Estudando nos passos de Maria
22 Nov 2003
''Quem são
todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra
comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do
rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra?
Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem
nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais
nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria
e santidade.''
(Martinho Lutero, ''Comentário do
Magnificat'', cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista ''Jesus vive
e é o Senhor'').
Lendo as
palavras acima, ditas por Martinho Lutero, o "reformador"
protestante. Ficamos a nos perguntar quais as razões do tratamento dispensado
pelo mesmo protestantismo a Nossa Senhora, Mãe de Deus. Haja vista, Lutero
baniu a Igreja de sua confissão, mas não fez o mesmo com Maria, da qual se
refere de forma devotada e amorosa em diversos de seus escritos:
''Por
justiça teria sido necessário encomendar-lhe [para Maria] um carro de ouro e
conduzi-la com quatro mil cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem,
anunciando: 'Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de
todo o gênero humano'. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a
pé, por um caminho tão longo e, apesar disso, é de fato a Mãe de Deus.
Por isso não nos deveríamos admirar, se todos os montes tivessem pulado e
dançado de alegria.'' (Martinho Lutero - Comentário do Magníficat).
O
sentimento antimariano que presenciamos entre os protestantes não faz parte do
verdadeiro ideal da Reforma, mas surgiu pelo falso receio de que o ''brilho''
de Maria pudesse sombrear ou apagar a verdadeira Luz, que é Jesus Cristo. Graças
a Deus, hoje podemos enxergar mudanças em alguns fiéis e teólogos evangélicos,
reconhecendo o verdadeiro sentido e valor da Santa Mãe de Deus, tal como
defende a Igreja Católica. Mas essa mudança ainda custa a se fazer sentir no nosso dia-a-dia.
O presente e-book (livro
eletrônico), versa justamente sobre as contestações suscitadas a respeito
da figura de Maria na história e na Vida da Igreja universal. Contestações
que muitas vezes beiram o absurdo quando notamos um comportamento notadamente
antimariano, onde se chega a "demonizar" a própria Mãe de Jesus,
nosso Salvador. Outrossim, tais contestações são apresentadas de forma
aparentemente fundamentada, com diversas citações bíblicas escolhidas
convenientemente, com uma linguagem extremamente sedutora em tentar provar o
contrário daquilo que o próprio Deus sacramentou como verdade. Deus não
precisava de Maria, quis precisar. Não para qualquer tarefa, mas para ser a Mãe
do Salvador de todos os homens, independentemente de credo desses últimos.
O autor do
livro, o nosso jovem Carlão, nos conduz passo a passo, numa linguagem acessível
e com uma objetividade notável, pelos caminhos desse estudar nos passos de
Maria. Sua bem fundamentada resposta às proposições de um pastor
protestante - autor de um livro intitulado "Caminhando nos Passos de
Maria" - se vê robustecida pelo claro objetivo de elucidar ao invés
de confrontar, de corrigir com caridade ao invés de desqualificar.
Receber a
caridosa oferta do Carlão para que seu "pequeno grande" livro fosse
veiculado através do Portal Universo Católico, foi alvissareira. Numa
comunicação posterior, o mesmo me informava que aguardava a aprovação
eclesiástica do livro, para que o mesmo
me fosse remetido, o que despertou curiosidade. Mas de posse do material
prévio para publicação, devidamente autorizada por D. Alano Maria Pena
(Arcebispo de Niteroi - RJ), a emoção primeira se verteu num estado de graça,
de alguém que recebia uma benção especial. Um verdadeiro presente de Jesus e
Nossa Senhora. Uma grata oportunidade de levar a tantos de meus irmãos
católicos e especialmente aos irmãos evangélicos, uma obra que certamente os
ajudará a elucidar muitas dúvidas, ou a desfazer-se de vários preconceitos.
''Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer
ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la
para Mãe de Deus.'' (João Calvino, Comm. Sur l’Harm.
Evang.,20)
Por fim,
fica o meu convite a sua leitura. Você poderá solicitar do autor um exemplar
impresso. Mas poderá também imprimir, copiar, enviar via e-mail aos seus
amigos, tudo isso citando a fonte e o contato do autor. Seja bem vindo a esse
estudo nos passos de Maria.
Elbson do
Carmo
Webmaster
Universo Católico
02 -
PREFÁCIO
Por Carlos
J. Magliano Neto
ESTUDANDO NOS
PASSOS DE MARIA
Autor: CARLÃO
COM APROVAÇÃO DA AUTORIDADE ECLESIÁSTICA
CONFORME O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, CÂN. 827 §3
OUTUBRO DE 2003 – MÊS MISSIONÁRIO, ANO DO ROSÁRIO
“A contemplação
de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. O rosto do Filho pertence-lhe
sob um título especial... à contemplação do rosto de Cristo ninguém se dedicou
com a mesma assiduidade de Maria.” (Palavras do Santo Padre João Paulo II na
Carta Apostólica “O Rosário da Bem-Aventurada Virgem Maria”, nº 10).
Esta reflexão de
João Paulo II ajuda-nos a compreender, de forma bem real, a importância do
testemunho de Maria na vida e na Obra salvífica do Senhor Jesus. De certa forma
esta compreensão apela para um contato mais profundo com toda a elaboração do
pensamento teológico da Igreja, desde os tempos apostólicos, a respeito da
Virgem Maria.
A riqueza de
textos, sempre partindo das Escrituras e por elas iluminados, ao longo destes
20 séculos, é imensa, é fascinante e não deixa de empolgar a quantos se dedicam
ao contato com estes escritos, tanto na Tradição Latina como na Tradição
Oriental.
Creio que foi o
que aconteceu com o jovem Autor desta singela Obra mariana, nosso Carlão.
Estudioso da
Doutrina Revelada desde sua adolescência, pesquisador incansável, mas acima de
tudo um crente convicto e íntegro no seu testemunho de vida cristã, não
resistiu ao toque interior da graça divina convocando-o à missão de evangelizar
e dotando-o, para tanto, de um particular talento.
A propósito de
um livro sobre Maria, de autoria de um pastor protestante, com a única
preocupação de esclarecer a Doutrina Católica, e num agradável estilo dialogal,
Carlão vai conduzindo o leitor atento pelos caminhos da autêntica Tradição que,
sob a inspiração do Espírito Santo e à luz da Revelação bíblica, apresenta o
real sentido dos dogmas marianos e sua importância na vida da Igreja de todos
os tempos.
O estilo
“epistolar”, pois trata-se de uma “carta ao pastor protestante”, é simples, bem
constituído, o que certamente será de grande utilidade para os leitores
compreenderem a Doutrina mariana de nossa Igreja.
Creio, também, que o fato de um jovem inteligente
aplicar seu talento na apresentação e defesa da Fé Católica falará tanto ao
coração e à mente dos leitores quanto o conteúdo do livro. É um sinal de
vitalidade da Igreja, que nos enche de ânimo e de esperança.
Não será difícil
imaginar o terno sorriso da Santa Mãe de Deus para este filho que tanto a ama,
sorriso que sempre aponta para o Rosto Divino do Filho amado, Jesus Cristo a
Quem seja dada toda a adoração, a glória e o louvor!
+ D. Fr. Alano Maria Pena O.P.
Arcebispo de Niterói
03 - INTRODUÇÃO
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Amados, tendo um grande desejo de escrever-lhes a
respeito da nossa salvação comum, fui obrigado a fazê-lo, a fim de encorajá-los
a lutar pela fé que foi transmitida aos fiéis de uma vez por todas” (Jd 3).
É obrigação de
cada cristão conhecer e defender a Fé. Em maio de 2001 foi ao ar na extinta
Gospel Channel, canal do sistema a cabo aqui de Nova Friburgo, um programa de
uma igreja protestante onde o pastor comentava sobre Maria. Assistindo ao
programa, meu afilhado de Crisma, Sandro Alves de Souza e eu, resolvemos
escrever para o pastor algumas observações. Assim nos conhecemos e nos tornamos
amigos.
Agora, em 2003,
passando por uma livraria protestante, vejo o livro: Nos Passos de Maria, de
autoria do mesmo pastor. Fui até a sua igreja e pedi um exemplar de seu
trabalho. Muito solícito, me dedicou um exemplar autografado.
Depois que
terminei de ler o livro, decidi escrever algo para novamente enviar ao pastor e
também para que se tornasse objeto de estudo entre os católicos. O livro Nos
Passos de Maria contém uma grande quantidade de argumentações usadas por todas
as igrejas protestantes, que devagarzinho, vão se acumulando na porta da casa
das famílias católicas e as afastando do ensinamento da Primeira Igreja.
Assim, este meu
texto denominado Estudando Nos Passos de Maria, pretende levar aos protestantes
a verdadeira visão da Igreja Católica sobre alguns pontos da Mariologia, não
poucas vezes deturpados por eles; e pretende levar aos católicos o
aprofundamento e a solidificação de sua fé. Como disse Santo Agostinho: “É
preciso demonstrar pela autoridade das Santas Escrituras, a certeza de nossa
fé” (A Trindade, cap. 2). Por isso, Estudando Nos Passos de Maria é recheado
com uma gama bem diversa de citações e passagens bíblicas, além dos documentos
da Igreja e da palavra dos santos homens de Deus. É um livro simples, que
nasceu de uma necessidade: conhecer a verdade (cf. Jo 8,32).
Dedico este
trabalho a todos aqueles que lutam pela preservação da Fé Católica.
“A vocês, que já
conhecem definitivamente essas coisas, quero lembrar-lhes que o Senhor, depois
de ter salvo o povo da terra do Egito, destruiu em seguida aqueles que não
queriam acreditar... O mesmo acontece com esses indivíduos: levados por seus
devaneios, contaminam o próprio corpo, desprezando o senhorio de Cristo e
insultando os seres gloriosos... Vocês, porém, amados, lembram-se das coisas
que foram ditas anteriormente pelos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo...
construam sobre o alicerce da santíssima fé que vocês têm... Para aquele que
pode preservar vocês de qualquer falta e pode fazer que vocês compareçam sem
defeitos na alegria diante da glória dele, ao Deus único, nosso Salvador, por
meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, seja dada a glória e a majestade, a força e
o poder, antes de todos os tempos, agora e para sempre. Amém!” (cf. Carta de Judas).
Carlão
04 - Ao Pastor
Por Carlos
J. Magliano Neto
Prezado pastor,
QUE A PAZ DE CRISTO E A UNIDADE DO ESPÍRITO SANTO ESTEJAM CONTIGO!
Resolvi escrever a fim de que fiquem
mais organizadas e claras as minhas proposições, e para “celebrar” a primeira
carta enviada pelo meu amigo e afilhado Sandro e por mim que comemorou dois
anos no último 23 de Maio. Carta que, aliás, o senhor usou bastante no seu
livro “Nos passos de Maria” e que segundo o seu próprio testemunho foi quem deu
origem a ele.
“Nos passos de
Maria” traz algumas argumentações interessantes e outras que são julgamentos e
“achismos” dentro do que oficialmente ensina a Igreja Católica.
A Igreja de
Jesus Cristo desde o seu início há 2000 anos, sempre zelou pela “sã doutrina”
(2ª Tm 4,3). Esta é a sua missão: guardar o depósito da fé (cf. 2ª Tm 1,14).
Por muitas vezes a Igreja teve que enfrentar grandes debates e sérias
discussões a fim de cumprir o seu papel (cf. At 18,5-6.28). O zelo da Igreja
pela Verdade é tão grande que não foram poucos aqueles que morreram mártires em
defesa da fé, a começar por Santo Estevão (cf. At 7,59). Também, em virtude de
tão grande cuidado, a exemplo de Moisés (cf. Ex 32,25-29) e de Elias (cf. 1º Rs
18-22.40), caiu-se em erros de comportamen-to como o da Inquisição. Tudo isso
para fazer jus à ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a
toda criatura” (Mc 16,15). Por isso, vejo-me na obrigação de responder a alguns
pontos, remover algumas falsas interpretações e desvios do ensinamento do
Magistério da Igreja, a fim de “esclarecer suas dúvidas, ter respostas para as
suas questões e ao mesmo tempo aprofundar o conhecimento d’Aquele que é o
Caminho, a Verdade e a Vida e que se manifesta através da Igreja que Ele – e
não mais ninguém – pensou, criou e acompanha como prometeu, até o fim dos
tempos nos caminhos deste mundo” (D. Fr. Alano Maria Pena, O.P.,
Arcebispo-eleito de Niterói-RJ no “Programa Na Fé Católica” em 14 de março de
2003).
Demorei em
preparar este texto, pois no momento estou dirigindo e apresentando o programa
“Na Fé Católica” da Diocese na Rádio Friburgo AM todas as sextas-feiras às
20:30h. Também ministro um curso bíblico às terças-feiras na Paróquia São
Roque, em Olaria. Além das palestras que me convidam a fazer e os estudos de
Teologia. E como todo mortal, tenho minhas obrigações comuns de trabalho.
Graças a Deus, odeio ociosidade. Também quis a revisão e a aprovação do
Administrador Diocesano de Nova Friburgo, Dom Frei Alano Maria Pena O.P. Por se
tratar de pontos tão profundos da Doutrina Católica, era necessário que alguém
com autoridade apostólica de ensinar analisasse estes pensamentos a fim de que
se trate realmente de um trabalho que reflita a pura Doutrina da Igreja
Católica Apostólica Romana e não interpretações pessoais da Doutrina, assim
como recomenda a própria Igreja (cf. Código de Direito Canônico, cân. 827 §3).
Achei muito
interessantes algumas de suas colocações sobre Maria, como esta logo abaixo:
“‘Nos
passos de Maria’ é uma abordagem simples, porém séria, sobre a obra e vida
daquela que todo cristão criterioso e fundamentado na Palavra de Deus precisa
amar e respeitar” (pág.
11)
E também,
comentando sobre a fiel de sua igreja que não gostou de sua pregação sobre as
virtudes de Maria, o senhor concluiu:
“A preocupação de nossa irmã denuncia não
apenas nossa parcial ignorância sobre a pessoa de Maria, mas aponta também para
o errado posicionamento de alguns cristãos verdadeiros que, por receio de cair
em um erro, se colocaram em um outro extremo” (pág. 15)
É exatamente
isso que apontam os teólogos da Igreja Luterana no documento “Manifesto de
Dresden”, dizem eles: “O temor de diminuir a glória de Jesus foi a causa de que
nas igrejas evangélicas, se negassem a Maria a veneração e os louvores devidos.
E, entretanto, temos que afirmar que através da justa veneração que aos
apóstolos e a ela corresponde, multiplica-se a glória e o louvor ao Senhor,
porque foi Ele que a elegeu (e a fez) pela Sua Graça um instrumento seu”.
Parece-me
que as igrejas protestantes esqueceram sua origem, seu iniciador, Martinho
Lutero que pregava: “Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes,
reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de
descendência real é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra?
Ser Mãe de Deus é um privilégio tão alto, coisa tão imensa, que supera toda e
qualquer inteligência. Daí lhe vem toda a honra e a alegria e isso faz com que
ela seja uma única pessoa em todo o mundo, superior a quantas existirem e que
não tem igual na excelência de ter com o Pai Celeste um Filhinho em comum.
Nestas palavras, portanto, está contida toda a honra de Maria. Ninguém poderia
pregar em seu louvor coisas mais magníficas, mesmo que possuísse tantas línguas
quantas são na terra as flores e folhas nos campos, nos céus as estrelas e no
mar os grãos de areia” (Vitemberga, IV-9, pág. 85).
05 - SAGRADA TRADIÇÃO
Por Carlos
J. Magliano Neto
Antes de entrar nas minhas observações
sobre seu trabalho, vale lembrar que para nós, católicos, a Bíblia não é a
única fonte e regra de fé. Ela o é também, ao lado da Sagrada Tradição. Afinal,
“Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso
que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos” (Jo 21,25). Com este
versículo, São João nos faz perceber que a mensagem evangélica não foi passada
para o papel na sua totalidade. A própria Bíblia afirma que existiam duas
maneiras de ensinar o povo: uma escrita e outra falada (cf. 2ª Ts 2,15). Sendo
assim, de tudo o que foi pregado, uma parte foi escrita nas Páginas Sagradas e
o que não foi escrito é chamado de Sagrada Tradição e “esta Tradição, que se
origina dos apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo”
(Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática De Fide Catholica, 4). Por outro
lado, a própria Bíblia nunca diz que ela é a única regra de fé, mas indica que
a verdade plena está “na casa de Deus, que é a IGREJA do Deus vivo, COLUNA E
SUSTENTÁCULO DA VERDADE” (1ª Tm 3,15). É a Igreja que contém a verdade total,
pois se baseia em duas fontes de fé: a escrita e a de viva voz. Jesus nunca
distribuiu Bíblia, mas Ele fundou uma Igreja e a esta Igreja deu autoridade de
pregar em seu nome (cf. Lc 10,16).
“As afirmações
dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas
riquezas entram na prática e na vida da Igreja que acredita e ora. Esta mesma
Tradição mostra à Igreja quais são exatamente todos os Livros Sagrados (o
cânone da Bíblia) e faz compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma
Sagrada Escritura e torna-a operante sem cessar. Assim Deus, que outrora falou,
continua sempre a falar com a Esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo,
pelo qual ressoa a voz viva do Evangelho na Igreja e, por ela, no mundo,
introduz os crentes na verdade plena e faz que a palavra de Cristo neles habite
em toda a sua riqueza (cf. Cl 3,16)” (Concílio Vaticano II, Constituição
Dogmática Dei Verbum, 8).
Se a Bíblia
fosse a única fonte de fé, apenas a sua leitura seria o suficiente para
compreendermos toda a mensagem divina, mas não é isso que acontece. Lembre o
caso do eunuco que não compreendia o que estava lendo na Bíblia e precisava de
uma explicação oral, precisava do apoio da Tradição: “Filipe correu, ouviu o eunuco
ler o profeta Isaías, e perguntou: ‘Você entende o que está lendo?’ O eunuco
respondeu: ‘Como posso entender, se ninguém me explica?’” (At 8,30-31). É como
disse Santo Agostinho, Doutor da Igreja: “Eu não creria no Evangelho, se a isto
não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (Catecismo da Igreja Católica,
§119).
Tendo isso em mente, vamos à análise de
alguns pontos interessantes do seu trabalho:
06 - AGRACIADA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“... esta
saudação do anjo colocou Maria na posição de um mortal comum, e jamais em uma
posição de privilégio, pois ‘graça’ significa ‘favor, benefício, perdão,...’.
Biblicamente, todos nós que recebemos a Jesus como Salvador, recebemos sua
graça. Somos, portanto, agraciados e isso não nos faz maiores do que
ninguém”
(pág. 16)
Parece-me pastor
que houve uma falta de esclarecimento na significação da “graça de Deus”.
Enquanto cristão, discípulo d’Aquele que trouxe a graça (cf. Jo 1,17) eu não
entendo que um favor, um benefício ou um perdão de Deus é algo comum, algo que
nos coloque na magra posição de um mortal qualquer. Ao contrário pastor, uma
graça de Deus significa vitória, libertação, salvação como nos ensina a Sagrada
Escritura: “O pecado não os dominará nunca mais, porque vocês já não estão
debaixo da Lei, mas debaixo da graça” (Rm 6,14). Considero-me a pessoa mais
feliz do mundo, a mais realizada, quando recebo de Deus uma graça, um favor. O
recebimento de uma graça me mostra como estou unido ao meu Senhor Jesus (cf. Jo
15,7). E é de se notar que Maria não é chamada pelo anjo de agraciada porque
ela era a Mãe do Salvador; ela ainda não estava grávida e nem havia dado o seu
“fiat”, o seu sim. Mas o anjo assim a chamou, pois ela sempre fora cheia de
graça e sempre o Senhor esteve com ela (cf. Lc 1,28). Inclusive, na língua
original do Evangelho de Lucas, o grego, o anjo a chama de κεχαριτωμένη (agraciada –
lê-se kerraritooménee), que na gramática grega é um particípio perfeito passivo,
que demonstra uma ação do passado que continua acontecendo, ou seja, Maria
sempre foi agraciada, tanto no passado, antes da revelação, como é também agora
e sempre será.
