Eclesiástico (CNB) 30

 A educação dos filhos

30 1 [Sobre os filhos.]
Quem ama o filho não lhe poupa o chicote,
para poder mais tarde alegrar-se com ele.
2
Quem ensina o filho, colherá fruto nele
e se orgulhará no meio dos familiares.
3
Quem ensina o filho, deixará os inimigos com inveja
e dele se orgulhará no meio dos amigos.
4
Se o pai vem a morrer, é como se não morresse,
pois deixa em seu lugar alguém que lhe é semelhante.
5
Em vida, sentiu alegria ao vê-lo;
na morte não se entristeceu,
*nem teve de envergonhar-se diante dos inimigos;
6
deixou um defensor da casa contra os inimigos
e alguém que retribua os favores aos amigos.
7
Quem mima o filho deverá tratar-lhe as feridas
e, a todo gemido, suas entranhas se perturbarão.
8
Cavalo não domado torna-se recalcitrante:
filho indisciplinado torna-se atrevido.
9
Mima teu filho, e te causará medo;
brinca com ele, e te entristecerá.
10
Não rias com ele, para que não sofras
e não venham, no fim, a embotar-se teus dentes.
11
Não lhe dês poder na juventude,
nem dissimules os seus erros.
12
Dobra-lhe o pescoço enquanto jovem
e bate-lhe nas nádegas enquanto criança,
para que não venha a obstinar-se e a não atender-te,
e não venhas a sofrer em teu íntimo por causa dele.
13
Ensina teu filho e ocupa-te com ele,
para que não venhas a sofrer com a sua depravação.

 Mais vale saúde que riqueza

14 É melhor um pobre são e cheio de forças
do que um rico fraco e atormentado em seu corpo.
15
A saúde do corpo é melhor que todo o ouro e a prata;
e um espírito vigoroso, mais do que imensa fortuna.
16
Não há riqueza maior que a saúde do corpo,
nem contentamento maior que a alegria do coração.
17
É melhor a morte do que uma vida amarga;
e o descanso eterno, mais que uma doença prolongada.
18
Bens expostos ante uma boca fechada
são como exposição de manjares à beira de um túmulo.
19
De que serve ao ídolo a libação?
Ele não come, nem sente o cheiro!
20
Assim é quem foge do Senhor,
*levando consigo a paga da iniqüidade:
21
20bele vê com os olhos e suspira,
como suspira o eunuco, abraçando uma virgem.

 A alegria

22 21Não entregues tua alma à tristeza
e não aflijas a ti mesmo com tuas preocupações.
23
22A alegria do coração é a vida da pessoa,
*tesouro inexaurível de santidade,
a alegria da pessoa prolonga-lhe a vida.
24
23Tem compreensão contigo mesmo e consola teu coração;
afugenta para longe de ti a tristeza.
25
A tristeza matou a muitos e não traz proveito algum;
26
24o ciúme e a raiva abreviam os dias,
como a preocupação traz a velhice antes do tempo.
27
25Um coração luminoso e bom está num contínuo festim;
seus manjares são preparados com capricho.

 Riqueza e cuidados

31 1 A insônia do rico faz definhar o corpo
e a sua preocupação lhe tira o sono;
2
a preocupação da subsistência afasta o sono,
e a doença grave torna o sono instável.
3
O rico labuta para ajuntar riquezas
e, quando repousa, farta-se de suas delícias;
4
o pobre labuta na penúria de sua subsistência
e, quando repousa, encontra-se necessitado.

 O ouro traz perdição

5 Quem ama o ouro não será justificado;
quem persegue o lucro, nele se perderá.
6
Muitos se arruinaram por causa do ouro,
e sua perdição se deu na sua frente.
7
O ouro dos que sacrificam é uma armadilha:
*ai daqueles que andam à sua procura,
pois todo imprudente será por ele apanhado.
8
Feliz do rico que se conservou sem mancha,
que não foi atrás do ouro
*e não pôs sua segurança no dinheiro e nos tesouros.
9
Quem é ele, para que possamos louvá-lo?
Pois fez coisas maravilhosas entre o povo.
10
Quem foi experimentado nesse ponto e se revelou perfeito?
Isto será para ele uma glória eterna.
Quem pôde transgredir a Lei e não a transgrediu,
fazer o mal e não o fez?
11
Por isso, seus bens foram estabelecidos *no Senhor,
e toda a assembléia dos santos proclamará seus benefícios.

