Eclesiástico (CNB) 1




Prólogo do tradutor grego

(li. 1-6) Muitas e importantes lições nos foram transmitidas pela Lei, pelos Profetas e pelos outros \escritos, que os seguiram. É graças a eles que se deve louvar Israel por sua instrução e sabedoria. Mas não basta que somente aqueles que os lêem se tornem instruídos. Os que se dedicam à Sabedoria devem também ser úteis, tanto pela palavra como por escrito, para os estrangeiros.
(li. 7-14) Eis por que meu avô, Jesus, depois de entregar-se com afinco à leitura da Lei, dos Profetas e dos outros livros que nos foram transmitidos pelos nossos antepassados, e tendo-se feito bastante versado neles, quis também escrever alguma coisa do que se refere à instrução e à sabedoria. E isto para que, tendo-se instruído nestas coisas, os que desejam aprender sintam-se cada vez mais atraídos e se confirmem na vida segundo a Lei.
(li. 15-26) Por isso vos exorto a que procureis fazer sua leitura com benevolência e tanto maior atenção, mostrando também indulgência se, apesar do nosso esforço na interpretação, tivermos falhado em algumas palavras. Pois os vocábulos hebraicos, quando vertidos para outra língua, já não têm a mesma força. E não é só neste escrito. A própria Lei e os Profetas, e o conteúdo dos outros livros, apresentam não pequena diferença, quando lidos no original
(li. 27-35) Foi no ano 38 do tempo do rei Pto­lomeu Evergetes que eu, tendo chegado ao Egito e aí permanecendo bastante tempo, encontrei um exemplar de valor doutrinal não desprezível. Por isso, achei bom e necessário, também da minha parte, empregar algum esforço e dedicação para traduzir este livro. Muitas vigílias e conhecimento empreguei, nesse espaço de tempo, até poder terminar e publicar o volume. E isto também para aqueles que, vivendo em terra estranha, já instruídos em seus costumes, estejam predispostos a viver em conformidade com a Lei.

Sentenças do Sábio

 O mistério da Sabedoria

1 1 Toda Sabedoria vem do Senhor Deus
e com ele esteve sempre, *existindo antes do mundo.
2
Quem pôde contar a areia do mar,
as gotas da chuva, os dias do tempo?
3Quem pôde medir a altura do céu,
a extensão da terra, a profundeza do abismo?
3
*Quem investigou a Sabedoria divina,
que precede todas as coisas?
4
Antes de todas as coisas foi criada a Sabedoria,
a Inteligência prudente existe desde a eternidade.
5
*Fonte da Sabedoria é a palavra de Deus nas alturas
e o acesso a ela são os mandamentos eternos.
6
A quem foi revelada a raiz da Sabedoria?
e suas sutilezas, quem as conheceu?
7
*e a ciência da Sabedoria, a quem
foi revelada e manifestada?
Quem compreendeu sua grande experiência?
8
Só um é o altíssimo, Criador onipotente,
rei poderoso e a quem muito se deve temer,
assentado em seu trono e dominando tudo, Deus.
9
Ele é quem a criou *com seu santo Espírito:
Ele a viu, a enumerou e mediu;
10
Ele a derramou sobre todas as suas obras
10e sobre cada ser humano, segundo a sua bondade.
Ele a concede àqueles que o amam.
11
O temor do Senhor é glória e honra,
alegria e coroa de exultação.
12
O temor do Senhor alegra o coração,
dá contentamento, gozo e vida longa.
13
Para quem teme o Senhor tudo acabará bem,
e será abençoado no dia de sua morte.
14
*O amor de Deus é Sabedoria digna de honra.
15
Àqueles aos quais se manifesta, Deus a
distribuirá para que o vejam
e proclamem suas grandes obras.

 O temor do Senhor, princípio da Sabedoria

16 14Princípio da Sabedoria é o temor do Senhor:
para os fiéis, ela foi criada com eles no seio materno;
15entre os discípulos da verdade foi firmada desde sempre
e a seus descendentes é confiada.
17
*O temor do Senhor é o conhecimento
iluminado pela piedade.
18
A piedade guarda e justifica o coração,
e lhe traz alegria e gozo. [19
]
20
16Plenitude da Sabedoria é temer a Deus:
com seus frutos ela inebria os fiéis;
21
17de coisas preciosas enche toda a sua casa
e, de tesouros, os seus celeiros.
22
18Coroa da Sabedoria é o temor do Senhor,
que faz florir a paz e o fruto da salvação:
23
*uma e outro, porém, são dons de Deus.
24
19bA Sabedoria derrama como chuva a
ciência e a inteligência prudente,
e aumenta a glória dos que a possuem.
25
20Raiz da Sabedoria é temer o Senhor,
e seus ramos são duradouros.
26
*Nos tesouros da Sabedoria estão a inteligência
e o conhecimento iluminado pela piedade;
para os pecadores, porém, a Sabedoria é execração.
27
O temor do Senhor repele o pecado;
quando presente, afasta toda ira.

