Catecismo
da Igreja Católica
QUARTA
PARTE
A
ORAÇÃO CRISTÃ
PRIMEIRA SEÇÃO
A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ
- "Grande é o Mistério da fé." A
Igreja o professa no Símbolo dos Apóstolos (Primeira parte) e o celebra na
Liturgia sacramental (Segunda parte), para que a vida dos fiéis seja
conforme a Cristo no Espírito Santo para a glória de Deus Pai (Terceira
parte). Esse Mistério exige, pois, que os fiéis nele creiam, celebrem-no e
dele vivam numa relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Essa
relação é a oração.
O QUE É A ORAÇÃO?
Para mim, a oração é um impulso do coração, é um
simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da
provação ou no meio da alegria.
A oração como dom de Deus
- "A oração é a elevação da alma a Deus
ou o pedido a Deus dos bens convenientes. De onde falamos nós, ao rezar?
Das alturas de nosso orgulho e vontade própria, ou das
"profundezas" (Sl 130,1) de um coração humilde e contrito? Quem
se humilha será exaltado. A humildade é o fundamento da oração. "Nem
sabemos o que seja conveniente pedir" (Rm 8,26). A humildade é a
disposição para receber gratuitamente o dom da oração; o homem é um
mendigo de Deus.
- "Se conhecesses o dom de Deus!"
(Jo 4,10). A maravilha da oração se revela justamente aí, à beira dos
poços aonde vamos procurar nossa água; é aí que Cristo vem ao encontro de
todo ser humano, é o primeiro a nos procurar, e é Ele que pede de beber.
Jesus tem sede, seu pedido vem das profundezas do Deus que nos deseja.
A
oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus
tem sede de que nós tenhamos sede dele.
- "És tu que lhe pedirias e Ele te
daria água viva" (Jo 4,10). Nossa oração de pedido é, paradoxalmente,
uma resposta. Resposta à queixa do Deus vivo: "Eles me abandonaram a
mim a fonte de água viva, para cavar para si cisternas furadas!" (
2,13), resposta de fé à promessa gratuita da salvação, resposta de amor à
sede do Filho único.
A oração como Aliança
- De onde vem a oração humana? Qualquer que
seja a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo c reza.
Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às
vezes da alma ou do espírito, geralmente do coração (mais de mil vezes). E
o coração que reza. Se ele está longe de Deus, a expressão da oração é vá.
- O coração é a casa em que estou, onde moro
(segundo expressão semítica ou bíblica: aonde eu "desço"). Ele é
nosso centro escondido, inatingível pela razão e por outra pessoa; só o
Espírito de Deus pode sondá-lo e conhecê-lo. Ele é o lugar da decisão, no
mais profundo de nossas tendências psíquicas. E o lugar da verdade, onde
escolhemos a vida ou a morte. E o lugar do encontro, pois, à imagem de
Deus, vivemos em relação; é o lugar da Aliança.
- A oração cristã é uma relação de Aliança
entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; brota do
Espírito Santo e de nós, totalmente dirigida para o Pai, em união com a
vontade humana do Filho de Deus feito homem.
A oração como Comunhão
- Na Nova Aliança, a oração é a relação viva
dos filhos de Deus com seu Pai infinitamente bom, com seu Filho, Jesus
Cristo, e com o Espírito Santo. A graça do Reino é a "união de toda a
Santíssima Trindade com o espírito pleno". A vida de oração desta
forma consiste em estar habitualmente na presença do Deus três vezes Santo
e em comunhão com Ele. Esta comunhão de vida é sempre possível, porque,
pelo Batismo, nos tomamos um mesmo ser com Cristo. A oração é
cristã enquanto comunhão com Cristo e cresce na Igreja que é seu Corpo.
Suas dimensões são as do Amor de Cristo.
CAPÍTULO I
A REVELAÇÃO DA
ORAÇÃO.
VOCAÇÃO
UNIVERSAL Ã ORAÇÃO
- O homem está à procura de Deus. Pela
criação, Deus chama todo ser do nada à existência. "Coroado de glória
e esplendor", o homem é, depois dos anjos, capaz de reconhecer que
"é poderoso o Nome do Senhor em toda a terra". Mesmo depois de
ter perdido a semelhança com Deus por seu pecado, o homem continua sendo
um ser feito à imagem de seu Criador. Conserva o desejo daquele que o
chama à existência. Todas as religiões testemunham essa procura essencial
dos homens.
- Deus é o primeiro a chamar o homem. Ainda
que o homem esqueça seu Criador ou se esconda longe de sua Face, ainda que
corra atrás de seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o
Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro
misterioso da oração. Essa atitude de amor fiel vem sempre em primeiro
lugar na oração; a atitude do homem é sempre resposta a esse amor fiel. A
medida que Deus se revela e revela o homem a si mesmo, a oração aparece
como um recíproco apelo, um drama de Aliança. Por meio das palavras e dos
atos, esse drama envolve o coração e se revela através de toda a história
da salvação.
ARTIGO I
NO ANTIGO
TESTAMENTO
- A revelação da oração no Antigo Testamento
se insere entre a queda e a elevação do homem, entre o chamado doloroso de
Deus a seus primeiros filhos: "Onde estás?... Que fizeste?" (Gn
3,9.13), e a resposta do Filho único ao entrar no mundo: "Eis-me
aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade". A oração, dessa
forma, está ligada à história dos homens, é a relação com Deus nos
acontecimentos da história.
A criação - fonte da oração
- É sobretudo a partir das realidades da
criação que se vive a oração. Os nove primeiros capítulos do Gênesis
descrevem essa relação com Deus como oferenda dos primogênitos rebanho de
Abel, como invocação do nome divino por Enós, como "caminhada com
Deus". A oferenda de Noé é "agradável" a Deus, que o
abençoa e, por meio dele, abençoa toda a criação, porque seu coração é
justo e íntegro; também ele caminha com Deus" (Gn 6,9). Essa
qualidade da oração é vivida por uma multidão de justos em todas as
religiões. Em sua Aliança indefectível com os seres vivos, Deus sempre
convida os homens a orar. Mas é sobretudo a partir nosso pai Abraão que a
oração é revelada no Antigo Testamento.
A promessa e a oração da fé
- Assim que Deus o chama,
Abraão parte, "como lhe disse o Senhor" (Gn 12,4); seu coração
se mostra "submisso à Palavra" ele obedece. A escuta do coração que se decide segundo
Deus é essencial à oração; as palavras lhe são relativas. Mas a oração de
Abraão se exprime primeiro por atos: como homem de silêncio, ele constrói,
a cada etapa, um altar ao Senhor. Somente mais tarde aparece sua primeira
oração com palavras: uma queixa velada que lembra a Deus suas promessas
que parecem não se realizar. Desde o começo aparece assim um dos aspectos
do drama da oração: a provação da fé na fidelidade de Deus.
- Tendo acreditado em Deus, caminhando em
sua presença e em aliança com ele, o patriarca está disposto a acolher em
sua tenda o hóspede misterioso: é a admirável hospitalidade de Mambré,
prelúdio da anunciação do verdadeiro Filho da Promessa. Por isso,
tendo-lhe Deus confiado seu plano, o coração de Abraão está sintonizado
com a compaixão de seu Senhor pelos homens, e ele ousa interceder por eles
com audaciosa confiança.
- Como última purificação de sua fé,
requer-se do "depositário das promessas" (Hb 11,17) que
sacrifique o filho que Deus lhe dera. Sua fé não esmorece: "E Deus
que proverá o cordeiro para o holocausto" (Gn 22,8), "pois Deus,
pensava ele, é capaz também de ressuscitar os mortos" (Hb 11,19).
Dessa forma, o pai dos que crêem se configurou ao Pai que não há de poupar
seu próprio Filho, mas o entregará por todos nós. A oração restaura o
homem à semelhança de Deus e o faz participar do poder do amor de Deus que
salva a multidão.
- Deus renova sua promessa a Jacó, pai das
doze tribos de Israel. Antes de enfrentar seu irmão Esaú, ele luta uma
noite inteira com "alguém" misterioso que se recusa a
revelar-lhe o nome, mas o abençoa antes de o deixar ao despontar da
aurora. A tradição espiritual da Igreja reteve dessa história o símbolo da
oração como combate da fé e vitória da perseverança.
Moisés e a oração do mediador
- Logo que começa a se realizar a Promessa
(a Páscoa, o Êxodo, a entrega da Lei e a conclusão da Aliança), a oração
de Moisés é a figura surpreendente da oração de intercessão que se
realizará no "único Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus" (1 Tm 2,5).
- Também aqui Deus vem primeiro. É Ele quem
chama Moisés do meio da sarça ardente. Esse acontecimento será sempre uma
das figuras primordiais da oração na tradição espiritual judaica e cristã.
De fato, se "o Deus de Abraão, Isaac e Jacó" chama seu servo
Moisés, é porque Ele é o Deus Vivo que quer a vida dos homens. Ele se
revela para salvá-los, mas não sozinho, nem apesar deles; chama Moisés
para enviá-lo, para associá-lo sua compaixão, à sua obra de salvação. Há,
por assim dizer, uma imploração divina nesta missão, e Moisés, depois de
longo debate, conformará sua vontade com a de Deus salvador. Mas, nesse
diálogo em que Deus se confia, Moisés também aprende a orar esquiva-se,
objeta e principalmente pede. E é em resposta a sei pedido que o Senhor
lhe confia seu Nome inefável, que se revelará em seus grandes feitos.
- "Deus falava com Moisés face a face,
como um homem fala com outro" (Ex 33,11). A oração de Moisés é típica
da oração contemplativa graças à qual o servo de Deus é fiel à sua missão.
Moisés "conversa" muitas vezes e longamente com o Senhor, subindo
à montanha para ouvi-lo e implorá-lo, e descendo ao povo para lhe repetir
as palavras de seu Deus e guiá-lo. "Toda minha casa lhe está
confiada. Falo-lhe face a face, claramente e não em enigmas" (Nm
12,7-8), pois "Moisés era um homem muito humilde, o mais humilde dos
homens que havia na terra" (Nm 12,3).
- Dessa intimidade com o Deus fiel, lento
para a cólera e cheio de amor, Moisés tirou a força e a tenacidade de sua
intercessão. Não ora por si, mas pelo povo que Deus adquiriu. Já durante o
combate com os amalecitas, ou para obter a cura de Míriam, Moisés
intercede. Mas é sobretudo depois da apostasia do povo que "ele se
posta na brecha", diante de Deus (Sl 106,23), para salvar o povo. Os
argumentos de si oração (a intercessão também é um combate misterioso)
inspirarão a audácia dos grandes orantes do povo judeu e da Igreja: Deus é
amor, por isso é justo e fiel; não se pode contradizer, deve lembrar-se de
suas ações maravilhosas, sua Glória está em jogo, não pode abandonar o
povo que traz seu nome.
Davi e a oração do rei
- A oração do povo de Deus
florescerá à sombra da Casa de Deus, da Arca da Aliança e, mais tarde, do
Templo. São principalmente os guias do povo os pastores e os profetas -
que o ensinarão a orar. Samuel, menino, teve de aprender de sua mãe Ana
como "se portar diante do Senhor", e do sacerdote Eli, como
ouvir Sua Palavra: "Fala, Senhor, que teu servo ouve" (1Sm
3,9-10). Mais tarde, também ele conhecerá o preço e o peso da intercessão:
"Quanto a mim, longe de mim esteja que eu venha a pecar contra o
Senhor, deixando de orar por vós e de vos mostrar o bem e o reto
caminho" (1Sm 12,23).
- Davi é por excelência o rei
"segundo o coração de Deus", o pastor que ora por seu povo e em
seu nome, aquele cuja submissão à vontade de Deus, cujo louvor e
arrependimento serão o modelo da oração do povo. Como ungido de Deus, sua
oração é adesão fiel à promessa divina, confiança cheia de amor e alegria
naquele que é o único Rei e Senhor. Nos Salmos, Davi, inspirado pelo
Espírito Santo, é o primeiro profeta da oração judaica e cristã. A oração
de Cristo, verdadeiro Messias e filho de Davi, revelará e realizará o
sentido dessa oração.
- O Templo de Jerusalém, a
casa de oração que Davi queria construir, será a obra de seu filho
Salomão. A oração da Dedicação do Templo se apóia na Promessa de Deus e em
sua Aliança, na presença ativa de seu nome entre o povo e a lembrança dos
grandes feitos do Êxodo. O rei levanta então as mãos ao céu e suplica ao
Senhor por si, por todo o povo, pelas gerações futuras, pelo perdão dos
pecados, pelas necessidades de cada dia, para que todas as nações saibam
que Ele é o único Deus e para que o coração de seu povo seja inteiramente
dele.
Elias, os profetas e a conversão do coração
- O Templo devia ser para o
povo de Deus o lugar de sua educação à oração: as peregrinações, as
festas, os sacrifícios, a oferenda da tarde, o incenso, os pães da
"proposição", todos esses sinais da Santidade e da Glória de
Deus, Altíssimo e tão próximo, eram apelos e caminhos da oração. Mas o
ritualismo. arrastava muitas vezes o povo para um culto por demais
exterior. Faltava a educação da fé, a conversão do coração. Foi a missão
dos profetas, antes e depois do Exílio.
- Elias é o pai dos profetas,
"da geração dos que procuram Deus, dos que buscam sua face". Seu
nome, "O Senhor é me Deus", anuncia o clamor do povo em resposta
à sua oração no monte Carmelo. S. Tiago nos remete a Elias para nos
incitar à oração: "A oração fervorosa do justo tem grande
poder".
- Depois de ter aprendido a
misericórdia em seu retiro á margem da torrente do Carit, ensina à viúva
de Sarepta a fé na palavra de Deus, fé que ele confirma por sua oração
insistente: Deus devolve à vida o filho da viúva.
Por ocasião do sacrifício no monte Carmelo, prova
decisiva para a fé do povo de Deus, foi por sua súplica que o fogo do Senhor
consumiu o holocausto, "na hora em que se apresenta a oferenda da
tarde": "Responde-me, Senhor, responde-me!", são as mesmas
palavras de Elias que as Liturgias orientais repetem na Epiclese eucarística.
Por fim, retomando o caminho do deserto para o
lugar em que o Deus vivo e verdadeiro se revelou a seu povo, Elias se escondeu,
como Moisés, "na fenda do rochedo", até que "passasse" a
Presença misteriosa de Deus. Mas somente na montanha da Transfiguração se
revelará Aquele cuja Face buscam; o conhecimento da Glória de Deus está na face
Cristo crucificado e ressuscitado.
- No "face a face"
com Deus, os profetas haurem luz e força para sua missão. Sua oração não é
uma fuga do mundo infiel, mas uma escuta da Palavra de Deus, às vezes um
debate ou uma queixa, sempre uma intercessão que aguarda e prepara a
intervenção do Deus salvador, Senhor da história.
OS Salmos, oração da assembléia
- Desde Davi até a vinda do
Messias, os Livros Sagrados contêm textos de oração que atestam o
aprofundamento cada vez maior da oração por si mesmo e pelos outros. Os
salmos foram pouco a pouco reunidos numa coletânea de cinco livros: os
Salmos (ou "Louvores"), obra-prima da oração no Antigo
Testamento.
- Os Salmos alimentam e
exprimem a oração do povo de Deus como assembléia, por ocasião das grandes
festas em Jerusalém e cada sábado nas sinagogas. Esta oração é
inseparavelmente pessoal e comunitária; refere-se aos que oram e a todos
os homens; sobe da Terra Santa e das comunidades da Diáspora, mas abrange
toda a criação; lembra os acontecimentos salvíficos do passado e se
estende até a consumação da história; recorda as promessas de Deus já
realizadas e aguarda o Messias que as realizará definitivamente. Rezados e
realizados em Cristo, os Salmos são sempre essenciais à oração de Sua
Igreja.
- O Saltério é o livro em que
a Palavra de Deus se torna oração do homem. Nos outros livros do Antigo
Testamento, as palavras proclamam as obras" (de Deus em favor dos
homens) "e elucidam o mistério nelas contido". No Saltério, as
palavras do salmista exprimem, cantando-as a Deus, suas obras de salvação.
O mesmo Espírito inspira a obra de Deus e a resposta do homem. Cristo
unirá uma e outra. Nele, os salmos nos ensinam continuamente a orar.
- As expressões multiformes
da oração dos Salmos tomam forma tanto na liturgia do Templo como no
coração do homem. Quer se trate de um hino, de uma oração de aflição ou de
ação de graças, de uma súplica individual ou comunitária, de canto de
aclamação ao rei ou de um cântico de peregrinação, ou ainda de uma
meditação sapiencial, os Salmos são o espelho das maravilhas de Deus na
história de seu povo e das situações humanas vividas pelo salmista. Um
Salmo pode refletir um acontecimento do passado, mas é de uma sobriedade
tão grande que pode ser rezado na verdade pelos homens de qualquer
condição e em qualquer tempo.
- Os Salmos são marcados por
características constantes: a simplicidade e a espontaneidade da oração, o
desejo do próprio Deus através de e com tudo o que é bom em sua criação, a
situação desconfortável do crente que, em seu amor preferencial ao Senhor,
está exposto a uma multidão de inimigos e tentações e, na expectativa do
que fará o Deus fiel, a certeza de seu amor e a entrega à sua vontade. A
oração dos Salmos é sempre motivada pelo louvor, e por isso o título desta
coletânea convém perfeitamente ao que ela nos oferece: "Os
Louvores". Feita para o culto da Assembléia, ela anuncia o convite à
oração e canta-lhe a resposta: "Hallelu-Ya"! (Aleluia),
"Louvai o Senhor"!
Haverá algo melhor
do que um Salmo? É por isso que Davi diz muito acertadamente: "Louvai o
Senhor, pois o Salmo é uma coisa boa: a nosso Deus, louvor suave e belo!"
