Salmos (SAV) 68

Lamentação em meio à perseguição

68 1 Ao mestre de canto. Segundo a melodia: Os lírios.
2
Salvai-me, ó Deus, porque as águas me vão submergir.
3
Estou imerso num abismo de lodo, no qual não há onde firmar o pé. Vim a dar em águas profundas, encobrem-me as ondas.
4
Já cansado de tanto gritar, enrouqueceu-me a garganta. Finaram-se-me os olhos, enquanto espero meu Deus.
5
Mais numerosos que os cabelos de minha cabeça são os que me detestam sem razão. São mais fortes que meus ossos os meus injustos inimigos. Porventura posso restituir o que não roubei?
6
Vós conheceis, ó Deus, a minha insipiência, e minhas faltas não vos são ocultas.
7
Os que esperam em vós, ó Senhor, Senhor dos exércitos, por minha causa não sejam confundidos. Que os que vos procuram, ó Deus de Israel, não tenham de que se envergonhar por minha causa,
8
pois foi por vós que eu sofri afrontas, cobrindo-se-me o rosto de confusão.
9
Tornei-me um estranho para meus irmãos, um desconhecido para os filhos de minha mãe.
10
É que o zelo de vossa casa me consumiu, e os insultos dos que vos ultrajam caíram sobre mim.
11
Por mortificar minha alma com jejuns, só recebi ultrajes.
12
Por trocar minhas roupas por um saco, tornei-me ludíbrio deles.
13
Falam de mim os que se assentam às portas da cidade, escarnecem-me os que bebem vinho.
14
Minha oração, porém, sobe até vós, Senhor, na hora de vossa misericórdia, ó Deus. Na vossa imensa bondade, escutai-me, segundo a fidelidade de vosso socorro.
15
Tirai-me do lodo, para que não me afunde. Livrai-me dos que me detestam, salvai-me das águas profundas.
16
Não me deixeis submergir nas muitas águas, nem me devore o abismo. Nem se feche sobre mim a boca do poço.
17
Ouvi-me, Senhor, pois que vossa bondade é compassiva; em nome de vossa misericórdia, voltai-vos para mim.
18
Não escondais ao vosso servo a vista de vossa face; atendei-me depressa, pois estou muito atormentado.
19
Aproximai-vos de minha alma, livrai-me de meus inimigos.
20
Bem vedes minha vergonha, confusão e ignomínia. Ante vossos olhos estão os que me perseguem:
21
seus ultrajes abateram meu coração e desfaleci. Esperei em vão quem tivesse compaixão de mim, quem me consolasse, e não encontrei.
22
Puseram fel no meu alimento, na minha sede deram-me vinagre para beber.
23
Torne-se a sua mesa um laço para eles, e uma armadilha para os seus amigos.
24
Que seus olhos se escureçam para não mais ver, que seus passos sejam sempre vacilantes.
25
Despejai sobre eles a vossa cólera, e os atinja o fogo de vossa ira.
26
Seja devastada a sua morada, não haja quem habite em suas tendas,
27
porque perseguiram aquele a quem atingistes, e aumentaram a dor daquele a quem feristes.
28
Deixai-os acumular falta sobre falta, e jamais sejam por vós reconhecidos como justos.
29
Sejam riscados do livro dos vivos, e não se inscrevam os seus nomes entre os justos.
30
Eu, porém, miserável e sofredor, seja protegido, ó Deus, pelo vosso auxílio.
31
Cantarei um cântico de louvor ao nome do Senhor, e o glorificarei com um hino de gratidão.
32
E isto a Deus será mais agradável que um touro, do que um novilho com chifres e unhas.
33
Ó vós, humildes, olhai e alegrai-vos; vós que buscais a Deus, reanime-se o vosso coração,
34
porque o Senhor ouve os necessitados, e seu povo cativo não despreza.
35
Louvem-no os céus e a terra, os mares e tudo o que neles se move.
36
Sim, Deus salvará Sião e reconstruirá as cidades de Judá; para aí hão de voltar e a possuirão.
37
A linhagem de seus servos a receberá em herança, e os que amam o seu nome aí fixarão sua morada.

Na perseguição

69 1 Ao mestre de canto. De Davi. Para servir de lembrança.
2
Comprazei-vos, ó Deus, em me livrar; depressa, Senhor, vinde em meu auxílio.
3
Sejam confundidos e humilhados os que odeiam a minha vida. Recuem e corem de vergonha os que se comprazem com meus males.
4
Afastem-se, cobertos de confusão, os que me dizem: Ah! Ah!
5
Pelo contrário, exultem e se alegrem em vós todos os que vos procuram. Que repitam sem cessar: Glória ao Senhor! aqueles que desejam vosso auxílio.
6
Quanto a mim, sou pobre e desvalido. Socorrei-me, ó Deus, sois meu protetor e libertador. Senhor, não tardeis mais.

