CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO
INTRODUÇÃO
POR QUE A LITURGIA?
- No Símbolo da Fé, a Igreja confessa o
mistério da Santíssima Trindade e seu "desígnio benevolente" (Ef
1,9) sobre toda a criação: o Pai realiza o "mistério de sua
vontade" entregando seu Filho bem-amado e seu Espírito para a
salvação do mundo e para a glória de seu nome. Este é o mistério de
Cristo, revelado e realizado na história segundo um plano, uma
"disposição" sabiamente ordenada que São Paulo denomina "a
realização do mistério" (Ef 3,9) e que a tradição patrística chamará
de "Economia do Verbo Encarnado" ou "a Economia da
Salvação".
- "Esta obra da redenção humana e da
perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas
divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo Senhor,
principalmente pelo mistério pascal de sua bem-aventurada paixão,
ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por este mistério,
Cristo, 'morrendo, destruiu nossa morte, e ressuscitando, recuperou nossa
vida'. Pois do lado de
Cristo adormecido na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a
Igreja." Esta é a razão pela qual, na liturgia, a Igreja celebra
principalmente o mistério pascal pelo qual Cristo realizou a obra da nossa
salvação.
- E este mistério de Cristo que a Igreja
anuncia e celebra em sua liturgia, a fim de que os fiéis vivam e dêem
testemunho dele no mundo:
Com
efeito, a liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da
Eucaristia, "se exerce a obra de nossa redenção", contribui do modo
mais excelente para que os fiéis, em sua vida, exprimam e manifestem aos outros
o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja.
QUE SIGNIFICA A PALAVRA LITURGIA?
- A palavra "liturgia" significa
originalmente "obra pública", "serviço da parte do povo e
em favor do povo". Na tradição cristã. ela quer significar que O povo
de Deus toma parte na "obra de Deus". Pela liturgia, Cristo,
nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela,
a obra de nossa redenção.
- A palavra "liturgia" no Novo
Testamento é empregada para designar não somente a celebração do culto
divino, mas também o anúncio do Evangelho e a caridade em ato. Em todas
essas situações, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na celebração
litúrgica, a Igreja é serva à imagem do seu Senhor, o único
"liturgo", participando de seu sacerdócio (culto) profético
(anúncio) e régio (serviço de caridade):
Com
razão, portanto, a liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de
Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo
peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem, e é exercido o culto
público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se segue
que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo
que é a Igreja, é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo titulo e
grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja.
A LITURGIA COMO FONTE DE VIDA
- Além de ser obra de Cristo, a liturgia é
também uma ação de sua Igreja. Ela realiza e manifesta a Igreja corno
sinal visível da comunhão entre Deus e os homens por meio de Cristo.
Empenha os fiéis na vida nova da comunidade. Implica uma participação
"consciente, ativa e frutuosa" de todos.
- "A liturgia não esgota toda a ação da
Igreja": ela tem de ser precedida pela evangelização, pela fé e pela
conversão; pode então produzir seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova
segundo o Espírito, o compromisso com a missão da Igreja e o serviço de
sua unidade.
ORAÇÃO E LITURGIA
- A liturgia é também
participação da oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo Nela,
toda oração cristã encontra sua fonte e seu termo. Pela liturgia, o homem interior é
enraizado e fundado no "grande amor com, o qual o Pai nos amou"
(Ef 2,4) em seu Filho bem-amado. E a mesma "maravilha de Deus"
que é vivida e interiorizada por toda oração, "em todo tempo, no
Espírito" (Ef 6,18).
CATEQUESE E LITURGIA
- "A liturgia é o ápice
para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana
toda a sua força." Ela
é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus. "A
catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental,
pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em
plenitude para a transformação dos homens."
- A catequese litúrgica tem em vista
introduzir no mistério de Cristo (ela é "mistagogia"),
procedendo do visível para o invisível, do significaste para o
significado, dos "sacramentos" para os "mistérios".
Tal catequese é da competência dos catecismos locais e regionais. O
presente Catecismo, que pretende servir para a Igreja inteira, na
diversidade de seus ritos e de suas culturas, apresentará o que é
fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia como mistério e
como celebração (Seção I), e em seguida os sete sacramentos e os
sacramentais (Seção II.).
PRIMEIRA SEÇÃO
A ECONOMIA
SACRAMENTAL
- No dia de Pentecostes, pela efusão do
Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao mundo. O dom do Espírito
inaugura um tempo novo na "dispensação do mistério": o tempo da
Igreja, durante o qual Cristo manifesta, toma presente e comunica sua obra
de salvação pela liturgia de sua Igreja, "até que ele venha" (1
Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja
e com ela de forma nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos;
é isto que a Tradição comum do Oriente e do Ocidente chama de
"economia sacramental"; esta consiste na comunicação (ou
"dispensação") dos frutos do Mistério Pascal de Cristo na
celebração da liturgia "sacramental" da Igreja. Por isso,
importa ilustrar primeiro esta "dispensação sacramental"
(Capítulo I). Assim aparecerão com mais clareza a natureza e os aspectos
essenciais da celebração litúrgica (Capítulo II.).
CAPÍTULO I
O MISTÉRIO PASCAL NO TEMPO DA IGREJA
ARTIGO I
A LITURGIA.
OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
I. O Pai, fonte e fim da liturgia
- "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de bênçãos
espirituais, nos céus, em Cristo. Nele escolheu-nos antes da fundação do
mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos
predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o
beneplácito de sua vontade, para louvor e glória de sua graça, com a qual ele
nos agraciou no Bem-amado" (Ef 1,3-6).
- Abençoar é uma ação divina
que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é ao mesmo tempo
palavra e dom (benedictio, eulogia, pronuncie "euloguia"). Aplicado ao homem, esse termo
significar a adoração e a entrega a seu criador, na ação de graças.
- Desde o início até a consumação dos
tempos, toda a obra de Deus é bênção. Desde o poema litúrgico da primeira
criação até os cânticos da Jerusalém celeste os autores inspirados
anunciam o projeto de salvação como uma imensa bênção divina.
- Desde o começo, Deus abençoa os seres
vivos, especialmente o homem e a mulher. A aliança com Noé e com todos os
seres animados renova esta bênção de fecundidade, apesar do pecado do
homem, por causa do qual a terra é "amaldiçoada". Mas é a partir
de Abra o que a bênção divina penetra a história dos homens, que
caminhava para a morte, para fazê-la retomar à vida, à sua fonte: pela fé
do "pai dos crentes" que acolhe a bênção, inaugura-se a história
da salvação.
- As bênçãos divinas manifestam-se em
eventos impressionantes e salvadores: o nascimento de Isaac, a saída do
Egito (Páscoa e Êxodo), o dom da Terra Prometida, a eleição de Davi, a
presença de Deus no templo, o exílio purificador e o retomo de um
"pequeno resto". A lei, os profetas e os salmos, que tecem a
liturgia do povo eleito, lembram essas bênçãos divinas e ao mesmo tempo
lhes respondem mediante as bênçãos de louvor e de ação de graças.
- Na liturgia da Igreja, a bênção divina é
plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como a
fonte e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; em seu Verbo,
encarnado, morto e ressuscitado por nós, ele nos cumula com suas bênçãos,
e por meio dele derrama em nossos corações o dom que contém todos os dons:
o Espírito Santo
- Compreende-se então a dupla dimensão da
liturgia cristã como resposta de fé e de amor às "bênçãos
espirituais" com as quais o Pai nos presenteia. Por um lado, a
Igreja, unida a seu Senhor e "sob a ação do Espírito Santo",
bendiz o Pai "por seu dom inefável" (2Cor 9,15) mediante a
adoração, o louvor e a ação de graças. Por outro lado, e até a consumação
do projeto de Deus, a Igreja não cessa de oferecer ao Pai "a oferenda
de seus próprios dons" e de implorar que Ele envie o Espírito Santo
sobre a oferta, sobre si mesma, sobre os fiéis e sobre o mundo inteiro, a
fim de que pela comunhão com a morte e a ressurreição de Cristo Sacerdote
e pelo poder do Espírito estas bênçãos divinas produzam frutos de vida
"para louvor e glória de sua graça" (Ef 1,6).
II. A obra de Cristo na liturgia
CRISTO GLORIFICADO...
- "Sentado à direita do Pai" e
derramando o Espírito Santo em seu Corpo que é a Igreja, Cristo age agora
pelos sacramentos, instituídos por Ele para comunicar sua graça. Os
sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações), acessíveis à nossa
humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam em virtude
da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo
- Na liturgia da Igreja, Cristo significa e
realiza principalmente seu mistério pascal. Durante sua vida terrestre,
Jesus anunciava seu Mistério pascal por seu ensinamento e o antecipava por
seus atos. Quando chegou sua hora, viveu o único evento da história que
não passa: Jesus morre, é sepultado, ressuscita dentre os mortos e está
sentado à direita do Pai "uma vez por todas" (Rm 6,10; Hb 7,27;
9,12). É um evento real, acontecido em nossa história, mas é único: todos
os outros eventos da história acontecem uma vez e depois passam, engolidos
pelo passado. O Mistério pascal de Cristo, ao contrário, não pode ficar
somente no passado, já que por sua morte destruiu a morte, e tudo o que
Cristo é, fez e sofreu por todos os homens participa da eternidade divina,
e por isso abraça todos os tempos e nele se mantém presente. O
evento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida.
... A PARTIR DA IGREJA DOS APÓSTOLOS...
- "Assim como Cristo foi enviado pelo
Pai, da mesma forma Ele mesmo enviou os apóstolos, cheios do Espírito
Santo, não só para pregarem o Evangelho a toda criatura, anunciarem que o
Filho de Deus, por sua Morte e Ressurreição, nos libertou do poder de
Satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas ainda para
levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação por meio do
sacrifício e dos sacramentos, em tomo dos quais gravita toda a vida
litúrgica."
- Dessa forma, Cristo ressuscitado, ao dar o
Espírito Santo aos Apóstolos, confia-lhes seu poder de santificação: eles
tomam-se assim sinais sacramentais de Cristo. Pelo poder do mesmo Espírito
Santo, os Apóstolos confiam este poder a seus sucessores. Esta
"sucessão apostólica" estrutura toda a vida litúrgica da Igreja;
ela mesma é sacramental, transmitida pelo sacramento da ordem.
... ESTA PRESENTE NA LITURGIA TERRESTRE...
- "Para levar a efeito tão grande
obra" a saber, a dispensação ou comunicação de sua obra de
salvação" Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas
ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do
ministro, pois 'aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o
mesmo que outrora se ofereceu na cruz', quanto sobretudo sob as espécies
eucarísticas. Presente está por sua força nos sacramentos, a tal ponto
que, quando alguém batiza, é Cristo mesmo que batiza. Presente está por
sua palavra, pois é ele mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas
Escrituras na Igreja. Presente está, finalmente, quando a Igreja reza e
salmodia, ele que prometeu: 'Onde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, aí estarei no meio deles' (Mt 18,20)."
- "Na realização de tão grande obra, por
meio da qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são
santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua esposa
direitíssima, que o invoca como seu Senhor e por ele presta culto ao
eterno Pai.
... QUE PARTICIPA DA LITURGIA CELESTE...
- "Na liturgia terrestre, antegozando
participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de
Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo
está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo
verdadeiro; com toda a milícia do exército celestial cantamos um hino de
glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte
da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo,
até que ele, nossa vida, se manifeste e nós apareçamos com ele na
glória."
III. O Espírito Santo e a Igreja na
liturgia
- Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo
da fé do povo de Deus, o artífice das "obras-primas de Deus",
que são os sacramentos da nova aliança. O desejo e a obra do Espírito no coração
da Igreja é que vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando encontra em
nós a resposta de fé que ele mesmo suscitou, realiza-se uma verdadeira
cooperação. Por meio dela a liturgia se toma a obra comum do Espírito
Santo e da Igreja.
- Nesta comunicação sacramental do mistério
de Cristo, o Espírito age da mesma forma que nos outros tempos da economia
da salvação: prepara a Igreja para encontrar seu Senhor, recorda e
manifesta Cristo à fé da assembléia, torna presente e atualiza o mistério
de Cristo por seu poder transformador e, finalmente, como Espírito de
comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo.
O ESPÍRITO SANTO PREPARA PARA ACOLHER A CRISTO
- Na economia sacramental o Espírito Santo
leva à realização as figuras da antiga aliança. Visto que a Igreja de
Cristo estava "admiravelmente preparada na história do Povo de Israel
e na Antiga Aliança", a liturgia da Igreja conserva como parte
integrante e insubstituível - tomando-os seus – alguns elementos do culto
da Antiga Aliança:
-
principalmente a leitura do Antigo Testamento;
-
a oração dos Salmos;
-
e sobretudo a memória dos eventos salvadores e das realidades significativas
que encontraram sua realização no Mistério de Cristo (a Promessa e a Aliança, o
Êxodo e a Páscoa, o Reino e o Templo, o exílio e a volta).
- É em tomo desta harmonia dos dois
Testamentos que se articula a catequese pascal do Senhor, e posteriormente
a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda O que
permanecia escondido sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de
Cristo. Ela é denominada "tipológica" porque revela a novidade
de Cristo a partir das "figuras" (tipos) que a anunciavam nos
fatos, nas palavras e nos símbolos da primeira aliança. Por esta releitura
no Espírito de verdade a partir de Cristo, as figuras são desveladas.
Assim, o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvação pelo Batismo, o
mesmo acontecendo com a nuvem e a travessia do Mar Vermelho, e a água do
rochedo era a figura dos dons espirituais de Cristo; o maná do deserto
prefigurava a Eucaristia, "o verdadeiro Pão do Céu" (Jo 6,32).
- É por isso que a Igreja, particularmente
no advento, na quaresma e sobretudo na noite de Páscoa, relê e revive
todos esses grandes acontecimentos da história da salvação no
"hoje" de sua liturgia. Mas isso exige também que a catequese
ajude os fiéis a se abrirem a esta compreensão "espiritual" da
economia da salvação, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la
faz viver.
- Liturgia judaica e liturgia
cristã. Um conhecimento
mais aprimorado da fé e da vida religiosa do povo judaico, tais como são
professadas e vividas ainda hoje, pode ajudar a compreender melhor certos
aspectos da liturgia cristã. Para os judeus e para os cristãos, a Sagrada
Escritura é uma parte essencial de suas liturgias: para a proclamação da
Palavra de Deus, a resposta a esta palavra, a oração de louvor e de
intercessão pelos vivos e pelos mortos, o recurso à misericórdia divina. A
Liturgia da palavra, em sua estrutura própria, tem sua origem na oração
judaica. A Oração das
horas, bem como outros textos e formulários litúrgicos, tem seus paralelos
na oração judaica, o mesmo acontecendo com as próprias fórmulas de nossas
orações mais veneráveis, entre elas o Pai-Nosso. Também as orações
eucarísticas inspiram-se em modelos da tradição judaica. As relações entre
liturgia judaica e liturgia cristã mas também a diferença de seus
conteúdos são particularmente visíveis nas grandes festas do ano
litúrgico, como a Páscoa. Cristãos e judeus celebram a Páscoa; Páscoa da
história, orientada para o futuro, entre os judeus; Páscoa realizada na
morte e na Ressurreição de Cristo, entre os cristãos, ainda que sempre à
espera da consumação definitiva.
- Na liturgia da nova aliança, toda ação
litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é
um encontro entre Cristo e a Igreja. A assembléia litúrgica tira sua
unidade da "comunhão do Espírito Santo", que congrega os filhos
de Deus no único corpo de Cristo. Ela ultrapassa as afinidades
humanas, raciais, culturais e sociais.
- A assembléia deve se
preparar para se encontrar com seu Senhor, deve ser "um povo
bem-disposto". Essa preparação dos corações é obra comum do Espírito
Santo e da assembléia, em particular de seus ministros. A graça do
Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à
vontade do Pai. Essas
disposições constituem pressupostos para receber as outras graças
oferecidas na própria celebração e para os frutos de vida nova que ela
está destinada a produzir posteriormente.
O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO
- O Espírito e a Igreja cooperam para
manifestar o Cristo e sua obra de salvação na liturgia. Principalmente na
Eucaristia, e analogicamente nos demais sacramentos, a liturgia é memorial
do Mistério da Salvação. O Espírito Santo é a memória viva da Igreja.
- A Palavra de Deus. O Espírito Santo
recorda primeiro à assembléia litúrgica o sentido do evento da salvação,
dando vida à Palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida:
Na
celebração da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela
são tirados os textos que se lêem e que são explicados na homília e os salmos
cantados. E de sua inspiração e bafejo que surgiram as preces, as orações e os
hinos litúrgicos. E é dela também que as ações e os símbolos tiram sua
significação.
- É o Espírito Santo que dá aos leitores e
aos ouvintes, segundo as disposições de seus corações, a compreensão
espiritual da Palavra de Deus. Por meio das palavras, das ações e dos
símbolos que formam a trama de uma celebração, o Espírito põe os fiéis e
os ministros em relação viva com Cristo, palavra e imagem do Pai, a fim de
que possam fazer passar à sua vida o sentido daquilo que ouvem, contemplam
e fazem na celebração.
- "E a palavra da salvação que alimenta
a fé no coração dos cristãos: é ela que faz nascer e dá crescimento à
comunhão dos cristãos." O anúncio da Palavra de Deus não se limita a
um ensinamento: quer suscitar a resposta da fé, como consentimento e
compromisso, em vista da aliança entre Deus e seu povo. E ainda o Espírito
Santo que dá a graça da fé, que a fortifica e a faz crescer na comunidade.
A assembléia litúrgica é primeiramente comunhão na fé.
- A anamnese. A celebração
litúrgica refere-se sempre às intervenções salvíficas de Deus na história.
"A economia da revelação concretiza-se por meio das ações e das
palavras intimamente interligadas.(...) As palavras proclamam as obras e
elucidam o mistério nelas contido." Na liturgia da palavra, o
Espírito Santo "recorda" à assembléia tudo o que Cristo fez por
nós. Segundo a natureza das ações litúrgicas e as tradições rituais das
Igrejas, uma celebração "faz memória" das maravilhas de Deus em
uma anamnese mais ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que desperta
assim a memória da Igreja, suscita então a ação de graças e o louvor (doxologia).
O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO
- A liturgia cristã não somente recorda os
acontecimentos que nos salvaram, como também os atualiza, toma-os
presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que
se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevêm a efusão do
Espírito Santo que atualiza o único mistério.
- A epiclese ("invocação
sobre") é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie
o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue
de Cristo, e para que ao recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma
oferenda viva a Deus.
- Juntamente com a anamnese,
a epiclese está no cerne de cada celebração sacramental, mais
especialmente da Eucaristia:
Perguntas
como o pão se converte no Corpo de Cristo e o vinho em Sangue de Cristo.
Respondo-te: o Espírito Santo irrompe e realiza aquilo que ultrapassa toda
palavra e todo pensamento... Basta-te saber que isso acontece por obra do
Espírito Santo, do mesmo modo que, da Santíssima Virgem e pelo mesmo Espírito
Santo, o Senhor por si mesmo e em si mesmo assumiu a carne.
- O poder transformador do Espírito Santo na
liturgia apressa a vinda do Reino e a consumação do mistério da salvação.
Na expectativa e na esperança ele nos faz realmente antecipar a comunhão
plena da Santíssima Trindade. Enviado pelo Pai que ouve a epiclese da
Igreja, o Espírito dá a vida aos que o acolhem e constitui para eles,
desde já, "o penhor" de sua herança.
A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO
- O fim da missão do Espírito
Santo em toda a ação litúrgica é colocar-se em comunhão com Cristo para
formar seu corpo. O
Espírito Santo é como que a seiva da videira do Pai que produz seus frutos
nos ramos. Na liturgia realiza-se a cooperação mais íntima entre o
Espírito Santo e a Igreja. Ele, o Espírito de comunhão, permanece
indefectivelmente na Igreja, e é por isso que a Igreja é o grande
sacramento da Comunhão divina que congrega os filhos de Deus dispersos. O
fruto do Espírito na liturgia é inseparavelmente comunhão com a Santíssima
Trindade e comunhão fraterna entre os irmãos.
- A epiclese é também a
oração para o efeito pleno da comunhão da assembléia com o mistério de
Cristo. "A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a
comunhão do Espírito Santo" (2Cor 13,13) devem permanecer sempre
conosco e produzir frutos para além da celebração eucarística. A Igreja pede, pois, ao Pai que
envie o Espírito Santo para que faça da vida dos fiéis uma oferenda viva a
Deus por meio da transformação espiritual à imagem de Cristo, (por meio)
da preocupação pela unidade da Igreja e da participação da sua missão pelo
testemunho e pelo serviço da caridade.
RESUMINDO
- Na liturgia da Igreja, Deus Pai é bendito
e adorado como a fonte de todas as bênçãos da criação e da salvação, com
as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito da adoção
filial.
- A obra de Cristo na liturgia é sacramental
porque seu mistério de salvação se torna presente nela mediante o poder de
seu Espírito Santo; porque seu corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento
(sinal e instrumento) no qual o Espírito Santo dispensa o mistério da
salvação; porque por meio de suas ações litúrgicas a Igreja peregrina já
participa, por antecipação, da liturgia celeste.
- A missão do Espírito Santo na liturgia da
Igreja é preparar a assembléia para encontrar-se com Cristo; recordar e
manifestar Cristo à fé da assembléia; tornar presente e atualizar a obra
salvífica de Cristo por seu poder transformador e fazer frutificar o dom
da comunhão na Igreja.
ARTIGO 2
O MISTÉRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA
IGREJA
- Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em
tomo do sacrifício eucarístico e dos sacramentos. Há na Igreja sete
sacramentos: o Batismo, a Confirmação ou Crisma, a Eucaristia, a
Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem, o Matrimônio. No presente
artigo trataremos daquilo que é comum, do ponto de vista doutrinal, aos
sete sacramentos da Igreja. O que lhes é comum sob o aspecto da celebração
será exposto no Capítulo II, e o que é próprio de cada um deles será
objeto da Seção II.
I. Os sacramentos de Cristo
- "Fiéis à doutrina das Sagradas
Escrituras, às tradições apostólicas (...) e ao sentimento unânime dos
Padres", professamos que "os sacramentos da nova lei foram todos
instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo".
- As palavras e as ações de Jesus durante
sua vida oculta e durante seu ministério público já eram salvíficas.
Antecipavam o poder de seu mistério pascal. Anunciavam e preparavam O que
iria dar à Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de
Cristo são os fundamentos daquilo que agora, por meio dos ministros de sua
Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois "aquilo que era visível
em nosso Salvador passou para seus mistérios".
- Os sacramentos são "forças que
saem" do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são ações do
Espírito Santo Operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são "as
obras-primas de Deus" na Nova e Eterna Aliança.
II. Os sacramentos da Igreja
- Graças ao Espírito Santo que a conduz à
"verdade plena" (Jo 16,13), a Igreja reconheceu pouco a pouco
este tesouro recebido de Jesus e precisou sua "dispensação", tal
como o fez com o cânon das Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé,
qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus. Assim, ao longo dos séculos,
a Igreja foi discernindo que entre suas celebrações litúrgicas existem
sete que são, no sentido próprio da palavra, sacramentos instituídos pelo
Senhor.
- Os sacramentos são "da Igreja"
no duplo sentido de que existem "por meio dela" e "para
ela". São "por meio da Igreja", pois esta é o sacramento da
ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do Espírito Santo E
são "para a Igreja", pois são esses "sacramentos que fazem
a Igreja"; com efeito, manifestam e comunicam aos homens, sobretudo
na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus amor, uno em três pessoas.
- Formando com Cristo-Cabeça "como que
uma única pessoa mística", a Igreja age nos sacramentos como
"comunidade sacerdotal", "organicamente estruturada".
Pelo Batismo e pela Confirmação, o povo sacerdotal é capacitado a celebrar
a liturgia; por outro lado, certos fiéis, "revestidos de uma ordem
sagrada, são instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por
meio da palavra e da graça de Deus".
- O ministério ordenado ou sacerdócio
ministerial está a serviço do sacerdócio batismal. Garante que, nos
sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a Igreja. A missão
de salvação confiada pelo Pai a seu Filho encarnado é confiada aos
apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores: recebem o Espírito de
Jesus para agir em seu nome e em sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é
o elo sacramental que liga a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram
os apóstolos, e, por meio destes, ao que disse e fez Cristo, fonte e
fundamento dos sacramentos.
- Os sacramentos do Batismo, da Confirmação
e da Ordem conferem, além da graça, um caráter sacramental ou
"selo" pelo qual o cristão participa do sacerdócio de Cristo e
faz parte da Igreja segundo estados e funções diversas. Esta configuração
com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é indelével, permanece
para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como
promessa e garantia da proteção divina e como vocação ao culto divino e ao
serviço da Igreja. Por isso estes sacramentos nunca podem ser
reiterados.
III. Os sacramentos da fé
- Cristo enviou seus apóstolos para que
"em seu Nome fosse proclamado a todas as nações. O arrependimento
para a remissão dos pecados" (Lc 24,47). "Fazei que todos os
povos se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo" (Mt 28,19). A missão de batizar, portanto a missão
sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o sacramento é
preparado pela Palavra de Deus e pela fé, que é assentimento a esta
Palavra:
O
povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A
proclamação da Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata
dos sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da Palavra.
- "Os sacramentos destinam-se à
santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda ao culto
a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não
só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem
e a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos da fé."
- A fé da Igreja é anterior à fé do fiel,
que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os sacramentos,
confessa a fé recebida dos apóstolos. Daí o adágio antigo: lex
orandi, lex credendi ("a lei da oração é a lei da fé") (ou
então: legem credendi, lex statuat supplicandia lei do que suplica
estabeleça a lei do que crê, segundo Próspero de Aquitânia [século V]). A
lei da oração é a lei da fé, ou seja: a Igreja traduz em sua profissão de
fé aquilo que expressa em sua oração. A liturgia é um elemento
constitutivo da santa e viva Tradição.
- E por isso que nenhum rito sacramental
pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro ou da
comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a
Liturgia ao seu arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso
respeito do Mistério da Liturgia.
- De resto, visto que os sacramentos
exprimem e desenvolvem a comunhão de fé na Igreja, a lex orandi é um dos
critérios essenciais do diálogo que busca restaurar a unidade dos
cristãos.
IV. Sacramentos da salvação
- Celebrados dignamente na fé, os
sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes porque neles age
o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos,
a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre
atende à oração da Igreja de seu Filho, a qual, na epiclese de cada
sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo
transforma nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida
divina o que é submetido ao seu poder.
- Este é o sentido da afirmação da Igreja:
os sacramentos atuam ex opere operato (literalmente: "pelo próprio
fato de a ação ser realizada"), isto é, em virtude da obra salvífica
de Cristo, realizada uma vez por todas. Daí segue-se que "o
sacramento não é realizado pela justiça do homem que o confere ou o
recebe, mas pelo poder de Deus". A partir de momento em que um
sacramento é celebrado em conformidade com a intenção da Igreja, o poder
de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele, independentemente da
santidade pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos dependem
também das disposições de quem os recebe.
- A Igreja afirma que para os crentes os
sacramentos da nova aliança são necessários à salvação. A "graça
sacramental" é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar a
cada sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem,
conformando-os com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o
Espírito de adoção deifica os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o
Salvador.
V. Os sacramentos da Vida Eterna
- A Igreja celebra o mistério de seu Senhor
"até que Ele venha" e até que "Deus seja tudo em
todos" (1 Cor 11,26; 15,28). Desde a era apostólica a liturgia é
atraída para seu termo (meta final) pelo gemido do Espírito na Igreja:
"Maran athá!" (Palavras aramaicas que significam: "O Senhor
vem") (1 Cor 16,22). A liturgia participa assim do desejo de Jesus:
"Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco (...) até que ela se
cumpra no Reino de Deus" (Lc 22,15-16). Nos sacramentos de Cristo, a
Igreja já recebe o penhor da herança dele, já participa da Vida Eterna,
embora ainda "aguarde a bendita esperança, a manifestação da glória
de nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus" (Tt 2,13). "O
Espírito e a esposa dizem: Vem! (...) Vem, Senhor Jesus!" (Ap
22,17.20).
Santo
Tomás resume assim as diversas dimensões do sinal sacramental: "Daí que o
sacramento é um sinal rememorativo daquilo que antecedeu, isto é, a Paixão de
Cristo; e demonstrativo daquilo que em nós é realizado pela Paixão de Cristo, a
saber, a graça; e prenunciador, isto é, que prenuncia a glória futura".
RESUMINDO
- Os sacramentos são sinais eficazes da
graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos
é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacra-
mentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada
sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem com as disposições
exigidas.
- A Igreja celebra os sacramentos como
comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio batismal e pelo dos
ministros ordenados.
- O Espírito Santo prepara para a recepção
dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e da fé que acolhe a Palavra
nos corações bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e
exprimem a fé.
- O fruto da vida
sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para cada fiel
uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento
na caridade e em sua missão de testemunho.
CAPÍTULO II.
A CELEBRAÇÃO SACRAMENTAL DO MISTÉRIO
PASCAL
- A catequese da liturgia implica
primeiramente a compreensão da economia sacramental (Capítulo 1). À sua
luz revela-se a novidade de sua celebração. No presente capítulo,
portanto, tratar-se-á da celebração dos sacramentos da Igreja.
Considerar-se-á - aquilo que, pela diversidade das tradições litúrgicas, é
comum à celebração dos sete sacramentos; o que é próprio de cada um deles
ser apresentado mais adiante. Esta catequese fundamental das celebrações
sacramentais responder às questões primordiais que os fiéis levantam a
este respeito:
-
Quem celebra?
-
Como celebrar?
-
Quando celebrar?
- Onde celebrar?
ARTIGO 1
CELEBRAR A LITURGIA DA IGREJA
I. Quem celebra?
- A liturgia é "ação" do
"Cristo todo" ("Christus totus"). Os que desde agora a
celebram, para além dos sinais, já estão na liturgia celeste, em que a
celebração é toda festa e comunhão.
OS CELEBRANTES DA LITURGIA CELESTE
- O Apocalipse de São João, lido na liturgia
da Igreja, revela-nos primeiramente "um trono no céu e, no trono,
alguém sentado": "o Senhor Deus" (Is 6,1). Em seguida, o
Cordeiro, "imolado e de pé" (Ap 5,6): Cristo crucificado e
ressuscitado, o único sumo sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo
"que oferece e é oferecido, que dá e que é dado". Finalmente,
"o rio de água da vida (...) que saía do trono de Deus e do
Cordeiro" (Ap 22,1), um dos mais belos símbolos do Espírito Santo
- "Recapitulados" em Cristo,
participam do serviço do louvor a Deus e da realização de seu desígnio: as
potências celestes, a criação inteira (os quatro viventes), os servidores
da antiga e da nova aliança (os vinte e quatro anciãos), o novo povo de
Deus (os cento e quarenta e quatro mil), em especial os mártires
"imolados por causa da Palavra de Deus" (Ap 6,9) e a Santa Mãe
de Deus (a mulher; a Esposa do Cordeiro), e finalmente "uma multidão
imensa, impossível de se enumerar, de toda nação, raça, povo e
língua" (Ap 7,9).
- É dessa liturgia eterna que O Espírito e a
Igreja nos fazem participar quando celebramos o mistério da salvação nos
sacramentos.
OS CELEBRANTES DA LITURGIA SACRAMENTAL
- É toda a comunidade, o corpo de Cristo
unido à sua Cabeça, que celebra. "As ações litúrgicas não são ações
privadas, mas celebrações da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto
é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso,
estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, influem sobre ele e
o manifestam; mas atingem a cada um de seus membros de modo diferente,
conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual
efetiva." É por isso que "todas as vezes que os ritos, de
acordo com sua própria natureza, admitem uma celebração comunitária, com
assistência e participação ativa dos fiéis, seja inculcado que na medida
do possível, ela deve ser preferida à celebração individual ou quase
privada".