Com certeza
pastor, o anjo não “colocou Maria na posição de um mortal comum”, mas a
confirmou como privilegiada serva do Senhor como o senhor mesmo, em seguida,
afirma na pág 21: “É verdade que ser mãe da humanidade de Cristo é, por si só,
um privilégio indescritível”.
“O Todo-Poderoso
realizou grandes obras em meu favor: seu nome é santo” (Lc 1,49).
07 - BENDITA ENTRE AS MULHERES
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Entre todas as mulheres de seu tempo, ela
foi abençoada e louvada” (pág. 16)
Não entendo
porquê os protestantes (esta não foi a primeira vez que vi isso) reduzem a
beatitude de Maria a apenas diante das mulheres de seu tempo. Ainda fazem
questão de afirmar que “Maria não foi bendita entre todas as mulheres, mas
apenas entre as mulheres”. Não sei porque isso, visto que Maria fez uma grande
profecia: “De agora por diante todas as gerações me proclamarão bem aventurada”
(Lc 1,48). Maria não é bendita somente diante daquela geração, mas diante de
“todas as gerações”.
Apesar de o
senhor ter tentado reduzir a beatitude de Maria apenas às “mulheres de seu
tempo”, na página 21 encontrei uma frase belíssima sua, que parece vir corrigir
esse pensamento:
“Por isso,
devemos como o anjo (Lc 1:28), honrá-la e reconhecê-la como alguém feliz, bem
aventurada entre todas as mulheres”.
Louvado seja Deus
e honrada seja Maria!
08 - BEM-AVENTURADA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Na própria Bíblia, houve um caso notável de
alguém que acreditou ser Maria superior a todas as outras mulheres. O equívoco
não foi adiante, porque o comentário foi feito ao próprio Jesus, que
imediatamente colocou as coisas em seus devidos lugares. ‘E aconteceu que
dizendo ele estas coisas, uma mulher entre a multidão, levantando a voz, lhe
disse: ‘Bem aventurado o ventre que te trouxe e o peito em que mamaste’. Mas
ele disse: ‘Antes, bem aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam’
(Lc 11:27,28)”
(pág. 17)
Pareceu-me uma
contradição: primeiramente o senhor diz que “Bem aventurada” não é um título
extraordinário e que este termo não “faria Maria maior que outra pessoa” (pág.
16). Entretanto, no comentário sobre o episódio de Lc 11,27-28, assim está:
“Uma
mulher dentre a multidão que ali estava, impõe sua voz, enaltecendo Maria acima
das expectativas de Jesus e das pretensões bíblicas” (pág. 17)
Como assim
“acima das expectativas” se a mulher apenas disse: “Bem aventurado”? Por que é
que o senhor interpreta o mesmo termo “bem-aventurado(a)” com dois sentidos tão
diferentes? Com uma interpretação para cada ocasião?
Mas isso não é o
principal. Vamos ao conhecimento da Igreja sobre essa perícope: “Ora, tal
motivo de exaltação (que Jesus fez) se aplica eminentemente a Maria Santíssima,
que, sem dúvida, recebeu a graça de se tornar Mãe do Verbo encarnado, porque
primeiramente se mostrou em tudo fiel serva do Senhor; diz Santo Agostinho:
‘Mais feliz é Maria por ter vivido inteiramente a fé do Messias do que por ter
concebido a carne do Messias’(Ed. Migne Lat. 40,398). À Luz deste princípio,
entendam-se as palavras de Jesus: o Senhor quer erguer a estima a Maria sobre o
aspecto mais digno e rico que a Mãe de Deus possa apresentar à consideração dos
cristãos” (D. Estevão Bettencourt, OSB, Curso sobre parábolas e páginas
difíceis dos Evangelhos, mód.10 pág.182). Jesus reponde que a verdadeira
felicidade consiste em ouvir a Palavra de Deus e observá-la. Logicamente não
excluiu sua Mãe, mas mostra que a verdadeira superioridade dela está no fato de
ter sido uma mulher de fé: “Bem aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45); “E
sua mãe conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51).
A honra à Maria deve ser dada primeiramente por
causa de sua fé e depois por causa da gestação divina. Afinal, ela só ficou
grávida do Senhor porque acreditou. Quando a Igreja nos põe Maria como exemplo
a ser imitado, claro que não é o exemplo de ser Mãe do Filho de Deus que
deveremos imitar (pois isso nos será impossível!), mas é o exemplo da fé, da
confiança em Deus que a jovem Maria tinha. E é isso que o Senhor quer
demonstrar. Perceba que Ele não disse
que Maria não era bem-aventurada, mas disse que antes, bem-aventurados são os
que ouvem a Palavra de Deus e a guardam. Maria é bem aventurada duas vezes: primeiro
porque acreditou (cf. Lc 1,45), segundo porque deu à luz o Filho de Deus (cf.
Lc 11,27).
“O nó da
desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva
ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé” (Santo Irineu,
Catecismo da Igreja Católica, § 494).
09 - MARIA
COMO MÃE DE DEUS
Por Carlos
J. Magliano Neto
“É
possível que a idéia em si não seja de todo um equívoco; porém as conseqüências
desta confissão, quando levadas a extremo, podem ser devastadoras, não apenas
pela forma de ver Maria, mas também pela visão distorcida que se terá de
Jesus”
(pág 19)
Pastor, tudo
levado a extremo pode ser devastador. Tudo o que é em demasia, por melhor que
seja, passa a não ser bom, pois leva à ruína. Exemplo: ir à igreja é bom, é
ótimo. Só que se uma pessoa não tiver outra ocupação, e viver na igreja dia
após dia, hora após hora, isso não fará bem a ela, a levará ao fanatismo que
não é nada bom. Do mesmo modo como comer é bom, mas se alguém levar isso ao
extremo, não fará bem, ao contrário, vai passar mal. Veja a sugestão de São
Paulo: “Não continues a beber somente água; toma um pouco de vinho por causa de
teu estômago...” (1ª Tm 5,23). Evidente-mente São Paulo recomenda o uso do vinho
sem exagero, pois o vinho é bom, mas se levado a extremo pode-se tornar um mal:
o alcoolismo.
Dei estes exemplos, porque não se pode,
por causa de possíveis abusos, negar o que é verdadeiro. O senhor mesmo
concorda que esta idéia em si não seja de todo um equívoco, então por que
negá-la? Se ficarmos mutilando a Verdade por medo de que alguém a levará para
um caminho ruim, deveremos então apagar grande parte dos ensinamentos de
Cristo, como este: “Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o
fora! É melhor perder um membro, do que seu corpo todo ser jogado no inferno”
(Mt 5,29). Vamos sumir com este também: “Se alguém vem a mim e não odeia seu
próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode
ser meu discípulo” (Lc 14,26). São ensinamentos do Filho de Deus, mas, se
levados a extremo, serão também devastadores.
10 - FILHO
DE DEUS E FILHO DO HOMEM
Por Carlos
J. Magliano Neto
Ainda dentro do
tema Mãe de Deus, devo lhe pedir licença, pois acho que o senhor não entendeu
muito bem essa questão. Primeiro é dito assim:
“Considerando que Jesus é Deus, e ainda, que
nasceu de Maria, penso ser óbvio dizer que Maria é mãe de Deus”
(pág. 19)
E ainda:
“O
termo grego ‘meter ton Iesous’ (mãe de Jesus) é usado na Bíblia algumas vezes,
o que significaria dizer que no sentido humano, Maria é de fato a mãe de Deus.
Foi ela quem gerou o Messias, quem o carregou por nove meses, quem o amamentou
e cuidou dele até a idade adulta. Seria uma discrepância afirmar que, neste
sentido, ela não é a mãe de Deus” (págs. 19 e
20)
O curioso vem
agora:
“Deus
não tem mãe; se tivesse, deixaria de ser Deus. (...) Maria é mãe do Deus homem
e nada mais” (pág. 21)
Creio que aqui seja necessário uma detalhada explicação.
Maria é Mãe de
Deus sim ou não? Não entendi a que conclusão chegou.
Para assimilar
melhor esse Mistério nos é necessário saber mais sobre a Encarnação do Filho de
Deus no ventre de Maria. Veja, antes de tudo precisamos saber a diferença
teológica entre as duas palavras NATUREZA e PESSOA. A palavra NATUREZA se
refere a tudo que seja próprio da essência de um ser, a sua estrutura íntima
que o faz ser e agir tal como ele é e age. Exemplo: a natureza humana é a
racionalidade do homem, isto é, a sua capacidade de pensar. Daí então vem a sua
linguagem, sua maneira de agir e etc, ou seja, tudo aquilo necessário para que
alguém seja ser humano. A todos os homens é igual esta natureza, pois essas
características lhes são próprias. A criatura que tiver esta natureza racional
é ser humano.
Porém, apesar de
todos os seres humanos compartilharem da mesma natureza, eles não compartilham
da mesma personalidade. E é aí que entra a palavra PESSOA, que se refere à
personalidade, à individualidade e à particularidade que cada um tem e que é
próprio seu, somente seu. É o “eu” de cada um, é o “ser” de cada um. Pastor, eu
tenho a mesma natureza que a sua, mas a nossa pessoa é diferente.
Entendido isso
fica mais fácil percebermos o Mistério da Encarnação de Jesus: Ele, sendo
“Filho de Deus” (Mt 27,54), Eterno (sem começo e sem fim) igual ao Pai (Ap
22,13), tem a sua Natureza Divina, que é compartilhada pelas Três Pessoas da
Santíssima Trindade. O Filho possui uma Natureza com características próprias
da Divindade, que o faz ser Deus (cf. Fl 2,6). Junto com essa Natureza, Ele
possui a Pessoa, sua personalidade particular que é diferente das demais, que
são as características próprias dAquele que é o Filho e que só Ele tem. É o Seu
Eu particular, a Sua Pessoa Divina.
Em um
determinado momento da História (cf. Gl 4,4), essa Pessoa Divina com Natureza
Divina, vem ao mundo e assim, no ventre de Maria, assume também a Natureza
Humana. Jesus passa a ser então uma Pessoa com dois modos de agir, com duas
naturezas: uma Divina (que Ele sempre teve) e uma Humana (que Ele assumiu por
causa da Encarnação). No entanto, Este que possui as duas naturezas é uma
Pessoa só, a Divina, a Pessoa Eterna do Filho de Deus (cf. Jo 17,5). O Eu de
Jesus é Divino (cf. Cl 2,9) e a maneira de agir é Divina (cf. Mc 2,5-12) e
Humana (cf. Mt 26,39), pois possui o que é característico de cada uma das
naturezas. Por conseguinte, a Pessoa que nasceu de Maria é a Pessoa que sempre
existiu: a Pessoa do Filho de Deus, Deus igual ao Pai (cf. Jo 1,1.14). Deste
modo, é perfeitamente óbvio que Maria gerou a Natureza Humana, mas como ninguém
é mãe só da natureza, mas sim da totalidade do ser, Maria é Mãe de Deus, pois a
Pessoa que assumiu a natureza humana gerada em seu ventre é a Pessoa de Deus
Filho.
O anjo anunciou
à Maria: “...o Santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). As
palavras do anjo confirmam a maternidade divina de Maria, pois chamando o Filho
de Maria de Filho de Deus, o anjo está dizendo que o Filho que nasceu de Maria
é “igual a Deus” (Jo 5,18).
Diante disso,
não há como entender o seu argumento de que ela é Mãe de Deus “no sentido
humano”. Se ela é Mãe no sentido humano, não é Mãe de Deus, mas Mãe do homem
Jesus somente, e assim estaríamos fazendo uma separação entre dois Jesus
diferentes: uma Personalidade de Jesus Humano e uma outra Personalidade de
Jesus Divino, o que não existe.
Mais confuso
ainda é dizer que “Maria é mãe do Deus homem e nada mais”. Como assim Deus
homem e nada mais? Nada mais mesmo, pois “Deus homem” já é a totalidade do
Senhor Jesus, não existe mais e nem menos. Como já visto, não se divide a
Pessoa de Jesus em parcela humana e parcela divina. “O acontecimento único e
totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus
Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado da mescla
confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem
permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem” (Catecismo da Igreja Católica, §464). Esta é a voz perene da Igreja
ensinando que Jesus é a Pessoa Eterna Divinal que assumiu a natureza humana em
um determinado tempo. A Pessoa do Filho de Deus é a mesma de sempre,
acrescentada a Natureza Humana (cf. Rm 9,5), por isso Ele é indivisível!
Deste modo, o
Concílio de Éfeso no ano 431 proclamou que Maria se tornou de verdade a Mãe de
Deus, não porque dela nasceu a Divindade, mas porque nela Deus “se fez homem e
habitou entre nós” (Jo 1,14). O Filho nascido da Mãe Maria é o mesmo Filho
Eterno do Pai que é Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo, e é conhecido como
“Filho de Deus” (At 9,20) por ser ter natureza divina e “Filho do Homem” (Mt
17,22) por ter natureza humana.
“Aquele que fez
todos os seres se tornou filho de sua criatura” (São Leão Magno, Doutor da
Igreja, Na Escola dos Santos Doutores, 1454).
11 - DISCRETAMENTE
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Além
disso, a igreja católica ensina, mesmo que discretamente, ser Maria Mãe de Deus
em todos os sentidos”
(pág. 20)
É lamentável o
seu argumento de que “a igreja católica ensina, mesmo que discretamente” que
Maria é Mãe de Deus no sentido de que Deus só começou a existir a partir do
momento em que foi concebido por Maria. A Igreja jamais ensinou isso. Mas, para
“confirmar” o seu argumento, o senhor cita uma frase “da Internet”:
“Maria não é a mãe apenas da carne humana,
mas de toda a realidade de seu filho, que tinha uma só pessoa (a Divina)”
(pág. 20)
Se não houver má
vontade na interpretação desta frase, será percebido que ela comporta toda a
verdade cristã explicada detalhadamente acima. É só reler tudo o que eu escrevi
e verá se a frase tem ou não razão. Repetindo: não se divide o Senhor ao meio,
a Pessoa é única. Todavia, desconheço qualquer tipo de ensinamento da Igreja
mesmo que discreto nessa linha. A Igreja é bastante clara nos seus
ensinamentos. O que estou escrevendo aqui, não é conclusão minha, mas é
ensinamento oficial da Igreja e isso vem mostrar que a Igreja não ensina nem
discretamente nem diretamente essa doutrina que o senhor levantou. Ao
contrário, o título “Mãe de Deus” vem se impor perante as heresias que
colocavam em dúvida a Deidade de Nosso Senhor. A Igreja deu este título à Maria
para confirmar cada vez mais a Divindade do seu Filho, pois Maria é Mãe do “menino...
sobre seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’,
‘Deus Forte’, ‘Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’” (Is 9,5).
Sei que, como o
senhor já havia me dito pessoalmente, as decisões conciliares da Igreja não
representam nada para os protestantes. Contudo, não estou querendo provar nada
aqui através dos Concílios, mas apenas mostrar o que de fato é a opinião
oficial da Igreja, que tão facilmente é mal interpretada.
E veja: mais
difícil de entender que Deus teve uma Mãe, ainda é entender que Deus se fez
homem, e mais do que isso, que morreu numa cruz. E, no entanto, a fé cristã
sempre professou isso sem medo de que fosse levado a extremo ou que, por má
interpretação, se diminuísse a grandeza de Deus. O que para “os judeus é escândalo,
para os pagãos é loucura” (1ª Cor 1,23), para os cristãos sempre foi Verdade de
fé.
Na página 20 o
senhor afirma com razão que a palavra grega Θεοτόκος (lê-se
Theotókos), ou seja, Mãe de Deus, não está na Bíblia. Contudo se esquece que há
algo muito similar. Isabel, cheia do Espírito Santo por ter ouvido a saudação
da Mãe do Salvador (cf. Lc 1,41) assim exclamou: “Como posso merecer que a mãe
do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1,43). Senhor, em grego Κύριος (lê-se Kírios)
é usado na Bíblia como título de Deus e, seguramente, o Senhor de Isabel é o
Senhor Deus e não o Senhor Humano. Ou será que Isabel chamou de Senhor somente
a parte humana de Jesus? Certamente
Isabel não fez essa divisão na Pessoa do Senhor e, portanto Isabel falou: Mãe
do meu Deus (cf. At 10,36 compare com Dt 10,17).
“Não podemos
reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão
imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus”
(Calvino, grande nome do protestantismo, Comm Sur I’Harm Evang. 20).
12 - A VIRGINDADE PERPÉTUA
Por Carlos
J. Magliano Neto
Nenhum cristão
nega que Jesus tenha nascido verdadeiramente de uma virgem. No desígnio de Deus
isso era necessário, pois “a virgindade de Maria manifesta a iniciativa
absoluta de Deus na Encarnação” e assim, “Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua
concepção virginal o novo nascimento dos filhos de adoção no Espírito Santo pela
fé... A participação na vida divina não vem ‘do sangue, nem de uma vontade da
carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus’ (Jo 1,13)... O sentido
esponsal da vocação humana em relação a Deus (cf. 2ª Cor 11,2) é realizado
perfeitamente na maternidade virginal de Maria” (cf. Catecis-mo da Igreja
Católica, § 503 e 505).
A dúvida, porém,
fica com relação à manutenção da virgindade após o nascimento de Jesus. Os
católicos crêem que Maria a preservou, já os protestantes têm suas objeções. É
o que vamos ver a partir de agora.
No seu
comentário sobre a profecia de Isaías 7:14, onde o Profeta anuncia que “uma
virgem conceberá e dará à luz um filho” assim está escrito:
“Na
leitura que fazemos do texto, fica claro que o nascimento virginal de Jesus
dizia respeito apenas ao fato de que homem algum teria participação em sua
concepção. Depois que a virgem concebesse, a profecia teria sido cumprida e o
papel de tal virgem teria terminado”
(pág. 23)
Será mesmo que o
“papel de tal virgem teria terminado” com o nascimento do seu Filho? Maria não
tinha mais nada para fazer após o nascimento de Jesus? Logo penso que não. Na
Bíblia nada está escrito por acaso, tudo tem uma intenção. É imprescindível descobrirmos
que a missão de Maria continua após o parto. É só ler as Sagradas Páginas e
ver, por exemplo, a profecia do velho Simeão: “e a ti Maria, uma espada
transpassará tua alma!” (Lc 2,35). Não é à toa também que Maria aparece em
destaque na festa das Bodas de Caná (cf. Jo 2,1) participando intensivamente do
primeiro milagre de seu Filho, intercedendo pela família (cf. Jo 2,3) e
evangelizando os serventes (cf. Jo 2,5). Depois Maria aparece aos pés da cruz,
“de pé” (Jo 19,25), dando testemunho de sua fé, testemunho daquela que
“conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51). E por fim, lá está Maria
no início da Igreja, como mulher de oração (cf. At 1,14), como primeira cristã,
modelo de fé e de vida, vida de quem se fez “serva do Senhor” (Lc 1,38). Certamente
a missão da “Mulher” (Jo 2,4), jamais terminou no dia do nascimento do
Salvador. A Mulher Mãe do Salvador, pensada por Deus desde o início do mundo
(cf. Gn 3,15) teria uma missão que não se prende ao tempo, mas salta para fora
dele e atinge todas as gerações, tornando Maria “na cristandade inteira, o mais
nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante, a mais
nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com
sabedoria e santidade” (Martinho Lutero, Deutsche Schriften 14,250).
13 - A MISSÃO ÍMPAR DO JUSTO JOSÉ
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Se desejamos ser honestos, tal possibilidade (de virgindade de
Maria), ao invés de apontar para a santidade de José, estaria questionando sua
masculinidade ou fidelidade. (...) ‘Os sacerdotes devem desistir da idéia da
virgindade perpétua de Maria, ou desistir de que José e Maria representam a
família humana ideal’” (págs. 23 e
33)
Se analisarmos o
celibato e a virgindade com uma visão depreciativa, deveremos também questionar
a masculinidade de Jeremias (cf. Jr 16,1), do Apóstolo Paulo (cf. 1º Cor 7,8) e
quem sabe até do próprio Jesus que, além de não se casar, pregou o celibato:
“Há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver
capacidade para compreender, compreenda!” (Mt 19,11).
Mas poderia se argumentar: Jeremias, São
Paulo e Jesus foram celibatários, mas a diferença está em que José casou-se,
eles não. No entanto, deveremos perceber que a missão deles era uma, a de José
outra.