E é verdade. Pois o Salmo é bênção pronunciada pelo povo, louvor de f pela
assembléia, aplauso de todos, palavra dita pelo universo voz da Igreja,
melodiosa profissão de fé..
RESUMINDO
- "A oração é a elevação
da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes."
- Deus chama incansavelmente
toda pessoa ao encontro misterioso com Ele. A oração acompanha toda a
história da salvação como um apelo recíproco entre Deus e o homem.
- A oração de Abraão e de
Jacó se apresenta como um combate da fé apoiada na confiança na fidelidade
de Deus e na certeza da vitória prometida à perseverança.
- A oração de Moisés responde
à iniciativa do Deus vivo para a salvação de seu povo. Prefigura a oração
de intercessão do único mediador, Jesus Cristo.
- A oração do povo de Deus
floresce à sombra da Casa de Deus, da Arca da Aliança e do Templo, sob a
direção dos pastores, principalmente do rei Davi, e dos profetas.
- Os profetas chamam à
conversão do coração e, buscando ardentemente a face de Deus, como Elias,
intercedem pelo povo.
- Os Salmos constituem a
obra-prima da oração no Antigo Testamento. Apresentam dois componentes
inseparáveis; o pessoal e o comunitário. Estendem-se a todas as dimensões
da história, comemorando as promessas de Deus já realizadas e esperando a
vinda do Messias.
- Rezados e realizados em
Cristo, os Salmos são um elemento essencial e permanente da oração de sua
Igreja e são adequados aos homens de qualquer condição e tempo.
ARTIGO 2
NA PLENITUDE DO
TEMPO
- O evento da oração nos é
plenamente revelado no Verbo que se fez carne e habita entre nós. Procurar
compreender sua oração, por meio daquilo que suas testemunhas nos anunciam
dela no Evangelho, é aproximar-nos do Santo Senhor Jesus como da sarça
ardente: primeiro contemplá-lo na oração, depois ouvir como Ele nos ensina
a orar, para conhecer, enfim, como Ele atende nossa prece.
Jesus ora
- O Filho de Deus que se
tomou Filho da Virgem aprendeu também a rezar segundo seu coração de
homem. Aprendeu as fórmulas de oração com sua mãe, que conservava e
meditava em seu coração todas as "grandes coisas" feitas pelo
Todo-Poderoso.
Aprendeu nas palavras e ritmos da oração de seu
povo, na sinagoga de Nazaré e no Templo. Mas sua oração brota de uma fonte
bastante secreta, como deixa prever com a idade de doze anos: "Eu devo
estar na casa de meu Pai" (Lc 2,49). Aqui começa a se revelar a novidade
da oração na plenitude dos tempos: a oração filial, que o Pai esperava de seus
filhos, será enfim vivida pelo próprio Filho único em sua humanidade, com os
homens e para os homens.
- O Evangelho segundo S.
Lucas destaca a ação do Espírito Santo e o sentido da oração no ministério
de Cristo. Jesus ora antes dos momentos decisivos de sua missão: antes de
o Pai dar testemunho dele por ocasião do Batismo e da Transfiguração e
antes de realizar por sua Paixão o plano de amor do Pai. Ora também antes
dos momentos decisivos que darão início à missão dos Apóstolos: antes de
escolher e chamar os Doze, antes que Pedro o confesse como "Cristo de
Deus e para que a fé do chefe dos Apóstolos não desfaleça na tentação. A
oração de Jesus antes das ações salvíficas que realiza a pedido do Pai é
uma entrega, humilde e confiante, de sua vontade humana à vontade amorosa
do Pai.
- "Estando em certo
lugar, orando, ao terminar, um de se discípulos pediu-lhe: Senhor,
ensina-nos a orar" (Lc 11,1). Não é antes de tudo contemplando seu
mestre a orar que o discípulo de Cristo deseja orar? Pode então aprender a
orar que o Mestre da oração. É contemplando e ouvindo o Filho que filhos
aprendem a orar ao Pai.
- Jesus muitas vezes se
retira, na solidão, na montanha, de preferência à noite, para orar. Em sua
oração, leva consigo os homens, pois, assumindo a humanidade em sua
Encarnação, oferece-os ao Pai, oferecendo-se a si mesmo. Ele, o Verbo que
"assumiu a carne", em sua oração humana participa de tudo o que
vivem "seus irmãos"; Ele se compadece de fraquezas para
livrá-los delas. Foi para isso que o Pai o enviou. Suas palavras e obras
aparecem então como a manifestação visível de sua oração "em
segredo".
- De Cristo, durante seu
ministério, os evangelistas conservaram duas orações mais explícitas, que
começam ambas com uma ação de graças. Na primeira, Jesus glorifica o Pai,
agradece-lhe e o bendiz porque escondeu os mistérios do Reino aos que se
julgam doutos e revelou-os aos "pequeninos" (os pobres das
Bem-aventuranças). Sua exclamação emocionada, "Sim, Pai!",
exprime o fundo de seu coração, sua adesão ao "beneplácito" do
Pai, como num eco ao "Fiat" de Sua Mãe em sua concepção e como
prelúdio àquele sim que dirá ao Pai em sua agonia. Toda a oração de Jesus
está nesta adesão amorosa de seu coração de homem ao "mistério da vontade"
do Pai.
- A segunda oração é referida
por São João antes da ressurreição de Lázaro. A ação de graças precede o
acontecimento: "Pai, eu te dou graças por me teres ouvido", o
que implica que o Pai escuta sempre seu pedido, e Jesus logo acrescenta:
"Eu sabia que sempre me ouves". Isso implica que, de sua parte,
Jesus pede de modo constante. Dessa forma, motivada pela ação de graças, a
oração de Jesus nos revela como pedir: Antes que o dom seja feito, Jesus
adere Àquele que nos dá seus dons. O Doador é mais precioso do que o dom concedido,
Ele é o "Tesouro", e nele é que está o coração de seu Filho; o
dom é dado "por acréscimo".
A oração "sacerdotal" de Jesus ocupa um
lugar único na economia da salvação. Será meditada no final da primeira seção.
Revela com efeito a oração sempre atual de nosso Sumo Sacerdote e, ao mesmo
tempo, contém o que Ele nos ensina em nossa oração a nosso Pai, que será
desenvolvida na segunda seção.
- Ao chegar a Hora de
realizar o plano de amor do Pai, Jesus deixa entrever a profundidade
insondável de sua oração filial, não apenas antes de se entregar
livremente ("Abba... não seja feita a minha vontade, mas a tua":
Lc 22,42), mas também em suas últimas palavras na Cruz, quando orar e
entregar-se são um só e mesmo ato: "Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem" (Lc 23,34); "Em verdade te digo, hoje mesmo
estarás comigo Paraíso" (Lc 23,43); "Mulher, eis aí teu
filho"; "Eis tua mãe" (Jo 19,26-27); "Tenho
sede!" (Jo 19,28); "Meu Deus, por que me abandonaste?";
"Tudo está consumado" (Jo 19,30); "Pai, c tuas mãos entrego
meu espírito" (Lc 23,46), até aquele grande grito, quando Ele expira,
entregando o espírito.
- Todas as misérias da
humanidade de todos os tempos, escrava do pecado e da morte, todos os
pedidos e intercessões história da salvação estão recolhidos neste Grito
do Verbo encarnado. Eis que o Pai os acolhe e, indo além de todas as
esperanças, ouve-os, ressuscitando seu Filho. Dessa forma se realiza e se
consuma o evento da oração na Economia da criação e da salvação. Sua chave
de interpretação nos é dada pelo Saltério em Cristo. E no Hoje da
Ressurreição que o Pai diz: "Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede,
e eu te darei as nações como herança, os confins da terra como
propriedade!"
A Epístola aos
Hebreus exprime em termos dramáticos como a oração de Jesus opera a vitória da
salvação. "É ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e
súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e
foi atendido por causa de sua submissão. E, embora fosse Filho, aprendeu, contudo,
a obediência pelo sofrimento; e, levado à perfeição, se tomou para todos os que
lhe obedecem princípio de salvação eterna" (1 Hb 5,7-9)
JESUS ENSINA A ORAR
- Ao orar, Jesus já nos
ensina a orar. O caminho teologal de nossa oração é a oração a seu Pai.
Mas o Evangelho nos dá um ensinamento explícito de Jesus sobre a oração.
Como pedagogo, ele nos toma onde estamos e, progressivamente, nos conduz
ao Pai. Dirigindo-se às multidões que o seguem, Jesus parte daquilo que
elas já conhecem da oração, conforme a Antiga Aliança, e as abre para a
novidade do Reino que vem. Depois lhes revela em parábolas essa novidade.
Enfim, falará abertamente do Pai e do Espírito Santo a seus discípulos,
que deverão ser pedagogos da oração em sua Igreja.
- No Sermão da Montanha, Jesus
insiste na conversão do coração: a reconciliação com o irmão antes de
apresentar uma oferenda no altar, o amor aos inimigos e a oração pelos
perseguidores, a oração ao Pai "em segredo" (Mt 6,6), a
não-multiplicação das palavras, o perdão do fundo do coração na oração, a
pureza do coração e a busca do Reino. Essa conversão é inteiramente
orientada para o Pai; é filial.
- O coração assim decidido a
se converter aprende a orar na fé. A fé é uma adesão filial a Deus, acima
daquilo que sentimos e compreendemos. Tomou-se possível porque o Filho
bem-amado nos abre as portas para o Pai. Este pode pedir-nos que
"procuremos" e "batamos", uma vez que Ele mesmo é a
porta e o caminho.
- Assim como Jesus ora ao Pai
e dá graças antes de receber seus dons, Ele nos ensina essa audácia
filial: "Tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que já
recebestes" (Mc 11,24). "Tudo é possível para quem crê" (Mc
9,23), com uma fé "que não hesita". tal é a força da oração. Se
por um lado Jesus se entristece pela "falta de fé" de seus parentes
(Mc 6,6) e pela "fraqueza na fé" de seus discípulos, por outro
lado fica admirado com a "grande fé" do centurião romano e da
cananéia.
- A oração de fé não consiste
apenas em dizer "Senhor, Senhor", mas em levar o coração a fazer
a vontade do Pai. Jesus convida os discípulos a terem, na oração, a
preocupação de cooperarem com o plano divino.
- Em Jesus, "o Reino de
Deus está próximo" (Mc 1,15) e convoca à conversão e à fé, como
também, à vigilância. Na oração, o discípulo vigia atento Aquele que É e que
Vem na memória de sua primeira Vinda na humildade da carne e na esperança
de sua segunda Vinda na Glória. Em comunhão com o Mestre a oração dos
discípulos é um combate, e é vigiando na prece que não se cai em tentação.
- Três parábolas principais
sobre a oração nos são transmitida por S. Lucas.
A primeira, "o amigo importuno",
convida a uma oração persistente: "Batei e se vos abrirá". Àquele que
assim ora, o Pai do céu "dará tudo o que precisa", sobretudo o
Espírito Santo, que contém todos os dons.
A segunda, "a viúva importuna",
focaliza uma das qualidades da oração: é preciso rezar sempre sem
esmorecimento, com a paciência fé. "Mas, quando vier o Filho do homem,
acaso encontrará fé na terra?
A terceira parábola, "o fariseu e o
publicano", refere-se à humildade do coração que reza. "Meu Deus, tem
piedade de mim, pecador." Essa oração a Igreja constantemente toma sua:
"Kyrie eleison!"
- Quando Jesus confia
abertamente a seus discípulos o ministério da oração ao Pai, revela-lhes
qual deverá ser sua oração, e a nossa, quando Ele voltar para o Pai, em
sua Humanidade glorificada. A novidade agora é "pedir em seu
Nome". A fé nele introduz os discípulos no conhecimento do Pai,
porque Jesus é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6). A fé
produz seus frutos no amor: guardar sua Palavra, seus mandamentos,
permanecer com Ele no Pai, que nele nos ama a ponto de permanecer em nós.
Nessa Aliança nova, a certeza de sermos ouvidos em nossos pedidos se
fundamenta na oração de Jesus.
- Mais ainda, o que o Pai nos
dá quando nossa oração está unida à de Jesus é o "outro Paráclito
para que convosco permaneça para sempre o Espírito da Verdade" (Jo
14,16-17). Essa novidade da oração e de suas condições aparece no discurso
de despedida. No Espírito Santo, a oração cristã é comunhão de amor com o
Pai, não apenas por Cristo, mas também nele: "Até agora nada pedistes
em meu Nome. Pedi e recebereis, e vossa alegria será perfeita" (Jo
16,24).
Jesus ouve a oração
- A oração a Jesus é ouvida
por Ele já durante seu ministério, por meio dos sinais que antecipam o
poder de sua Morte e Ressurreição: Jesus ouve a oração de fé, expressa em
palavras (o leproso, Jairo, a cananéia, o bom ladrão), ou em silêncio (os
carregadores do paralítico, a hemorroíssa que lhe toca as vestes, as
lágrimas e o perfume da pecadora). O pedido insistente dos cegos:
"Filho de Davi, tem compaixão de nós" (Mt 9,27)ou "Filho de
Davi, tem compaixão de mim" (Mc 10,47) foi retomado na tradição da
Oração a Jesus: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de
mim, pecador!" Quer na cura das enfermidades, quer na remissão dos
pecados, Jesus responde sempre à oração que implora com fé: "Vai em
paz, tua fé te salvou!"
Sto. Agostinho
resume admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus (cf. 2667):
"Ele ora por nós como nosso sacerdote, ora em nós como nossa cabeça, e a
Ele sobe nossa oração como ao nosso Deus. Reconheçamos pois, nele, os nossos
clamores e em nós os seus clamores".
A oração da Virgem Maria
- A oração de Maria nos é
revelada na aurora da plenitude dos tempos. Antes da Encarnação do Filho
de Deus e antes da efusão do Espírito Santo, sua oração coopera de maneira
única com o plano benevolente do Pai; na Anunciação para a concepção de
Cristo, em Pentecostes para a formação da Igreja, Corpo de Cristo. Na fé
de sua humilde serva, o Dom de Deus encontra o acolhimento que esperava
desde o começo dos tempos. Aquela que o Todo-Poderoso tornou "cheia
de graça" responde pela oferenda de todo seu ser: "Eis a serva
do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra". Fiat, esta é a oração
cristã: ser todo dele porque Ele é todo nosso.
- O Evangelho nos revela como
Maria ora e intercede na fé: em Caná, a mãe de Jesus pede a seu filho
pelas necessidades de um banquete de núpcias, sinal de outro Banquete, o
das núpcias do Cordeiro, que dá seu Corpo e Sangue a pedido da Igreja, sua
Esposa. E é na hora da nova Aliança, ao pé da Cruz, que Maria é ouvida
como a Mulher, a nova Eva, a verdadeira "mãe dos vivos".
- Por isso o cântico de Maria
(o Magnificat latino ou o Megalynário bizantino) é ao mesmo tempo o
cântico da Mãe de Deus e o da Igreja, cântico da Filha de Sião e do novo
Povo de Deus, cântico de ação de graças pela plenitude de graças
distribuídas na Economia da salvação, cântico dos "pobres", cuja
esperança é satisfeita pela realização das promessas feitas a nossos pais
"em favor de Abraão e de sua descendência para sempre".
RESUMINDO
- No Novo Testamento, o
modelo perfeito da oração encontra-se na prece filial de Jesus. Feita
muitas vezes na solidão, no segredo, a oração de Jesus implica uma adesão
amorosa à vontade do Pai até a cruz e uma confiança absoluta de ser
ouvido.
- Jesus ensina seus
discípulos a orar com um coração purificado, uma fé viva e perseverante,
uma audácia filial. Incita-os à vigilância e convida-os a apresentar a
Deus seus pedidos em seu Nome. Jesus Cristo atende pessoalmente às
orações, que lhe são dirigidas.
- A oração da Virgem
Maria, em seu "Fiat" e em seu "Magnificat",
caracteriza-se pela oferta generosa de todo seu ser na fé.
ARTIGO 3
NO TEMPO DA
IGREJA
- No dia de Pentecostes, o
Espírito da promessa foi derramado sobre os discípulos, "reunidos no
mesmo lugar" (At 2,1), esperando-o, "todos unânimes,
perseverando na oração" (At 1,14). O Espírito, que ensina a Igreja e
lhe recorda tudo o que Jesus disse, vai também formá-la para a vida de
oração.
- Na primeira comunidade de
Jerusalém, os fiéis se mostravam "assíduos ao ensinamento dos
apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações" (At
2,42). A seqüência é típica da oração da Igreja: fundada na fé apostólica
e autenticada pela caridade, ela é alimentada na Eucaristia.
- Essas orações são,
sobretudo, as que os fiéis ouvem e lêem nas Escrituras, atualizando-as,
porém, principalmente as dos Salmos, a partir de sua realização em Cristo.
O Espírito Santo, que assim lembra Cristo à sua Igreja orante, também a
conduz à Verdade plena e suscita formulações novas que exprimirão o
insondável Mistério de Cristo atuando na vida, nos sacramentos e na missão
de sua Igreja. Essas formulações se desenvolverão nas grandes tradições
litúrgicas e espirituais. As formas da oração, como nos são reveladas
pelas Escrituras apostólicas canônicas, serão normativas da oração cristã.
1. A benção e a adoração
- A bênção exprime o
movimento de fundo da oração; é o encontro de Deus e do homem; nela o dom
de Deus e a acolhida do homem se chamam e se unem. A oração de bênção é a
resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do
homem pode bendizer Aquele que é a fonte de toda bênção.
- Duas formas fundamentais
exprimem esse movimento da bênção: ora ela sobe, levada no Espírito Santo
por Cristo ao Pai (nós o bendizemos por nos ter abençoado); ora ela
implora a graça do Espírito Santo, que, por Cristo, desce de junto do Pai
(é Ele que nos abençoa).