- A assembléia que celebra é
a comunidade dos batizados, os quais, "pela regeneração e unção do
Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio
santo e para poderem oferecer um sacrifício espiritual toda atividade
humana do cristão". Este "sacerdócio comum" é o de Cristo,
único sacerdote, participado por todos os seus membros:
A mãe Igreja deseja ardentemente que todos os
fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa participação nas
celebrações litúrgicas que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por
força do batismo, o povo cristão, "geração escolhida, sacerdócio régio,
gente santa, povo de conquista" (1 Pd 2,9), tem direito e obrigação.
- Mas "os membros não
têm todos a mesma função" (Rm 12,4). Certos membros são chamados por
Deus, na e pela Igreja, a um serviço especial da comunidade. Tais
servidores são escolhidos e consagrados pelo sacramento da ordem, por meio
do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa de Cristo-Cabeça
para o serviço de todos os membros da Igreja. O ministro ordenado é como o
ícone de Cristo Sacerdote. Já que o sacramento da Igreja se manifesta
plenamente na Eucaristia, é na presidência da Eucaristia que o ministério
do Bispo aparece primeiro, e, em comunhão com ele, o dos presbíteros e dos
diáconos.
- No intuito de servir às
funções do sacerdócio comum dos fiéis, existem também outros ministérios
particulares, não consagrados pelo sacramento da ordem, e cuja função é
determinada pelos bispos de acordo com as tradições litúrgicas e as necessidades
pastorais. "Também os ajudantes, os leitores, os comentaristas e os
membros do coral desempenham um verdadeiro ministério litúrgico."
- Assim, na celebração dos
sacramentos, a assembléia inteira é o "liturgo", cada um segundo
sua função, mas na "unidade do Espírito", que age em todos.
"Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao
desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa
ou pelas normas litúrgicas lhe compete."
II. Como celebrar?
SINAIS E SÍMBOLOS
- Uma celebração sacramental
é tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da salvação,
o significado dos sinais e símbolos deita raízes na obra da criação e na
cultura humana, adquire precisão nos eventos da antiga aliança e se revela
plenamente na pessoa e na obra de Cristo.
- Sinais do mundo dos
homens. Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar
importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual,
exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de
símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de
símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por
ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus.
- Deus fala ao homem
por intermédio da criação visível. O cosmos material apresenta-se
à inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu
criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e
os frutos falam de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a
proximidade dele.
- Enquanto criaturas, essas
realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus
que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a
Deus. Acontece o mesmo com os sinais e os símbolos da vida social dos
homens: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice podem exprimir a
presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu criador.
- As grandes religiões da
humanidade atestam, muitas vezes de maneira impressionante, este sentido
cósmico e simbólico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe,
integra e santifica elementos da criação e da cultura humana
conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Jesus
Cristo.
- Sinais da aliança.
O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos que marcam sua
vida litúrgica: estes não mais são apenas celebrações de ciclos cósmicos e
gestos sociais, mas sinais da aliança, símbolos das grandes obras
realizadas por Deus em favor de seu povo. Entre tais sinais litúrgicos da
antiga aliança podemos mencionar a circuncisão, a unção e a consagração
dos reis e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios, e
sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nesses sinais uma prefiguração dos
sacramentos da Nova Aliança.
- Sinais assumidos por
Cristo. Em sua pregação, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos
sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus.
Realiza suas curas ou sublinha sua pregação com sinais materiais ou gestos
simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e aos sinais da Antiga Aliança,
particularmente ao Êxodo e à Páscoa, por ser ele mesmo o sentido de todos
esses sinais.
- Sinais sacramentais.
Desde Pentecostes, é por meio dos sinais sacramentais de sua Igreja que o
Espírito Santo realiza a santificação. Os sacramentos da Igreja não
abolem, antes purificam e integram toda a riqueza dos sinais e dos
símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e as
figuras da antiga aliança, significam e realizam a salvação operada por
Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.
PALAVRAS E AÇÕES
- Uma celebração sacramental
é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espírito
Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante ações e
palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas já são em si mesmas uma
linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta de fé
acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza
seu fruto na terra fértil. As ações litúrgicas significam o que a Palavra
de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a resposta
de fé de seu povo.
- A liturgia da palavra
é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos
fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da
palavra (lecionário ou evangeliário), sua veneração (procissão, incenso,
luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e
inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as
respostas da assembléia (aclamações, salmos de meditação, ladainhas,
profissão de fé...).
- Inseparáveis enquanto
sinais e ensinamento, a palavra e a ação litúrgicas são indissociáveis
também enquanto realizam o que significam. O Espírito Santo não somente dá
a compreensão da Palavra de Deus suscitando a fé; pelos sacramentos ele
realiza também as "maravilhas" de Deus anunciadas pela palavra:
torna presente e comunica a obra do Pai realizada pelo Filho bem-amado.
CANTO E MÚSICA
- "A tradição musical da
Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se destaca
entre as demais expressões de arte, principalmente porque o canto sacro,
ligado às palavras, é parte necessária ou integrante da liturgia
solene." A composição e o canto dos salmos inspirados, com freqüência
acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente ligados às
celebrações litúrgicas da antiga aliança. A Igreja continua e desenvolve
esta tradição: Recital "uns com os outros salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração" (Ef.
5,19) . "Quem canta reza duas vezes."
- O canto e a música
desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa por
"estarem intimamente ligados à ação litúrgica", segundo três
critérios principais: a beleza expressiva da oração, a participação
unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da
celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações
litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis:
Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos
cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me
causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração. Um grande
elã de piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me faziam
bem.
- A harmonia dos sinais
(canto, música, palavras e ações) é aqui mais expressiva e fecunda por exprimir-se
na riqueza cultural própria do povo de Deus que celebra? Por isso, o
"canto religioso popular ser inteligentemente incentivado a fim de
que as vozes dos fiéis possam ressoar nos pios e sagrados exercícios e nas
próprias ações litúrgicas, de acordo com as normas e prescrições das
rubricas. Todavia, "os textos destinados ao canto sacro hão de ser
conformes à doutrina católica, sendo até tirados de preferência das
Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas.
AS SANTAS IMAGENS
- A imagem sacra, o ícone
litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o
Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que
inaugurou uma nova "economia" das imagens:
Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem
aparência, não podia em absoluto ser representado por uma imagem. Mas agora que
se mostrou na carne e viveu com os homens posso fazer uma imagem daquilo que vi
de Deus. (...) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor.
- A iconografia cristã
transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura
transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente:
Para proferir sucintamente nossa profissão de fé,
conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não-escritas, que nos têm
sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das
imagens, que concorda com a pregação da história evangélica, crendo que, de
verdade e não na aparência, o Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e
proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um
significado recíproco.
- Todos os sinais da
celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens
sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é
glorificado neles. Manifestam "a nuvem de testemunhas" (Hb 12,1)
que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos,
sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à
nossa fé o homem criado "à imagem de Deus" e transfigurado
"à sua semelhança", assim como os anjos, também recapitulados em
Cristo:
Na trilha da doutrina divinamente inspirada de
nossos santos Padres e da tradição da Igreja católica, que sabemos ser a
tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto
que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa
e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria
apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios
e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto
a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa
Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os
santos e dos justos.
- "A beleza e a cor das
imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto
quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a
Deus." A contemplação dos ícones santos, associada à meditação da
Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos
sinais da celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do
coração e se exprima em seguida na vida nova dos fiéis.
III. Quando celebrar?
O TEMPO LITÚRGICO
- "A santa mãe Igreja
julga seu dever celebrar com piedosa recordação, em certos dias fixos no
decurso do ano, a obra salvífica de seu divino esposo. Em cada semana, no
dia que ela passou a chamar 'dia do Senhor', recorda a ressurreição do
Senhor, celebrando-a uma vez por ano, juntamente com sua sagrada paixão,
na solenidade máxima da Páscoa. E desdobra todo o mistério de Cristo
durante o ciclo do ano (...) Recordando assim os mistérios da Redenção,
franqueia aos fiéis as riquezas das virtudes e dos méritos de seu Senhor,
de maneira a torná-los como que presentes o tempo todo, para que os fiéis
entrem em contato com eles e sejam repletos da graça da salvação."
- O povo de Deus, desde a lei
mosaica, conheceu festas fixas a partir da páscoa para comemorar as ações
admiráveis do Deus salvador, dar-lhe graças por elas, perpetuar-lhes a
lembrança e ensinar às novas gerações a conformar sua conduta com elas. Na
era da Igreja, situada entre a páscoa de Cristo, já realizada uma vez por
todas, e a consumação dela no Reino de Deus, a liturgia celebrada em dias
fixos está toda impregnada da novidade do mistério de Cristo.
- Quando celebra o mistério
de Cristo, há uma palavra que marca a oração da Igreja: hoje!, fazendo eco
à oração que seu Senhor lhe ensinou e o apelo do Espírito Santo'. Este
"hoje" do Deus vivo em que O homem é chamado a entrar é "a
hora"; da Páscoa de Jesus que atravessa e leva toda a história:
A vida estendeu-se sobre todos os seres, e todos
ficam repletos de uma generosa luz; o Oriente dos orientes invadiu o universo,
e aquele que era "antes da estrela da manhã" e antes dos astros, imortal
e imenso, o grande Cristo brilha sobre todos os seres mais que o sol! É por
isso que, para nós que cremos nele, se instaura um dia de luz, longo, eterno,
que não se apaga: a páscoa mística'.
O DIA DO SENHOR
- "Devido à tradição
apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a
Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com
razão o dia do Senhor ou domingo. " O dia da ressurreição de Cristo é
ao mesmo tempo "o primeiro dia da semana", memorial do primeiro
dia da criação, e o "oitavo dia", em que Cristo, depois de seu
"repouso" do grande sábado, inaugura o dia "que O Senhor
fez", o "dia que não conhece ocaso". A "Ceia do
Senhor" é seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se
encontra com o Senhor ressuscitado, que Os convida a seu banquete:
O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos
cristãos, é o nosso dia. E por isso que ele se chama dia do Senhor: pois foi
nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o
denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje
levantou-se a luz do mundo, hoje apareceu o sol de justiça cujos raios trazem a
salvação.
- O domingo é o dia por
excelência da assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem "para,
ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da
paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus, e darem graças a Deus que
os 'regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de
entre os mortos"
Quando meditamos, ó Cristo, as maravilhas que
foram operadas neste dia de domingo de vossa santa ressurreição, dizemos:
Bendito é o dia do domingo, pois foi nele que se deu o começo da criação (...)
a salvação do mundo (...) a renovação do gênero humano.(...) E nele que o céu e
a terra rejubilaram e que o universo inteiro foi repleto de luz. Bendito é o
dia do domingo, pois nele foram abertas as portas do paraíso para que Adão e
todos os banidos entrem nele sem medo.
O ANO LITÚRGICO
- Partindo do tríduo pascal,
como de sua fonte de luz, o tempo novo da Ressurreição enche todo o ano
litúrgico com sua claridade. Aproximando-se progressivamente de ambas as
vertentes desta fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. É realmente
"ano de graça do Senhor". A economia da salvação está em ação
moldura do tempo, mas desde a sua realização na Páscoa de Jesus e a efusão
do Espírito Santo o fim da história é antecipado, "em antegozo",
e o Reino de Deus penetra nosso tempo.
- Por isso, a páscoa não é
simplesmente uma festa entre outras: é a "festa das festas", "solenidade
das solenidades", como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o
grande sacramento). Santo Atanásio a denomina "o grande domingo como
a semana santa é chamada no Oriente "a grande semana". O
mistério da ressurreição, no qual Cristo esmagou a morte, penetra nosso
velho tempo com sua poderosa energia até que tudo lhe seja submetido.
- No Concílio de Nicéia (em
325), todas as Igrejas chegaram a um acordo acerca de que a páscoa cristã
fosse celebrada no domingo que segue a lua cheia (14 Nisan) depois do
equinócio de primavera. Por causa dos diversos métodos utilizados para
calcular o dia 14 de mês de Nisan, o dia da Páscoa nem sempre ocorre
simultaneamente nas Igrejas ocidentais e orientais. Por isso busca-se um
acordo, a fim de se chegar novamente a celebrar em uma data comum o dia da
Ressurreição do Senhor.
- O ano litúrgico é o
desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal. Isto vale
muito particularmente para o ciclo das festas em tomo do mistério da
encarnação (Anunciação, Natal, Epifania) que comemoram o começo de nossa
salvação e nos comunicam as primícias do Mistério da Páscoa.
O SANTORAL NO ANO LITÚRGICO
- "Ao celebrar o ciclo
anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com particular amor a
bem-aventurada mãe de Deus, Maria, que por um vínculo indissolúvel está
unida à obra salvífica de seu Filho; em Maria a Igreja admira e exalta o
mais excelente fruto da redenção e a contempla com alegria como puríssima
imagem do que ela própria anseia e espera ser em sua totalidade."
- Quando, no ciclo anual, a
Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, "proclama o
mistério pascal" naqueles e naquelas "que sofreram com Cristo e
estão glorificados com ele, e propõe seu exemplo aos fiéis para que atraia
todos ao Pai por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de
Deus"
A LITURGIA DAS HORAS
- O Mistério de Cristo, sua
Encarnação e sua Páscoa, que celebramos na Eucaristia, especialmente na
assembléia dominical, penetra e transfigura o tempo de cada dia pela
celebração da Liturgia das Horas, "o Ofício Divino" Esta
celebração, em fidelidade às recomendações apostólicas de "orar sem
cessar", "está constituída de tal modo que todo o curso do dia e
da noite seja consagrado pelo louvor de Deus" Ela constitui "a
oração pública da Igreja", na qual os fiéis (clérigos, religiosos e
leigos) exercem o sacerdócio régio dos batizados. Celebrada "segundo
a forma aprovada" pela Igreja, a Liturgia das Horas "é
verdadeiramente a voz da própria esposa que fala com o esposo, e é até a
oração de Cristo, com seu corpo, ao Pai".
- A Liturgia das Horas é
destinada a tornar-se a oração de todo o povo de Deus. Nela, o próprio
Cristo "continua a exercer sua função sacerdotal por meio de sua
Igreja"; cada um participa dela segundo seu lugar próprio na Igreja e
segundo as circunstâncias de sua vida: os presbíteros, enquanto dedicados
ao ministério da palavra; os religiosos e as religiosas, pelo carisma de
sua vida consagrada; todos os fiéis, segundo suas possibilidades: "Os
pastores de almas cuidarão que as horas principais, especialmente as
vésperas, nos domingos e dias festivos mais solenes, sejam celebradas
comunitariamente na Igreja. Recomenda-se que os próprios leigos recitem o
Ofício divino, ou juntamente com os presbíteros, ou reunidos entre si, e até
cada um individualmente".
- Celebrar a Liturgia das
Horas exige não somente que se harmonize a voz com o coração que reza, mas
também "que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais rico,
principalmente dos Salmos".
- Os hinos e as ladainhas da Oração
das Horas inserem a oração dos salmos no tempo da Igreja, exprimindo o
simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa celebrada.
Além disso, a leitura da Palavra de Deus a cada hora (com os responsos ou
os tropários que vêm depois dela) e, em certas horas, as leituras dos
Padres da Igreja e dos mestres espirituais revelam mais profundamente o
sentido do mistério celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam
para a oração silenciosa. A lectio divina, em que a Palavra de Deus é lida
e meditada para tornar-se oração, está assim enraizada na celebração
litúrgica.
- A Liturgia das Horas, que é
como que um prolongamento da celebração eucarística, não exclui, mas
requer de maneira complementar as diversas devoções do Povo de Deus, particularmente
a adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.
IV. Onde celebrar?
- Oculto "em espírito e
em verdade" (Jo 4,24) da nova aliança não está ligado a um lugar
exclusivo. A terra inteira é santa e foi entregue aos filhos dos homens. O
que ocupa lugar primordial quando os fiéis se congregam em um mesmo lugar
são as "pedras vivas" reunidas para "a construção de um
edifício espiritual" (1 Pd 2,5). O Corpo de Cristo ressuscitado é o
templo espiritual do qual jorra a fonte de água viva. Incorporados a Cristo
pelo Espírito Santo, "nós é que somos o templo do Deus vivo"
(2Cor 6,16).
- Quando o exercício da
liberdade religiosa não sofre entraves, os cristãos constróem edifícios
destinados ao culto divino. Essas igrejas visíveis não são simples lugares
de reunião, mas significam e manifestam a Igreja viva neste lugar, morada
de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo.
- "A casa de oração onde
a Eucaristia é celebrada e conservada, onde os fiéis se reúnem, onde a
presença do Filho de Deus (Jesus, Nosso Salvador, o qual se ofereceu por
nós no altar do sacrifício) é honrada para auxílio e consolação dos
cristãos deve ser bela e adequada para a oração e as celebrações
religiosas." Nesta "casa de Deus", a verdade e a harmonia
dos sinais que a constituem devem manifestar o Cristo que está presente e
age neste 1ugar:
- O altar da nova aliança é a
cruz do Senhor, da qual brotam os sacramentos do mistério pascal. Sobre o
altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob
os sinais sacramentais. Ele é também a mesa do Senhor, para a qual o povo
de Deus é convidado. Em certas liturgias orientais, o altar é também o
símbolo do sepulcro (Cristo morreu de verdade e ressuscitou de verdade).
- O tabernáculo (ou sacrário)
deve estar localizado "nas igrejas em um dos lugares mais dignos, com
o máximo decoro". A nobreza, a disposição e a segurança do
tabernáculo eucarístico devem favorecer a adoração do Senhor realmente
presente no Santíssimo Sacramento do altar.
O Santo Crisma (Mýron = perfume líquido) que,
usado na unção, é sinal sacramental do selo do dom do Espírito Santo, é
tradicionalmente conservado e venerado em um lugar seguro da igreja. Perto dele
pode-se colocar o óleo dos catecúmenos e o dos enfermos.
- A cadeira (cátedra) do
Bispo ou do presbítero "deve exprimir a função daquele que preside a
assembléia e dirige a oração". O ambão. "A dignidade da Palavra
de Deus exige que exista na igreja um lugar que favoreça o anúncio desta
Palavra e para o qual, durante a liturgia da Palavra, se volta espontaneamente
a atenção dos fiéis."
- O congraçamento do povo de
Deus começa pelo Batismo; por isso, a igreja deve ter um lugar para a
celebração do Batismo (batistério) e fazer com que o povo lembre as
promessas feitas na celebração do Batismo. (O persignar-se com água benta
faz lembrar o Batismo.)
A renovação da vida batismal exige a
penitência. Por isso, a Igreja deve prestar-se à expressão do arrependimento e
ao recebimento do perdão, o que exige um lugar apropriado para acolher os
penitentes.
A igreja deve também ser um espaço que convide
ao recolhimento e à oração silenciosa, que prolongue e interiorize a grande
oração da Eucaristia.
- Finalmente, a igreja tem um
significado escatológico. Para entrar na casa de Deus, é preciso
atravessar um limiar, símbolo da passagem do mundo ferido pelo pecado para
o mundo da vida nova ao qual todos os homens são chamados. A igreja
visível simboliza a casa paterna para a qual o povo de Deus está a caminho
e na qual o Pai "enxugará toda lágrima de seus olhos" (Ap 21,4).
Por isso, a igreja também é a casa de todos os filhos de Deus, amplamente
aberta e acolhedora.
RESUMINDO
- A liturgia é a obra do
Cristo inteiro, cabeça e corpo. Nosso Sumo Sacerdote a celebra sem cessar
na liturgia celeste, com a santa mãe de Deus, os apóstolos, todos os
santos e a multidão dos que já entraram no Reino.
- Em sua celebração
litúrgica, a assembléia inteira desempenha o papel de "liturgo",
cada um segundo sua junção. O sacerdócio batismal é o de todo o corpo de
Cristo. Mas certos fiéis são ordenados pelo sacramento da Ordem para
representar Cristo como cabeça do corpo.
- A celebração litúrgica
comporta sinais e símbolos que se referem à criação (luz, água, fogo), à
vida humana (lavar, ungir, partir o pão) e à história da salvação (os
ritos da Páscoa). Inseridos no mundo da fé e assumidos pela força do
Espírito Santo, esses elementos cósmicos, esses ritos humanos, esses
gestos memoriais de Deus se tornam portadores da ação salvadora e
santificadora de Cristo.
- A Liturgia da Palavra é
uma parte integrante da celebração. O sentido da celebração é expresso
pela Palavra de Deus que e anunciada e pelo compromisso da fé que ela
exige como resposta.
- O canto e a música
guardam uma conexão íntima com a ação litúrgica. Critérios de seu bom uso:
a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembléia e o
caráter sagrado da celebração.
- As santas imagens,
presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a
alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de
suas obras salvíficas, é a ele que adoramos. Mediante as santas imagens da
santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nelas
representadas.
- O domingo, "dia do
Senhor", é o dia principal da celebração da Eucaristia por ser o dia
da ressurreição. É o dia da assembléia litúrgica por excelência, o dia da
família cristã, o dia da alegria e do descanso do trabalho. O domingo é
"o fundamento e o núcleo do ano litúrgico".
- A Igreja "apresenta
todo o mistério de Cristo durante o ciclo do ano, desde a Encarnação e o
Natal até a Ascensão, até o dia de Pentecostes e até a expectativa da
feliz esperança e do retorno do Senhor".
- Celebrando a memória dos
santos, primeiramente da Santa Mãe de Deus, em seguida dos apóstolos, dos
mártires e dos outros santos, em dias fixos do ano litúrgico, a Igreja
manifesta que está unida à Liturgia Celeste; glorifica a Cristo por ter
realizado sua salvação em seus membros glorificados. O exemplo delas e
deles a estimula em seu caminho para o Pai.
- Os fiéis que celebram a
Liturgia das Horas unem-se a Cristo, nosso Sumo Sacerdote, por meio da
oração dos salmos, da meditação da Palavra de Deus, de cânticos e bênçãos,
a fim de serem associados à oração incessante e universal dele, que dá
glória ao Pai e implora o dom do Espírito Santo sobre o mundo inteiro.
- Cristo é o verdadeiro
templo de Deus, "o lugar em que reside a sua glória"; pela graça
de Deus, também os cristãos se tornam templos do Espírito Santo, pedras
vivas com as quais é construída a Igreja.
- Em sua condição terrestre,
a Igreja precisa de lugares onde a comunidade possa reunir-se: esses
lugares são as nossas igrejas visíveis, lugares santos, imagens da Cidade
Santa, a Jerusalém Celeste para a qual caminhamos como peregrinos.
- E nessas igrejas que a
Igreja celebra o culto público para a glória da Santíssima Trindade; é
nelas que ouve a Palavra de Deus e canta seus louvores, que eleva sua
oração e que oferece o sacrifício de Cristo, sacramentalmente presente no
meio da assembléia. Essas igrejas são também locais de recolhimento e de
oração pessoal.
ARTIGO 2
DIVERSIDADE
LITÚRGICA E UNIDADE DO MISTÉRIO
TRADIÇÕES
LITÚRGICAS E CATOLICIDADE DA IGREJA
- Desde a primeira comunidade
de Jerusalém até a parusia, o mesmo mistério pascal é celebrado, em todo
lugar, pelas Igrejas de Deus fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado
na liturgia é um só, mas as formas de sua celebração são diversas.
- A riqueza insondável do
mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de esgotar sua
expressão. A história do surgimento e do desenvolvimento desses ritos
atesta uma complementaridade surpreendente. Quando as Igrejas viveram
essas tradições litúrgicas em comunhão na fé e nos sacramentos da fé,
enriqueceram-se mutuamente e cresceram na fidelidade à tradição e à missão
comum à Igreja toda.
- As diversas tradições
litúrgicas surgiram justamente em razão da missão da Igreja. As Igrejas de
uma mesma área geográfica e cultural acabaram celebrando o mistério de
Cristo com expressões particulares tipificadas culturalmente: na tradição
do "depósito da fé", no simbolismo litúrgico, na organização da
comunhão fraterna, na compreensão teológica dos mistérios e nos tipos de
santidade. Assim, Cristo, luz e salvação de todos os povos, é manifestado
pela vida litúrgica de uma Igreja ao povo e à cultura aos quais ela é
enviada e nos quais está enraizada. A Igreja é católica: pode integrar em
sua unidade, purificando-as, todas as verdadeiras riquezas das culturas.
- As tradições litúrgicas ou
ritos atualmente em uso na Igreja são o rito latino (principalmente o rito
romano, mas também os ritos de certas Igrejas locais como o rito
ambrosiano, ou de certas ordens religiosas) e os ritos bizantinos,
alexandrino ou copta, siríaco, armênio, maronita e caldeu.
"Obedecendo fielmente à tradição, o sacrossanto Concílio declara que
a santa mãe Igreja considera como iguais em direito e em dignidade todos
os ritos legitimamente reconhecidos, e que no futuro quer conservá-los e
favorecê-los de todas as formas."
LITURGIA E CULTURAS
- Por isso a celebração da
liturgia deve corresponder ao gênio e à cultura dos diferentes povos. Para
que o mistério de Cristo seja "dado a conhecer a todos os gentios,
para levá-los à obediência da fé" (Rm 16,26), deve ser anunciado,
celebrado e vivido em todas as culturas, de sorte que estas não sejam
abolidas, mas resgatadas e realizadas por ele". E mediante sua
cultura humana própria, assumida e transfigurada por Cristo, que a
multidão dos filhos de Deus tem acesso ao Pai, para glorificá-lo, em um só
Espírito.
- "Na liturgia,
sobretudo na liturgia dos sacramentos, existe uma parte imutável - por ser
de instituição divina -, da qual a Igreja é guardiã, e há partes
suscetíveis de mudança, que ela tem o poder e, algumas vezes, até o dever
de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados.
- "A diversidade
litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também provocar
tensões, incompreensões reciprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é
claro que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade não
pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum, aos sinais sacramentais
que a Igreja recebeu de Cristo, e à comunhão hierárquica. A adaptação às
culturas requer uma conversão do coração e, se necessário, a ruptura com
hábitos ancestrais incompatíveis com a fé católica."
RESUMINDO
- Convém que a celebração
da liturgia tenda a exprimir-se na cultura do povo em que a Igreja se
encontra, sem submeter-se a ela. Por outro lado, a liturgia mesma é
geradora e formadora de culturas.
- As diversas tradições
litúrgicas (ou ritos), legitimamente reconhecidas por significarem e
comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a catolicidade da
Igreja.
- O critério que garante a
unidade na pluralidade das tradições litúrgicas é a fidelidade à Tradição
apostólica, isto é, a comunhão na fé e nos sacramentos recebidos dos
apóstolos, comunhão significada e assegurada pela sucessão apostólica.
SEGUNDA SEÇÃO - OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA
- Os sacramentos da nova lei
foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o
Matrimônio. Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os
momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão
origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre
as etapas da vida natural e as da vida espiritual.
- Seguindo esta analogia,
exporemos primeiramente os três sacramentos da iniciação cristã (Capítulo
1), em seguida os sacramentos de cura (Capítulo II.) e, finalmente os
sacramentos que estão a serviço da comunhão e da missão dos fiéis
(Capítulo III.). Sem dúvida, esta disposição não é a única possível, mas
permite ver que os sacramentos formam um organismo no qual cada um
especificamente tem seu lugar vital. Neste organismo, a eucaristia ocupa
um lugar único por ser "sacramento dos sacramentos": "todos
os demais sacramentos estão ordenados a este como a seu fim"'.
CAPÍTULO I - OS
SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ
- Pelos sacramentos da
iniciação cristã; Batismo, Confirmação e Eucaristia são lançados os fundamentos
de toda vida cristã. "A participação na natureza divina, que os
homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa
analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural.
Os fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento
da Confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na
Eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da iniciação cristã,
estão em condições de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e
de progredir até alcançar a perfeição da caridade."
ARTIGO 1
O SACRAMENTO DO
BATISMO
- O santo Batismo é o
fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito ("vitae
spiritualis janua") e a porta que abre o acesso aos demais
sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do pecado e regenerados como
filhos de Deus, tornamo-os membros de Cristo, somos incorporados à Igreja
e feitos participantes de sua missão: "Baptismus está sacramentum
regenerationis per aquam in verbo O Batismo é o sacramento da regeneração
pela água na Palavra"
I. Como é chamado este sacramento?
- Ele é denominado Batismo
com base no rito central pelo qual é realizado: batizar
("baptizem", em grego) significa "mergulhar",
"imergir"; o "mergulho" na água simboliza o
sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita
como "nova criatura" (2Cor 5,17; Gl 6,15).
- Este sacramento é também
chamado "o banho da regeneração e da renovação no Espírito
Santo" (Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a
partir da água e do Espírito, sem o qual "ninguém pode entrar no
Reino de Deus" (Jo 3,5).
- "Este banho é chamado
iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento [catequético] têm
o espírito iluminado..." Depois de receber no Batismo o Verbo,
"a luz verdadeira que ilumina todo homem" (Jo 1,9), o batizado,
"após ter sido iluminado", se converte em "filho da
luz" e em "luz" ele mesmo (Ef 5,8):
O Batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de
Deus. (...) chamamo-lo de dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade,
banho de regeneração, selo, e tudo o que existe de mais precioso. Dom, porque é
conferido àqueles que nada trazem; graça, porque é dado até a culpados;
Batismo, porque o pecado é sepultado na água; unção, porque é sagrado e régio
(tais são os que são ungidos); iluminação, porque é luz resplandecente; veste,
porque cobre nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é o
sinal do senhorio de Deus.
II. O Batismo na economia da salvação
AS PREFIGURAÇÕES DO BATISMO NA ANTIGA
ALIANÇA
- Na liturgia da noite
pascal, quando da bênção da água batismal, a Igreja faz solenemente
memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que já
prefiguravam o mistério do Batismo:
Ó Deus, pelos sinais visíveis dos sacramentos
realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da salvação, vós vos
servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo.
- Desde a origem do mundo, a
água, esta criatura humilde e admirável, é a fonte da vida e da
fecundidade. A Sagrada Escritura a vê como "incubada" pelo
Espírito de Deus:
Já na origem do mundo, vosso Espírito pairava
sobre as águas para que elas recebessem a força de santificar.
- A Igreja viu na arca de Noé
uma prefiguração da salvação pelo Batismo. Por ela, com efeito,
"poucas pessoas, isto é, oito foram salvas da água" (1Pd 3,20):
Nas próprias águas do dilúvio prefigurastes o
nascimento da nova humanidade de modo que a mesma água sepultasse os vícios e
fizesse nascer a santidade.
- Se a água de fonte
simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da morte, razão pela qual o
mar podia prefigurar o mistério da cruz. Por este simbolismo, o Batismo
significa a comunhão com a morte de Cristo.
- É sobretudo a travessia do
Mar Vermelho, verdadeira libertação de Israel da escravidão do Egito, que
anuncia a libertação operada pelo Batismo:
Concedestes aos filhos de Abraão atravessar o Mar
Vermelho a pé enxuto, para que, livres da escravidão, prefigurassem o povo
nascido na água do Batismo.
- Finalmente, o Batismo é
prefigurado na travessia do Jordão, pela qual o povo de Deus recebe o dom
da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da vida eterna. A
promessa desta herança bem-aventurada realiza-se na nova aliança.
O BATISMO DE CRISTO
- Todas as prefigurações da
antiga aliança encontram sua realização em Cristo Jesus. Ele começa sua
vida pública depois de ter-se feito batizar por São João Batista no
Jordão, e após sua ressurreição confere esta missão aos apóstolos:
"Ide, pois, fazei que todos os povos se tornem meus discípulos,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as
a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20).