Adentremos um
pouco na história de São José: “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua
mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se
grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1,18).
Primeiramente vemos que Maria já era comprometida em casamento com José.
Uma espécie de noivado, que no costume judaico era um compromisso muito real,
onde o noivo já podia ser chamado de marido e só poderia terminá-lo por um
repúdio, uma denúncia pública. José, ao saber que Maria estava grávida, ficou
perdido, sem saber o que fazer. Assim, “José, seu esposo, sendo justo e não
querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo” (Mt 1,19).
José caminhava ora duvidando, ora vendo a santidade da missão que sua noiva
tinha recebido; estava entre admitir um filho que não era seu e ter coragem de
assumir uma missão tão nobre. Não queria separar-se dela publicamente, pois
isso poderia levá-la ao apedrejamento (cf. Dt 22,20-21). Sem ainda ter definido
sua decisão, “eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo:
‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi
gerado vem do Espírito Santo’” (Mt 1,20). Pronto: José assim tem a certeza da
grandeza da missão de sua mulher e percebe aí também a sua missão: ser protetor
e sustento daquela obra divina. “José, ao despertar do sono, agiu conforme o
Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher” (Mt 1,24).
Não há uma só
frase dita por São José nos relatos evangélicos, entretanto, ele agiu conforme
o Anjo do Senhor lhe ordenara demonstrando assim “uma disponibilidade de
vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe
pedia por meio do seu mensageiro” (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica
Redemptoris Custos, 4). Deus assume assim Maria como esposa e o seu noivo José
apenas é orientado a aceitar aquilo como obra do Espírito Santo. Ele entende, e
aceita. (cf. Mt 1,21.24).
Assim, é
impossível compactuar com a idéia de que a Família de Nazaré foi imperfeita
porque José teve “uma mulher a quem não possuiu” (pág. 23). “Na Liturgia, Maria
é celebrada como tendo estado ‘unida a José, homem justo, por um vínculo de
amor esponsal e virginal’. Trata-se, de fato, de dois amores que, conjuntamente,
representam o mistério da Igreja, virgem e esposa, a qual tem no matrimônio de
Maria e José o seu símbolo. ‘A virgindade e o celibato por amor ao Reino de
Deus não só não se contrapõe à dignidade do matrimônio, mas pressupõe-na e
confirmam-na. O matrimônio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de
viver o único Mistério da Aliança de Deus com o seu povo’, que é comunhão de
amor entre Deus e os homens” (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica
Redemptoris Custos, 20). A Família de Nazaré é, portanto, família humana ideal,
pela sua santidade e intimidade com Deus. No entanto, não é uma família normal,
pois nada nela foi normal, mas tudo foi extraordinário. Tão extraordinário que
possui mistérios que nós ficaremos sempre muito aquém da sua magnitude.
Repetindo a frase de Jesus: “Quem tiver capacidade para compreender,
compreenda!”
14 - REALIDADE DIVINA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“... Maria deixou de ser virgem; afinal Jesus não nasceu de
cesariana e, certamente, houve uma dilatação natural para a saída do bebê”
(pág. 24)
“O
aprofundamento da sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a
virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito
homem. Com efeito, o nascimento de Cristo ‘não lhe violou, mas sagrou a
integridade virginal’ de sua mãe. A liturgia da Igreja celebra Maria como
‘Aeiparthenos’, ‘sempre virgem’” (Catecismo da Igreja Católica, § 499). Esta é
a Verdade Católica que é questão de fé; não tem como ficar provando e
discutindo realidades que são divinas. São Leão Magno, Doutor da Igreja,
reflete assim: “Ninguém se aproxima tanto do conhecimento da verdade como quem
compreende que, tratando-se de realidades divinas, mesmo se já progrediu
bastante, resta-lhe sempre algo a aprender” (Na Escola dos Santos Doutores,
1464).
Seguramente
acredito na Palavra de Deus que me diz: “Eis que sou Iahweh, o Deus de todas as
criaturas, existe algo impossível para mim?” (Jr 32,27), e assim, do mesmo modo
como a luz é capaz de atravessar o vidro sem o quebrar, a “Luz do mundo” (Jo
8,12) acompanha o seu projeto, confirmando o sinal milagroso da virgem que
concebeu e deu à luz um filho com o nome de Emanuel, Deus Conosco (cf. Is
7,14).
“O sentido deste
acontecimento só é acessível à fé, que o vê no ‘nexo que interliga os mistérios
entre si’ no conjunto dos mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até à sua
Páscoa. Santo Inácio de Antioquia já dá testemunho deste nexo: ‘O príncipe
deste mundo (o demônio) ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma
forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no
silêncio de Deus’” (Catecismo da Igreja Católica, § 498).
15 - DOUTRINA FUNDAMENTAL
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Se esta fosse uma doutrina
fundamental,como exigem al-guns, certamente estaria bem explícita na
Bíblia” (pág. 25)
A Virgindade de
Maria é uma Doutrina fundamental sim, mas não está explicitamente na Bíblia
porque nem tudo está na Bíblia, como disse no início.
Há Doutrinas
muito mais importantes do que esta e que também não estão explicitamente
escritas. Veja por exemplo a Doutrina da Santíssima Trindade. Quer Doutrina
mais importante do que esta? No entanto, a encontramos na Bíblia somente após
um longo período de detalhado estudo. E esta é uma Doutrina muito mais
fundamental do que a Virgindade Perpétua.
16 - EVIDÊNCIAS BÍBLICAS
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A
verdade é que não existe nenhuma evidência bíblica a favor desta doutrina;
tanto é assim, que os escritores católicos não apresentam fundamentação alguma
em favor deste fato. Limitam-se apenas a contra-argumentar sobre os textos
bíblicos que apontam para o lado oposto”
(pág. 25)
Podemos começar
aí um jogo de empurra-empurra. O senhor diz que os católicos apenas
contra-argumentam e eu posso dizer que quem contra-argumenta são vocês. Mas
tudo bem, isso aí não levará a nada. Se o problema é evidência bíblica, vamos a
uma: peguemos a genealogia de Cristo em Mt 1,1-16: “1Livro de origem de Jesus
Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. (...) 3Jacó foi o pai de Judá e de seus
irmãos. (...) 11Josias foi o pai de Jeconias e de seus irmãos, no tempo do
exílio na Babilônia. (...) 16Jacó foi o pai de José, o esposo de Maria, da qual
nasceu Jesus, que é chamado o Messias”. Algumas vezes aparece o nome do pai, do
filho e de seus irmãos. No momento em que fala de Jesus, não comenta nada sobre
José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus e seus irmãos, mas apenas “José,
o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus”. Esse é mais um texto que se pode
contra-argumentar infinitamente, mas eu digo que os autores bíblicos tiveram
todas as chances para deixar claro que Maria teve outros filhos, mas eles não
disseram.
17 - O
HEBRAICO TRADUZIDO PARA O GREGO
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A
palavra grega traduzida como irmãos no referido texto (Mc 6:3) foi ‘adelphós’,
que significa literalmente ‘nascidos do mesmo útero’, o que destrói qualquer
argumentação racional de que Maria não gerou outros filhos e que os referidos
eram primos ao invés de irmãos”
(pág. 27)
Carecemos de
muita informação sobre o uso das palavras “primos” e “irmãos” no Novo
Testamento. Vamos a um detalhado estudo sobre as línguas da Bíblia:
A Bíblia começou
a ser escrita mais de 1000 anos antes de Cristo na língua hebraica, pois esta
era a língua falada na Palestina até o povo de Deus sofrer o cativeiro de
cinqüenta anos na Babilônia em 586 a.C. Após o cativeiro, parte do povo que
voltou para a sua terra começou a falar o aramaico; a outra parte de judeus
imigrou para o Egito onde começou a falar o grego. Mas a Bíblia continuou a ser
lida e copiada em hebraico, sua língua original. Por volta do ano 300 antes de
Cristo, o grego havia se tornado a nova língua do comércio e invadiu o mundo
daquele tempo. Então, por volta do ano 250 antes de Cristo, os judeus que
estavam no Egito desde o fim do cativeiro já não sabiam mais o hebraico e nem o
aramaico, tendo dificuldades para ler a Sagrada Escritura. Para resolver a
questão, um grupo de setenta e dois sábios judeus (seis de cada tribo de
Israel) se reuniu em Alexandria (Egito) e pegaram todo o Texto Sagrado escrito
na esquecida língua hebraica (com partes em aramaico) e o traduziram para o
grego, formando assim a chamada Bíblia dos Setenta ou Septuaginta. Esta tradução grega tornou-se o referencial dos
Apóstolos e dos primeiros cristãos na confecção do Novo Testamento que também
foi escrito em grego.
Entendido isso,
vamos agora saber o que houve com a palavra irmão ao ser traduzida do hebraico
(língua original) para o grego (língua agora mais usada).
Na língua
hebraica a palavra irmão se escreve ’āh
e significa filhos dos mesmos pais, mas poderia significar também outros
parentes, porque não existe variedade de palavras hebraicas para designar a
parentela. Quando se traduziu a Sagrada Escritura para o grego, o termo grego
usado para traduzir ’āh (irmão
ou parente em hebraico) foi αδέλφος (lê-se
adelphós), que é irmão em grego e significa exatamente: “nascidos do mesmo
útero”. Com esta tradução, αδέλφος recebeu também
um significado mais amplo do que apenas nascidos do mesmo útero, pois αδέλφος passou na
tradução a ser ’āh (irmão ou
parente).
Precisamos agora
investigar até onde os semitas utilizavam αδέλφος para podermos estabelecer o grau de parentesco desses αδέλφοι (irmãos – lê-se adelphoi)
com Jesus.
No grego se
designa com essa palavra especificamente o irmão carnal, ou pelo menos o meio
irmão. Mas existem exceções como um antigo documento chamado Marco Aurélio
1,14,1; assim como numerosos textos de papiros egípcios, onde, da mesma forma
como na tradução grega do Antigo Testamento, os filhos dos irmãos (sobrinhos)
ou mesmo primos são chamados de αδέλφος, ou seja,
irmão. Veja o exemplo de I Crônicas 23,21-22: “Filhos de Mooli: Eleazar e Cis.
Eleazar morreu sem ter filhos, mas somente filhas, que se casaram com os filhos
de Cis, seus αδέλφοι (irmãos)”, o
texto deveria ser: “...se casaram com os filhos de Cis, seus primos”. Leia também Gn 13,8; Gn 31,22-23; Ex 2,11; Jz 9,
1-3; I Cr 15,1-5; I Cr 23,21-22; II Cr 36,10.
Apesar dos
autores do Novo Testamento terem tido a possibilidade de usar termos
específicos existentes no grego para designar a parentela como ανεψιός (primo, lê-se anepsiós) ou συγγενης (parente, lê-se
sungenees), os utilizaram muito pouco. Isso por dois motivos: eles tiveram como
referência a tradução grega do Antigo Testamento e nesta tradução αδέλφος engloba toda a
parentela; e também tendo eles tido a pobre língua hebraica como língua
original, não se importavam muito com a exatidão dos termos da língua grega.
Isso notamos, por exemplo, quando São Paulo escreve em grego: “Em seguida, o
Senhor apareceu a mais de quinhentos αδέλφοι (irmãos) de uma
vez” (1ª Cor 15,6). Com certeza São Paulo não dizia que estes mais de
quinhentos irmãos eram nascidos do mesmo útero, mas sim usava αδέλφοι na sua
amplitude maior.
Para comparação
temos o fato de que a palavra portuguesa saudade não tem tradução em muitas línguas.
Esta palavra quer dizer exatamente lembrança triste do que ou de quem está
distante. Então vamos ao exemplo: como o inglês é uma das línguas onde não
existe o termo exato para designar saudade, se usam termos com outros
significados, mas que ganham uma amplitude para englobar saudade. Então se
alguém escrevendo em inglês quiser escrever saudade, esta pessoa utilizará
(entre outras) a palavra longing que primeiramente quer dizer: ânsia/desejo
intenso de algo inacessível no momento. Ao traduzir esse texto para o português
onde se procure ser fiel ao original (como foi o caso da Septuaginta) o
tradutor traduzirá longing com sua designação inicial, ou seja, ânsia/desejo,
apesar de existir na língua portuguesa o termo específico para designar
saudade. Deste modo, a tradução ânsia/desejo terá um alargamento onde se
englobará também saudade, do mesmo modo como αδέλφος passou a ter
outros significados na tradução grega e, daí, no costume semítico.
Assim percebemos
que nem sempre αδέλφος quer dizer
filhos do mesmo útero como foi proposto.
18 - MAIS
OBJEÇÕES
Por Carlos
J. Magliano Neto
O senhor cita um
argumento católico (que se não me engano foi retirado da primeira carta) onde
se comenta que a Bíblia jamais diz filhos de Maria, mas sempre irmãos de Jesus.
O argumento cita o trecho evangélico: “...E não se chama sua mãe Maria, e seus
irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13,55) e conclui: não eram filhos de
Maria. O senhor responde a esse argumento:
“A
organização da frase é esta porque seu personagem principal é Jesus e não
Maria. Além disso, o contexto nos mostra que ninguém desejava mostrar quem era
filho de quem; e sim, identificar os parentes de Jesus” (pág. 29)
Vou concordar
contigo. A intenção era identificar os parentes de Jesus, pois os seus
conterrâneos estavam “escandalizados” (Mt 13,57) com o que o Mestre estava
fazendo. Com sucesso o senhor mostrou que aí não caberia filhos de Maria por
causa do centro das atenções que era Jesus.
Vamos então
“tirar Jesus do jogo” e procurar um texto onde apareça apenas Maria com “seus
filhos” sem Jesus para “roubar a cena”.
Atos dos
Apóstolos 1,14 tem a resposta: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram
assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de
Jesus, e com os irmãos de Jesus”. É fácil percebermos: Jesus já não está mais
presente, pois já havia voltado para o Pai, e mesmo assim a narrativa diz
“irmãos de Jesus”, podendo agora tranqüilamente dizer: “Maria, mãe de Jesus,
com seus filhos”. Repito: os autores bíblicos tiveram todas as chances para
deixar claro que Maria teve outros filhos, mas eles não disseram.
19 - FILHOS DE MARIA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Porém,
para sermos decisivos na questão, usemos como base o salmo 69. Trata-se de um
salmo messiânico; ou seja, dirige-se profeticamente a Jesus. Possuímos várias
citações do Novo Testamento conectando este Salmo a Cristo. (...) Tendo isso em
mente, veja o que diz o verso 8: ‘Tenho me tornado um estranho para com meus
irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe’. Fica assim
estabelecido que as pessoas citadas no referido texto, ou seja, Tiago, José,
Simão e Judas, não eram apenas irmãos de Jesus em algum sentido, mas filhos
legítimos de Maria” (págs. 29 e 30)
Interessante sua
argumentação sobre o Salmo 69. A princípio parece perfeita a alegação de que
finalmente encontrou-se na Bíblia a expressão filhos de Maria e que ela está
num salmo messiânico. Mais um estudo cabe aqui.
Acredito que não
se deva tomar este salmo ao pé da letra e dizer que ele venha a provar por fim
que Maria teve outros filhos. Este salmo se aplica a Jesus sim, porém apenas
algumas de suas partes, não todas, e muito menos detalhes como este. Veja o
exemplo que está no versículo 6: “Ó Deus, tu conheces a minha ignorância, meus
crimes não são ocultos para ti”. Se dissermos, numa leitura fundamentalista,
que este salmo prova ponto por ponto da vida de Jesus, certamente então Jesus
teve ignorâncias e também pecou.
Já os versos 28
e 29 mostram o clamor do lamentador contra seus opositores e também confirmam
minha afirmação: “Acusa-os, crime por crime, não os declares inocentes.
Risca-os do livro dos vivos, e não sejam inscritos entre os justos!”. Ao que me
parece, no momento de sua maior angústia, assim disse o Senhor: “Pai,
perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23,34), o que é muito
diferente do que o salmo diz.
O salmo é
messiânico, pode-se aplicar ao Messias, porém não só a Ele, mas também a todo
servo sofredor comum.
20 - “EIS
AÍ O TEU FILHO!”
Por Carlos
J. Magliano Neto
Cena do
Evangelho de João 19,25-27: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe,
a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o
discípulo a quem amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois
disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’ E a partir dessa hora, o discípulo a
recebeu em sua casa”. Da leitura dessa perícope, a Igreja na sua sabedoria
milenar retira belíssimos ensinamentos. É o que vamos passar a ver.
Pela localização
do texto dentro do Evangelho se percebe que ele pretende trazer algo a mais do
que apenas um cuidado filial de Jesus para com sua Mãe. A perícope,
especialmente os versículos 26 e 27, se localiza na seqüência final onde Jesus
está cumprindo as profecias da Escritura, veja:
v. 24: “Disseram
entre si: ‘Não rasguemos a sua túnica, mas tiremos a sorte, para ver com quem
ficará’. Isso a fim de se cumprir a Escritura que diz: ‘repartiram entre si as
minhas roupas e sortearam minha veste’”
v. 26 e 27: “Jesus, então vendo sua mãe e, perto
dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao
discípulo: ‘Eis a tua mãe!’”
v. 28: “Depois,
sabendo Jesus que tudo estava consumado, disse, para que se cumprisse a
Escritura até o fim: ‘Tenho sede!’”
v. 36 e 37:
“Pois isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura: ‘Nenhum osso lhe será
quebrado’. E uma outra Escritura diz ainda: ‘Olharão para aquele que
transpassaram’
Compreendendo o
contexto, a Igreja nunca duvidou em dizer que Jesus apresenta aí a Mulher
prometida por Deus desde o peca-do de Adão (cf. Gn 3,15), fazendo de Maria a
nova Eva, apresen-tada como Mãe daquele a quem Jesus ama: o fiel redimido pelo
seu sangue. É interessante salientar que João no seu Evangelho parece
reescrever os primeiros capítulos de Gênesis (a narração da criação do mundo).
Três importantes elementos, pelo menos, são comuns entre os dois. João começa o
Evangelho da mesma forma como se inicia Gênesis: “No princípio...” (Jo 1,1,
compare com Gn 1,1). João então
discorre por toda a vida de Jesus, chamando a Maria sempre de “Mulher” (cf. Jo
2,4 e 19,26), da mesma forma como é chamada a mãe da descendência que venceria
o mal. E se o homem foi criado e posto num jardim (cf. Gn 2,8) e ali se iniciou
sua culpa (cf. Gn 3,1-13), também o sacrifício para a salvação da humanidade
começa (cf. Jo 18,1) e termina num jardim (cf. Jo 19,41). Tudo isso além do
pecado, que venceu na árvore do paraíso, mas na árvore da Cruz foi vencido (cf.
Oração Eucarística III, Missal p.482; pref. p. 656).
Mais do que
isso, a Igreja ainda vê nessa cena a Virgindade Perpétua de Maria, pois quem
passa a tomar conta de Maria na ausência de Jesus é João, e não os “seus
filhos”, o que seria o mais lógico. Acerca desse texto, o senhor comenta:
“Finalmente
podemos mostrar que Jesus entregou Maria aos cuidados de João porque tinha
preocupações espirituais com ela. Jesus desejava entregá-la aos cuidados de um
de seus seguidores, e seus irmãos ainda não tinham se convertido: ‘Porque nem
mesmo seus irmãos criam nele’ (Jo 7:5)”
(pág. 31)
O texto de João
7 citado pelo senhor, mostra-nos mais detalhes do que se pode perceber de uma
leitura superficial. Ele comenta sobre a falta de fé dos “irmãos de Jesus”.
Logicamente, se Jesus tivesse outros irmãos consangüíneos, estes seriam mais
novos, afinal Ele foi o primogênito (cf. Lc 2,7) e certamente seriam bem mais
novos, pois quando Jesus aparece já com doze anos, ainda não há nenhuma menção
sobre eles (cf. Lc 2,41-52). Pois bem, jamais na cultura semítica de 2000 anos
atrás, irmãos mais novos (e digamos, bem mais novos) teriam uma atitude de
superioridade diante do irmão mais velho como percebemos que os “irmãos” de
Jesus tiveram para com Ele em Jo 7,3-4: “Então os irmãos de Jesus disseram: ‘Tu
deves sair daqui e ir para a Judéia, para que também teus discípulos possam ver
as obras que fazes. Quem quer ter fama não faz nada às escondidas. Se fazes
essas obras, mostra-te ao mundo’”. Isso nos faz pensar que não poderiam ser
irmãos mais novos de Jesus, pois a cultura oriental não permite um diálogo
nesse nível de espontaneidade e autoridade por parte de irmãos mais novos.