- A adoração é a primeira
atitude do homem que se reconhece criatura diante de seu Criador. Exalta a
grandeza do Senhor que nos fez e a onipotência do Salvador que nos liberta
do mal. É prosternação do Espírito diante do "Rei da glória" e o
silêncio respeitoso diante do Deus "sempre maior". A adoração do
Deus três vezes santo e sumamente amável nos enche de humildade e dá
garantia a nossas súplicas.
II. A oração de súplica
- O vocabulário referente à
súplica tem muitos matizes no Novo Testamento: pedir, implorar, suplicar
com insistência, invocar, clamar, gritar e mesmo "lutar na
oração". Mas sua forma mais habitual, por ser a mais espontânea, é o
pedido: é pela oração de súplica que exprimimos a consciência de nossa
relação com Deus: como criaturas, não somos nem nossa origem, nem senhores
das adversidades, nem nosso fim último. Mas, como pecadores, sabemos, na
qualidade de cristãos, nos afastamos de nosso Pai. O pedido já é uma volta
para Ele.
- O Novo Testamento contém poucas orações de lamentação, freqüentes
no Antigo Testamento. Agora, em Cristo ressuscitado, o pedido da Igreja é
sustentado pela esperança, embora estejamos ainda na expectativa e devamos
nos converter cada dia. Brota de outra profundeza o pedido cristão, que S.
Paulo chama de gemidos, os da criação, em "dores de parto" (Rm
8,22), os nossos, também "à espera da redenção de nosso corpo, pois
nossa salvação é objeto de esperança" (Rm 8,23-24), enfim, "os
gemidos inefáveis do próprio Espírito Santo que "socorre nossa
fraqueza, pois nem sequer sabemos o que seja conveniente pedir" (Rm
8,26).
- O pedido de perdão é o
primeiro movimento da oração de súplica (cf. o publicano: "Tem
piedade de mim, pecador": Lc 18,13). É a condição prévia de uma
oração justa e pura. A humildade confiante nos repõe na luz da comunhão
com o Pai e seu Filho, Jesus Cristo, e uns com os outros: "Então tudo
o que lhe pedimos recebemos dele" (1 Jo 3,22). O pedido de é a perdão
condição prévia da liturgia eucarística, como da oração pessoal.
- A súplica cristã está
centrada no desejo e na procura do Reino que vem, de acordo com o
ensinamento de Jesus". Existe uma hierarquia nos pedidos: primeiro o
Reino, depois o que é necessário para acolhê-lo e cooperar para sua vinda.
Essa cooperação com a missão de Cristo e do Espírito Santo, que é agora a
da Igreja, é o objeto da oração da comunidade apostólica. E a oração de
Paulo, o apóstolo por excelência, que nos revela como o cuidado divino por
todas as Igrejas deve animar a oração cristã. Pela oração, todo batizado
trabalha para a Vinda do Reino.
- Quando participamos, assim,
do amor salvador de Deus, compreendemos que toda necessidade pode vir a
ser objeto de pedido. Cristo, que tudo assumiu para resgatar tudo, é
glorificado pelos pedidos que oferecemos ao Pai em seu Nome. E com essa
garantia que Tiago e Paulo nos exortam a orar em todo tempo.
III. A oração de intercessão
- A intercessão é uma oração
de pedido que nos conforma de perto com a oração de Jesus. Ele é o único
Intercessor junto do Pai em favor de todos os homens, dos pecadores,
sobretudo. Ele é "capaz de salvar de modo definitivo aqueles que por
meio dele se aproximam de Deus, visto que Ele vive para sempre para
interceder por eles" (Hb 7,25). O próprio Espírito Santo
"intercede por nós... pois é segundo Deus que ele intercede pelos
santos" (Rm 8,26-27).
- Interceder, pedir em favor
de outro, desde Abraão, é próprio de um coração que está em consonância
com a misericórdia de Deus. No tempo da Igreja, a intercessão cristã
participa da de Cristo; é a expressão da comunhão dos santos. Na
intercessão, aquele que ora "não procura seus próprios interesses,
mas pensa sobretudo nos dos outros" (Fl 2,4) e reza por aqueles que
lhe fazem mal.
- As primeiras comunidades
cristãs viveram intensamente forma de partilha. O Apóstolo Paulo as faz
participar assim de seu ministério do Evangelho, mas intercede também por
elas. A intercessão dos cristãos não conhece fronteiras: "Por todos
os homens, pelos que detêm a autoridade" (1 Tm 2,1), pelos que
perseguem pela salvação daqueles que recusam o Evangelho.
IV. A oração de ação de graças
- A ação de graças
caracteriza a oração da Igreja que, celebrando a Eucaristia, manifesta e
se torna mais aquilo que ela é. Com efeito, na obra da salvação, Cristo
liberta a criação do pecado e da morte para consagrá-la de novo e fazê-la
retornar ao Pai, para sua Glória. A ação de graças dos membros do Corpo
participa da de sua Cabeça.
- Como na oração de súplica,
todo acontecimento e toda necessidade podem se tornar oferenda de ação de
graças. As cartas de S. Paulo começam e terminam freqüentemente uma ação
de graças, e o Senhor Jesus sempre está presente. "Por tudo dai
graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo
Jesus" (l Ts 5,18). "Perseverai na oração, vigilantes, com ação
de graças" (Cl 4,2).
V. A oração de louvor
- O louvor é a forma de
oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus!
Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz,
por aquilo que Ele É. Participa da bem-aventurança dos corações puros que
o amam na fé antes de o verem na Glória. Por ela, o Espírito se associa
nosso espírito para atestar que somos filhos de Deus, dando testemunho ao
Filho único, em quem somos adotados e por quem glorificamos o Pai. O
louvor integra as outras formas de oração e as levar Àquele que é sua
fonte e termo final: "O único Deus, o Pai, de quem tudo procede e
para quem nós somos feitos" (1 Cor 8,6).
- São Lucas menciona muitas vezes em seu Evangelho a admiração e o
louvor diante das maravilhas de Cristo. Chama a atenção também para as
ações do Espírito Santo, que são os Atos dos Apóstolos: a comunidade de
Jerusalém , o paralítico curado por Pedro e João, a multidão que com isso
glorifica a Deus e os pagãos da Pisídia que, "alegres, glorificam a
Palavra do Senhor" (At 13,).
- Recitai uns com os outros "salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando e louvando o Senhor em vosso coração" (Ef
5,19). Como os escritores do Novo Testamento, as primeiras comunidades
cristãs relêem o livro dos Salmos, cantando nele o Mistério de Cristo. Na
novidade do Espirito, elas compõem também hinos e cânticos a partir do
Acontecimento inaudito que Deus realizou em seu Filho: a Encarnação, a
Morte vitoriosa da morte, a Ressurreição e Ascensão à sua direita. É dessa
"maravilha" de toda a economia da salvação que brota a
doxologia, o louvor de Deus.
- A Revelação "daquilo que deve acontecer em breve", o
Apocalipse, é comunicada pelos cânticos da Liturgia celeste, mas também
pela intercessão das "testemunhas" (mártires) Os profetas e os
santos, todos os que foram degolados na terra em testemunho de Jesus, a
multidão imensa daqueles que, vindos da grande tribulação, nos precederam
no Reino, cantam o louvor de glória daquele que está sentado no Trono e do
Cordeiro. Em comunhão com eles, a Igreja da terra canta também esses cânticos,
na fé e na provação. No pedido e na intercessão, a fé espera contra toda
esperança e dá graças ao "Pai das luzes, do qual desce toda dádiva
perfeita". A fé é assim um puro louvor.
- A Eucaristia contém e
exprime todas as formas de oração. É "a oferenda pura" de todo o
Corpo de Cristo "para a glória de seu Nome"; segundo as
tradições do Oriente e do Ocidente, ela é "o sacrifício de
louvor".
RESUMINDO
- O Espírito Santo, que
ensina a Igreja e lhe recorda tudo o que Jesus disse, educa-a também para
a vida de oração, suscitando expressões que se renovam dentro de formas
permanentes: benção, súplica, intercessão, ação de graças e louvor.
- Porque Deus o abençoa é
que o coração do homem pode bendizer por sua vez Aquele que é a fonte de
toda bênção.
- A oração de pedido tem
por objeto o perdão, a procura do Reino, como também toda verdadeira
necessidade.
- A oração de intercessão
consiste num pedido em favor de outrem. Não conhece fronteiras e se
estende até os inimigos.
- Toda alegria e todo
sofrimento, todo acontecimento e toda necessidade podem ser a matéria da
ação de graças que, participando da ação de graças de Cristo, deve dar
plenitude a toda a vida: "Por tudo dai graças (1Ts 5,18).
- A oração de louvor,
totalmente desinteressada, dirige-se a Deus. Canta-o pelo que Ele; dá-lhe
glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo que Ele É.
CAPÍTULO II
A TRADIÇÃO DA
ORAÇÃO
- A oração não se reduz ao
surgir espontâneo de um impulso interior; para rezar é preciso querer. Não
basta saber o que as Escrituras revelam sobre a oração; também é
indispensável aprender a rezar. E é por uma transmissão viva (a sagrada
Tradição) que o Espírito Santo, na "Igreja crente e orante",
ensina os filhos de Deus a rezar.
- A tradição da oração cristã
é uma das formas de crescimento da Tradição da fé, sobretudo pela
contemplação e pelo estudo dos difíceis, que guardam em seu coração os
acontecimentos e as palavras da Economia da salvação, e pela penetração
profunda das realidades espirituais que eles experimentam.
ARTIGO 1
NAS FONTES DA ORAÇÃO
- O Espírito Santo é "a
água viva" que, no coração orante, "jorra para a Vida
eterna". É Ele que nos ensina a haurir essa água na própria fonte:
Cristo. Ora, existem na vida cristã fontes em que Cristo nos espera para
nos dessedentar com o Espírito Santo.
A Palavra de Deus
- A Igreja "exorta todos
os fiéis cristãos, com veemência e de modo peculiar... a que pela
freqüente leitura das divinas Escrituras aprendam 'a eminente ciência de
Jesus Cristo' Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura
deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça o colóquio
entre Deus e o homem; pois 'a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos
quando lemos os divinos oráculos".
- Os Padres espirituais,
parafraseando Mt 7,7, resumem assim as disposições do coração alimentado
pela Palavra de Deus na oração: "Procurai pela leitura, e
encontrareis meditando; batei orando, e vos será aberto pela
contemplação"
A Liturgia da Igreja
- A missão de Cristo e do
Espírito Santo, que, na liturgia sacramental da Igreja, anuncia, atualiza
e comunica o Mistério da salvação, prolonga-se no coração de quem reza. Os
Padres espirituais comparam às vezes o coração a um altar. A oração
interioriza e assimila a Liturgia durante e após sua celebração. Mesmo
quando é vivida "no segredo" (Mt 6,6), a oração é sempre oração
da Igreja, comunhão com a Santíssima Trindade.
As virtudes teologais
- Entramos na oração como
entramos na Liturgia: pela porta estreita da fé. Por meio dos sinais de
sua Presença, procuramos e desejamos a Face do Senhor, e é sua Palavra que
queremos ouvir e guardar.
- O Espírito Santo, que nos
ensina a celebrar a Liturgia na expectativa da volta de Cristo, nos educa
a orar na esperança. Por sua vez, a oração da Igreja e a oração pessoal
alimentam em nós a esperança. Especialmente os salmos, com sua linguagem
concreta e variada, nos ensinam a fixar nossa esperança em Deus:
"Esperei ansiosamente pelo Senhor, Ele se inclinou para mim e ouviu o
meu grito" (Sl ,2). "Que o Deus da esperança vos cumule de toda
alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a
vossa esperança transborde" (Rm 15,13).
- "A esperança não
decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo, que nos foi dado" (Rm 5,5). A oração, formada pela
vida litúrgica, tudo haure do Amor com que somos amados em Cristo e que
nos concede responder-lhe, amando como Ele nos amou. O Amor é a fonte de
oração; quem dela bebe atinge o cume da oração:
Meu Deus, eu vos
amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus
infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos
amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar-vos
eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu
vos amo, quero que meu coração vo-lo repita tantas vezes quantas eu respiro.
"Hoje"
- Aprendemos a rezar em
certos momentos ouvindo a Palavra do Senhor e participando de seu Mistério
pascal, mas é em todos os tempos, nos acontecimentos de cada dia, que seu
Espírito nos é oferecido para fazer jorrar a oração. O ensinamento de
Jesus sobre a oração a nosso Pai está na mesma linha que o ensinamento
sobre a Providência. O tempo está nas mãos do Pai; no presente é que nós o
encontramos, nem ontem, nem amanhã, mas hoje: "Oxalá ouvísseis hoje a
sua voz! Não endureçais vossos corações" (Sl 95,8).
- Orar nos acontecimentos de
cada dia e de cada instante é um dos segredos do Reino revelados aos
"pequeninos", aos servos de Cristo, aos pobres das
bem-aventuranças. E justo e bom orar para que a vinda do Reino de justiça
e de paz influa na marcha da história, mas é também importante modelar
pela oração a massa das humildes situações do cotidiano. Todas as formas
de oração podem ser esse fermento ao qual o Senhor compara o Reino.
RESUMINDO
- É por uma transmissão
viva, a Tradição, que, na Igreja, o Espírito Santo ensina os filhos de
Deus a orar.
- A Palavra de Deus, a
liturgia da Igreja, as virtudes da fé, esperança e caridade são fontes da
oração.
ARTIGO 2
O CAMINHO DA
ORAÇÃO
- Na tradição viva da oração,
cada Igreja propõe aos fiéis, segundo o contexto histórico, social e
cultural, a linguagem de Jesus na sua oração: palavras, melodias, gestos,
iconografia. Cabe ao Magistério discernir a fidelidade desses caminhos de
oração à tradição da fé apostólica, e compete aos pastores e aos
catequistas explicar seu sentido, sempre relacionado com Jesus Cristo.
A oração ao Pai
- Não existe outro caminho da
oração cristã senão Cristo. Seja a nossa oração comunitária ou pessoal,
vocal ou interior, ela só tem acesso ao Pai se orarmos "em nome"
de Jesus. A santa humanidade de Jesus é, portanto, o caminho pelo qual o
Espírito Santo nos ensina a orar a Deus, nosso Pai.
A oração a Jesus
- A oração da Igreja,
alimentada pela Palavra de Deus, e a celebração da Liturgia nos ensinam a
orar ao Senhor Jesus. Ainda que seja dirigida sobretudo ao Pai, ela
inclui, em todas as tradições litúrgicas, formas de oração dirigidas a
Cristo. Certos Salmos, conforme sua atualização na Oração da Igreja, e o
Novo Testamento põem em nossos lábios e gravam em nossos corações as
invocações desta oração a Cristo: Filho de Deus, Verbo de Deus, Senhor,
Salvador, Cordeiro de Deus, Rei, Filho bem-amado, Filho da Virgem, Bom
Pastor, nossa Vida, nossa Luz, nossa Esperança, nossa Ressurreição, Amigo
dos homens...
- Mas o Nome que contém tudo
é o que o Filho de Deus recebe em sua Encarnação: JESUS. O Nome divino é
indizível pelos lábios humanos , mas, assumindo nossa humanidade, o Verbo
de Deus no-lo entrega e podemos invocá-lo: "Jesus", Javé salva'.
O Nome de Jesus contém tudo: Deus e homem e toda a economia da criação e
da salvação. Orar a "Jesus" e invocá-lo, chamá-lo em nós. Seu
Nome é o único que contém a Presença que significa. Jesus é Ressuscitado,
todo aquele que invoca seu nome acolhe o Filho de Deus que o amou e por
ele se entregou.
- Esta invocação de fé muito simples foi desenvolvida na tradição da
oração em várias formas no Oriente e no Ocidente. A formulação mais comum,
transmitida pelos monges do Sinai, da Síria e do monte Athos é a
invocação: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de nós,
pecadores!" Esta associa o hino cristológico de (Fl 2,6-11 com o
pedido do publicano e dos mendigos da luz. Por ela, o coração se põe em
consonância com a miséria dos homens e com a Misericórdia de seu Salvador.
- A invocação do santo nome de Jesus é o caminho mais simples oração
contínua. Muitas vezes repetida por um coração humildemente atento, ela
não se dispersa numa torrente de palavras (Mc 6,7), mas "conserva a
Palavra e produz fruto pela perseverança.
É possível
"em todo tempo", pois não é uma ocupação ao lado de outra, mas a
única ocupação, a de amar a Deus, que anima e transfigura toda ação em Cristo
Jesus.
- A oração da Igreja venera e honra o Coração de Jesus, como invoca
o seu Santíssimo nome. Adora o Verbo encamado e seu Coração, que por nosso
amor se deixou traspassar por nossos pecados. A oração cristã gosta de
seguir o caminho da cruz (Via-Sacra), seguindo o Salvador. As estações, do
Pretório ao Gólgota e ao Túmulo, marcam o caminho de Jesus, que resgatou o
mundo por sua santa Cruz.
"Vinde, Espírito Santo"
- "Ninguém pode dizer
'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito Santo" (1 Cor 12,3). Cada vez
que começamos a orar a Jesus, é o Espírito Santo que, por sua graça
proveniente, nos atrai ao caminho da oração. Se Ele nos ensina a orar
recordando-nos Cristo, como não orar a Ele mesmo? Por isso, a Igreja nos
convida a implorar cada dia o Espírito Santo, sobretudo no início e no fim
de toda ação importante.
Se o Espírito não
deve ser adorado, como é que Ele me diviniza pelo Batismo? E se Ele deve ser
adorado, não deve ser o objeto de um culto particular?
- A forma tradicional para
pedir a vinda do Espírito Santo é invocar o Pai por Cristo, nosso Senhor,
para que nos dê o Espírito Consolador. Jesus insiste nesse pedido em seu
nome exatamente no momento em que promete o dom do Espírito de Verdade.
Mas a oração mais simples e mais direta é também tradicional: "Vinde,
Espírito Santo", e cada tradição litúrgica a desenvolveu em antífonas
e hinos:
Vinde, Espírito
Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo de vosso amor.