- Nosso Senhor submeteu-se
voluntariamente ao Batismo de São João, destinado aos pecadores, para
"cumprir toda a justiça (Cf Mt 3,15)". Este gesto de Jesus é uma
manifestação de seu "aniquilamento". O Espírito que pairava
sobre as águas da primeira criação desce então sobre Cristo, preludiando a
nova criação, e o Pai manifesta Jesus como seu "filho amado".
- Foi em sua Páscoa que
Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. Com efeito, já tinha
falado da paixão que iria sofrer em Jerusalém como de um
"batismo" com o qual devia ser batizado. O sangue e a água que
escorreram do lado traspassado de Jesus crucificado são tipos do Batismo e
da Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível
"nascer da água e do Espírito" para entrar no Reino de Deus (Jo
3,5).
Vê, quando és batizado, donde vem o Batismo, se
não da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Lá está todo o mistério: ele sofreu
por ti. E nele que és redimido, é nele que és salvo e, por tua vez, te tornas
salvador.
O BATISMO NA IGREJA
- A partir do dia de
Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o santo Batismo. Com efeito,
São Pedro declara à multidão impressionada com sua pregação:
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus
Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do
Espírito Santo" (At 2,38). Os Apóstolos e seus colaboradores oferecem
o Batismo a todo aquele que crer em Jesus: judeus, tementes a Deus,
pagãos. O Batismo aparece sempre ligado à fé: "Crê no Senhor e serás
salvo, tu e a tua casa", declara São Paulo a seu carcereiro de
Filipos. O relato prossegue: "E imediatamente [o carcereiro recebeu o
Batismo, ele e todos os seus" (At 16,31-33).
- Segundo o apóstolo São
Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte de Cristo; é sepultado e
ressuscita com ele:
Batizados em Cristo Jesus, em sua morte é que
fomos batizados. Portanto, pelo Batismo fomos sepultados com ele na morte para
que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também nós vivamos vida nova (Rm 6,3-4). Os batizados "vestiram-se de
Cristo". Pelo Espírito Santo, o Batismo é um banho que purifica, santifica
e justifica.
- O Batismo é, pois, um banho
de água no qual "a semente incorruptível" da Palavra de Deus
produz seu efeito vivificante. Santo Agostinho dirá do Batismo:
"Accedit verbum ad elementum, et fit Sacramentum - Une-se a palavra
ao elemento, e acontece o sacramento".
III. Como é celebrado o sacramento do
Batismo?
A INICIAÇÃO CRISTÃ
- Tornar-se cristão, eis algo
que se realiza desde os tempos dos apóstolos por um itinerário e uma
iniciação que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido
com rapidez ou lentamente. Dever sempre comportar alguns elementos
essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho acarretando
uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o
acesso à Comunhão Eucarística.
- Esta iniciação tem variado
muito ao longo dos séculos e de acordo com as circunstâncias. Nos
primeiros séculos da Igreja a iniciação cristã conheceu um grande
desenvolvimento com um longo período de catecumenato e uma seqüência de
ritos preparatórios que balizavam liturgicamente a caminhada da preparação
catecumenal e que desembocavam na celebração dos sacramentos da iniciação
cristã.
- Quando o Batismo das
crianças se tornou amplamente a forma habitual da celebração deste
sacramento, esta passou a ser um único ato que integra de maneira muito
resumida as etapas prévias à iniciação cristã. Por sua própria natureza, o
Batismo das crianças exige um catecumenato pós-batismal. Não se trata
somente da necessidade de uma instrução posterior ao Batismo, mas do
desabrochar necessário da graça batismal no crescimento da pessoa. E o
lugar próprio do catecismo.
- O Concílio Vaticano II
restaurou, para a Igreja latina, "o catecumenato dos adultos,
distribuído em várias etapas". Encontram-se tais ritos no Ordo
initiationis christianae adultorum (Ritual da iniciação cristã dos
adultos). O Concílio por sua vez permitiu que, "além dos elementos de
iniciação fornecidos pela tradição cristã", fossem admitidos "em
terras de missão estes outros elementos de iniciação cristã, cuja prática
constatamos em cada povo, na medida em que possam ser adaptados ao rito
cristão".
- Hoje em dia, portanto, em
todos os ritos latinos e orientais, a iniciação cristã dos adultos começa
desde a entrada deles no catecumenato, para atingir seu ponto culminante
em uma única celebração dos três sacramentos: Batismo, Confirmação e
Eucaristia. Nos ritos orientais a iniciação cristã das crianças começa no
Batismo, seguido imediatamente pela Confirmação e pela Eucaristia, ao
passo que no rito romano ela prossegue durante os anos de catequese, para
terminar mais tarde com a Confirmação e a Eucaristia, ápice de sua
iniciação cristã.
A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇÃO
- O significado e a graça do
sacramento do Batismo aparecem com clareza nos ritos de sua celebração. É
acompanhando, com uma participação atenta, os gestos e as palavras desta
celebração que os fiéis são iniciados nas riquezas que este sacramento
significa e realiza em cada novo batizado.
- O sinal-da-cruz no limiar
da celebração, assinala a marca de Cristo naquele que vai pertencer-lhe e
significa a graça da redenção que Cristo nos proporcionou por sua cruz.
- O anúncio da Palavra de
Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a assembléia, e
suscita a resposta da fé, inseparável do Batismo. Com efeito, o Batismo é
de maneira especial "o sacramento da fé", uma vez que é a
entrada sacramental na vida de fé.
- Visto que o Batismo
significa a libertação do pecado e de seu instigador, o Diabo,
pronuncia-se um (ou vários) exorcismo(s) sobre o candidato. Este é ungido
com o óleo dos catecúmenos ou então o celebrante impõe-lhe a mão, e o
candidato renuncia explicitamente a satanás. Assim preparado, ele pode
confessar a fé da Igreja, à qual será "confiado" pelo Batismo.
- A água batismal é então
consagrada por uma oração de epiclese (seja no próprio momento, seja na
noite pascal). A Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o poder do
Espírito Santo desça sobre esta água, para que os que forem batizados nela
"nasçam da água e do Espírito" (Jo 3,5).
- Segue então o rito
essencial do sacramento: o Batismo propriamente dito, que significa e
realiza a morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade por
meio da configuração ao mistério pascal de Cristo. O Batismo é realizado
da maneira mais significativa pela tríplice imersão na água batismal. Mas
desde a antigüidade ele pode também ser conferido derramando-se, por três
vezes, a água sobre a cabeça do candidato.
- Na Igreja latina, esta
tríplice infusão é acompanhada das palavras do ministro: "N..., eu te
batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Nas liturgias
orientais, estando o catecúmeno voltado para o nascente, o ministro diz:
"O servo de Deus, N..., é batizado em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo". E à invocação de cada pessoa da Santíssima Trindade
o ministro mergulha o candidato na água e o retira dela.
- A unção com o santo crisma,
óleo perfumado consagrado pelo Bispo, significa o dom do Espírito Santo ao
novo batizado. Este tornou-se um cristão, isto é, "ungido" do
Espírito Santo, incorporado a Cristo, que é ungido sacerdote, profeta e
rei.
- Na liturgia das Igrejas do
Oriente, a unção pós-batismal é o sacramento da Crisma (Confirmação). Na
liturgia romana, porém, esta primeira unção anuncia outra, a do santo
Crisma, que será feita pelo Bispo: o sacramento da Confirmação, que, por
assim dizer, "confirma" e encerra a unção batismal.
- A veste branca simboliza
que o batizado "vestiu-se de Cristo": ressuscitou com Cristo. A
vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em
Cristo, os batizados são "a luz do mundo" (Mt 5,14). O novo
batizado é agora filho de Deus no Filho único. Pode rezar a oração dos
filhos de Deus: o Pai-Nosso.
- A primeira comunhão
eucarística. Uma vez feito filho de Deus, revestido da veste nupcial, o
neófito é admitido "ao festim das bodas do Cordeiro" e recebe o
alimento da vida nova, o Corpo e o Sangue de Cristo. As Igrejas orientais
mantêm uma consciência viva da unidade da iniciação cristã dando a Santa
comunhão a todos os novos batizados e confirmados, mesmo às crianças,
lembrando-se da palavra do Senhor: "Deixai vir a mim as crianças, não
as impeçais" (Mc 10,14). A Igreja latina, que reserva a Santa
comunhão aos que atingiram a idade da razão, exprime a abertura do Batismo
para a Eucaristia aproximando do altar a criança recém-batizada para a
oração do Pai-Nosso.
- A bênção solene conclui a
celebração do Batismo. Por ocasião do batismo de recém-nascidos, a bênção
da mãe ocupa um lugar especial.
IV. Quem pode receber o Batismo?
- "É capaz de receber o
Batismo toda pessoa ainda não batizada, e somente ela."
O BATISMO DOS ADULTOS
- Desde as origens da Igreja,
o Batismo dos adultos é a situação mais normal nas terras onde o anúncio
do Evangelho é ainda recente. O catecumenato (preparação para o Batismo)
ocupa então um lugar importante. Sendo iniciação à fé e à vida cristã, deve
dispor para o acolhimento do dom de Deus no Batismo, na Confirmação e na
Eucaristia.
- O catecumenato, ou formação
dos catecúmenos, tem por finalidade permitir a estes últimos, em resposta
à iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial, que levem a
conversão e a fé à maturidade. Trata-se de uma "formação à vida
crista integral (...) pela qual os discípulos são unidos a Cristo, seu
mestre. Por isso, os catecúmenos devem ser iniciados (...) nos mistérios
da salvação e na prática de uma vida evangélica, e introduzidos, mediante
ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas, na vida da fé, da liturgia
e da caridade do povo de Deus".
- Os catecúmenos "já
estão unidos à Igreja, já pertencem à casa de Cristo, não sendo raro
levarem uma vida de fé, esperança e caridade". "A mãe Igreja já
os envolve como seus em seu amor, cercando-os de cuidados."
O BATISMO DAS CRIANÇAS
- Por nascerem com uma
natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, também as
crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertadas
do poder das trevas e serem transferidas para o domínio da liberdade dos
filhos de Deus, para a qual todos os homens são chamados. A gratuidade
pura da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das
crianças. A Igreja e os pais privariam então a criança da graça
inestimável de tomar-se filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo
pouco depois do nascimento.
- Os pais cristãos hão de
reconhecer que esta prática corresponde também à sua função de alimentar a
vida que Deus confiou a eles.
- A prática de batizar as
crianças é uma tradição imemorial da Igreja. É atestada explicitamente
desde o século II. Mas é bem possível que desde o início da pregação
apostólica, quando "casas" inteiras receberam o Batismo, também
se tenha batizado as crianças.
FÉ E BATISMO
- O batismo é o sacramento da
fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade dos crentes. Cada um dos fiéis
só pode crer dentro da fé da Igreja. A fé que se requer para o Batismo não
é uma fé perfeita e madura, mas um começo, que deve desenvolver-se. Ao
catecúmeno ou a seu padrinho é feita a pergunta: "Que pedis à Igreja
de Deus?". E ele responde: "A fé!".
- Em todos os batizados,
crianças ou adultos, a fé deve crescer após o Batismo. E por isso que a
Igreja celebra cada ano, na noite pascal, a renovação das promessas
batismais. A preparação para o Batismo leva apenas ao limiar da vida nova.
O Batismo é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da qual brota toda
a vida cristã.
- Para que a graça batismal
possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é também o papel
do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e
prontos a ajudar o novo batizado, criança ou adulto, em sua caminhada na
vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira função eclesial
("officium"). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de
responsabilidade no desenvolvimento e na conservação da graça recebida no
Batismo.
V. Quem pode batizar?
- São ministros ordinários do
Batismo o Bispo e o presbítero e, na Igreja latina, também o diácono. Em
caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não batizada, que tenha a
intenção exigida, pode batizar, utilizando a fórmula batismal trinitária.
A intenção requerida é querer fazer o que a Igreja faz quando batiza. A
Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade salvífica universal de
Deus e na necessidade do Batismo para a salvação.
VI. A necessidade do Batismo
- O Senhor mesmo afirma que o
Batismo é necessário para a salvação. Também ordenou a seus discípulos que
anunciassem o Evangelho e batizassem todas a nações. O Batismo é
necessário, para a salvação, para aqueles aos quais o Evangelho foi
anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento. A Igreja
não conhece outro meio senão o Batismo para garantir a entrada na bem-aventurança
eterna; é por isso que cuida de não negligenciar a missão que recebeu do
Senhor, de fazer "renascer da água e do Espírito" todos aqueles
que podeis ser batizados. Deus vinculou a salvação ao sacramento do
Batismo, mas ele mesmo não está vinculado a seus sacramentos.
- Desde sempre, a Igreja
mantém a firme convicção de que as pessoas que morrem em razão da fé, sem
terem recebido o Batismo, são batizadas por sua morte por e com Cristo.
Este Batismo de sangue, como o desejo do Batismo, acarreta os frutos do
Batismo, sem ser sacramento.
- Para os catecúmenos que
morrem antes de seu Batismo, seu desejo explícito de recebê-lo, juntamente
com o arrependimento de seus pecados e a caridade, garante-lhes a salvação
que não puderam receber pelo sacramento.
- "Sendo que Cristo
morreu por todos e que a vocação última do homem é realmente uma só, a
saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece a todos, sob
forma que só Deus conhece, a possibilidade de se associarem ao Mistério
Pascal." Todo homem que, desconhecendo o Evangelho de Cristo e sua
Igreja, procura a verdade e pratica a vontade de Deus segundo seu
conhecimento dela pode ser salvo. Pode-se supor que tais pessoas teriam
desejado explicitamente o Batismo se tivessem tido conhecimento da necessidade
dele.
- Quanto às crianças mortas
sem Batismo, a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus, como o
faz no rito das exéquias por elas. Com efeito, a grande misericórdia de
Deus, "que quer que todos os homens se salvem" (1Tm 2,4), e a
ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: "Deixai
as crianças virem a mim, não as impeçais" (Mc 10,14), nos permitem
esperar que haja um caminho de salvação para as crianças mortas sem
Batismo. Eis por que é tão premente o apelo da Igreja de não impedir as
crianças de virem a Cristo pelo dom do santo Batismo.
VII. A graça do Batismo
- Os diferentes efeitos do
Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental. O
mergulho na água faz apelo ao simbolismo da morte e da purificação, mas
também da regeneração e da renovação. Os dois efeitos principais são,
pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo.
PARA A REMISSÃO DOS PECADOS...
- Pelo Batismo, todos os
pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem
como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados
não resta nada que os impeça de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de
Adão, nem o pecado pessoal, nem as seqüelas do pecado, das quais a mais
grave é a separação de Deus.
- No batizado, porém, certas
conseqüências temporais do pecado permanecem, tais como os sofrimentos, a
doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de
caráter etc., assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência
ou, metaforicamente, o "incentivo do pecado" (fomes
peccati"): "Deixada para os nossos combates, a concupiscência
não é capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com
coragem pela graça de Cristo. Mais ainda: 'um atleta não recebe a coroa se
não lutou segundo as regras' (2Tm 2,5).
UMA CRIATURA NOVA
- O Batismo não somente
purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito "uma criatura
nova", um filho adotivo de Deus que se tornou "participante da
natureza divina", membro de Cristo e co-herdeiro com ele, templo do
Espírito Santo.
- A Santíssima Trindade dá ao
batizado a graça santificante, a graça da justificação, a qual
- torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele
e de amá-lo por meio das virtudes teologais;
- concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção
do Espírito Santo por seus dons;
- permite-lhe crescer no bem pelas virtudes
morais.
Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do
cristão tem sua raiz no santo Batismo.
INCORPORADOS À IGREJA, CORPO DE CRISTO
- O Batismo faz-nos membros
do Corpo de Cristo. "Somos membros uns dos outros" (Ef 4,25). O
Batismo incorpora à Igreja. Das fontes batismais nasce o único povo de
Deus da nova aliança, que supera todos os limites naturais ou humanos das
nações, das culturas, das raças e dos sexos: "Fomos todos batizados
num só Espírito para sermos um só corpo" (1Cor 12,13).
- Os batizados tornaram-se
"pedras vivas" para a "construção de um edifício
espiritual, para um sacerdócio santo" (1 Pd 2,5). Pelo Batismo,
participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia;
"sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua
particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que
vos chamou das trevas para sua luz maravilhosa" (1Pd 2,9). O Batismo
faz participar do sacerdócio comum dos fiéis.
- Feito membro da Igreja, o
batizado não pertence mais a si mesmo, mas àquele que morreu e ressuscitou
por nós. Logo, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão
da Igreja, a ser "obediente e dócil" aos chefes da Igreja e a
considerá-los com respeito e afeição. Assim como o Batismo é a fonte de
responsabilidades e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro
da Igreja: de receber os sacramentos, de ser alimentado com a Palavra de
Deus e de ser sustentado pelos outros auxílios espirituais da Igreja.
- "Tornados filhos de
Deus pela regeneração (batismal], (os batizados) são obrigados a professar
diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus" e a
participar da atividade apostólica e missionária do povo de Deus.
O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS
CRISTÃOS
- O Batismo constitui o
fundamento da comunhão entre todos os cristãos, também com os que ainda
não estão em comunhão plena com a Igreja católica: "Com efeito,
aqueles que crêem em Cristo e foram validamente batizados acham-se em
certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. (...)
Justificados pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso,
com razão, são honrados com o nome de cristãos e merecidamente
reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor".
"O Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que liga
todos os que foram regenerados por ele."
UM SINAL ESPIRITUAL INDELÉVEL...
- Incorporado em Cristo pelo
Batismo, o batizado é configurado a Cristo. O Batismo sela o cristão com
um sinal espiritual indelével ("character") de sua pertença a
Cristo. Pecado algum apaga esta marca, se bem que possa impedir o Batismo
de produzir frutos de salvação. Dado uma vez por todas, o Batismo não pode
ser reiterado.
- Incorporados à Igreja pelo
Batismo, os fiéis receberam o caráter sacramental que os consagra para o
culto religioso cristão. O selo batismal capacita e compromete os cristãos
a servirem a Deus em uma participação viva na sagrada liturgia da Igreja e
a exercerem seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma vida santa e de
uma caridade eficaz.
- O "selo do
Senhor" ("Dominicus character") é o selo com o qual o
Espírito Santo nos marcou "para o dia da redenção" (Ef 4,30).
"O Batismo, com efeito, é o selo da vida eterna." O fiel que
tiver "guardado o selo" até o fim, isto é, que tiver permanecido
fiel às exigências de seu Batismo, poderá caminhar "marcado pelo
sinal da fé", com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de
Deus - consumação da fé - e na esperança da ressurreição.
RESUMINDO
- A iniciação cristã
realiza-se pelo conjunto de três sacramentos: o Batismo, que é o início da
vida nova; a Confirmação, que é sua consolidação e a Eucaristia, que
alimenta o discípulo com o Corpo e o Sangue de Cristo em vista de sua
transformação nele.
- "Ide, portanto, e
fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo
quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20).
- O Batismo constitui o
nascimento para a vida nova em Cristo. Segundo a vontade do Senhor, ele é
necessário para a salvação, como a própria Igreja, na qual o Batismo
introduz.
- O rito essencial do Batismo
consiste em mergulhar na água o candidato ou em derramar água sobre sua
cabeça, pronunciando a invocação da Santíssima Trindade, isto é, do Pai,
do Filho e do Espírito Santo
- O fruto do Batismo ou graça
batismal é uma realidade rica que comporta: a remissão do pecado original
e de todos os pecados pessoais; o nascimento para a vida nova, pelo qual o
homem se torna filho adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito
Santo Com isto mesmo, o batizado é incorporado à Igreja, corpo de Cristo,
e se torna participante do sacerdócio de Cristo.
- O Batismo imprime na alma
um sinal espiritual indelével, o caráter, que consagra o batizado ao culto
da religião cristã. Em razão do caráter, o Batismo não pode ser reiterado.
- Os que morrem por causa da
fé, os catecúmenos e todos os homens que, sob o impulso da graça, sem
conhecerem a Igreja, procuram com sinceridade a Deus e se esforçam por
cumprir a vontade dele podem ser salvos, mesmo que não tenham recebido o
Batismo.
- Desde os tempos mais
antigos, o Batismo é administrado às crianças, pois é uma graça e um dom de
Deus que não supõe méritos humanos; as crianças são batizadas na fé da
Igreja. A entrada na vida cristã dá acesso à verdadeira liberdade.
- Quanto às crianças mortas
sem Batismo, a liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na
misericórdia divina e a orar pela salvação delas.
- Em caso de necessidade,
qualquer pessoa pode batizar, desde que tenha a intenção de fazer o que
faz a Igreja, e que derrame água sobre a cabeça do candidato dizendo:
"Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
ARTIGO 2
O SACRAMENTO DA
CONFIRMAÇÃO
- Juntamente com o Batismo e
a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos
"sacramentos da iniciação crista cuja unidade deve ser salvaguardada.
Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento é
necessária à consumação da graça batismal. Com efeito, "pelo
sacramento da Confirmação [os fiéis] são vinculados mais perfeitamente à
Igreja, enriquecidos de força especial do Espírito Santo, e assim mais
estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo,
devem difundir e defender tanto por palavras como por obras".
I. A Confirmação na economia da salvação
- No Antigo Testamento os
profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias
esperado em vista de sua missão salvífica. A descida do Espírito Santo
sobre Jesus por ocasião de seu Batismo por João Batista foi o sinal de que
era Ele quem devia vir, que Ele era o Messias; o Filho de Deus. Concebido
do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam em uma
comunhão total com o mesmo Espírito, que o Pai lhe dá "sem
medida" (Jo 3,34).
- Ora, esta plenitude do
Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a todo o
povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu esta efusão do Espírito,
promessa que realizou primeiramente no dia da Páscoa. e em seguida, de
maneira mais marcante, no dia de Pentecostes. Repletos do Espírito Santo,
os Apóstolos começam a proclamar "as maravilhas de Deus" (At
2,11), e Pedro começa a declarar que esta efusão do Espírito é o sinal dos
tempos messiânicos. Os que então creram na pregação apostólica e que se
fizeram batizar também receberam o dom do Espírito Santo
- "Desde então, os
apóstolos, para cumprir a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos,
pela imposição das mãos, o dom do Espírito que leva a graça do Batismo à
sua consumação. E por isso que na Epístola aos Hebreus ocupa um lugar,
entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os
batismos e também sobre a imposição das mãos. A imposição das mãos é com
razão reconhecida pela tradição católica como a origem do sacramento da
Confirmação que perpétua, de certo modo, na Igreja, a graça de
Pentecostes."
- Bem cedo, para melhor
significar o dom do Espírito Santo, acrescentou-se à imposição das mãos
uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o nome de
"cristão", que significa "ungido" e que deriva a sua
origem do próprio nome de Cristo, ele que "Deus ungiu com o Espírito
Santo" (At 10,38). E este rito de unção existe até os nossos dias,
tanto no Oriente como no Ocidente. Por isso, no Oriente, este sacramento é
chamado Crismação, unção com crisma, ou mýron, que significa
"crisma". No Ocidente, o termo Confirmação sugere que este
sacramento, ao mesmo tempo, confirma o Batismo e consolida a graça
batismal.
DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE
- Nos primeiros séculos, a
Confirmação constitui em geral uma só celebração com o Batismo, formando
com este, segundo a expressão de São Cipriano, um "sacramento
duplo". Entre outros motivos, a multiplicação dos batizados de
crianças e isto ao longo do ano todo e a multiplicação das paróquias
(rurais), (multiplicação) que amplia as dioceses, não permitem mais a
presença do Bispo em todas as celebrações batismais. No Ocidente, visto
que se deseja reservar ao Bispo a complementação do Batismo, se instaura a
separação dos dois sacramentos em dois momentos distintos. O Oriente
manteve juntos os dois sacramentos, tanto que a Confirmação é ministrada
pelo presbítero que batiza. Todavia, este não o pode fazer senão com o
"mýron" consagrado por um Bispo.
- Um costume da Igreja de
Roma facilitou o desenvolvimento da prática ocidental graças a uma dupla
unção com o santo crisma depois do Batismo: realizada já pelo presbítero
sobre o neófito, ao sair este do banho batismal, ela é terminada por uma
segunda unção, feita pelo Bispo na fronte de cada um dos novos batizados.
A primeira unção com o santo crisma, a que é dada pelo presbítero,
permaneceu ligada ao rito batismal; ela significa a participação do
batizado nas funções profética, sacerdotal e régia de Cristo. Se o Batismo
é conferido a um adulto, há uma só unção pós-batismal, a da Confirmação.
- A prática da Igreja do
Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã. A da Igreja latina
exprime mais nitidamente a comunhão do novo cristão com seu Bispo, garante
e servo da unidade de sua Igreja, de sua catolicidade e de sua
apostolicidade, e, com isto, o vínculo com as origens apostólicas da
Igreja de Cristo.
II. Os sinais e o rito da Confirmação
- No rito deste sacramento
convém considerar o sinal da unção e aquilo que a unção designa e imprime:
o selo espiritual. A unção, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de
significados: o óleo é sinal de abundância e de alegria, ele purifica
(unção antes e depois do banho) e torna ágil (unção dos atletas e dos
lutadores), é sinal de cura, pois ameniza as contusões e as feridas, e faz
irradiar beleza, saúde e força.
- Todos esses significados da
unção com óleo voltam a encontrar-se na vida sacramental. A unção, antes
do Batismo, com o óleo dos catecúmenos significa purificação e
fortalecimento; a unção dos enfermos exprime a cura e o reconforto. A
unção com o santo crisma depois do Batismo, na Confirmação e na Ordenação,
é o sinal de uma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, isto é, os
que são ungidos, participam mais intensamente da missão de Jesus e da
plenitude do Espírito Santo, de que Jesus é cumulado, a fim de que toda a
vida deles exale "o bom odor de Cristo"
- Por esta unção, o
confirmando recebe "a marca", o seio do Espírito Santo O selo é
o símbolo da pessoa, sinal de sua autoridade, de sua propriedade sobre um
objeto - assim, os soldados eram marcados com o selo de seu chefe, e os
escravos, com o de seu proprietário; o selo autentica um ato jurídico ou
um documento e o torna eventualmente secreto.
- Cristo mesmo se declara
marcado com o selo de seu Pai. Também o cristão está marcado por um selo:
"Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus,
o qual nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do
Espírito" (2Cor 1,21-22; Cf Ef 1,13; 4,30). Este selo do Espírito
Santo marca a pertença total a Cristo, o colocar-se a seu serviço, para
sempre, mas também a promessa da proteção divina na grande provação escatológica.
A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO
- Um momento importante que
antecede a celebração da Confirmação, mas que, de certo modo, faz parte
dela, é a consagração do santo crisma. É o Bispo que, na Quinta-feira
Santa, durante a missa do crisma, consagra o santo crisma para toda a sua
diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é até reservada ao
patriarca:
A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese
da consagração do santo crisma (mýron): [Pai... enviai o vosso Espírito Santo]
sobre nós e sobre este óleo que está diante de nós e consagrai-o, a fim de que
seja para todos os que forem ungidos e marcados por ele: mýron santo, mýron
sacerdotal, mýron régio, unção de alegria, a veste da luz, o manto da salvação,
o dom espiritual, a santificação das almas e dos corpos, a felicidade
imperecível, o selo indelével, o escudo da fé e o capacete terrível contra
todas as obras do adversário.
- Quando a Confirmação é
celebrada em separado do Batismo, como ocorre no rito romano, a liturgia
do sacramento começa com a renovação das promessas do Batismo e com a
profissão de fé dos confirmandos. Assim aparece com clareza que a
Confirmação se situa na seqüência do Batismo. Quando um adulto é batizado,
recebe imediatamente a Confirmação e participa da Eucaristia [Cf CIC
cânone 866].
- No rito romano, o Bispo
estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que, desde o
tempo dos Apóstolos, é o sinal do dom do Espírito. Cabe ao Bispo invocar a
efusão do Espírito:
Deus Todo-Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que pela água e pelo Espírito Santo fizestes renascer estes vossos
servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito;
dai-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e inteligência, o espírito de
conselho e fortaleza, o espírito da ciência e piedade - e enchei-os do espírito
de vosso temor. Por Cristo Nosso Senhor.
- Segue-se o rito essencial
do sacramento. No rito latino, "o sacramento da Confirmação é
conferido pela unção do santo crisma na fronte, feita com a imposição da
mão, e por estas palavras: 'Accipe signaculun doni Spitus Sancti, 'N,
recebe, por este sinal, o selo do Espírito Santo, o dom de Deus. Nas
Igrejas orientais de rito bizantino, a unção do
μύρσν faz-se depois de uma oração de epiclese
sobre as partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz,
os ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as mãos e os pés, sendo cada
unção acompanhada da fórmula:
"Σφραγίς
δωρεάς Пνεύματσς
`Αγίου", "Selo do dom do Espνrito
Santo".
- O ósculo da paz, que
encerra o rito do sacramento, significa e manifesta a comunhão eclesial
com o Bispo e com todos os fiéis.
III. Os efeitos da Confirmação
- Da celebração ressalta que
o efeito do sacramento da Confirmação é a efusão especial do Espírito
Santo, como foi outorgado outrora aos apóstolos no dia de Pentecostes.
- Por isso, a confirmação
produz crescimento e aprofundamento da graça batismal:
- enraíza-nos mais profundamente na filiação
divina, que nos faz dizer "Abbá, Pai" (Rm 8,15),
- une-nos mais solidamente a Cristo;
- aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
- torna mais perfeita nossa vinculação com a
Igreja;
- dá-nos uma força especial do Espírito Santo
para difundir e defender a fé pela palavra e pela ação, como verdadeiras
testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de Cristo e para
nunca sentir vergonha em relação à cruz:
Lembra-te, portanto, de que recebeste o sinal
espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e
força, o Espírito de conhecimento e de piedade, o Espírito do santo temor, e
conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com seu sinal, Cristo Senhor te
confirmou e colocou em teu coração o penhor do Espírito.
- Como o Batismo, do qual é
consumação, a Confirmação é dada uma só vez, pois imprime na alma uma
marca espiritual indelével, o "caráter", que é o sinal de que
Jesus Cristo assinalou um cristão com o selo de seu Espírito, revestindo-o
da força do alto para ser sua testemunha.
- O "caráter"
aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Batismo, e "o
confirmado recebe o poder de confessar a fé de Cristo publicamente, e como
que em virtude de um ofício (quasi ex ofício)".
IV. Quem pode receber este sacramento?
- Todo batizado ainda não
confirmado pode e deve receber o sacramento da Confirmação. Pelo fato de o
Batismo, a Confirmação e a Eucaristia formarem uma unidade, segue-se que
"os fiéis têm a obrigação de receber tempestivamente esse
sacramento", pois sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do
Batismo é sem dúvida válido e eficaz, mas a iniciação cristã permanece inacabada.
- O costume latino há séculos
indica "a idade da razão" como ponto de referência para receber
a Confirmação. Todavia, em perigo de morte deve-se confirmar as crianças,
mesmo que ainda não tenham atingido o uso da razão.
- Se às vezes se fala da
Confirmação como o "sacramento da maturidade cristã", nem por
isso se deve confundir a idade adulta da fé com a idade adulta do
crescimento natural, nem esquecer que a graça batismal é uma graça de
eleição gratuita e imerecida que não precisa de uma "ratificação"
para tornar-se efetiva. Santo Tomás recorda isto:
A idade do corpo não constitui um prejuízo para a
alma. Assim, mesmo na infância, o homem pode receber a perfeição da idade
espiritual da qual fala o livro da Sabedoria (4,8): "Velhice venerável não
é longevidade, nem é medida pelo número de anos". Assim é que muitas
crianças, graças à força do Espírito Santo que haviam recebido, lutaram
corajosamente e até o sangue por Cristo.