 O autocontrole

12 *[Sobre a moderação no comer.]
Estás sentado a uma lauta mesa?
Não abras diante dela por primeiro a tua boca,
13
nem digas: “Que abundância de manjares!”
14
13Lembra-te de que é coisa má o olho cobiçoso,
*pois ao olho cobiçoso o próprio Deus detesta.
15
Que criatura é mais perigosa do que o olho?
Por isso ele verte lágrimas de todas as faces.
16
14Para onde alguém olhar, não sejas tu o primeiro a estender a mão,
*para que, por causa da inveja, não venhas a te envergonhar;
17
e não te acotoveles com ele no mesmo prato.
18
15Avalia os desejos do teu próximo pelos teus
e sê ponderado em todas as tuas palavras.
19
16Serve-te moderadamente dos pratos que te são oferecidos
para que não te tornes odioso, comendo muito.
20
17Sê o primeiro a parar, em sinal de boa educação
e não sejas exagerado, para não vires a impressionar mal.
21
18Se estás sentado no meio de muitos,
não estendas a mão antes deles,
*nem sejas o primeiro a pedir de beber.

 A moderação em tudo

22 19Quão pouco *vinho é suficiente para alguém instruído!
Assim, quando te deitares, não sentirás
seus efeitos nem ficarás indisposto.
23
20bInsônia, cólica e dor de estômago sobrevêm a quem é guloso;
24
20asono saudável, ao contrário, é da pessoa sóbria:
dormirá até de manhã e sentir-se-á contente consigo mesmo.
25
21Se foste forçado a te exceder na comida,
levanta-te, vai vomitar e ficarás aliviado;
*e não atrairás ao teu corpo uma doença.
26
22Ouve-me, filho, não me desprezes,
e no fim compreenderás as minhas palavras.
27
Sê moderado em todas as tuas obras,
e nenhuma doença te atingirá.
28
23Os lábios de muitos bendirão quem é pródigo em dar comida,
e o testemunho de sua bondade é digno de fé;
29
24contra o que é mesquinho, porém, a cidade murmurará,
e é verdadeiro o testemunho de sua mesquinhez.

 Moderação no vinho

30 25Estando a beber vinho, não provoques ninguém;
o vinho arruinou a muitos.
31
26A fornalha prova a têmpera do ferro em brasa:
assim, nas rixas, o vinho revela os corações dos soberbos.
32
27O vinho é como a vida para as pessoas,
desde que o bebas com moderação.
33
Que vida leva aquele a quem falta o vinho?
34
*Que coisa defrauda vida? A morte.
35
O vinho foi criado para a alegria
*e não para a embriaguez, desde o princípio.
36
28Alegria da alma, júbilo e prazer do coração
é o vinho bebido, com moderação, a seu tempo;
37
*saúde da alma e do corpo é a bebida sóbria.
38
30Tomado em excesso, o vinho produz irritação, ira e ruínas.
39
*Vinho tomado em excesso é amargura da alma,
com irritação e ruína.
40
A embriaguez aumenta o furor do insensato para fazê-lo cair,
diminuindo-lhe a força e abrindo feridas.
41
31Num banquete com vinho não provoques o próximo,
nem o desprezes quando está alegre;
42
não lhe digas palavras de injúria,
nem o pressiones com reclamações.

 Comportamento nos banquetes

32 1 Escolheram-te para presidir a festa?
Não te ensoberbeças:
sê entre todos como se fosses um deles.
2
Ocupa-te com eles e depois senta-te;
2cumpridas todas as tuas obrigações,
põe-te à mesa.
3
Então te alegrarás por causa deles e, por razões de mérito, receberás a coroa,
alcançando o reconhecimento dos convidados.

 A palavra do mais velho

4 3Fala, tu que és o mais velho; pois a ti convém
5
a primeira palavra, com comprovada ciência,
mas não impeças a música.
6
4Durante o banquete, não prolongues o discurso
e não faças ostentação de sabedoria inoportunamente.
7
5Como pedra de esmeralda em ornamento de ouro,
assim é o concerto de músicos num banquete com vinho;
8
6como, num engaste de ouro, avulta o sinete de esmeralda,
assim é o conjunto dos músicos com o vinho alegre e moderado.
9
*Ouve calado,
e pelo respeito demonstrado conseguirás a simpatia.

 A palavra do jovem

10 7Adolescente, fala em teu interesse uma vez;
11
duas vezes no máximo, se tiveres sido interrogado.
12
8Repete a fala, dizendo muito em poucas palavras;
porta-te como quem sabe, mas ao mesmo tempo cala-te.
13
9No meio dos grandes não banques o presunçoso;
da mesma forma, onde há idosos não fales muito.
14
10Como o relâmpago vem antes do trovão,
à frente do modesto vai a simpatia.
15
11Na hora de levantar-te, não te demores;
sê o primeiro a retirar-te, voltando para casa.
12Lá te diverte, lá brinca;
16
realiza teus desígnios,
mas não peques com palavras arrogantes.
17
13E por todas essas coisas bendize a Deus,
que te criou e te inebria de todos os seus dons.