Rei celeste,
Espírito Consolador, Espírito de Verdade, presente em toda parte e plenificando
tudo, tesouro de todo bem e fonte da Vida, vinde, habitai em nós, purificai-nos
e salvai-nos, ó Vós, que sois bom!
- O Espírito Santo, cuja
Unção impregna todo o nosso ser, é o Mestre interior da oração cristã. E o
artífice da tradição viva da oração. Sem dúvida, existem tantos caminhos
na oração quantos orantes, mas é o mesmo Espírito que atua em todos e com
todos. Na comunhão do Espírito Santo, a oração cristã se torna oração da
Igreja.
Em comunhão com a Santa Mãe de Deus
- Na oração, o Espírito Santo
nos une à Pessoa do Filho Único, em sua humanidade glorificada. Por ela e
nela, nossa oração filial entra em comunhão, na Igreja, com a Mãe de
Jesus.
- A partir do consentimento
dado na fé por ocasião da Anunciação e mantido sem hesitação sob a cruz, a
maternidade de Maria se estende aos irmãos e às irmãs de seu Filho
"que ainda são peregrinos e expostos aos perigos e às misérias".
Jesus, o único Mediador, é o Caminho de nossa oração; Maria, sua Mãe e
nossa Mãe, é pura transparência dele. Maria "mostra o Caminho"
("Hodoghitria"), é seu "sinal" conforme a iconografia
tradicional no Oriente e no Ocidente.
- A partir dessa cooperação
singular de Maria com a ação do Espírito Santo, as Igrejas desenvolveram a
oração à santa Mãe de Deus, centrando-a na Pessoa de Cristo manifestada em
seus mistérios. Nos inúmeros hinos e antífonas que exprimem essa oração,
alternam-se geralmente dois movimentos: um "exalta" o Senhor
pelas "grandes coisas" que fez para sua humilde serva e, por
meio dela, por todos os seres humanos; o outro confia à Mãe de Jesus as
súplicas e louvores dos filhos de Deus, pois ela conhece agora humanidade
que nela é desposada pelo Filho de Deus.
- Esse duplo movimento da
oração a Maria encontrou uma expressão privilegiada na oração da
Ave-Maria:
"Ave, Maria
(alegra-te, Maria)." A saudação do anjo Gabriel abre a oração da
Ave-Maria. E o próprio Deus que, por intermédio de seu anjo, saúda Maria. Nossa
oração ousa retomar a saudação de Maria com o olhar que Deus lançou sobre sua
humilde serva, alegrando-nos com a mesma alegria que Deus encontra nela.
"Cheia de
graça, o Senhor é convosco." As duas palavras de saudação do anjo se
esclarecem mutuamente. Maria é cheia de graça porque o Senhor está com ela. A
graça com que ela é cumulada é a presença daquele que é a fonte de toda graça.
"Alegra-te, filha de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti" (Sf
3,14.17a). Maria, em quem vem habitar o próprio Senhor, é em pessoa a filha de
Sião, a Arca da Aliança, o lugar onde reside a glória do Senhor: ela é "a
morada de Deus entre os homens" (Ap 21,3). "Cheia de graça", e
toda dedicada àquele que nela vem habitar e que ela vai dar ao mundo.
"Bendita sois
vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus." Depois
da saudação do anjo, tornamos nossa a palavra de Isabel. "Repleta do
Espírito Santo" (Lc 1,41), Isabel é a primeira na longa série das gerações
que declaram Maria bem-aventurada: "Feliz aquela que creu..." (Lc
1,45): Maria é "bendita entre as mulheres" porque acreditou na
realização da palavra do Senhor. Abraão, por sua fé, se tomou uma bênção para
"todas as nações da terra" (Gn 12,3). Por sua fé, Maria se tomou a
mãe dos que crêem, porque, graças a ela, todas as nações da terra recebem
Aquele que é a própria bênção de Deus: "Bendito é o fruto do vosso ventre,
Jesus".
- "Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai por nós..." Com Isabel também nós nos admiramos:
"Donde me vem que a mãe de meu Senhor me visite?" (Lc 1,43).
Porque nos dá Jesus, seu filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos
lhe confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como rezou
por si mesma: "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).
Confiando-nos à sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus:
"Seja feita a vossa vontade".
"Rogai por
nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte." Pedindo a Maria que reze
por nós, reconhecemo-nos como pobres pecadores e nos dirigimos à "Mãe de
misericórdia", à Toda Santa. Entregamo-nos a ela "agora", no
hoje de nossas vidas. E nossa confiança aumenta para desde já entregar em suas
mãos "a hora de nossa morte". Que ela esteja então presente, como na
morte na Cruz de seu Filho, e que na hora de nossa passagem ela nos acolha como
nossa Mãe, para nos conduzir a seu Filho, Jesus, no Paraíso.
- A piedade medieval do
Ocidente desenvolveu a oração do Rosário como alternativa popular à Oração
das Horas. No Oriente, a forma litânica da oração "Acatisto" e
da Paráclise ficou mais próxima do ofício coral nas Igrejas bizantinas, ao
passo que as tradições armênia, copta e siríaca preferiram os hinos e os
cânticos populares à Mãe de Deus. Mas na Ave-Maria, nos
"theotokia", nos hinos de Sto. Efrém ou de S. Gregório de Narek,
a tradição da oração é fundamentalmente a mesma.
- Maria é a Orante perfeita,
figura da Igreja. Quando rezamos a ela, aderimos com ela ao plano do Pai,
que envia seu Filho para salvar todos os homens. Como o discípulo
bem-amado, acolhemos em nossa casa a Mãe de Jesus, que se tornou a mãe de
todos os vivos. Podemos rezar com ela e a ela. A oração da Igreja é
acompanhada pela oração de Maria, que lhe está unida na esperança.
RESUMINDO
- A oração é dirigida
sobretudo ao Pai; também é dirigida ~ Jesus, sobretudo pela invocação de
seu santo nome: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tende piedade
de nós, pecadores!"
- "Ninguém pode
dizer: 'Jesus é Senhor', a não ser no Espírito Santo" (1 Cor 12,3). A
Igreja nos convida a invocar o Espírito Santo como o Mestre interior da
oração cristã.
- Em virtude da cooperação
singular da Virgem Maria com a ação do Espírito Santo, a Igreja gosta de
rezar em comunhão com ela, para exaltar com ela as grandes coisas que Deus
realizou nela e para confiar-lhe súplicas e louvores.
ARTIGO 3
GUIAS PARA A
ORAÇÃO
Uma nuvem de testemunhas
- As testemunhas que nos
precederam no Reino, especialmente as que a Igreja reconhece como
"santos", participam da tradição viva da oração pelo exemplo
modelar de sua vida, pela transmissão de seus escritos e por sua oração
hoje. Contemplam a Deus, louvam-no e não deixam de velar por aqueles que
deixaram na terra. Entrando "na alegria" do Mestre, eles foram
"postos sobre o muito". Sua intercessão é o mais alto serviço
que prestam ao plano de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam
por nós e pelo mundo inteiro.
- Na comunhão dos santos,
desenvolveram-se, ao longo da história das Igrejas, diversas
espiritualidades. O carisma pessoal de uma testemunha do Amor de Deus aos
homens pôde ser transmitido, como "o espírito" de Elias a
Eliseu" e a João Batista, para que alguns discípulos tenham parte
nesse espirito. Há uma espiritualidade igualmente na confluência de outras
correntes, litúrgicas e teológicas, atestando a inculturação da fé num
meio humano e em sua história. As espiritualidades cristãs participam da
tradição viva da oração e são guias indispensáveis para os fiéis,
refletindo, em sua rica diversidade, a pura e única Luz do Espírito Santo.
O Espírito é de
fato o lugar dos santos, e o santo é para o Espírito um lugar próprio, pois se
oferece para habitar com Deus e é chamado seu templo.
Servidores da oração
- A família cristã é o
primeiro lugar da educação para a oração. Fundada sobre o sacramento do
matrimônio, ela é "a Igreja doméstica", onde os filhos de Deus
aprendem a orar "como Igreja" e a perseverar na oração. Para as
crianças, particularmente, a oração familiar cotidiana é o primeiro
testemunho da memória viva da Igreja reavivada pacientemente pelo Espírito
Santo.
- Os ministros
ordenados também são responsáveis pela formação para a oração de
seus irmãos e irmãs em Cristo. Servidores do bom Pastor que são, eles são
ordenados para guiar o povo de Deus às fontes vivas da oração: a Palavra
de Deus, a Liturgia, a vida teologal, o Hoje de Deus nas situações
concretas.
- Muitos religiosos
consagraram toda a vida à oração. Desde o deserto do Egito, eremitas,
monges e monjas consagraram seu tempo ao louvor de Deus e à intercessão
por seu povo. A vida consagrada não se mantém e não se propaga sem a
oração; esta é uma das fontes vivas da contemplação e da vida espiritual
na Igreja.
- A catequese das
crianças, dos jovens e adultos procura fazer com que a Palavra de
Deus seja meditada na oração pessoal, atualizada na oração litúrgica e
interiorizada em todo tempo, a fim de produzir seu fruto numa vida nova. A
catequese é também o momento em que a piedade popular pode ser avaliada e
educada. A memorização das orações fundamentais oferece um apoio indispensável
à vida de oração, mas importa grandemente fazer com que saboreie o sentido
das mesmas.
- Os grupos de oração,
e mesmo as "escolas de oração", são hoje um dos sinais e molas
da renovação da oração na Igreja, contanto que se beba nas fontes autênticas
da oração cristã. O cuidado com a comunhão é sinal da verdadeira oração na
Igreja.
- O Espírito Santo dá a
certos fiéis dons de sabedoria, de fé e de discernimento em vista do bem
comum que é a oração (direção espiritual). Aqueles e aquelas que têm esses
dons são verdadeiros servidores da tradição viva da oração:
Por isso, se a
alma deseja avançar na perfeição, conforme o conselho de S. João da Cruz, deve
"considerar bem em que mãos se entrega, pois, conforme o mestre, assim
será o discípulo; conforme o pai, assim será o filho". E ainda: "O
diretor deve não somente ser sábio e prudente, mas também experimentado... Se o
guia espiritual não tem a experiência da vida espiritual, é incapaz de nela
conduzir as almas que Deus chama, e nem sequer as compreenderá".
Lugares favoráveis à oração
- A Igreja, casa de Deus, é o
lugar próprio para a oração litúrgica da comunidade paroquial. E também o
lugar privilegiado da adoração da presença real de Cristo no Santíssimo
Sacramento. A escolha de um lugar favorável é importante para a verdade da
oração:
- para a oração pessoal, pode ser um
"recanto de oração", com as Sagradas Escrituras e imagens sagradas,
para aí estar "no segredo" diante do Pai. Numa família cristã, essa
espécie de peque no oratório favorece a oração em comum;
- nas regiões onde existem mosteiros, a vocação
dessas comunidades é favorecer a partilha da Oração das Horas com os fiéis e
permitir a solidão necessária a uma oração pessoal mais intensa;
- as peregrinações evocam nossa caminhada pela
terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da
oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas,
lugares excepcionais para viver "como Igreja" as formas da oração
cristã.
RESUMINDO
- Na oração, a Igreja
peregrina é associada à dos santos, cuja intercessão solicita.
- As diferentes
espiritualidades cristãs participam da tradição viva da oração e são guias
preciosos para a vida espiritual.
- A família cristã é o
primeiro lugar da educação à oração.
- Os ministros ordenados,
a vida consagrada, a catequese, os grupos de oração e a "direção
espiritual" garantem na Igreja uma ajuda à oração.
- Os lugares mais
favoráveis à oração são o oratório pessoal ou familiar, os mosteiros, os
santuários de peregrinações e, sobretudo, a igreja, que é lugar próprio da
oração litúrgica para a comunidade paroquial e o lugar privilegiado da
adoração eucarística.
CAPÍTULO III.
A VIDA DE
ORAÇÃO
- A oração é a vida do
coração novo e deve nos animar a cada momento. Nós, porém, esquecemo-nos
daquele que é nossa Vida e nosso Tudo. Por isso os Padres espirituais, na
tradição do Deuteronômio e dos profetas, insistem na oração como
"recordação de Deus", como um despertar freqüente da
"memória do coração": "E preciso se lembrar de Deus com
mais freqüência do que se respira". Mas não se pode orar
"sempre", se não se reza em certos momentos, por decisão
própria: são os tempos fortes da oração cristã, em intensidade e duração.
- A Tradição da Igreja propõe
aos fiéis ritmos de oração destinados a nutrir a oração continua. Alguns
são cotidianos: a oração da manhã e da tarde, antes e depois das
refeições, a Liturgia das Horas. O domingo, centrado na Eucaristia, é
santificado principalmente pela oração. O ciclo do ano litúrgico e suas
grandes festas são os ritmos fundamentais da vida de oração dos cristãos.
- O Senhor conduz cada pessoa
pelos caminhos e na maneira que lhe agradam. Cada fiel responde ao Senhor
segundo a determinação de seu coração e as expressões pessoais de sua
oração. Entretanto, a tradição cristã conservou três expressões principais
da vida de oração: a oração vocal, a meditação, a oração contemplativa.
Uma característica fundamental lhes é comum: o recolhimento do coração.
Esta vigilância em guardar a Palavra e em permanecer na presença de Deus faz
dessas três expressões tempos fortes da vida de oração.
ARTIGO 1
AS EXPRESSÕES
DA ORAÇÃO
I. A oração vocal
- Deus fala ao homem por sua
Palavra. É por palavras, mentais ou vocais, que nossa oração cresce. Mas o
mais importante é a presença do coração naquele a quem falamos na oração.
"Que a nossa oração seja ouvida depende não da quantidade das
palavras, mas do fervor de nossas almas."
- A oração vocal é um dado
indispensável da vida cristã. Aos discípulos, atraídos pela oração
silenciosa do Mestre, este ensina uma oração vocal: o
"Pai-Nosso". Jesus não só rezou as orações litúrgicas da
sinagoga; os Evangelhos O mostram elevando a voz para exprimir sua oração
pessoal, da bênção exultante do Pai até a angústia do Getsêmani.
- Essa necessidade de
associar os sentidos à oração interior responde a uma exigência de nossa
natureza humana. Somos corpo e espírito, e sentimos a necessidade de
traduzir exteriormente nossos sentimentos. É preciso rezar com todo o
nosso ser para dar à nossa súplica todo o poder possível.
- Essa necessidade
corresponde também a uma exigência divina. Deus procura adoradores em
Espírito e Verdade e, por conseguinte, a oração que sobe viva das
profundezas da alma. Ele também quer a expressão exterior que associa o
corpo à oração interior, pois ela Lhe traz esta homenagem perfeita de tudo
aquilo a que Ele tem direito.
- Sendo exterior e tão
plenamente humana, a oração vocal é por excelência a oração das multidões.
Mas também a oração mais interior não pode menosprezar a oração vocal. A
oração se torna interior na medida em que tomamos consciência daquele
"com quem falamos". Então a oração vocal é uma primeira forma da
oração contemplativa.
II. A meditação
- A meditação é sobretudo uma
procura. O espírito procura compreender o porquê e o como da vida cristã,
a fim de aderir e responder ao que o Senhor pede. Para tanto, é
indispensável uma atenção difícil de ser disciplinada. Geralmente,
utiliza-se um livro, e os cristãos dispõem de muitos: as Sagradas
Escrituras, especialmente o Evangelho, as imagens sacras, os textos
litúrgicos do dia ou do tempo, os escritos dos Padres espirituais, as
obras de espiritualidade, o grande livro da criação e o da história, a
página do "Hoje" de Deus.
- Meditando no que lê, o
leitor se apropria do conteúdo lido, confrontando-o consigo mesmo. Neste
particular, outro livro está aberto: o da vida. Passamos dos pensamentos à
realidade. Conduzidos pela humildade e pela fé, descobrimos os movimentos
que agitam o coração e podemos discerni-los. Trata-se de fazer a verdade
para se chegar à luz: "Senhor, que queres que eu faça?"
- Os métodos de meditação são
tão diversos quanto os mestres espirituais. Um cristão deve querer meditar
regularmente. Caso contrario, assemelha-se aos três primeiros terrenos da
parábola do semeador. Mas um método é apenas um guia; o importante é
avançar, com o Espírito Santo, pelo único caminho da oração: Jesus Cristo.
- A meditação mobiliza o
pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Essa mobilização é
necessária para aprofundar as convicções de fé, suscitar a conversão do
coração e fortificar a vontade de seguir a Cristo. A oração cristã procura
meditar de preferência "os mistérios de Cristo", como na
"lectio (leitura) divina" ou no Rosário. Esta forma de reflexão
orante é de grande valor, mas a oração cristã deve procurar ir mais longe:
ao conhecimento de amor do Senhor Jesus, à união com Ele.
III. A oração mental
- O que é a oração mental?
Sta. Teresa responde: "A oração mental, a meu ver, é apenas um
relacionamento íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com
esse Deus por quem nos sabemos amados".
A oração mental busca "aquele que meu
coração ama". É Jesus e, nele, o Pai. Ele é procurado porque desejá-lo é
sempre o começo do amor, e é procurado na fé pura, esta fé que nos faz nascer
dele e viver nele. Na oração, podemos ainda meditar; contudo, o olhar se fixa
no Senhor.
- A escolha do tempo e da
duração da oração mental depende de uma vontade determinada, reveladora
dos segredos do coração. Não fazemos oração quando temos tempo: reservamos
um tempo para sermos do Senhor, com a firme determinação de, durante o
caminho, não o tomarmos de volta enquanto caminhamos, quaisquer que sejam
as provações e a aridez do encontro. Nem sempre se pode meditar, mas
sempre se pode estar em oração, independentemente das condições de saúde,
trabalho ou afetividade. O coração é o lugar da busca e do encontro, na
pobreza e na fé.