 Sabedoria e domínio de si

28 22Quem não tem o temor não poderá justificar-se;
a sua irritação sem controle vai levá-lo à ruína.
29
23Quem é paciente resistirá, até o momento oportuno;
depois, a alegria lhe será restituída.
30
24Quem tem bom senso reterá as palavras até o momento oportuno;
e os lábios de muitos proclamarão sua prudência.

 Uma lição instrutiva

31 25Entre os tesouros da Sabedoria está
uma parábola instrutiva;
32
para o pecador, porém, é uma execração o culto a Deus.
33
26Filho, se desejas a Sabedoria, pratica a justiça e Deus a concederá.
34
27Pois Sabedoria e instrução é o temor do Senhor,
e o que lhe agrada 35
é a fé e a mansidão.
36
28Não sejas rebelde ao temor do Senhor,
e não te aproximes dele com o coração dividido.
37
*Não sejas hipócrita diante dos outros
e toma cuidado com os teus lábios.
38
30Não te exaltes a ti mesmo, para que não venhas a cair
e não atraias sobre ti a desonra.
39
Pois o Senhor revelaria teus atos ocultos
e te abateria no meio da assembléia,
40
por te haveres aproximado do temor do Senhor com malícia,
estando teu coração cheio de falsidade e engano.

 O temor de Deus na provação

2 1 Filho, se te apresentas para servir a Deus,
*permanece na justiça e no temor
e prepara tua alma para a provação.
2
Mantém o teu coração firme e sê constante,
*inclina teu ouvido e acolhe as palavras inteligentes,
e não te afobes no tempo da contrariedade.
3
*Suporta as demoras de Deus, agarra-te
a ele e não o largues,
para que sejas sábio em teus caminhos.
4
Tudo o que te acontecer, aceita-o, e sê constante na dor;
na tua humilhação tem paciência,
5
pois é no fogo que o ouro e a prata são provados
e, no cadinho da humilhação, os que são
agradáveis \a Deus.
6
Crê em Deus, e ele cuidará de ti;
espera nele, e dirigirá os teus caminhos;
*conserva seu temor, e nele permanece até à velhice.

 Temor do Senhor e confiança

7 Vós que temeis o Senhor, contai com a sua misericórdia
e não vos desvieis, para não cairdes.
8
Vós que temeis o Senhor, confiai nele,
e a vossa recompensa não falhará.
9
Vós que temeis o Senhor, esperai coisas boas:
alegria duradoura e misericórdia.
10
*Vós que temeis o Senhor, amai-o
e vossos corações ficarão iluminados.
11
10Considerai, filhos, as gerações passadas e vede:
quem confiou no Senhor e ficou desiludido?
12
quem permaneceu nos Seus
mandamentos e foi abandonado?
quem o invocou e foi por ele desprezado?
13
11Pois o Senhor é compassivo e misericordioso,
perdoa os pecados no tempo da tribulação
*e protege todos os que o procuram com sinceridade.

 Ai da duplicidade!

14 12Ai dos corações divididos, dos lábios
criminosos, das mãos depravadas
e do pecador, que pretende entrar *na
terra por dois caminhos!
15
13Ai dos corrompidos de coração, que não crêem,
e por isso não serão protegidos!
16
14Ai de vós, que perdestes a perseverança
*e abandonastes os caminhos retos,
extraviando-vos por caminhos depravados!
17
Que haveis de fazer,
quando o Senhor começar a pedir constas?
18
15Os que temem o Senhor não são
rebeldes às suas palavras,
os que o amam observam seus caminhos.
19
16Os que temem o Senhor procuram o que lhe agrada,
os que o amam saciam-se com a sua Lei.
20
17Os que temem o Senhor preparam seus corações
e na sua presença se purificam
21
*Os que temem o Senhor guardam seus mandamentos
e perseveram até a sua vinda.               
22
Eles dizem: “Mesmo não convertidos
18cairemos nas mãos do Senhor e não nas dos homens,
23
pois tamanha é a sua grandeza,
tão grande é a sua misericórdia!”