Oração do homem que se sente envelhecer

70 1 É em vós, Senhor, que procuro meu refúgio; que minha esperança não seja para sempre confundida.
2
Por vossa justiça, livrai-me, libertai-me; inclinai para mim vossos ouvidos e salvai-me.
3
Sede-me uma rocha protetora, uma cidadela forte para me abrigar: e vós me salvareis, porque sois meu rochedo e minha fortaleza.
4
Meu Deus, livrai-me da mãos do iníquo, das garras do inimigo e do opressor,
5
porque vós sois, ó meu Deus, minha esperança. Senhor, desde a juventude vós sois minha confiança.
6
Em vós eu me apoiei desde que nasci, desde o seio materno sois meu protetor; em vós eu sempre esperei.
7
Tornei-me para a turba um objeto de admiração, mas vós tendes sido meu poderoso apoio.
8
Minha boca andava cheia de vossos louvores, cantando continuamente vossa glória.
9
Na minha velhice não me rejeiteis, ao declinar de minhas forças não me abandoneis.
10
Porque falam de mim meus inimigos e os que me observam conspiram contra mim,
11
dizendo: Deus o abandonou; persegui-o e prendei-o, porque não há ninguém para o livrá-lo.
12
Ó Deus, não vos afasteis de mim. Meu Deus, apressai-vos em me socorrer.
13
Sejam confundidos e pereçam os que atentam contra minha vida, sejam cobertos de vergonha e confusão os que procuram minha desgraça.
14
Eu, porém, hei de esperar sempre, e, dia após dia, vos louvarei mais.
15
Minha boca proclamará vossa justiça e vossos auxílios de todos os dias, sem poder enumerá-los todos.
16
Os portentos de Deus eu narrarei, só a vossa justiça hei de proclamar, Senhor.
17
Vós me tendes instruído, ó Deus, desde minha juventude, e até hoje publico as vossas maravilhas.
18
Na velhice e até os cabelos brancos, ó Deus, não me abandoneis, a fim de que eu anuncie à geração presente a força de vosso braço, e vosso poder à geração vindoura,
19
e vossa justiça, ó Deus, que se eleva à altura dos céus, pela qual vós fizestes coisas grandiosas. Senhor, quem vos é comparável?
20
Vós me fizestes passar por numerosas e amargas tribulações para, de novo, me fazer viver e dos abismos da terra novamente me tirar.
21
Aumentai minha grandeza, e de novo consolai-me.
22
Celebrarei então vossa fidelidade nas cordas da lira, eu vos cantarei na harpa, ó Santo de Israel.
23
Meus lábios e minha alma que resgatastes exultarão de alegria quando eu cantar a vossa glória.
24
E, dia após dia, também minha língua exaltará vossa justiça, porque ficaram cobertos de vergonha e confusão aqueles que buscavam minha perdição.

Desejos de paz ao Messias

71 1 De Salomão. Ó Deus, confiai ao rei os vossos juízos. Entregai a justiça nas mãos do filho real,
2
para que ele governe com justiça vosso povo, e reine sobre vossos humildes servos com eqüidade.
3
Produzirão as montanhas frutos de paz ao vosso povo; e as colinas, frutos de justiça.
4
Ele protegerá os humildes do povo, salvará os filhos dos pobres e abaterá o opressor.
5
Ele viverá tão longamente como dura o sol, tanto quanto ilumina a lua, através das gerações.
6
Descerá como a chuva sobre a relva, como os aguaceiros que embebem a terra.
7
Florescerá em seus dias a justiça, e a abundância da paz até que cesse a lua de brilhar.
8
Ele dominará de um ao outro mar, desde o grande rio até os confins da terra.
9
Diante dele se prosternarão seus inimigos, e seus adversários lamberão o pó.
10
Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons.
11
Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações.
12
Porque ele livrará o infeliz que o invoca, e o miserável que não tem amparo.
13
Ele se apiedará do pobre e do indigente, e salvará a vida dos necessitados.
14
Ele o livrará da injustiça e da opressão, e preciosa será a sua vida ante seus olhos.
15
Assim ele viverá e o ouro da Arábia lhe será ofertado; por ele hão de rezar sempre e o bendirão perpetuamente.
16
Haverá na terra fartura de trigo, suas espigas ondularão no cume das colinas como as ramagens do Líbano; e o povo das cidades florescerá como as ervas dos campos.
17
Seu nome será eternamente bendito, e durará tanto quanto a luz do sol. Nele serão abençoadas todas as tribos da terra, bem-aventurado o proclamarão todas as nações.
18
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que, só ele, faz maravilhas.
19
Bendito seja eternamente seu nome glorioso, e que toda a terra se encha de sua glória. Amém! Amém!
20
Aqui terminam as preces de Davi, filho de Jessé.