 Quem teme o Senhor…

18 14Quem teme o Senhor acolhe a instrução;
quem madrugar para Ele, encontrará a bênção.
19
15Quem procura a Lei, dela será repleto;
quem, porém, age insidiosamente, nela tropeçará.
20
16Os que temem o Senhor encontrarão um juízo justo
e acenderão suas boas obras como um luzeiro.
21
17Um pecador evita a correção
e encontra justificativas segundo o seu capricho.
22
18Uma pessoa de bom senso não despreza a inteligência;
o estrangeiro e o soberbo não têm nenhum temor. [23
]
24
19Filho, nada faças sem reflexão,
e não virás a arrepender-te depois.
25
20Não andes pelo caminho da ruína
e não tropeçarás duas vezes nas pedras;
  21não te metas por um caminho inexplorado
*e não darás à tua alma ocasião de queda.
26
22Guarda-te de teus próprios filhos
*e toma cuidado com os teus servos.
27
23Em tudo o que fazes confia em ti mesmo;
pois também isto é observar os mandamentos.
28
24Quem acredita na Lei atende aos mandamentos:
quem confia no Senhor, não sofrerá dano algum.

 Proteção para quem teme a Deus

33 1 A quem teme o Senhor não sobrevirão males;
antes, Deus o guardará na tentação e o livrará das desgraças.
2
O sábio não aborrece os mandamentos e as normas da justiça,
e não se destroçará como navio na tempestade.
3
A pessoa sensata crê na palavra de Deus;
para ela a Lei é tão digna de fé como, para quem pergunta, o oráculo.
4
Prepara as palavras e serás ouvido no que pedires,
conserva a disciplina e então responderás.
5
Os sentimentos do insensato são como a roda do carro,
e seu raciocínio é como eixo que gira.
6
Amigo zombador é como garanhão;
relincha, sob qualquer um que o monte.

 Desigualdade de condições

7 Por que um dia é mais importante que outro,
se toda a luz do ano vem do mesmo sol?
8
Pela ciência do Senhor foram diferenciados,
9
pois ele é quem distinguiu os tempos
e, neles, os dias festivos.
10
9Alguns dentre eles Deus os exaltou e engrandeceu,
e a outros incluiu no número dos dias comuns.
10Assim também todos os seres humanos
vieram do mesmo solo,
como da terra foi criado Adão.
11
Pela grandeza da sua Sabedoria, porém, o Senhor os distinguiu
e diversificou os seus caminhos:
12
a alguns abençoou e exaltou,
a alguns santificou e aproximou de si;
a outros amaldiçoou e humilhou
e os removeu de suas posições.
13
Como a argila está nas mãos do oleiro
para que a molde e dela disponha a seu bel prazer,
14
assim o ser humano está nas mãos de Quem o fez,
o qual o recompensará segundo o seu julgamento.
15
14Em face do mal está o bem e, em face da morte, a vida;
assim também, em face do justo está o pecador.
15Considera, assim, todas as obras do Altíssimo:
duas a duas, uma em face da outra.

 Experiência pessoal do Mestre

16 Quanto a mim, fui o último a manter-me em vigília,
como quem cata uvas atrás dos vindimadores.
17
Pela bênção de Deus eu também me adiantei
e, como quem vindima, enchi o meu lagar.
18
Vede que não trabalhei só para mim,
mas para todos os que buscam a instrução.
19
Ouvi-me, pois, ó grandes do povo
e vós, dirigentes da assembléia, prestai-me ouvidos!

 Autarquia

20 Ao filho e à mulher, ao irmão e ao amigo
não dês poder sobre ti, durante a vida;
e não entregues a outro as tuas posses,
para não suceder que te arrependas e tenhas de pedi-las de volta.
21
Enquanto ainda vives e respiras,
não te entregues ao poder de ninguém.
22
Pois é melhor que os filhos peçam a ti,
do que tu mesmo teres de olhar para as mãos deles.
23
Em todas as tuas obras mantém a autoridade,
para que não manches a tua reputação.
24
No dia em que terminar o curso de tua vida,
por ocasião de tua morte, então distribui a tua herança.

 Os escravos

25 Para o asno, forragem, vara e carga;
para o servo, pão, disciplina e trabalho.
26
Executa o trabalho por meio do servo, e encontrarás descanso;
deixa-lhe as mãos livres e ele procurará a liberdade.
27
Canga e correia fazem dobrar o pescoço;
tarefas freqüentes mantêm o servo submisso.
28
Para o servo malévolo, tortura e grilhões:
28manda-o ao trabalho, para que não fique ocioso,
29
pois a ociosidade já ensinou muita maldade.
30
29Aplica-o ao trabalho, pois tal lhe convém:
se não atender, submete-o com grilhões.
30 Entretanto, não cometas excessos contra ninguém,
e nada faças de grave contra o direito.

