Princeps Pastorum PT 33

Eficácia do testemunho da caridade


33 O testemunho dos indivíduos precisa ser confirmado e ampliado pelo da comunidade cristã inteira, à semelhança do que acontecia na estaçâo primaveril da Igreja, quando a união compacta e perseverante de todos os fiéis "no ensino dos Apóstolos e na comum fração do pão e nas orações" (Ac 2,42) e no exercício da mais generosa caridade, era motivo de satisfação profunda e de mútua edificação; com efeito, eles "louvavam a Deus e eram bem vistos por todo o povo. E o Senhor aumentava cada dia aqueles que vinham à salvação" (Ac 2,47).


34 A união nas orações e na participação ativa na celebração dos mistérios divinos na liturgia da Igreja contribui de maneira particularmente eficaz para a plenitude e riqueza da vida cristã dos indivíduos e da comunidade, e é um meio admirável para educar naquela caridade que é o sinal distintivo do cristão; uma caridade que foge de toda discriminação social lingüística e racial, que estende os braços e o coração a todos, irmãos e inimigos. Sobre este assunto apraz-nos fazer nossas as palavras do nosso predecessor S. Clemente Romano: "Quando (os gentios) ouvem de nós que Deus diz: Não há mérito para vós se amais aqueles que vos amam, mas há mérito se amais os inimigos e os que vos odeiam (cf. Lc 6,32-35), ao ouvirem estas palavras eles admiram esse altíssimo grau de caridade. Mas, quando vêem que nós não só não amamos os que nos odeiam, mas nem sequer amamos aqueles que nos amam, eles riem de nós, e o nome de Deus é blasfemado".(35) O maior dos missionários, s. Paulo Apóstolo, escrevendo aos Romanos no momento em que se preparava para evangelizar o extremo Ocidente, exortava à "caridade sem fingimento" (Rm 12,9ss), depois de haver elevado um hino sublime a esta virtude "sem a qual o cristão nada é" (1Co 13,2).

Dever de contribuir para as necessidades materiais da comunidade


35 A caridade torna-se, outrossim, visível no socorro material, como afirmava o nosso imortal predecessor Pio XII: "O corpo exige também uma multidão de membros, unidos entre si para se prestarem mútuo auxílio. Se no nosso organismo mortal, quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele, dando os membros sãos o próprio auxílio aos doentes, igualmente na Igreja todo membro não vive unicamente para si, mas ajuda também os outros para a sua mútua consolação, como também para um melhor desenvolvimento de todo o corpo místico".(36)

30. Ibid. p. 445.
31.Carta enc. Evangelii praecones; AAS 43(1951), p. 510ss.
32. Cf. Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 200-201; Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 78.
33. S. Tomás. Summa Theol.
II-II 3,2, ad 2.
34. S. João Chris. Hom. X in ITm.; Migne, PG LXII, 551.
35. F.X. Funk, Patres Apostolici, vol. I, p. 201.
36. Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 200.


36 As necessidades materiais dos fiéis incluem também a do organismo eclesiástico, e, para isso, é bom que os fiéis nativos se habituem a sustentar espontaneamente, na medida das suas possibilidades, as suas Igrejas, as suas instituições e o clero que a eles se dedicou completamente. Não importa se este contributo não pode ser notável; o importante é que seja testemunho sensível de uma viva consciência cristã.


IV. DIRETRIZES PARA O APOSTOLADO LEIGO NAS MISSÕES


Preparação para o apostolado


37 Os fiéis cristãos, membros de um organismo vivo, não podem ficar encerrados em si mesmos e acreditar que basta ter pensado e providenciado sobre as próprias necessidades espirituais para ter cumprido todo o seu dever. Em vez disso, cada um por sua própria parte deve contribuir para o incremento e para a difusão do reino de Deus na terra. O nosso predecessor Pio XII lembrou a todos este dever universal: "A catolicidade é uma nota essencial da verdadeira Igreja: a tal ponto que um cristão não é verdadeiramente afeiçoado e devotado à Igreja se não é igualmente afeiçoado e devotado à universalidade dela, desejando que ela lance raízes e floresça em todos os lugares da terra".(37)


38 Todos devem entrar numa porfia de santa emulação e dar assíduos testemunhos de zelo para o bem espiritual do próximo, para a defesa da própria fé, para fazê-la conhecer a quem a ignora completamente ou a quem mal a conhece e por isto a julga mal. Desde a infância e desde a adolescência, mesmo nas mais jovens comunidades cristãs é necessário que o clero, as famílias e as várias organizações locais de apostolado inculquem este santo dever. Depois, há algumas ocasiões particularmente felizes, em que tal educação no apostolado pode achar o lugar mais adequado e a expressão mais convincente. Tal é, por exemplo, a preparação dos rapazes e dos neo-batizados para o sacramento da Confirmação, com o qual "é infundida nos crentes uma nova força para defenderem a santa mãe Igreja e a fé que dela receberam";(38) preparação esta sumamente oportuna, especialmente lá onde existem nos costumes locais cerimônias apropriadas de iniciação a fim de preparar os jovens para o ingresso oficial no seu grupo social.