21 - QUATRO CITAÇÕES
Por Carlos
J. Magliano Neto
Encerrando o
tema da Virgindade Perpétua, o senhor
coloca na página 32 quatro textos a fim de convencer o leitor de que Maria teve
outros filhos após o nascimento de Jesus. Vamos
analizá-los:
22 - NÚMERO UM
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Não
vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor” (Gl 1,19).
Certamente é
dúvida corrente: se os “irmãos de Jesus” não são irmãos consangüíneos, como
propõe a Igreja Católica, então quem são eles?
Peguemos mais
uma vez o texto de Mateus 13,55: “Ele não é o filho do carpinteiro? Não se
chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?”.
Analisaremos agora calmamente não só a Tiago, o irmão do Senhor, mas também a
José, Simão e Judas, também irmãos do Senhor.
A exegese atual
do Novo Testamento vê a presença de três personagens com o nome de Tiago. O
primeiro deles é TIAGO MAIOR, filho de Zebedeu e Salomé (cf. Mc 15,40, compare
com Mt 27,56) e irmão de João evangelista (cf. Mc 3,17). Este Tiago, juntamente
com seu irmão João e Pedro, formava o grupo de apóstolos mais íntimos de Jesus
(cf. Mt 17,1). Morreu como mártir por volta do ano 44 (cf. At 12,2).
O segundo é
TIAGO MENOR (título que na verdade pertence a Tiago, o irmão do Senhor [cf. Mc
15,40], a quem analisaremos logo abaixo com o título de Tiago Pequeno. Estes
dois em algumas interpretações são entendidos como sendo a mesma pessoa). Tiago
Menor é filho de Alfeu (cf. Mt 10,3). Na Bíblia seu nome aparece apenas na
listagem dos Apóstolos.
E o terceiro é
finalmente TIAGO, O IRMÃO DO SENHOR, que agora comumente se chama de Tiago
Pequeno. É filho de Clopas e uma outra Maria (cf. Jo 19,25, compare com Mc
15,40) e irmão de Joset (cf. Mt 27,56) que também é chamado de irmão do Senhor
no texto em Mt 13,55. Segundo Hegesipo, o mais antigo historiador da Igreja,
Clopas, seu pai, é irmão de São José (Eus. Hist. Eccl. 3,1.2). Sendo assim,
Clopas é tio de Jesus e conseqüentemente, seus filhos Tiago e José, são primos
de Jesus. Tiago, o irmão do Senhor, não era apóstolo, visto que ele mesmo não
se dá esse título em sua carta (cf. Tg 1,1) diferentemente de Pedro (cf. 1ª Pe 1,1)
e Paulo (cf. Tt 1,1). Em certa ocasião, Pedro, a quem Jesus colocou como líder
da Igreja (cf. Mt 16,18), precisou fugir de Jerusalém (cf. At 12,17) e assim,
Tiago, o irmão do Senhor, assume a igreja de Jerusalém, certamente por ser o
mais próximo a Jesus, pois era seu primo (cf. Gl 2,9). Segundo relatos
históricos, morreu apedrejado na Páscoa de 62. Sendo assim, este Tiago a quem
se chama de irmão do Senhor, nada mais é que primo de Jesus. Inclusive, como se
fala da morte de São José antes do início da vida pública de Jesus, Maria
Santíssima e seu Filho podem ter ser mudado para a casa de Clopas, tornando-se
assim uma só família.
O outro “irmão
do Senhor” chamado Judas provavelmente é o autor de Carta de Judas do Novo
Testamento, pois este também não era apóstolo: não se dá esse título (cf. Jd 1)
e se diferencia deles (cf. Jd 17). Por isso não deve ser confundido com o
Apóstolo Judas Tadeu (cf. Mt 10,3); com Judas Iscariotes (cf. Mt 27,3-9); com
Judas de Damasco (cf. At 9,11); com Judas, o galileu (cf. At 5,37) e nem com
Judas Barsabás (cf. At 15,22). Interessante que na Carta, Judas apresenta-se
como sendo “irmão de Tiago” (Jd 1,1). Certamente é Tiago, o irmão do Senhor,
bispo de Jerusalém, pois, Judas mencionaria alguém conhecido. Como já disse,
Tiago, o irmão do Senhor, é filho de Clopas e de uma outra Maria e irmão de
Joset. Assim sendo, os irmãos do Senhor, Tiago, Judas e Joset são sobrinhos de
São José, primos de Jesus, irmãos no linguajar grego semítico.
No que se refere
a Simão, o outro irmão de Jesus, pouco é sabido dele. No entanto, deve-se
diferenciá-lo de Simão Pedro (cf. Jo 1,42); de Simão, o zelota (cf. Mc 3,18);
de Simão, o leproso (cf. Mc 14,3); de Simão, o fariseu (cf. Lc 7,36-50); de
Simão de Cirene (cf. Mc 15,21); de Simão Iscariotes (cf. Jo 6,71); de Simão, o
feiticeiro (cf. At 8,9-13) e de Simão, o curtidor (cf. At 9,43). Simão, o irmão
do Senhor, foi o segundo bispo de Jerusalém, na morte de seu irmão Tiago
Pequeno. Mais uma vez segundo Hegesipo, ele era também filho de Clopas, assim,
ao lado de seus irmãos Tiago, Judas e Joset, era também primo do Senhor.
Podemos, para
ficar mais fácil, esboçar o seguinte esque-ma:
Jacó – avô
paterno de Jesus (cf. Mt 1,16)
pai de
Clopas irmão de José
casado com Maria casado com Maria
Ssma.
Tiago
Jose primos
de Jesus Cristo
Judas
Simão
Em Jo 19,25
ainda há um detalhe: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã
de sua mãe, Maria, mulher de Clopas...”, na interpretação mais óbvia percebe-se
que a mulher de Clopas é irmã de Maria Santíssima. O que faz com que o
parentesco entre os filhos de Clopas e Jesus seja cada vez mais próximo, porém
não são irmãos no sentido primeiro da palavra.
Finalizando, é
importante ressaltar que a Verdade definida pela Igreja no Concílio de Latrão
no ano 649 é decisiva: Maria é virgem antes, durante e depois do parto, tendo
apenas um filho: Jesus Cristo, uma vez que a cristandade toda nisso acreditou
desde os mais longínquos tempos. No entanto, os estudos teológicos sobre a
identidade exata de cada um dos irmãos do Senhor ainda estão em processo de
caminhada e aprofundamento, pois “cresce o conhecimento tanto das coisas como
das palavras que constituem parte da Tradição” (Concílio Vaticano II,
Constituição Dogmática Dei Verbum, 8). Além da explicação que demonstrei, ainda
existem outras sobre o assunto que embora divergindo em alguns pontos,
continuam a indicar a Virgindade Perpétua. A dificuldade de exatidão se dá
porque os autores da Bíblia não pretenderam fazer um livro de biografia, mas
sim “uma narração” (Lc 1,3), um relato sobre a Pessoa e os atos do Filho de
Deus. Além do mais, eles escreveram seus Textos Sagrados muitos anos depois dos
acontecimentos e basearam-se em várias fontes que poderiam divergir em pontos
secundários. Por isso não se deve
fazer uma leitura fundamentalista da Bíblia. Ela não erra enquanto fala
de realidades divinas, porém, o modo de escrever e as palavras usadas para
tratar dessa realidade estão presas ao tempo, à História e à cultura daquele povo.
23 - NÚMERO DOIS
Por Carlos
J. Magliano Neto
“...Estando
Maria, sua mãe, desposada com José, antes de coabitarem, achou-se grávida do
Espírito Santo” (Mt 1,18)
Utilizando-se
desta passagem o senhor tenta mostrar que “antes de coabitarem” prova que houve
um depois de coabitarem, no sentido de que José e Maria depois do nascimento de
Jesus tiveram relações sexuais. Porém, coabitar nada mais quer dizer que morar
juntamente, viver em comum.
Este texto, na
verdade, não contém provas que possam ser usadas nem por católicos e nem por
protestantes para tratar da Virgindade de Maria. São Mateus escreveu isto
apenas para confirmar que quando Maria engravidou, ela era virgem e ainda não
estava morando juntamente com José, mostrando assim que ela é Esposa do
Espírito Santo. Confirmamos essa intenção em Mt 1,24: “Quando acordou, José fez
conforme o anjo do Senhor havia mandado: levou Maria para casa”, a partir daí
sim, eles coabitaram, ou seja, moraram juntos.
Nas traduções da
Bíblia onde se coloque uma outra expressão para “antes de coabitarem”, jamais
se usa: “antes que tivessem relações”, mas se traduz: “antes que morassem
juntos”. A própria Bíblia protestante tradução de João Ferreira de Almeida
contribui para minha observação. Assim ela traduz o antes de coabitarem: “antes
de se ajuntarem”. Até a Bíblia Tradução do Novo Mundo utilizada pelos
Testemunhas de Jeová, apesar de possuir muitíssimos erros de tradução,
conservou nesse versículo fidelida-de à intenção de São Mateus e traduziu: “...
antes de se unirem”.
24 - NÚMERO TRÊS
Por Carlos
J. Magliano Neto
“... e Maria deu
à luz seu filho primogênito” (Lc 2,7).
Pode-se
argumentar com este versículo: se Jesus é o filho primogênito de Maria, é
porque é o primeiro filho, e se existe o primeiro é porque existe o segundo, o
terceiro... Este primogênito, que significa primeiro, não significa
necessariamente que seja o primeiro de outros, mas apenas quer mostrar o valor
que tinha naquela cultura o primeiro filho, mesmo que seja o único. No costume
judaico, o primogênito tinha muitas vantagens e era isso que o autor queria
lembrar: “Consagra-me todo o primogênito, todo o que abre o útero materno” (Ex
13,2).
Por exemplo,
muita gente na Igreja Católica faz a Primeira Comunhão, o que não quer dizer
que depois voltará a comungar. Do mesmo aconteceu quando viajei a Belo
Horizonte, eu disse: “É a primeira vez que venho aqui”, apesar de ter sido a
primeira vez, até hoje não teve a segunda e pode não ter nunca. Portanto, esse
primogênito não prova nem de longe que Maria teve outros filhos. Um exemplo:
sabemos que Jesus é o Filho único do Pai e, no entanto, em Hebreus 1,6, lemos
que Jesus é o “Primogênito”. Jesus é o Primogênito do Pai, mas nem por isso
deixa de ser também o “Filho Único” (Jo 3,16). Este então, é mais um texto que
nada prova contra a Verdade Católica.
25 - NÚMERO QUATRO
Por Carlos
J. Magliano Neto
“... e Maria mãe
de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14).
Já falei desse
texto quando disse que ele até ajuda a perceber que Maria não teve outros filhos.
Afinal, Jesus já não mais está presente e mesmo assim, ao lado de Maria eles
não são chamados de filhos de Maria, mas continuam sendo chamados de irmãos de
Jesus.
“Jesus é o Filho
Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os
homens que Ele veio salvar: Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez ‘o
primogênito entre uma multidão de irmãos’(Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em
cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno” (Catecismo da Igreja
Católica, § 501).
26 - A IMACULADA CONCEIÇÃO
Por Carlos
J. Magliano Neto
Agora o estudo volta-se para a grande
graça reservada àquela cuja missão era ser “a mãe do meu Senhor” (Lc 1,43): a
IMACULADA CONCEIÇÃO, ou seja, a concepção sem mancha, sem pecado da Virgem
Maria. Maria não possuiu a mancha do pecado original e mais do que isso, nunca
pecou.
Assim está posto
na página 34:
“O dogma da
imaculada conceição de Maria foi inicialmente apresentado pelo Papa Pio IX”
Porém, na página
38 é dito:
“Esse pensamento (da Imaculada) é endossado por João Duns Scoto (1308)”
Se ele foi
inicialmente apresentado por Pio IX em 1854 como o senhor diz, então não
poderia ter sido comentado 546 anos antes por João Duns Scoto. Entretanto, a
origem desta verdade é ainda anterior a João Duns Scoto. Essa Doutrina se
firmou inicialmente no Oriente por volta do século IV (há 1700 anos atrás!).
Desde então ela começou a se espalhar e por volta do ano 600 já havia
comemoração de sua festa em parte da Europa. Em 1128 o Monge Eadmer de
Conterbury organizou e escreveu o primeiro tratado teológico sobre a concepção
sem mancha de Maria. Em 1661, o Papa Alexandre VII já escrevia na Bula
Sollicitudo omnium Ecclesiarum: “A devoção à Virgem Imaculada cresceu e
espalhou-se e, depois que as escolas apoiaram esta pia doutrina, a partilham
agora quase todos os católicos”. Diante
de tantos anos de estudos e de fé neste mistério, a Igreja em 8 de dezembro de
1854, através da Definição Dogmática Ineffabilis Deus do Papa Pio IX,
reconheceu oficialmente esta Verdade professada desde os tempos mais remotos do
cristianismo.
27 - INFALIBILIDADE
Por Carlos
J. Magliano Neto
Comentando sobre
a incapacidade da Igreja errar em termos de Doutrina o senhor afirma:
“Os papas acreditam efetivamente que suas
determina-ções são como as determinações de Deus” (pág. 34)
Não diria que as
determinações papais são como as determina-ções de Deus, mas digo que elas são
totalmente constituídas pelo carisma da Verdade divina. E assim, não só os papas acreditam nisso, mas
todos os cristãos que pautam sua vida pela Palavra de Deus deveriam saber e
acreditar também. As determinações papais em termos de fé e moral não possuem
erros. Isso porque Jesus é categórico ao falar com Pedro, o primeiro líder do
grupo apostólico: “Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra
construirei a MINHA IGREJA e o poder da morte nunca poderá vencê-la. Eu lhe
darei AS CHAVES DO REINO DO CÉU, e O QUE VOCÊ LIGAR NA TERRA SERÁ LIGADO NO
CÉU, E O QUE VOCÊ DESLIGAR NA TERRA SERÁ DESLIGADO NO CÉU” (Mt 15,18-19). Além
de Jesus ter deixado uma Igreja que Ele chama no singular “minha Igreja”, dá a
Pedro “as chaves do Reino do Céu”. Tranqüilamente eu digo que Jesus não fez
tudo o que fez, ensinou tudo o que ensinou para deixar uma obra que tempos
depois poderia fracassar. Não. Logicamente que Jesus desejou que sua mensagem
chegasse intacta e sem erro a todos os cantos do mundo, em todos os tempos a
partir de sua vinda. Por isso, Ele escolheu para a Missão “os que ele quis” (Mc
3,13-16) e a esses deu autoridade (cf. Jo 20,21-23). Assim, deu capacidade
primeiro a Pedro (cf. Mt 16,19) e depois a todos os outros juntos (cf. Mt
18,18) de ensinar aquilo que era ensinamento de Deus (cf. Mt 10,40; Jo 13,20)
sem mancha, sem erro. Estes, que possuíam a autoridade dada pessoalmente pelo
Senhor, foram passando essa autoridade para outros (cf. At 6,3-6) a fim de que
nunca se acabasse no mundo essa corrente de Poder, de Autoridade e de Verdade
iniciada pelo Filho de Deus. Daí concluímos que a Igreja que Jesus chamou de
minha, enquanto se pronuncia sobre fé e moral é incapaz de errar, pois foi com
este selo de inerrância que Deus a marcou “por causa da verdade que permanece
em nós e estará conosco para sempre” (2ª Jo 1,2), assim, como a Palavra de Deus
é uma só, não podemos duvidar que o Senhor esteve e está acompanhando de perto
essa Igreja (cf. Jo 14,18) e que tudo o que se decide e se conclui na união dos
apóstolos é inspirado e confirmado pelo Espírito Santo (cf. At 15,28).
“Jesus disse:
‘Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que lhe
revelou isso, mas o meu Pai que está no céu’” (Mt 16,17). Certamente Pedro foi
feliz porque recebeu do Senhor tão nobre tesouro: falar das coisas de Deus não
com sua capacidade humana imperfeita, mas com sabedoria revelada pelo Pai que
está no céu: este é o dom de infalibilidade.
Errar em
questões pessoais e assuntos que não se referem à fé e à moral, o Santo Padre e
os Bispos podem errar como errou também Pedro (cf. Gl 1,11-14); são humanos.
Mas até aí, nos erros, a graça se Deus se destaca demonstrando o quanto Ele
acompanha a sua Igreja:
“... graças a
Deus nós temos percebido isso ao longo dos séculos. Sempre ao lado do pecado,
sobressaiu o mistério da santidade, a beleza da santidade, através de homens e
mulheres que por uma vida de fidelidade absoluta, de uma busca incansável de
Deus, semearam o ideal da santidade evangélica no chão da História” (D. Fr.
Alano Maria Pena, O.P., Arcebispo-eleito de Niterói-RJ no “Programa Na Fé
Católica” em 22 de agosto de 2003).
Esse dom da
infalibilidade dado a Pedro e seus sucessores, na verdade nada tem de novo. Os
redatores da Bíblia também receberam de Deus esse carisma, visto que tudo o que
eles escreveram, pela graça de Deus, não possui erro de Doutrina (cf. 2ª Pe
1,20-21). E como o Senhor cooperou para que a Bíblia tivesse uma palavra
inerrante, quis também que a sua Igreja a tivesse. Fato: em 2000 anos de Igreja
Católica, 21 Concílios Ecumênicos e 264 papas, a Doutrina foi amadurecida, mas
nunca alterada ou corrigida. Nunca um Concílio anulou ou corrigiu outro
Concílio em termos de Doutrina. Nunca um Papa desdisse outro Papa em pontos de
fé e moral. Perdoe-me, mas eu não consigo ver uma instituição assim, tão grande
e tão una, como uma obra que não seja de Deus. Por isso temos a certeza que
tudo o que a Igreja declara como Verdade de Fé, é para ser acreditado sem
sombra de dúvida.
É o mesmo que os
protestantes fazem: vocês também acreditam na verdade de fé declarada pelo
líder de vocês. A diferença está apenas em que no nosso caso, temos o respaldo
bíblico das palavras de Jesus sobre o primeiro líder que se estende a todos os
outros nessa corrente apostólica ininterrupta bimilenária.
“Considerar-se-á,
antes de tudo, a autoridade da Igreja universal e dos outros espíritos mais
doutos que brilham nas controvérsias e escritos quando se trata da Verdade da
Igreja” (Santo Agostinho, Doutor da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores,
175).
28 - TODOS PECARAM
Por Carlos
J. Magliano Neto
“
(...) ‘Na verdade não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca
peque’ (Ecle 7:20); ‘...todos estão debaixo do pecado’(Rm 3,9); ‘Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus’ (Rm 3,23) (...) Note que em
nenhum dos textos citados se indica alguma exceção a Maria”
(pág. 35)
Sempre que nós lermos um texto ao pé da
letra e não estivermos abertos a uma interpretação coerente e correta,
correremos o risco de desviar da Verdade e atropelarmos o que já conhecemos.
Se pegarmos a citação de Rm 3,23, por
exemplo, ainda um pouco antes, no final do versículo 22, veremos com mais
precisão a respeito disso: “...E não há distinção: Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus”. Certamente qualquer pessoa nota
claramente que o Apóstolo Paulo não faz distinção, ele afirma: todos pecaram.
A problemática vem a seguir: o Senhor
Jesus fez-se um homem normal, conforme a Igreja ensina, 100% homem. A própria
Bíblia é bem clara a esse respeito: “Uma vez que os filhos têm todos em comum a
carne e o sangue, Jesus também assumiu uma carne como a deles” (Hb 2,14).
Notemos que Jesus fez-se homem igual aos outros e que segundo Rm 3,9 “todos
estão debaixo do pecado”. Conclusão: Jesus, sendo homem, tinha pecado. No
entanto, em Hb 4,15 está escrito: “... pois Jesus mesmo foi provado em tudo
como nós, em todas as coisas, menos no pecado”. Entendamos: apesar da afirmação
todos estão debaixo do pecado, havia exceções, e Jesus é uma delas. Apesar de
assumir uma natureza humana como a de todo mundo, não tinha pecado. Sendo
assim, em nenhum dos textos que o senhor citou, se indica alguma exceção a
Maria, assim como também não indica alguma exceção a Jesus. Por isso, não se
pode usar de fundamenta-lismo e dizer que absolutamente todos os homens, sem
exceção, estão sob a condição do pecado.