 “Honrarás pai e mãe”

3 1 Os discípulos da Sabedoria são uma assembléia de justos
e a sua comunidade é marcada pela obediência e o amor.
2
1Ouvi, ó filhos, a advertência de um pai,
e procedei de tal modo que sejais salvos.
3
2Deus honra o pai nos filhos
e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe.
4
3aQuem honra seu pai intercederá pelos pecados,
*evitará cair neles e será ouvido na
oração quotidiana.
5
4Quem respeita sua mãe
é como alguém que ajunta tesouros.
6
5Quem honra seu pai
terá alegria em seus próprios filhos;
e, no dia em que orar, será atendido.
7
6Quem honra seu pai terá vida longa,
e quem obedece ao pai é o consolo da mãe.
8
7*Quem teme o Senhor honra seus pais
e como a senhores servirá aos que o geraram.
9
8Com obras e palavras honra teu pai,
10
para que dele venha sobre ti a bênção.
11
9A bênção do pai consolida a casa dos filhos,
mas a maldição da mãe destrói até os alicerces.
12
10Não te glories da injúria sofrida por teu pai,
pois não é glória para ti a sua afronta.
13
11A glória de cada um vem da honra de seu pai,
e é uma desonra para o filho a mãe desprezada.
14
12Filho, ampara a velhice de teu pai
e não lhe causes desgosto enquanto vive.
15
13Mesmo que esteja perdendo a lucidez,
sê tolerante com ele
e não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida.
14A ajuda prestada a teu pai não será esquecida,
16
mas será plantada em lugar dos teus pecados
17
e contada como justiça para ti;
15no dia da aflição serás lembrado
e teus pecados se dissolverão, como o gelo em dia de sol.
18
16Como é infame, quem desampara seu pai,
e é amaldiçoado por Deus, quem exaspera sua mãe!

 Humildade e orgulho

19 17Filho, realiza teus trabalhos com mansidão
e serás amado mais do que alguém que dá presentes.
20
18Na medida em que fores grande,
humilha-te em tudo
e assim encontrarás graça diante de Deus.
*Muitos são altaneiros e ilustres,
mas é aos humildes que ele revela seus mistérios.
21
20Pois grande é o poder só de Deus,
e pelos humildes ele é honrado.
22
21Não procures o que é mais alto do que tu
nem investigues o que é mais forte;
22pensa sempre no que Deus te ordenou
e não sejas curioso acerca de *suas muitas obras,
23
pois não precisas ver com teus olhos
o que está escondido.
24
23Não te desdobres em perscrutar coisas supérfluas,
25
pois já te foram mostradas muitas coisas
que excedem a compreensão humana.
26
24A opinião própria já extraviou a muitos,
e a falsa aparência enganou seus pensamentos.
*Sem a pupila, falta-te a luz;
sem o conhecimento, faltará a Sabedoria.
27
26O coração obstinado findará na desgraça;
quem ama o perigo, nele perecerá.
28
*O coração que anda por dois caminhos
não será bem sucedido;
quem é depravado tropeçará neles.
29
27O coração malvado será oprimido de dores;
o pecador acrescenta pecados a pecados.
30
28Para as chagas dos soberbos não há cura,
pois a planta do pecado se enraíza neles
*e nem é percebida.
31
29O coração do sábio captará as palavras dos sábios
e o ouvido atento desejará a Sabedoria.
32
*O coração sábio e inteligente se absterá dos pecados
e praticando a justiça terá bom êxito.
33
30A água apaga o fogo crepitante:
assim a esmola expia os pecados.
34
31Deus está sempre observando quem presta um favor,
lembra-se dele no futuro
e, no momento da queda, ele encontra apoio.