- A preparação para a
Confirmação deve visar conduzir o cristão a uma união mais íntima com
Cristo, a uma familiaridade mais intensa com o Espírito Santo, sua ação,
seus dons e seus chamados, a fim de poder assumir melhor as
responsabilidades apostólicas da vida cristã. Por isso, a catequese da
Confirmação se empenhará em despertar o senso da pertença à Igreja de
Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à comunidade paroquial. Esta
última tem uma responsabilidade peculiar na preparação dos confirmandos.
- Para receber a Confirmação
é preciso estar em estado de graça. Convém recorrer ao sacramento da
Penitência para ser o purificado em vista do dom do Espírito Santo Uma
oração mais intensa deve preparar para receber com docilidade e
disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo
- Para a Confirmação, como
para o Batismo, convém que os candidatos procurem a ajuda espiritual de um
padrinho ou de uma madrinha. Convém que seja o mesmo do Batismo, a fim de
marcar bem a unidade dos dois sacramentos.
V. O ministro da Confirmação
- O ministro originário da
Confirmação é ó Bispo. No Oriente, é normalmente o presbítero batizante
que também ministra imediatamente a Confirmação em uma única e mesma
celebração. Mas o faz com o santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo
Bispo, o que exprime a unidade apostólica da Igreja, cujos vínculos são
reforçados pelo sacramento da Confirmação. Na Igreja latina aplica-se a
mesma disciplina nos batizados de adultos, ou quando se admite à comunhão
plena com a Igreja um batizado de outra comunidade cristã que não recebeu
validamente o sacramento da Confirmação.
- No rito latino, o ministro
ordinário da confirmação é o Bispo. Embora o Bispo possa, quando houver
necessidade, conceder aos presbíteros a faculdade de administrar a
Confirmação, é conveniente que ele mesmo o confira, não esquecendo que é
por este motivo que a celebração da Confirmação foi separada temporalmente
do Batismo. Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos, receberam a
plenitude do sacramento da Ordem. A administração deste sacramento pelos
Bispos marca bem que ele tem como efeito unir aqueles que o receberam mais
intimamente à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar
testemunho de Cristo.
- Se um cristão estiver em
perigo de morte, todo presbítero pode dar-lhe a Confirmação. Com efeito, a
Igreja não quer que nenhum de seus filhos, mesmo se de tenra idade, deixe
este mundo sem ter-se tornado perfeito pelo Espírito Santo com o dom da
plenitude de Cristo.
RESUMINDO
- "Tendo ouvido que a
Samaria acolhera a palavra de Deus, os Apóstolos, que estavam em
Jerusalém, enviaram-lhes Pedro e João. Estes, descendo até lá, oraram por
eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo Pois ele ainda não descera
sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em nome do Senhor
Jesus. Então começaram a impor-lhes as mãos, e eles recebiam o Espírito
Santo" (At 8,14-17).
- A Confirmação aperfeiçoa a
graça batismal; é o sacramento que dá o Espírito Santo para enraizar-nos
mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais firmemente a
Cristo, tornar mais sólida a nossa vinculação com a Igreja, associar-nos
mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra,
acompanhada das obras.
- A Confirmação, como o
Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual ou caráter
indelével; razão pela qual só se pode receber este sacramento uma vez na
vida.
- No Oriente, este sacramento
é administrado imediatamente depois do Batismo; é seguido da participação
na Eucaristia, tradição que põe em destaque a unidade dos três sacramentos
da iniciação cristã. Na Igreja latina administra-se este sacramento quando
se atinge a idade da razão, e normalmente se reserva sua celebração ao
Bispo, significando assim que este sacramento corrobora o vínculo eclesial
- Um candidato à Confirmação
que tiver atingido a idade da razão deve professar a fé, estar em estado
de graça, ter a intenção de receber o sacramento e estar preparado para
assumir sua função de discípulo e de testemunha de Cristo, na comunidade
eclesial e nas ocupações temporais.
- O rito essencial da
Confirmação é a unção com o santo crisma na fronte do batizado (no
Oriente, também sobre outros órgãos dos sentidos), com a imposição da mão
do ministro e as palavras: "Accipe signaculum doni Spiritus
Sancti", "Recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo",
no rito romano, e "Signaculum doni Spiritus Sancti", "Selo
do dom do Espírito Santo", no rito bizantino.
- Quando a Confirmação é
celebrada em separado do Batismo, sua vinculação com este e expressa,
entre outras coisas, pela renovação dos compromissos batismais. A
celebração da confirmação no decurso da Eucaristia contribui para
sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciação cristã.
ARTIGO
3
O SACRAMENTO DA
EUCARISTIA
- A santa Eucaristia conclui
a iniciação cristã. Os que foram elevados à dignidade do sacerdócio régio
pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação,
estes, por meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio
sacrifício do Senhor.
- "Na última ceia, na
noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício
Eucarístico de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até
que volte, o sacrifício da cruz, confiando destarte à Igreja, sua dileta
esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento da piedade,
sinal da unidade, vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é
recebido como alimento, o espírito é cumulado de graça e nos é dado o
penhor da glória futura."
I. A Eucaristia - fonte e ápice da vida
eclesial
- A Eucaristia é "fonte
e ápice de toda a vida cristã ". "Os demais sacramentos,
assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se
ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima
Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio
Cristo, nossa Páscoa."
- "A comunhão de vida
com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é ela mesma, a
Eucaristia as significa e as realiza. Nela está o clímax tanto da ação
pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, como do culto que no
Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai."
- Finalmente, pela Celebração
Eucarística ]a nos unimos a liturgia do céu e antecipamos a vida eterna,
quando Deus ser tudo em todos (1Cor 15,28).
- Em sua palavra, a
Eucaristia é o resumo e a suma de nossa fé: "Nossa maneira de pensar
concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa
maneira de pensar".
II. Como se chama este sacramento?
- A riqueza inesgotável deste
sacramento exprime-se nos diversos nomes que lhe são dados. Cada uma
destas designações evoca alguns de seus aspectos. Ele é chamado:
Eucaristia, porque é ação de graças
a Deus. As palavras "eucharistein" (Lc 22,19; 1 Cor 11,24) e
"eulogein" (Mt 26,26; Mc 14,22) lembram as bênçãos judaicas que
proclamam sobretudo durante a refeição as obras de Deus: a criação, a redenção
e a santificação.
- Ceia do Senhor,
pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera de
sua paixão, e da antecipação da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém
celeste.
Fração do Pão, porque este rito,
próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e
distribuía o pão como presidente da mesa, sobretudo por da ocasião. Ultima
Ceia. É por este gesto que os discípulos o reconhecerão após a ressurreição, e
é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão suas assembléias
eucarísticas.
Com isso querem dizer que todos os que comem do
único pão partido, Cristo, entram em comunhão com ele e já não formam senão um
só corpo nele.
Assembléia eucarística (synaxxis, pronuncie
"sináxis"), porque a Eucaristia é celebrada na assembléia dos fiéis,
expressão visível da Igreja.
- Memorial da Paixão e
da Ressurreição do Senhor. Santo Sacrifício, porque atualiza o
único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou
também santo sacrifício da Missa, "sacrifício de louvor" (Hb
13,15), sacrifício espiritual, sacrifício puro e santo, pois realiza e
supera todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
Santa e divina Liturgia, porque
toda a liturgia da Igreja encontra seu centro e sua expressão mais densa na
celebração deste sacramento; é no mesmo sentido que se chama também celebração
dos Santos Mistérios. Fala-se também do Santíssimo Sacramento, porque é o
sacramento dos sacramentos. Com esta denominação designam-se as espécies
eucarísticas guardadas no tabernáculo.
- Comunhão,
porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma
participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo;
denomina-se ainda as "coisas santas: ta hagia (pronuncia-se "ta
háguia" e significa "coisas santas"); sancta (coisas
santas" este é o sentido primeiro da "comunhão dos santos"
de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do céu, remédio de
imortalidade, viático...
- Santa Missa,
porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o
envio dos fiéis ("missio": missão, envio) para que cumpram a
vontade de Deus em sua vida cotidiana.
III. A Eucaristia na economia da salvação
OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO
- Encontram-se no cerne da
celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas palavras de
Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de
Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua fazendo, em sua memória,
até a sua volta gloriosa, o que ele fez na véspera de sua paixão:
"Tomou o pão..." "Tomou o cálice cheio de vinho..." Ao
se tomarem misteriosamente o Corpo e o Sangue de Cristo, os sinais do pão
e do vinho continuam a significar também a bondade da criação. Assim, no
ofertório damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho, fruto "do
trabalho do homem", mas antes "fruto da terra" e "da
videira", dons do Criador. A Igreja vê neste gesto de Melquisedec,
rei e sacerdote, que "trouxe pão e vinho" (Gn 14,18), uma
prefiguração de sua própria oferta.
- Na antiga aliança, o pão e
o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal
de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado
no contexto do êxodo: os pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa
comemoram a pressa da partida libertadora do Egito; a recordação do maná
do deserto há de lembrar sempre a Israel que ele vive do pão da Palavra de
Deus. Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra Prometida,
penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O "cálice de
bênção" (1Cor 10,16), no fim da refeição pascal dos judeus, acrescenta
à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica: da espera messiânica
do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu sua Eucaristia dando um
sentido novo e definitivo à bênção do Pão e do Cálice.
- O milagre da multiplicação
dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães a
seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância
deste único pão de sua Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho
em Caná já anuncia a hora da glorificação de Jesus. Manifesta a realização
da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo,
transformado no Sangue de Cristo.
- O primeiro anúncio da
Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os
escandalizou: "Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?" (Jo
6,60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério, e
ele não cessa de ser ocasião de divisão. "Vós também quereis ir
embora?" (Jo 6,67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos
séculos como convite de seu amor a descobrir que só Ele tem "as
palavras da vida eterna" (Jo 6,68) e que acolher na fé o dom de sua
Eucaristia é acolher a Ele mesmo.
A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA
- Tendo amado os seus, o
Senhor amou-os até o fim. Sabendo que chegara a hora de partir deste mundo
para voltar a seu Pai, no decurso de uma refeição lavou-lhes os pés e
deu-lhes o mandamento do amor. Para deixar-lhes uma garantia deste amor,
para nunca afastar-se dos seus e para fazê-los participantes de sua
Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e de sua
ressurreição, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até a sua
volta, "constituindo-os então sacerdotes do Novo Testamento".
- Os três Evangelhos
sinópticos e São Paulo nos transmitiram o relato da instituição da
Eucaristia; por sua vez, São João nos relata as palavras de Jesus na
sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia:
Cristo designa-se como o pão da vida, descido do Céu.
- Jesus escolheu o tempo da
Páscoa para realizar o que tinha anunciado em Cafarnaum: dar a seus
discípulos seu Corpo e seu Sangue:
Veio o dia dos ázimos, quando devia ser imolada a
páscoa. Jesus enviou então Pedro e João, dizendo: "Ide preparar-nos a
Páscoa para comermos" ... Eles foram (...) e prepararam a Páscoa. Quando
chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: "Desejei
ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que
já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus"... E tomou um
pão, deu graças, partiu-o e distribuiu-o a eles dizendo: "Isto é o meu
corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória". E, depois de
comer, fez o mesmo com o cálice dizendo: "Este cálice é a nova aliança em
meu sangue, que é derramado em favor de vós" (Lc 22,7-20).
- Ao celebrar a última Ceia
com seus apóstolos durante a refeição pascal, Jesus deu seu sentido
definitivo à páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus a seu Pai por
sua Morte e sua Ressurreição, a Páscoa nova, é antecipada na ceia e
celebrada na Eucaristia que realiza a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa
final da Igreja na glória do Reino.
"FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM"
- O mandamento de Jesus de
repetir seus gestos e suas palavras "até que ele volte" não pede
somente que se recorde de Jesus e do que ele fez. Visa á celebração
litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de Cristo, de
sua vida, de sua Morte, de sua Ressurreição e de sua intercessão junto ao
Pai.
- Desde o início, a Igreja
foi fiel ao mandato do Senhor. Da Igreja de Jerusalém se diz:
Eles eram perseverantes ao ensinamento dos
Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. (...) Dia após
dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam o pão pelas casas,
tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração (At 2,42.46).
- Era sobretudo "no
primeiro dia da semana", isto é, no domingo, o dia da Ressurreição de
Jesus, que os cristãos se reuniam "para partir o pão" (At 20,7).
Desde aqueles tempos até os nossos dias, a celebração da Eucaristia
perpetuou-se, de sorte que hoje a encontramos em toda parte na Igreja, com
a mesma estrutura fundamental. Ela continua sendo o centro da vida da
Igreja.
- Assim, de celebração em
celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus "até que ele
venha" (1 Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinação "avança
pela porta estreita da cruz" em direção ao banquete celeste, quando
todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino.
IV. A celebração litúrgica da Eucaristia
A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS
- Desde o século II temos o
testemunho de S. Justiço Mártir sobre as grandes linhas do desenrolar da
Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para
todas as grandes famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para
explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que os cristãos fazem:
"No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se
num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos. Lêem-se, na
medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os
escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a
palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos. A
seguir, pomo-nos todos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e
por todos os outros, onde quer que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa
vida e por nossas ações, e fiéis aos mandamentos, para assim obtermos a
salvação eterna.
Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos
outros com um ósculo. Em seguida, leva-se àquele que preside aos irmãos pão e
um cálice de água e de vinho misturados.
Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do
universo, no nome do Filho e do Espírito Santo e rende graças (em grego:
eucharístia, que significa 'ação de graças' longamente pelo fato de termos sido
julgados dignos destes dons.
Terminadas as orações e as ações de graças, todo
o povo presente prorrompe numa aclamação dizendo: Amém.
Depois de o presidente ter feito a ação de graças
e o povo ter respondido, os que entre nós se chamam diáconos distribuem a todos
os que estão presentes pão, vinho e água 'eucaristizados' e levam (também) aos
ausentes".
- A liturgia da Eucaristia
desenrola-se segundo uma estrutura fundamental que se conservou ao longo
dos séculos até nossos dias. Desdobra-se em dois grandes momentos que
formam uma unidade básica:
- a convocação, a Liturgia da Palavra, com as
leituras,
- a homilia e a oração universal;
- a Liturgia Eucarística, com a apresentação do
pão e do vinho, a ação de graças consecratória e a comunhão.
Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística
constituem juntas "um só e mesmo ato do culto"; com efeito, a mesa
preparada para nós na Eucaristia é ao mesmo tempo a da Palavra de Deus e a do
Corpo do Senhor .
- Por acaso não é exatamente
esta a seqüência da Ceia Pascal de Jesus ressuscitado com seus discípulos?
Estando a caminho, explicou-lhes as Escrituras, e em seguida, colocando-se
à mesa com eles, "tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e
distribuiu-o a eles".
A SEQÜÊNCIA DA CELEBRAÇÃO
- Todos se reúnem. Os
cristãos acorrem a um mesmo lugar para a Assembléia Eucarística,
encabeçados pelo próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia. Ele
é o sumo sacerdote da Nova Aliança. É ele mesmo quem preside
invisivelmente toda Celebração Eucarística. É representando-o que o Bispo
ou o presbítero (agindo "em representação de Cristo-Cabeça")
preside a assembléia, toma a palavra depois das leituras, recebe as
oferendas e profere a oração eucarística. Todos têm sua parte ativa na
celebração, cada um a seu modo: os leitores, os que trazem as oferendas,
os que dão a comunhão e todo o povo, cujo Amém manifesta a participação.
- A Liturgia da Palavra
comporta "os escritos dos profetas", isto é, o Antigo
Testamento, e "as memórias dos Apóstolos", isto é, as epístolas
e os Evangelhos; depois da homilia, que exorta a acolher esta palavra como
ela verdadeiramente é, isto é, como Palavra de Deus, e a pô-la em prática,
vêm as intercessões por todos os homens, de acordo com a palavra do
Apóstolo: "Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos,
orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e
todos os que detêm a autoridade" (1Tm 2,1-2).
- A apresentação das
oferendas (o ofertório): trazem-se então ao altar, por vezes em procissão,
o pão e o vinho que serão oferecidos pelo sacerdote em nome de Cristo no
Sacrifício Eucarístico e ali se tornarão o Corpo e o Sangue de Cristo.
Este é o próprio gesto de Cristo na última ceia, "tomando pão e um
cálice". "Esta oblação, só a Igreja a oferece, pura, ao Criador,
oferecendo-lhe com ação de graças o que provém de sua criação. A
apresentação das oferendas ao altar assume o gesto de Melquisedec e
entrega os dons do Criador nas mãos de Cristo. E ele que, em seu
sacrifício, leva à perfeição todos os intentos humanos de oferecer
sacrifícios.
- Desde os inícios, os
cristãos levam, com o pão e o vinho para a Eucaristia, seus dons para
repartir com os que estão em necessidade. Este costume da coleta, sempre
atual, inspira-se no exemplo de Cristo que se fez pobre para nos
enriquecer:
Os que possuem bens em abundância e o desejam,
dão livremente o que lhes parece bem, e o que se recolhe é entregue àquele que
preside. Este socorre os órfãos e viúvas e os que, por motivo de doença ou
qualquer outra razão, se encontram em necessidade, assim como os encarcerados e
os imigrantes; numa palavra, ele socorre todos os necessitados.
- A anáfora. Com a Oração
Eucarística, oração de ação de graças e de consagração, chegamos ao
coração e ao ápice da celebração. No prefácio, a Igreja rende graças ao
Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras, pela criação,
a redenção, a santificação. Toda a comunidade junta-se então a este louvor
incessante que a Igreja celeste, os anjos e todos os santos cantam ao Deus
três vezes santo.
- Na epiclese ela pede ao Pai
que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua bênção) sobre o pão e o
vinho, para que se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus
Cristo, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo
e um só espírito (certas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da
anamnese). No relato da instituição, a força das palavras e da ação de
Cristo e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente presentes, sob
as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, seu
sacrifício oferecido na cruz uma vez por todas.
- Na anamnese que segue, a
Igreja faz memória da Paixão, da Ressurreição e da volta gloriosa de
Cristo Jesus; ela apresenta ao Pai a oferenda de seu Filho que nos
reconcilia com ele.
Nas intercessões, a Igreja exprime que a
Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja do céu e da terra, dos
vivos e dos falecidos, e na comunhão com os pastores da Igreja, o Papa, o Bispo
da diocese, seu presbitério e seus diáconos, e todos os Bispos do mundo inteiro
com suas igrejas.
- Na comunhão, precedida pela
oração do Senhor e pela fração do pão, os fiéis recebem "o pão do
céu" e "o cálice da salvação", o Corpo e o Sangue de
Cristo, que se entregou "para a vida do mundo" (Jo 6,51):
Porque este pão e este vinho foram, segundo a
antiga expressão, "eucaristizados", "chamamos este alimento de
Eucaristia, e a ninguém é permitido participar na Eucaristia senão àquele que
admitindo como verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo sido purificado pelo
Batismo para a remissão dos pecados e para o novo nascimento, levar uma vida como
Cristo ensinou".
V. O sacrifício sacramental: ação de
graças, memorial, presença
- Se os cristãos celebram a
Eucaristia desde as origens, e sob uma forma que, em sua substância, não
sofreu alteração através da grande diversidade dos tempos e das liturgias,
é porque temos consciência de estarmos ligados ao mandato do Senhor, dado
na véspera de sua paixão: "Fazei isto em memória de mim" (1 Cor
11 ,24-25).
- Cumprimos esta ordem do
Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao fazermos isto,
oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua criação, o pão e
o vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo se
tornaram o Corpo e o Sangue de Cristo, o qual, assim, se torna real e
misteriosamente presente.
- Por isso, temos de considerar
a Eucaristia:
- como ação de graças e louvor ao Pai;
- como memorial sacrifical de Cristo e de seu
corpo;
- corno presença de Cristo pelo poder de sua
palavra e de seu Espírito.
A AÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI
- A Eucaristia, sacramento de
nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também um sacrifício de
louvor em ação de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico,
toda a criação amada por Deus é apresentada ao Pai por meio da Morte e da
Ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de
louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, de belo e de
justo na criação e na humanidade.
- A Eucaristia é um
sacrifício de ação de graças ao Pai, unia bênção pela qual a Igreja
exprime seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o
que ele realizou por meio da criação, da redenção e da santificação.
Eucaristia significa, primeiramente, "ação de graças".
- A Eucaristia é também o
sacrifício de louvor por meio do qual a Igreja canta a glória de Deus em
toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo:
Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de sorte
que o sacrifício de louvor ao Pai é oferecido por Cristo e com ele para
ser aceito nele.
O MEMORIAL SACRIFICAL DE CRISTO E DE SEU
CORPO, A IGREJA
- A Eucaristia é o memorial
da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único
sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as orações
eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma oração
chamada anamnese ou memorial.
- No sentido da Sagrada
Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos dos
acontecimento do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus
realizou por todos os homens. A celebração litúrgica desses acontecimentos
toma-os de certo modo presentes e atuais. É desta maneira que Israel
entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os
acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória dos crentes, para que
estes conformem sua vida a eles.
- O memorial recebe um
sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia,
rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que
Cristo ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual:
"Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo
qual Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa
redenção."
- Por ser memorial da páscoa
de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical da
Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: "Isto
é o meu Corpo que será entregue por vós", e "Este cálice é a
nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós" (Lc
22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por nós
na cruz, o próprio sangue que "derramou por muitos para remissão dos
pecados" (Mt 26,28).
- A Eucaristia é, portanto,
um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício da Cruz,
porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:
[Cristo] nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si
mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da
cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como
sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia,
"na noite em que foi entregue (1 Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua
esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana) em
que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se
uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria
de perpetuar-se até o fim dos séculos (l Cor 11,23) e cuja virtude salutar
haveria de aplicar-se à remissão dos pecados que cometemos cada dia.
- O sacrifício de Cristo e o
sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: "É uma só e mesma
vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se
ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer
difere". "E porque neste divino sacrifício que se realiza na
missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira
cruenta no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta,
este sacrifício é verdadeiramente propiciatório".
- A Eucaristia é também o
sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo, participa da
oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se
une à sua intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na Eucaristia, o
sacrifício de Cristo se torna também o sacrifício dos membros de seu
Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua oração, seu
trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda total, e adquirem assim
um valor novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas
as gerações de cristãos a possibilidade de estarem unidos à sua oferta.
Nas catacumbas, a Igreja é muitas vezes representada como uma mulher em
oração, com os braços largamente abertos em atitude de orante. Como Cristo
que estendeu os braços na cruz, ela se oferece e intercede por todos os
homens, por meio dele, com ele e nele.
- A Igreja inteira está unida
à oferta e à intercessão de Cristo. Encarregado do ministério de Pedro na
Igreja, o Papa está associado a cada celebração da Eucaristia em que ele é
mencionado como sinal e servidor da unidade da Igreja universal. O Bispo
do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando é presidida
por um presbítero; seu nome é nela pronunciado para significar que é ele
quem preside a Igreja particular, em meio ao presbitério e com a
assistência dos diáconos. A comunidade intercede assim por todos os
ministros que, por ela e com ela, oferecem o Sacrifício Eucarístico:
Que se considere legítima só esta Eucaristia que
se faz sob a presidência do Bispo ou daquele a quem este encarregou. É pelo
ministério dos presbíteros que se consuma o sacrifício espiritual dos fiéis, em
união com o sacrifício de Cristo, único mediador, oferecido em nome de toda a
Igreja na Eucaristia pelas mãos dos presbíteros, de forma incruenta e
sacramenta até que o próprio Senhor venha.
- À oferenda de Cristo
unem-se não somente os membros que estão ainda na terra, mas também os que
já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem Maria e
fazendo memória dela, assim como de todos os santos e santas, que a Igreja
oferece o Sacrifício Eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com Maria, está
como que ao pé da cruz, unida à oferta e à intercessão de Cristo.
- O Sacrifício Eucarístico é
também oferecido pelos fiéis defuntos "que morreram em Cristo e não
estão ainda plenamente purificados", para que possam entrar na luz e
na paz de Cristo:
Enterrai este corpo onde quer que seja! Não
tenhais nenhuma preocupação por ele! Tudo o que vos peço é que vos lembreis de
mim no altar do Senhor onde quer que estejais.
Em seguida, oramos [na anáfora] pelos santos
padres e Bispos que faleceram, e em geral por todos os que adormeceram antes de
nós acreditando que haverá muito grande benefício para as almas, em favor das
quais a súplica é oferecida, enquanto se encontra presente a santa e tão
temível vítima. (...) Ao apresentarmos a Deus nossas súplicas pelos que
adormeceram, ainda que fossem pecadores, nós (...) apresentamos o Cristo
imolado por nossos pecados, tomando propício, para eles e para nós, o Deus
amigo dos homens.
- Santo Agostinho resumiu
admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma participação cada vez
mais completa no sacrifício de nosso redentor, que celebramos na
Eucaristia:
Esta cidade remida toda inteira, isto é, a
assembléia e a sociedade dos santos, é oferecida a Deus como um sacrifício
universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a forma de escravo, chegou a ponto de
oferecer-se por nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de uma Cabeça tão
grande. (...) Este é o sacrifício dos cristãos: "Em muitos, ser um só
corpo em Cristo" (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de
reproduzi-lo no sacramento do altar bem conhecido pelos fiéis, onde se vê que
naquilo que oferece, se oferece a si mesma.
A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DE SUA
PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO
- "Cristo Jesus, aquele
que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à direita de Deus
e que intercede por nós" (Rm 8,34), está presente de múltiplas
maneiras em sua Igreja): em sua Palavra, na oração de sua Igreja, "lá
onde dois ou três estão reunidos em meu nome" (Mt 18,20), nos pobres,
nos doentes, nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o autor, no
sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas "sobretudo (está
presente) sob as espécies eucarísticas".
- O modo de presença de
Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima
de todos os sacramentos e faz com que da seja "como que o coroamento
da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos". No
santíssimo sacramento da Eucaristia estão "contidos verdadeiramente,
realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a
divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo
todo" . "Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se
as outras não fossem 'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e
porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo."
- É pela conversão do pão e
do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo que este se torna presente em tal
sacramento. Os Padres da Igreja afirmaram com firmeza a fé da Igreja na
eficácia da Palavra de Cristo e da ação do Espírito Santo para operar esta
conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:
Não é o homem que faz com que as coisas
oferecidas se tomem Corpo e Sangue de Cristo, mas o próprio Cristo, que foi
crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo, pronuncia essas palavras,
mas sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o meu Corpo, diz ele. Estas
palavras transformam as coisas oferecidas.
E Santo Ambrósio afirma acerca desta conversão:
Estejamos bem persuadidos de que isto não é o que
a natureza formou, mas o que a bênção consagrou, e que a força da bênção supera
a da natureza, pois pela bênção a própria natureza mudada. Por acaso a palavra
de Cristo, que conseguiu fazer do nada o que não existia, não poderia mudar as
coisas existentes naquilo que ainda não eram? Pois não é menos dar às coisas a
sua natureza primeira do que mudar a natureza delas.
- O Concílio de Trento resume
a fé católica ao declarar "Por ter Cristo, nosso Redentor, dito que
aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo,
sempre se teve na Igreja esta convicção, que O santo Concílio declara
novamente: pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a
substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda
a substância do vinho na substância do seu Sangue; esta mudança, a Igreja
católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciação".
- A presença eucarística de
Cristo começa no momento da consagração e dura também enquanto subsistirem
as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em cada uma das
espécies e inteiro em cada uma das partes delas, de maneira que a fração
do pão não divide o Cristo.
- O culto da Eucaristia. Na
liturgia da missa, exprimimos nossa fé na presença real de Cristo sob as
espécies do pão e do vinho, entre outras coisas, dobrando os joelhos, ou
inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. "A
Igreja católica professou e professa este culto de adoração que é devido
ao sacramento da Eucaristia não somente durante a Missa, mas também fora
da celebração dela, conservando com o máximo cuidarem com solenidade,
levando-as em procissão.
- A santa reserva
(tabernáculo) era primeiro destinada a guardar dignamente a Eucaristia
para que pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes.
Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo em sua Eucaristia, a
Igreja tomou consciência do sentido da, adoração silenciosa do Senhor
presente sob as espécies eucarísticas. É por isso que o tabernáculo deve
ser colocado em um local particularmente digno da igreja; deve ser
construído de tal forma que sublinhe e manifeste a verdade da presença
real de Cristo no santo sacramento.
- É altamente conveniente que
Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja desta maneira singular.
Visto que estava para deixar os seus em sua forma visível, Cristo quis
dar-nos sua presença sacramental; já que ia oferecer-se na cruz para nos
salvar, queria que tivéssemos o memorial do amor com o qual nos amou
"até o fim" (Jo 13,1), até o dom de sua vida. Com efeito, em sua
presença eucarística Ele permanece misteriosamente no meio de nós como
aquele que nos amou e que se entregou por nós, e o faz sob os sinais que
exprimem e comunicam este amor:
A Igreja e o mundo precisam muito do culto eucarístico.
Jesus nos espera neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para ir
encontrá-lo na adoração, na contemplação cheia de fé e aberta a reparar as
faltas graves e os delitos do mundo. Que a nossa adoração nunca cesse!
- "A presença do
verdadeiro Corpo de Cristo e do verdadeiro Sangue de Cristo neste
sacramento 'não se pode descobrir pelos sentidos, diz Santo Tomás, mas só
com fé, baseada na autoridade de Deus'. Por isso, comentando o texto de
São Lucas 22,19 ("Isto é o meu Corpo que será entregue por
vós"), São Cirilo declara: 'Não perguntes se é ou não verdade; aceita
com fé as palavras do Senhor, porque ele, que é a verdade, não
mente":
Com devoção te adoro,
Latente divindade.
Que, sob essas figuras,
Te escondes na verdade;
Meu Coração de pleno
Sujeito a ti, obedece,
Pois que, em te contemplando,
Todo ele desfalece.
A vista, o tato, o gosto,
Certo, jamais te alcança;
Pela audição somente
Te crêem com segurança;
Creio em tudo o que disse
De Deus Filho o Cordeiro.
Nada é mais da verdade
Que tal voz, verdadeiro.
|
Adoro te devote,
latens deitas,
quae sub his figuris
vere latitas.
Tibi se cor meum
totum subiicit,
quia, te contemplans,
totum deflcit.
Visus, tactus, gustus
in te faílitur,
sed auditu solo
tuto creditur.
Credo quidquid dixil
Dei Filius:
Nil hoc verbo
Veritatis verius
|
1382.
VI. O banquete pascal
- A missa é ao mesmo tempo e
inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o sacrifício da
cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas
a celebração do Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união
íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio
Cristo que se ofereceu por nós.
- O altar, em tomo do qual a
Igreja está reunida na celebração da Eucaristia, representa os dois
aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e
isto tanto mais porque o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo,
presente no meio da assembléia de seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima
oferecida por nossa reconciliação e como alimento celeste que se dá a nós.
"Com efeito, que é o altar de Cristo senão a imagem do Corpo de
Cristo?" - diz Santo Ambrósio; e alhures: "O altar representa o
Corpo [de Cristo], e o Corpo de Cristo está sobre o altar". A
liturgia exprime esta unidade do sacrifício e da comunhão em muitas
orações. Assim, a Igreja de Roma ora em sua anáfora:
Nós vos suplicamos que ela seja levada à vossa
presença, para que, ao participarmos deste altar, recebendo o Corpo e o Sangue
de vosso Filho, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu.
"TOMAI E COMEI DELE TODOS VÓS": A
COMUNHÃO
- O Senhor nos convida
insistentemente a recebê-lo no sacramento da Eucaristia: "Em verdade,
em verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do homem e não
beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6,53).