- Entrar em oração é algo
análogo ao que ocorre na Liturgia Eucarística: reunir" o coração,
recolher todo o nosso ser sob a moção do Espírito Santo, habitar na morada
do Senhor (e esta morada somos nós), despertar a fé, para entrar na
Presença daquele que nos espera, fazer cair nossas máscaras e voltar nosso
coração para o Senhor que nos ama, a fim de nos 0 entregar a Ele como uma
oferenda que precisa ser purificada e transformada.
- A oração é a prece do filho
de Deus, do pecador perdoado que consente em acolher o amor com que é
amado e que quer responder-lhe amando mais ainda. Esse pecador perdoado
sabe, porém, que o amor com que responde é precisamente o que o Espírito
derrama em seu coração, pois tudo é graça da parte de Deus. A oração é a
entrega humilde e pobre à vontade amorosa do Pai, em união cada vez mais
profunda com seu Filho bem-amado.
- Dessa forma, a oração
mental é a expressão mais simples do mistério da prece. A oração é um dom,
uma graça; não pode ser acolhida senão na humildade e na pobreza. A oração
é uma relação de aliança estabelecida por Deus no fundo de nosso ser. A
oração é comunhão: a Santíssima Trindade, nesta relação, conforma o homem,
imagem de Deus, "a sua semelhança".
- A oração mental é também um
tempo forte por excelência da prece. Na oração, o Pai nos "arma de
poder por seu Espírito, para que se fortifique em nós o homem interior,
para que Cristo habite em nossos corações pela fé e sejamos arraigados e
fundados no amor".
- A contemplação é olhar de
fé fito em Jesus. "Eu olho para Ele e Ele olha para mim", dizia,
no tempo de seu santo pároco, o camponês de Ars em oração diante do
Tabernáculo. Essa atenção a Ele é renúncia ao "eu". Seu olhar
purifica o coração; A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos de nosso
coração; ensina-nos a ver tudo na luz de sua verdade e de sua compaixão
por todos os homens. A contemplação considera também os mistérios da vida
de Cristo, proporcionando-nos "o conhecimento íntimo do Senhor",
para mais O amar e seguir.
- A oração mental é escuta da
Palavra de Deus. Longe de ser passiva, essa escuta é a obediência da fé,
acolhida incondicional do servo e adesão amorosa do filho. Participa do
"sim" do Filho que se tornou Servo e do "Fiat" de sua
humilde serva.
- A oração mental é silêncio,
este "símbolo do mundo que vem ou "amor silencioso. As palavras
na oração não são discursos, mas gravetos que alimentam o fogo do amor. É
neste silêncio, insuportável ao homem "exterior", que o Pai nos
diz seu Verbo encarnado, sofredor, morto e ressuscitado e que o Espírito
filial nos faz participar na oração de Jesus.
- A oração mental é união â
prece de Cristo na medida em nos faz participar de seu Mistério. O Mistério
de Cristo é celebrado pela Igreja na Eucaristia, e o Espírito o faz viver
na oração para que esse Mistério seja manifestado pela caridade em ato.
- A oração mental é uma
comunhão de amor portadora de Vida para a multidão, na medida em que ela é
consentimento a habitar na noite da fé. A Noite pascal da Ressurreição
passa pela da agonia e do túmulo. São esses três tempos fortes da Hora de
Jesus que, seu Espírito (e não a "carne, que é fraca") faz viver
na oração. E preciso consentir em "vigiar uma hora com ele".
RESUMINDO
- A Igreja convida os
fiéis a uma oração regular: orações diárias, Liturgia das Horas,
Eucaristia dominical, festas do ano litúrgico.
- A tradição cristã
compreende três expressões maiores da vida de oração: a oração vocal, a
meditação e a oração mental. Estas têm em comum o recolhimento do coração.
- A oração vocal, fundada
na união do corpo e do espírito na natureza humana, associa o corpo á
oração interior do coração, a exemplo de Cristo, que reza a seu Pai e
ensina o "Pai-Nosso" a seus discípulos.
- A meditação é uma busca
orante que põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção, o desejo. Tem
por finalidade a apropriação crente do assunto meditado, confrontado com a
realidade de nossa vida.
- A oração mental é a
expressão simples do mistério da oração. E um olhar de fé fito em Jesus,
uma escuta da Palavra de Deus, um silencioso amor. Realiza a união
à oração de Cristo na medida em que nos faz participar de seu Mistério.
ARTIGO 2
O COMBATE DA
ORAÇÃO
- A oração é um dom da graça
e uma resposta decidida de nossa parte. Supõe sempre um esforço. Os
grandes orantes da Antiga Aliança antes de Cristo, como também a Mãe de
Deus e os santos com Ele, nos ensinam: a oração é um combate. Contra quem?
Contra nós mesmos e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para
desviar o homem da oração, da união com seu Deus. Reza-se como se vive,
porque se vive como se reza. Se não quisermos habitualmente agir segundo o
Espírito de Cristo, também não poderemos habitualmente rezar em seu Nome.
O "combate espiritual" da vida nova do cristão é inseparável do
combate da oração.
I. As objeções à oração
- No combate da oração,
devemos enfrentar, em nós mesmos e à nossa volta, concepções errôneas da
oração. Algumas vêem nela uma simples operação psicológica; outras, um
esforço de concentração para se chegar ao vazio mental. Algumas a
codificam em atitudes e palavras rituais. No inconsciente de muitos
cristãos, rezar é uma ocupação incompatível com tudo o que eles devem
fazer: não têm tempo. Os que procuram a Deus pela oração desanimam
depressa, porque ignoram que a oração também procede do Espírito Santo e
não apenas deles.
- Devemos também enfrentar
mentalidades "deste mundo" que nos contaminam se não formos
vigilantes, por exemplo: a afirmação de que o verdadeiro seria apenas o
que é verificado pela razão e pela ciência (rezar, pelo contrário, é um
mistério que ultrapassa nossa consciência e nosso inconsciente); os
valores de produção e rendimento (a oração, sendo improdutiva, é inútil);
o sensualismo e o bem-estar material, considerados como critério da
verdade, do bem e da beleza (a oração, porém, "amor da Beleza"
[filocalia, é enamorada da glória do Deus vivo e verdadeiro); em reação
contra o ativismo, a oração é apresentada como fuga do mundo (a oração cristã,
no entanto, não é um sair da história nem está divorciada da vida).
- Enfim, nosso combate deve
enfrentar aquilo que sentimos como nossos fracassos na oração: desânimo
diante de nossa aridez, tristeza por não ter dado tudo ao Senhor, por ter
''muitos bens", decepção por não ser atendidos segundo nossa vontade
própria, insulto ao nosso orgulho (o qual não aceita nossa indignidade de
pecadores), alergia à gratuidade da oração etc. A conclusão é sempre a
mesma: para que rezar? Para superar esses obstáculos é preciso lutar para
ter a humildade, a confiança, a perseverança.
II. A humilde vigilância do coração
DIANTE DAS DIFICULDADES DA ORAÇÃO
- A dificuldade comum de
nossa oração é a distração. Esta pode referir-se às palavras e ao seu
sentido, na oração vocal. Pode, porém, referir-se mais profundamente
àquele a quem oramos, na oração vocal (1itúrgica ou pessoal), na meditação
e na oração mental. Perseguir obsessivamente as distrações seria cair em
suas armadilhas, já que e suficiente o voltar ao nosso coração: uma distração
nos revela aquilo a que estamos amarrados, e essa tomada de consciência
humilde diante do Senhor deve despertar nosso amor preferencial por Ele,
oferecendo-lhe resolutamente nosso coração, para que Ele o purifique. Aí
se situa o combate: a escolha do Senhor a quem servir.
- Positivamente, o combate
contra nosso "eu" possessivo e dominador é a vigilância, a
sobriedade do coração. Quando Jesus insiste na vigilância, ela está sempre
relacionada com Ele, com sua vinda, com o último dia e com cada dia:
"hoje". O Esposo vem no meio da noite; a luz que não deve ser
extinta é a da fé: "Meu coração diz a teu respeito: 'Procurai a sua
face"' (Sl 27,8).
- Outra dificuldade,
especialmente para aqueles que querem sinceramente orar, é a aridez. Esta
acontece na oração, quando o coração está desanimado, sem gosto com
relação aos pensamentos, às lembranças e aos sentimentos, mesmo
espirituais. E o momento da fé pura que se mantém fielmente com Jesus na
agonia e no túmulo. "Se o grão de trigo que cai na terra morrer, produzirá
muito fruto" (Jo 12,24). Se a aridez é causada pela falta de raiz,
porque a Palavra caiu sobre as pedras, o combate deve ir na linha da
conversão.
DIANTE DAS TENTAÇÕES NA ORAÇÃO
- A tentação mais comum, mais
oculta, é nossa falta de fé, que se exprime não tanto por uma
incredulidade declarada quanto por uma opção de fato. Quando começamos a
orar, mil trabalhos ou cuidados, julgados urgentes, apresentam-se como
prioritários; de novo, é o momento da verdade do coração e de seu amor
preferencial. Com efeito, voltamo-nos para o Senhor como o último recurso:
mas de fato acreditamos nisso? As vezes tomamos o Senhor como aliado, mas
o coração ainda está na presunção. Em todos os casos, nossa falta de fé
revela que não estamos ainda na disposição do coração humilde: "Sem
mim, nada podeis fazer" (Jo 15,5).
- Outra tentação, cuja porta
é aberta pela presunção, é a acídia (chamada também "preguiça").
Os Padres espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão
devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência
do coração. "O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt
26,). Quanto mais alto se sobe, tanto maior a queda. O desânimo doloroso é
o inverso da presunção. Quem é humilde não se surpreende com sua miséria
Passa então a ter mais confiança, a perseverar na constância.
III. A confiança filial
- A confiança filial é
experimentada - e se prova - na tribulação. A dificuldade principal se
refere à oração de súplica por si ou pelos outros, na intercessão. Alguns
deixam até de orar porque, pensam eles, seu pedido não é ouvido. Aqui
surgem duas questões: por que pensamos que nosso pedido não foi ouvido? De
que maneira é atendida, ou é "eficaz", nossa oração?
POR QUE NOS LAMENTAR POR NÃO SERMOS
ATENDIDOS?
- Um fato deveria provocar
admiração em nós. Quando louvamos a Deus ou lhe damos graças pelos
benefícios em geral, pouco nos preocupamos em saber se nossa oração lhe é
agradável. Em compensação, temos a pretensão de ver o resultado de nosso
pedido. Qual é, pois, a imagem de Deus que nos motiva à oração? Um meio a
utilizar ou o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo?
- Estamos acaso convencidos
de que "nem sabemos o que convém pedir" (Rm 8,26)? Pedimos a
Deus "os bens convenientes"? Nosso Pai sabe do que precisamos,
antes de lho pedirmos, mas espera nosso pedido porque a dignidade de seus
filhos está precisamente em sua liberdade. Mas é preciso rezar com seu
Espírito de liberdade para poder conhecer na verdade o seu desejo.
- "Não possuís porque
não pedis. Pedis, mas não recebeis, porque pedis mal, com o fim de
gastardes nos vossos prazeres" (Tg 4,2-3). Se pedimos com um coração
dividido, "adúltero" Deus não nos pode ouvir, porque deseja
nosso bem, nossa vida. "Ou julgais que é em vão que a Escritura diz:
Ele reclama com ciúme o espírito que pôs dentro de nós (Tg 4,5)?"
Nosso Deus é "ciumento" de nós, o que é o sinal da verdade de
seu amor. Entremos no desejo de seu Espírito e seremos ouvidos:
Não te aflijas se
não recebes imediatamente de Deus o que lhe pedes: pois Ele quer fazer-te um
bem ainda maior por tua perseverança em permanecer com Ele na oração. Ele quer
que nosso desejo seja provado na oração. Assim Ele nos prepara para receber
aquilo que Ele está pronto a nos dar.
DE QUE MANEIRA É EFICAZ NOSSA ORAÇÃO?
- A revelação da oração na
economia da salvação nos ensina que a fé se apóia na ação de Deus na
história. A confiança filial é suscitada por sua ação por excelência: a
Paixão e a Ressurreição de seu Filho. A oração cristã é cooperação com sua
Providência, com seu plano de amor para os homens.
- Em S. Paulo, esta confiança
é audaciosa, fundada na oração do Espírito em nós e no amor fiel do Pai,
que nos deu seu Filho único. A transformação do coração que reza é a
primeira resposta a nosso pedido.
- A oração de Jesus faz da
oração cristã uma súplica eficaz. É Ele o seu modelo. Jesus reza em nos e
conosco. Já que o coração do Filho não busca senão o que agrada ao Pai,
como haveria (o coração dos filhos adotivos) de apegar-se mais aos dons do
que ao Doador?
- Jesus também reza por nós,
em nosso lugar e em nosso favor. Todos os nossos pedidos foram recolhidos
uma vez por todas em seu Grito na Cruz e ouvidos pelo Pai em sua
Ressurreição, e por isso Ele não deixa de interceder por nós junto do Pai.
Se nossa oração está resolutamente unida à de Jesus, na confiança e na
audácia filial, obteremos tudo o que pedimos em seu nome; bem mais do que
pequenos favores, receberemos o próprio Espírito Santo, que possui todos
os dons.
IV. Perseverar no amor
- "Orai sem cessar"
(1 Ts 5,17), "sempre e por tudo dando graças a Deus Pai, em nome de
nosso Senhor, Jesus Cristo" (Ef 5,20), "com orações e súplicas
de toda sorte, orai em todo tempo, no Espírito e, para isso, vigiai com
toda perseverança e súplica por todos os santos" (Ef 6,18). "Não
nos foi prescrito que trabalhemos, vigiemos e jejuemos constantemente,
enquanto, para nós, é lei rezar sem cessar." Esse ardor incansável só
pode provir do amor. Contra nossa pesada lentidão e preguiça, o combate da
oração é o do amor humilde, confiante e perseverante. Esse amor abre nossos
corações para três evidências de fé, luminosas e vivificantes:
- Orar é sempre possível: o
tempo do cristão é o de Cristo ressuscitado que "esta conosco todos
os dias" (Mt 28,20), apesar de todas as tempestades. Nosso tempo está
nas mãos de Deus:
É possível até no
mercado ou num passeio solitário fazer uma oração freqüente e fervorosa.
Sentados em vossa loja, comprando ou vendendo, ou mesmo cozinhando.
- Orar é uma necessidade
vital. A prova contrária não é menos convincente: se não nos deixarmos
levar pelo Espírito, cairemos de novo na escravidão do pecado. Como o
Espírito Santo pode ser "nossa Vida", se nosso coração está
longe dele?
Nada se compara em
valor à oração; ela toma possível o que é impossível, fácil o que é difícil. E
impossível que caia em pecado o homem que reza.
Quem reza
certamente se salva; quem não reza certamente se condena.
- Oração e vida cristãs são
inseparáveis, pois se trata do mesmo amor e da mesma renúncia que procede
do amor. Trata-se da mesma conformidade filial e amorosa ao plano de amor
do Pai; da mesma união transformadora no Espírito Santo, a qual nos
conforma sempre mais a Cristo Jesus; trata-se do mesmo amor por todos os
homens, aquele amor com que Jesus nos amou. "Tudo o que pedirdes a
meu Pai em meu nome Ele vos dará. Isto vos mando: amai-vos uns aos
outros" (Jo 15,16-17).
Ora sem cessar
aquele que une a oração às obras e as obras à oração. Somente dessa forma
podemos considerar como realizável o principio de orar sem cessar.
V. A oração da Hora de Jesus
- Quando chega sua Hora,
Jesus ora ao Pai. Sua oração, a mais longa transmitida pelo Evangelho,
abarca toda a economia da criação e da salvação, como sua Morte e
Ressurreição. A oração da Hora de Jesus é sempre a sua, assim como sua
Páscoa, acontecida "uma vez por todas", estará sempre presente
na Liturgia de sua Igreja.
- A tradição cristã a chama
com toda propriedade a oração "sacerdotal" de Jesus. E a oração
de nosso Sumo Sacerdote, inseparável de seu Sacrifício, de sua
"passagem" [páscoa] para o Pai, onde Ele é
"consagrado" inteiramente ao Pai.
- Nessa oração pascal,
sacrifical, tudo é "recapitulado" nele: Deus e o mundo, o Verbo
e a carne, a vida eterna e o tempo, o amor que se entrega e o pecado que o
trai, os discípulos presentes e aqueles que crerão nele por meio da
palavra deles, a humilhação e a glória. E a oração da Unidade.
- Jesus realizou toda a obra
do Pai, e sua oração, como seu Sacrifício, se estende até a consumação dos
tempos. A oração da Hora enche os últimos tempos e os leva até sua
consumação. Jesus, o Filho a quem o Pai deu tudo, está todo entregue ao
Pai e, ao mesmo tempo, se exprime com uma liberdade soberana, em virtude
do poder que o Pai lhe deu sobre toda carne. O Filho, que se tomou Servo,
é o Senhor, o Pantocrátor (o Todo-Poderoso). Nosso Sumo Sacerdote, que por
nós reza é também aquele que ora em nós e o Deus que nos ouve.
- E entrando no santo nome do
Senhor Jesus que podemos acolher, interiormente, a oração que Ele nos
ensina: "Pai nosso!" Sua oração sacerdotal inspira os grandes
pedidos do Pai-Nosso: a solicitude pelo nome do Pai, a paixão por seu
Reino (a glória), o cumprimento da vontade do Pai, de seu plano de
salvação, e a libertação do mal.
- Por fim, é nesta oração que
Jesus nos revela e nos dá o "conhecimento" indissociável do Pai
e do Filho, que é o próprio mistério da Vida de oração.
RESUMINDO.
- A oração supõe um esforço e
uma luta contra nós mesmos e contra os embustes do Tentador. O combate da
oração é inseparável do "combate espiritual" necessário para
agir habitualmente segundo o Espírito de Cristo: reza-se como se vive,
porque se vive como se reza.