 A esmola

4 1 Filho, não prives da esmola o pobre;
não desvies do pobre os teus olhos.
2
Não entristeças quem tem fome
e não exasperes o pobre em sua indigência.
3
Não aflijas o coração do indigente
e não adies a ajuda ao angustiado.
4
Não rejeites a súplica do aflito
e não desvies do indigente o teu rosto.
5
Do necessitado não desvies com dureza os olhos
e não lhe darás ocasião de amaldiçoar-te por detrás.
6
Pois será ouvida a súplica de quem, amargurado, te amaldiçoar:
há de ouvi-lo aquele que o criou.
7
Torna-te amável na comunidade;
*humilha-te diante do mais velho
e perante a autoridade inclina a cabeça.
8
Inclina ao pobre teu ouvido sem má vontade,
*paga-lhe a tua dívida
e responde-lhe com brandura e mansidão.
9
Livra da mão do opressor o que sofre violência,
e não procedas com aspereza ao julgar.
10
Sê misericordioso com os órfãos como um pai,
e como um esposo para com suas mães;
11
e serás como um filho obediente do Altíssimo,
que se compadecerá de ti mais do que tua mãe.

 A Sabedoria educa

12 11A Sabedoria inspira a vida a seus filhos
e acolhe os que a procuram.
13
12Quem a ama, ama a vida;
os que madrugarem por ela
receberão o gozo da parte do Senhor.
14
13Quem a adquirir, herdará a glória,
onde ela entrar, Deus abençoará.
15
14Os que a servem são obedientes ao Santo;
pois Deus ama os que a amam.
16
15Quem a escutar, julgará as nações;
quem olhar para ela habitará seguro.
17
16Se alguém confiar nela, vai recebê-la em herança,
e na sua posse continuarão seus descendentes.
18
17Ela anda com ele sem se dar a conhecer
e no começo o põe à prova;
19
faz vir sobre ele temor e tremor
e o experimenta com as provas da sua disciplina,
até que ele a conserve em seus pensamentos
e nela deponha sua confiança.
20
18Ela então voltará diretamente a ele e o confirmará,
e lhe dará alegria:
21
revelará a ele os seus segredos
*e lhe confiará o tesouro do conhecimento
e a compreensão da justiça.
22
19Caso, porém, se desvie, ela o abandonará
e o entregará às mãos do inimigo.

 Verdadeira e falsa modéstia

23 20Filho, observa o momento oportuno e
desvia-te do mal;
24
e não passes vergonha diante de ti mesmo.
25
21Pois há vergonha que conduz ao pecado
e há vergonha que traz glória e graça.
26
22Não tenhas preconceito contra ti mesmo
e também a ti mesmo não enganes.
27
Não receies acudir a teu próximo em sua queda
28
23e não retenhas a palavra no momento oportuno,
*nem escondas a sabedoria por respeito humano.
29
24Pela palavra se reconhece a sabedoria
e o bom senso, pela resposta da língua.
30
25Não contradigas de modo algum à verdade
mas sente vergonha da tua ignorância.
31
26aNão te envergonhes de confessar teus pecados
27amas também não te submetas a homem
algum *por causa do pecado.
32
27bNão resistas de frente ao poderoso,
26bcomo não deves opor-te à correnteza do rio.
33
28Luta pela justiça até a morte,
e Deus submeterá teus inimigos diante de ti.
34
29Não sejas ousado na tua língua
e medroso e indolente em tuas obras.
35
30Não sejas como um leão em casa,
amedrontando teus empregados e
oprimindo teus subalternos.
36
31Não tenhas a mão aberta para receber
e fechada, para dar.

 Sobre a riqueza

5 1 Não te apoies nas tuas riquezas
e não digas: “Bastam-me os meus recursos!”
2
Não deixes que tua força
te leve a seguir as paixões do coração.
3
Não digas: “Quem terá poder sobre mim?”
*ou: “Quem me fará prestar contas das minhas ações?”,
pois Deus, com certeza, te punirá.
4
Não digas: “Pequei, e que de mal me aconteceu?”,
pois o Altíssimo é *um retribuidor paciente.
5
Não percas o temor por causa do perdão
acrescentando pecado a pecado.
6
Não digas: “A misericórdia do Senhor é grande,
Ele se compadecerá da multidão dos meus pecados!”,
7
pois tanto a misericórdia como a ira dele
*chegam depressa,
e sua ira se abate sobre os pecadores.
8
7Não demores em voltar para o Senhor
e não adies de um dia para outro,
9
pois sua ira vem de repente
e, no dia da vingança, serás arrebatado.