TERCEIRO LIVRO (Salmos 72-88)

O mistério da prosperidade dos maus

72 1 Salmo de Asaf. Oh, como Deus é bom para os corações retos, e o Senhor para com aqueles que têm o coração puro!
2
Contudo, meus pés iam resvalar, por pouco não escorreguei,
3
porque me indignava contra os ímpios, vendo o bem-estar dos maus:
4
não existe sofrimento para eles, seus corpos são robustos e sadios.
5
Dos sofrimentos dos mortais não participam, não são atormentados como os outros homens.
6
Eles se adornam com um colar de orgulho, e se cobrem com um manto de arrogância.
7
Da gordura que os incha sai a iniqüidade, e transborda a temeridade.
8
Zombam e falam com malícia, discursam, altivamente, em tom ameaçador.
9
Com seus propósitos afrontam o céu e suas línguas ferem toda a terra.
10
Por isso se volta para eles o meu povo, e bebe com avidez das suas águas.
11
E dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto?
12
Assim são os pecadores que, tranqüilamente, aumentam suas riquezas.
13
Então foi em vão que conservei o coração puro e na inocência lavei as minhas mãos?
14
Pois tenho sofrido muito e sido castigado cada dia.
15
Se eu pensasse: Também vou falar como eles, seria infiel à raça de vossos filhos.
16
Reflito para compreender este problema, mui penosa me pareceu esta tarefa,
17
até o momento em que entrei no vosso santuário e em que me dei conta da sorte que os espera.
18
Sim, vós os colocais num terreno escorregadio, à ruína vós os conduzis.
19
Eis que subitamente se arruinaram, sumiram, destruídos por catástrofe medonha.
20
Como de um sonho ao se despertar, Senhor, levantando-vos, desprezais a sombra deles.
21
Quando eu me exasperava e se me atormentava o coração,
22
eu ignorava, não entendia, como um animal qualquer.
23
Mas estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão.
24
Vossos desígnios me conduzirão, e, por fim, na glória me acolhereis.
25
Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra.
26
Meu coração e minha carne podem já desfalecer, a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus.
27
Sim, perecem aqueles que de vós se apartam, destruís os que procuram satisfação fora de vós.
28
Mas, para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é pôr minha confiança no Senhor Deus, a fim de narrar as vossas maravilhas diante das portas da filha de Sião.

O santuário desolado

73 1 Hino de Asaf. Por que, Senhor, persistis em nos rejeitar? Por que se inflama vossa ira contra as ovelhas de vosso rebanho?
2
Recordai-vos de vosso povo que elegestes outrora, da tribo que resgatastes para vossa possessão, da montanha de Sião onde fizestes vossa morada.
3
Dirigi vossos passos a estes lugares definitivamente devastados; o inimigo tudo destruiu no santuário.
4
Os adversários rugiam no local de vossas assembléias, como troféus hastearam suas bandeiras.
5
Pareciam homens a vibrar o machado na floresta espessa.
6
Rebentaram os portais do templo com malhos e martelos,
7
atearam fogo ao vosso santuário, profanaram, arrasaram a morada do vosso nome.
8
Disseram em seus corações: Destruamo-los todos juntos; incendiai todos os lugares santos da terra.
9
Não vemos mais nossos emblemas, já não há nenhum profeta e ninguém entre nós que saiba até quando...
10
Ó Deus, até quando nos insultará o inimigo? O adversário blasfemará vosso nome para sempre?
11
Por que retirais a vossa mão? Por que guardais vossa destra em vosso seio?
12
Entretanto, Deus é meu rei desde os tempos antigos, ele que opera a salvação por toda a terra.
13
Vosso poder abriu o mar, esmagastes nas águas as cabeças de dragões.
14
Quebrastes as cabeças do Leviatã, e as destes como pasto aos monstros do mar.
15
Fizestes jorrar fontes e torrentes, secastes rios caudalosos.
16
Vosso é o dia, a noite vos pertence: vós criastes a lua e o sol,
17
Vós marcastes à terra seus confins, estabelecestes o inverno e o verão.
18
Lembrai-vos: o inimigo vos insultou, Senhor, e um povo insensato ultrajou o vosso nome.
19
Não abandoneis ao abutre a vida de vossa pomba, não esqueçais para sempre a vida de vossos pobres.
20
Olhai para a vossa aliança, porque todos os recantos da terra são antros de violência.
21
Que os oprimidos não voltem confundidos, que o pobre e o indigente possam louvar o vosso nome.
22
Levantai-vos, ó Deus, defendei a vossa causa. Lembrai-vos das blasfêmias que continuamente vos dirige o insensato.
23
Não olvideis os insultos de vossos adversários, e o tumulto crescente dos que se insurgem contra vós.