- No combate da oração
devemos enfrentar concepções errôneas, diversas correntes de mentalidade,
a experiência de nossos fracassos. A essas tentações que lançam dúvida
sobre a utilidade ou a própria possibilidade da oração convém responder
pela humildade, confiança e perseverança.
- As dificuldades principais
no exercício da oração são a distração e a aridez. O remédio está na fé,
na conversão e na vigilância do coração.
- Duas tentações freqüentes
ameaçam a oração: a falta de fé e a acídia, que é uma forma de depressão
devida ao relaxamento da ascese, que leva ao desânimo.
- A confiança filial é posta
â prova quando temos o sentimento de não ser sempre ouvidos. O Evangelho
nos convida a nos interrogar sobre a conformidade de nossa oração com o
desejo do Espírito.
- "Orai sem cessar"
(1 Ts 5,17). Rezar sempre é possível. É mesmo uma necessidade vital.
Oração e vida cristã são inseparáveis.
- A oração da Hora de Jesus,
chamada com propriedade "oração sacerdotal, recapitula toda a
Economia da criação e da salvação e inspira os grandes pedidos do
"Pai-Nosso".
SEGUNDA SEÇÃO
A ORAÇÃO DO
SENHOR: "PAI NOSSO!"
- "Um dia, em certo
lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe:
'Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos"' (Lc
11,1). E em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e
à sua Igreja a oração cristã fundamental. S. Lucas traz um texto breve (de
cinco pedidos); S. Mateus, uma versão mais desenvolvi da (de sete
pedidos). A tradição litúrgica da Igreja conservou o texto de S. Mateus:
Pai nosso que estais nos céus,
santificado seja o vosso nome;
venha a nós o vosso reino;
seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu;
pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido;
e não nos deixeis cair em tentação.
mas livrai-nos do mal.
- Bem cedo, o uso litúrgico
concluiu a Oração do Senhor com uma doxologia. Na Didaché (8,2):
"Pois vosso é o poder e a glória para sempre". As Constituições
Apostólicas (7,24,1) acrescentam no começo: "o reino", e é esta
a fórmula conservada hoje na oração ecumênica. A tradição bizantina, logo
em seguida à "glória", acrescenta "Pai, Filho e Espírito
Santo". O missal romano desdobra o último pedido na perspectiva
explícita da expectativa da "bem-aventurada esperança" e da
Vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor vindo em seguida a aclamação da
assembléia, que retoma a doxologia das Constituições Apostólicas.
ARTIGO 1
"O RESUMO
DE TODO O EVANGELHO"
- "A Oração dominical é
realmente o resumo de todo o Evangelho." "Depois de nos ter
legado esta fórmula de oração, o Senhor acrescentou: 'Pedi e vos será
dado' (Jo 16,24). Cada qual pode, portanto, dirigir ao céu diversas
orações conforme as suas necessidades, mas começando sempre pela Oração do
Senhor, que permanece a oração fundamental."
1. No centro das Escrituras
- Depois de mostrar como os
Salmos são o alimento principal da oração cristã e convergem nos pedidos
do Pai-Nosso, Sto. Agostinho conclui:
Percorrei todas as
orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar
nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor.
- Todas as Escrituras (a Lei,
os Profetas e os Salmos) se realizam em Cristo. O Evangelho é esta
"Boa nova". Seu primeiro anúncio é resumido por S. Mateus no
Sermão da Montanha. Ora,, a oração ao Nosso Pai encontra-se no centro
deste anúncio. E este contexto que ilumina cada pedido da oração que o
Senhor nos deixou:
A Oração dominical
é a mais perfeita das orações... Nela, não só pedimos tudo quanto podemos
desejar corretamente, mas ainda segundo a ordem em que convém desejá-lo. De
modo que esta oração não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os
nossos afetos.
- O Sermão da Montanha é
doutrina de vida, a Oração do Senhor é oração, mas em ambos o Espírito do
Senhor dá forma nova aos nossos desejos, isto é, a estas moções interiores
que animam nossa vida. Jesus nos ensina esta vida nova por suas palavras e
nos ensina a pedi-la pela oração. Da retidão de nossa oração dependerá a
retidão de nossa vida em Cristo.
II- "A Oração do Senhor"
- A tradicional expressão
"Oração dominical" [ou seja, "Oração do Senhor"]
significa que a oração ao nosso Pai nos foi ensinada e dada pelo Senhor
Jesus. Esta oração que nos vem de Jesus é realmente única: ela é "do
Senhor". Com efeito, por um lado, mediante as palavras desta oração,
o Filho único nos dá as palavras que o Pai lhe deu; Ele é o Mestre de
nossa oração. Por outro lado, como Verbo encarnado, Ele conhece em seu
coração de homem as necessidades de seus irmãos e irmãs humanos e no-las
revela; é o Modelo de nossa oração.
- Jesus, no entanto, não nos
deixa uma fórmula a ser repetida maquinalmente. Como vale em relação a
toda oração vocal, é pela Palavra de Deus que o Espírito Santo ensina aos
filhos de Deus como rezar a seu Pai. Jesus nos dá não só as palavras de
nossa oração filial, mas também, ao mesmo tempo, o Espírito pelo qual elas
se tornam em nós "espírito e vida" (Jo 6,). Mais ainda: a prova
e a possibilidade de nossa oração filial consiste no fato de que o Pai
"enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abba,
Pai!" ( 4,6). Já que nossa oração interpreta nossos desejos diante de
Deus, é ainda "aquele que perscruta os corações", o Pai, quem
"sabe qual é o desejo do Espírito; pois é segundo Deus que ele
intercede pelos santos" (Rm 8,27). A oração a Nosso Pai insere-se na
missão misteriosa de Filho e do Espírito.
III. A oração da Igreja
- A Igreja recebeu e viveu
desde as origens este dom indissociável das palavras do Senhor e do
Espírito Santo, que a elas dá vida no coração dos crentes. As primeiras
comunidades rezam a Oração do Senhor "três vezes ao dia", em
lugar das "Dezoito bênçãos" em uso na piedade judaica.
- Segundo a Tradição
apostólica, a Oração do Senhor está essencialmente arraigada na oração
litúrgica.
O Senhor nos
ensina a rezar nossas orações em comum por todos os nossos irmãos. Pois não diz
"meu Pai" que estás nos céus, mas "nosso" Pai, a fim de que
nossa oração seja, com um só coração e uma só alma, por todo o Corpo da Igreja.
Em todas as tradições litúrgicas, a Oração do
Senhor é parte integrante das grandes horas do Ofício Divino. Mas é sobretudo
nos três sacramentos da iniciação cristã que seu caráter eclesial aparece
claramente.
- No Batismo e na
Confirmação, a entrega ["traditio"] da Oração do Senhor
significa o novo nascimento para a vida divina. Já que a oração cristã
consiste em falar a Deus com a própria Palavra de Deus, os que são
"regenerados mediante a Palavra do Deus vivo" (l Pd 1,23)
aprendem a invocar seu Pai mediante a única Palavra que ele sempre atende.
E já podem invocá-lo desde agora, pois o Selo da Unção do Espírito Santo
foi-lhes gravado, indelevelmente, sobre o coração, os ouvidos, os lábios,
sobre todo o seu ser filial. É por isso que a maioria dos comentários
patrísticos do Pai-Nosso são dirigidos aos catecúmenos e aos neófitos.
Quando a Igreja reza a Oração do Senhor, é sempre o povo dos
"renascidos" que reza e obtém misericórdia.
- Na Liturgia Eucarística, a
Oração do Senhor aparece como a oração de toda a Igreja. Nela revela-se
seu sentido pleno e sua eficácia. Situada entre a Anáfora (Oração
eucarística) e a Liturgia da comunhão, ela recapitula por um lado todos os
pedidos e intercessões expressos no movimento da Epiclese e, por outro,
bate à porta do Festim do Reino que a Comunhão sacramental vai antecipar.
- Na Eucaristia, a Oração do
Senhor manifesta também o caráter escatológico de seus pedidos. E a oração
própria dos "últimos tempos", dos tempos da salvação que
começaram com a efusão do Espírito Santo e que terminarão com a Volta do
Senhor. Os pedidos ao nosso Pai, ao contrário das orações da Antiga
Aliança, apoiam-se sobre o mistério da salvação já realizada, uma vez por
todas, em Cristo crucificado e ressuscitado.
- Desta fé inabalável brota a
esperança que anima cada um dos sete pedidos. Estes exprimem os gemidos do
tempo presente, este tempo de paciência e de espera durante o qual
"ainda não se manifestou o que nós seremos" (1 Jo 3,2). A
Eucaristia e o Pai-Nosso apontam para a vinda do Senhor, "até que Ele
venha" (1 Cor 11,26).
RESUMINDO
- Atendendo ao pedido de seus
discípulos ("Senhor, ensina-nos a orar": Lc 11,1), Jesus lhes
confia a oração cristã fundamental do Pai-Nosso.
- "A Oração dominical é
realmente o resumo de todo o Evangelho", "a mais perfeita das
orações" Está no centro das Escrituras.
- É chamada "Oração
dominical" porque nos vem do Senhor; Jesus, Mestre e Modelo de nossa
oração.
- A Oração dominical é a
oração da Igreja por excelência. É parte integrante das grandes Horas do
Oficio Divino e dos sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação
e Eucaristia. Integrada na Eucaristia, ela manifesta o caráter
"escatológico" de seus pedidos, na esperança do Senhor,
"até que Ele venha" (1 Cor 11,26):
ARTIGO 2
"PAI NOSSO
QUE ESTAIS NO CÉU"
I. "Ousar aproximar-nos com toda a
confiança"
- Na liturgia romana, a
assembléia eucarística é convidada a rezar o Pai-Nosso com ousadia filial;
as liturgias orientais utilizam e desenvolvem expressões análogas:
"Ousar com toda a segurança", "torna-nos dignos de".
Diante da sarça ardente, foi dito a Moisés: "Não te aproximes daqui;
tira as sandálias" (Ex 3,5). Este limiar da Santidade divina só Jesus
podia transpor, Ele que, "depois de ter realizado a purificação dos
pecados" (Hb 1,3), nos introduz diante da Face do Pai: "Eis-me
aqui com os filhos que Deus me deu" (Hb 2,13).
A consciência que
temos de nossa situação de escravos nos faria desaparecer debaixo da terra,
nossa condição terrestre se reduziria a pó, se a autoridade de nosso Pai e o
Espírito de seu Filho não nos levassem a clamar: "Abba, Pai!" (Rm
8,15)... Quando ousaria a fraqueza de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão
apenas quando o íntimo do homem é animado pela Força do a1to?
- Esta força do Espírito que
nos introduz na Oração do Senhor traduz-se nas liturgias do Oriente e do
Ocidente pela bela expressão tipicamente cristã: "parrhesia",
simplicidade sem rodeios, confiança filial, jovial segurança, audácia
humilde, certeza de ser amado.
II. "Pai!"
- Antes de fazer nossa esta
primeira invocação da Oração do Senhor, convém purificar humildemente
nosso coração de certas imagens falsas a respeito "deste mundo".
A humildade nos faz reconhecer que "ninguém conhece o Pai senão o
Filho ele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11 ,27), isto e, aos
pequeninos" (Mt 11,25). A purificação do coração diz respeito às
imagens paternas ou maternas oriundas de nossa história pessoal e cultural
e que influenciam nossa relação com Deus. Deus nosso Pai transcende as
categorias do mundo criado. Transpor para Ele, ou contra Ele, nossas
idéias neste campo seria fabricar ídolos, para adorar ou para demolir.
Orar ao Pai é entrar em seu mistério, tal qual Ele é, e tal como o Filho
no-lo revelou:
A expressão "Deus
Pai" nunca fora revelada a ninguém. Quando o próprio Moisés perguntou a
Deus quem Ele era, ouviu outro nome. A nós este nome foi revelado no Filho,
pois este nome novo implica o nome novo de Pai.
- Podemos invocar a Deus como
"Pai", porque Ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e
porque seu Espírito no-lo faz conhecer. Aquilo que o homem não pode
conceber nem as potências angélicas podem entrever, isto é, a relação
pessoal do Filho com o Pai, eis que o Espírito do Filho nos faz participar
nela (nessa relação pessoal), nós, que cremos que Jesus é o Cristo e
(cremos) que somos nascidos de Deus.
- Quando rezamos ao Pai,
estamos em comunhão com Ele e com seu Filho, Jesus Cristo. E então que o
conhecemos e o reconhecemos num maravilhamento sempre novo. A primeira
palavra da Oração do Senhor é uma bênção de adoração, antes de ser uma
súplica. Pois a Glória de Deus é que nós o reconheçamos como
"Pai", Deus verdadeiro. Rendemo-lhe graças por nos ter revelado
seu Nome, por nos ter concedido crer nele e por sermos habitados por sua
Presença.
- Podemos adorar o Pai porque
Ele nos fez renascer para sua Vida, adotando-nos como filhos em seu Filho
único: pelo Batismo, Ele nos incorpora no Corpo de seu Cristo e, pela
Unção de seu Espírito, que se derrama da Cabeça para os membros, faz de
nós "cristos" (isto é, "ungidos").
Deus, que nos
predestinou à adoção de filhos, tomou-nos conformes ao Corpo glorioso de
Cristo. Doravante, portanto, como participantes do Cristo, vós sois com justa
razão chamados "cristos".
O homem novo,
renascido e restituído a seu Deus pela graça, diz, antes de mais nada,
"Pai!", porque se tornou filho.
- Assim, portanto, pela
Oração do Senhor, somos revelados a nós mesmos ao mesmo tempo que o Pai
nos é revelado:
Ó homem, não
ousavas levantar teu rosto ao céu, baixavas os olhos para a terra, e de repente
recebeste a graça de Cristo: todos os teus pecados te foram perdoados. De servo
mau te tomaste um bom filho... Levanta, pois, os olhos para o Pai que te
resgatou por seu Filho e dize: Pai nosso... Mas não exijas nenhum privilégio.
Somente de Cristo Ele é Pai, de modo especial; para nós é Pai em comum, porque
gerou somente a Ele; a nós, ao invés, Ele nos criou. Dize, portanto, também tu,
pela graça: Pai Nosso, a fim de mereceres ser seu filho.
- Este dom gratuito da adoção
exige de nossa parte uma conversão contínua e uma vida nova. Rezar a nosso
Pai deve desenvolver em nós, duas disposições fundamentais:
O desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele.
Criados à sua imagem, é por graça que a semelhança nos é dada e a ela devemos
responder.
Quando chamamos a
Deus de "nosso Pai", precisamos lembrar-nos de que devemos
comportar-nos como filhos de Deus.
Não podeis chamar
de vosso Pai ao Deus de toda bondade, se conservais um coração cruel e
desumano; pois nesse caso já não tendes mais em vós a marca da bondade do Pai
celeste.
É preciso
contemplar sem cessar a beleza do Pai e com ela impregnar nossa alma.
- Um coração humilde e
confiante que nos faz "retornar à condição de crianças" (Mt
18,3), porque e aos pequeninos que o Pai se revela (Mt 11,25):
É um olhar sobre
Deus tão-somente, um grande fogo de amor.
A alma nele se
dissolve e se abisma na santa dileção, e se entretém com Deus como com seu
próprio Pai, bem familiarmente, com ternura de piedade toda particular.
Nosso Pai: este
nome suscita em nós, ao mesmo tempo, o amor, a afeição na oração, (...) e
também a esperança de alcançar o que vamos pedir... Com efeito, o que poderia
Ele recusar ao pedido de seus olhos, quando já antes lhes permitiu ser seus
filhos.
III. Pai "Nosso"
- Pai "Nosso"
refere-se a Deus. De nossa parte, este adjetivo não exprime uma posse, mas
uma relação inteiramente nova com Deus.
- Quando dizemos Pai
"nosso", reconhecemos primeiramente que todas as suas promessas
de amor anunciadas pelos profetas se cumprem na nova e eterna Aliança em
Cristo: nós nos tornamos seu Povo e Ele é, doravante, "nosso"
Deus. Esta relação nova é uma pertença mútua dada gratuitamente: é pelo
amor e pela fidelidade que devemos responder "à graça e à verdade"
que nos são dadas em Jesus Cristo.
- Como a Oração do Senhor é a
de seu Povo nos "últimos tempos", este "nosso" exprime
também a certeza de nossa esperança na última promessa de Deus; na
Jerusalém nova, dirá Ele ao vencedor: "Eu serei seu Deus e ele será
meu filho" (Ap 21,7).
- Rezando ao
"nosso" Pai, é ao Pai 4e Nosso Senhor Jesus Cristo que nos
dirigimos pessoalmente. Não dividimos a divindade, porque o Pai é dela
"a fonte e a origem", mas confessamos, com isso, que eternamente
o Filho é gerado por Ele e que dele procede o Espírito Santo. Tampouco
confundimos as Pessoas, porque confessamos que nossa comunhão é com o Pai
e seu Filho, Jesus Cristo, em seu único Espírito Santo. A Santíssima
Trindade é consubstancial e indivisível. Quando rezamos ao Pai, nós o
adoramos e o glorificamos com o Filho e o Espírito Santo.
- Gramaticalmente, nosso
qualifica uma realidade comum a vários. Não há senão um só Deus, e Ele é
reconhecido como Pai pelos que, mediante a fé em seu Filho único,
renasceram dele pela água e pelo Espírito. A Igreja é esta nova comunhão
entre Deus e os homens; unida ao Filho único tornado "o primogênito
entre muitos irmãos" (Rm 8,29), ela está em comunhão com um só e
mesmo Pai, em um só e mesmo Espírito Santo. Rezando ao "nos Pai, cada
batizado reza nesta Comunhão: "A multidão dos que haviam crido era um
só coração e uma só alma" (At 4,32).