29 - O SALVADOR DE MARIA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“‘A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu
espírito se alegra em Deus meu Salvador’ (Lc 1:46,47). Veja que ela admite precisar
de um Salvador. Ora, parece óbvio, se ela não tivesse pecado, não teria
necessidade de um Salvador”
(pág. 36)
Certamente Maria
precisou de Salvador. Maria é um ser humano, uma criatura de Deus. Se não fosse
a missão salvadora do Filho, Maria também teria o pecado original como todo
mundo. Jesus salvou Maria. Contudo, os méritos do sacrifício de Cristo foram
aplicados antecipadamente a Maria: “... a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus,
em previsão dos méritos do Redentor Jesus Cristo, nunca esteve sujeita ao
pecado original, tendo sida, por isso, redimida de modo mais sublime“ (Papa Pio
IX, Definição Dogmática Ineffabilis Deus, 10).
“Dois, porém,
são os modos de remir... Consiste o primeiro em levantar o caído e o segundo,
em preservá-lo da queda. É fora de dúvida que este último é mais nobre... Os
outros tiveram um Redentor que os livrou do pecado já contraído; porém a
Santíssima Virgem teve um Redentor que, em sendo seu Filho, a livrou de
contrair o pecado” (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, pág.
246). Com certeza Maria chama a Deus de
“meu Salvador” pois a sua pureza e santidade vêm justamente da salvação trazida
por seu Filho a todos os homens.
30 - PURIFICAÇÃO DA IMACULADA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“E cumprindo os dias da purificação dela
(Maria), segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém para apresentarem ao
Senhor... e para darem oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par de
rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:22-24). Este texto nos informa que Maria, em
obediência ao dispositivo da lei de Moisés, ofereceu holocausto pelos seus
pecados. (...) É incoerente conceber uma pessoa sem pecado a oferecer oferta
pelo pecado” (pág. 36)
Posso responder
isso com uma comparação: Jesus não tinha pecado e, no entanto, se batizou no
“batismo de arrependimento para a remissão dos pecados” (Mc 1,4) de João
Batista: “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com
João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu
que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu:
‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça’. E João
concordou” (Mt 3,13-15). Jesus, enquanto homem, deveria cumprir toda a justiça.
Quando Maria deu
à luz, a Lei que vigorava era a Lei Mosaica que ordenava a ida da mulher até o
sacerdote para fazer uma oferta para o sacrifício (cf. Lv 12,6). Esta Lei, de
maneira nenhuma poderia ser descumprida pelo casal José e Maria que eram bons
judeus. Essa passagem também não
destrói em momento nenhum o dogma da Imaculada Conceição e nem prova nada
contra ele. Tudo que Maria fez por sua purificação também recebe as palavras de
Jesus: “Por enquanto deixe como está! Porque
devemos cumprir toda a justiça”.
31 - SITUAÇÕES DIFERENTES
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Se
é verdade que o pecado original (desonra de Eva), não pôde alcançar Maria pela
dignidade de Jesus, logo com a simples aplicação da mesmíssima regra, teríamos
necessariamente de concluir que o pecado original não poderia ter alcançado a
mãe de Maria pela dignidade de Maria; e de igual modo: o pecado original não
poderia ter alcançado a avó de Maria pela dignidade da mãe de Maria”
(págs. 37-38)
Agora me
surpreendeu sua argumentação. O senhor ultrapassou a veneração dos católicos e
colocou Maria no mesmo patamar de dignidade de Jesus. É claro que o pecado
original não poderia ter alcançado Maria pela dignidade de Jesus que é Deus e
que, como Deus, não poderia “ter contato com o pecado” (pág. 64). Agora, dizer
que a mãe de Maria não poderia ser atingida pelo pecado por causa da dignidade
de Maria é o mesmo que dizer que a grandeza de Maria é como a do Senhor Jesus.
Ora pastor, Maria é digníssima sim, mas não à altura de Deus, pois ela é sua
criatura. Olha o seu erro: “...com a simples aplicação da mesmíssima regra,
teríamos necessariamente de concluir que o pecado original não poderia ter
alcançado a mãe de Maria pela dignidade de Maria...” Não se pode ter a simples
aplicação da mesmíssima regra para situações tão diferen-tes. Maria foi
preservada porque Deus iria habitar no seu ventre, já a mãe de Maria teria uma
missão muito nobre, mas sua filha não era Deus.
32 - LIBERDADE DA ESCOLHIDA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Com
isso (o dogma da Imaculada) a igreja de Roma tira de Maria o direito de
decidir, fazendo dela pouco mais que um robô; e ainda, a rebaixa a uma posição
amoral”
(pág. 38)
Para entendermos
melhor a questão da Imaculada Conceição de Maria, nos é necessário conhecer
dois pontos:
1– “Não ter o
pecado original”, é diferente de “não ter livre-arbítrio”.
2– Deus não
traça um destino que fira a liberdade, mas sabe o que vai acontecer antes que
tudo aconteça;
Vamos
analisá-los calmamente:
1 – É um engano dizer
que Maria não tendo o pecado original também não teve o livre-arbítrio, a
liberdade de decisão. Note: Adão e Eva, os primeiros pais, não tinham o pecado
original, foram criados sem mancha, e apesar de sua pureza tinham a liberdade
de escolha e, por utilizar essa liberdade de maneira ruim, pecaram. Assim, Deus
preservou Maria da mancha do pecado original, mas não lhe retirou a liberdade.
Uma coisa não anula a outra. A liberdade de escolha de Maria fica clara na cena
da Anunciação. Do mesmo modo como Maria disse: “Eis a escrava do Senhor” (Lc
1,38) ela também poderia ter dito: “Não quero isso, não. É muita
responsabilidade para mim”. Maria é livre da mancha original e livre também
para decidir sua vida. O que acontece é que Maria foi de tal maneira plasmada
pela graça de Deus que ela entendeu que a verdadeira liberdade é servir a Deus
integralmente e, por causa de seu conhecimento e de seu contato com Deus, não
cabia em sua vida o pecado. Nesta Mulher (Maria), ao contrário da primeira
mulher (Eva), se cumpriu toda a vontade de Deus e Ele a presenteou com “bens
extraordinários e preciosos” tornando Maria participante “da natureza divina,
depois de escapar da corrupção que o egoísmo provoca neste mundo” (2ª Pe 1,4).
2 – Não existe
um destino traçado que tire a liberdade de alguém. A maior “semelhança” (Gn
1,26) que temos para com Deus é justamente o nosso poder de decidir sobre a
nossa vida. Se existisse um destino traçado, impedido a liberdade, ninguém
poderia ser culpado de nada. O ladrão seria ladrão porque Deus assim escreveu.
O assassino seria assassino porque assim foi da vontade de Deus. Sendo assim,
não seríamos imagem e semelhança de Deus, mas seríamos meros bonecos nas mãos
do destino. Apesar disso, Deus já sabe de todas as atitudes que iremos tomar
com nossa liberdade durante a nossa vida. Ele não escreveu, mas Ele já sabe o
que, em nossa liberdade, vamos fazer. Um exemplo: Judas entregou Jesus às
autoridades por trinta moedas de prata (cf. Mt 26,15). Deus não escreveu isso
de maneira arbitrária ferindo a liberdade de Judas, mas Ele já sabia da atitude
de Judas antes até do traidor nascer. No livro de Zacarias, escrito muitos anos
antes, já se encontra a profecia: “E eles pesaram o meu salário: trinta moedas
de prata” (Zc 11,12). Pus este exemplo para ser possível entender que o Senhor
salvou Maria de seus pecados antes mesmo de acontecer o sacrifício da cruz,
porque Ele já sabia que o sacrifício iria acontecer. Ele preservou Maria antes
mesmo dela dizer o “sim” porque já sabia que Maria, na sua liberdade o diria.
“O divino
artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por
isso ornou a Maria com as mais encantadoras graças” (Beato Dionísio Cartuxo,
Glórias de Maria, pág. 239).
33 - DEUS DO IMPOSSÍVEL
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Algumas
regras estabelecidas por Deus não podem ser quebradas por ninguém, nem pelo
próprio Deus. Deus não podia tirar a mancha de pecado de Maria, pois já havia
estabelecido que ‘o pecado passaria a todos os homens’ (Rm 5:12), e certamente
não tirou”
(pág. 41)
Repito suas
palavras: “Algumas regras estabelecidas por Deus não podem ser quebradas por
ninguém, nem pelo próprio Deus”. E se eu lhe perguntar: acredita em milagres? E
o que é um milagre senão o poder de Deus que quebra as regras que estão
estabelecidas? Certamente o senhor vai se lembrar que Deus quebrou suas regras
quando abriu o Mar Vermelho (cf. Ex 14,21); quando fez brotar água da rocha
(cf. Ex 17,6); quando curou a mulher que sofria havia 12 anos de hemorragia
incurável (cf. Mt 9,20-22); quando fez Lázaro tornar a viver depois de quatro
dias de sepultado (cf. Jo 11,43-33); quando fez “o sol parar” (cf. Josué
10,12-13) e fez sua sombra voltar dez graus (cf. 2 Reis 20,10-11); quando Jesus
andou sobre as águas do mar (Jo 6,19) e quando alimentou cinco mil homens sem
contar mulheres e crianças com apenas cinco pães e dois peixes e, como se não
bastasse, recolheram ainda 12 cestos cheios (cf. Jo 6,1-15). É o que Jesus
disse: “Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível” (Mt
19,26).
Tentar provar
que Deus não retirou o pecado original de Maria porque “não podia” é negar que
Deus opera milagres, e negando isto, abandona completamente a fé em Cristo,
pois Ele superou e quebrou as regras desde o início quando foi concebido não de
um relacionamento estabelecido homem-mulher, mas de algo diferente, algo único
e inimaginável.
“Para ser a Mãe do Salvador, Maria ‘foi
enriquecida por Deus com dons dignos de tamanha função’” (Catecismo da Igreja
Católica, § 490).
34 - ASSUNÇÃO DE MARIA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A
proclamação da assunção de Maria como proposição de fé foi o último decreto
doutrinário declarado por Roma”
(pág. 42)
A Assunção de
Maria é um dos quatro dogmas declarados sobre Maria. “Os dogmas são luzes no
caminho de nossa fé que o iluminam e o tornam seguro” (Catecismo §89). Os
dogmas são pronunciados quando o Papa, imbuído de sua autoridade e dever de
apascentar as ovelhas (cf. Jo 21,15-17) precisa esclarecer para os fiéis
cristãos algum ponto da fé que está sofrendo contestação ou dúvidas. São
chamados Pronunciamentos Ex Cátedra, ou seja, pronunciamentos feitos da Cadeira
de Pedro, da Autoridade de Pedro. É importante esclarecer que o dogma não cria
uma nova Doutrina, mas reforça e fecha de vez a questão em torno do ponto de fé
que esteja sendo discutido. Uma vez declarado, nunca mais a Igreja o discute
nem o altera em nada, pois ela conta sempre com a Palavra definitiva do
Espírito Santo: “Afinal, a Igreja de Cristo, que guarda e transmite as
doutrinas a ela confiadas, nunca as alterou, nem com acréscimos e nem com
decréscimos; mas trata com a máxima sagacidade e sabedoria as que a antigüidade
delineou e os Padres semearam; e busca aprimorar e afinar aquela antiga
doutrina da divina revelação, de modo que receba clareza, luz e precisão.
Assim, enquanto conservam sua plenitude, integridade e caráter, desenvolvem-se
somente segundo sua própria natureza, ou seja, no mesmo pensamento e direção”
(Papa Pio IX, Definição Dogmática Ineffabilis Deus, 11).
Só uma correção:
o dogma da Assunção de Maria não foi o último decreto doutrinário declarado
pelo Vaticano. A última declara-ção dogmática da Igreja foi sobre a ordenação
sacerdotal de mulheres, na Carta Ordinatio Sacerdotalis, onde o Papa João Paulo
II esclarece e confirma a incapacidade que a Igreja sempre teve de ordenar
mulheres, visto que nunca os Apóstolos ou o próprio Jesus deram funções ministeriais
a nenhuma mulher.
35 - LENDA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Foi
a 1º de novembro de 1950, com o pronunciamento do Papa Pio XII, que esta
doutrina (a Assunção) passou a fazer parte da fé católica. Antes disso, este
era um tema de discordância entre a própria liderança romana. Não é para menos,
considerando que tal dogma originou-se a partir de uma lenda”
(pág. 42)
Em primeiro
lugar, esta Doutrina não passou a fazer parte da fé católica a partir de 1950,
mas nesta data, o Papa Pio XII a definiu como Verdade absoluta de fé. Em
segundo lugar, este não era um tema de discordância entre a liderança romana,
basta analisar a História. Muito ao contrário do que foi afirmado, esta é a
mais antiga comemoração de Nossa Senhora. Antes do ano 431, ou seja, antes
mesmo da Igreja declarar Maria Mãe de Deus, já se comemorava esta festa. Até os
Nestorianos que discordavam do título “Mãe de Deus”, mesmo depois de separados
da Igreja, continuaram celebrando-a. O
Papa Sérgio I, por volta do ano 700, ordenou que se fizesse uma procissão no
dia da festa. Na Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus onde o Papa Pio XII
declara como verdade de fé a Assunção, ele diz: “Nas homilias e orações para o
povo na festa da Assunção da Mãe de Deus, santos padres e grandes doutores dela
falaram como de uma festa já conhecida e aceita”. Como se vê, não é uma
novidade na Igreja e nem um tema de discordância. No século X surgiram dúvidas
e indagações sobre este tema, mas que passaram como se passa uma chuva de
verão.
Um outro detalhe interessante: nenhuma
lenda pode sobreviver tantos e tantos anos se passando por verdade. A Doutrina
da Assunção de Maria não é uma lenda, mas é algo real. Na página 43 o senhor
cita um trecho do escrito apócrifo “Morte e Assunção de Maria” que narra como
teria sido a Assunção de Nossa Senhora dando a entender que a Igreja se baseia
por esse escrito para afirmar este dogma. A Igreja jamais iria se basear num
documento apócrifo para confirmar suas Doutrinas. O nome já diz: apócrifo,
livro escondido, não inspirado por Deus, que não deve ser lido no culto.
Deste modo
pastor, esta festa é muito mais do que um decreto de Roma, mas é uma realidade
de fé, cultivada no coração dos cristãos há centenas de anos.
36 - APOSTASIA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“E
o pior é, que a este pronunciamento de fé, se acrescentou: ‘qualquer um que
doravante duvide ou negue esta doutrina apostatou totalmente da fé católica’. O
que significa dizer que, se você se declara católico, precisa acreditar nisso,
sob pena de ir para o inferno (ou seria para o purgatório?) por pecado mortal”
(págs. 43 e 44)
Cabe aqui apenas
uma observação: apostatar quer dizer separar, sair, não fazer mais parte.
Aquele que não crê na Assunção saiu da fé católica, assim como quem não crê na
divindade de Jesus Cristo também apostatou da fé católica. E isso não significa
dizer que este alguém esteja condenado, pois a Igreja não é juíza da perdição
de ninguém. Só o Senhor Jesus é Juiz
(cf. Mt 25,31-46).
37 - A MORTE DA CHEIA DE GRAÇA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A morte é conseqüência do pecado. Se Maria
foi sem pecado, não poderia ter morrido, a não ser que Deus tenha punido um
inocente” (pág. 44)
Seu argumento é
interessante e certamente nos ajudará a crescer no conhecimento. O Papa João
Paulo II é bastante claro na sua reflexão sobre este assunto: “É verdade que na
Revelação a morte se apresenta como castigo do pecado. Todavia, o fato de a
Igreja proclamar Maria liberta do pecado original por singular privilégio
divino não induz a concluir que ela recebeu também a imortalidade corporal. A
mãe não é superior ao Filho, que assumiu a morte, dando-lhe novo significado e
transformando-a em instrumento de salvação” (L’Osservatore Romano, ed. port. nº
26, 28/06/1997, pág. 12). A Igreja admite a morte de Maria, pois era necessário
que a parte mortal fosse retirada para se revestir de imortalidade (cf. 1º Cor
15,53), contudo, prefere usar o termo dormida da Mãe de Deus, por se tratar da
passagem de uma vida tão santa. “Qualquer que tenha sido o fato orgânico ou
biológico que, sob o aspecto físico, causou a cessação da vida do corpo,
pode-se dizer que a passagem desta vida à outra constitui para Maria uma
maturação da graça na glória, de tal forma que jamais como nesse caso, a morte
pôde ser concebida como uma ‘dormida’” (Papa João Paulo II, L’Osservatore
Romano, ed. port. nº 26, 28/06/1997, pág. 12).
38 - O RELICÁRIO DA VIRGEM
Por Carlos
J. Magliano Neto
Falando sobre o
túmulo de Maria que existe, mas está vazio, o senhor comenta sobre o cuidado
que os católicos têm pelas relíquias dizendo:
“Na verdade, pouco importa saber onde ele
(Jesus) foi sepultado, considerando que seu corpo não esteve ali por mais de
três dias. Mas para os católicos isso é importante. Todos somos conhecedores de
como (os católicos) valorizam todo e qualquer tipo de relíquia. Se você não
sabia, agora sabe” (pág. 47)
As relíquias, em
todos os tempos, sempre foram consideradas objetos sagrados por terem estado em
contato com alguma pessoa santa ou por se tratar do corpo de um santo. Com
certeza, qualquer um, inclusive um protestante, se sentiria feliz por poder
tocar na cruz onde o Cristo se sacrificou por nós; por apreciar a Arca da
Aliança com as Tábuas da Lei; passear na barca que os apóstolos usavam; visitar
o túmulo dos apóstolos ou então sentar numa cadeira fabricada pelo carpinteiro
Jesus. Não é à toa que católicos e protestantes visitam a Terra Santa e também
o Vaticano, pois todos, mesmo sem perceber, valorizam essas relíquias, estes
pertences ou lugares que serviram aos santos homens de Deus.
A grande graça
do católico é saber que participa de uma fé oriunda do tempo apostólico e assim
como o povo de Deus no deserto conservou o maná numa vasilha para que as
gerações futuras pudessem vê-lo (cf. Ex 16,32-34) e os primeiros cristãos
valorizavam até os lenços e aventais usados por Paulo (cf. At 19,12), também os
católicos, com muito orgulho, preservam e valorizam todas as relíquias, pois
são elas lembranças palpáveis de vidas santas.
39 - PROVAS CIENTÍFICAS
Por Carlos
J. Magliano Neto
“...a ciência diz que uma prova científica se
dá a partir das repetições das experiências com os mesmos resultados
alcançados. Considerando que todos que nasceram há dois mil anos atrás passaram
pela morte, e permanecem sepultados até hoje, concluímos que fica provado cientificamente
que Maria morreu e permanece sepultada, a não ser que algum católico prove o
contrário (...) Jesus foi o único que passou pela morte e venceu. Sendo Deus, a
morte não tinha poder sobre ele (1º Cor 15:54-58)” (pág. 47)
Essa prova científica merece uma nova reformulação.
Através
dela o senhor consegue “provar” não só que Maria não ressuscitou como também
que Jesus continua enterrado, afinal, os que nasceram no tempo de Jesus também
continuam mortos e enterrados. Já filosofava Aristóteles: “O argumento que
prova demais não prova nada”.
A ressurreição
de Jesus como a de Maria transcende provas científicas e pensamentos humanos.
Prova disto é a incapacidade da ciência explicar o que originou o Sudário de
Turim (mortalha que envolveu o Senhor no sepulcro) e o manto do índio Juan
Diego onde está estampada misteriosamente a figura de Nossa Senhora de
Guadalupe. Há décadas que a ciência se debruça sobre essas duas relíquias e
nada consegue explicar delas.