 Não confiar em riqueza injusta

10 8Não te apoies em riquezas injustas,
pois de nada te valerão no dia da desgraça.
11
9Não joeires a todo vento
e não andes por todos os caminhos:
é assim que o pecador se dá a
conhecer, pela duplicidade da língua.
12
10Sê firme na tua convicção,
*na verdade da tua convicção e no teu conhecimento;
e te acompanhe a palavra da paz e da justiça.
13
11Sê prestimoso para ouvir *a palavra,
a fim de entendê-la,
e lento para dar a resposta.
14
12Se tens a compreensão do assunto, responde;
caso contrário, põe a mão à boca,
*para não seres surpreendido numa palavra
descontrolada e saíres envergonhado.
15
13Honra e ignomínia se encontram na fala;
a língua leva a gente à ruína.
16
14Não te deixes impressionar pelo boato,
e com a tua própria língua não calunies.
17
15cPara o ladrão, a vergonha;
para a pessoa de língua dupla, a má fama;
*para o boateiro, ódio e inimizade e injúria.

6 1 15aNão prejudiques nem pouco nem muito,
nem, de amigo, te transformes em inimigo.
1Herdarás má fama, impropérios e injúrias:
assim é com todo pecador invejoso e de língua dupla.

 Orgulhoso não tem vez

2 Não te exaltes como um touro em teu pensamento
para que a tua força não venha a ser quebrada pela insensatez,
3
e esta devore tuas folhas e estrague teus frutos,
e acabes abandonado como árvore seca no deserto.
4
Uma paixão perversa arruinará aquele que a entretém
e o entrega ao escárnio dos inimigos,
*conduzindo-o à sorte dos ímpios.

 Adquire teu amigo na provação

5 Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos;
uma língua afável profere saudações.
6
Sejam numerosos os que te saúdam,
mas teu conselheiro, um entre mil.
7
Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação;
mas não te apresses em confiar nele.
8
Porque há amigo de ocasião,
que não persevera no dia da desgraça.
9
Há amigo que passa a inimigo,
e que revela as desavenças contigo.
10
Há amigo que é companheiro de mesa
mas que não persevera no dia da necessidade.
11
Quando fores bem sucedido, ele será como teu igual
e, sem cerimônia, dará ordens a teus criados.
12
Mas, se fores humilhado, ele estará contra ti
e se esconderá da tua presença.
13
Afasta-te dos teus inimigos
e toma cuidado com os amigos.
14
Amigo fiel é poderosa proteção:
quem o encontrou, encontrou um tesouro.
15
Ao amigo fiel não há nada que se compare,
pois nada eqüivale ao bem que ele é.
16
Amigo fiel é bálsamo de vida;
os que temem o Senhor vão encontrá-lo.
17
Quem teme o Senhor, orienta bem sua amizade:
como ele é, tal será o seu amigo.

 Como adquirir a sabedoria

18 Filho, desde a juventude recebe a instrução,
e encontrarás sabedoria até a tua velhice.
19
Aproxima-te dela como quem lavra e semeia
e espera seus bons frutos.
20
Trabalharás um pouco no seu cultivo,
mas logo comerás dos seus produtos.
21
20Quão áspera é a Sabedoria para os incultos!
Nela não permanecerá o insensato.
22
21Pesará sobre ele como uma enorme pedra de prova:
ele não tardará em descarregar-se dela.
23
22A instrução corresponde ao que diz o seu nome,
e não é manifesta a muitos;
*naqueles, porém, aos quais se dá a conhecer,
permanece até a presença de Deus.

 O jugo suave da Sabedoria

24 23Ouve, filho, recebe minha advertência
e não rejeites meu conselho.
25
24Mete o teu pé nos seus grilhões
e o teu pescoço na sua coleira;
26
25sujeita teu ombro e carrega-a,
e não te impacientes com os seus grilhões.
27
26Aproxima-te dela com toda a tua disposição
e com todas as forças conserva os seus caminhos.
28
27Investiga e perscruta, procura e a encontrarás
e, tendo-a encontrado, não a abandones.
29
28No fim, encontrarás nela teu descanso
e ela se transformará em teu contentamento.
30
29Seus grilhões se mudarão em proteção da tua força
e as suas coleiras, em estola gloriosa;
31
30há nela ornamentos de ouro
e suas cadeias são laços de púrpura.
32
31Tu a endossarás como uma estola gloriosa
e como coroa de regozijo a cingirás.