A proximidade do juízo divino

74 1 Ao mestre de canto. Não destruas. Salmo de Asaf. Cântico.
2
Nós vos louvamos, Senhor, nós vos louvamos; glorificamos vosso nome e anunciamos vossas maravilhas.
3
No tempo que fixei, julgarei o justo juízo.
4
Vacile, embora, a terra com todos os seus habitantes, fui eu quem deu firmeza às suas colunas.
5
Digo aos arrogantes: Não sejais insolentes; aos ímpios: Não levanteis vossa fronte,
6
não ergais contra o Altíssimo a vossa cabeça, deixai de falar a Deus com tanta insolência.
7
Não é do oriente, nem do ocidente, nem do deserto, nem das montanhas que vem a salvação.
8
Mas Deus é o juiz; a um ele abate, a outro exalta.
9
Há na mão do Senhor uma taça de vinho espumante e aromático. Dela dá de beber. E até as fezes hão de esgotá-la; hão de sorvê-la os ímpios todos da terra.
10
Eu, porém, exultarei para sempre, salmodiarei ao Deus de Jacó.
11
Abaterei todas as potências dos ímpios, enquanto o poder dos justos será exaltado.

Após uma libertação inesperada

75 1 Ao mestre de canto. Com instrumentos de corda. Salmo de Asaf. Cântico.
2
Deus se fez conhecer em Judá, seu nome é grande em Israel.
3
Em Jerusalém está seu tabernáculo, e em Sião a sua morada.
4
Lá ele quebrou as fulminantes flechas do arco, os escudos, as espadas e todas as armas.
5
O esplendor luminoso de vosso poder manifestou-se do alto das eternas montanhas.
6
Foram despojados os guerreiros ousados, eles dormem tranqüilos seu último sono. Os valentes sentiram fraquejar suas mãos.
7
Só com a vossa ameaça, ó Deus de Jacó, ficaram inertes carros e cavalos.
8
Terrível sois, quem vos poderá resistir, diante do furor de vossa cólera?
9
Do alto do céu proclamastes a sentença; calou-se a terra de tanto pavor,
10
quando Deus se levantou para pronunciar a sentença de libertação em favor dos oprimidos da terra.
11
Pois o furor de Edom vos glorificará e os sobreviventes de Emat vos festejarão.
12
Fazei votos ao Senhor vosso Deus e cumpri-os. Todos os que o cercam tragam oferendas ao Deus temível,
13
a ele que abate o orgulho dos grandes e que é temido pelos reis da terra.

Esperança no meio de calamidades

76 1 Ao mestre de canto, segundo Iditum. Salmo de Asaf.
2
Minha voz se eleva para Deus e clamo. Elevo minha voz a Deus para que ele me atenda;
3
No dia de angústia procuro o Senhor. De noite minhas mãos se levantam para ele sem descanso; e, contudo, minha alma recusa toda consolação.
4
Faz-me gemer a lembrança de Deus; na minha meditação, sinto o espírito desfalecer.
5
Vós me conservais os olhos abertos, estou perturbado, falta-me a palavra.
6
Penso nos dias passados,
7
lembro-me dos anos idos. De noite reflito no fundo do coração e, meditando, indaga meu espírito:
8
Porventura Deus nos rejeitará para sempre? Não mais há de nos ser propício?
9
Estancou-se sua misericórdia para o bom? Estará sua promessa desfeita para sempre?
10
Deus se terá esquecido de ter piedade? Ou sua cólera anulou sua clemência?
11
E concluo então: O que me faz sofrer é que a destra do Altíssimo não é mais a mesma...
12
Das ações do Senhor eu me recordo, lembro-me de suas maravilhas de outrora.
13
Reflito em todas vossas obras, e em vossos prodígios eu medito.
14
Ó Deus, santo é o vosso proceder. Que deus há tão grande quanto o nosso Deus?
15
Vós sois o Deus dos prodígios, vosso poder manifestastes entre os povos.
16
Com o poder de vosso braço resgatastes vosso povo, os filhos de Jacó e de José.
17
As águas vos viram, Senhor, as águas vos viram; elas tremeram e as vagas se puseram em movimento.
18
Em torrentes de água as nuvens se tornaram, elas fizeram ouvir a sua voz, de todos os lados fuzilaram vossas flechas.
19
Na procela ribombaram os vossos trovões, os relâmpagos iluminaram o globo; abalou-se com o choque e tremeu a terra toda.
20
Vós vos abristes um caminho pelo mar, uma senda no meio das muitas águas, permanecendo invisíveis vossos passos.
21
Como um rebanho conduzistes vosso povo, pelas mãos de Moisés e de Aarão.