Curiosamente
após dizer que só Jesus ressuscitou, o senhor cita 1ª Cor 15,54-58 que
justamente encerra o tema da ressurreição dos mortos, onde o autor (São Paulo)
no versículo 22 do mesmo capítulo diz: “Como em Adão todos morrem, assim em
Cristo todos receberão a vida”. Jesus
ressuscitou e venceu a morte: só Ele podia fazer isso. Mas, uma vez isto feito,
agora todos, inclusive Maria, podem ressuscitar graças a Jesus.
É certo que nada disso prova a Ressurreição e
Assunção de Maria, e não é essa a minha intenção. Minha intenção é apenas
demonstrar que não há impedimentos bíblicos sobre as Verdades proclamadas pela
Igreja a respeito da Virgem de Nazaré. E também, mesmo que eu quisesse, não
teria como provar: são questões de fé. O senhor me pedir provas da Assunção de
Maria é o mesmo que alguém te pedir provas da autenticidade da Bíblia. Como
faremos para provar que a Bíblia é realmente um livro inspirado por Deus? A
prova que tenho da Assunção é a mesma prova que temos da veracidade da Bíblia:
o testemunho dos fiéis cristãos em toda a história do cristianismo.
40 - APOCALIPSE DOZE
Por Carlos
J. Magliano Neto
Por fim, nas
páginas 48, 49, 50 e 51 é feito um longo comentário sobre Apocalipse 12, texto
que é citado pela Igreja de Cristo quando fala da Assunção e Glorificação de
Nossa Senhora por causa das palavras: “E viu-se um grande sinal no céu: uma
Mulher revestida de sol...”. Após analisar versículo por versículo, o senhor
conclui dizendo que o texto não fala de Maria, mas
“toda
estruturação do texto de Apocalipse 12 aponta para o fato de que a mulher é a
nação de Israel” (pág. 51)
Não precisava
destinar quatro páginas do seu livro para refletir sobre Apocalipse 12 e chegar
a conclusão que a Igreja já chegou há muito tempo: ao escrever este texto João
falava sobre o povo santo, a nação de Israel, como também sobre a Igreja
Cristã, pois a Besta atacava os seguidores de Cristo (v. 17).
O que acontece é
que este texto não é algo real, mas uma “visão”, um mito com o objetivo de
esclarecer algo para os cristãos que estavam sendo perseguidos ferozmente por
César Nero, o Imperador. Por não se tratar de algo real, as palavras de João
tomam uma dimensão maior, e passam para além de apenas um significado.
A gerações
cristãs sempre souberam que João falava do povo de Deus, porém perceberam uma
semelhança com a figura de Maria. E foi aí, que também destinam este texto para
falar de Maria.
Não é de se
estranhar essa interpretação mariana do texto se analisarmos três pontos:
1º - O Filho da
Mulher é o Messias, o Salvador do Mundo (v.5), o que nos faz lembrar da Mulher
que deu à luz a Jesus: Maria.
2º - O termo
“Mulher”: o mesmo autor do Apocalipse escreveu no seu Evangelho que por duas
vezes Jesus chamou sua Mãe de “Mulher” (Jo 2,4 e 19,26) e em Gálatas 4,4 usa-se
o mesmo termo para ela: “Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher”. Sendo assim, o uso do termo Mulher também facilita
a lembrança de Maria.
3º - Já comentei
o quanto João se baseou nos primeiros capítulos de Gênesis para escrever o seu
Evangelho. Agora parece que mais uma vez João os utiliza. A cena muito se
parece com Gn 3,15, quando, depois de tentar Eva, a Serpente ouve de Deus:
“Colocarei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e os
descendentes dela”. As gerações cristãs entenderam desde cedo que aí Deus já
prometia o Salvador, e por conseqüência, já falava da sua Mãe, a Mulher da qual
Ele iria descender. Veja agora o paralelo: em Ap 12,9 assim está: “Esse Dragão
é a antiga Serpente”, perceba que João lembra da cena de Gênesis afirmando que
o Dragão é a Serpente que Deus amaldiçoou no início. Ao lembrar da Serpente,
João torna fácil a lembrança do ódio posto por Deus entre a Serpente e a Mulher
(Gn 3,15 compare com Ap 12,4.13) e da mulher que seria mãe de uma descendência
santa (Gn 3,15 compare com Ap 12,17). Todos esses pontos de Gênesis 3 que falam
profeticamente de Maria aparecem em Apocalipse 12.
Logicamente que
os pormenores, dependendo da interpreta-ção que se dêem a eles, não vão bater
com a vida de Maria. No entanto, sabemos que é uma linguagem figurada,
simbólica e que se trata de uma realidade de fantasia, porém, com um fim de
evangelização. Afirmar que a Igreja só interpreta Apocalipse 12 apontando para
Maria é mutilar o estudo bíblico milenar que a Igreja faz sobre a Palavra de
Deus.
“Todos estes
argumentos e reflexões dos santos padres apóiam-se como em seu maior fundamento
nas Sagradas Escrituras. Estas como que põem diante dos olhos a Santa Mãe de
Deus profundamente unida a seu divino Filho, participando constantemente de seu
destino” (Papa Pio XII, Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus).
41 - ORAÇÕES A MARIA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Regra
geral, os católicos se sentem mais agredidos quando se fala algo sobre Maria do
que contra Jesus ou Deus”
(pág. 52)
Graças a Deus,
dos males o menor. Na divisão provocada por Lutero, os protestantes
protestaram, entre outras coisas, contra as verdades sobre Maria Santíssima. No
entanto, em tudo (ou pelo menos em quase tudo) concordam com os católicos sobre
Deus. Louvado seja Deus! Não me lembro de ver nenhum protestante falando algo
contra Deus. Menos mal. Sendo assim, não sei como fez para afirmar que um
católico se sente mais agredido quando se fala de Maria do que quando se fala
contra Deus, já que eu nunca vi nenhum protestante protestando contra Deus.
Porém, se alguém disser algo contra Maria, não só o católico, mas todo aquele
que se diz cristão, deverá se sentir agredido, pois se está falando da pessoa
escolhida por Deus para ser a Mãe d’Aquele que redimiu a humanidade. E
seguramente, Jesus que veio dar pleno cumprimento aos mandamentos (cf. Mt
5,17-19), com certeza não iria pecar contra o quarto mandamento (cf. Ex 20,12),
ficando satisfeito ao ver alguém desonrando sua Mãe.
42 - O CARÁTER DE DEUS
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A
Bíblia nos revela que Deus é bom. Sendo Deus bom, Ele não precisa de alguém no
céu a rogar por nós, como que tentando convencê-lo de que deve nos abençoar”
(pág. 53)
Não há dúvida quanto ao caráter de Deus, sua bondade, sua benevolência.
É a primeira vez
que vejo alguém dizer que se orarmos ou pedirmos oração estaremos duvidando da
bondade de Deus. Entretanto, foi o próprio Filho de Deus que nos ensinou a
estar sempre em oração: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos
será aberto. Pois todo aquele que pede, recebe; o que busca acha e ao que bate
a porta lhe será aberta” (Mt 7,7-8). O Apóstolo Paulo escreveu: “Orai sem
cessar” (1ª Ts 5,17), e também: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se
façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens (...) a
fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (1ª
Tm 2,1-2). Tenho certeza que nem Jesus e nem São Paulo duvidavam da bondade de
Deus quando pediam para que estivéssemos sempre em oração. Jesus ainda certa
vez contou uma parábola “para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, sem
nunca desistir” (Lc 18,1) dizendo que um juiz atendeu a viúva por causa da
insistência de seus pedidos.
Perceba: não que
Deus precise de alguém no céu a rogar por nós, mas Deus quer precisar. Do mesmo
modo como Ele não precisa do senhor no pastoreio dos seus fiéis, mas Ele quer
precisar. Na Teologia se diz que Deus age através das Causas Segundas, ou seja,
através das pessoas e das coisas criadas.
Deus não precisa
da oração de ninguém para convencê-lo a nada, pois Ele sabe do que é que nós
precisamos antes mesmo que façamos os pedidos (cf. Mt 6,8), mas acontece que
Deus quer que todos nós nos encontremos na oração e, apesar de saber de tudo, e
saber o que deve ser feito, Ele quer ter diálogo com sua criatura e quer que
nos abramos à caridade da oração como ensina São Paulo em 1ª Cor 13,13: “Agora,
portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade. A maior
delas, porém, é a caridade”. É a caridade que permanece, sendo a maior delas.
Na bem-aventurança não existe mais a fé, pois já se vêem a realidade divina;
não existe mais a esperança, pois a criatura já atingiu sua plenitude; apenas
permanece a caridade, caridade de estar em oração por aqueles que ainda seguem
o seu curso terrestre. “Invocar a Santíssima Virgem, não é desconfiar da
misericórdia de Deus, mas temer a própria indignidade” (Santo Afonso Maria de
Ligório, Na Escola dos Santos Doutores, 754).
Em 15 de
Setembro de 1983, teólogos ortodoxos, luteranos, reformados, calvinistas e
anglicanos assinaram em conjunto o documento “Declaração de Malta” onde
reconhecem a realidade da intercessão dos Santos após terem estudado o assunto
juntamente com teólogos católicos. Veja um trecho:
“O fato de que, mesmo no céu, à direita do
Pai, Cristo roga por nós, indica-nos que a morte não rompe a comunhão daqueles
que durante a própria vida estiveram pelos laços da fraternidade unidos em
Cristo. Existe, pois, uma comunhão entre os que pertencem a Cristo, quer vivam
na terra, quer, tendo deixado os seus corpos, estejam com o Senhor (cf. 2ª Cor
5,8; Mc 12,27). Neste contexto, compreende-se que a intercessão dos Santos por
nós existe de maneira semelhante à oração que os fiéis fazem uns pelos outros.
A intercessão dos Santos não deve ser entendida como um meio de informar Deus
das nossas necessidades. Nenhuma oração pode ter esse sentido a respeito de
Deus, cujo conhecimento é infinito. Trata-se de uma abertura à vontade de Deus
por parte de si mesmo e dos outros, e da prática do amor fraterno. (...) Por
ouro lado, quaisquer que sejam as nossas diferenças confessionais, não há razão
alguma que impeça unir a nossa oração a Deus no Espírito Santo com a da
liturgia celeste e, de modo especial, com a da Mãe de Deus” (§ 3,4 e 5).
43 - FIGURA FEMININA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Considerando
que Maria está no céu, é razoável suspeitar que ela deixou de ser a Maria
terrena, pois agora ela é como os anjos. Logo, não pode mais sustentar a
personalidade de uma figura feminina a interceder por nós como se fosse a mãe
da humanidade” (pág. 54)
Logicamente como
é sabido de todos, no céu não tem sexo, lá “não se casa e nem se dá em
casamento” (Mt 22,30). Porém não tem fundamento a sua afirmação de que Maria
não pode ser chamada Mãe da humanidade por não possuir mais uma sexualidade
feminina. Veja: Jesus está na bem-aventurança e mesmo após a sua subida aos
céus continua sendo chamado de “homem” (1ª Tm 2,5). Pastor, não conhecemos de
fato a realidade divina, por isso continuamos a atribuir os mesmos títulos
àqueles que já estão lá. É o modo humano de se expressar. Dizendo assim, parece
até que o senhor é contra chamar a Deus de “Pai” (Mt 6,9).
ÚNICO MEDIADOR
“‘Porque
há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem’ (1ª
Tm 2:5). (...) Dar o título de ‘intercessora’ ou ‘medianeira’ para Maria é
roubar de Jesus uma das suas funções no projeto divino” (pág. 54)
Esta
problemática é resolvida a partir do momento em que reconhecemos a diferença
entre a Mediação de Jesus e a mediação de Maria ou de qualquer outra pessoa.
Jesus é o único mediador, pois Ele é o único capaz de ligar novamente Deus e o
homem, separados pelo pecado dos primeiros pais. Jesus foi a única vítima
perfeita, sem manha, que poderia ser imolada e redimir, resgatar, salvar a
humanidade e entregá-la nas mãos do Pai: “Jesus é o Sumo Sacerdote de quem
tínhamos necessidade: santo, inocente, sem mancha, diferente dos pecadores e
elevado acima dos céus.” (Hb 7,26). O Papa João Paulo II recentemente escreveu:
“O Filho de Deus fez-se homem para, num supremo ato de louvor, devolver toda a
criação Àquele que a fez surgir do nada. Assim, Ele, o sumo e eterno sacerdote,
entrando com o sangue da sua cruz no santuário eterno, devolve ao Criador e Pai
toda a criação redimida” (Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 8). Na
Declaração Dominus Iesus a Igreja declara: “Deve-se, portanto, crer firmemente
como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e
Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação,
morte e ressurreição do Filho de Deus” (§ 14). Jesus ligou definitivamente o
homem a Deus, “desse modo ele é o mediador de uma nova aliança” (Hb 9,15). No
entanto, isso não quer dizer que não exista ninguém, nenhum intercessor a nos
levar até Jesus. Maria e todos os outros intercessores são mediadores na
oração, e não no ato que corresponde exclusivamente ao Filho de Deus que é
salvar a humanidade. Eles, portanto não tiram o papel de Jesus, mas em Jesus
cooperam na obra da redenção através de suas orações. Não se rouba funções de
Deus, isso é impossível, mas com Ele, por Ele e nEle nos tornamos também
intercessores.
Nesse contexto, Maria desempenha um
papel singular. Ela é lembrada como grande intercessora, não porque as graças
vêm de Maria, mas porque ela, pelo mistério do plano de Deus, se tornou a Mãe
da Fonte da Graça. Esse papel de medianeira nos é lembrado pela Palavra de Deus
quando percebemos que no Novo Testamento a primeira graça espiritual (a
santificação de João Batista no ventre de Isabel – cf. Lc 1,41) e a primeira
graça material (a transformação da água em vinho – cf. Jo 2,1-11) se dão por
intermédio de Maria. Diante desta evidência bíblica, as gerações cristãs não
duvidaram em clamar por Maria nos momentos difíceis. Um papiro grego do ano 200
encontrado no Egito indica esta devoção mariana já nos primeiros séculos do
cristianismo: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas”.
44 - ÚNICO MEDIADOR
Por Carlos
J. Magliano Neto
“‘Porque
há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem’ (1ª
Tm 2:5). (...) Dar o título de ‘intercessora’ ou ‘medianeira’ para Maria é
roubar de Jesus uma das suas funções no projeto divino” (pág. 54)
Esta
problemática é resolvida a partir do momento em que reconhecemos a diferença
entre a Mediação de Jesus e a mediação de Maria ou de qualquer outra pessoa.
Jesus é o único mediador, pois Ele é o único capaz de ligar novamente Deus e o
homem, separados pelo pecado dos primeiros pais. Jesus foi a única vítima
perfeita, sem manha, que poderia ser imolada e redimir, resgatar, salvar a
humanidade e entregá-la nas mãos do Pai: “Jesus é o Sumo Sacerdote de quem
tínhamos necessidade: santo, inocente, sem mancha, diferente dos pecadores e
elevado acima dos céus.” (Hb 7,26). O Papa João Paulo II recentemente escreveu:
“O Filho de Deus fez-se homem para, num supremo ato de louvor, devolver toda a
criação Àquele que a fez surgir do nada. Assim, Ele, o sumo e eterno sacerdote,
entrando com o sangue da sua cruz no santuário eterno, devolve ao Criador e Pai
toda a criação redimida” (Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 8). Na
Declaração Dominus Iesus a Igreja declara: “Deve-se, portanto, crer firmemente
como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e
Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação,
morte e ressurreição do Filho de Deus” (§ 14). Jesus ligou definitivamente o
homem a Deus, “desse modo ele é o mediador de uma nova aliança” (Hb 9,15). No
entanto, isso não quer dizer que não exista ninguém, nenhum intercessor a nos
levar até Jesus. Maria e todos os outros intercessores são mediadores na
oração, e não no ato que corresponde exclusivamente ao Filho de Deus que é
salvar a humanidade. Eles, portanto não tiram o papel de Jesus, mas em Jesus
cooperam na obra da redenção através de suas orações. Não se rouba funções de
Deus, isso é impossível, mas com Ele, por Ele e nEle nos tornamos também
intercessores.
Nesse contexto, Maria desempenha um
papel singular. Ela é lembrada como grande intercessora, não porque as graças
vêm de Maria, mas porque ela, pelo mistério do plano de Deus, se tornou a Mãe
da Fonte da Graça. Esse papel de medianeira nos é lembrado pela Palavra de Deus
quando percebemos que no Novo Testamento a primeira graça espiritual (a
santificação de João Batista no ventre de Isabel – cf. Lc 1,41) e a primeira
graça material (a transformação da água em vinho – cf. Jo 2,1-11) se dão por
intermédio de Maria. Diante desta evidência bíblica, as gerações cristãs não
duvidaram em clamar por Maria nos momentos difíceis. Um papiro grego do ano 200
encontrado no Egito indica esta devoção mariana já nos primeiros séculos do
cristianismo: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas”.
45 - INCRIMINAÇÃO
Por Carlos
J. Magliano Neto
“...
dois outros problemas doutrinários do catolicismo: A – Apesar de negarem, ensinam que Maria é onipresente (por
incrível que pareça); B – Dizem que Maria não precisaria ser onipresente para
interceder por nós, pois são os anjos que levam nossos pedidos até ela” (pág. 54)
Analisemos
calmamente os dois pontos:
Ponto A - assim está na página 52:
“Se Maria está no céu, e
evidentemente, não é onipresente, é fácil concluir que ela não pode nos ouvir.
Como pediremos a alguém que não pode nos escutar?”
Com certeza esta
é uma grande verdade: Maria não é onipresente, não está em todos os lugares ao
mesmo tempo, mas só Deus é assim. Não me lembro de que a Igreja ensine o
contrário. Na página 55 o senhor cita um texto católico sobre isto:
“Certamente Maria sabe nossas necessidades,
porque está no céu de corpo e alma, tem identidade com nossa humanidade, e,
porque imersa na bem-aventurança celeste, vê claramente o estado de nossa alma
e nossas reais necessidades, através da ótica de Deus, a quem contempla sem
cessar”
Aqui neste texto
está claro que Maria não é onipresente e que a Igreja ensina não o contrário.
Maria sabe de nossas necessidades porque está imersa na bem-aventurança celeste
e não é através de seus sentidos que ela os conhece, mas é através da ótica de
Deus, ou seja, é pela graça de Deus que chegam até Maria nossas súplicas. Do
mesmo modo como Maria está contemplando a Deus e não é onipresente, mas sabe de
nossas necessidades, também os anjos estão na contemplação de Deus e não são
onipresentes, mas mesmo assim também sabem de nossas necessidades como nos
disse o próprio Senhor: “Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos,
pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai
que está no céu” (Mt 18,10). “Tendo entrado no reino eterno do Pai, mais
próxima do divino Filho e, portanto, de todos nós, Ela pode exercer no Espírito
de maneira mais eficaz, a função de intercessão materna que lhe foi confiada
pela Providência divina” (Papa João Paulo II, L’Osservatore Romano, ed. port.
nº 39, 27/09/1997, pág. 12).
Ponto B - Desconheço esta afirmação de que Maria tome
conhecimento dos pedidos através dos anjos. Li todas as referências que o
Catecismo da Igreja Católica faz aos anjos e não achei uma sequer que fale
disto. Portanto não é verdade que a Igreja ensine isto. Antes de falar da
posição católica sobre os temas é necessário recorrer, principalmente, ao
Catecismo e aos documentos vatica-nos. A Igreja crê sim na existência dos anjos
como mensageiros de Deus, criaturas espirituais dotadas de liberdade e de
vontade própria que cumprem as ordens de Deus (cf. Sl 103,20) e acompanham o
ser humano desde o início (cf. Mt 18,10) até o fim de sua vida (cf. Lc 16,22).
“Os anjos cooperam para todos os nossos bens” (Sto. Tomás de Aquino, S. Th. I,
114,3, ad 3). Essa é a verdadeira posição católica sobre os anjos.