- Por isso, apesar das
divisões dos cristãos, a oração ao "nosso" Pai continua sendo o
bem comum e um apelo urgente para todos os batizados. Em comunhão mediante
a fé em Cristo e mediante o Batismo, devem eles participar na oração de
Jesus para a unidade de seus discípulos
- Enfim, se rezamos
verdadeiramente ao "Nosso Pai", saímos do individualismo, pois o
Amor que acolhemos nos liberta (do individualismo). O "nosso" do
início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos
pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas
divisões e oposições devem ser superadas.
- Os batizados não podem
rezar ao Pai "nosso" sem levar para junto dele todos aqueles por
quem Ele entregou seu Filho bem-amado. O amor de Deus é sem fronteiras;
nossa oração também deve sê-lo. Rezar ao "nosso" Pai abre-nos
para as dimensões de Seu amor manifestado no Cristo: rezar com e por todos
os homens que ainda não O conhecem, a fim de que sejam "congregados
na unidade". Esta solicitude divina por todos os homens e por toda a
criação animou todos os grandes orantes e deve dilatar nossa oração em
amplidão de amor quando ousamos dizer Pai "nosso".
IV. "Que estais no céu"
- Esta expressão bíblica não
significa um lugar ["o espaço], mas uma maneira de ser; não o
afastamento de Deus, mas sua majestade. Nosso Pai não está "em outro
lugar", Ele está "para além de tudo" quanto possamos
conceber a respeito de sua Santidade. Porque Ele é três vezes Santo, está
bem próximo do coração humilde e contrito:
É com razão que
estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos
justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza
desejará ver morar em si aquele que ele invoca.
Os "céus" poderiam muito bem ser também
aqueles que trazem a imagem do mundo celeste, nos quais Deus habita e passeia.
- O símbolo dos céus nos
remete ao mistério da Aliança que vivemos quando rezamos ao nosso Pai. Ele
está nos céus que são sua Morada; a Casa do Pai é, portanto, nossa
"pátria". Foi da terra da Aliança que o pecado nos exilou e é
para o Pai, para o céu, que a conversão do coração nos faz voltar. Ora, é
no Cristo que o céu e a terra são reconciliados, pois o Filho "desceu
do céu", sozinho, e para lá nos faz subir com ele, por sua Cruz, sua
Ressurreição e Ascensão.
- Quando a Igreja reza
"Pai nosso que estais nos céus", professa que somos o Povo de
Deus já assentados nos céus, em Cristo Jesus", "escondidos com
Cristo em Deus" e, ao mesmo tempo, "gememos pelo desejo ardente
de revestir por cima de nossa morada terrestre a nossa habitação
celeste" (2Cor 5,2)
Os cristãos estão
na carne, mas não vivem segundo a carne. Passam sua vida na terra, mas são
cidadãos do céu.
RESUMINDO
- A confiança simples e
fiel, a segurança humilde e alegre são as disposições que convêm a quem
reza o Pai-Nosso.
- Podemos invocar a Deus
como "Pai" porque o Filho de Deus feito homem no-lo revelou,
Ele, em quem, pelo Batismo, somos incorporados e adotados como filhos de
Deus.
- A oração do Senhor nos
põe em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Ao mesmo tempo,
ela nos revela a nós mesmos.
- Rezar ao Pai
"nosso" deve desenvolver em nós a vontade de nos assemelhar a
Ele e (fazer crescer em nós) um coração humilde e confiante.
- Dizendo Pai Nosso,
invocamos a Nova Aliança em Jesus Cristo, a comunhão com a Santíssima
Trindade e a caridade divina que se estende, pela igreja, às dimensões do
mundo.
- "Que estais nos
céus" não designa um lugar, mas a majestade de Deus e sua presença no
coração dos justos. O céu, a Casa do Pai, constitui a verdadeira pátria
para onde nos dirigimos e à qual já pertencemos.
ARTIGO 3
OS SETE PEDIDOS
- Depois de nos ter posto na
presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, o
Espírito filial faz subir de nossos corações sete pedidos, sete bênçãos.
Os três primeiros, mais teologais, nos atraem para a Glória do Pai; os
quatro últimos, como caminhos para Ele, oferecem nossa miséria à sua
Graça. "Um abismo grita a outro abismo" (Sl 42,8).
- A primeira série de pedidos
nos leva em direção a Ele, para Ele: vosso Nome, vosso Reino, vossa
Vontade! E próprio do amor pensar primeiro naquele que amamos. Em cada um
destes três pedidos não nos mencionamos, mas o que se apodera de nós é
"o desejo ardente", "a angústia" até, do Filho
bem-amado para a Glória de seu Pai: "Seja santificado... Venha...
Seja feita...": essas três súplicas já foram atendidas pelo
Sacrifício do Cristo Salvador, mas se elevam doravante, na esperança, para
seu cumprimento final, enquanto Deus ainda não é tudo em todos.
- A segunda série de pedidos
desenrola-se no ritmo de certas Epicleses eucarísticas: é apresentação de
nossas expectativas e atrai o olhar do Pai das misericórdias. Sobe de nós
e nos diz respeito desde agora, neste mundo: "Dai-nos...
perdoai--nos... não nos deixeis... livrai-nos". O quarto e o quinto
pedidos referem-se à nossa vida, como tal, seja para alimentá-la, seja
para curá-la do pecado; os dois últimos referem-se ao nosso combate pela
vitória da Vida, o combate da própria oração.
- Mediante os três primeiros
pedidos, somos confirmados na fé, repletos de esperança e abrasados pela
caridade. Criaturas e ainda pecadores, devemos pedir por nós, estendendo
este "nós" até as dimensões do mundo e da história que
oferecemos ao amor sem medida de nosso Deus. Porque é pelo Nome de seu
Cristo e pelo Reino de seu Espírito Santo que nosso Pai realiza seu plano
de salvação, por nós e pelo mundo inteiro.
I. Santificado seja vosso Nome
- O termo
"santificar" deve ser entendido aqui não primeiramente em seu
sentido causativo (só Deus santifica, torna santo), mas sobretudo num
sentido estimativo: reconhecer como santo, tratar de maneira santa. E
assim que, na adoração, esta invocação é às vezes compreendida como um
louvor e uma ação de graças. Mas este pedido, um nos é ensinado por Jesus
como um optativo: um pedido, um desejo e uma espera em que Deus e o homem
estão empenhados. Desde o primeiro pedido a nosso Pai, somos mergulhados
no mistério íntimo de sua Divindade e no evento da salvação de nossa
humanidade. Pedir-lhe que seu nome seja santificado nos envolve na
"decisão prévia que lhe aprouve tomar" (Ef 1,9) para "ser
santos e irrepreensíveis diante dele no amor" (Ef 1,4).
- Nos momentos decisivos de
sua economia, Deus revela seu Nome, mas revela-o realizando sua obra. Ora,
esta obra só se realiza para nós e em nós se seu nome for santificad9 por
nós e em nós.
- A Santidade de Deus é o
centro inacessível de seu ministério eterno. Ao que, deste mistério, está
manifestado na criação e na história, a Escritura chama de Glória, a
irradiação de sua majestade. Ao criar o homem "à sua imagem e
semelhança" (Gn 1,26), Deus "o coroa de glória'', mas, pecando,
o homem é "privado da Glória de Deus". Sendo assim, Deus vai manifestar
sua Santidade revelando e dando seu Nome, a fim de restaurar o homem
"segundo a imagem de seu Criador" (Cl 3,10).
- Na promessa a Abraão, e no
juramento que a acompanha, Deus empenha a si mesmo, mas sem revelar seu
Nome. É a Moisés que começa a revelá-lo, e o manifesta aos olhos de todo o
povo, salvando-o dos egípcios: "Ele se vestiu de glória" (Ex
15,1). A partir da Aliança do Sinai, este povo é "seu" e deve
ser uma "nação santa" (ou consagrada: é a mesma palavra em
hebraico) porque o nome de Deus habita nele.
- Ora, apesar da Lei santa
que o Deus Santo lhe dá e torna a dar, e embora o Senhor, "em
consideração a seu nome", use de paciência, o povo se desvia do Santo
de Israel e "profana seu nome entre as nações". Foi por isso que
os justos da Antiga Aliança, os pobres que retornaram do exílio e os
profetas, ficaram abrasados pela paixão do Nome.
- Por fim, em Jesus, o Nome
do Deus Santo nos é revelado e dado, na carne, como Salvador: revelado,
por aquilo que Ele E, por sua Palavra e por seu Sacrifício. E o cerne de
sua oração sacerdotal: "Pai santo... por eles a mim mesmo me
santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17,19). E por
"santificar" Ele mesmo o seu nome que Jesus nos manifesta"
o Nome do Pai. Ao final de sua Páscoa, o Pai lhe dá então o nome que está
acima de todo nome: Jesus é Senhor para a glória de Deus Pai.
- Na água do Batismo fomos
"lavados, santificados, justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e
pelo Espírito de nosso Deus" (1 Cor 6,11). Durante toda nossa vida,
nosso Pai "nos chama à santidade" (l Ts 4,7). E, já que é
"por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós
santificação" (1 Cor 1,30), contribui para sua Glória e para nossa
vida o fato de seu nome ser santificado em nós e por nós. Essa é a
urgência de nosso primeiro pedido.
Quem poderia
santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica? Mas, inspirando-nos nesta
palavra: "Sede santos porque eu sou Santo" (Lv 11,44), nós pedimos
que, santificado pelo Batismo, perseveremos naquilo que começamos a ser.
pedimo-lo todos os dias, porque cometemos faltas todos os dia e devemos
purificar-nos de nossos pecados por uma santificação retomada sem cessar...
Recorremos, portanto, à oração para esta santidade permaneça em nós.
- Depende, inseparavelmente,
de nossa vida e de nossa oração que seu Nome seja santificado entre as
nações:
Pedimos a Deus que
santifique seu Nome, porque é pela santidade que Ele salva e santifica toda a
criação... Trata-se do Nome que dá a salvação ao mundo perdido, mas pedimos que
Nome de Deus seja santificado em nós por nossa vida. Pois, se vivermos bem, o
Nome divino é bendito; mas, se vivermos mal, ele é blasfemado, segundo a
palavra do Apóstolo: "O Nome de Deus está sendo blasfemado por vossa causa
entre os pagãos" (Rm 2,24). Rezamos, portanto, para merecer ter em nossas
almas tanta santidade quanto é santo o Nome de nosso Deus.
Quando dizemos
"santificado seja o vosso Nome", pedimos que ele seja santificado em
nós que estamos nele, mas também nos outros que a graça de Deus ainda aguarda,
a fim de conformar-nos aos preceito, que nos obriga a rezar por todos, mesmo
por nossos inimigos. E por isso que não dizemos expressamente: vosso Nome seja
santificado "em nós", porque pedimos que ele o seja em todos os
homens.
- Este pedido, que contém
todos os pedidos, é atendido pela oração de Cristo, como os seis outros
que seguem. A oração ao nosso Pai é nossa oração se for rezada "no
Nome" de Jesus. Jesus pede em sua oração sacerdotal: "Pai sai
guarda em teu Nome os que me deste" (Jo 17,11).
II. Venha a nós o vosso Reino
- No Novo Testamento o mesmo
termo "Basiléia" pode ser traduzido por realeza (nome abstrato),
reino (nome concreto) ou reinado (nome de ação). O Reino de Deus existe
antes de nós. Aproximou-se no Verbo encarnado, é anunciado ao longo de
todo o Evangelho, veio na morte e na Ressurreição de Cristo. O Reino de
Deus vem desde a santa Ceia e na Eucaristia: ele está no meio de nós. O
Reino virá na glória quando Cristo o restituir a seu Pai:
O Reino de Deus
pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas súplicas
todos os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera. Assim como Ele é
nossa Ressurreição, pois nele nós ressuscitamos, assim também pode ser o Reino
de Deus, pois nele nós reinaremos.
- Este pedido é o
"Marana Tha", o grito do Espírito e da Esposa: "Vem, Senhor
Jesus":
Mesmo que esta
oração não nos tivesse imposto um dever de pedir a vinda deste Reino, nós
mesmos, por nossa iniciativa, teríamos soltado este grito, apressando-nos a ir
abraçar nossas esperanças. As almas dos mártires, sob o altar, invocam o Senhor
com grandes gritos: "Até quando, Senhor, tardarás a pedir contas de nosso
sangue aos habitantes da terra?" (Ap 6,10). Eles devem, com efeito, obter
justiça no fim dos tempos. Senhor, apressa portanto a vinda de teu reinado.
- Na Oração do Senhor,
trata-se principalmente da vinda final do Reinado de Deus mediante o
retorno de Cristo. Mas este desejo não desvia a Igreja de sua missão neste
mundo, antes a empenha ainda mais nesta missão. Pois a partir de
Pentecostes a vinda do Reino é obra do Espírito do Senhor "para
santificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra".
- "O Reino de Deus é
justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17). Os últimos
tempos, que estamos vivendo, são os tempos da efusão do Espírito Santo.
Trava-se, por conseguinte, um combate decisivo entre "a carne" e
o Espírito:
Só um coração puro
pode dizer com segurança: "Venha a nós o vosso Reino". E preciso ter
aprendido com Paulo para dizer: "Portanto, que o pecado não impere mais em
vosso corpo mortal" (Rm 6,12). Quem se conserva puro em suas ações, em
seus pensamentos e em suas palavras pode dizer a Deus: "Venha o vosso
Reino"
- Num trabalho de
discernimento segundo o Espírito, devem os cristãos distinguir entre o
crescimento do Reino de Deus e o progresso da cultura e da sociedade em
que estão empenhados. Esta distinção não é separação. A vocação do homem
para a vida eterna não suprime, antes reforça seu dever de acionar as
energias e os meios recebidos do Criador para servir neste mundo à justiça
e à paz
- Este pedido está contido e
é atendido na oração de Jesus, presente e eficaz na Eucaristia; produz seu
fruto na vida nova segundo as Bem-aventuranças.
III. Seja feita a vossa Vontade assim na
terra como no céu
- É Vontade de nosso Pai
"que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade" (1 Tm 2,3-4). Ele "usa de paciência, porque não quer
que ninguém se perca" (2Pd 3,9). Seu mandamento, que resume todos os
outros, e que nos diz toda a sua vontade, é que "nos amemos uns aos
outros, como Ele nos amou".
- "Deu-nos a conhecer o
mistério de sua vontade, conforme decisão prévia que lhe aprouve tomar: ..
.a de em Cristo encabeçar todas as coisas... Nele, predestinados pelo
propósito daquele que tudo opera segundo o conselho de sua Vontade, fomos
feitos sua herança" (Ef 1,9-11). Pedimos que se realize plenamente
este desígnio amoroso na terra, como já acontece no céu.
- No Cristo, e por sua
vontade humana, a Vontade do Pai foi realizada completa e perfeitamente e
uma vez por todas. Jesus disse ao entrar neste mundo: "Eis-me aqui,
eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade" (Hb 10,7). Só Jesus pode
dizer: "Faço sempre o que lhe agrada" (Jo 8,29). Na oração de
sua agonia, ele consente totalmente com esta vontade: "Não a minha vontade
mas a tua seja feita!" (Lc 22,42). É por isso que Jesus "se
entregou a si mesmo por nossos pecados, segundo a vontade de Deus"
(Gl 1,4). "Graças a esta vontade é que somos santificados pela
oferenda do corpo de Jesus Cristo" (HB 10,10).
- Jesus, "embora fosse
Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento" (Hb 5,8). Com
maior razão, nós, criaturas e pecadores, que nos tornamos nele filhos
adotivos, pedimos ao nosso Pai que una nossa vontade à de seu Filho para
realizar sua Vontade, seu plano de salvação para a vida do mundo. Somos
radicalmente incapazes de fazê-lo; mas, unidos a Jesus e com a força de
seu Espírito Santo, podemos entregar-lhe nossa vontade e decidir-nos a
escolher o que seu Filho sempre escolheu: fazer o que agrada ao Pai.
Aderindo a Cristo,
podemos tornar-nos um só espírito com ele, e com isso realizar sua Vontade;
dessa forma ela será cumprida perfeitamente na terra como no céu.
Considerai como
Jesus Cristo nos ensina a ser humildes, ao fazer-nos ver que nossa virtude não
depende só de nosso trabalho, mas da graça de Deus. Ele ordena aqui, a cada
fiel que reza, que o faça universalmente, isto é, por toda a terra. Pois não
diz "seja feita a vossa vontade" em mim ou em vós, mas em toda a
terra", a fim de que dela seja banido o erro, nela reine a verdade, o vício
seja destruído, a virtude floresça novamente, e que a terra não mais seja
diferente do céu.
- Pela oração é que podemos
"discernir qual é a vontade de Deus" e obter "a
perseverança para cumpri-la". Jesus nos ensina que entramos no Reino
dos céus não por palavras, mas praticando a vontade de meu Pai que está
nos céus" (Mt 7,21).
- "Se alguém faz a
vontade de Deus, a este Deus escuta" (Jo 9,31). Tal é a força da
oração da Igreja em Nome de seu Senhor, sobretudo na Eucaristia; é
comunhão de intercessão com a Santíssima Mãe de Deus e com todos os santos
que foram "agradáveis" ao Senhor por não terem querido fazer
senão a sua Vontade:
Podemos ainda, sem
ferir a verdade, traduzir estas palavras: "Seja feita a vossa vontade
assim na terra como no céu" por estas: na Igreja, como em nosso Senhor,
Jesus Cristo; na Esposa que Ele desposou, como no Esposo que realizou a Vontade
do Pai.
IV. O pão nosso de cada dia nos dai hoje
- "Dai-nos": é bela
a confiança dos filhos que tudo esperam de seu Pai. "Ele faz nascer o
seu sol igualmente sobre maus e bons e cair chuva sobre justos e
injustos" (Mt 5,45) e dá a todos os seres vivos "o alimento a
seu tempo" (Sl 104,27). Jesus nos ensina a fazer este pedido, que
glorifica efetivamente nosso Pai, porque reconhece como Ele é Bom para
além de toda bondade.