- Para responder a este
convite, devemos preparar-nos para este momento tão grande e tão santo.
São Paulo exorta a um exame de consciência: "Todo aquele que comer do
pão ou beber do cálice do Senhor indignadamente será réu do Corpo e do
Sangue do Senhor. Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de
comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem
discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação" (1 Cor
11,27-29). Quem está consciente de um pecado grave deve receber o
sacramento da reconciliação antes de receber a comunhão.
- Diante da grandeza deste
sacramento, o fiel só pode repetir humildemente e com fé ardente a palavra
do Centurião: "Domine, non sum dignus ut mires sub tectum meum sed
tantum dic verbo et sanabitur anima mea - Senhor, eu não sou digno de que
entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo". E na
divina liturgia de São João Crisóstomo os fiéis oram no mesmo espírito:
Da vossa ceia mística fazei-me participar hoje, ó
Filho de Deus. Pois não revelarei o Mistério aos vossos inimigos, nem vos darei
o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, clamo a vós: Lembrai-vos de mim, Senhor,
no vosso reino.
- A fim de se prepararem
convenientemente para receber este sacramento, os fiéis observarão o jejum
prescrito em sua Igreja (Cf CIC cânone 919). A atitude corporal
(gestos, roupa) há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste
momento em que Cristo se torna nosso hóspede.
- É consentâneo com o próprio
sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as disposições requeridas,
comunguem quando participarem da missa: "Recomenda-se muito aquela
participação mais perfeita à missa, pela qual os fiéis, depois da comunhão
do sacerdote, comungam o Corpo do Senhor do mesmo sacrifício".
- A Igreja obriga os fiéis
"a participar da divina liturgia aos domingos e nos dias
festivos" e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se
possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da reconciliação. Mas
recomenda vivamente aos fiéis que recebam a santa Eucaristia nos domingos
e dias festivos, ou ainda com maior freqüência, e até todos os dias.
- Graças à presença
sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a comunhão somente sob a
espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia. Por
motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente
como a mais habitual no rito latino. "A santa comunhão realiza-se
mais plenamente sob sua forma de sinal quando se faz sob as duas espécies.
Pois sob esta forma o sinal do banquete eucarístico é mais plenamente
realçado." Nos ritos orientais, esta é a forma habitual de comungar.
OS FRUTOS DA COMUNHÃO
- A comunhão aumenta a nossa
união com Cristo. Receber a Eucaristia na comunhão traz como fruto
principal a união intima o com Cristo Jesus. Pois o Senhor diz: "Quem
come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e eu nele"
(Jo 6,56). A vida em Cristo tem seu fundamento no banquete eucarístico:
"Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também
aquele que de mim se alimenta viverá por mim" (Jo 6,57):
Quando nas festas do Senhor os fiéis recebem o
Corpo do Filho, proclamam uns aos outros a Boa Nova de que é dado o penhor da
vida, como quando o anjo disse a Maria de Mágdala: "Cristo
ressuscitou!". Eis que agora também a vida e a ressurreição são conferidas
àquele que recebe o Cristo.
- O que o alimento material
produz em nossa vida corporal, a comunhão o realiza de maneira admirável
em nossa vida espiritual. A comunhão da Carne de Cristo ressuscitado,
"vivificado pelo Espírito Santo e vivificante", conserva,
aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo. Este crescimento da
vida cristã precisa ser alimentado pela Comunhão Eucarística, pão da nossa
peregrinação, até o momento da morte, quando nos ser dado como viático.
- A comunhão separa-nos do
pecado. O Corpo de Cristo que recebemos na comunhão é "entregue por
nós", e o Sangue que bebemos é "derramado por muitos para
remissão dos pecados". Por isso a Eucaristia não pode unir-nos a
Cristo sem purificar-nos ao mesmo tempo dos pecados cometidos e sem
preservar-nos dos pecados futuros:
"Toda vez que o recebermos, anunciamos a
morte do Senhor". Se anunciamos a morte do Senhor, anunciamos a remissão
dos pecados. Se, toda vez que o seu Sangue é derramado, o é para a remissão dos
pecados, devo recebê-lo sempre, para que perdoe sempre os meus pecados. Eu que
sempre peco, devo ter sempre um remédio.
- Como o alimento corporal
serve para restaurar a perda das forças, a Eucaristia fortalece a caridade
que, na vida diária, tende a arrefecer; e esta caridade vivificada apaga
os pecados veniais. Ao dar-se a nós, Cristo reaviva nosso amor e nos torna
capazes de romper as amarras desordenadas com as criaturas e de
enraizar-nos nele:
Visto que Cristo morreu por nós por amor, quando
fazemos memória de sua morte no momento do sacrifício pedimos que o amor nós
seja concedido pela vinda do Espírito Santo; pedimos humildemente que em
virtude deste amor, pelo qual Cristo quis morrer por nós, nós também, recebendo
a graça do Espírito Santo, possamos considerar o mundo como crucificado para
nós, e sejamos nós mesmos crucificados para o mundo. (...)Tendo recebido o dom
de amor morramos para o pecado e vivamos para Deus.
- Pela mesma caridade que
acende em nós, a Eucaristia nos preserva dos pecados mortais futuros.
Quanto mais participarmos da vida de Cristo e quanto mais progredirmos em
sua amizade, tanto mais difícil de ele separar-nos pelo pecado mortal. A
Eucaristia não é destinada a perdoar pecados mortais. Isso é próprio do
sacramento da reconciliação. É próprio da Eucaristia ser o sacramento
daqueles que estão na comunhão plena da Igreja.
- A unidade do corpo místico:
a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia estão unidos mais
intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um
só corpo, a Igreja. A comunhão renova, fortalece, aprofunda esta
incorporação à Igreja, realizada já pelo Batismo. No Batismo fomos
chamados a constituir um só corpo. A Eucaristia realiza este apelo:
"O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de
Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há
um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos
participamos desse único pão" (1Cor 10,16-17).
Se sois o corpo e os membros de Cristo, é o vosso
sacramento que é colocado sobre a mesa do Senhor, recebeis o vosso sacramento.
Respondeis "Amém" ("sim, é verdade!") àquilo que recebeis,
e subscreveis ao responder. Ouvis esta palavra: "o Corpo de Cristo",
e respondeis: "Amém". Sede, pois, um membro de Cristo, para que o
vosso Amém seja verdadeiro.
- A Eucaristia compromete com
os pobres. Para receber na verdade o Corpo e o Sangue de Cristo entregues
por nós, devemos reconhecer o Cristo nos mais pobres, seus irmãos:
Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces
sequer o teu irmão. Desonras esta própria mesa, não julgando digno de
compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno de participar desta
mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta mesa. E
tu, nem mesmo assim, te tornaste mais misericordioso.
- A Eucaristia e a unidade
dos cristãos. Diante da grandeza deste mistério, Santo Agostinho exclama:
"Ó sacramento da piedade! Ó sacramento da unidade! Ó vínculo da
caridade!". Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da
Igreja que rompem a participação comum à mesa do Senhor, tanto mais
prementes são as orações ao Senhor para que voltem os dias da unidade
completa de todos os que nele crêem.
- As Igrejas orientais que
não estão em comunhão plena com a Igreja católica celebram a Eucaristia
com um grande amor. "Essas Igrejas, embora separadas, têm verdadeiros
sacramentos - principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o
sacerdócio e a Eucaristia -, que as unem intimamente a nós." Por isso
certa comunhão in sacris na Eucaristia é "não somente possível, mas
até aconselhável, em circunstâncias favoráveis e com a aprovação da
autoridade eclesiástica".
- As comunidades eclesiais
oriundas da Reforma, separadas da Igreja católica, "em razão sobretudo
da ausência do sacramento da ordem, não conservaram a substância própria e
integral do mistério eucarístico". Por este motivo a intercomunhão
eucarística com essas comunidades não é possível para a Igreja católica.
Todavia, essas comunidades eclesiais, "quando fazem memória, na Santa
ceia, da morte e da ressurreição do Senhor, professam que a vida consiste
na comunhão com Cristo e esperam sua volta gloriosa".
- Quando urge uma necessidade
grave, a critério do ordinário, os ministros católicos podem dar os
sacramentos Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos) aos outros
cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja católica, mas que os
pedem espontaneamente: é preciso então que manifestem a fé católica no
tocante a esses sacramentos e que apresentem as disposições exigidas.
VII. A Eucaristia - "penhor da glória
futura"
- Em uma oração, a Igreja
aclama o mistério da Eucaristia: "O sacrum convivium in quo Christus
sumitur. Recolitur memoria passionis eius; mens impletur gratia etffiturae
gloriae nobis pignus datur - O sagrado banquete, em que de Cristo nos
alimentamos. Celebra-se a memória de sua Paixão, o espírito é repleto de
graças e se nos dão penhor da glória". Se a Eucaristia é o memorial
da Páscoa do Senhor, se por nossa comunhão ao altar somos repletos
"de todas as graças e bênçãos do céu", a Eucaristia também a
antecipação da glória celeste.
- Quando da última Ceia, o
Senhor mesmo dirigia o olhar de seus discípulos para a realização da
Páscoa no Reino de Deus: "Desde agora não beberei deste fruto da
videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino de
meu Pai" (Mt 26,29). Toda vez que a Igreja celebra a Eucaristia
lembra-se desta promessa, e seu olhar se volta para "aquele que
vem" (Ap 1,4). Em sua oração, suspira por sua vinda: "Maran
athá" (1 Cor 16,22), "Vem, Senhor Jesus" (Ap 22,20),
"Venha vossa graça e passe este mundo!"
- A Igreja sabe que, desde
agora, o Senhor vem em sua Eucaristia, e que ali Ele está, no meio de nós.
Contudo, esta presença é velada. Por isso, celebramos a Eucaristia
"expectantes beatam spem et adventum Salvatoris nostri Jesu Christi -
aguardando a bem-aventurada esperança e a vinda de nosso Salvador Jesus
Cristo", pedindo "saciar-nos eternamente da vossa glória, quando
enxugardes toda lágrima dos nossos olhos. Então, contemplando-vos como
sois, seremos para sempre semelhantes a vós e cantaremos sem cessar os
vossos louvores, por Cristo, Senhor nosso".
- Desta grande esperança, a
dos céus novos e da terra nova nos quais habitará a justiça, não temos
penhor mais seguro, sinal mais manifesto do que a Eucaristia. Com efeito,
toda vez que é celebrado este mistério, "opera-se a obra da nossa
redenção" e nós "partimos um mesmo pão, que é remédio de
imortalidade, antídoto não para a morte, mas para a vida eterna em Jesus
Cristo".
RESUMINDO
- Jesus disse: "Eu
sou o pão vivo, descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente...... Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem vida
eterna. (...) permanece em mim e eu nele" (Jo 6,51.54.56).
- A Eucaristia é o coração
e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos
os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido
uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as
graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.
- A Celebração Eucarística
comporta sempre: a proclamação da Palavra de Deus, a ação de graças a Deus
Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom de seu Filho, a
consagração do pão e do vinho e a participação no banquete litúrgico pela
recepção do Corpo e do Sangue do Senhor. Estes elementos constituem um só
e mesmo ato de culto.
- A Eucaristia é o
memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela
Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação
litúrgica.
- É Cristo mesmo, sumo
sacerdote eterno da nova aliança, que, agindo pelo ministério dos
sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é também o mesmo Cristo,
realmente presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do
Sacrifício Eucarístico.
- Só os sacerdotes
validamente ordenados podem presidir a Eucaristia e consagrar o pão e o
vinho para que se tornem a Corpo e o Sangue do Senhor.
- Os sinais essenciais do
Sacramento Eucarístico são o pão de trigo e o vinho de uva, sobre os quais
é invocada a bênção da Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia as palavras
da consagração ditas por Jesus durante a ultima ceia: "Isto é o meu
Corpo entregue por vós. (...) Este é o cálice do meu Sangue (...)"
- Por meio da consagração
opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de
Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo, vivo
e glorioso está presente de maneira verdadeira, real e substancial, seu
Corpo e seu Sangue, com sua alma e sua divindade.
- Enquanto sacrifício, a
Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos
defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais.
- Quem quer receber a
Cristo na comunhão eucarística deve estar em estado de graça. Se alguém
tem consciência de ter pecado mortalmente, não deve comungar a Eucaristia
sem ter recebido previamente a absolvição no sacramento da penitência.
- A santa comunhão do
Corpo e do Sangue de Cristo aumenta a união do comungante com o Senhor,
perdoa-lhe os pecados veniais e o preserva dos pecados graves. Por serem
reforçados os laços de caridade entre o comungante e Cristo, a recepção
deste sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo místico de Cristo.
- A Igreja recomenda
vivamente aos fiéis que recebam a Santa Comunhão quando participam da
celebração da Eucaristia; impõe-lhes a obrigação de comungar pelo menos
uma vez por ano.
- Visto que Cristo mesmo
está presente no Sacramento do altar, é preciso honrá-lo com um culto de
adoração. "A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão,
um sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo, nosso Senhor.
"
- Tendo Cristo passado
deste mundo ao Pai, dá-nos na Eucaristia o penhor da glória junto dele: a
participação no Santo Sacrifício nos identifica com o seu coração,
sustenta as nossa forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos
desejar a vida eterna e nos une já à Igreja do céu, à santa Virgem Maria e
a todos os santos.
CAPÍTULO
II
OS SACRAMENTOS
DE CURA
- Pelos sacramentos da
iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida nós
a trazemos "em vasos de argila" (2Cor 4,7). Agora, ela ainda se
encontra "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). Estamos ainda
em "nossa morada terrestre", sujeitos ao sofrimento, à doença e
à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até
perdida pelo pecado.
- O Senhor Jesus Cristo,
médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os pecados do
paralítico e restituiu-lhe a saúde do corpo, quis que sua Igreja
continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação,
também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois
sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o sacramento da Unção
dos Enfermos.
ARTIGO 4
O SACRAMENTO DA
PENITÊNCIA
E DA
RECONCILIAÇÃO
- "Aqueles que se
aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o
perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a
Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com
caridade exemplo e orações."
I. Como se chama este sacramento?
- Chama-se sacramento da
Conversão, pois realiza sacramentalmente o convite de Jesus à conversão, o
caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado.
Chama-se sacramento da Penitência porque consagra
um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação
do cristão pecador.
- É chamado sacramento da
Confissão porque a declaração, a confissão dos pecados diante do sacerdote
é um elemento essencial desse sacramento. Num sentido profundo esse
sacramento também é uma "confissão", reconhecimento e louvor da
santidade de Deus e de sua misericórdia para com o homem pecador. Também é
chamado sacramento do perdão porque pela absolvição sacramental do
sacerdote Deus concede "o perdão e a paz"
É chamado sacramento da Reconciliação porque dá
ao pecador o amor de Deus que reconcilia: "Reconciliai-vos com Deus"
(2Cor 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus está pronto a responder
ao apelo do Senhor: "Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão" (Mt
5,24).
II. Por que um sacramento da Reconciliação
após o Batismo?
- "Vós vos lavastes, mas
fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus
Cristo e pelo Espírito de nosso Deus" (1 Cor 6,11). É preciso tomar
consciência da grandeza do dom de Deus que nos é oferecido nos sacramentos
da iniciação cristã para compreender até que ponto o pecado é algo que
deve ser excluído daquele que se "vestiu de Cristo". Mas o
apóstolo São João também diz: "Se dissermos: "Não temos
pecado", enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós"
(1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos ensinou a rezar: "Perdoa-nos os
nossos pecados" (Lc 11,4), vinculando o perdão de nossas ofensas ao
perdão que Deus nos conceder de nossos pecados.
- A conversão a Cristo, o
novo nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o Corpo e o Sangue
de Cristo recebidos como alimento nos tornaram "santos e
irrepreensíveis diante dele" (Ef 1,4), como a própria Igreja, esposa
de Cristo, é "santa e irrepreensível" (Ef 5,27). Entretanto, a
nova vida recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a
fraqueza da natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que a tradição
chama de concupiscência, que continua nos batizados para prová-los no
combate da vida cristã, auxiliados pela graça de Cristo. É o combate da
conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual somos
incessantemente chamados pelo Senhor.
III. A conversão dos batizados
- Jesus convida à conversão.
Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino: "Cumpriu-se o tempo
e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho"
(Mc 1,15). Na pregação da Igreja este apelo é feito em primeiro lugar aos
que ainda não conhecem a Cristo e seu Evangelho. Além disso, o Batismo é o
principal lugar da primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova
e pelo Batismo que se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto é, a
remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.
- Ora, o apelo de Cristo à
conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é
uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que "reúne em seu próprio
seio os pecadores" e que "e ao mesmo tempo santa e sempre, na
necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a
renovação". Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana. E
o movimento do "coração contrito" atraído e movido pela graça a
responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro.
- Comprova-o a conversão de
5. Pedro após a tríplice negação de seu mestre. O olhar de infinita
misericórdia de Jesus provoca lágrimas de arrependimento e, depois da
ressurreição do Senhor, a afirmação, três vezes reiterada, de seu amor por
e1e. A segunda conversão também possui uma dimensão comunitária. Isto
aparece no apelo do Senhor a toda uma Igreja: "Converte-te!" (Ap
2,5.16).
Santo Ambrósio, referindo-se às duas conversões,
diz que na Igreja "existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as
lágrimas da penitência".
IV. A penitência interior
- Como já nos profetas, o
apelo de Jesus à conversão e penitência não visa em primeiro lugar às
obras exteriores, saco e a cinza", os jejuns e as mortificações, mas
à conversão do coração, à penitência interior. Sem ela, as obras de
penitência continuam estéreis e enganadoras: a conversão interior, ao contrário,
impele a expressar essa atitude por sinais visíveis, gestos e obras de
penitência.
- A penitência interior é uma
reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus
de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e
repugnância às m s obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e
a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a
confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada
de uma dor e uma tristeza salutares, chamadas pelos Padres de "animi
cruciatus (aflição do espírito)", "compunctio cordis
(arrependimento do coração)" .
- O coração do homem
apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê ao homem um
coração novo. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que
reconduz nossos corações a ele: "Converte-nos a ti, Senhor, e nos
converteremos" (Lm 5,21). Deus nos dá a força de começar de novo. É
descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso coração experimenta o
horror e o peso do pecado e começa a ter medo de ofender a Deus pelo mesmo
pecado e de ser separado dele. O coração humano converte-se olhando para
aquele que foi traspassado por nossos pecados.
Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para
compreender como é precioso a seu Pai porque, derramado para a nossa salvação,
dispensou ao mundo inteiro a graça do arrependimento.
- Depois da Páscoa, o
Espírito Santo "estabelecer a culpabilidade do mundo a respeito do
pecado", a saber, que o mundo não acreditou naquele que o Pai enviou.
Mas esse mesmo Espírito, que revela o pecado, é o Consolador que dá ao
coração do homem a graça do arrependimento e da conversão.
V. As múltiplas formas da penitência na
vida cristã
- A penitência interior do
cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem
principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem
a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da
purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como
meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para
reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com
a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade,
"que cobre uma multidão de pecados" (1Pd 4,8).
- A conversão se realiza na
vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres,
do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das
faltas aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo
exame de consciência pela direção espiritual, pela aceitação dos
sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua
cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia.
- Eucaristia e penitência. A
conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu alimento na
Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos
reconciliou com Deus; por ela são nutridos e fortificados aqueles que
vivem da vida de Cristo: "ela é o antídoto que nos liberta de nossas
faltas cotidianas e nos preserva dos pecados mortais".
- A leitura da Sagrada
Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo ato sincero
de culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de
penitência e contribui para o perdão dos pecados.
- Os tempos e os dias de
penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada
sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática
penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos
exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em
sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à
partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).
- O dinamismo da conversão e
da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do
"filho pródigo", cujo centro é "O pai misericordioso":
o fascínio de uma liberdade ilusória, o abandono da casa paterna; a
extrema miséria em que se encontra o filho depois de esbanjar sua fortuna;
a profunda humilhação de ver-se obrigado a cuidar dos porcos e, pior
ainda, de querer matar a fome com a sua ração; a reflexão sobre os bens
perdidos; o arrependimento e a decisão de declarar-se culpado diante do
pai; o caminho de volta; o generoso acolhimento da parte do pai; a alegria
do pai: tudo isso são traços específicos do processo de conversão. A bela
túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova vida, pura,
digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio
de sua família, que é a Igreja. Só o coração de Cristo que conhece as
profundezas do amor do Pai pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia
de uma maneira tão simples e tão bela.
VI. O sacramento da Penitência e da
Reconciliação
- O pecado é antes de tudo
uma ofensa a Deus, uma ruptura da comunhão com ele. Ao mesmo tempo é um
atentado à comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz
simultaneamente o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, Q que é
expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e da
Reconciliação.
SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS
- Só Deus perdoa os pecados.
Por ser o Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: "O Filho do homem tem
poder de perdoar pecados na terra" (Mc 2,10) e exerce esse poder
divino: "Teus pecados estão perdoados!" (Mc 2,5). Mais ainda: em
virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens para que
o exerçam em seu nome.
- A vontade de Cristo é que
toda a sua Igreja seja, na oração, em sua vida e em sua ação, o sinal e
instrumento do perdão e da reconciliação que "ele nos conquistou ao
preço de seu sangue". Mas confiou o exercício do poder de absolvição
ao ministério apostólico, encarregado do "ministério da
reconciliação" (2Cor 5,18). O apóstolo é enviado "em nome de
Cristo", e "é o próprio Deus" que, por meio dele, exorta e
suplica: "Reconciliai-vos com Deus" (2Cor 5,20).
RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA
- Durante sua vida pública,
Jesus não só perdoou os pecados, mas também manifestou o efeito desse
perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus,
da qual o pecado os havia afastado ou até excluído. Um sinal evidente
disso é o fato de Jesus admitir os pecadores à sua mesa e, mais ainda, de
Ele mesmo sentar-se à sua mesa, gesto que exprime de modo estupendo ao
mesmo tempo o perdão de Deus e o retomo ao seio do Povo de Deus.
- Conferindo aos apóstolos
seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a
autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão
eclesial de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de
Cristo a Simão Pedro: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e o
que ligares na terra ser ligado nos céus, e o que desligares na terra será
desligado nos céus" (Mt 16,19). "O múnus de ligar e desligar,
que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao colégio do apóstolos,
unido a seu chefe (cf. Mt 18,18; 28,16-20)."
- As palavras ligar e
desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão, será
excluído da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa
comunhão, Deus o acolherá também na sua. A reconciliação com a Igreja é
inseparável da reconciliação com Deus.
O SACRAMENTO DO PERDÃO
- Cristo instituiu o
sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja,
antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave
e com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. E a
eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de
converter-se e de recobrar a graça da justificação. Os Padres da Igreja
apresentam este sacramento como "a segunda tábua (de salvação) depois
do naufrágio que é a perda da graça.
- No curso dos séculos, a
forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do
Senhor variou muito. Nos primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos
que haviam cometido pecados particularmente graves depois do Batismo (por
exemplo, a idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada a uma
disciplina bastante rigorosa, segundo a qual os penitentes deviam fazer
penitência pública por seus pecados, muitas vezes durante longos anos,
antes de receber a reconciliação. A esta "ordem dos penitentes"
(que incluía apenas certos pecados graves) só se era admitido raramente e,
em certas regiões, só uma vez na vida. No século VII, inspirados na
tradição monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para a
Europa continental a prática "privada" da penitência que não
mais exigia a prática pública e prolongada de obras de penitência antes de
receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento se realiza daí em
diante de uma forma mais secreta entre o penitente e o presbítero. Esta
nova prática previa a possibilidade da repetição, abrindo assim o caminho
para uma freqüência regular a este sacramento. Permitia integrar numa
única celebração sacramental o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais.
Em linhas gerais, é essa a forma de penitência praticada na Igreja até
hoje.
- Mediante as mudanças por
que passaram a disciplina e a celebração deste sacramento ao longo dos
séculos, podemos discernir sua própria estrutura fundamental que consta de
dois elementos igualmente essenciais: de um lado, os atos do homem que se
converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e
a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja. A
Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus
Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação, ora pelo
pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado
na comunhão eclesial.
- A fórmula da absolvição em
uso na Igreja latina exprime os elementos essenciais deste sacramento: o
Pai das misericórdias é a fonte de todo perdão. Ele opera a reconciliação
dos pecadores pela páscoa de seu Filho e pelo dom de seu Espírito, por
meio da oração e ministério da Igreja:
Deus, Pai de misericórdia, que, pela Morte e
Ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito
Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o
perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo
VII. Os atos do penitente
- "A penitência impele o
pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração está o
arrependimento; em sua boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e
proveitosa satisfação".
A CONTRIÇÃO
- Entre os atos do penitente,
a contrição vem em primeiro lugar. Consiste "numa dor da alma e
detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no
futuro" .
- Quando brota do amor de
Deus, amado acima de tudo, contrição é "perfeita" (contrição de
caridade). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão
dos pecado mortais, se incluir a firme resolução de recorrer, quando
possível, à confissão sacramental.
- A contrição chamada
"imperfeita" (ou "atrição") também é um dom de Deus,
um impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou
do temor da condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador
(contrição por temor). Este abalo da consciência pode ser o início de uma
evolução interior que ser concluída sob a ação da graça, pela absolvição
sacramental. Por si mesma, porém, a contrição imperfeita não obtém o
perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da
penitência.
- Convém preparar a recepção
deste sacramento fazendo um exame de consciência à luz da Palavra de Deus.
Os textos mais adaptados esse fim devem ser procurados na catequese moral
dos evangelhos e das cartas apostólicas: Sermão da Montanha, ensinamentos
apostólicos.
A CONFISSÃO DOS PECADOS
- A confissão dos pecados
(acusação), mesmo do ponto de vista simplesmente humano, nos liberta e
facilita nossa reconciliação com os outros. Pela acusação, o homem encara
de frente os pecados dos quais se tornou culpado: assume a
responsabilidade deles e, assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão da
Igreja, a fim de tomar possível um futuro novo.
- A declaração dos pecados ao
sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência:
"Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais
de que têm consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses
pecados sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os
dois últimos preceitos do decálogo (Cf Ex 20,17; Mt 5,28.), pois, às
vezes, esses pecados ferem gravemente a alma e são mais prejudiciais do
que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de todos".
Quando os cristãos se esforçam para confessar
todos os pecados que lhes vêm à memória, não se pode duvidar que tenham o
intuito de apresentá-los todos ao perdão da misericórdia divina. Os que agem de
outra forma, tentando ocultar conscientemente alguns pecados, não colocam
diante da bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio do
sacerdote. Pois, "se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao
médico, a medicina não pode curar aquilo que ignora".
- Conforme o mandamento da
Igreja, "todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é
obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo
menos uma vez por ano". Aquele que tem consciência de ter cometido um
pecado mortal não deve receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja
profundamente contrito, sem receber previamente a absolvição sacramental,
a menos que tenha um motivo grave para comungar e lhe seja impossível
chegar a um confessor. As crianças devem confessar-se antes de receber a Primeira
Eucaristia.
- Apesar de não ser
estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas (pecados
veniais) é vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão
regular de nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a
lutar contra nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo, a
progredir na vida do Espírito. Recebendo mais freqüentemente, por meio
deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser
misericordiosos como ele;
Quem confessa os próprios pecados já está agindo
em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se tu também os acusas, tu te
associas a Deus. O homem e o pecador são, por assim dizer, duas realidades:
quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do
pecador, é o próprio homem quem o fez. Destrói o que fizeste para que Deus
salve o que Ele fez... Quando começas a detestar o que fizeste, é então que
tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más
obras é o começo das boas obras. Contribui para a verdade e consegues chegar à
1uz.
A SATISFAÇÃO
- Muitos pecados prejudicam o
próximo. É preciso fazer possível para reparar esse mal (por exemplo
restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi
caluniado ressarcir as ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso.
Mas, além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, como também
suas relações com Deus e com o próxima. A absolvição tira o pecado, mas
não remedeia todas as desordens que ele causou. Liberto do pecado, o pecador
deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, faz alguma
coisa a mais para reparar seus pecados: deve "satisfazer" de
modo apropriado ou "expiar" seus pecados. Esta satisfação
chama-se também "penitência".
- A penitência imposta pelo confessor
deve levar em conta a situação pessoal do penitente e procurar seu bem
espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade e à
natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em
obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, em
sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que devemos
carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo, que,
sozinho, expiou nossos pecados uma vez por todas. Permitem-nos também
tomar-nos co-herdeiros de Cristo ressuscitado, "pois sofremos com
ele":
Mas nossa satisfação, aquela que pagamos por
nossos pecados, só vale por intermédio de Jesus Cristo, pois, não podendo coisa
alguma por nós mesmos, "tudo podemos com a cooperação daquele que nos dá
força"(Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o homem de que se gloriar, mas toda
a nossa "glória" está em Cristo... em quem oferecemos satisfação,
"produzindo dignos frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que dele recebem seu
valor, por Ele são oferecidos ao Pai e graças a Ele são aceitos pelo Pai.
VIII. O ministro deste sacramento
- Como Cristo confiou a seus
apóstolos o ministério da Reconciliação, os Bispos, seus sucessores, e os
presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse ministério.
De fato, são os Bispos e os presbíteros que têm, em virtude do sacramento
da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados "em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo".
- O perdão dos pecados
reconcilia com Deus, mas também com a Igreja. O Bispo, chefe visível da
Igreja Particular, é, portanto, considerado, com plena razão, desde os
tempos primitivos, aquele que principalmente detém o poder e o ministério
da reconciliação: ele é o moderador da disciplina penitencial. Os
presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida em que receberam o
múnus, quer de seu Bispo (ou de um superior religioso), quer do Papa, por
meio do direito da Igreja.
- Alguns pecados
particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena eclesiástica
mais severa, que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de certos
atos eclesiais. Neste caso, a absolvição não pode ser dada, segundo o
direito da Igreja, a não ser pelo Papa, pelo Bispo local ou por
presbíteros autorizados por eles. Em caso de perigo de morte, qualquer sacerdote,
mesmo privado da faculdade de ouvir confissões, pode absolver de qualquer
pecado e de qualquer excomunhão.
- Os sacerdotes devem
incentivar os fiéis a receber o sacramento da Penitência e devem
mostrar-se disponíveis a celebrar este sacramento cada vez que os cristãos
o pedirem de modo conveniente.
- Ao celebrar o sacramento da
Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom pastor, que busca a
ovelha perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera
o filho pródigo e o acolhe ao voltar; do justo juiz, que não faz acepção
de pessoa e cujo julgamento é justo e misericordioso ao mesmo tempo. Em
suma, o sacerdote é o sinal e o instrumento do amor misericordioso de Deus
para com o pecador.
- O confessor não é o senhor,
mas o servo do perdão de Deus. O ministro deste sacramento deve unir-se à
intenção e à caridade Cristo. Deve possuir um comprovado conhecimento do
comportamento cristão, experiência das coisas humanas, respeito e
delicadeza diante daquele que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao
magistério da Igreja e conduzir, com paciência, o penitente à cura e à
plena maturidade. Deve orar e fazer penitência por ele, confiando-o à
misericórdia do Senhor.
- Diante da delicadeza e da
grandiosidade deste ministério e do respeito que se deve às pessoas, a
Igreja declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar
segredo absoluto a respeito dos pecados que seus penitentes lhe
confessaram, sob penas severíssimas. Também não pode fazer uso do
conhecimento da vida dos penitentes adquirido pela confissão. Este
segredo, que não admite exceções, chama-se "sigilo sacramental",
porque o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece
"sigilado" pelo sacramento.