 O servo único

31 Se tens um servo só, estima-o como a ti mesmo,
32bpois precisarás dele como de ti.
32aSe tens um servo só, trata-o como a um irmão,
31bpara que não te indisponhas contra o teu próprio sangue.
32
33Se o tratares mal sem motivo, ele te fugirá;
33
se, levantando-se, afastar-se de ti,
não saberás por qual caminho procurá-lo.

 Os sonhos

34 1 Esperanças vãs e mentirosas são as do insensato,
e os sonhos dão asas aos imprudentes.
2
Como quem agarra uma sombra e persegue o vento,
assim é quem dá atenção às visões da noite.
3
A visão dos sonhos é uma coisa refletindo outra;
é a imagem do rosto diante do próprio rosto.
4
Do impuro, o que de puro pode sair?
e pelo mentiroso, o que pode ser dito de verdadeiro?
5
Adivinhações, horóscopos e sonhos são bobagem:
fantasias de que o coração padece, como as da parturiente.
6
Se do Altíssimo não provier a mensagem,
não lhe entregues teu coração.
7
Os sonhos já fizeram muitos se extraviarem,
e os que neles esperavam caíram.
8
A palavra da Lei será cumprida sem mentira,
e na boca sincera a Sabedoria é perfeita.

 As viagens

9 Quem viajou aprendeu muitas coisas;
quem muito experimentou falará com conhecimento.
10
Quem não passou por provações pouco sabe; aquele que viajou, porém, tem
grande habilidade. [11
]
12
11Viajando, vi muitas coisas e compreendi muitos assuntos.
13
12Algumas vezes estive em perigo de morte,
mas fui salvo, graças a estas convicções:
14
13O espírito dos que temem o Senhor viverá
*e sob o Seu olhar será abençoado.
15
A esperança deles está em Quem os salva
*e os olhos de Deus estão naqueles que o amam.
16
Quem teme o Senhor não tem medo de nada
e não se apavora, porque Ele é a sua esperança.
17
15Feliz aquele que teme o Senhor!
18
Para quem volta ele os olhos?
e quem é a sua fortaleza?
19
16Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem:
protetor poderoso e esteio forte,
abrigo contra o calor e sombra ao meio-dia,
20
defesa no tropeço e auxílio na queda,
17elevando a alma e iluminando os olhos,
dando saúde, vida e bênção.
21
Só o Senhor é para os que nele esperam,
os que caminham na verdade e na justiça.

 Sacrifícios

22 18É manchada a oferta de quem sacrifica de bens iníquos,
e não são bem aceitas as oferendas dos injustos.
23
19O Altíssimo não aprova os dons dos iníquos
*e não olha para as oblações deles,
nem lhes perdoa os pecados por causa
da multidão de seus sacrifícios.
24
19Quem oferece um sacrifício com os bens dos pobres
é como quem imola um filho na presença do pai.
25
21A vida dos pobres é o pão de que necessitam;
quem dele os priva é um assassino.
26
22Quem subtrai o pão do suor
é como quem mata o seu próximo;
27
derrama sangue, quem defrauda o assalariado.
28
23Um edifica, o outro destrói;
que proveito alcançam, senão a aflição?
29
24Um faz orações, o outro maldiz:
de quem Deus vai ouvir a voz?
30
25Quem se lava depois de tocar um morto e novamente o toca:
de que lhe aproveitou a ablução?
31
26Assim é a pessoa que jejua por seus pecados
e depois torna a cometê-los.
Quem ouvirá a sua oração?
ou que lhe adianta ter-se humilhado?

 O sacrifício espiritual

35 1 Aquele que guarda a Lei faz muitas oferendas:
2
sacrifício salutar é cumprir os preceitos. [3 ]
4
2Quem dá graças a Deus oferece flor de farinha;
e quem dá esmolas oferece um sacrifício de louvor.
5
3O que agrada ao Senhor é afastar-se da iniquidade:
propiciar pelos pecados é afastar-se da injustiça.
6
4Mas não te apresentes diante do Senhor de mãos vazias,
7
pois todas estas coisas se fazem por mandamento de Deus.
8
5O sacrifício do justo é uma oferenda de gordura sobre o altar,
e o seu perfume sobe à presença do Altíssimo.
9
6A oblação do justo é aceita e o Senhor não a esquecerá.
10
7Glorifica o Senhor com generosidade
e não regateies as primícias de tuas mãos.
11
8Faze todas as tuas oferendas com semblante alegre,
e com exultação consagra o teu dízimo.
12
9Dá ao Altíssimo segundo a doação que Ele te fez
e com generosidade, segundo o produto
de tuas mãos, 13
10porque o Senhor é alguém que retribui,
e te recompensará sete vezes mais.