- "Dai-nos" é ainda
expressão da Aliança: pertencemos a Ele e Ele pertence a nós, age em nosso
favor. Mas esse "nós" o reconhece também como o Pai de todos os
homens e nós lhe pedimos por todos eles, em solidariedade com suas necessidades
e sofrimentos.
- "O pão nosso." O
Pai, que nos dá a vida, não pode deixar de nos dar o alimento necessário à
vida, todos os bens "úteis", materiais e espirituais. No Sermão
da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a
Providência de nosso Pai. Não nos exorta a nenhuma passividade, mas quer
libertar-nos de toda inquietação e de toda preocupação. É esse o abandono
filial dos filhos de Deus:
Aos que procuram o
Reino e a justiça de Deus, ele promete dar tudo por acréscimo. Com efeito, tudo
pertence a Deus: a quem possui Deus, nada lhe falta, se ele próprio não falta a
Deus.
- A presença dos que têm fome
por falta de pão, no entanto, revela outra profundidade deste pedido. O
drama da fome no mundo convoca os cristãos que rezam em verdade para uma
responsabilidade efetiva em relação a seus irmãos, tanto nos
comportamentos pessoais como em sua solidariedade com a família humana.
Este pedido da Oração do Senhor não pode ser isolado das parábolas do
pobre Lázaro e do Juízo Final
- Como o fermento na massa, a
novidade do Reino deve elevar o mundo pelo Espírito de Cristo. Deve
manifestar-se pela instauração da justiça nas relações pessoais e sociais,
econômicas e internacionais, sem jamais esquecer que não existe estrutura
justa sem seres humanos que queiram ser justos.
- Trata-se de
"nosso" pão, "um" para "muitos". A pobreza
das bem-aventuranças é a virtude da partilha que convoca a comunicar e
partilhar os bens materiais e espirituais, não por coação, mas por amor,
para que a abundância de uns venha em socorro das necessidades dos outros
- "Reza e
trabalha." "Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai
como se tudo dependesse de vós." Tendo realizado nosso trabalho, o
alimento fica sendo um dom de nosso Pai; convém pedi-lo e disso render-lhe
graças. É esse o sentido da bênção da mesa numa família cristã.
- Este pedido e a
responsabilidade que ele implica valem também para outra fome da qual os
homens padecem: "O homem não vive apenas de pão, mas de tudo aquilo
que procede da boca de Deus" (Mt 4,4), isto é, sua Palavra e seu
Sopro. Os cristãos devem envidar todos os seus esforços para
"anunciar o Evangelho aos pobres". Há uma fome na terra,
"não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra de
Deus" (Am 8,11). Por isso, o sentido especificamente cristão desse
quarto pedido refere-se ao Pão de Vida: a Palavra de Deus a ser acolhida
na fé, o Corpo de Cristo recebido na Eucaristia.
- "Hoje" é também
uma expressão de confiança. O no-lo ensina; nossa presunção não podia
inventá-la. Como se trata sobretudo de sua Palavra e do Corpo de seu
Filho, este "hoje não é só o de nosso tempo mortal: é o Hoje de Deus:
Se recebes o pão
cada dia, cada dia é para ti hoje. Se Cristo es ao teu dispor hoje, todos os
dias Ele ressuscita para ti. Como dá isso? "Tu és meu filho, eu hoje te
gerei" (Sl 2,7). Hoje, isto é, quando Cristo ressuscita.
- "De cada dia."
Esta palavra, "epiousios" (pronuncie: epiússios), não é usada em
nenhum outro lugar no Novo Testamento. Tomada em um sentido temporal, é
uma retomada pedagógica de "hoje" para nos confirmar numa
confiança "sem reserva". Tomada em sentido qualitativo,
significa o necessário à vida, e, em sentido mais amplo, todo bem
suficiente para a subsistência. Literalmente (epiousios: "supersubstancial"),
designa diretamente o Pão de Vida, o Corpo de Cristo, "remédio de
imortalidade", sem o qual não temos a Vida em nós. Enfim, ligado ao
que precede, o sentido celeste é evidente: "este Dia" é o Dia do
Senhor, o do Banquete do Reino, antecipado na Eucaristia que é já o antegozo
do Reino que vem. Por isso convém que a Liturgia eucarística seja
celebrada "cada dia.
A Eucaristia é
nosso pão cotidiano. A virtude própria deste alimento divino é uma força de
união que nos vincula ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros, a fim de que
nos transformemos naquilo que recebemos... Este pão cotidiano está ainda nas
leituras que ouvis cada dia na Igreja, nos hinos que são cantados e que vós
cantais. Tudo isso é necessário à nossa peregrinação.
O Pai do céu nos
exorta a pedir, como filhos do céu, o Pão do céu. Cristo "é Ele mesmo o
pão que, semeado na Virgem, levedado na carne, amassado na Paixão, cozido no
forno do sepulcro, colocado em reserva na Igreja, levado aos altares,
proporciona cada dia aos fiéis um alimento celeste".
V. Perdoai-nos as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos aos que nos têm ofendido
- Este pedido é
surpreendente. Se comportasse apenas o primeiro membro da frase
"Perdoai-nos as nossas ofensas" - poderia ser incluído,
implicitamente, nos três primeiros pedidos da Oração do Senhor, pois o
Sacrifício de Cristo é "para a remissão dos pecados". Mas, de
acordo com um segundo membro da frase, nosso pedido não será atendido, a
não ser que tenhamos antes correspondido a uma exigência. Nosso pedido é
voltado para o futuro, nossa resposta deve tê-lo precedido; uma palavra os
liga: "Como".
PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS
- Com audaciosa confiança,
começamos a rezar a nosso Pai. Ao suplicar-lhe que seu nome seja
santificado, lhe pedimos a graça de sempre mais sermos santificados. Embora
revestidos da veste batismal, nós não deixamos de pecar, de desviar-nos de
Deus. Agora, neste novo pedido, nós nos voltamos a ele, como o filho
pródigo, e nos reconhecemos pecadores, diante dele, como o publicano.
Nosso pedido começa por uma "confissão", na qual declaramos, ao
mesmo tempo, nossa miséria e sua Misericórdia. Nossa esperança é firme,
porque, em seu Filho, "temos a redenção, a remissão dos pecados"
(Cl 1,14). Encontramos o sinal eficaz e indubitável de seu perdão nos
sacramentos de sua Igreja.
- Ora, e isso é tremendo,
este mar de misericórdia não pode penetrar em nosso coração enquanto não
tivermos perdoado aos que nos ofenderam. O amor, como o Corpo de Cristo, é
indivisível: não podemos amar o Deus que não vemos, se não amamos o irmão,
a irmã, que vemos. Recusando-nos a perdoar nossos irmãos e irmãs, nosso
coração se fecha, sua dureza o torna impermeável ao amor misericordioso do
Pai confessando nosso pecado, nosso coração se abre à sua graça.
- Este pedido é tão
importante que é o único ao qual o Senhor volta e que desenvolve no Sermão
da Montanha. Esta exigência crucial do mistério da Aliança é impossível
para o homem. Mas "tudo é possível a Deus" (Mt 19,26).
...ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM
OFENDIDO
- Este "como" não é
único no ensinamento de Jesus: "Deveis ser perfeitos 'como' vosso Pai
celeste é perfeito" (Mt 5,48); "Sede misericordiosos 'como'
vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36); "Dou-vos um mandamento
novo: que vos ameis uns aos outros 'como' eu vos amei" (Lc 13,34).
Observar o mandamento do Senhor é impossível se quisermos imitar, de fora,
o modelo divino. Trata-se de participar, de forma vital e "do fundo
do coração", na Santidade, na Misericórdia, no Amor de nosso Deus. Só
o Espírito que é "nossa Vida" (Gl 5,25) pode fazer "nossos"
os mesmos sentimentos que teve Cristo Jesus. Então torna-se possível a
unidade do perdão, "perdoando-nos mutuamente 'como Deus em Cristo nos
perdoou" (Ef 4,32).
- Assim adquirem vida as
palavras do Senhor sobre o perdão, esse Amor que ama até o extremo do
amor. A parábola do servo desumano, que coroa o ensinamento do Senhor
sobre a comunhão eclesial, termina com esta palavra: "Eis como meu
Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, o
seu irmão". Com efeito, é "no fundo do coração" que tudo se
faz e se desfaz. Não está em nosso não mais sentir e esquecer a ofensa;
mas o coração que entrega ao Espírito Santo transforma a ferida em
compaixão purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão.
- A oração cristã chega até o
perdão dos inimigos. Transforma o discípulo, configurando-o a seu Mestre.
O perdão é um ponto alto da oração cristã; o dom da oração não pode ser
recebido a não ser num coração em consonância com a compaixão divina. O
perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte
que o pecado. Os mártires, de ontem e de hoje, dão este testemunho de
Jesus. O perdão é a condição fundamental da Reconciliação dos filhos de
Deus com seu Pai e dos homens entre si.
- Não há limite nem medida a
esse perdão essencialmente divino. Tratando-se de ofensas
("pecados", segundo Lc 11,4), ou "dívidas", segundo Mt
6,12), de fato somos sempre devedores: "Não devais nada a ninguém, a
não ser o amor mútuo" (Rm 13,8). A Comunhão da Santíssima Trindade é
a fonte e o critério da verdade de toda relação. Esta comunhão é vivida na
oração, sobretudo na Eucaristia:
Deus não aceita o
sacrifício dos que fomentam a desunião; Ele ordena que se afastem do altar para
primeiro se reconciliarem com seus irmãos: Deus quer ser pacificado com orações
de paz. Para Deus, a mais bela obrigação é nossa paz, nossa concórdia, a
unidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo de todo o povo fiel.
VI. Não nos deixeis cair em tentação
- Este pedido atinge a raiz
do precedente, pois nossos pecados são fruto do consentimento na,
tentação. Pedimos ao nosso Pai que não nos "deixe cair" nela. E
difícil traduzir, com uma palavra só, a expressão grega "me
eisenegkes" (pronuncie: "me eissenenkes"), que significa
"não permitas entrar em", "não nos deixeis sucumbir à
tentação". "Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém
tenta" (Tg 1,13); Ele quer, ao contrário, dela nos livrar. Nós lhe
pedimos que não nos deixe enveredar pelo caminho que conduz ao pecado.
Estamos empenhados no combate "entre a carne e o Espírito". Este
pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza.
- O Espírito Santo nos faz
discernir entre a provação, necessária ao crescimento do homem interior em
vista de uma "virtude comprovada", e a tentação, que leva ao
pecado e à morte. Devemos também discernir entre "ser tentado e
consentir" na tentação. Por fim, o discernimento desmascara a mentira
da tentação: aparentemente, seu objeto é "bom, sedutor para a vista,
agradável" (Gn 3,6), ao passo que, na realidade, seu fruto é a morte.
Deus não quer
impor o bem, ele quer seres livres... Para alguma coisa a tentação serve.
Todos, com exceção de Deus, ignoram o que nossa alma recebeu de Deus, até nós
mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos e, com
isso, descobrir-nos nossa miséria e nos obrigar a dar graças pelos bens que a
tentação nos manifestou.
- "Não cair em
tentação" envolve uma decisão do coração". Onde está o teu
tesouro, aí estará também teu coração... Ninguém pode servir a dois
senhores" (Mt 6,21.24). "Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito
pautemos também nossa conduta" (Gl 5,25). Neste consentimento"
dado ao Espírito Santo, o Pai nos dá a força. "As tentações que vos
acometeram tiveram medida humana. Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados
acima de vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair
dela e a força para a suportar" (1 Cor 10,13).
- Ora, tal combate e tal
vitória não são possíveis senão na oração. Foi por sua oração que Jesus
venceu o Tentador, desde o começo e no último combate de sua agonia. E a
seu combate e à sua agonia que Cristo nos une neste pedido a nosso Pai. A
vigilância do coração é lembrada com insistência em comunhão com a de
Cristo. A vigilância consiste em "guardar o coração", e Jesus
pede ao Pai que "nos guarde em seu nome". O Espírito Santo
procura manter-nos sempre alerta para essa vigilância. Esse pedido adquire
todo seu sentido dramático no contexto da tentação final de nosso combate
na terra; pede a perseverança final "Eis que venho como um ladrão:
feliz aquele que vigia!" (Ap 16,15).
VII. Mas livrai-nos do mal
- O último pedido ao nosso
Pai aparece também na oração de Jesus: "Não te peço que os tires do
mundo, mas que os guardes do Maligno" (Jo 17,15). Diz respeito a cada
um de nós pessoalmente, mas somos sempre "nós" que rezamos em
comunhão com toda a Igreja e pela libertação de toda a família humana. A
Oração do Senhor não cessa de abrir-nos para as dimensões da economia da
salvação. Nossa interdependência no drama do pecado e da morte se transforma
em solidariedade no Corpo de Cristo, na "comunhão dos santos".
- Neste pedido, o Mal não é
uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se
opõe a Deus. O "diabo" ("diabolos") é aquele que
"se atira no meio" do plano de Deus e de sua "obra de
salvação" realizada em Cristo.
- "Homicida desde o
princípio, mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,), "Satanás,
sedutor de toda a terra habitada" (Ap 12,9), foi por ele que o pecado
e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda
será "liberta da corrupção do pecado e da morte". "Nós
sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o Gerado por Deus se
preserva e o Maligno não o pode atingir. Nós sabemos que Somos de Deus e
que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno" (1 Jo 5,18-19).
O Senhor, que
arrancou vosso pecado e perdoou vossas faltas, tem poder para vos proteger e
vos guardar contra os ardis do Diabo que Vos combate, a fim de que o inimigo,
que costuma engendrar a falta, não vos surpreenda. Quem se entrega a Deus não
teme o Demônio. "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8,31).
- A vitória sobre o
"príncipe deste mundo" foi alcançada, de unia vez por todas, na
Hora em que Jesus se entregou livremente à morte para nos dar sua vida. É
o julgamento deste mundo, e o príncipe deste mundo é "lançado
fora", "Ele põe-se a perseguir a Mulher", mas não tem poder
sobre ela: a nova Eva, "cheia de graça" por obra do Espírito
Santo, é preservada do pecado e da corrupção da morte (Imaculada Conceição
e Assunção da Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre virgem).
"Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o
resto de seus descendentes" (Ap 12,17). Por isso o Espírito e a
Igreja rezam: "Vem, Senhor Jesus" (Ap 22,17.20), porque a sua
Vinda nos livrará do Maligno.
- Ao pedir que nos livre do
Maligno, pedimos igualmente que sejamos libertados de todos os males,
presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador. Neste
última pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação
dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a
graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo. Rezando dessa
forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de
tudo naquele que "detém as chaves da Morte e do Hades" (Ap
1,18), "o Todo-Poderoso, Aquele que é, Aquele que era Aquele que
vem" (Ap 1,8):
Livrai-nos de
todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa
misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos,
enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador.
A doxologia final
- A doxologia final:
"Pois vosso é o reino, o poder e a glória" retoma, mediante
inclusão, os três primeiros pedidos a nosso Pai: a glorificação de seu Nome,
a vinda de seu Reino e o poder de sua Vontade salvífica. Mas esta retomada
ocorre então em forma de adoração e de ação de graças, como na Liturgia
celeste. O príncipe deste mundo atribuíra a si mentirosamente estes três
títulos de realeza, de poder e de glória; Cristo, o Senhor, os restitui a
seu Pai e nosso Pai, até entregar-lhe o Reino, quando será definitivamente
consumado o Mistério da salvação e Deus será tudo em todos.
- "Em seguida, terminada
a oração, tu dizes 'Amém', corroborando por este Amém, que significa 'Que
isto se faça' tudo quanto está contido na oração que Deus nos
ensinou."
RESUMINDO
- No "Pai-Nosso", os três
primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a santificação do Nome,
a vinda do Reino e o cumprimento da Vontade divina. Os quatro seguintes
apresentam-lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa vida, para
nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate
visando à vitória do Bem sobre o Mal.
- Ao pedir: "Santificado seja o vosso
Nome" entramos no plano de Deus, a santificação de seu Nome -
revelado a Moisés, depois em Jesus - por nós e em nós, bem como em todas
as nações e em cada ser humano.
- Com o segundo pedido, a Igreja tem em
vista principalmente a volta de Cristo e a vinda final do Reino de Deus,
rezando também pelo crescimento do Reino de Deus no "hoje" de
nossas vidas.
- No terceiro pedido rezamos ao nosso Pai
para que una nossa vontade à de seu Filho, a fim de realizar seu plano de
salvação na vida do mundo.
- No quarto pedido, ao dizer "Dai-nos",
exprimimos, em comunhão com nossos irmãos, nossa confiança filial em nosso
Pai do céu. "Pão Nosso" designa o alimento terrestre necessário
à subsistência de todos nós e significa também o Pão de Vida:
Palavra de Deus e Corpo de Cristo. É recebido no "Hoje" de
Deus como o alimento indispensável, (super) essencial do Banquete do Reino que
a Eucaristia antecipa.
- O quinto pedido implora a misericórdia de
Deus para nossas ofensas, misericórdia que só pode penetrar em nosso
coração se soubermos perdoar nossos inimigos, a exemplo e com a ajuda de
Cristo.
- Ao dizer "Não nos deixeis cair em
tentação", pedimos a Deus que não nos permita trilhar o caminho que
conduz ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento e
de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final.
- No último pedido, "mas livrai-nos do
mal", o cristão pede a Deus, com a Igreja, que manifeste a vitória,
já alcançada por Cristo, sobre o "Príncipe deste mundo", sobre
Satanás, o anjo que se opõe pessoalmente a Deus e a seu plano salvação.
- Pelo "Amém" final exprimimos
nosso 'fiat" em relação aos sete pedidos: "Que assim seja!"