 A companhia dos sábios

33 32Filho, se prestares atenção, aprenderás;
se aplicares teu espírito, serás prudente.
34
33Se gostares de ouvir, receberás a instrução;
se inclinares teu ouvido, serás sábio.
35
34Permanece no meio dos anciãos
e de coração adere à sua sabedoria;
procura ouvir toda exposição sobre Deus
e não te escapem os provérbios inteligentes.
36
Se vires alguém sensato, madruga junto dele,
e teu pé gaste os degraus da sua porta.
37
Fixa teu pensamento nos preceitos de Deus
e sê muito assíduo nos seus mandamentos:
ele confirmará teu coração
e o desejo da Sabedoria te será dado.

 O que evitar e o que fazer

7 1 Não faças coisas más, e os males não virão sobre ti.
2
Afasta-te da iniqüidade, e ela se afastará de ti.
3
Filho, não semeies nos sulcos da injustiça
e não colherás sete vezes mais.
4
Não peças do Senhor o mando nem, do rei, a cátedra de honra.
5
Não te justifiques diante de Deus,
*pois Ele é conhecedor do coração;
e diante do rei não queiras parecer sábio.
6
Não procures tornar-te juiz,
a não ser que possas com firmeza
enfrentar as iniqüidades;
para que não aconteça temeres à vista dos poderosos
e acabes comprometendo a tua integridade.
7
Não ofendas a multidão de uma cidade
nem te metas no meio do povo.
8
Não acrescentes pecado a pecado,
pois nem por um só estarás impune.
9
10Não sejas impaciente na tua oração,
10
e não descuides de orar nem de dar esmola.
11
9Não digas: “Deus olhará para a multidão de minhas dádivas”
e: “Oferecendo meus dons ao Deus altíssimo, ele os receberá”.
12
11Não escarneças de alguém que esteja amargurado;
pois Deus, que tudo vê, é quem humilha e exalta.
13
12Não inventes mentira contra teu irmão;
nem contra o amigo, da mesma forma.
14
13Não te dê vontade de proferir mentira alguma,
pois o hábito de fazê-lo não é bom.
15
14Não sejas tagarela no meio dos anciãos,
e não repitas palavras em tua fala.
16
15Não desdenhes as tarefas difíceis,
nem o trabalho do campo, criado pelo Altíssimo.
17
16Não te alistes na multidão dos indisciplinados;
18
lembra-te da ira \divina, pois não tardará.
19
17Humilha profundamente o teu espírito
pois o castigo do ímpio é o fogo e os vermes.
20
18Não troques amigo por dinheiro
nem, pelo ouro de Ofir, um irmão querido.
21
19Não te separes da mulher sensata e boa
*que recebeste em sorte no temor do Senhor:
a graça da sua modéstia vale mais do que o ouro.
22
20Não maltrates o servo que trabalha fielmente,
nem o assalariado, que expõe sua vida.
23
21O servo sensato seja-te querido como a tua alma:
não o defraudes da sua liberdade
*nem o deixes sair na indigência.
24
22Tens rebanhos? Cuida deles
e, se te são úteis, continuem contigo.
25
23Tens filhos? Educa-os e dobra o pescoço deles desde a infância.
26
24Tens filhas? Guarda seu corpo e não mostres teu rosto complacente para elas.
27
25Casa tua filha, e terás feito grande negócio;
entrega-a, porém, a um homem sensato.
28
26Se tens mulher segundo o teu coração, não a repudies;
mas não te entregues à que é odiosa.

 Honrar pai e mãe e os sacerdotes

29 27De todo o coração honra teu pai
e não te esqueças dos gemidos de tua mãe.
30
Lembra-te de que, se não fosse por eles, não terias nascido.
Como lhes retribuirás o que fizeram por ti?
31
29Com toda a tua alma teme a Deus
e respeita seus sacerdotes.
32
30Com todas as tuas forças ama aquele que te fez
e não abandones os seus ministros.
33
31Honra a Deus *com toda a tua alma
e reverencia seus sacerdotes.
34
Dá-lhes a sua parte, como te foi prescrito:
primícias, oferta de purificação e pela inadvertência,
35
a oferenda das espáduas,
o sacrifício da santificação e as primícias das coisas santas.

 Estende a mão ao pobre

36 32Estende a tua mão ao pobre,
para que a tua propiciação e tua bênção sejam perfeitas.
37
33Tua generosidade atinja todos os viventes:
mesmo aos mortos não recuses a tua piedade.
38
34Não deixes de consolar os que choram,
aflige-te com os que estão aflitos.
39
35Não hesites em visitar os doentes:
assim hás de ser confirmado na estima de todos.
40
37Em todas as tuas obras lembra-te do teu fim
e jamais pecarás.