História do povo eleito

77 1 Hino de Asaf. Escuta, ó meu povo, minha doutrina; às palavras de minha boca presta atenção.
2
Abrirei os lábios, pronunciarei sentenças, desvendarei os mistérios das origens.
3
O que ouvimos e aprendemos, através de nossos pais,
4
nada ocultaremos a seus filhos, narrando à geração futura os louvores do Senhor, seu poder e suas obras grandiosas.
5
Ele promulgou uma lei para Jacó, instituiu a legislação de Israel, para que aquilo que confiara a nossos pais, eles o transmitissem a seus filhos,
6
a fim de que a nova geração o conhecesse, e os filhos que lhes nascessem pudessem também contar aos seus.
7
Aprenderiam, assim, a pôr em Deus sua esperança, a não esquecer as divinas obras, a observar as suas leis;
8
e a não se tornar como seus pais, geração rebelde e contumaz, de coração desviado, de espírito infiel a Deus.
9
Os filhos de Efraim, hábeis no arco, voltaram as costas no dia do combate.
10
Não guardaram a divina aliança, recusaram observar a sua lei.
11
Eles esqueceram suas obras, e as maravilhas operadas ante seus olhos.
12
Em presença de seus pais, ainda em terras do Egito, ele fez grandes prodígios nas planícies de Tanis.
13
O mar foi dividido para lhes dar passagem, represando as águas, verticais como um dique;
14
De dia ele os conduziu por trás de uma nuvem, e à noite ao clarão de uma flama.
15
Rochedos foram fendidos por ele no deserto, com torrentes de água os dessedentara.
16
Da pedra fizera jorrar regatos, e manar água como rios.
17
Entretanto, continuaram a pecar contra ele, e a se revoltar contra o Altíssimo no deserto.
18
Provocaram o Senhor em seus corações, reclamando iguarias de suas preferências.
19
E falaram contra Deus: Deus será capaz de nos servir uma mesa no deserto?
20
Eis que feriu a rocha para fazer jorrar dela água em torrentes. Mas poderia ele nos dar pão e preparar carne para seu povo?
21
O Senhor ouviu e se irritou: sua cólera se acendeu contra Jacó, e sua ira se desencadeou contra Israel,
22
porque não tiveram fé em Deus, nem confiaram em seu auxílio.
23
Contudo, ele ordenou às nuvens do alto, e abriu as portas do céu.
24
Fez chover o maná para saciá-los, deu-lhes o trigo do céu.
25
Pôde o homem comer o pão dos fortes, e lhes mandou víveres em abundância,
26
depois fez soprar no céu o vento leste, e seu poder levantou o vento sul.
27
Fez chover carnes, então, como poeira, numerosas aves como as areias do mar,
28
As quais caíram em seus acampamentos, ao redor de suas tendas.
29
Delas comeram até se fartarem, e satisfazerem os seus desejos.
30
Mas apenas o apetite saciaram, estando-lhes na boca ainda o alimento,
31
desencadeia-se contra eles a cólera divina, fazendo perecer a sua elite, e prostrando a juventude de Israel.
32
Malgrado tudo isso, persistiram em pecar, não se deixaram persuadir por seus prodígios.
33
Então, Deus pôs súbito termo a seus dias, e seus anos tiveram repentino fim.
34
Quando os feria, eles o procuravam, e de novo se voltavam para Deus.
35
E se lembravam que Deus era o seu rochedo, e que o Altíssimo lhes era o salvador.
36
Mas suas palavras enganavam, e lhe mentiam com a sua língua.
37
Seus corações não falavam com franqueza, não eram fiéis à sua aliança.
38
Mas ele, por compaixão, perdoava-lhes a falta e não os exterminava. Muitas vezes reteve sua cólera, não se entregando a todo o seu furor.
39
Sabendo que eles eram simples carne, um sopro só, que passa sem voltar.
40
Quantas vezes no deserto o provocaram, e na solidão o afligiram!
41
Recomeçaram a tentar a Deus, a exasperar o Santo de Israel.
42
Esqueceram a obra de suas mãos, no dia em que os livrou do adversário,
43
quando operou seus prodígios no Egito e maravilhas nas planícies de Tânis;
44
quando converteu seus rios em sangue, a fim de impedi-los de beber de suas águas;
45
quando enviou moscas para os devorar e rãs que os infestaram;
46
quando entregou suas colheitas aos pulgões, e aos gafanhotos o fruto de seu trabalho;
47
quando arrasou suas vinhas com o granizo, e suas figueiras com a geada;
48
quando extinguiu seu gado com saraivadas, e seus rebanhos pelos raios;
49
quando descarregou o ardor de sua cólera, indignação, furor, tribulação, um esquadrão de anjos da desgraça.
50
Deu livre curso à sua cólera; longe de preservá-los da morte, ele entregou à peste os seres vivos.
51
Matou os primogênitos no Egito, os primeiros partos nas habitações de Cam,
52
enquanto retirou seu povo como ovelhas, e o fez atravessar o deserto como rebanho.
53
Conduziu-o com firmeza sem nada ter que temer, enquanto aos inimigos os submergiu no mar.
54
Ele os levou para uma terra santa, até os montes que sua destra conquistou.
55
Ele expulsou nações diante deles, distribuiu-lhes as terras como herança, fez habitar em suas tendas as tribos de Israel.
56
Mas ainda tentaram a Deus e provocaram o Altíssimo, e não observaram os seus preceitos.
57
Transviaram-se e prevaricaram como seus pais, erraram o alvo, como um arco mal entesado.
58
Provocaram-lhe a ira com seus lugares altos, e inflamaram-lhe o zelo com seus ídolos.
59
À vista disso Deus se encolerizou e rejeitou Israel severamente.
60
Abandonou o santuário de Silo, tabernáculo onde habitara entre os homens.
61
Deixou conduzir cativa a arca de sua força, permitiu que a arca de sua glória caísse em mãos inimigas.
62
Abandonou seu povo à espada, e se irritou contra a sua herança.
63
O fogo devorou sua juventude, suas filhas não encontraram desponsório.
64
Seus sacerdotes pereceram pelo gládio, e as viúvas não choraram mais seus mortos.
65
Então, o Senhor despertou como de um sono, como se fosse um guerreiro dominado pelo vinho.
66
E feriu pelas costas os inimigos, infligindo-lhes eterna igomínia.
67
Rejeitou o tabernáculo de José, e repeliu a tribo de Efraim.
68
Mas escolheu a de Judá e o monte Sião, monte de predileção.
69
Construiu seu santuário, qual um céu, estável como a terra, firmada para sempre.
70
Escolhendo a Davi, seu servo, e o tomando dos apriscos das ovelhas.
71
Chamou-o do cuidado das ovelhas e suas crias, para apascentar o rebanho de Jacó, seu povo, e de Israel, sua herança.
72
Davi foi para eles um pastor reto de coração, que os dirigiu com mão prudente.