Os catequistas


39 Aqui não podemos deixar de dar o justo relevo à obra dos catequistas, que na longa história das missões católicas se têm demonstrado de insubstituível auxílio. Eles sempre foram o braço direito dos operários do Senhor, e lhes têm compartilhado e aliviado as fadigas a ponto de os nossos predecessores terem podido considerar seu recrutamento e sua formação cuidadosíssima entre os "pontos importantíssimos para a difusão do Evangelho",(39) e os terem definido como "o caso talvez mais clássico do apostolado leigo".(40) A eles renovamos os mais amplos elogios, e exortamo-los a meditarem sempre mais na felicidade espiritual da sua condição e a nunca desistirem de todo esforço para enriquecerem e aprofundarem, sob a guia da hierarquia, a sua instrução e formação moral. Os catecúmenos devem aprender deles não somente os rudimentos da fé, mas também a prática da virtude, o amor grande e sincero a Cristo e à sua Igreja. Todo cuidado dedicado ao aumento do número destes eficacíssimos auxiliares da hierarquia e à sua adequada formação, e todo sacrifício dos catequistas para cumprirem de modo mais apto e perfeito a sua tarefa, será um contributo de imediata eficácia para a fundação e para o progresso das novas comunidades cristãs.


37. Carta enc. Fidei donum: AAS 49(1957), p. 237.
38. Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 201.
39. Cf. Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 78.
40. Cf. Pio XII, Sermão do ano 1957 àqueles que participaram no II Congresso para o apostolado dos leigos católicos de todo o mundo: AAS 49(1957), p. 937.

A Ação Católica


40 Na nossa primeira encíclica já evocamos os múltiplos motivos graves que impõem hoje, em todos os países do mundo, recrutar os leigos "para o pacífico exército da Ação católica, com o intento de os ter como colaboradores no apostolado da hierarquia eclesiástica".(41) Também manifestamos a nossa satisfação por "tudo o que foi feito no passado, mesmo em terras de missão, por esses preciosos colaboradores dos bispos e dos sacerdotes",(42) e queremos aqui renovar, com toda a urgência da caridade que nos impele (cf. 2Cor 2Co 5,14), o aviso e o apelo do nosso predecessor Pio XII "sobre a necessidade de que todos os leigos nas missões, afluindo numerosíssimos às fileiras da Ação católica, colaborem ativamente no apostolado com a hierarquia eclesiástica".(43) Os Bispos dos países de missão, o clero secular e regular, os fiéis mais generosos e preparados, têm realizado os esforços mais louváveis para traduzirem em ato esta vontade do sumo pontífice, e pode-se dizer que em toda parte há, já agora, uma floração de iniciativas e de obras. Nunca, porém, se insistirá bastante sobre a necessidade de adaptar convenientemente esta forma de apostolado às condições e exigências locais. Não basta transferir para um país aquilo que foi feito noutro, mas, sob a guia da hierarquia e no espírito da mais alegre obediência aos sagrados pastores, é preciso fazer com que a organização não resulte numa sobrecarga que estorve ou desperdice preciosas energias, com movimentos fragmentários e de excessiva especialização que, necessários noutra parte, poderiam resultar menos úteis em ambientes onde as circunstâncias e as necessidades são completamente diversas. Na nossa primeira encíclica também prometemos voltar com maior amplitude a este assunto da Ação católica, e a seu tempo também os países de missão poderão tirar dela proveito e impulso novo. Nesse ínterim, trabalhem todos em plena concórdia e com espírito sobrenatural, na convicção de que só assim poderão gloriar-se de pôr as suas forças a serviço da causa de Deus, da elevação espiritual e do melhor progresso dos seus povos.