 Prudência e tradição

8 1 Não entres em processo contra um poderoso,
para que não venhas a cair em suas mãos.
2
Não contendas com um rico,
para que não venha a empregar contra ti o seu dinheiro.
3
Pois o ouro prejudicou a muitos
e a prata subverte até o coração dos reis.
4
3Não litigues com o tagarela:
não jogues lenha na sua fogueira.
5
4Não tenhas familiaridade com o ignorante,
para não seres desprezado pelos príncipes.
6
5Não desprezes aquele que se afasta do pecado *e não o censures:
lembra-te de que todos merecemos castigo.
7
6Não desprezes alguém na sua velhice,
pois nós também ficaremos velhos.
8
    7Não te alegres com a morte *do inimigo;
lembra-te de que todos morreremos *e
não queremos ser ridicularizados.
9
8Não desprezes a fala de velhos sábios
e sejam-te familiares os seus provérbios:
10
deles aprenderás a sabedoria e a instrução da inteligência
e a arte de servir aos grandes sem falha.
11
9Não te escape o que contam os velhos,
pois eles o aprenderam de seus pais:
12
deles aprenderás a inteligência
e a arte de responder na hora oportuna.
13
10Não acendas os carvões dos pecadores,
*repreendendo-os,
para que não sejas abrasado pela chama dos seus pecados.
14
11Não te mantenhas junto ao insolente,
para que não se ponha a armar laços às tuas palavras.
15
12Não emprestes a alguém mais poderoso do que tu:
o que lhe emprestares, considera-o perdido.
16
13Não fiques de fiador acima de tuas posses:
se fiares, pensa em como pagar.
17
14Não movas processo contra um juiz,
pois ele julga segundo o seu arbítrio.
18
15Não partas em viagem com um fanfarrão,
para que não agraves os teus males:
pois ele age segundo o seu capricho
e acabarás perecendo por causa da sua insensatez.
19
16Não tenhas rixas com alguém colérico
nem vás com ele ao descampado:
pois o sangue é quase nada a seus olhos
e, onde não possas pedir socorro, te estrangulará.
20
17Não te aconselhes com os estultos:
pois não poderão ocultar o teu segredo.
21
18Diante do estranho, nada faças que exija reserva,
pois não sabes o que planeja dentro de si.
22
19Não abras teu coração a qualquer um,
para que não venhas a afastar de ti a felicidade.

 Sobre as mulheres

9 1 Não tenhas ciúme da tua esposa,
para que ela não pense mal de ti!
2
Não dês à mulher poder sobre ti,
para que não se meta no que é da tua
competência *e passes vergonha.
3
Não te dirijas a uma mulher da vida,
para que não venhas a cair em seus laços.
4
Não freqüentes a sedutora nem a ouças,
para que não venhas a perecer por seus atrativos.
5
Não fixes o olhar numa virgem,
para que não venhas a cair por sua beleza.
6
Não te entregues às prostitutas
*em momento algum,
para que não venhas *a perder-te e a
perder a tua herança.
7
Não circules os olhos pelas ruelas da cidade
nem vagueies por suas praças.
8
Desvia teu olhar da mulher enfeitada
e não olhes com curiosidade para a beleza alheia.
9
Pela beleza de uma mulher muitos pereceram,
pois daí se abrasa a concupiscência como o fogo. [10
-11 ]
12
9Jamais te sentes à mesa com mulher casada
nem te recostes a seu lado a beber vinho,
13
para que teu coração não venha a inclinar-se para ela
e, apaixonado, escorregues para a perdição.

 Sobre os homens

14 10Não abandones um velho amigo:
o novo não será semelhante a ele.
15
Amigo novo é como vinho novo:
quando ficar velho, o beberás com gosto.
16
11Não tenhas inveja da glória e das riquezas do pecador,
pois não sabes como vai ser a sua queda.
17
12Não te agrade a prosperidade dos injustos,
sabendo que não ficarão impunes até descerem ao abismo.
18
13Fica longe de quem tem o poder de matar,
e não passarás pelo medo da morte;
19
se, porém, dele te aproximares,
nada cometas que possa levá-lo a tirar-te a vida.
20
Fica sabendo que andas perto da morte,
pois caminhas no meio de laços e andas sobre redes.
21
14Segundo a tua capacidade, convive com teu próximo
e relaciona-te com os sábios *e prudentes.
22
15Com o sensato esteja o teu pensamento,
e toda a tua conversação aborde os preceitos *do Altíssimo.
23
16Os justos sejam os teus convidados
e no temor de Deus esteja a tua ufania.
24
17As obras dos operários são louvados
pela habilidade de suas mãos;
o chefe do povo, pela sabedoria do seu discurso,
*e a palavra dos anciãos, pela sua sensatez.
25
18É terrível, em sua cidade, o homem de língua solta;
quem é temerário nas palavras será odiado.