Elegia sobre a destruição de Jerusalém

78 1 Salmo de Asaf. Senhor, povos infiéis invadiram a vossa herança, profanaram o vosso santo templo. De Jerusalém fizeram um montão de ruínas.
2
Os corpos de vossos servos expuseram como pasto às aves, e os de vossos fiéis às feras da terra.
3
Rios de sangue fizeram correr em torno de Jerusalém, e nem sequer havia quem os sepultasse.
4
Tornamo-nos, para nossos vizinhos, objetos de desprezo, de escárnio e zombaria para os povos que nos cercam.
5
Até quando, Senhor?... Será eterna vossa cólera? Será como um braseiro ardente o vosso zelo?
6
Desferi, antes, vossa ira sobre as nações que não vos conhecem, e sobre os reinos que não invocam o vosso nome,
7
pois Jacó foi por eles devorado e devastaram a sua habitação.
8
De nossos antepassados esqueçais as culpas; vossa misericórdia venha logo ao nosso encontro, porque estamos reduzidos a extrema miséria.
9
Ajudai-nos, ó Deus salvador, pela glória de vosso nome; livrai-nos e perdoai-nos os nossos pecados pelo amor de vosso nome.
10
Por que hão de dizer as nações pagãs: Onde está o seu Deus? Mostrai-lhes, a esses pagãos, diante de nossos olhos, que pedireis conta do sangue de vossos fiéis, por eles derramado.
11
Cheguem até vós os gemidos dos cativos: livrai, por vosso braço, os condenados à pena de morte.
12
Sobre as cabeças dos nossos vizinhos recaiam, sete vezes, as injúrias com que vos ultrajaram, Senhor.
13
Quanto a nós, vosso povo e ovelhas de vosso rebanho, glorificaremos a vós perpetuamente; de geração em geração cantaremos os vossos louvores.