Formação dos dirigentes leigos


41 A Ação católica é uma organização de leigos "com funções executivas próprias e responsáveis"; (44) os leigos, portanto, compõem-lhe os quadros diretivos. Isto comporta a formação de homens capazes de imprimir às várias associações o impulso apostólico e de lhes assegurar o melhor funcionamento; para isso, homens e mulheres que, por serem dignos de se verem confiar pela hierarquia a direção central ou periférica das associações, devem fornecer as mais amplas garantias de uma formação cristã intelectual e moral solidíssima, em virtude da qual possam, "transfundir nos outros aquilo que com o auxílio da graça divina, já possuem".(45)


42 Bem se pode dizer que a sede natural desta formação dos dirigentes leigos de Ação católica é a escola. E a escola cristã justificará a sua razão de ser na medida em que os seus mestres, sacerdotes e leigos, religiosos e seculares, conseguirem formar sólidos cristãos.


43 Ninguém ignora a importância que sempre teve e terá a escola nos países de missão, e quanta energia a Igreja tem empregado na instituição de escolas de toda ordem e grau, e na defesa da sua existência e prosperidade. Mas, como é óbvio, um programa de formação de dirigentes de Ação católica, dificilmente pode achar o seu lugar nos cursos escolares, para os quais as mais das vezes será necessário confiar-se a iniciativas extra-escolares, que reúnam os jovens de melhores esperanças, para instruí-los e formá-los no apostolado. Para isto, os ordinários procurarâo estudar a melhor forma para dar vida a escolas de apostolado, cujos métodos educativos obviamente são diferentes dos métodos escolares públicos. Às vezes se tratará também de preservar de falsas doutrinas meninos e jovens que são forçados à freqüentar escolas não-católicas; em todo caso será necessário contrabalançar a educação humanística e técnica recebida nas escolas públicas por uma educação espiritual particularmente inteligente e intensa, a fim de que não suceda produzir a instrução indivíduos falsamente evoluídos, cheios de pretensões, e mais nocivos do que úteis à Igreja e aos povos. A sua formação espiritual deve ser proporcional ao seu grau de desenvolvimento intelectual, dirigida a prepará-los para viverem catolicamente no seu ambiente social e profissional, e para, a seu tempo, assumirem o seu lugar na vida católica organizada. Para tal fim, no caso em que jovens cristãos sejam forçados a deixar a sua comunidade para freqüentarem em outras cidades as escolas públicas, será oportuno cogitar da instituição de "pensionatos" e lugares de encontro que lhes assegurem um ambiente religioso e moralmente sadio, conveniente e apto para lhes encaminhar as capacidades e energias para os ideais apostólicos. Atribuindo às escolas uma tarefa especial e particularmente eficaz na formação dos dirigentes de Ação católica, certamente não queremos subtrair às famílias a sua parte de responsabilidade, nem negar a sua influência, que pode ser mesmo mais vigorosa e eficaz do que a da escola, em alimentar em seus filhos a chama do apostolado e em cuidar de uma formação cristã sempre mais madura e aberta à ação. A família é, com efeito, uma escola ideal e insubstituível.

A função do laicato autóctone nos vários ambientes


44 O "bom combate" (2Tm 4,7) pela fé leva-se a efeito não somente no segredo da consciência ou na intimidade do lar, mas também na vida pública em todas as suas formas. Em todos os países do mundo suscitam-se hoje em dia problemas de vária natureza, cujas soluções são procuradas apelando-se, as mais das vezes, só para os recursos humanos, e obedecendo a princípios que nem sempre estão de acordo com as exigências da fé cristã. Além disto, muitos territórios de missão estão atravessando "uma fase de evolução social, econômica e política pejada de conseqüências para o seu futuro".(46) Problemas que em outras nações, ou já foram resolvidos ou acham na tradição elementos de solução, impõem-se a outros países com uma urgência que não é isenta de perigos, enquanto poderia aconselhar soluções apressadas e emprestadas, com deplorável leviandade, por doutrinas que não levam em nenhuma conta, ou positivamente contradizem, os interesses religiosos dos indivíduos e dos povos. Para o seu bem particular e para o bem público da Igreja, os católicos não podem nem ignorar tais problemas, nem esperar que a eles sejam dadas soluções prejudiciais que no futuro exigiriam um esforço bem maior de correção e representariam ulteriores obstáculos à evangelização do mundo.