 Sobre o governo

10 1 O governante sábio organiza seu povo,
e a autoridade de quem é sensato será estável.
2
Qual o governante do povo, tais serão seus ministros;
qual o prefeito da cidade, tais serão seus habitantes.
3
Um rei sem bom senso arruinará seu povo;
as cidades se povoarão pela sensatez de seus chefes.
4
Na mão de Deus está o domínio da terra,
e a seu tempo ele suscitará um governante adequado.
5
Na mão do Senhor está a prosperidade humana,
e é ele quem investe de autoridade o escriba.

 Orgulho e humildade

6 Por qualquer agravo do próximo não retribuas,
e nada faças com ímpetos de soberba.
7
A soberba é odiosa diante de Deus e do próximo,
e a ambos é execrável toda opressão.
8
O reino é transferido de uma nação para outra
por causa de injustiças e afrontas e riquezas fraudulentas.
9
*Nada é mais criminoso do que o avarento,
pois chega a pôr à venda a própria alma.
10
9Por que se ensoberbece quem é terra e cinza,
aquele que ainda em vida expele as próprias entranhas?
11
10A doença prolongada fatiga o médico;
*a doença passageira o deixa sereno.
12
Para todo potentado a vida é breve;
assim, hoje é rei e amanhã estará morrendo.
13
11Quando o homem morrer,
terá por herança as serpentes, as feras e os vermes.

 O princípio da soberba

14 12Princípio da soberba do homem é afastar-se de Deus:
daquele que o fez, o seu coração se aparta.
15
13Pois o princípio de todo pecado é a soberba:
quem a tiver, fará ferver a maldição
*e ela, no fim, o destruirá.
16
Por isso, Deus tornou espantosas as pragas dos maus
e os destruiu até exterminá-los.
17
14Os tronos dos chefes soberbos, Deus os destruiu
e fez os não-violentos sentarem-se em lugar deles.
18
15Deus arrancou as raízes dos povos soberbos
e plantou os humildes em seu lugar.
19
16O Senhor subverteu os territórios das nações
e as destruiu até os fundamentos.
20
17Desolou muitas delas e as dispersou,
e fez apagar sua lembrança de sobre a terra.
21
*Deus anulou a memória dos soberbos,
mas preservou a memória dos humildes.
22
18Não foi criada para os humanos a soberba,
nem a raiva, para os nascidos das mulheres.

 Gente que se preze

23 19Descendência honrada é a que teme a Deus;
descendência, porém, desonrada, a que
transgride os mandamentos do Senhor.
24
20No meio dos irmãos é honrado aquele que os lidera;
assim, aos olhos do Senhor, aqueles que o temem.
25
22Forasteiro, migrante e pobre:
a glória deles é o temor de Deus.
26
23Não desprezes o justo pobre
e não engrandeças o pecador rico.
27
24O grande, o juiz e o magnata são honrados,
mas não superam quem teme a Deus.
28
25Os livres servirão a um servo sensato;
quem é prudente e disciplinado não reclamará, quando corrigido.
29
26Não te ensoberbeças ao fazeres teu trabalho,
nem te glories no tempo da aflição.
30
27É melhor quem trabalha, e tem abundância de tudo,
do que quem conta vantagens, e sequer tem um pão.
31
28Filho, com modéstia cuida da tua vida
e dá-lhe o alimento e cultivo que merece.
32
29Pois quem justificará o que peca contra si mesmo?
e quem honrará o que desonra a si mesmo?
33
30Há o pobre, honrado por sua instrução *e pelo temor de Deus,
e há aquele que é honrado por causa de sua riqueza.
34
31Quem é honrado na pobreza, quanto mais o será na riqueza!
E quem não é honrado na riqueza, quanto menos o será na pobreza!


Eclesiástico (CNB) 1