 Sacrifícios perversos

14 11Mas não lhe ofereças presentes defeituosos,
pois não os aceitará;
15
nem confies num sacrifício injusto,
12porque o Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas.
16
13Ele não é parcial em prejuízo do pobre,
mas escuta, sim, a súplica do injustiçado.
17
14Jamais despreza a súplica do órfão
nem da viúva, quando esta lhe fala com seus gemidos.
18
15Não correm pelas faces as lágrimas da viúva,
e o seu grito não é contra aquele que as provoca?
19
*Da sua face elas sobem até o céu
e o Senhor, que ouve, não terá prazer em vê-las.
20
16Quem adora a Deus será recebido com agrado
e sua súplica chegará até as nuvens.
21
17A oração do humilde penetra as nuvens
e não se consolará enquanto não se aproximar de Deus;
18e não se afastará, enquanto o Altíssimo não olhar
e o justo juiz não fizer justiça.
22
19Pois o Senhor não tarda,
e o Fortíssimo não usará mais de paciência
20até quebrar as costas dos cruéis
23
e retribuir a vingança às nações,
21 até que desfaça a multidão dos soberbos
e despedace os cetros dos iníquos.
24
22Enfim, ele retribuirá a todos segundo suas ações
e aos crimes da humanidade segundo a sua vã soberba.
25
23Assim realizará a justiça em favor do seu povo
e alegrará os justos com a sua misericórdia.
26
24É formosa a misericórdia no tempo da tribulação,
como a nuvem de chuva no tempo da seca.

 Oração pela libertação de Israel

36 1 Tem piedade de nós, ó Deus do universo,
e olha para nós!
*Mostra-nos a luz das tuas misericórdias
2
e infunde o teu temor nas nações *que
não te procuram.
Assim saberão que não há outro Deus senão tu
e vão ter de narrar os teus prodígios!
3
2Levanta a tua mão contra as nações estrangeiras
para que vejam o teu poder.
4
3Assim como, à sua vista, mostraste em nós a tua santidade,
assim também, à nossa vista, mostra-te grande entre elas.
5
4Que elas te reconheçam, como nós te reconhecemos,
que não há Deus além de ti, Senhor.
6
5Faze novos milagres e renova os prodígios;
7
glorifica a tua mão e fortalece teu braço direito;
8
6excita teu furor e derrama a tua ira;
9
suprime o adversário e aflige o inimigo.
10
7Apressa o tempo e lembra-te de teu desígnio,
para que se publiquem as tuas maravilhas.
11
8Na voracidade das chamas seja consumido quem escapar,
e os que tiranizam teu povo encontrem a ruína.
12
9Esmaga as cabeças dos príncipes dos inimigos,
os que dizem: “Não há outro fora de nós!”
13
10Reúne as tribos todas de Jacó
e dá-lhes a herança, como desde o princípio.
14
11Tem piedade do povo chamado pelo teu nome,
de Israel, a quem trataste como primogênito.
15
12Compadece-te de tua cidade santa,
Jerusalém, lugar do teu repouso.
16
13Enche Sião de tua majestade,
e de tua glória o teu templo.
17
14Dá testemunho daqueles que, desde o
princípio, são tuas criaturas,
e realiza as profecias que em teu nome foram proferidas.
18
15Dá a recompensa aos que esperam em ti,
para que teus profetas sejam reconhecidos como verdadeiros.
16Escuta, Senhor, as orações dos teus servos,
19
pela benevolência que tens para com teu povo,
*e conduze-nos no caminho da justiça.
17E saberão, todos os que habitam a terra,
que tu és o Deus dos séculos.

 Saber distinguir

20 18O estômago aceita qualquer comida,
mas, entre os alimentos, um é melhor do que o outro.
21
19O paladar distingue o sabor da caça;
o coração sensato, as palavras mentirosas.
22
20O coração perverso provoca tristeza,
mas a pessoa experiente lhe revidará.
23
21A mulher recebe qualquer marido,
embora uma jovem seja melhor que a outra.
24
22A beleza da mulher alegra o rosto do marido,
e ultrapassa todo o desejo do homem.
25
23Além disso, se na língua da mulher há cuidado, doçura e bondade,
seu marido não está entre o comum dos mortais.
26
24Quem possui uma boa mulher tem o começo da fortuna:
um auxílio igual a si mesmo e uma coluna de apoio.
27
25Onde não há cerca, será depredada a vinha;
onde não há mulher, o homem vagueia e suspira.
28
26-27Quem confia naquele que não tem ninho
e passa a noite onde quer que ela o surpreenda,
como um assaltante assustado, que corre de cidade em cidade?