46 - DUAS QUESTÕES
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Um
assunto paralelo à intercessão de Maria também precisa ser abordado. É a
repetição das rezas usadas pelos católicos. É bem comum ouvirmos a respeito das
penitências impostas aos adeptos da igreja de Roma. Como se não bastasse o
termo ‘penitência’, sugerindo que ainda resta algo a fazer pelos nossos
pecados, indicando assim uma suposta insuficiência no sacrifício de Cristo,
ainda há o agravante de, deliberadamente, descumpri-rem uma ordem expressa de
Jesus: ‘e, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que
por muito falar serão ouvidos’ (Mt 6:7)” (pág. 56)
Uma coisa de
cada vez. O senhor fala aí sobre a penitência, dizendo que isto é uma coisa
inútil e fala também das rezas repetidas que os católicos fazem, como por exemplo,
o Terço e outras devoções mais. Vamos analisar as duas questões separadamente:
Penitências – a penitência não anula e
nem indica insuficiên-cia do sacrifício expiatório de Cristo. Sabemos
perfeitamente que o sacrifício de Cristo é perfeito sem precisar de
complementos. O sacrifício de Cristo foi feito “uma vez por todas” (Hb 7,27). A
parte dEle está pronta. Tudo o que Deus tinha para fazer, fez em Jesus Cristo.
Agora, porém, precisamos nós fazer a nossa parte buscando a santidade e o nosso
lugar ao lado de Cristo. Essa busca se dá muitas vezes através de sacrifícios e
de penitências. As penitências não têm a intenção de se tornar um outro
sacrifício expiatório como o de Cristo, mas elas “contribuem para nos fazer
adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração” (Catecismo
da Igreja Católica, §2043). A esmola (cf. Mt 6,2-4), a oração (cf. Mt 6,5-15) e
o jejum (cf. Mt 6,16-18) são penitências que fazem elevar o nosso espírito.
Jesus nunca disse que não era preciso fazer penitências, muito pelo contrário.
Ele mesmo disse sobre os apóstolos: “Mas chegarão os dias em que o noivo será
tirado do meio deles. Aí então eles vão jejuar” (Mt 9,15). E o que é o jejum
senão uma penitência? O Apóstolo Paulo também fazia penitência a fim de alcançar
a santidade: “Os atletas se impõe a si muitas privações; e o fazem para
ganharem uma coroa perecível; e nós, nos privamos para ganharmos uma coroa
imperecível. Quanto a mim, também eu corro, mas não como quem vai sem rumo. Dou
golpes, mas não como quem luta contra o ar. Trato duramente o meu corpo e o
submeto, para não acontecer que eu proclame a palavra de Deus aos outros, e eu
mesmo venha a ser reprovado” (1ª Cor 9,25-27). Como se não bastasse, São Paulo
ainda disse: “Agora eu me alegro por sofrer por vocês, pois vou completando em
minha carne o que falta nas tribulações de Cristo, a favor do seu Corpo, que é
a Igreja” (Cl 1,24). O Apóstolo não fala aí do sacrifício salvífico do Senhor,
mas fala de suas tribulações, de modo que todo o cristão é convidado a junto
com o Senhor sofrer, se penitenciar pela santificação do Corpo que é a Igreja.
Afinal de contas, Paulo, apesar de Apóstolo do Senhor, não se dizia salvo. Além
de saber que necessitava fazer penitências tratando duramente o seu corpo,
também dizia: “De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso eu sou
justificado. Meu juiz é o Senhor” (1ª Cor 4,4).
Orações
repetidas – Para entendermos o ensinamento de Jesus sobre esse tema, precisamos
compreender o contexto onde ocorre essa recomendação do Senhor no capítulo 6 do
Evangelho de São Mateus.
Jesus está
orientando os seus seguidores a terem um comportamento superior ao dos
“hipócritas” (v. 2) e dos “gentios” (v. 7). Jesus se referia a pessoas que
fazem da religião uma maneira de adquirir status para assim conseguirem
destaque na sociedade. Assim Jesus ensinou: “Prestem atenção! Não pratiquem a
justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo
assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu” (v. 1). Assim
sendo, Jesus procurou mostrar que o cristão não deve ser como os hipócritas que
dão esmola para serem elogiados (v. 2-4); como também devem ser diferentes
daqueles que jejuam e desfiguram o rosto para que todos vejam que está jejuando
(v. 16-18) e que devem ser diferentes dos gentios que usam muitas palavras para
impressionar aos homens e a Deus, achando que assim serão atendidos (v. 7).
Diante desta realidade o Senhor orienta: “e, orando, não useis de vãs
repetições, como os gentios, que pensam que por muito falar serão
ouvidos”. Nossas orações devem superar
a oração daqueles que só oram para aparecer e impressionar. Não deve haver em
nossas orações vãs repetições a fim de comover a platéia (ou Deus), pois não é
pelo muito falar ou pela força das palavras que Deus vai nos atender, mas sim
pelo nosso coração sincero. Por isso a nossa oração deve ser pura e voltada
exclusivamente para o nosso encontro com Deus (v. 6). “Não é pela quantidade de
palavras que se chega à oração perfeita, mas pelo amor e conhecimento de Mim
(Deus) e de si mesmo” (Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja, Na Escola dos
Santos Doutores, 901).
Tudo isso, é
muito diferente de rezar um Terço ou dizer quantas vezes eu quiser uma oração
desde que a intenção seja meu verdadeiro relacionamento com Deus. O senhor
mesmo concorda com isso quando diz:
“...que
mal há em repetir uma determinada frase em nossa oração se assim o desejarmos?
Ou orarmos o ‘Pai nosso’ como algo que de fato flua de nosso coração?”
(pág. 59)
Exatamente
pastor, que mal há em repetir palavras bíblicas como o “Pai Nosso” se assim meu
coração pede? Contudo logo depois o senhor completa:
“Penso
que isso é bastante diferente de rezar 50 vezes qualquer reza”
(pág. 59)
Não há nada de
diferente. No Terço se reza 50 vezes a oração da Ave-Maria; no Rosário se reza
200 vezes, mas isso não é obrigatório nenhum cristão fazer. Quem reza o Terço é
porque o faz de coração, assim essa pessoa deseja. Quantos testemunhos eu
conheço de famílias que se uniram através da oração do Terço ou pessoas que
cresceram muito na espiritualidade através dessa devoção? Que mal há nisso? Se
não há nenhum mal em orar repetidamente o Pai Nosso como algo que de fato flua
de nosso coração, também não há problema na oração do Terço, do Rosário ou de
qualquer outra devoção que também flua do coração do fiel.
47 - O PAI-NOSSO
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Com
a oração do ‘Pai nosso’, Jesus não queria nos ensinar uma reza, mas um modelo
(esboço) de oração. Perceba que jamais se vê na Bíblia um discípulo ou qualquer
outra pessoa fazendo uso da oração do Pai nosso” (pág. 57)
Certamente a
oração do Pai Nosso “é o Modelo de nossa oração” (Catecismo da Igreja Católica,
§2765). Nenhum discípulo ou qualquer outra pessoa é visto fazendo uso desta
oração na Bíblia, pois ficaria muito trabalhoso para o escritor bíblico dizer o
conteúdo de todas as orações feitas naquela época. Por isso muitas vezes está
escrito: “Eram perseverantes nas orações” (At 2,42), não precisava descrever
quais eram elas. No entanto, o costume de rezar o Pai Nosso ou outras orações é
um costume do início da Igreja. Existe um livrinho chamado “Didaqué, a
Instrução dos Doze Apóstolos” que é um documento muito antigo, escrito na mesma
época dos Evangelhos. Ele fala de como viviam as primeiras comunidades cristãs.
E neste livrinho está escrito assim: “Não rezem como os hipócritas, mas como o
Senhor ordenou no seu Evangelho. Rezem assim: Pai nosso que estás no céu...
Rezem assim três vezes por dia” (VIII,2-3). No “Catecismo de Lutero”, o
primeiro protestante ensinou “como o chefe de família deve ensinar com toda a
simplicidade da sua casa” a oração do Pai Nosso. Apesar de ser um Modelo, não
nos é proibido recitar essas belas palavras bíblicas assim quando desejarmos.
48 - SALVE-RAINHA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“No
livro católico ‘Amém? Cremos em tudo que professamos?’ (p. 130), encontrei uma frase interessante no
comentário do autor sobre a reza ‘Salve-Rainha’: ‘O problema desta oração é a
sua linguagem arcaica. Durante a oração encontramos palavras difíceis que não
costumamos usar no dia a dia’” (pág. 59)
Devo agora
desenvolver bem a questão, pois o livro “Amém? Cremos em tudo que professamos?”
é de minha autoria.
O senhor tem
razão quando diz que é “fraco o nível cultural de boa parte de nossa gente”
(pág. 60) o que dificulta ainda mais a compreensão. Porém, tudo pode ser
explicado, tudo pode ser ensinado e também tudo pode ser aprendido. Não é
porque as palavras não são de uso habitual que as pessoas ficarão para sempre
na ignorância. Ninguém nasce sabendo, mas no decorrer da vida vai aprendendo.
Apesar da
linguagem arcaica da Salve-Rainha, esta é uma oração da devoção popular e o
povo tem um grande prazer em rezá-la, pois sabe que, embora mesmo que muitas
vezes não a compreenda completamente, confia na sua autora que é a Igreja de
Nosso Senhor e sabe que ela tem a autoridade para ensinar a “diversidade da
sabedoria de Deus” (Ef 3,10).
Não são pelas
palavras mais fáceis ou mais difíceis que deveremos reconhecer o valor das
coisas. Veja por exemplo a Bíblia. Para muitas pessoas a Bíblia não tem uma
linguagem entendível. Dizem elas: “Esse negócio de ir ver um texto lá na
frente, depois voltar cá atrás, versículos, capítulos, é muito complicado”. E
tem mais: além de tratar de uma realidade muito diferente da de hoje, ela ainda
traz palavras, gestos e costumes que também não estão no nosso uso diário.
O que pessoas
menos esclarecidas entendem, por exemplo, quando lêem “excelentíssimo Teófilo”
(Lc 1,3) ou a ordem: “Se um homem for pego em flagrante tendo relações sexuais
com uma mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem quanto a mulher” (Dt
22,22). A própria Bíblia diz que ela é difícil: “Em todas as cartas de Paulo,
ele fala disso. É verdade que nas cartas há alguns pontos difíceis de entender,
que os ignorantes e vacilantes distorcem, como fazem com as demais Escrituras,
para a sua própria perdição” (2ª Pe 3,16). E não é pela Bíblia ser difícil que
devamos dizer que ela é inútil, dispensável.
Como a Bíblia, a oração da
Salve-Rainha precisa ser explicada e não inutilizada.
“Pelo fato de os
habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com
mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós
ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de
Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude
deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Catecismo da Igreja
Católica, §956).
49 - MARIA COMO CO-REDENTORA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“‘Em
vós, Senhora, tenho colocado toda a minha esperança e de vós espero a minha
salvação... Maria é toda a esperança de nossa salvação (...) pois só por vosso
intermédio esperamos a salvação’ (Glórias de Maria – Afonso Maria de Ligório –
p. 21). Como se não fosse suficiente elevar Maria a posição de Co-Redentora,
isso é, Redentora junto com Cristo, alguns documentos católicos vão além,
colocando nela ‘toda a esperança de salvação’. Sugere assim não apenas ser ela
uma redentora, mas a única redentora. (...) Tal tese teria sido desenvolvida a
partir do fato de Maria ter sofrido, como mãe, ao pé da cruz de seu filho. Ora,
se Maria sofreu junto com Jesus, logo é Redentora junto com Ele,
concluem.”
(pág. 61 e 64)
Agora o senhor
faz menção a um dos maiores e mais bonitos documentos sobre a Virgem
Santíssima: “Glórias de Maria”, escrito
por Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) que é um dos 33 Doutores
da Igreja. Como eu ainda não havia lido esse livro, fiquei pasmo ao ver um
Doutor da Igreja escrevendo: “Em vós, Senhora, tenho colocado toda a minha
esperança e de vós espero a minha salvação”. Não me contive e fui em busca de
um exemplar dessa magnífica obra. Quando abri o livro tive a confirmação
daquilo que suspeita-va: Santo Afonso nunca escreveu isto. No livro de Santo
Afonso está claramente escrito na mesma página 21 citada no seu livro: “Dirijo-me
também a vós, ó Maria, minha Mãe dulcíssima e Senhora. Sabeis que, depois de
Jesus, em vós tenho colocado a minha esperança de minha salvação”, pensamento
que Santo Afonso repete na página 98: “Depois de Deus, outra esperança não
temos senão Maria e por isso a invoca como única esperança nossa depois de
Deus”. Penso que o senhor deve ter copiado isso de alguma fonte errada ou ter
tido uma distração, porém é bom que procure consertar esse erro, pois tenho que
dizer que ficou muito parecido com um “levantar falso testemunho contra teu
próximo” (Ex 20,16).
Quanto ao título Co-Redentora dado a
Maria, reflete toda a participação intensa que Maria Santíssima teve no
mistério da Salvação. Certamente, como o senhor falou, o sofrimento de Maria ao
pé da cruz junto com seu Filho, é um dos motivos desse título. Num belo sermão,
São Bernardo, Doutor da Igreja, fala do sofrimento da Mãe: “Verdadeiramente, ó
santa Mãe, uma espada traspassou tua alma. Aliás, somente traspassando-a,
penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos
certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem
poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma
dele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isto a
violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais
do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal”
(Liturgia das Horas, Segunda Leitura do dia 15 de setembro).
Mas a Igreja ao
proclamar Maria como Co-Redentora, vê sua participação ainda muito mais além do
que no acontecimento do Calvário. É uma questão muito mais profunda do que isto
e merece a nossa atenção.
Como sabemos, Deus criou o homem e
percebeu que não era bom que estivesse sozinho (cf. Gn 2,18). Criou então a
“mulher” (Gn 2,23) para ser sua “auxiliar semelhante” (Gn 2,18), para que
vivesse com o homem (cf. Gn 2,24), que juntamente com ele transmitisse o dom da
vida (cf. Gn 1,28) e que fosse “a mãe de todos os que vivem” (Gn 3,20). Porém,
logo depois esta obra foi manchada pelo pecado (cf. Gn 3,7). Era necessário
então uma nova criação (cf. Is 65,17-18). E então Deus faz a sua nova criação
em Jesus Cristo, que passa a ser o novo Adão (cf. Rm 5,15). E da mesma maneira
como Deus criou “homem e mulher” (Gn 1,27) também na nova criação o plano
divino seguiu a mesma linha: recriou Adão em Jesus Cristo, do qual recebemos a
vida (cf. Jo 3,15), e como não poderia deixar de participar da nova criação,
Eva foi recriada em Maria, que sendo uma auxiliar semelhante, subordinada ao
novo Adão, é agora a nova mãe de todos os que vivem, pois todos somos irmãos de
seu Filho (cf. Rm 8,27).
“Irmãos
caríssimos, há um homem e uma mulher que nos prejudicaram grandemente, mas,
graças a Deus, há também um homem e uma mulher que tudo nos restauram, e com
notável superabundância de graça... Sem dúvida, Cristo por si só bastava-nos,
pois tudo que possamos fazer no plano da salvação, dEle vem; todavia era bom
que o homem não ficasse só. Havia profunda conveniência em que os dois sexos
tomassem parte na nossa Redenção, como haviam tomado parte em nossa queda” (São
Bernardo, Sermão sobre as doze estrelas 1, ed. Migne lat. 183,429). Da mesma
maneira como a primeira Eva, co-pecadora ao lado de Adão, disse sim à Serpente
e trouxe ao mundo o pecado (cf. Gn 3,6), agora a nova Eva, Co-Redentora ao lado
de Cristo, diz sim a Deus e traz ao mundo a salvação (cf. Lc 1,38).
A Co-Redenção de Maria não tem a mesma
grandiosidade da Redenção do Filho de Deus, mas o título quer mostrar a
participação viva de Maria nesta obra. Quando Santo Afonso diz que “Depois de
Deus, outra esperança não temos senão Maria”, não está diminuindo a grandeza de
Deus, mas está mostrando a importância de Maria neste contexto. De modo
parecido nos fala São Paulo: “Sejam meus imitadores, como também eu o sou de
Cristo” (1ª Cor 11,1). Nesta frase, São Paulo não indica que o exemplo de
Cristo seja insuficiente, mas mostra que o seu exemplo também é importante e
quem o segue estará seguindo a Cristo. O mesmo o senhor concorda quando publica
na página 73 de seu livro este pensamento:
“A
beleza serena e silenciosa de uma vida santa é a influência mais poderosa do
mundo, depois do poder do Espírito Santo de Deus” (C.H. Spurgeon)”
Os primeiros
cristãos entenderam perfeitamente que ao dar valor aos servos de Deus, de
maneira nenhuma se retira a Glória do Senhor, antes, a multiplica: “... o povo
muito engrandecia aos apóstolos (...) a ponto de levarem os doentes até as
ruas, colocando-os sobre leitos e em macas, para que, ao passar Pedro, ao menos
sua sombra encobrisse alguns deles” (At 5,13-15).
Não há nada de
estranho no título de Co-Redentora se analisarmos as palavras de Rm 8,17 onde
somos chamados de “co-herdeiros com Cristo, pois, uma vez que, tendo participado
dos seus sofrimentos, também participamos da sua glória”. Veja que nenhum de
nós tem condições de ser comparado a Jesus, mas mesmo assim São Paulo diz que
somos co-herdeiros com Cristo, ou seja, juntos com Jesus receberemos a
recompensa porque também nós participamos de seus sofrimentos. Sabemos que
nossa herança não é exatamente a mesma de Cristo e que nem participamos da
mesma forma nos seus sofrimentos, mas mesmo assim ganhamos o título de
co-herdeiros. O mesmo acontece com Maria: sua Co-Redenção não é a mesma
Redenção do Filho, mas o título deve ser este por causa da sua singular
participação neste mistério.
“Não sejamos
daqueles que julgam diminuir a glória de Jesus Cristo quando se alimentam
elevados sentimentos para com a Santíssima Virgem e os Santos (...) Por certo
seria atribuir a Deus fraqueza deplorável crer que Ele se torne invejoso das
dádivas e luzes que Ele próprio derrama sobre as criaturas. Pois que são os
Santos e a Virgem se não a obra das mãos e da graça do Criador? (...) Por mais elevadas
que sejam as perfeições que reconhecemos em Maria, não poderia Jesus Cristo
ter-lhes inveja, porque é dEle que vêm e é a glória exclusiva dEle que se
referem” (Bossuet, 3º sermão na festa da Conceição da Virgem, 1669. Obras t. II. Paris, 1863, 51).
50 - A RAINHA DO CÉU
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A
exemplo da reza ‘Ave Maria’, (a Salve-Rainha) inicia-se com uma exaltação nada
bíblica a Maria, que desta vez é promovida a discrepante posição de
Rainha” (pág. 66)
Não entendi porquê o senhor afirmou que a oração da Ave Maria inicia-se
com uma exaltação nada bíblica a Maria. Façamos
uma ponte entre a oração mariana e a Bíblia. Assim inicia-se a oração da Ave
Maria:
“Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco”, compare com
Lc 1,28.
“Bendita
sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”,
compare com Lc 1,42.
Quanto ao título
“Rainha” não vejo discrepância alguma, visto que Maria se tornou Mãe do “Rei
dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19,16). Se o Filho é Rei, logicamente a Mãe é Rainha. Devemos entender que todos
os títulos dados a Maria só têm um objetivo: elevar a glória de seu Filho.
Seguramente Maria é Rainha subordinada ao Seu Filho, do mesmo modo como é
intercessora ou nova Eva: sempre subordinada ao poder e a glória do “Verbo de
Deus” (Ap 19,13).
51 - O TERMO RAINHA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Pior
que o próprio termo em si, é conhecer sua origem. Ao contrário do que muitos
pensam, o título ‘rainha do céu’, emprestado a Maria pelos católicos romanos
não é novo, nem se trata de uma exclusividade de Maria, mãe de Jesus. Segundo o
texto de Jeremias 7:18, este antigo posto ‘pagão’, é não apenas mais antigo que
a própria Maria mas, abominável a Deus desde sua origem.(...) Entretanto,
parece óbvio que o catolicismo romano tenta, mesmo que discretamente, usurpar o
lugar de Deus, infiltrando Maria em seu lugar. Um exemplo bem interessante
disso é a oração das 18h, dirigida a Maria nos países católicos. Segundo a
Bíblia, Deus tinha comunhão com o homem ‘na viração do dia’ (Gn 3:8), ou seja,
às 18h. (...) o que mostra claramente que se pretende deslocar o que pertence a
Deus, entregando a Maria”
(págs. 66 e 68)
Aqui há bastante assunto para estudo.