Oração pelo povo hebreu cativo

79 1 Ao mestre de canto. Conforme: A lei é como os lírios. Salmo de Asaf.
2
Escutai, ó pastor de Israel, vós que levais José como um rebanho.
3
Vós que assentais acima dos querubins, mostrai vosso esplendor em presença de Efraim, Benjamim e Manassés. Despertai vosso poder, e vinde salvar-nos.
4
Restaurai-nos, ó Senhor; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos.
5
Ó Deus dos exércitos, até quando vos irritareis contra o vosso povo em oração?
6
Vós o nutristes com o pão das lágrimas, e o fizestes sorver um copioso pranto.
7
Vós nos tornastes uma presa disputada dos vizinhos: os inimigos zombam de nós.
8
Restaurai-nos, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos.
9
Uma vinha do Egito vós arrancastes; expulsastes povos para a replantar.
10
O solo vós lhes preparastes; ela lançou raízes nele e se espalhou na terra.
11
As montanhas se cobriram com sua sombra, seus ramos ensombraram os cedros de Deus.
12
Até o mar ela estendeu sua ramagem, e até o rio os seus rebentos.
13
Por que derrubastes os seus muros, de sorte que os passantes a vindimem,
14
e a devaste o javali do mato, e sirva de pasto aos animais do campo?
15
Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha.
16
Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou.
17
Aqueles que a queimaram e cortaram pereçam em vossa presença ameaçadora.
18
Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o homem que haveis fortificado.
19
E não mais de vós nos apartaremos; conservai-nos a vida e então vos louvaremos.
20
Restaurai-nos, Senhor, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos.

Cântico festivo

80 1 Ao mestre de canto. Com a Gitiena. Salmo de Asaf.
2
Exultai em Deus, nosso protetor, aclamai o Deus de Jacó.
3
Tocai o saltério, vibrai os tímbales, tangei a melodiosa harpa e a lira.
4
Ressoai a trombeta na lua nova, na lua cheia, dia de grande festa,
5
porque é uma instituição para Israel, um preceito do Deus de Jacó;
6
uma lei que foi imposta a José, quando ele entrou em luta com o Egito. Eis que ouviu uma língua desconhecida:
7
Aliviei os seus ombros de fardos, já não carregam cestos as suas mãos,
8
na tribulação gritaste para mim e te livrei; da nuvem que troveja eu respondi, junto às águas de Meribá eu te provei.
9
Escuta, ó povo, a minha advertência: Possas tu me ouvir, ó Israel!
10
Não haja em teu meio um deus estranho; nem adores jamais o deus de outro povo.
11
Sou eu, o Senhor, teu Deus, eu que te retirei do Egito; basta abrires a boca e te satisfarei.
12
No entanto, meu povo não ouviu a minha voz, Israel não me quis obedecer.
13
Por isso, os abandonei à dureza de seus corações. Deixei-os que seguissem seus caprichos.
14
Oh, se meu povo me tivesse ouvido, se Israel andasse em meus caminhos!
15
Eu teria logo derrotado seus inimigos, e desceria minha mão contra seus adversários.
16
Os inimigos do Senhor lhes renderiam homenagens, estaria assegurado, para sempre, o destino do meu povo.
17
Eu o teria alimentado com a flor do trigo, e com o mel do rochedo o fartaria.

O julgamento divino contra os juízes iníquos

81 1 Salmo de Asaf. Levanta-se Deus na assembléia divina, entre os deuses profere o seu julgamento.
2
Até quando julgareis iniquamente, favorecendo a causa dos ímpios?
3
Defendei o oprimido e o órfão, fazei justiça ao humilde e ao pobre,
4
livrai o oprimido e o necessitado, tirai-o das garras dos ímpios.
5
Eles não querem saber nem compreender, andam nas trevas, vacilam os fundamentos da terra.
6
Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.
7
Contudo, morrereis como simples homens e, como qualquer príncipe, caireis.
8
Levantai-vos, Senhor, para julgar a terra, porque são vossas todas as nações.