 Amigos…

37 1 Todo amigo diz: “Também eu sou teu amigo!”,
mas há amigos que o são apenas de nome.
2
Não é uma dor quase mortal ver o companheiro e amigo tornar-se inimigo?
3
Ó inclinação perversa! De onde foste criada
para cobrir a terra de malícia e de perfídia?
4
Há companheiro que se alegra com o amigo na prosperidade,
mas no tempo da tribulação torna-se adversário;
5
há companheiro que se condói do amigo por causa da comida,
mas, no momento da batalha, segura o escudo.
6
Não te esqueças do amigo em teu coração
e não percas a sua lembrança quando estiveres rico.

 Conselheiros…

7 *Não te aconselhes com quem te
arma ciladas,
e dos que te invejam esconde teu plano.
8
7Todo conselheiro apresenta o seu conselho,
mas há conselheiros que visam o próprio interesse.
9
8Guarda-te de recorrer a qualquer conselheiro
e informa-te primeiro do que ele precisa
– pois ele tem seus próprios interesses.
10
Se não, ele vai lançar a sorte a teu respeito
9e dizer: “O teu caminho é bom!”,
11
ao mesmo tempo que se coloca do outro lado,
para ver o que te acontece.
12
10Não te aconselhes com o invejoso,
e de quem tem ciúme de ti esconde os planos.
11Não te aconselhes com uma mulher a respeito de sua rival,
nem com um medroso, sobre a guerra;
nem com o comerciante, sobre um negócio,
nem com o comprador, sobre uma venda;
nem com o invejoso, sobre um agradecimento,
13
nem com o ímpio, sobre a piedade;
nem com o desonesto, sobre a honestidade,
nem com o operário preguiçoso, sobre um trabalho;
14
nem com o assalariado por ano, sobre o término da tarefa
nem com o servo preguiçoso, sobre muito trabalho:
a nenhum desses deves procurar, para conselho algum.
15
12Ao contrário, freqüenta quem é temente a Deus,
todo aquele que souberes que observa os mandamentos,
16
cujo ânimo é semelhante ao teu
e que, quando titubeares nas trevas,
sofrerá contigo.
17
13E não duvides do que te aconselha o coração,
pois não tens ninguém mais fiel a ti do que ele.
18
14De fato, o ânimo do homem intui às vezes melhor as coisas
do que sete sentinelas postadas no alto para vigiar.
19
15Em todas estas coisas suplica ao Altíssimo
para que dirija teu caminho na verdade.

 A palavra antes da ação

20 16Antes de qualquer tarefa, vem a palavra verdadeira;
antes de cada ação, a decisão firme.
21
17A raiz das decisões é o coração,
e dele brotam quatro ramos:
18o bem e o mal, a vida e a morte;
mas quem os domina é sempre a língua.
22
19Há quem seja hábil para instruir a muitos,
mas para si mesmo é inútil.
23
20Há quem fale com sofismas e se torna detestável:
de todo banquete ficará excluído.
24
21Não lhe foi dada a graça pelo Senhor,
pois está totalmente desprovido de sabedoria.
25
22Há quem seja sábio para si mesmo,
e o fruto do seu bom senso está com ele.
26
23Quem é sábio instrui o povo,
e os frutos do seu bom senso são confiáveis.
27
24O sábio será cumulado de bênçãos,
e todos os que o virem o declararão feliz.
28
25A vida dos mortais tem os dias contados;
os dias de Israel, porém, são sem conta.
29
26O sábio herdará honra no meio do seu povo,
e seu nome viverá para sempre.

 Temperança

30 27Filho, na tua vida põe à prova tua alma:
vê se algo a prejudica e não lho concedas.
31
28Nem tudo convém a todos,
e não a todos agrada qualquer coisa.
32
29Não sejas ávido em banquete algum,
e não te lances sobre todos os pratos.
33
20Pois em muita comida entra a doença,
e a intemperança conduz à cólica.
34
31Pela gula insaciável muitos pereceram;
quem, porém, é sóbrio, prolonga a vida.