IX. Os efeitos deste sacramento
- "Toda a força da
Penitência reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus e de
nos unir a Ele com a máxima amizade." Portanto, a finalidade e o
efeito deste sacramento é a reconciliação com Deus. Os que recebem o
sacramento da Penitência com coração contrito e disposição religiosa
"podem usufruir a paz e a tranqüilidade da consciência, que vem
acompanhada de uma intensa consolação espiritual". Com efeito, o
sacramento da Reconciliação com Deus traz consigo uma verdadeira
"ressurreição espiritual", uma restituição da dignidade e dos
bens da vida dos filhos de Deus, entre os quais o mais precioso é a
amizade de Deus (Cf Lc 15,32).
- Este sacramento nos
reconcilia com a Igreja. O pecado fende ou quebra a comunhão fraterna. O
sacramento da Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não cura
apenas aquele que é restabelecido na comunhão eclesial, mas tem também um
efeito vivificante sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado de um
de seus membros. Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o
pecador sai fortalecido pela participação dos bens espirituais de todos os
membros vivos do Corpo de Cristo, quer estejam ainda em estado de
peregrinação, quer já estejam na pátria celeste:
Não devemos esquecer que a reconciliação com Deus
tem como conseqüência, por assim dizer, outras reconciliações capazes de
remediar outras rupturas ocasionadas pelo pecado: o penitente perdoado
reconcilia-se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser, onde recupera a
própria verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira ofendeu
e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criação.
- Neste sacramento, o
pecador, entregando-se ao julgamento misericordioso de Deus, antecipa de
certa maneira o julgamento a que ser sujeito no fim desta vida terrestre.
Pois é agora, nesta vida, que nos é oferecida a escolha entre a vida e a
morte, e só pelo caminho da conversão poderemos entrar no Reino do qual
somos excluídos pelo pecado grave. Convertendo-se a Cristo pela penitência
e pela fé, o pecador passa da morte para a vida "sem ser
julgado" (Jo 5,24).
X. As indulgências
- A doutrina e a prática das
indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do
sacramento da Penitência.
QUE É A INDULGÊNCIA?
"A indulgência é a remissão, diante de Deus,
da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão)
que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da
Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua
autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos
santos."
"A indulgência é parcial ou plenária,
conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados." Todos
os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos
defuntos.
AS PENAS DO PECADO
- Para compreender esta
doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma
dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e,
consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se
chama "pena eterna" do pecado. Por outro lado, todo pecado,
mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige
purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado
"purgatório". Esta purificação liberta da chamada "pena
temporal" do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como
uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como
uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede
de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal
modo que não haja mais nenhuma pena.
- O perdão do pecado e a
restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do
pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado. Suportando
pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora,
enfrentando serenamente a morte, o cristão deve esforçar-se para aceitar,
como urna graça, essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por
inicio de obras de misericórdia e de caridade, como também pela oração e
por diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do
"velho homem" para revestir-se do "homem novo".
NA COMUNHÃO DOS SANTOS
- O cristão que procura
purificar-se de seu pecado e santificar-se com o auxílio da graça de Deus
não está só. "A vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por
um admirável laço, em Cristo e por Cristo, com a vida de todos os outros
irmãos cristãos na unidade sobrenatural do corpo místico de Cristo, como
numa única pessoa mística."
- Na comunhão dos santos,
"existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da pátria
celeste, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam
na terra, um laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os
bens". Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da santidade
dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado
aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador
contrito se purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.
- Esses bens espirituais da
comunhão dos santos também são chamados o tesouro da Igreja, "que não
é uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no
decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e inesgotável que têm junto a
Deus as expiações e os méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para
que a humanidade toda seja libertada do pecado e chegue à comunhão com o
Pai. E em Cristo, nosso redentor, que se encontram em abundância as
satisfações e os méritos de sua redenção".
- "Pertence, além disso,
a esse tesouro o valor verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre
novo que têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-aventurada
Virgem Maria e de todos os santos que, seguindo as pegadas de Cristo
Senhor, por sua graça se santificaram e totalmente acabaram a obra que o
Pai lhes confiara, de sorte que, operando a própria salvação, também
contribuíram para a salvação de seus irmãos na unidade do corpo
místico."
OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A
IGREJA
- A indulgência se obtém de
Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de ligar e desligar que
Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o
tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das
misericórdias a remissão das penas temporais devidas a seus pecados.
Assim, a Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas também o incita a
obras de piedade, de penitência e de caridade.
- Uma vez que os fiéis
defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos
santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles
indulgências para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.
XI. A celebração do sacramento da
Penitência
- Como todos os sacramentos,
a Penitência é uma ação litúrgica. São estes ordinariamente os elementos
da celebração: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus
para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao
arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao
padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote;
louvor de ação de graças e despedida com a bênção do sacerdote.
- A liturgia bizantina
conhece diversas fórmulas de absolvição, forma depreciativa, que exprimem
admiravelmente o mistério do perdão: "Que o Deus que pelo profeta
Natã perdoou a Davi, que confessou seus próprios pecados; a Pedro, quando
chorou amargamente; à prostituta, quando lavou seus pés com lágrimas; ao
publicano e ao filho pródigo, que esse mesmo Deus vos perdoe, por mim,
pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer em seu terrível
tribunal sem vos condenar, Ele que é bendito nos séculos dos séculos.
Amém.
- O sacramento da Penitência
também pode ter lugar no quadro de uma celebração comunitária, na qual as
pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas agradecem pelo
perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a
absolvição individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com
leituras e homilia, exame de consciência em comum, pedido comunitário de
perdão, oração do Pai-Nosso e ação de graças em comum. Esta celebração
comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da penitência. Mas,
seja qual for o modo da celebração, o sacramento da Penitência sempre é,
por sua própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial e pública.
- Em casos de necessidade
grave, pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação com
confissão e absolvição gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se
quando há um perigo iminente de morte sem que o ou os sacerdotes tenham
tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade
grave pode também apresentar-se quando, tendo-se em vista o número dos
penitentes, não havendo confessores suficientes para ouvir devidamente as
confissões individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes, sem
culpa de sua parte, se veriam privados durante muito tempo da graça
sacramental ou da sagrada Eucaristia. Nesse caso, os fiéis devem ter, para
a validade da absolvição, o propósito de confessar individualmente seus
pecados graves no devido tempo. Cabe ao Bispo diocesano julgar se os
requisitos para a absolvição geral existem. Um grande concurso de fiéis
por ocasião das grandes festas ou de peregrinação não constitui caso de
tal necessidade grave.
- "A confissão
individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único modo
ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo
se uma impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão." Há
razões profundas para isso. Cristo age em cada um dos sacramentos.
Dirige-se pessoalmente a cada um dos pecadores: "Filho, os teus
pecados estão perdoados" (Mc 2,5); ele é o médico que se debruça
sobre cada um dos doentes que têm necessidade dele para curá-los; ele os
soergue e reintegra na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a
forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja.
RESUMINDO
- "Dizendo isso,
soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem
perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais os
retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20,22-23).
- O perdão dos pecados
cometidos após o Batismo é concedido por um sacramento próprio chamado
sacramento da Conversão, da Confissão, da Penitência ou da Reconciliação.
- Quem peca fere a honra
de Deus e seu amor, sua própria dignidade de homem chamado a ser filho de
Deus e a saúde espiritual da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra
viva.
- Aos olhos da fé, nenhum
mal é mais grave que o pecado, e nada tem conseqüências piores para os
próprios pecador, e para a Igreja e para o mundo inteiro.
- Voltar à comunhão com
Deus depois de a ter perdido pelo pecado é um movimento que nasce da graça
do Deus misericordioso e solícito pela salvação dos homens. E preciso
pedir esse dom precioso para si mesmo e também para os outros.
- O movimento de volta a
Deus, chamado conversão e arrependimento, implica uma dor e uma aversão
aos pecados cometidos e o firme propósito de não mais pecar no futuro. A
conversão atinge, portanto, o passado e o futuro; nutre-se da esperança na
misericórdia divina.
- O sacramento da
Penitência é constituído de três atos do penitente e da absolvição dada
pelo sacerdote. Os atos do penitente são o arrependimento, a confissão ou
manifestação dos pecados ao sacerdote e o propósito de cumprir a
penitência e as obras de reparação.
- O arrependimento (também
chamado contrição) deve inspirar-se em motivos que decorrem da fé. Se o
arrependimento estiver embasado no amor de caridade para com Deus, é
chamado "perfeito"; se estiver fundado em outros motivos, será
"imperfeito".
- Aquele que quiser obter
a reconciliação com Deus e com a Igreja deve confessar ao sacerdote todos
os pecados graves que ainda não confessou e de que se lembra depois de
examinar cuidadosamente sua consciência. Mesmo sem ser necessária em si a
confissão das faltas veniais, a Igreja não deixa de recomendá-la
vivamente.
- O confessor propõe ao
penitente o cumprimento de certos atos de "satisfação" ou de
"penitencia", para reparar o prejuízo causado pelo pecado e
restabelecer os hábitos próprios ao discípulo de Cristo.
- Somente os sacerdotes
que receberam da autoridade da Igreja a faculdade de absolver podem
perdoar os pecados em nome de Cristo.
- Os efeitos espirituais
do sacramento da Penitência são:
- a reconciliação com Deus, pela qual o penitente
recobra a graça;
- a reconciliação com a Igreja;
- a remissão da pena eterna devida aos pecados
mortais;
- a remissão, pelo menos em parte, das penas
temporais, seqüelas do pecado;
- a paz e a serenidade da consciência e a
consolação espiritual;
o acréscimo de forças espirituais para o combate
cristão.
- A confissão individual e
integral dos pecados graves, seguida da absolvição, continua sendo o único
meio ordinário de reconciliação com Deus e com a Igreja.
- Pelas indulgências, os
fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do Purgatório a
remissão das penas temporais, conseqüências dos pecados.
ARTIGO
5
A UNÇÃO DOS
ENFERMOS
- "Pela sagrada Unção
dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda entrega os
doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie
e salve. Exorta os mesmos a que livremente se associem à paixão e à morte
de Cristo e contribuam para o bem do povo de Deus."
I. Seus fundamentos na economia da salvação
- A ENFERMIDADE NA VIDA
HUMANA
A enfermidade e o sofrimento sempre estiveram
entre problemas mais graves da vida humana. Na doença, o homem experimenta sua
impotência, seus limites e sua finitude. Toda doença pode fazer-nos entrever a
morte.
- A enfermidade pode levar a
pessoa à angústia, a fechar-se sobre si mesma e, às vezes, ao desespero e
à revolta contra Deus. Mas também pode tomar a pessoa mais madura,
ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para volta-se
àquilo que é essencial. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um
retomo a Ele.
O ENFERMO DIANTE DE DEUS
- O homem do Antigo
Testamento vive a doença diante Deus. E diante de Deus que ele faz sua
queixa sobre a enfermidade, e é dele, o Senhor da vida e da morte, que
implora a cura . A enfermidade se toma caminho de conversão e o perdão de
Deus de início à cura. Israel chega à conclusão de que a doença, de uma
forma misteriosa, está ligada ao pecado e ao mal e que a fidelidade a
Deus, segundo sua Lei, dá a vida: "Porque eu sou Iahweh, aquele que
te restaura" (Ex 15,26). O profeta entrevê que o sofrimento também
pode ter um sentido redentor para os pecados dos outros (Cf Is 53,11).
Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará chegar um tempo para Si o em
que toda falta será perdoada e toda doença ser curada (Cf Is 33,24).
CRISTO - MÉDICO
- A compaixão de Cristo para
com os doentes e suas numerosas curas de enfermos de todo tipo são um
sinal evidente de que "Deus visitou o seu povo e de que o Reino de
Deus está bem próximo. Jesus não só tem poder de curar, mas também de
perdoar os pecados: ele veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o
médico de que necessitam os doentes. Sua compaixão para com todos aqueles
que sofrem é tão grande que ele se identifica com eles: "Estive
doente e me visitastes" (Mt 25,36). Seu amor de predileção pelos
enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção toda
especial dos cristãos para com todos os que sofrem no corpo e na alma.
Esse amor está na origem dos incansáveis esforços para aliviá-los.
- Muitas vezes Jesus pede aos
enfermos que creiam. Serve-se de sinais para curar: saliva e imposição das
mãos, lama e ablução. Os doentes procuram tocá-lo, "porque dele saía
uma força que a todos curava" (Lc 6,19). Também nos sacramentos
Cristo continua a nos "tocar" para nos curar.
- Comovido com tantos
sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes, mas assume
suas misérias: "Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas
doenças". Não curou todos os enfermos. Suas curas eram sinais da
vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o
pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o
peso do mal e tirou o "pecado do mundo" (Jo 1,29). A enfermidade
não é mais do que uma conseqüência do pecado. Por sua paixão e morte na
cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode
configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora.
"CURAI OS ENFERMOS..."
- Cristo convida seus
discípulos a segui-lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-o, adquirem uma
nova visão da doença e dos doentes. Jesus os associa á sua vida pobre e de
servidor. Faz com que participem de seu ministério de compaixão e de cura:
"Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam
muitos demônios e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo" (Mc
6,12-13).
- O Senhor ressuscitado
renova este envio ("Em meu nome... eles imporão as mãos sobre os
enfermos e estes ficarão curados". (Mc 16,17-18) e o confirma por
meio dos sinais realizados pela Igreja ao invocar seu nome. Esses sinais
manifestam de um modo especial que Jesus é verdadeiramente "Deus que
salva".
- O Espírito Santo dá a
algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar a força da
graça do ressuscitado. Todavia, mesmo as orações mais intensas não
conseguem obter a cura de todas as doenças. Por isso, São Paulo deve
aprender do Senhor que "basta-te a minha graça, pois é na fraqueza
que minha força manifesta todo o seu poder" (2Cor 12,9), e que os
sofrimentos que temos de suportar podem ter como sentido "completar
na minha carne o que falta às tribulações de Cristo por seu corpo, que é a
Igreja" (Cl 1,24).
- "Curai os
enfermos!" (Mt 10,8). A Igreja recebeu esta missão do Senhor e
esforça-se por cumpri-la tanto pelos cuidados aos doentes como pela oração
de intercessão com que os acompanha. Ela crê na presença vivificante de
Cristo, médico da alma e do corpo. Esta presença age particularmente por
intermédio dos sacramentos e, de modo especial, pela Eucaristia, pão que
dá vida eterna a cujo liame com a saúde corporal São Paulo alude.
- Entretanto, a Igreja
apostólica conhece um rito próprio em favor dos doentes, atestado por São
Tiago: "Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da
Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A
oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido
pecados, estes lhe serão perdoados" (Tg 5,14-l5). A Tradição
reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja.
UM SACRAMENTO DOS ENFERMOS
- A Igreja crê e confessa que
existe, entre os sete sacramentos, um sacramento especialmente destinado a
reconfortar aqueles que provados pela enfermidade: a Unção dos Enfermos.
Esta unção sagrada dos enfermos foi instituída
por Cristo nosso Senhor como um sacramento do Novo Testamento, verdadeira e
propriamente dito, insinuado por Marcos, mas recomendado aos fiéis e promulgado
por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor.
- Na tradição litúrgica,
tanto no Oriente como no Ocidente, constam desde a Antigüidade testemunhos
de unções de enfermos praticadas com óleo bento. No curso dos séculos, a
Unção dos Enfermos foi cada vez mais conferida exclusivamente aos
agonizantes. Por causa disso, recebeu o nome de "Extrema-Unção".
Apesar desta evolução, a liturgia jamais deixou de orar ao Senhor para que
o enfermo recobre a saúde, se tal convier à sua salvação.
- A constituição apostólica
Sacram unctionem infirmorum, de 30 de novembro de 1972, seguindo o
Concílio Vaticano II, estabeleceu que doravante, no rito romano, se
observe o seguinte:
O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido às
pessoas acometidas de doenças perigosas, ungindo-as na fronte e nas mãos com
óleo devidamente consagrado - óleo de oliveira ou outro óleo extraído de
plantas -, dizendo uma só vez: "Por esta santa unção e por sua puiíssima
misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para
que, liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus
sofrimentos".
II. Quem recebe e quem administra este
sacramento?
EM CASO DE DOENÇA GRAVE...
- A Unção dos Enfermos
"não é um sacramento só daqueles que se encontram às portas da morte.
Portanto, tempo oportuno para receber a Unção dos Enfermos é certamente o
momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de
doença, debilitação física ou velhice".
- Se um enfermo que recebeu a
Unção dos Enfermos recobrar a saúde, pode, em caso de recair em doença
grave, receber de novo este sacramento. No decorrer da mesma enfermidade,
este sacramento pode ser reiterado se a doença se agravar. Permite-se
receber a Unção dos Enfermos antes de uma cirurgia de alto risco. O mesmo
vale também para as pessoas de idade avançada, cuja fragilidade se
acentua.
.... .QUE CHAME OS PRESBÍTEROS DA
IGREJA"
- Só os sacerdotes (bispos e
presbíteros) são ministros da Unção dos Enfermos. E dever dos pastores
instruir os fiéis sobre os benefícios deste sacramento. Que os fiéis
incentivem os doentes a chamar o sacerdote, para receber este sacramento.
Que os doentes se preparem para recebê4o com boas disposições, com a ajuda
de seu pastor e de toda a comunidade eclesial, que é convidada a cercar de
modo especial os doentes com suas orações e atenções fraternas.
III. Como é celebrado este sacramento?
- Como todos os sacramentos,
a Unção dos Enfermos é uma celebração litúrgica e comunitária, quer tenha
lugar na família, no hospital ou na Igreja, para um só enfermo ou para
todo um grupo de enfermos. E de todo conveniente que ela se celebre dentro
da Eucaristia, memorial da Páscoa do Senhor. Se as circunstâncias o
permitirem, a celebração do sacramento pode ser precedida pelo sacramento
da Penitência e seguida pelo sacramento da Eucaristia. Como sacramento da
Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria sempre ser o último sacramento da
peregrinação terrestre, o "viático" para a "passagem"
à vida eterna.
- Palavra e sacramento formam
um todo inseparável. A Liturgia da Palavra, precedida de um ato
penitencial, abrirá a celebração. As palavras de Cristo, o testemunho dos
apóstolos despertam a fé do enfermo e da comunidade para pedir ao Senhor a
força de seu Espírito.
- A celebração do sacramento
compreende principalmente os elementos seguintes: "os presbíteros da
Igreja (Cf Tg 5,14) impõem – em silêncio - as mãos aos doentes; oram sobre
eles na fé da Igreja. É a epiclese própria deste sacramento. Realizam
então a unção com óleo consagrado, que, se possível, deve ser feita pelo
Bispo. Essas ações litúrgicas indicam a graça que esse sacramento confere
aos enfermos.
IV. Os efeitos da celebração deste
sacramento
- Um dom particular do
Espírito Santo O principal dom deste sacramento é uma graça de
reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias do
estado de enfermidade grave ou da fragilidade da velhice. Esta graça é um
dom do Espírito Santo que renova a confiança e a fé em Deus e fortalece
contra as tentações do maligno, tentação de desânimo e de angustia diante
da morte. Esta assistência do Senhor pela força de seu Espírito quer levar
o enfermo à cura da alma, mas também à do corpo, se for esta a vontade de
Deus. Além disso, "se ele cometeu pecados, eles lhe serão
perdoados" (Tg 5,15).
- A união com a paixão
de Cristo. Pela graça deste sacramento o enfermo recebe a força e
o dom de unir-se mais intimamente à paixão de Cristo: de certa forma ele é
consagrado para produzir fruto pela configuração à paixão redentora do
Salvador. O sofrimento, seqüela do pecado original, recebe um sentido
novo: torna-se participação na obra salvífica de Jesus.
- Uma graça eclesial. Os
enfermos que recebem este sacramento, "associando-se livremente à
paixão e à morte de Cristo", "contribuem para o bem do povo de
Deus". Ao celebrar este sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos,
intercede pelo bem do enfermo. E o enfermo, por sua vez, pela graça deste
sacramento, contribui para a santificação da Igreja e para o bem de todos
os homens pelos quais a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.
- Uma preparação para a
última passagem. Se o sacramento da Unção dos Enfermos é concedido
a todos os que sofrem de doenças e enfermidades graves, com mais razão
ainda cabe aos que estão às portas da morte ("in exitu vitae
constituti"). Por isso, também foi chamado "sacramentum
exeuntium". A Unção dos Enfermos completa nossa conformação com a
Morte e Ressurreição de Cristo, como o Batismo começou a fazê-lo. E o
termo das sagradas unções que acompanham toda a vida cristã: a do Batismo,
que selou em nós a nova vida; a da confirmação, que nos fortificou para o
combate desta vida. Esta derradeira unção fortalece o fim de nossa vida
terrestre como que de um sólido baluarte para enfrentar as últimas lutas
antes da entrada na casa do Pai.
V. O viático, último sacramento do cristão
- Aos que estão para deixar
esta vida, a Igreja oferece, além da Unção dos Enfermos, a Eucaristia como
viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do
Corpo e Sangue de Cristo tem significado e importância particulares. E
semente de vida eterna e poder de ressurreição, segundo as palavras do
Senhor: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6,54). Sacramento de
Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem da
morte para a vida, deste mundo para o Pai.
- Assim como os sacramentos
do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia constituem uma unidade chamada
"os sacramentos da iniciação cristã", pode-se dizer que a Penitência,
a Sagrada Unção e a Eucaristia como viático constituem, quando a vida
cristã chega a seu término, "os sacramentos que preparam para a
Pátria" ou os sacramentos que consumam a peregrinação.
RESUMINDO
- "Alguém dentre vós
está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre
ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente
e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão
perdoados" (Tg 5,14-15).
- O sacramento da Unção dos
Enfermos tem por finalidade conferir uma graça especial ao cristão que
está passando pelas dificuldades inerentes ao estado de enfermidade grave
ou de velhice.
- O tempo oportuno para
receber a sagrada unção é certamente aquele em que o fiel começa a
encontrar-se em perigo de morte devido à doença ou à velhice.
- Cada vez que um cristão
cair gravemente enfermo, pode receber a sagrada unção. Da mesma forma,
pode recebê-la novamente se a doença se agravar.
- Só os sacerdotes (Bispos e
presbíteros) podem administrar o sacramento da Unção dos Enfermos; para
conferi-lo, empregam óleo consagrado pelo Bispo ou, em caso de
necessidade, pelo próprio presbítero celebrante.
- O essencial da celebração
deste sacramento consiste na unção da fronte e das mãos do doente (no rito
romano) ou de outras partes do corpo (no Oriente), unção acompanhada da
oração litúrgica do presbítero celebrante, que pede a graça especial deste
sacramento.
- A graça especial do
sacramento da Unção dos Enfermos tem como efeitos:
- a união do doente com a paixão de Cristo, para
seu bem e o bem de toda a Igreja;
- reconforto, a paz e a coragem para suportar
cristãmente os sofrimentos da doença ou da velhice;
- perdão dos pecados, se o doente não pode
obtê-lo pelo sacramento da Penitência;
- restabelecimento da saúde, se isso convier à
salvação espiritual;
- a preparação para a passagem à vida eterna.
CAPÍTULO
III.
OS SACRAMENTOS
DO SERVIÇO DA COMUNHÃO
- O Batismo, a Confirmação e
a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã. São a base da vocação
comum de todos os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à missão de
evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo
Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria.
- Dois outros sacramentos, a
ordem e o matrimônio, estão ordenados à salvação de outrem. Se contribuem
também para a salvação pessoal, isso acontece por meio do serviço aos
outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a
edificação do Povo de Deus.
- Nesses sacramentos, os que
já foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmação para o sacerdócio
comum de todos os fiéis podem receber consagrações específicas. Os que
recebem o sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo,
"pela palavra e pela graça de Deus, os pastores da Igreja". Por
sua vez, "os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de
seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um sacramento
especial".
ARTIGO 6
O SACRAMENTO DA
ORDEM
- A Ordem é o sacramento
graças ao qual a missão confiada por Cristo a seus Apóstolos continua
sendo exercida na Igreja até o fim dos tempos; é, portanto, o sacramento
do ministério apostólico. Comporta três graus: o episcopado, o
presbiterado e o diaconado.
(Sobre a instituição e a missão do ministério
apostólico por Cristo, veja-se acima. Aqui, só se trata da via sacramental pela
qual se transmite este ministério.)
I. Por que o nome sacramento da Ordem?
- A palavra ordem, na
Antigüidade romana, designava corpos constituídos no sentido civil,
sobretudo o corpo dos que governavam. "Ordinatio" (ordenação)
designa a integração num "ordo" (ordem). Na Igreja, há corpos
constituídos que a Tradição, não sem fundamento na Sagrada Escritura,
chama, desde os tempos primitivos, de "taxeis" (em grego;
pronuncie "tacseis"), de "ordines" (em latim). Por
exemplo, a liturgia fala do "ordo episcoporum" (ordem dos
bispos), do "ordo presbyterorum" ordem dos presbíteros), do
"ordo diaconorum" (ordem dos diáconos). Outros grupos recebem
também este nome de "ordo": os catecúmenos, as virgens, os
esposos, as viúvas etc.
- A integração em um desses
corpos da Igreja era feita por um rito chamado ordinatio, ato religioso e
litúrgico que consistia numa consagração, numa bênção ou num sacramento.
Hoje a palavra "ordinatio" é reservada ao ato sacramental que
integra na ordem dos bispos, presbíteros e diáconos e que transcende uma
simples eleição, designação, delegação ou instituição pela comunidade,
pois confere um dom do Espírito Santo que permite exercer um "poder
sagrado" ("sacra potestas") que só pode vir do próprio
Cristo, por meio de sua Igreja. A ordenação também é chamada
"consecratio" por ser um pôr à parte, uma investidura, pelo
próprio Cristo, para sua Igreja. A imposição das mãos do bispo, com a
oração consecratória, constitui o sinal visível desta consagração.
II. O sacramento da Ordem na economia da
salvação
O SACERDÓCIO NA ANTIGA ALIANÇA
- O povo eleito foi
constituído por Deus como "um remo de sacerdotes e uma nação
santa" (Ex 19.6). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma
das doze tribos, a de Levi, reservando-a para o serviço litúrgico; Deus
mesmo é sua herança. Um rito próprio consagrou as origens do sacerdócio da
antiga aliança. Os sacerdotes são ai "constituídos para intervir em
favor dos homens em suas relações com Deus, a fim de oferecer dons e sacrifícios
pelos pecados".
- Instituído para anunciar a
palavra de Deus e para restabelecer a comunhão com Deus pelos sacrifícios
e pela oração, esse sacerdócio continua, não obstante, impotente para
operar; a salvação. Precisa, por isso, repetir sem cessar os sacrifícios,
e não é capaz de levar à santificação definitiva, que só o sacrifício de
Cristo deveria operar.
- Entretanto, a liturgia da
Igreja vê no sacerdócio de Aarão, no serviço dos levitas e na instituição
dos setenta "anciãos" prefigurações do ministério ordenado da
nova aliança Assim, no rito latino, a Igreja reza no prefácio
consecratório da ordenação dos bispos:
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... por
vossa palavra estabelecestes leis na Igreja; e escolhestes desde o princípio um
povo santo, descendente de Abraão, dando-lhe chefes e sacerdotes, e jamais
deixastes sem ministros o vosso santuário...
- Na ordenação dos
presbíteros, a Igreja reza:
Assisti-nos, Senhor, Pai Santo ..... Já no Antigo
Testamento, em sinais prefigurativos, surgiram vários ofícios por vós
instituídos, de modo que, tendo à frente Aarão para guiar e santificar o vosso
povo, lhes destes colaboradores de menor ordem e dignidade. Assim, no deserto,
comunicastes a setenta homens prudentes o espírito dado a Moisés que, como
auxílio deles, pode mais facilmente governar o vosso povo.
Do mesmo modo, derramastes copiosamente sobre os
filhos de Aarão a plenitude concedida a seu pai, para que o serviço dos
sacerdotes segundo a lei fosse suficiente para os sacrifícios do tabernáculo.
- E, na oração consecratória
para a ordenação dos diáconos, a Igreja professa:
Ó Deus Todo-Poderoso... fazeis crescer... a vossa
Igreja. Para a edificação do novo templo, constituístes três ordens de
ministros para servirem ao vosso nome, como outrora escolhestes os filhos de
Levi para o serviço do antigo santuário.
O ÚNICO SACERDÓCIO DE CRISTO
- Todas as prefigurações do
sacerdócio da antiga aliança encontram seu cumprimento em Cristo Jesus,
"único mediador entre Deus e os homens" (l Tm 2,5). Melquisedec,
"sacerdote do Deus Altíssimo" (Gn 14,18), é considerado pela
Tradição cristã como uma prefiguração do sacerdócio de Cristo, único
"sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec" (Hb 5,10; 6,20),
"santo, inocente, imaculado" (Hb 7,16), que "com uma única
oferenda levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica" (Hb
10,14), isto é, pelo único sacrifício de sua Cruz.
- O sacrifício redentor de
Cristo é único, realizado uma vez por todas. Não obstante, toma-se
presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo acontece com o único
sacerdócio de Cristo: torna-se presente pelo sacerdócio ministerial, sem
diminuir em nada a unicidade do sacerdócio de Cristo. "Por isso,
somente Cristo é o verdadeiro sacerdote; Os outros são seus
ministros."
DUAS PARTICIPAÇÕES NO SACERDÓCIO ÚNICO DE
CRISTO
- Cristo, sumo sacerdote e
único mediador, fez da Igreja "um Reino de sacerdotes para Deus, seu
Pai" (Cf Ap 1,6; 5,9-10; 1 Pd 2,5.9). Toda comunidade dos fiéis é,
como tal, sacerdotal. Os fiéis exercem seu sacerdócio batismal por meio de
sua participação, cada qual segundo sua própria vocação, na missão de
Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei. E pelos sacramentos do Batismo e da
Confirmação que os fiéis são "consagrados para ser... um sacerdócio
santo".
- O sacerdócio ministerial ou
hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio comum de todos os
fiéis, embora "ambos participem, cada qual a seu modo, do único
sacerdócio de Cristo", diferem, entretanto, essencialmente, mesmo
sendo "ordenados um ao outro". Em que sentido? Enquanto o sacerdócio
comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da graça batismal, vida de
fé, de esperança e de caridade, vida segundo o Espírito o sacerdócio
ministerial está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao
desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios
pelos quais Cristo não cessa de construir e de conduzir sua Igreja. Por
isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem.
"IN PERSONA CHRISTI CAPITIS" (NA
PESSOA DE CRISTO CABEÇA...)
- No serviço eclesial do ministro
ordenado, é o próprio Cristo que está presente á sua Igreja enquanto
Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício
redentor Mestre da Verdade. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote,
em virtude do sacramento da Ordem, age "in persona Christi
Capitis" (na pessoa de Cristo Cabeça):
Na verdade, o ministro faz as vezes do próprio
Sacerdote, Cristo Jesus. Se, na verdade, o ministro é assimilado ao Sumo
Sacerdote por causa da consagração sacerdotal que recebeu, goza do poder de
agir pela força do próprio Cristo que representa ("virtute ac persona
ipsius Christi").
"Cristo é a origem de todo sacerdócio: pois
o sacerdote da [Antiga Lei era figura dele, ao passo que o sacerdote da nova
lei age em sua pessoa."
- Pelo ministério ordenado,
especialmente dos bispos e dos presbíteros, a presença de Cristo como
chefe da Igreja se torna visível no meio da comunidade dos fiéis. Segundo
a bela expressão de Santo Inácio de Antioquia, o Bispo é "typos
tou Patros" (pronuncie: typos tu patrós), como a imagem viva de
Deus Pai.
