como não as houve desde o princípio do mundo que Deus criou até agora, nem haverá jamais.
20
Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria; mas ele os abreviou em atenção aos eleitos que escolheu.
21
E se então alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo; ou: Ei-lo acolá, não creiais.
22
Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão sinais e portentos para seduzir, se possível for, até os escolhidos.
23
Ficai de sobreaviso. Eis que vos preveni de tudo.

Volta do Filho do homem

24 Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor;
25
cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas.
26
Então verão o Filho do homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória.
27
Ele enviará os anjos, e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu.
28
Compreendei por uma comparação tirada da figueira. Quando os seus ramos vão ficando tenros e brotam as folhas, sabeis que está perto o verão.
29
Assim também quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está próximo, às portas.
30
Em verdade vos digo: não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
31
Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
32
A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.


33 Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo.
34
Será como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie.
35
Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã,
36
para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo.
37
O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Paixão e ressurreição de Jesus

14 1 Ora, dali a dois dias seria a festa da Páscoa e dos (pães) Ázimos; e os sumos sacerdotes e os escribas buscavam algum meio de prender Jesus à traição para matá-lo.
2
Mas não durante a festa, diziam eles, para não haver talvez algum tumulto entre o povo.
3
Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs à mesa, entrou uma mulher trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço, e, quebrando o vaso, derramou-lho sobre a cabeça.
4
Alguns, porém, ficaram indignados e disseram entre si: Por que este desperdício de bálsamo?
5
Poder-se-ia tê-lo vendido por mais de trezentos denários, e os dar aos pobres. E irritavam-se contra ela.
6
Mas Jesus disse-lhes: Deixai-a. Por que a molestais? Ela me fez uma boa obra.
7
Vós sempre tendes convosco os pobres e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; mas a mim não me tendes sempre.
8
Ela fez o que pode: embalsamou-me antecipadamente o corpo para a sepultura.
9
Em verdade vos digo: onde quer que for pregado em todo o mundo o Evangelho, será contado para sua memória o que ela fez.
10
Judas Iscariotes, um dos Doze, foi avistar-se com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus.
11
A esta notícia, eles alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele buscava ocasião oportuna para o entregar.

A ceia

12 No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava a Páscoa, perguntaram-lhe os discípulos: Onde queres que preparemos a refeição da Páscoa?
13
Ele enviou dois dos seus discípulos, dizendo: Ide à cidade, e sair-vos-á ao encontro um homem, carregando um cântaro de água.
14
Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: O Mestre pergunta: Onde está a sala em que devo comer a Páscoa com os meus discípulos?
15
E ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, mobiliada e pronta. Fazei ali os preparativos.
16
Partiram os discípulos para a cidade e acharam tudo como Jesus lhes havia dito, e prepararam a Páscoa.


17 Chegando a tarde, dirigiu-se ele para lá com os Doze.
18
E enquanto estavam sentados à mesa e comiam, Jesus disse: Em verdade vos digo: um de vós que come comigo me há de entregar.
19
Começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um após outro: Porventura sou eu?
20
Respondeu-lhes ele: É um dos Doze, que se serve comigo do mesmo prato.
21
O Filho do homem vai, segundo o que dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem for traído! Melhor lhe seria que nunca tivesse nascido...


22 Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo.
23
Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam.
24
E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.
25
Em verdade vos digo: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus.
26
Terminado o canto dos Salmos, saíram para o monte das Oliveiras.

Jesus prediz a negação de Pedro

27 E Jesus disse-lhes: Vós todos vos escandalizareis, pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas (Za 13,7).
28 Mas depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galiléia.
29
Entretanto, Pedro lhe respondeu: Ainda que todos se escandalizem de ti, eu, porém, nunca!
30
Jesus disse-lhe: Em verdade te digo: hoje, nesta mesma noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me terás negado.
31
Mas Pedro repetia com maior ardor: Ainda que seja preciso morrer contigo, não te renegarei.E todos disseram o mesmo.

Suprema angústia

32 Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a seus discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto vou orar.
33
Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a ter pavor e a angustiar-se.
34
Disse-lhes: A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai.
35
Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e orava que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.
36
Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres.
37
Em seguida, foi ter com seus discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora!
38
Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.
39
Afastou-se outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras.
40
Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.
41
Voltando pela terceira vez, disse-lhes: Dormi e descansai. Basta! Veio a hora! O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.

Prisão de Jesus

42 Levantai-vos e vamos! Aproxima-se o que me há de entregar.
43
Ainda falava, quando chegou Judas Iscariotes, um dos Doze, e com ele um bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos.
44
Ora, o traidor tinha-lhes dado o seguinte sinal: Aquele a quem eu beijar é ele. Prendei-o e levai-o com cuidado.
45
Assim que ele se aproximou de Jesus, disse: Rabi!, e o beijou.
46
Lançaram-lhe as mãos e o prenderam.
47
Um dos circunstantes tirou da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e decepou-lhe a orelha.
48
Mas Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Como a um bandido, saístes com espadas e cacetes para prender-me!
49
Entretanto, todos os dias estava convosco, ensinando no templo, e não me prendestes. Mas isso acontece para que se cumpram as Escrituras.
50
Então todos o abandonaram e fugiram.
51
Seguia-o um jovem coberto somente de um pano de linho; e prenderam-no.
52
Mas, lançando ele de si o pano de linho, escapou-lhes despido.
53
Conduziram Jesus à casa do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os sacerdotes, escribas e anciãos.
54
Pedro o foi seguindo de longe até dentro do pátio. Sentou-se junto do fogo com os servos e aquecia-se.

Jesus em casa de Caifás

55 Os sumos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para o condenar à morte, mas não o achavam.
56
Muitos diziam falsos testemunhos contra ele, mas seus depoimentos não concordavam.
57
Levantaram-se, então, alguns e deram esse falso testemunho contra ele:
58
Ouvimo-lo dizer: Eu destruirei este templo, feito por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, que não será feito por mãos de homens.
59
Mas nem neste ponto eram coerentes os seus testemunhos.
60
O sumo sacerdote levantou-se no meio da assembléia e perguntou a Jesus: Não respondes nada? O que é isto que dizem contra ti?
61
Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?
62
Jesus respondeu: Eu o sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.
63
O sumo sacerdote rasgou então as suas vestes. Para que desejamos ainda testemunhas?!, exclamou ele.
64
Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece? E unanimemente o julgaram merecedor da morte.
65
Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe: Adivinha! Os servos igualmente davam-lhe bofetadas.

Negação de Pedro

66 Estando Pedro embaixo, no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote.
67
Ela fixou os olhos em Pedro, que se aquecia, e disse: Também tu estavas com Jesus de Nazaré.
68
Ele negou: Não sei, nem compreendo o que dizes. E saiu para a entrada do pátio; e o galo cantou.
69
A criada, que o vira, começou a dizer aos circunstantes: Este faz parte do grupo deles.
70
Mas Pedro negou outra vez. Pouco depois, os que ali estavam diziam de novo a Pedro: Certamente tu és daqueles, pois és galileu.
71
Então ele começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.
72
E imediatamente cantou o galo pela segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe havia dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás. E, lembrando-se disso, rompeu em soluços.

Jesus entregue a Pilatos

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Marco (SAV) 9