 Honra o médico

38 1 Honra o médico, porque ele é necessário;
foi o Altíssimo quem o criou.
2
De Deus lhe vem a Sabedoria,
e do rei ele recebe presentes.
3
A ciência do médico o faz andar de cabeça erguida,
e diante dos grandes será louvado.
4
O Altíssimo faz sair da terra os medicamentos,
e o homem sensato não os rejeita.
5
Não foi por um pedaço de madeira que ficou doce a água,
para que as pessoas reconhecessem assim a força de Deus?
6
O Altíssimo deu aos homens a ciência,
para que pudessem honrá-lo por suas maravilhas.
7
Com os remédios o médico acalma a dor
e, com eles, o farmacêutico prepara os ungüentos:
8
assim, suas obras não ficam inacabadas
e a saúde se difunde sobre a terra.

 Cuida da saúde

9 Filho, se adoeceres, não te descuides,
mas roga ao Senhor, e ele há de curar-te.
10
Evita as faltas, torna reto o agir de tuas mãos
e purifica teu coração de todo pecado;
11
oferece incenso e a oblação de farinha fina,
faze uma oferenda generosa conforme tuas possibilidades
12e recorre ao médico, 12
pois também a ele o Senhor criou.
E ele não se afaste de ti, pois tens necessidade de seus serviços.
13
Chega o momento em que a cura está em suas mãos,
14
pois também eles rogarão ao Senhor para que os dirija no diagnóstico certo e faça acontecer a cura.
15
Peca na presença daquele que o criou quem não se submete ao tratamento do médico.

 O luto

16 Filho, derrama lágrimas por um falecido
e põe-te a chorar, como quem recebeu um duro golpe.
Segundo o costume, encobre o cadáver
e não desprezes a sua sepultura.
17
Chora amargamente, faze a lamentação
18
e observa o luto, segundo ele merece,
durante um dia ou dois, para evitar a maledicência,
e depois consola-te da tristeza.
19
18Pois da tristeza procede com rapidez a morte,
e a tristeza do coração abate as forças.
20
19Na solidão perdura a tristeza,
e uma vida de pobre é maldição para o coração.
21
20Não entregues teu coração à tristeza
mas afasta-a para longe de ti e lembra-te do teu fim.
22
21Não continues recordando o morto, pois não há volta:
em nada o ajudarás, e a ti mesmo prejudicarás.
23
22Lembra-te do seu julgamento, que será também o teu:
ontem para mim, hoje para ti.
24
23Como o morto descansa, deixa também
descansar a sua memória;
consola-te a seu respeito, quando tiver partido o seu espírito.

 As profissões

25 24A sabedoria do escriba é adquirida nas horas de lazer:
quem diminui suas correrias, esse é que se encherá de Sabedoria.
26
25Como se tornará sábio quem conduz o arado
e cuja glória consiste em manejar o aguilhão,
aquele que guia bois e só se ocupa com isso,
e sabe falar apenas de criação de gado?
27
26Seu coração está ocupado com os sulcos que traça;
as suas vigílias, com a forragem das bezerras.
28
27O mesmo acontece com todo artesão e construtor,
os quais, tanto de noite como de dia estão ocupados,
e com aqueles que gravam as figuras dos sinetes,
esforçando-se por variar os desenhos;
eles empenham-se em reproduzir os modelos
e fazem vigílias para concluir a obra.
29
28Assim também o ferreiro, sentado à bigorna,
atento ao trabalho com o ferro;
o vapor do fogo cresta-lhe as carnes
enquanto labuta no calor da fornalha;
30
o ruído do martelo atordoa seus ouvidos,
enquanto seus olhos fixam o modelo a trabalhar;
31
aplica seu coração em acabar os trabalhos,
e amanhece para retocá-los com perfeição.
32
29Do mesmo modo, o oleiro, sentado a trabalhar
e girando o torno com os pés,
continuamente preocupado com sua obra,
pois todo o seu trabalho está contado:
33
30ele molda com o braço a argila
e com os pés quebra-lhe a resistência;
34
aplica seu coração em terminar o polimento
e suas vigílias, para limpar a fornalha.
35
31Todos esses fiam-se de suas mãos
e cada um é sábio em seu ofício.
36
32Sem eles, cidade alguma seria construída,
37
nem se poderia aí habitar nem andar.
33Eles, porém, não serão procurados para o conselho do povo,
nem terão lugar nas assembléias;
38
não se sentarão na cadeira do juiz
nem compreenderão as disposições das leis;
34 não tornarão públicas a instrução e o direito,
nem serão citados nos provérbios.
39
Entretanto, eles garantem os frutos do seu trabalho,
e a sua solicitude está no exercício da sua arte.