- Esta presença de Cristo no
ministro não deve ser compreendida como se este estivesse imune a todas as
fraquezas humanas, ao espírito de dominação, aos erros e até aos pecados.
A força do Espírito Santo não garante do mesmo modo todos os atos dos
ministros. Enquanto nos sacramentos esta garantia é assegurada, de tal
forma que mesmo o pecado do ministro não possa impedir o fruto da graça,
há muitos outros atos em que a conduta humana do ministro deixa traços que
nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e que podem, por
conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja.
- Esse sacerdócio é
ministerial. "Esta missão que o Senhor confiou aos pastores de seu
povo é um verdadeiro serviço." Refere-se inteiramente a Cristo e aos
homens. Depende inteiramente de Cristo e de seu sacerdócio único, e foi
instituído em favor dos homens e da comunidade da Igreja. O sacramento da
ordem comunica "um poder sagrado" que é o próprio poder de
Cristo. O exercício desta autoridade deve, pois, ser medido pelo modelo de
Cristo que, por amor, se fez o último e servo de todos. "O Senhor
disse claramente que cuidar de seu rebanho é uma prova de amor para com
Ele."
"EM NOME DE TODA A IGREJA"
- A tarefa do sacerdócio
ministerial não é apenas representar Cristo-Cabeça da Igreja - diante da
assembléia dos fiéis; ele age também em nome de toda a Igreja quando
apresenta a Deus a oração da Igreja e sobretudo quando oferece o
sacrifício eucarístico.
- "Em nome de toda a
Igreja" não quer dizer que os sacerdotes sejam os delegados da
comunidade. A oração e a oferenda da Igreja são inseparáveis da oração e
da oferenda de Cristo, sua Cabeça. Trata-se sempre do culto de Cristo na e
por sua Igreja. É toda a Igreja, corpo de Cristo, que ora e se oferece,
"per ipsum et cum ipso et in ipso" (por Ele, com Ele e nEle), na
unidade do Espírito Santo, a Deus Pai. Todo o corpo, "caput et
membra" (cabeça e membros), ora e se oferece, e é por isso que
aqueles que são especialmente os ministros no corpo são chamados ministros
não somente de Cristo, mas também da Igreja. É por representar Cristo que
o sacerdócio ministerial pode representar a Igreja.
III. Os três graus do sacramento da Ordem
- "O ministério
eclesiástico, divinamente instituído, é exercido em diversas ordens pelos
que desde a antigüidade são chamados bispos, presbíteros e diáconos."
A doutrina católica, expressa na liturgia, no magistério e na prática
constante da Igreja, reconhece que existem dois graus de participação
ministerial no sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O
diaconado se destina a ajudá-los e a servi-los. Por isso, o termo
"sacerdos' designa, na prática atual, os bispos e os sacerdotes, mas
não os diáconos. Não obstante, ensina a doutrina católica que os graus de
participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o de serviço
(diaconado) são conferidos por um ato sacramental chamado
"ordenação", isto e, pelo sacramento da Ordem.
Que todos reverenciem os diáconos como Jesus
Cristo, como também o Bispo, que é imagem do Pai, e os presbíteros como senado
de Deus e como a assembléia dos apóstolos: sem eles não se pode falar de Igreja
A ORDENAÇÃO EPISCOPAL - PLENITUDE DO
SACRAMENTO DA ORDEM
- "Entre aqueles vários
ministérios, que desde os primeiros tempos são exercidos na Igreja, conforme
atesta a Tradição, o lugar principal é ocupado pelo múnus daqueles que,
constituídos no episcopado, conservam a semente apostólica por uma
sucessão que vem ininterrupta desde o começo."
- Para desempenhar sua
missão, "os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com especial
efusão do Espírito Santo, que desceu sobre eles. E eles mesmos
transmitiram a seus colaboradores, mediante a imposição das mãos, este dom
espiritual que chegou até nós pela sagração episcopal"
- O Concílio Vaticano II
"ensina, pois, que pela sagração episcopal se confere a plenitude do
sacramento da Ordem, que, tanto pelo costume litúrgico da Igreja como pela
voz dos Santos Padres, é chamada o sumo sacerdócio, a realidade total
('summa') do ministério sagrado".
- "A sagração
episcopal, juntamente com o múnus de santificar, confere também os
de ensinar e de reger... De fato, mediante a imposição das mãos e as
palavras da sagração, é concedida a graça do Espírito Santo e impresso o
caráter sagrado, de tal modo que os Bispos, de maneira eminente e visível,
fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e agem em
seu nome ('in eius persona agant')." "Os Bispos, portanto, pelo
Espírito Santo que lhes foi dado, foram constituídos como verdadeiros e
autênticos mestres da fé, pontífices e pastores."
- "Alguém é constituído
membro do corpo episcopal pela sagração sacramental e pela hierárquica
comunhão com o chefe e os membros do Colégio." O caráter e a natureza
colegial da ordem episcopal se manifestam, entre outras, na antiga prática
da Igreja, que requer para a consagração de um novo Bispo a participação
de vários Bispos. Para a legítima ordenação de um Bispo, é hoje exigida
uma especial intervenção do Bispo de Roma, em razão de sua qualidade de
vínculo visível supremo da comunhão das Igrejas particulares na única
Igreja e garantia de sua liberdade.
- Cada Bispo, como vigário de
Cristo, tem o encargo pastoral da Igreja particular que lhe foi confiada,
mas ao mesmo tempo ele, colegialmente, com todos os seus irmãos no
episcopado, deve ter solicitude por todas as Igrejas: "Se cada Bispo
só é pastor propriamente dito da porção do rebanho que lhe foi confiada,
sua qualidade de legítimo sucessor dos apóstolos por instituição divina o
toma solidariamente responsável pela missão apostólica da Igreja".
- Tudo o que acabamos de
dizer explica por que a Eucaristia celebrada pelo Bispo tem um significado
todo especial como expressão da Igreja reunida em tomo do altar sob a
presidência daquele que representa visivelmente Cristo, Bom Pastor e
Cabeça de sua Igreja.
A ORDENAÇÃO DOS PRESBÍTEROS COOPERADORES
DOS BISPOS
- "Cristo, a quem o Pai
santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), fez os Bispos participantes de
sua consagração e missão, por meio dos apóstolos, de quem são sucessores.
Os Bispos transmitiram legitimamente o múnus de seu ministério em grau
diverso a pessoas diversas na Igreja." "O múnus de seu
ministério foi por sua vez confiado em grau subordinado aos presbíteros,
para que constituídos na ordem do presbiterado com o fito de cumprir a
missão apostólica transmitida por Cristo - fossem os colaboradores da
ordem episcopal."
- "O oficio dos
presbíteros, por estar ligado à ordem episcopal, participa da autoridade
com que o próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo. Por isso, o
sacerdócio dos presbíteros, supondo os sacramentos da iniciação cristã, é
conferido por meio daquele sacramento peculiar mediante o qual os
presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são assinalados com um caráter
especial e assim configurados com Cristo sacerdote, de forma a poderem
agir em nome de Cristo Cabeça em pessoa."
- "Embora os presbíteros
não possuam o ápice do pontificado e no exercício de seu poder dependam
dos Bispos, estão contudo com eles unidos na dignidade sacerdotal. Em
virtude do sacramento da Ordem, segundo a imagem de Cristo, sumo e eterno
sacerdote, eles são consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os
fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo
Testamento."
- Em virtude do sacramento da
Ordem, os presbíteros participam das dimensões universais da missão
confiada por Cristo aos Apóstolos. O dom espiritual que receberam na
ordenação prepara-os não para uma missão limitada e restrita, "mas
para a missão amplíssima e universal da salvação até os confins da terra, "com
o espírito pronto para pregar o Evangelho por toda parte".
- "Eles exercem seu
sagrado múnus principalmente no culto eucarístico ou sinaxe, na qual,
agindo na pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, unem os pedidos dos
fiéis ao sacrifício de sua Cabeça e, até a volta do Senhor, tomam presente
e aplicam no sacrifício da missa o único sacrifício do Novo Testamento,
isto é, o sacrifício de Cristo que, como hóstia imaculada, uma vez por
todas se ofereceu ao Pai. É desse sacrifício único que retiram a força de
todo o seu ministério sacerdotal.
- "Solícitos
cooperadores da ordem episcopal, seu auxílio e instrumento, chamados para
servir ao povo de Deus, os sacerdotes formam com seu Bispo um único
presbitério, empenhados, porém, em diversos ofícios. Em cada comunidade
local de fiéis, tomam presente de certo modo o Bispo, ao qual se associam
com coração confiante e generoso. Assumem, como próprias, as funções e as
solicitudes do Bispo e as exercem em seu empenho cotidiano pelos fiéis. Os
presbíteros só podem exercer seu ministério na dependência do Bispo e em
comunhão com ele. A promessa de obediência que fazem ao Bispo no momento
da ordenação e o ósculo da paz do Bispo no fim da liturgia da ordenação
significam que o bispo os considera como seus colaboradores, filhos,
irmãos e amigos, e em troca eles lhe devem amor e obediência.
- "Estabelecidos na
ordem do presbiterado por meio da ordenação, os presbíteros estão ligados
entre si por uma íntima fraternidade sacramental; de modo especial, porém,
formam um só presbitério na diocese para cujo serviço estão escalados sob
a direção do próprio Bispo." A unidade do presbitério encontra uma
expressão litúrgica na prática que recomenda que os presbíteros, por sua
vez, imponham as mãos, depois do Bispo, durante o rito da ordenação.
A ORDENAÇÃO DOS DIÁCONOS - "PARA O
SERVIÇO"
- No grau inferior da
hierarquia encontram-se os diáconos. São-lhes impostas as mãos "não
para o sacerdócio, mas para o serviço". Para a ordenação ao
diaconado, só o Bispo impõe as mãos, significando assim que O diácono está
especialmente ligado ao Bispo nas tarefas de sua "diaconia".
- Os diáconos participam de
modo especial na missão e graça de Cristo. São marcados pelo sacramento da
Ordem com um sinal ("caráter") que ninguém poder apagar e que os
configura a Cristo, que se fez "diácono", isto é, servidor de
todos. Cabe aos diáconos, entre outros serviços, assistir o Bispo e os
padres na celebração dos divinos mistérios, sobre tudo a Eucaristia,
distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o
Evangelho e pregar, presidir o funerais e consagrar-se aos diversos
serviços da caridade.
- Desde o Concílio Vaticano
II, a Igreja latina restabeleceu o diaconato "como grau próprio e
permanente da hierarquia", a passo que as Igrejas do Oriente sempre o
mantiveram. Esse diaconato permanente, que pode ser conferido a homens
casados, constitui um importante enriquecimento para a missão da Igreja.
De fato, ser útil e apropriado que aqueles que cumprem na Igreja um
ministério verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral,
quer nas obras sociais e caritativas, "sejam corroborados e mais
intimamente ligados ao altar pela imposição das mãos, tradição que nos vem
desde os apóstolos. Destarte desempenharão mais eficazmente o seu
ministério mediante a graça sacramental do diaconato".
IV. A celebração deste sacramento
- A celebração da ordenação
de um Bispo, de presbíteros ou de diáconos, devido à sua importância para
a vida da Igreja particular, exige o concurso do maior número possível de
fiéis. Deverá realizar-se de preferência num domingo e na catedral, com
uma solenidade adaptada à circunstância. As três ordenações – do Bispo, do
padre e do diácono - seguem o mesmo movimento. Seu lugar é no seio da
Liturgia Eucarística.
- O rito essencial do sacramento
da Ordem consta, para os três graus, da imposição das mãos pelo Bispo
sobre a cabeça do ordenando e da oração consagratória específica, que pede
a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério
para o qual o candidato é ordenado.
- Como todos os sacramentos,
ritos anexos cercam a celebração. Variando consideravelmente nas
diferentes tradições litúrgicas, o que têm em comum é exprimir os
múltiplos aspectos da graça sacramental. Assim, os ritos iniciais no rito
latino - a apresentação e a eleição do ordinando, a alocução do Bispo, o
interrogatório do ordinando, a ladainha de todos os santos - atestam que a
escolha do candidato foi feita de conformidade com a prática da Igreja e
preparam o ato solene da consagração, depois da qual diversos ritos vêm
exprimir e concluir, de maneira simbólica, o mistério que acaba de
consumar-se: para o Bispo e para o presbítero, a unção do santo crisma,
sinal da unção especial do Espirito Santo que torna fecundo seu
ministério; entrega do livro dos Evangelhos, do anel, da mitra e do báculo
ao bispo, em sinal de sua missão apostólica de anúncio da Palavra de Deus,
de sua fidelidade à Igreja, esposa de Cristo, de seu cargo de pastor do
rebanho do Senhor; entrega da patena e do cálice ao presbítero, "a oferenda
do povo santo" que ele deve apresentar a Deus; entrega do livro dos
Evangelhos ao diácono, que acaba de receber a missão de anunciar o
Evangelho de Cristo.
V. Quem pode conferir este sacramento?
- Foi Cristo quem escolheu os
apóstolos, fazendo-os participar de sua missão e autoridade. Elevado à
direita do Pai, Ele não abandonou seu rebanho, mas guarda-o por meio dos
Apóstolos, sob sua constante proteção, e o dirige ainda pelos mesmos
pastores que continuam até hoje sua obra. Portanto, é Cristo "que concede"
a uns serem apóstolos, a outros pastores. Ele continua agindo por
intermédio dos Bispos.
- Como o sacramento da Ordem
é o sacramento do ministério apostólico, cabe aos Bispos, como sucessores
dos apóstolos, transmitir "o dom espiritual", "a semente apostólica".
Os Bispos validamente ordenados, isto é, que estão na linha da sucessão
apostólica, conferem validamente os três graus do sacramento da ordem.
VI. Quem pode receber este sacramento?
- "Só um varão ('vir')
batizado pode receber validamente a ordenação sagrada." O Senhor
Jesus escolheu homens ("viri") para formar o colégio dos doze
Apóstolos e os apóstolos fizeram o mesmo quando escolheram os
colaboradores que seriam seus sucessores na missão. O colégio dos Bispos,
ao qual os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e
atualiza, até o retomo de Cristo, o colégio dos doze. A Igreja se
reconhece vinculada por essa escolha do próprio Senhor. Por isso, a
ordenação de mulheres não é possível.
- Ninguém tem o direito de
receber o sacramento da ordem. De fato, ninguém pode arrogar-se a si mesmo
este cargo. A pessoa é chamada por Deus para esta honra. Aquele que crê
verificar em si os sinais do chamado divino ao ministério ordenado deve
submeter humildemente seu desejo à autoridade da Igreja, à qual cabe a
responsabilidade e o direito convocar alguém para receber as ordens. Como
toda graça, esse sacramento não pode ser recebido a não ser como um dom
imerecido.
- Todos os ministros
ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos permanentes, normalmente
são escolhidos entre os homens fiéis que vivem como celibatários e querem
guardar o celibato "por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12).
Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a "cuidar
das coisas do Senhor", entregam-se inteiramente a Deus e aos homens.
O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da
Igreja é consagrado; aceito com coração alegre, ele anuncia de modo
radiante o Reino de Deus.
- Nas Igrejas orientais, está
em vigor, há séculos, uma disciplina diferente: enquanto os Bispos só são
escolhidos entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados
diáconos e padres. Esta praxe é considerada legítima há muito tempo; esses
padres exercem um ministério muito útil no seio de suas comunidades. O celibato
dos presbíteros, por outro lado, é muito honrado nas Igrejas orientais, e
são numerosos os que o escolhem livremente, por causa do Reino de Deus. No
Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem não
pode mais casar-se.
VII. Os efeitos do sacramento da Ordem
O CARÁTER INDELÉVEL
- Este sacramento toma a
pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça especial do Espírito
Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de sua Igreja. Pela
ordenação, a pessoa se habilita a agir como representante de Cristo,
Cabeça da Igreja, em sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
- Como no caso do Batismo e
da Confirmação, esta participação na função de Cristo é concedida uma vez
por todas. O sacramento da Ordem também confere um caráter espiritual
indelével e não pode ser reiterado nem conferido temporariamente.
- Alguém validamente ordenado
pode, é claro, por motivos graves, ser exonerado das obrigações e das
funções ligadas à ordenação ou ser proibido de exercê-las, mas jamais
poder voltar a ser leigo no sentido estrito, porque o caráter impresso
pela ordenação permanece para sempre. A vocação e a missão recebidas no
dia de sua ordenação marcam a pessoa de modo permanente.
- Como, afinal de contas,
quem age e opera a salvação é Cristo, por intermédio do ministro ordenado,
a indignidade deste não impede Cristo de agir. Santo Agostinho diz isso
categoricamente:
O ministro orgulhoso deve ser colocado junto com
o diabo, mas nem por isso é contaminado o dom de Cristo, que, por esse
ministro, continua a fluir em sua pureza e, por meio dele, chega límpido e cai
em terra fértil... Na verdade, a virtude espiritual do sacramento se assemelha
à luz: os que devem ser iluminados a receber em sua pureza, pois, mesmo que
tenha de atravessar seres manchados, ela não se contamina.
A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO
- A graça do Espírito Santo
própria deste sacramento e graça da configuração a Cristo Sacerdote,
Mestre e Pastor, do qual o homem ordenado é constituído ministro.
- No caso do Bispo, trata-se
de uma graça de força ("O Espírito que constitui chefes": Oração
de consagração do Bispo do rito latino): a graça de guiar e de defender
com força e prudência sua Igreja como pai e pastor, com um amor gratuito
por todos e uma predileção pelos pobres, doentes e necessitados. Esta
graça o impele a anunciar o Evangelho a todos, a ser o modelo de seu
rebanho, a precedê-lo no caminhada santificação, identificando-se na
Eucaristia com Cristo sacerdote e vítima, sem medo de entregar a vida por
suas ovelhas:
Pai, que conheceis os corações, concedei a vosso
servo que escolhestes para o episcopado apascentar vosso santo rebanho e
exercer irrepreensivelmente diante de vós o sumo sacerdócio, servindo-vos noite
e dia; que ele tome incessantemente propício vosso olhar e ofereça os dons de
vossa santa Igreja; que, em virtude do espírito do sumo sacerdócio, tenha o
poder de perdoar os pecados segundo o vosso mandamento, distribua os cargos
conforme vossa ordem e se desligue de todo vinculo em virtude do poder que
destes aos apóstolos; que ele vos seja agradável por sua doçura e seu coração
puro, oferecendo-vos um perfume agradável, por intermédio de vosso Filho, Jesus
Cristo...
- O dom espiritual conferido
pela ordenação presbiteral se expressa por esta oração própria do rito
bizantino. O bispo, impondo a mão, diz entre outras coisas:
Senhor, dignai-vos cumular do dom do Espírito
Santo aquele que vos dignastes elevar ao grau do sacerdócio, a fim de que seja
digno de manter-se irrepreensível diante de vosso altar, anunciar o Evangelho
de vosso Reino, cumprir o ministério de vossa palavra de verdade, oferecer dons
e sacrifícios espirituais, renovar vosso povo pelo banho da regeneração, de
forma que ele próprio se encaminhe para o grande Deus e Salvador Jesus Cristo,
vosso Filho único, no dia de sua segunda vinda, e que receba de vossa imensa
bondade a recompensa de uma fiel administração de sua ordem.
- Quanto aos diáconos,
"a graça sacramental lhes concede a força necessária para servir ao
povo de Deus na 'diaconia' da liturgia, da palavra e da caridade, em
comunhão com o Bispo e seu presbitério".
- Diante da grandeza da graça
e da missão sacerdotais, os santos doutores sentiram o urgente apelo à
conversão, a fim de corresponder através de toda a sua vida Aquele de quem
são constituídos ministros pelo sacramento. Neste sentido, São Gregório
Nazianzeno, ainda jovem sacerdote, não pôde deixar de exclamar:
É preciso começar a purificar-se antes de
purificar os outros, é preciso ser instruído para poder instruir, é preciso
tomar-se luz para iluminar, aproximar-se de Deus para aproximar dele os outros,
ser santificado para santificar, conduzir pela mão e aconselhar com
perspicácia. Sei muito bem de quem somos ministros, em que nível nos
encontramos e quem é aquele para o nos dirigimos. Conheço a sublimidade de Deus
e a fraqueza homem, mas também sua força. [Quem é, pois, o sacerdote ?] É o
defensor da verdade, eleva-se com os anjos, glorifica os com arcanjos, leva ao
altar celeste as vítimas do sacrifício, partilha do sacerdócio de Cristo,
remodela a criatura, restabelecendo (nela) a imagem (de Deus), recria-a para o
mundo do alto e, para dizer o que há de mais sublime, é divinizado e diviniza.
E o Santo Cura d’Ars: "E o sacerdote que
continua a obra de redenção na terra"... "Se soubéssemos o que é o
sacerdote terra, morreríamos não de espanto, mas de amor"... "O
sacerdócio é o amor do coração de Jesus".
RESUMINDO
- São Paulo disse a seu
discípulo Timóteo: "Eu te exorto a reavivar o dom de Deus que há em
ti pela imposição de minhas mão, (2Tm 1,6), e "se alguém aspira ao
episcopado, boa obra deseja" (1 Tm 3,1). A Tito dizia ele: "Eu
te deixei em Creta para cuidares da organização e ao mesmo tempo para que
constituas presbíteros em cada cidade, cada qual devendo ser como te
prescrevi" (Tt 1,5).
- Toda a Igreja é um povo
sacerdotal. Graças ao Batismo, todos os fiéis participam do sacerdócio de
Cristo. Esta participação se chama "sacerdócio comum dos fiéis".
Baseado nele e a seu serviço existe outra participação na missão de
Cristo, a do ministério conferido pelo sacramento da Ordem, cuja tarefa é
servir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça no meio da comunidade.
- O sacerdócio ministerial
difere essencialmente do sacerdócio comum dos fiéis porque confere um
poder sagrado para o serviço dos fiéis. Os ministros ordenados exercem seu
serviço com o povo de Deus por meio ensinamento (múnus docendi:
"encargo de ensinar"), do culto divino (múnus liturgicum:
"encargo litúrgico") e do governo pastoral (múnus regendi:
"encargo de governar").
- Desde as origens, o
ministério ordenado foi conferido e exercido em três graus: o dos bispos,
o dos presbíteros e o dos diáconos. Os ministérios conferidos pela
ordenação são insubstituíveis na estrutura orgânica da Igreja. Sem o
bispo, os presbíteros e os diáconos, não só pode falar de Igreja.
- O Bispo recebe a
plenitude do sacramento da ordem que o insere no Colégio episcopal e faz
dele o chefe visível da Igreja particular que lhe é confiada. Os Bispos,
como sucessores dos apóstolos e membros do Colégio, participam da
responsabilidade apostólica e da missão de toda a Igreja, sob a autoridade
do papa, sucessor de São Pedro.
- Os presbíteros estão
unidos aos bispos na dignidade sacerdotal e ao mesmo tempo dependem deles
no exercício de suas junções pastorais; são chamados a ser atentos cooperadores
dos Bispos; formam em torno de seu Bispo o "presbitério", que
com ele é responsável pela Igreja particular. Recebem do Bispo o encargo
de uma comunidade paroquial ou de uma junção eclesial determinada.
- Os diáconos são
ministros ordenados para as tarefas de serviço da Igreja; não recebem o
sacerdócio ministerial, mas a ordenação lhes confere junções importantes
no ministério da Palavra, do culto divino, do governo pastoral e do
serviço da caridade, tarefas que devem cumprir sob a autoridade pastoral de
seu Bispo.
- O sacramento da Ordem é
conferido pela imposição das mãos, seguida de uma solene oração
consecratória que pede a Deus, para o ordenando, as graças do Espírito
Santo, necessárias para exercer seu ministério. A ordenação imprime um
caráter sacramental indelével.
- A Igreja só confere o
sacramento da ordem a homens (viris) batizados, cujas aptidões para o
exercício do ministério foram devidamente comprovadas. Cabe à autoridade
da Igreja a responsabilidade e o direito de chamar alguém para receber as
Sagradas Ordens.
- Na Igreja latina, o
sacramento da Ordem para o presbiterado normalmente é conferido apenas a
candidatos que estão prontos a abraçar livremente o celibato e manifestam
publicamente sua vontade de guardá-lo por amor do Reino de Deus e do
serviço aos homens.
- Cabe aos Bispos conferir
o sacramento da Ordem nos três graus.
ARTIGO
7
O SACRAMENTO DO
MATRIMÔNIO
- "A aliança
matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão
da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à
geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à
dignidade de sacramento por Cristo Senhor."
I. O Matrimônio no desígnio de Deus
- A sagrada Escritura abre-se
com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus se
fecha-se com a visão das "núpcias do Cordeiro" (cf. Ap 19,7). De
um extremo a outro, a Escritura fala do casamento e de seu
"mistério", de sua instituição e do sentido que lhe foi dado por
Deus, de sua origem e de seu fim, de suas diversas realizações ao longo de
história da salvação, de suas dificuldades provenientes do pecado e de sua
renovação "no Senhor" (1Cor 7,39), na noa aliança de Cristo e da
Igreja.
O MATRIMÔNIO NA ORDEM DA CRIAÇÃO
- "A íntima comunhão de
vida e de amor conjugal que o Criador fundou e dotou com suas leis [...] O
próprio [...] Deus é o autor do matrimônio. "A vocação para o
Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher,
conforme saíram da mão do Criador. O casamento não é uma instituição
simplesmente humana, apesar das inúmeras variações que sofreu no curso dos
séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes
espirituais. Essas diversidades não devem fazer esquecer os traços comuns
e permanentes. Ainda que a dignidade desta instituição não transpareça em
toda parte com a mesma clareza, existe, contudo, em todas as culturas, um
certo sentido da grandeza da união matrimonial. "A salvação da pessoa
e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade
conjugal e familiar."
- Deus, que criou o homem por
amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser
humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor.
Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do
amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito
bom, aos olhos do Criador, que "é amor" (1Jo 4,8.16). E esse
amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra
comum de preservação da criação: "Deus os abençoou e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" (Gn 1,28).
- Que o homem e a mulher
tenham sido criados um para o outro, a sagrada Escritura o afirma:
"Não é bom que O homem esteja só" (Gn 2,18). A mulher,
"carne de sua carne", é, igual a ele, bem próxima dele, lhe foi
dada por Deus como um "auxilio", representando, assim,
"Deus, em quem está o nosso socorro". "Por isso um homem
deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só
carne" (Gn 2,24). Que isto significa uma unidade indefectível de suas
duas vidas, o próprio Senhor no-lo mostra lembrando qual foi, 'na
origem", o desígnio do Criador (Cf Mt 19,4): "De modo que já não
são dois, mas uma só carne" (Mt 19,6).
O CASAMENTO SOB O REGIME DO PECADO
- Todo homem sofre a
experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta experiência também se
faz sentir nas relações entre o homem e a mulher. Sua união sempre foi
ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominação, pela infidelidade,
pelo ciúme e por conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura. Essa
desordem pode manifestar-se de maneira mais ou menos grave, e pode ser
mais ou menos superada, segundo as culturas, as épocas, os indivíduos.
Tais dificuldades, no entanto parecem ter um caráter universal.
- Segundo a fé, essa desordem
que dolorosamente constatamos não vem da natureza do homem e da mulher,
nem da natureza de suas relações, mas do pecado. Tendo sido uma ruptura
com Deus, o primeiro pecado tem, como primeira conseqüência a ruptura da
comunhão original do homem e da mulher. Sua relações começaram a ser
deformadas por acusações recíprocas sua atração mútua, dom do próprio
Criador transforma-se relações de dominação e de cobiça; a bela vocação do
homem e da mulher para ser fecundos, multiplicar-se e sujeitar a terra é
onerada pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão.
- Não obstante, a ordem da
criação subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para curar as feridas
do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que Deus, em sua
misericórdia infinita, jamais lhes recusou. Sem esta ajuda, homem e a
mulher não podem chegar a realizar a união de suas vidas para a qual foram
criados "no princípio".
O CASAMENTO SOB A PEDAGOGIA DA LEI
- Em sua misericórdia, Deus
não abandonou o homem pecador. As penas que acompanham o pecado, "as
dores da gravidade de dar à luz (Cf Gn 3,16), o trabalho "com o suor
de teu rosto" (Gn 3,19) constituem também remédios que atenuam os
prejuízos do pecado. Após a queda, o casamento ajuda a vencer a
centralização em si mesmo, o egoísmo, a busca do próprio prazer, e a
abrir-se ao outro, à ajuda mútua, ao dom de si.
- A consciência moral
concernente à unidade e à indissolubilidade do Matrimônio desenvolveu-se
sob a pedagogia da lei antiga. A poligamia dos patriarcas e dos reis ainda
não fora explicitamente rejeitada. Entretanto, a lei dada a Moisés visava
proteger a mulher contra o arbítrio é a dominação pelo homem, apesar de
também trazer, segundo a palavra do Senhor, os traços da "dureza do
coração" do homem, em razão da qual Moisés permitiu o repúdio da
mulher.
- Examinando a aliança de
Deus com Israel sob a imagem de um amor conjugal exclusivo e fiel, os
profetas prepararam a consciência do povo eleito para uma compreensão mais
profunda da unicidade e indissolubilidade do Matrimônio. Os livros de Rute
e de Tobias dão testemunhos comoventes do elevado sentido do casamento, da
fidelidade e da ternura dos esposos. A Tradição sempre viu no Cântico dos
Cânticos uma expressão única do amor humano, visto que é reflexo do amor
de Deus, amor "forte como a morte", que "as águas da
torrente jamais poderão apagar" (Ct 8,6-7).
O CASAMENTO NO SENHOR
- A aliança nupcial entre
Deus e seu povo Israel havia preparado a nova e eterna aliança na qual o
Filho de Deus, encarnando-se e entregando sua vida, uniu-se de certa
maneira com toda a humanidade salva por ele, preparando, assim, "as
núpcias do Cordeiro (Cf Ap 19,7 e 9).
- No limiar de sua vida
pública, Jesus opera seu primeiro sinal a pedido de sua Mãe por ocasião de
uma festa de casamento. A Igreja atribui grande importância à presença de
Jesus nas núpcias de Caná. Vê nela a confirmação de que o casamento é uma
realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, ser ele um sinal eficaz
da presença de Cristo.
- A Celebração do Mistério
Cristão Os Sete Sacramentos da igreja. Em sua pregação, Jesus ensinou sem
equívoco o sentido o original da união do homem e da mulher, conforme quis
o Criador desde o começo. A permissão de repudiar a própria mulher,
concedida por Moisés, era uma concessão devida à dureza do coração; a
união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel, pois Deus mesmo a
ratificou: "O que Deus uniu, o homem não deve separar" (Mt
19,6).
- É provável que esta
insistência sem equívoco na indissolubilidade do vínculo matrimonial
deixasse as pessoas perplexas e aparecesse como uma exigência
irrealizável. Todavia, isso não quer dizer que Jesus tenha imposto um
fardo impossível de carregar e pesado demais para os ombros dos esposos,
mais pesado que a Lei de Moisés. Como Jesus veio para restabelecer ordem inicial
da criação perturbada pelo pecado, ele mesmo dá a força e a graça para
viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. E seguindo a Cristo,
renunciando a si mesmos e tomando cada um sua cruz que os esposos poderão
"compreender" o sentido original do casamento e vivê-lo com a
ajuda de Cristo. Esta graça do Matrimônio cristão é um fruto da Cruz de
Cristo, fonte de toda vida cristã.
- É justamente isso que o
apóstolo Paulo quer fazer entender quando diz: "E vós, maridos, amai
vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de
purificá-la" (Ef 5,25-26), acrescentando imediatamente: "Por
isso de deixar o homem seu pai e sua mãe e se ligar à sua mulher, e serão
ambos uma só carne. E grande este mistério: refiro-me à relação entre
Cristo e sua Igreja" (Ef 5,31-32).