45 No campo da atividade pública os leigos dos países de missão têm a sua mais direta e preponderante ação, e é necessário providenciar com a máxima oportunidade e urgência para que as comunidades cristãs ofereçam às suas pátrias terrenas, para o seu bem comum, homens que honrem as várias procissões e atividades ao mesmo tempo que honram, com a sua sólida vida cristã, a Igreja que os regenerou para a graça, de modo que os sagrados pastores possam repetir-lhes o louvor que lemos nos escritos de S. Basílio: "Tenho agradecido a Deus Santíssimo pelo fato de que, mesmo estando ocupados nos negócios públicos, não tenhais descurado os negócios da Igreja; ao contrário, cada um de vós tem-se preocupado com eles como se se tratasse de um negócio pessoal do qual depende a sua própria vida".(47)


46 Em particular no campo dos problemas e da organização da escola, da assistência social organizada, do trabalho, da vida política, a presença de peritos católicos poderá ter a mais feliz e benéfica influência se eles souberem - como é seu preciso dever que não os poderiam descurar sem acusação de traição - inspirar as suas intenções e a sua ação nos princípios cristãos, que uma longuíssima história demonstra eficientes e decisivos para proporcionar o bem comum.


47 Para tal fim, como já exortava o nosso predecessor Pio XII, de feliz memória, não será difícil convencer-se da preciosidade e da importância da ajuda fraterna que as Organizações internacionais católicas poderão prestar ao apostolado leigo nos países de missão, quer no plano científico, com o estudo da solução cristã a dar aos problemas especialmente sociais das novas nações, quer no plano apostólico, sobretudo para a organização do laicato cristão ativo. Conhecemos o que já tem sido feito e se vai fazendo por parte de leigos missionários, que escolheram abandonar temporária ou definitivamente a sua pátria para contribuírem com multíplice atividade para o bem social e religioso dos países de missão, e ardentemente rogamos ao Senhor que multiplique as falanges destes generosos e os ampare nas dificuldades e nas fadigas que afrontam com espírito apostólico. Os institutos seculares poderão dar às necessidades do laicato nativo em terra de missão uma ajuda incomparávelmente fecunda, se,com o seu exemplo, suscitarem imitadores e puserem à disposição dos ordinários as suas forças para acelerar o processo de madureza das jovens comunidades.


48 O nosso apelo vai também a todos aqueles leigos católicos que por toda parte se destacam nas profissões e na vida pública, afim de que considerem seriamente a possibilidade de ajudar seus novos irmãos de fé, mesmo sem abandonarem a sua pátria. O seu conselho, a sua experiência, a sua assistência técnica poderão, sem excessivo trabalho e sem graves incômodos, trazer um contributo às vezes resolutivo. Não faltará aos bons o espírito de iniciativa para traduzir na prática este nosso paternal desejo, fazendo-o conhecer lá onde ele puder ser acolhido, incentivando as boas disposições e fazendo achar o seu melhor emprego.

Os estudantes nativos nos países de missão


49 O nosso imediato predecessor exortou os bispos a que, com espírito de colaboração fraterna e desinteressada, provessem à assistência espiritual dos jovens católicos vindos, de países de missão, para as suas dioceses, afim de realizarem os seus estudos e adquirirem experiências que os coloquem em condições de assumirem funções diretivas no seu próprio país.(48) A que perigos intelectuais e morais estejam eles expostos numa sociedade que não é a sua e que infelizmente, muitas vezes, não é capaz de lhes sustentar a fé e incentivar a virtude, cada um de vós, veneráveis irmãos, perceberá, e, movido pela consciência do dever missionário que incumbe a todos os sagrados pastores, proverá a isso com a mais solícita caridade e pelos meios mais adequados. Não vos será difícil descobrir esses estudantes, confiá-los a sacerdotes e leigos particularmente dotados para esse ministério, assisti-los espiritualmente, fazer-lhes sentir e experimentar a fragrância e os recursos da caridade cristã que nos faz todos irmãos e solícitos um do outro. Aos tantos e tão tangíveis auxílios que dais às missões junte-se este, que vos torna mais imediatamente presente um mundo geograficamente distante, mas espiritualmente também vosso.


50 A esses estudantes, depois, queremos não somente dizer todo o nosso amor, mas também dirigir um premente, afetuoso aviso para que levem por toda parte a fronte erguida, marcada pelo sangue de Cristo e pela unção do sagrado crisma, e para que aproveitem a sua permanência no estrangeiro não só para a sua formação profissional, mas também para a ampliação e o aperfeiçoamento da sua formação religiosa. Poderão eles achar-se expostos a muitos danos, mas se acham também na boa ocasião de tirarem muitas vantagens espirituais da sua permanência nas nações católicas, visto que todo cristão, qualquer que seja e em qualquer parte da terra tenha nascido, tem sempre o dever do bom exemplo e da mútua educação espiritual.