 O escriba

39 1 Aquele, porém, que amolda sua
alma no temor de Deus
e medita na lei do Altíssimo,
esse é o que busca a sabedoria de
todos os antigos
e dedica seu tempo às profecias.
2
Esse preserva as narrativas dos
homens célebres
e penetra as subtilezas das parábolas.
3
Investiga o sentido oculto dos provérbios
e aplica-se aos segredos das parábolas.
4
Presta serviço no meio dos grandes
e apresenta-se diante dos príncipes.
5
Percorre as terras das nações estrangeiras,
averiguando o que é bom e mau entre
as pessoas.
6
5Empenha o coração em acordar cedo,
dirigindo-se ao Senhor que o criou
e orando em presença do Altíssimo.
7
Abre sua boca para orar
e pede perdão pelos próprios pecados.
8
6Se o Senhor, em sua grandeza, o quiser,
ele será repleto do espírito de inteligência.
9
Fará chover as palavras da sua Sabedoria,
e em sua oração louvará o Senhor.
10
7Conservará retos o seu conselho e a
sua instrução,
e aprofundará os segredos divinos.
11
8No seu ensino ele exporá publicamente
a instrução,
e se gloriará na Lei da Aliança do Senhor.
12
9Muitos louvarão a sua Sabedoria,
a qual jamais será esquecida.
13
Sua lembrança nunca se apagará,
e seu nome vai ser recordado de geração
em geração.
14
10As nações hão de proclamar sua sabedoria
e a assembléia celebrará o seu louvor.
15
11Se viver muito, terá maior reputação
do que mil outros;
e se morrer, isso lhe terá sido útil.

 Convite a louvar o Senhor

16 12Continuarei refletindo e continuarei a falar;
estou repleto como a lua cheia.
17
13Escutai-me, filhos piedosos, e vossa carne florescerá
como a roseira plantada sobre as águas correntes.
18
14Como o incenso, trescalai um perfume suave,
desabrochai em flores como o lírio.
19
Elevai a voz e entoai cantos de louvor,
bendizendo a Deus por todas as suas obras.
20
15Proclamai a magnificência do seu Nome
e prorrompei na confissão do Seu louvor,
no cântico dos vossos lábios e nas harpas.
Falai assim em vossa louvação:
21
16As obras do Senhor são todas muito boas
e tudo o que Ele ordenou acontecerá, a seu tempo!
Não se deve dizer: “Que é isto?” ou: “Para quê, aquilo?”,
pois todas as coisas terão sua utilidade a seu tempo.
22
17Por sua Palavra, a água se juntou como em represa,
e, ao aceno de sua boca, os reservatórios das águas.
23
18Pois às suas ordens acontece o que lhe agrada
e não há quem diminua sua obra de salvação.
24
19As obras de cada ser humano estão diante dele
e não há nada escondido a seus olhos.
25
20Seu olhar se estende de eternidade em eternidade,
e não há nada que lhe cause admiração.
26
21Não se deve dizer: “Que é isto?” ou:
“Para que aquilo?”,
pois tudo foi criado segundo a sua finalidade.

 Bênção transbordante

27 22A sua bênção recobre tudo como um rio
e, como o dilúvio, inebriou o deserto.
28
23Assim também a sua ira,
dispersará as nações que não o procuraram
29
como quando mudou as águas em salmoura.
24Os seus caminhos são retos para os santos
mas, para os pecadores, a ira divina os enche de obstáculos.
30
25Desde o princípio, as coisas boas foram
criadas para os bons assim como, para os pecadores, bens e males.
31
Para a vida humana, eis as coisas mais necessárias:
a água, o fogo, e o ferro,
o sal, o leite, a farinha de trigo e o mel,
o sumo da uva, o óleo e a roupa.
32
27Todas essas coisas são boas para os santos,
mas para os ímpios e pecadores convertem-se em males.

 O tempo e o vento

33 28Há ventos que foram criados para o castigo,
os quais, enfurecendo-se, aumentam seus flagelos;
34
chegado o tempo de destruir,
desencadeiam sua violência
e acalmam o furor daquele que os fez:
35
29fogo e granizo, fome e morte,
tudo isso foi criado para o castigo.
36
30Os dentes das feras, escorpiões e serpentes,
a espada vingadora para a ruína dos ímpios,
37
31todos se alegram por executar suas ordens;
sobre a terra estarão preparados para quando necessário
e, no momento oportuno, não transgredirão sua palavra.

 Todas as obras do Senhor são boas

38 32Eis por que, desde o princípio, tive a certeza,
aconselhei-me, refleti e deixei escrito:
39
33“Todas as obras do Senhor são boas,
e ele provê à utilidade de todas na hora certa”.
40
34Não se pode dizer: “Isto é pior do que aquilo”,
porque tudo, a seu tempo, será comprovado.
41
35E agora, de todo o coração e com a vossa boca, cantai,
e bendizei o nome do Senhor.

 As dificuldades da vida humana


Eclesiástico (CNB) 30