- Toda a vida cristã traz a
marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o Batismo, entrada no
Povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o banho das
núpcias que precede o banquete de núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio
cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de
Cristo e da Igreja. O Matrimônio entre batizados é um verdadeiro
sacramento da nova aliança, pois significa e comunica a graça.
A VIRGINDADE POR CAUSA DO REINO
- Cristo é o centro de toda a
vida cristã. O vínculo com Ele está em primeiro lugar, na frente de todos
os outros vínculos, familiares ou sociais. Desde o começo da Igreja, houve
homens e mulheres que renunciaram ao grande bem do Matrimônio para seguir
o Cordeiro onde quer que fosse, para ocupar-se com as coisas do Senhor,
para procurar agradar-lhe, para ir ao encontro do Esposo que vem. O
próprio Cristo convidou alguns para segui-lo neste modo de vida, cujo
modelo continua sendo ele mesmo:
Há eunucos que nasceram assim do ventre materno.
E há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram
eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para compreender
compreenda! (Mt 19,12).
- A virgindade pelo Reino dos
Céus é um desdobramento da graça batismal, um poderoso sinal da
preeminência do vínculo com Cristo, da ardente expectativa de seu
regresso, um sinal que também lembra que o Matrimônio é uma realidade da
figura deste mundo que passa.
- Ambos, o sacramento do
Matrimônio e a virgindade pelo Reino de Deus, provêm do próprio Senhor. É
Ele que lhes dá sentido e concede a graça indispensável para vivê-los em
conformidade com sua vontade. A estima da virgindade por causa do Reino e
o sentido cristão do casamento são inseparáveis e se ajudam mutuamente:
Denegrir o Matrimônio é ao mesmo tempo minorar a
glória da virgindade; elogiá-lo é realçar a admiração que se deve à
virgindade... Porque, afinal, o que não parece um bem senão em comparação com
um mal não pode ser verdadeiramente um bem, mas o que é ainda melhor que bens
incontestáveis é o bem por excelência.
II. A celebração do Matrimônio
- No rito latino, a
celebração do Matrimônio entre dois fiéis católicos normalmente ocorre
dentro da santa missa, em vista de vínculo de todos os sacramentos com o
mistério pascal de Cristo. Na Eucaristia se realiza o memorial da nova
aliança, na qual Cristo se uniu para sempre à Igreja, sua esposa
bem-amada, pela qual se entregou. Portanto, é conveniente que os esposos
selem seu consentimento de entregar-se um ao outro pela oferenda de suas
próprias vidas, unindo-o à oferenda de Cristo por sua Igreja que se toma
presente no Sacrifício Eucarístico, e recebendo Eucaristia, a fim de que,
comungando no mesmo Corpo e no mesmo Sangue de Cristo, eles "formem
um só corpo" nele.
- "Como gesto
sacramental de santificação, a celebração litúrgica do Matrimônio ... deve
ser válida por si mesma, digna e frutuosa." Convém, pois, que os
futuros esposos se disponham à celebração de seu casamento recebendo o
sacramento da Penitência.
- Segundo a tradição latina,
são os esposos que, como ministros da graça de Cristo, se conferem
mutuamente o sacramento do Matrimônio, expressando diante da Igreja seu
consentimento. Nas tradições das Igrejas Orientais, os sacerdotes, Bispos
ou presbíteros, são testemunhas do consentimento recíproco dos esposos,
mas também é necessária a bênção deles para a validade do sacramento.
- As diversas liturgias são
ricas em orações de bênção e de epiclese para pedir a Deus a graça e a
bênção sobre o novo casal, especialmente sobre a esposa. Na epiclese deste
sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão de amor de
Cristo e da Igreja (Cf Ef 5,32). É Ele o selo de sua aliança, a fonte que
incessantemente oferece seu amor, a força em que se renovar a fidelidade
dos esposos.
III. O consentimento matrimonial
- Os protagonistas da aliança
matrimonial são um homem e uma mulher batizados, livres para contrair o
Matrimônio e que expressam livremente seu consentimento. "Ser
livre" quer dizer:
- não sofrer constrangimento;
- não ser impedido por uma lei natural ou
eclesiástica.
- A Igreja considera a troca
de consentimento entre os esposos como elemento indispensável "que
produz o matrimônio" Se faltar o consentimento, não há casamento.
- O consentimento consiste
num "ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem
mutuamente": "Eu te recebo por minha mulher" - "Eu te
recebo por meu marido. Este consentimento que liga os esposos entre si
encontra seu cumprimento no fato de "os dois se tomarem uma só carne".
- O consentimento deve ser um
ato da vontade de cada um dos contraentes, livre de violência ou de medo
grave externo. Nenhum poder humano pode suprir esse consentimento. Se
faltar esta liberdade, o casamento será inválido.
- Por esta razão (ou por
outras razões que tornam nulo e inexistente o Matrimônio), a Igreja pode,
após exame da situação pelo tribunal eclesiástico competente, declarar
"a nulidade do casamento", isto é, que o casamento jamais
existiu. Neste caso, os contraentes ficam livres para casar-se,
respeitando as obrigações naturais provenientes de uma união anterior.
- O sacerdote (ou o diácono)
que assiste à celebração do Matrimônio acolhe o consentimento dos esposos
em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença do ministro da
Igreja (e também das testemunhas) exprime visivelmente que o casamento é
uma realidade eclesial.
- É por esta razão que a
Igreja normalmente exige de seus fiéis a forma eclesiástica da celebração
do casamento. Diversas razões concorrem para explicar esta determinação:
- casamento-sacramento é um ato litúrgico. Por
isso, convém que seja celebrado na liturgia pública da Igreja.
- Matrimônio foi introduzido num ordo eclesial,
cria direitos e deveres na Igreja, entre os esposos e relativos à prole.
- Sendo o Matrimônio um estado de vida na Igreja,
é necessário que haja certeza a seu respeito (daí a obrigação de haver
testemunhas).
- caráter público do consentimento protege o
mútuo "Sim" que um dia foi dado e ajuda a permanecer-lhe fiel.
- Para que o "sim"
dos esposos seja um ato livre e responsável e para que a aliança
matrimonial tenha bases humanas e cristãs sólidas e duráveis, a preparação
para o casamento é de primeira importância:
O exemplo e o ensinamento dos pais e da família
continuam sendo o caminho privilegiado desta preparação.
O papel dos pastores e da comunidade cristã como
"família de Deus" é indispensável para a transmissão dos valores
humanos e cristãos do Matrimônio e da família, e mais ainda porque em nossa
época muitos jovens conhecem a experiência dos lares desfeitos que não garantem
mais suficientemente esta iniciação (feita dentro da família):
Os jovens devem ser instruídos convenientemente e
a tempo sobre a dignidade, a função e o exercício do amor conjugal, a fim de
que, preparados no cultivo da castidade, possam passar, na idade própria, do
noivado honesto para as núpcias.
OS CASAMENTOS MISTOS E A DISPARIDADE DE
CULTO
- Em muitos países, a
situação do casamento misto (entre católico e batizado não-católico) se
apresenta com muita freqüência. Isso exige uma atenção particular dos
cônjuges e dos pastores. O caso dos casamentos com disparidade de culto
(entre católico e não-batizado) exige uma circunspecção maior ainda.
- A diferença de confissão
entre os cônjuges não constitui obstáculos insuperável para o casamento,
desde que consigam pôr em comum o que cada um deles recebeu em sua
comunidade e aprender um do outro o modo de viver sua fidelidade a Cristo.
Mas nem por isso devem ser subestimadas as dificuldades dos casamentos
mistos. Elas se devem ao fato de que a separação dos cristãos é uma
questão ainda não resolvida. Os esposos correm o risco de sentir o drama
da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto
pode agravar ainda mais essas dificuldades. As divergências concernentes à
fé, à própria concepção do casamento, como também mentalidades religiosas
diferentes, podem constituir uma fonte de tensões no casamento,
principalmente no que tange à educação dos filhos. Uma tentação pode então
apresentar-se: a indiferença religiosa.
- Conforme o direito em vigor
na Igreja Latina, um casamento misto exige, para sua liceidade, a
permissão expressa da autoridade eclesiástica. Em caso de disparidade de
culto, requer-se uma dispensa expressa do impedimento para a validade do
casamento. Esta permissão ou esta dispensa supõem que as duas partes
conheçam e não excluam os fins e as propriedades essenciais do casamento,
e também que a parte católica confirme o empenho, com o conhecimento
também da parte não-católica, de conservar a própria fé e assegurar o
batismo e a educação dos filhos na Igreja católica.
- Em muitas regiões, graças
ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs envolvidas conseguiram criar
uma pastoral comum para os casamentos mistos. Sua tarefa é ajudar esses
casais a viver sua situação particular à luz da fé. Deve também ajudá-los
a superar as tensões entre as obrigações que um tem para com o outro e
suas obrigações para com suas comunidades eclesiais, além de incentivar o
desabrochar daquilo que lhes é comum na fé e o respeito por tudo que os
separa.
- Nos casamentos com
disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma missão particular:
"Pois o marido não-cristão é santificado pela esposa, e a esposa
não-cristã é santificada pelo marido cristão" (1Cor 7,14). Ser uma
grande alegria para o cônjuge cristão e para a Igreja se esta
"santificação" levar o cônjuge à livre conversão à fé cristã. O
amor conjugal sincero, a humilde e paciente prática das Virtudes
familiares e a oração perseverante podem preparar o cônjuge não-cristão a
acolher a graça da conversão.
IV. Os efeitos do sacramento do Matrimônio
- "Do Matrimônio válido
origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo
e exclusivo; além disso, no Matrimônio cristão, os cônjuges são
robustecidos e como que consagrados por um sacramento especial aos deveres
e à dignidade de seu estado."
O VÍNCULO MATRIMONIAL
- O consentimento pelo qual
os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é selado pelo próprio Deus.
De sua aliança "se origina também diante da sociedade uma instituição
firmada por uma ordenação divina". A aliança dos esposos é integrada
na aliança de Deus com os homens: "O autêntico amor conjugal é
assumido no amor divino".
- O vínculo matrimonial é,
pois, estabelecido pelo próprio, Deus, de modo que o casamento realizado e
consumado entre batizados jamais pode ser dissolvido. Este vínculo que
resultado ato humano livre dos esposos e da consumação do casamento é uma
realidade irrevogável e dá origem a uma aliança garantida pela fidelidade
de Deus. Não cabe ao poder da Igreja pronunciar-se contra esta disposição
da sabedoria divina.
A GRAÇA DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
- "Em seu estado de vida
e função, (os esposos cristãos) têm um dom especial dentro do povo de
Deus." Esta graça própria do sacramento do Matrimônio se destina a
aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortificar sua unidade indissolúvel.
Por esta graça "eles se ajudam mutuamente a santificar-se na vida
conjugal, como também na aceitação e educação dos filhos".
- Cristo é a fonte desta
graça. "Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e
fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador dos homens, Esposo da
Igreja, vem ao encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do
Matrimônio." Permanece com eles, concede-lhes a força de segui-lo levando
sua cruz e de levantar-se depois da queda, perdoar-se mutuamente, carregar
o fardo uns dos outros, "submeter-se uns aos outros no temor de
Cristo" (Ef 5,21) e amar-se com um amor sobrenatural, delicado e
fecundo. Nas alegrias de seu amor e de sua vida familiar, Ele lhes dá,
aqui na terra, um antegozo do festim de núpcias do Cordeiro.
Onde poderei haurir a força para descrever
satisfatoriamente a felicidade do Matrimônio administrado pela Igreja,
confirmado pela doação mútua, selado pela bênção? Os anjos o proclamam, o Pai
celeste o ratifica... O casal ideal não é o de dois cristãos unidos por uma
única esperança, um único desejo, uma única disciplina, o mesmo serviço? Ambos
filhos de um mesmo Pai, servos de um mesmo Senhor. Nada pode separá-los, nem no
espírito nem na carne; ao contrário, eles são verdadeiramente dois numa só
carne. Onde a carne é uma só, um também é o espírito.
V. Os bens e as exigências do amor conjugal
- "O amor conjugal
comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa apelo
do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do
espírito e da vontade; O amor conjugal dirige-se a uma unidade
profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não
conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a
indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se
à fecundidade. Numa palavra, trata-se das características normais de todo
amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica
e as consolida, mas eleva-as, a ponto de torná-las a expressão dos valores
propriamente cristãos."
A UNIDADE E A INDISSOLUBILIDADE DO
MATRIMÔNIO
- O amor dos esposos exige,
por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade da comunidade de
pessoas que engloba toda a sua vida: "De modo que já não são dois,
mas uma só carne" (Mt 19,6). "Eles são chamados a crescer
continuamente nesta comunhão por meio da fidelidade cotidiana à promessa
matrimonial do dom total recíproco." Esta comunhão humana é confirmada,
purificada e aperfeiçoada pela comunhão em Jesus Cristo, concedida pelo
sacramento do Matrimônio . E aprofundada pela vida da fé comum e pela
Eucaristia recebida pelos dois.
- "A unidade do
Matrimônio é também claramente confirmada pelo Senhor mediante a igual
dignidade do homem e da mulher como pessoas, a qual deve ser reconhecida
no amor mútuo e perfeito." A poligamia é contrária a essa igual
dignidade e ao amor conjugal, que é único e exclusivo.
A FIDELIDADE DO AMOR CONJUGAL
- O amor conjugal exige dos
esposos, por sua própria natureza, uma fidelidade inviolável. Isso é a
conseqüência do dom de si mesmos que os esposos fazem um ao outro. O amor
quer ser definitivo. Não pode ser "até nova ordem". "Esta
união íntima, doação recíproca de duas pessoas e o bem dos filhos exigem
perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolúvel unidade."
- O motivo mais profundo se
encontra na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja. Pelo
sacramento do Matrimônio, os esposos se habilitam a representar esta
fidelidade e a testemunhá-la. Pelo sacramento, a indissolubilidade de
casamento recebe um novo e mais profundo sentido.
- Pode parecer difícil e até
impossível ligar-se por toda a vida a um ser humano. Por isso é de suma
importância anunciar a Boa Nova de que Deus nos ama com um amor definitivo
e irrevogável, que os esposos participam deste amor, que Ele os apoia e
mantém e que, por meio de sua fidelidade, podem ser testemunhas do amor
fiel de Deus. Os esposos que, com a graça de Deus, dão esse testemunho,
não raro em condições bem difíceis, merecem a gratidão e o apoio da
comunidade eclesial.
- Mas existem situações em
que a coabitação matrimonial se torna praticamente impossível pelas mais
diversas razões. Nestes casos, a Igreja admite a separação física dos
esposos e o fim da coabitação. Os esposos não deixam de ser marido e
mulher diante de Deus; não são livres para contrair uma nova união. Nesta
difícil situação, a melhor solução seria, se possível, a reconciliação. A
comunidade cristã é chamada a ajudar essas pessoas a viverem cristãmente
sua situação, na fidelidade ao vínculo de seu casamento, que continua
indissolúvel.
- São numerosos hoje, em
muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis
e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à
palavra de Jesus Cristo ("Todo aquele que repudiar sua mulher e
desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar seu
marido e desposar outro comete adultério": Mc 10,11-12), afirma que
não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro casamento
foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa
situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem
ter acesso à comunhão eucarística enquanto perdurar esta situação. Pela
mesma razão não podem exercer certas responsabilidades eclesiais. A
reconciliação pelo sacramento da Penitência só pode ser concedida aos que
se mostram arrependidos por haver violado o sinal da aliança e da
fidelidade a Cristo e se comprometem a viver numa continência completa.
- A respeito dos cristãos que
vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar
cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova
de uma solicitude atenta, a fim de não se considerarem separados da
Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja:
Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a
freqüentar o sacrifício da missa, a perseverar na oração, a dar sua
contribuição às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em favor da
justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de
penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus.
A ABERTURA · FECUNDIDADE
- O instituto do Matrimônio e
o amor dos esposos estão, por sua índole natural, ordenados à procriação e
à educação dos filhos, e por causa dessas coisas (a procriação e a
educação dos filhos), (o instituto do Matrimônio e o amor dos esposos) são
como que coroados de maior glória.
Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio
e contribuem grandemente para o bem dos próprios pais. Deus mesmo disse:
"Não convém ao homem ficar sozinho" (Gn 2,18), e "criou de
início o homem como varão e mulher" (Mt 19,4); querendo conferir ao homem
participação especial em sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher
dizendo: "Crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28). Donde se segue que o
cultivo do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí
promana, sem desprezar os outros fins do Matrimônio, tendem a dispor os
cônjuges a cooperar corajosamente como amor do Criador e do Salvador que, por
intermédio dos esposos, quer incessantemente aumentar e enriquecer sua família.
- A fecundidade do amor
conjugal se estende aos frutos vida moral, espiritual e sobrenatural que
os pais transmitem seus filhos pela educação. Os pais são os principais e
primeiros educadores de seus filhos. Neste sentido, a tarefa fundamental
do Matrimônio e da família é estar a serviço da vida.
- Os esposos a quem Deus não
concedeu ter filhos podem, no entanto, ter uma vida conjugal cheia de
sentido, humana e cristãmente. Seu Matrimônio pode irradiar uma
fecundidade de caridade, acolhimento e sacrifício.
VI. A Igreja doméstica
- Cristo quis nascer e
crescer no seio da Sagrada Família José e Maria. A Igreja não é outra
coisa senão a "família de Deus". Desde suas origens, o núcleo da
Igreja era em geral constituído por aqueles que, "com toda a sua
casa", se tomavam cristãos. Quando eles se convertiam, desejavam
também que "toda a sua casa" fosse salva. Essas famílias que se
tomavam cristãs eram redutos de vida cristã num mundo incrédulo.
- Em nossos dias, num mundo
que se tornou estranho e até hóstia à fé, as famílias cristãs são de
importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o
Concílio Vaticano II chama a família, usando uma antiga expressão, de
"Ecclesia domestica". E no seio da família que os pais são
"para os filhos, pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres
da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação
sagrada".
- E na família que se exerce
de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos
filhos, de todos os membros da família, "na recepção dos sacramentos,
na oração e ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação
e na caridade ativa". O lar é, assim, a primeira escola de vida
cristã e "uma escola de enriquecimento humano". E aí que se
aprende a resistência à fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o
perdão generoso e mesmo reiterado e, sobretudo, o culto divino pela oração
e oferenda de sua vida.
- Não podemos esquecer também
certas pessoas que, por causa das condições concretas em que precisam
viver – muitas vezes contra a sua vontade -, estão particularmente
próximas do coração de Jesus e merecem uma atenciosa afeição e solicitude
da Igreja e principalmente dos pastores: o grande número de pessoas
celibatárias. Muitas dessas pessoas ficam sem família humana, muitas vezes
por causa das condições de pobreza. Há entre elas algumas que vivem essa
situação no espírito das bem-aventuranças, servindo a Deus e ao próximo de
modo exemplar. A todas elas é preciso abrir as portas dos lares,
"Igrejas domésticas", e da grande família que é a Igreja.
"Ninguém está privado da família neste mundo: a Igreja é casa e família
para todos, especialmente para quantos 'estão cansados e oprimidos'."
RESUMINDO
- São Paulo diz:
"Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a igreja... E
grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja"
(Ef 5,25.32).
- O pacto matrimonial, pelo
qual um homem e uma mulher constituem entre si uma íntima comunidade de
vida e de amor, foi fundado e dotado de suas leis próprias pelo Criador. -
uma natureza, é ordenado ao bem dos cônjuges, como também à geração e
educação dos filhos. Entre os batizados, foi elevado, por Cristo Senhor, à
dignidade de sacramento.
- O sacramento do
Matrimônio significa a união de Cristo com igreja. Concede aos esposos a
graça de amarem-se com o mesmo amor com que Cristo amou sua Igreja; a
graça do sacramento leva à perfeição o amor humano dos esposos, consolida
unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna.
- O Matrimônio se baseia
no consentimento dos contraentes, isto é, na vontade de doar-se mútua e
definitivamente para viver uma aliança de amor fiel e fecundo.
- Como o Matrimônio
estabelece os cônjuges num estado público de vida na Igreja, convém que
sua celebração seja pública no quadro de uma celebração litúrgica diante
do sacerdote (ou de testemunha qualificada da Igreja), das testemunhas e
da assembléia dos fiéis.
- A unidade, a
indissolubilidade e a abertura à fecundidade essenciais ao Matrimônio. A
poligamia é incompatível com unidade do matrimônio; o divórcio separa o
que Deus uniu; a recusa da fecundidade desvia a vida conjugal de seu mais
excelente": a prole.
- O novo casamento dos
divorciados ainda em vida do legítimo cônjuge contraria o desígnio e a lei
de Deus que Cristo ensinou. Eles não estão separados da Igreja, mas não
têm acesso à comunhão eucarística. Levarão vida cristã principalmente educando
seus filhos na fé.
- O lar cristão é o lugar
em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso, o lar é
chamado, com toda razão, de "Igreja doméstica", comunidade de
graça e de oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã.
CAPÍTULO IV
AS OUTRAS
CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS
ARTIGO I - OS
SACRAMENTAIS
- "A santa mãe Igreja
instituiu os sacramentais, que são sinais sagrados pelos quais, à imitação
dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais,
obtidos pela impetração da Igreja. Pelos sacramentais os homens se dispõem
a receber o efeito principal dos sacramentos e são santificadas as
diversas circunstâncias da vida."
OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DOS SACRAMENTAIS
- São instituídos pela Igreja
em vista da santificação de certos ministérios seus, de certos estados de
vida, de circunstâncias muito variadas da vida cristã, bem como do uso das
coisas úteis ao homem. Segundo as decisões pastorais dos bispos, podem
também responder às necessidades, à cultura e à história próprias do povo
cristão de uma região ou época. Compreendem sempre uma oração, acompanhada
de determinado sinal, como a imposição da mão, o sinal-da-cruz ou a
aspersão com água benta (que lembra o Batismo).
- Dependem do sacerdócio
batismal: todo batizado é chamado a ser uma "bênção" e a
abençoar. Eis por que os leigos podem presidir certas bênçãos; quanto mais
uma bênção se referir à vida eclesial e sacramental, tanto mais sua
presidência ser reservada ao ministério ordenado (bispo presbíteros -
"padres" - ou diáconos).
- Os sacramentais não
conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos, mas, pela
oração da Igreja preparam para receber a graça e dispõem à cooperação com
ela. "Para os fiéis bem-dispostos, quase todo acontecimento vida é
santificado pela graça divina que flui do mistério pascal da paixão, morte
e ressurreição de Cristo, do qual todos os sacramentos e sacramentais
adquirem sua eficácia. E quase não há uso honesto de coisas materiais que
não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus.
AS DIVERSAS FORMAS DE SACRAMENTAIS
- Entre os sacramentais,
figuram em primeiro lugar as bênção (de pessoas, da mesa, de objetos e
lugares). Toda bênção é louvor Deus e pedido para obter seus dons. Em
Cristo, os cristãos abençoados por Deus, o Pai "de toda a sorte de
bênçãos espirituais" (Ef 1,3). E por isso que a Igreja dá a bênção
invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmente o sinal sagrado da cruz
de Cristo.
- Certas bênçãos têm um
alcance duradouro: têm por efeito consagrar pessoas a Deus e reservar para
o uso litúrgico objetos e lugares. Entre as destinadas a pessoas não
confundi-las com a ordenação sacramental - figuram a bênção do abade ou da
abadessa de um mosteiro, a consagração das virgens e das viúvas, o rito da
profissão religiosa e as bênçãos para certos ministérios da Igreja
(leitores, acólitos, catequistas etc.). Como exemplos daquelas que se
referem a objetos podemos citar a dedicação ou a bênção de uma igreja ou
altar, a bênção dos santos óleos, de vasos e vestes sacras, de sinos etc.
- Quando a Igreja exige
publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou
objeto seja protegido contra a influência do maligno e subtraído a seu
domínio, fala-se de exorcismo. Jesus o praticou, é dele que a Igreja recebeu
o poder e o encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, o exorcismo é
praticado durante a celebração do Batismo. O exorcismo solene, chamado
"grande exorcismo", só pode ser praticado por um sacerdote, com
a permissão do bispo. Nele é necessário proceder com prudência, observando
estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo visa
expulsar os demônios ou livrar da influência demoníaca, e isto pela
autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Bem diferente é o
caso de doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência
médica. É importante, pois, verificar antes de celebrar o exorcismo se se
trata de uma presença do maligno ou de uma doença.
A RELIGIOSIDADE POPULAR
- Além da liturgia
sacramental e dos sacramentais, a catequese tem de levar em conta as
formas da piedade dos fiéis e da religiosidade popular. O senso religioso
do povo cristão encontrou, em todas as épocas, sua expressão em formas
diversas de piedade que circundam a vida sacramental da Igreja, como a
veneração de relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões,
via-sacra, danças religiosas, o rosário, as medalhas etc.
- Estas expressões prolongam
a vida litúrgica da Igreja, mas não a substituem: "Considerando os
tempos litúrgicos, estes exercícios devem ser organizados de tal maneira
que condigam com a sagrada liturgia, dela de alguma forma derivem, para
ela encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em muito os
supera".
- Há necessidade de um
discernimento pastoral para sustentar e apoiar a religiosidade popular e,
se for o caso, para purificar e retificar o sentido religioso que embasa
essas devoções e para fazê-las progredir no conhecimento do mistério de
Cristo (cf. CT 54). Sua prática está sujeita ao cuidado e julgamento dos
bispos e às normas gerais da Igreja.
A religiosidade do povo, em seu núcleo, é um
acervo de valores que responde com sabedoria cristã às grandes incógnitas da
existência. A sabedoria popular católica tem uma capacidade de síntese vital;
engloba criativamente o divino e o humano, Cristo é Maria, espírito e corpo,
comunhão e instituição, pessoa e comunidade, fé e pátria, inteligência e afeto.
Esta sabedoria é um humanismo cristão que afirma radicalmente a dignidade de
toda pessoa como filho de Deus, estabelece uma fraternidade fundamental, ensina
a encontrar a natureza e a compreender o trabalho e proporciona as razões para
a alegria e o humor, mesmo em meio a uma vida muito dura. Essa sabedoria é
também para o povo um princípio de discernimento, um instinto evangélico pelo
qual capta espontaneamente quando se serve na Igreja ao Evangelho e quando ele
é esvaziado e asfixiado com outros interesses.
RESUMINDO
- Chamamos de sacramentais
os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é preparar os
homens para receber o fruto dos sacramentos e santificar as diferentes
circunstâncias da vida.
- Entre os sacramentais,
ocupam lugar destacado as bênçãos. Compreendem ao mesmo tempo o louvor a
Deus por suas obras e seus dons e a intercessão da Igreja, a fim de que os
homens possam fazer uso dos dons de Deus segundo o espírito do Evangelho.
- Além da liturgia, a vida
cristã se nutre de formas variadas da piedade popular, enraizadas em suas
diferentes culturas. Velando para esclarecê-las à luz da fé, a Igreja
favorece as formas de religiosidade popular que exprimem um instinto
evangélico uma sabedoria humana e que enriquecem a vida cristã.
ARTIGO 2
OS FUNERAIS
CRISTÃOS
- Todos os sacramentos,
principalmente os da iniciação cristã, têm por finalidade a última Páscoa
do Filho de Deus, aquela que, pela morte, o fez entrar na vida do Reino.
Agora se realiza o que o cristão confessa na fé e na esperança:
"Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir.
I. A última Páscoa do cristão
- O sentido cristão da morte
é revelado à luz do mistério pascal da Morte e Ressurreição de Cristo, em
que repousa nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo Jesus
"deixa este corpo para ir morar junto do Senhor".
- O dia da morte inaugura
para o cristão, ao final de sua vida sacramental, a consumação de seu novo
nascimento iniciado no Batismo, a "semelhança" definitiva à
"imagem do Filho", conferida pela unção do Espirito Santo, e a
participação na festa do Reino, antecipada na Eucaristia, mesmo
necessitando de últimas purificações para vestir a roupa nupcial.
- A Igreja que, como mãe,
trouxe sacramentalmente em seu seio o cristão durante sua peregrinação
terrena, acompanha-o, ao final de sua caminhada, para entregá-lo "ás
mãos do Pai". Ela oferece ao Pai, em Cristo, o filho de sua graça e
deposita na terra, na esperança, o germe do corpo que ressuscitar na
glória. Esta oferenda é plenamente celebrada pelo Sacrifício Eucarístico.
As bênçãos que a precedem e a seguem são sacramentais.
II. A celebração dos funerais
- Os funerais cristãos são uma
celebração litúrgica da Igreja. O ministério da Igreja tem em vista aqui
tanto exprimir a comunhão eficaz com o defunto como fazer a comunidade
reunida participar das exéquias e lhe anunciar a vida eterna.
- Os diferentes ritos dos
funerais exprimem O caráter pascal da morte cristã e respondem às
situações e tradições de cada região, mesmo com relação à cor litúrgica.
- O Ordo exsequiarum (rito
das exéquias) (OEx) da liturgia romana propõe três tipos de celebração dos
funerais, correspondendo aos três lugares onde acontece (a casa, a igreja,
o cemitério) e segundo a importância que a ele atribuem a família, os
costumes locais, a cultura e a piedade popular. Este esquema é, aliás,
comum a todas as tradições litúrgicas e compreende quatro momentos
principais:
- O acolhimento da comunidade. Uma saudação
de fé abre a celebração. Os familiares do defunto são acolhidos com uma
palavra de consolação" (no sentido do Novo Testamento: a força do
Espírito Santo na esperança). A comunidade orante que se reúne escuta também
"as palavras de vida eterna". A morte de um membro da comunidade
(ou o dia de aniversário, o sétimo ou o trigésimo dia) é um acontecimento
que deve fazer ultrapassar as perspectivas "deste mundo" e levar
os fiéis às verdadeiras perspectivas da fé em Cristo ressuscitado.
- A Liturgia da Palavra, por ocasião dos
funerais, exige um preparação bem atenciosa, pois a assembléia presente ao
ato podem englobar fiéis pouco assíduos à liturgia e também amigos do
falecido que não sejam cristãos. A homilia em especial deve "evitar
gênero literário de elogio fúnebre" e iluminar o mistério da morte
cristã com a luz de Cristo Ressuscitado.
- O Sacrifício Eucarístico. Se a celebração
se realizar na igreja, Eucaristia é o coração da realidade pascal da morte
cristã. É então que a Igreja exprime sua comunhão eficaz com o defunto:
oferecendo ao Pai, no Espírito Santo, o sacrifício da morte e ressurreição
de Cristo, ela lhe pede que seu filho seja purificado de seus pecados e de
suas c seqüências e que seja admitido à plenitude pascal da mesa do Reino.
É pela Eucaristia assim celebrada que a comunidade dos fiéis,
especialmente a família do defunto, aprende a viver em comunhão com aquele
que dormiu no Senhor", comungando do Corpo de Cristo, do qual é
membro vivo, e rezando a seguir por ele e com ele.
- O adeus ("a Deus") ao defunto é
sua "encomendação a Deus" pela Igreja. Este é o "último
adeus pelo qual a comunidade cristã saúda um de seus membros antes que o
corpo dele seja levado à sepultura"; tradição bizantina o exprime
pelo beijo de adeus ao falecido:
Com
esta saudação final "canta-se por causa de sua partida desta vida e por
causa de sua separação, mas também porque há uma comunhão e uma reunião. Com
efeito, ainda que mortos, não estamos separados uns dos outros, pois todos
percorremos o mesmo caminho e nos reencontraremos no mesmo lugar. Jamais
estaremos separados, pois vivemos por Cristo, e agora estamos unidos a Cristo,
indo em sua direção... estaremos todos reunidos em Cristo".