CONCLUSÃO

51 Depois de vos haver falado, veneráveis irmãos, sobre as necessidades atuais mais características da Igreja nas terras de missão, não podemos deixar de exprimir a nossa comovida gratidão a todos os que se prodigalizam pela causa da propagação da fé até os extremos confins do mundo. Aos caros missionários do clero secular e regular, às religiosas tão exemplarmente generosas e tão preciosas para as várias necessidades das missões, aos leigos missionários prontamente acorridos às fronteiras da fé, asseguramos as nossas particularíssimas e cotidianas preces e qualquer outro auxílio que esteja em nosso poder prestar. O sucesso da vossa obra, visível mesmo na fecundidade espiritual das jovens comunidades cristãs, é o sinal do agrado e da bênção de Deus, e ao mesmo tempo atestam a solércia e a sabedoria com que a S. Congregação "de Propaganda Fide" e a S. Congregação para a Igreja oriental cumprem os dedicados deveres que lhes são confiados.


52 A todos os Bispos, clero e fiéis das dioceses do mundo inteiro que contribuem com suas preces e com suas ofertas para as necessidades espirituais e materiais das missões, dirigimos o incitamento para intensificarem ainda mais esta necessária colaboração. Não obstante e escassez de clero que preocupa os pastores mesmo das mais antigas dioceses, não se tenha a mínima hesitação em incentivar as vocações missionárias e em se privar de excelentes súditos leigos para os colocar à disposição das novas dioceses. Deste sacrifício não se tardará a colher os frutos sobrenaturais. A emulação de generosidade que vê todos os fiéis do mundo assiduamente empenhados nas manifestações de zelo e de tangível caridade em vantagem das Obras que, na dependência da Sagrada Congregação "de Propaganda Fide", encaminham os socorros provenientes de toda parte para as destinações mais úteis e mais urgentes, aumente tanto quanto incessantemente crescem as necessidades. A caridade solícita e concreta dos irmãos incentivará os fiéis das jovens comunidades, e far-lhes-á sentir o calor de um afeto sobrenatural que a graça alimenta no coração.


53 Muitas dioceses e comunidades cristãs das terras de missão sofrem tormentos e perseguições mesmo sangrentas; aos sagrados pastores que dão aos seus filhos espirituais o exemplo de uma fé que não se deixa dobrar e de uma fidelidade que nunca falta mesmo à custa do sacrifício da vida; aos féis tão duramente provados, mas tão queridos ao Coração de Jesus Cristo, que prometeu a bem-aventurança e uma recompensa copiosa aos que sofrem perseguição por causa da justiça (cf. Mt Mt 5,10-12), endereçamos a nossa exortação para perseverarem na sua santa batalha, visto que o Senhor, sempre misericordioso nos seus desígnios imperscrutáveis, não deixará que lhes falte o socorro das graças mais preciosas e da íntima consolação. Com os perseguidos está, em comunhão de oração e de sofrimentos, toda a Igreja de Deus, segura na sua expectativa de vitória.


54 Invocando com toda a alma, sobre as missões católicas, a eficaz assistência dos seus santos patronos e santos mártires, e de modo especialíssimo a intercessão de Maria santíssima, mãe amorosa de todos nós e rainha das missões, a cada um de vós, veneráveis irmãos, e a todos os que de qualquer maneira colaboram na propagação do reino de Deus, concedemos, com o maior afeto, a bênção apostólica, que seja conciliatória e áuspice das graças do Pai Celeste que se revelou em seu Filho Salvador do mundo e que em todos acenda e multiplique o zelo missionário.

Dada em Roma, junto a S. Pedro, no dia 28 de novembro de 1959, segundo ano do nosso Pontificado.



JOÃO PP. XXIII

41. Cf. Carta enc. Ad Petri Cathedram: AAS 51(1959), p. 523.
42. Ibid.
43. Carta enc. Evangelii praecones: AAS 43(1951), p. 513.
44. Cf. Pio XII, Ep. de Actione Catholica, do dia 11 de outubro de 1946; AAS 38(1946), p. 422; Discursos e Radiomensagens de S.S. Pio XII, VIII, p. 468.
45. Carta enc. Ad Petri Cathedram: AAS 51(1959), p. 524; EE 7/62.
46. Pio XII, Carta enc. Fidei donum; AAS 49(1957), p. 229.
47. Ep. 288; PG, 32, 855.
48. Cf. Carta enc. Fidei donum: AAS 49(1957), p. 245




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