Veja: primeiro o senhor diz que o título “Rainha do céu” é um título pagão e
assim, estamos paganizando e idolatrando Maria. Ora pastor, o título é pagão e
idólatra se fizermos dele alguém que substitua o lugar do Deus Verdadeiro, e
não alguém que esteja a Seu serviço. Maria está a serviço de Deus. Embora sendo
Rainha Mãe do Rei, continua sua “escrava!” (Lc 1,38). Qualquer título que se
use com o fim de idolatria será contrário ao gosto de Deus, e qualquer título
que se use para glorificar a Deus e exaltar seus companheiros só pode ter a Sua
aprovação. Veja um fato: os antigos idolatravam o “deus Sol”. A Bíblia, no
entanto, transforma esse “título pagão” em título para exaltar o Messias: “sol
que nasce do alto” (Lc 1,78), sem que isso paganizasse a Jesus. Não é porque se
usava determinado título no paganismo que não podemos usá-lo no cristianismo,
desde que ele não venha a substituir a Deus. Por tudo o que já foi dito acima,
não vejo necessidade de me estender para explicar que a Igreja honra a Maria
não como deusa, mas como Rainha a serviço do Rei dos reis.
O senhor também comenta sobre a comunhão
que Deus tinha com o homem “na viração do dia” e que este horário foi entregue
à Maria pelos católicos. É bom sabermos que Gênesis 3,8 não mostra que o
horário exclusivo para a comunhão com Deus era (ou é) às 18h, “na viração do
dia”, mas comenta que naquele determinado dia, nesse horário, Deus passou por
ali. Prova disso é que em mais nenhum trecho bíblico se comenta sobre esse
horário. Se recorrermos ao original bíblico, lá está escrito que Deus passou
pelo jardim no “rúah”, palavra hebraica que em seu sentido primeiro significa
sopro, ar, atmosfera. Deus tinha e tem a comunhão com o homem, mais do que num
horário marcado, Ele a tem no meio ambiente, no sopro de sua criação.
Inclusive tem o
seguinte: se nesse horário (ou em qualquer outro) lembramos de Maria é porque
justamente confirmamos nossa fé em Jesus, pois foi Ele quem a tornou grande.
“Quanto a Maria, nenhum problema: é excelente caminho para Jesus. Até porque,
quem está perto de Maria, nunca está longe de Jesus. Ela nunca se afastou dele” (Pe. Zezinho, Semanário
litúrgico “O Santuário da Penha”, SP, Dezembro de 1999).
52 - IDOLATRIA E RIQUEZA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“Qualquer
observador dotado de um mínimo discernimento espiritual concluirá que, quanto
mais idólatra for um povo, tanto maior será a desgraça de sua terra. Isso pode
ser verificado com muita clareza em vários países do mundo, inclusive no nosso,
principalmente no norte e nordeste” (pág.
67)
Agora o senhor
acusa os nordestinos de adoração a ídolos ao invés de Deus e conclui que por
isso que sua terra é tão inóspita: resultado de sua idolatria. E com certeza se
refere aos católicos que são grande maioria naquelas terras. Não sei como pode
chamar os católicos de idólatras, visto que a Igreja é claríssima no seu
ensinamento sobre quem devemos adorar: “A adoração é o primeiro ato da virtude
da religião. Adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o
Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e
misericordioso. ‘Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto’ (Lc
4,8), diz Jesus citando o Deuteronômio (6,13)” (Catecismo da Igreja Católica,
§2096).
Se algum
católico pratica a idolatria é porque está na ignorância e totalmente fora do
que ensina a sua Igreja. Precisa aprender. Agora, julgar todos os católicos de
idolatria por causa de uma parte que anda errada é o mesmo que chamar todos os
Apóstolos de ruins, por causa da traição de Judas Iscariotes. Agora, tenha
precaução, pois se a Igreja ensina com clareza que a adoração só pertence a
Deus e o senhor acusa o catolicismo de adorar ídolos, podem pensar que o senhor
acha que Deus é um ídolo...
Com respeito à
desgraça da terra do norte e nordeste, eu penso que como pastor cristão, o
senhor deve saber que uma das grandes novidades trazidas por Jesus foi
justamente quando se fez pobre e mostrou que a pobreza não significa desgraça
de Deus e que riqueza não significa graça de Deus. Ele dizia: “Não ajuntem
riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem...” (Mt 6,19). A
graça de Deus justamente está naquele que, pode não ter dinheiro, nem vida
financeira tranqüila, “mas é rico para Deus” (Lc 12,21). Certamente foi por
isso que os discípulos ficaram muito espantados com Jesus (cf. Mc 10,24.26),
pois o pensamento antes de Jesus Cristo era justamente achar que a graça de
Deus se media pelo tamanho da carteira. Diante disso, fica impossível a um
cristão afirmar que a falta de provento de um povo signifique ausência da graça
de Deus ou que, se um povo é pobre é porque é idólatra e que por serem os
nordestinos católicos “idólatras” eles sofrem o que sofrem. Se assim fosse, o
Japão não seria a grande potência mundial que é, visto que as religiões
predominantes são justamente religiões idólatras como o Xintoísmo e o Budismo.
53 - INÍCIO DO DIA
Por Carlos
J. Magliano Neto
“A
visão de Deus sempre foi de que o dia do ser humano começasse com luz. Por
isso, de acordo com a palavra de Deus, o dia inicia-se às 6h da manhã com o
nascimento do sol. Este princípio é respeitado até hoje em Israel; porém, os
países católicos estabeleceram que o dia do ser humano começaria com as trevas,
passando a contar a partir da meia noite” (pág. 68)
É natural que a
manhã seja considerada como o início do dia. Porém, existem concepções
diferentes sobre este assunto. Concep-ções inclusive bíblicas. No antigo Egito,
na Grécia e em Roma o dia começava ao amanhecer. Já em Israel houve marcações
diferentes. Na época de Cristo, por exemplo, o costume era que se começasse o
dia com o pôr do sol por causa do calendário lunar de Israel. Suas festas são marcadas pela lua, como a
festa da Páscoa que é celebra-da na 1ª lua cheia do equinócio da primavera
(março ou abril). Muito diferente do que foi afirmado, o dia para os judeus
começa com o pôr do sol, no final da tarde. Prova disso é que Jesus foi
enterrado às pressas justamente porque foi morto na sexta feira da Preparação,
véspera do sábado de Páscoa e os judeus não poderiam adentrar no sábado de
Páscoa tratando de um funeral (cf. Jo 19,31). Com a pressa, José de Arimatéia
fez o sepultamento de Jesus num “túmulo que estava perto” (Jo 19,42). Era sexta
à tarde, “dia de preparação da Páscoa, e o sábado já estava começando” (Lc
23,54), pois o sol já estava se pondo. As maneiras de marcar os dias foram
sendo diversas, até que em 1925 convencionou-se que o início do dia se daria à
meia noite de acordo com o horário do Meridiano de Greenwich. Em Greenwich
passa a Linha internacional de mudança de data que desde 1885 já havia sido
aceita num acordo internacional.
“Elevada à
glória celeste, Maria dedica-se totalmente à obra da salvação, para comunicar a
cada vivente a felicidade que lhe foi concedida. É uma Rainha que dá tudo
aquilo que possui, comunicando, sobretudo, a vida e o amor de Cristo” (Papa
João Paulo II, L’Osservatore Romano, ed. port. nº 30, 26/07/1997, pág. 8).
54 - CONCLUSÃO
Por Carlos
J. Magliano Neto
Já finalizando o
seu trabalho, o senhor fala do seu verdadeiro propósito (pág. 70). Aproveito
deste capítulo apenas a frase de A. Raine:
“Você
pode atingir o topo da escada e então descobrir que ela não está apoiada na
parede certa” (pág. 70)
Certamente
pastor, lendo tudo o que li e refletindo tudo o que pude refletir, percebi que
tive sorte, pois a minha escada está apoiada numa parede sólida, de 20 séculos de
História, iniciada pelo amor de Jesus (cf. Ef 5,25) e não pelas divisões e
meditações humanas (cf. 1ª Cor 1,10-13).
“Nos passos de
Maria” é um livro interessante. No seu decorrer vai acontecendo uma espécie de
mutação, onde o senhor vai evoluindo no conhecimento da pessoa e da importância
de Maria. Essa evolução do pensamento é percebida quando, por exemplo, logo no
início, na página 16, é dito que Maria está “na posição de um mortal comum, e
jamais numa posição de privilégio”. No fim do livro já se entende que isso não
é verdade. Agora o senhor vê que Maria aceitou “o maior desafio que um mortal
poderia ter aceito” (pág. 74) e que isto deu a ela uma “posição de destaque”
(pág. 75).
Falar de Maria
para um protestante torna-se algo muito difícil, já que durante séculos foi
sufocado “no coração dos evangélicos o culto da Virgem” e assim “destruíram os
sentimentos mais delicados da piedade cristã. No seu Magnificat, Maria declara
que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada até o fim dos tempos (Lc 1,48).
Todos nós verificamos que esta profecia se cumpre na Igreja Católica e, nestes
tempos dolorosos, com intensidade sem precedentes. Na Igreja Evangélica, tal
profecia caiu em tão grande esquecimento que dificilmente se encontra algum
vestígio da mesma” (Manifesto de Dresden – Teólogos Luteranos). E o autor do
documento protestante ainda continua: “Eu próprio me devo contar entre as
pessoas que não o fizeram durante os longos anos de sua vida, por conseguinte,
não seguiram as Escrituras segundo a qual ‘Desde agora vão me chamar de
bem-aventurada todas as gerações da Terra’. Eu não me havia incluído entre
estas gerações. É verdade que havia lido na Sagrada Escritura que Isabel havia
falado, inspirada pelo Espírito Santo, reconhecendo Maria como a Mãe do meu
Senhor. Sua velha prima tributou-lhe o maior louvor dizendo: ‘Como mereço que a
Mãe do meu Senhor venha visitar-me?’ (Lc 1,43)”.
Maria é uma das
figuras mais fortes do cristianismo. Apesar de aparecer muito pouco na Bíblia,
os cristãos de todos os tempos sempre admiraram e olharam com muito carinho
àquela que Deus “desejou como residência própria” (Sl 132,13). Apenas a partir
da divisão de 1517, é que uma parte dos cristãos protestaram e jogaram por
terra 1500 anos de respeito e afeição pela Mãe do Filho de Deus (cf. Lc 1,35).
Devo dizer que
seu livro foi uma ajuda para que eu me preparasse mais e buscasse um maior
conhecimento da Doutrina Cristã e da pessoa da Virgem Santíssima que “posta, no
que é possível a uma criatura, o mais próxima de Deus, tornou-se superior a
todos os louvores dos homens e dos anjos” (Papa Pio IX, Definição Dogmática
Ineffabilis Deus, 15). A própria Bíblia recomenda a prepararmo-nos: “Estejam
sempre prontos a responder para a vossa defesa a todo aquele que pedir a razão
da vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito” (1ª Pe 3,15). Foi o
que procurei fazer: mostrando a razão de minha esperança, a verdadeira
Doutrina, mas com suavidade e respeito, sem atacar.
Nestes 2
milênios de Igreja, ela sempre soube que sua função era anunciar a Boa Notícia
sobre o Reino pelo mundo inteiro, como um testemunho para todas as nações (cf.
Mt 24,14), pois a vontade de Deus é “que ninguém se perca, mas que todos venham
a converter-se” (2ª Pe 3,9). E é nesta missão que a Igreja segue, sob ataques,
divisões e lutas, mas firme e forte, pois muitos “desviaram da verdade” e
“estão pervertendo a fé de vários. Apesar disso, o sólido alicerce colocado por
Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra: ‘O Senhor conhece os que são
seus’” (2ª Tm 2,18-19). “Foi sempre privilégio da Igreja vencer quando é
ferida, progredir quando é abandonada, crescer em ciência quando é atacada”
(Santo Hilário de Poitiers, Doutor da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores,
1783).
Muitos podem
afirmar que a Igreja deixada por Cristo saiu de seu rumo e perdeu a intimidade
com o seu Senhor. Afirmando isso, essas pessoas correm o risco de dizer que a
Palavra de Deus é ineficiente e que Deus não tem capacidade de sustentar aquilo
que fala. Muito ao contrário disto, a Bíblia é bem clara ao falar da obra de
Cristo, que é a Igreja, Seu Corpo: “Foi o Senhor quem estabeleceu alguns como
apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e outros como
pastores e mestres. Assim, ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério
que constrói o Corpo de Cristo. A meta é que todos juntos nos encontremos
unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o
homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento é a plenitude de
Cristo. Então, já não seremos crianças, jogados pelas ondas e levados para cá e
para lá por qualquer vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e pela
astúcia com que eles induzem ao erro. Ao contrário, vivendo amor autêntico,
cresceremos sob todos os aspectos em direção a Cristo, que é a Cabeça. Ele
organiza e dá harmonia ao Corpo inteiro, através de uma rede de articulações,
que são os membros, cada um com sua atividade própria, para que o Corpo cresça
e construa a si próprio no amor” (Ef 4,11-16). É lógico: foi o Senhor quem
estabeleceu e preparou os cristãos para que unidos na mesma fé e livres de
qualquer vento de doutrina construíssem o Corpo de Cristo, que é a Igreja, no
amor. Veja que é o Senhor pessoalmente quem administra e zela por sua obra. Se
Ele tivesse que fazer alguma correção, alguma modificação, faria na sua obra,
porque Ele “a alimenta e cuida dela” (Ef 5,29). Não abandonaria sua Igreja como
uma obra inacabada, criando inúmeras divisões (cf. Mt 12,25) pois afinal tudo o
que Deus faz é “muito bom” (Gn 1,31).
“Como, afinal,
Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade
(1ª Tm 2,4); como Cristo veio procurar e salvar a quem estava perdido (Lc
19,10) e para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos (Jo 11,52), assim,
a Igreja, constituída por Deus mãe e mestra dos povos, reconhece-se devedora em
relação a todos e está sempre disposta e procura erguer os que estão caídos, a
sustentar os que vacilam, a abraçar os que retornam, a confirmar os bons e
conduzi-los à perfeição. Por isso ela não pode deixar de testemunhar e anunciar
a verdade divina que a tudo cura (cf. Sb 16,12), bem sabendo que lhe foi dito:
‘O meu Espírito que está sobre ti e as minhas palavras que te pus na boca não
se afastarão agora e para sempre’ (Is 59,21)” (Papa Pio IX, Consti-tuição
Dogmática Dei Filius, 6).
Obviamente, por
mais que se tente explicar a Doutrina, se o ouvinte não estiver acompanhado
pela graça de Deus e não quiser realmente compreendê-la, de nada adiantará
tantas exposições e tanto trabalho, assim como ensina o Apóstolo Paulo: “para
que vocês acreditassem na minha pregação, não por causa da sabedoria dos
homens, mas por causa do poder de Deus” (1ª Cor 2,5). Deste modo, “saibamos que
a fé católica não é apenas o conteúdo daquilo que nós cremos e que está no
‘Creio em Deus Pai’ que todos os domingos nós professamos, mas está, sobretudo,
numa atitude interior de adesão à Verdade revelada, aí está a fé. Se eu faço
livremente uma adesão minha ao que Jesus me revelou, ao que está na Bíblia, ao que
a Igreja ensina, aí está a minha fé” (Dom José de Almeida Batista Pereira,
Bispo Emérito de Guaxupé-MG, no “Programa Na Fé Católica” em 25 de abril de
2003).
Apesar do senhor
discordar dos dogmas marianos, pude perceber a sua intenção de apontar a figura
de Maria em sua comunidade. Belo aconselhamento o senhor dá:
“Nos
exemplos que deu, imitemos aquela que foi digna de ter copiados seus princípios
de vida e fé. Podemos
andar nos passos de Maria” (pág. 77)
Continue pastor
a levar para os cristãos de sua comunidade a figura santa e suave da Santa
Maria. Feliz pela intenção com a Mãe do Senhor, tenho agora a mesma alegria do
Concílio Vaticano II: “Muito se alegra e se consola este sagrado Concílio o
saber que não falta, mesmo entre os Irmãos separados, quem preste a honra
devida à Mãe do Senhor e Salvador... Todos os fiéis dirijam súplicas
insistentes à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que ela, que assistiu os
alvores da Igreja, também agora, exaltada no céu acima de todos os anjos e
bem-aventurados interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos,
para que as famílias dos povos, quer se honrem do nome de cristão tão quer
desconheçam ainda o seu Salvador, se reúnam felizmente, em paz e concórdia, no
único povo de Deus, para a glória da santíssima e indivisa Trindade”
(Constituição Dogmática Lumen Gentium, 69).
Assim chego ao
fim, reafirmando o que disse no decorrer de todo esse trabalho: como a Bíblia
me diz que a obra do Redentor é eterna (cf. Mt 16,18 e Jr 32,37-40) e não
comenta nada sobre a sua falência, muito ao contrário, Jesus mesmo promete
assistência diária (cf. Mt 28,20) e o Espírito que nos “encaminhará para a
Verdade plena” (Jo 16,13), continuo católico; e da mesma forma como o povo de
Deus venerava a Arca da Aliança que era a habitação da Lei (cf. Js 7,6),
continuarei venerando a sempre Imaculada Santíssima Virgem Maria, a nova Arca
da Aliança, habitação do Legislador, seguindo a orientação de São Paulo:
“Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo; você
sabe de quem o aprendeu” (2ª Tm 3,14).
Um abraço
fraterno na Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Amém!
55 - FONTES DE CONSULTA:
Por Carlos J. Magliano Neto
A Bíblia de Jerusalém; Editora Paulus / A Trindade;
Santo Agostinho; Editora Paulus / A Virgem Maria; Papa João Paulo II; Editora
Cléofas / Bíblia Sagrada; Edição Pastoral; Edições Paulinas / Bíblia Tradução
Ecumênica em CD-Rom; Edições Loyola / Bíblia, um livro feito em mutirão; Carlos
Mesters; Edições Paulinas / Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia; Papa João
Paulo II; Edições Paulinas / Catecismo da Igreja Católica Edição Típica
Vaticana; Editoras Loyola, Vozes, Paulinas, Ave-Maria e Paulus / Comentário
Bíblico; Dianne Bergant, CSA e Robert J. Karris, OFM; Edições Loyola /
Constituição Dogmática De Fide Catholica; Concílio Vaticano I / Constituição
Dogmática Dei Filius; Papa Pio IX; Editora Paulus / Constituição Dogmática Dei
Verbum; Concílio Vaticano II; Editora Paulus / Constituição Dogmática Lumen
Gentium; Concílio Vaticano II; Editora Paulus / Curso de Parábolas e Páginas
Difíceis dos Evangelhos; Escola “Mater Ecclesiae” / Declaração Dominus Iesus;
Congregação para a Doutrina da Fé; Editoras Paulus e Loyola / Definição
Dogmática Ineffabilis Deus; Papa Pio IX; Editora Paulus / Dicionário de
Teologia Bíblica; Johannes B. Bauer; Edições Loyola / Dicionário Enciclopédico
da Bíblia; Dr. A. Van Den Born; Editora Vozes / Dicionário Informativo Bíblico,
Teológico e Litúrgico; José Antônio Jorge; Editora Átomo / Dicionário Inglês-Português
Amadeu Marques e Português-Inglês David Draper; Editora Ática / Em Defesa da Fé
Católica; Pe. José Maria Cavalcante / Enciclopédia Novo Século; Editora Visor /
Exortação Apostólica Redemptoris Custos; Papa João Paulo II / Glórias de Maria;
Santo Afonso Maria de Ligório; Editora Santuário / Liturgia da Horas Segundo o Rito Romano; Editoras
Vozes, Paulinas, Paulus
e Ave- Maria / Na Escola
dos Santos Doutores; Professor Felipe Aquino; Editora Cléofas / Novo Testamento
Comentário e Mensagem – Tiago; Otto Knoch; Editora Vozes / Os Três Momentos de
Maria; Pe. José Maria Cavalcante/ Pergunte e Responderemos 1957-1958; D.
Estevão Bettencourt, O.S.B. / Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas;
Int. Bible Students Association
2003 - Carlão
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