Oração contra a coalizão dos povos vizinhos

82 1 Cântico. Salmo de Asaf
2
Senhor, não fiqueis silencioso, não permaneçais surdo, nem insensível, ó Deus.
3
Porque eis que se tumultuam vossos inimigos, levantam a cabeça aqueles que vos odeiam.
4
Urdem tramas para o vosso povo, conspiram contra vossos protegidos.
5
Vinde, dizem eles, exterminemo-lo dentre os povos, desapareça a própria lembrança do nome de Israel.
6
Com efeito, eles conspiram de comum acordo e contra vós fazem coalizão:
7
os nômades de Edom e os ismaelitas, Moab e os agarenos,
8
Gebal, Amon e Amalec, a Filistéia com as gentes de Tiro.
9
Também os assírios a eles se uniram, e aos filhos de Lot ofereceram a sua força.
10
Tratai-os como Madiã e Sísara, e Jabin junto à torrente de Cison!
11
Eles pereceram todos em Endor e serviram de adubo para a terra.
12
Tratai seus chefes como Oreb e Zeb; como Zebéia e Sálmana, seus príncipes,
13
que disseram: Tomemos posse das terras onde Deus reside.
14
Ó meu Deus, fazei deles como folhas que o turbilhão revolve, como a palha carregada pelo vento,
15
Como o fogo que devora a mata, como a labareda que incendeia os montes;
16
Persegui-os com a vossa tempestade, apavorai-os com o vosso furacão.
17
Cobri-lhes a face da ignomínia, para que, vencidos, busquem, Senhor, o vosso nome.
18
Enchei-os de vergonha e de humilhação eternas, que eles pereçam confundidos.
19
E que reconheçam que só vós, cujo nome é Senhor, sois o Altíssimo sobre toda a terra.

Canto de alegria do peregrino

83 1 Ao mestre de canto. Com a Gitiena. Salmo dos filhos de Coré.
2
Como são amáveis as vossas moradas, Senhor dos exércitos!
3
Minha alma desfalecida se consome suspirando pelos átrios do Senhor. Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo.
4
Até o pássaro encontra um abrigo, e a andorinha faz um ninho para pôr seus filhos. Ah, vossos altares, Senhor dos exércitos, meu rei e meu Deus!
5
Felizes os que habitam em vossa casa, Senhor: aí eles vos louvam para sempre.
6
Feliz o homem cujo socorro está em vós, e só pensa em vossa santa peregrinação.
7
Quando atravessam o vale árido, eles o transformam em fontes, e a chuva do outono vem cobri-los de bênçãos.
8
Seu vigor aumenta à medida que avançam, porque logo verão o Deus dos deuses em Sião.
9
Senhor dos exércitos, escutai minha oração, prestai-me ouvidos, ó Deus de Jacó.
10
Ó Deus, nosso escudo, olhai; vede a face daquele que vos é consagrado.
11
Verdadeiramente, um dia em vossos átrios vale mais que milhares fora deles. Prefiro deter-me no limiar da casa de meu Deus a morar nas tendas dos pecadores.
12
Porque o Senhor Deus é nosso sol e nosso escudo, o Senhor dá a graça e a glória. Ele não recusa os seus bens àqueles que caminham na inocência.
13
Ó Senhor dos exércitos, feliz o homem que em vós confia.

Súplica após a volta do exílio

84 1 Ao mestre de canto. Salmo dos filhos de Coré.
2
Fostes propício, Senhor, à vossa terra; restabelecestes a sorte de Jacó.
3
A iniqüidade de vosso povo perdoastes, foram por vós cobertos seus pecados.
4
Aplacastes toda a vossa cólera, refreastes o furor de vossa ira.
5
Restaurai-nos, ó Deus, nosso salvador, ponde termo à indignação que tínheis contra nós.
6
Acaso será eterna contra nós a vossa cólera? Estendereis vossa ira sobre todas as gerações?
7
Não nos restituireis a vida, para que vosso povo se rejubile em vós?
8
Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia, e dai-nos a vossa salvação.
9
Escutarei o que diz o Senhor Deus, porque ele diz palavras de paz ao seu povo, para seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para ele.
10
Sim, sua salvação está bem perto dos que o temem, de sorte que sua glória retornará à nossa terra.
11
A bondade e a fidelidade outra vez se irão unir, a justiça e a paz de novo se darão as mãos.
12
A verdade brotará da terra, e a justiça olhará do alto do céu.
13
Enfim, o Senhor nos dará seus benefícios, e nossa terra produzirá seu fruto.
14
A justiça caminhará diante dele, e a felicidade lhe seguirá os passos.


Salmos (SAV) 68