Estudando nos passos de Maria

22 Nov 2003

''Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade.''

(Martinho Lutero, ''Comentário do Magnificat'', cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista ''Jesus vive e é o Senhor'').

Lendo as palavras acima, ditas por Martinho Lutero, o "reformador" protestante. Ficamos a nos perguntar quais as razões do tratamento dispensado pelo mesmo protestantismo a Nossa Senhora, Mãe de Deus. Haja vista, Lutero baniu a Igreja de sua confissão, mas não fez o mesmo com Maria, da qual se refere de forma devotada e amorosa em diversos de seus escritos:

''Por justiça teria sido necessário encomendar-lhe [para Maria] um carro de ouro e conduzi-la com quatro mil cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem, anunciando: 'Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de todo o gênero humano'. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a pé, por um caminho tão longo e, apesar disso, é de fato a Mãe de Deus. Por isso não nos deveríamos admirar, se todos os montes tivessem pulado e dançado de alegria.'' (Martinho Lutero - Comentário do Magníficat).

O sentimento antimariano que presenciamos entre os protestantes não faz parte do verdadeiro ideal da Reforma, mas surgiu pelo falso receio de que o ''brilho'' de Maria pudesse sombrear ou apagar a verdadeira Luz, que é Jesus Cristo. Graças a Deus, hoje podemos enxergar mudanças em alguns fiéis e teólogos evangélicos, reconhecendo o verdadeiro sentido e valor da Santa Mãe de Deus, tal como defende a Igreja Católica. Mas essa mudança ainda custa a se fazer sentir no nosso dia-a-dia.

O presente e-book (livro eletrônico), versa justamente sobre as contestações suscitadas a respeito da figura de Maria na história e na Vida da Igreja universal. Contestações que muitas vezes beiram o absurdo quando notamos um comportamento notadamente antimariano, onde se chega a "demonizar" a própria Mãe de Jesus, nosso Salvador. Outrossim, tais contestações são apresentadas de forma aparentemente fundamentada, com diversas citações bíblicas escolhidas convenientemente, com uma linguagem extremamente sedutora em tentar provar o contrário daquilo que o próprio Deus sacramentou como verdade. Deus não precisava de Maria, quis precisar. Não para qualquer tarefa, mas para ser a Mãe do Salvador de todos os homens, independentemente de credo desses últimos.

O autor do livro, o nosso jovem Carlão, nos conduz passo a passo, numa linguagem acessível e com uma objetividade notável, pelos caminhos desse estudar nos passos de Maria. Sua bem fundamentada resposta às proposições de um pastor protestante -  autor de um livro intitulado "Caminhando nos Passos de Maria" - se vê robustecida pelo claro objetivo de elucidar ao invés de confrontar, de corrigir com caridade ao invés de desqualificar.

Receber a caridosa oferta do Carlão para que seu "pequeno grande" livro fosse veiculado através do Portal Universo Católico, foi alvissareira. Numa comunicação posterior, o mesmo me informava que aguardava a aprovação eclesiástica  do livro, para que o mesmo me fosse remetido, o que despertou curiosidade.  Mas de posse do material prévio para publicação, devidamente autorizada por D. Alano Maria Pena (Arcebispo de Niteroi - RJ), a emoção primeira se verteu num estado de graça, de alguém que recebia uma benção especial. Um verdadeiro presente de Jesus e Nossa Senhora. Uma grata oportunidade de levar a tantos de meus irmãos católicos e especialmente aos irmãos evangélicos, uma obra que certamente os ajudará a elucidar muitas dúvidas, ou a desfazer-se de vários preconceitos.

''Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus.'' (João Calvino, Comm. Sur l’Harm. Evang.,20)

Por fim, fica o meu convite a sua leitura. Você poderá solicitar do autor um exemplar impresso. Mas poderá também imprimir, copiar, enviar via e-mail aos seus amigos, tudo isso citando a fonte e o contato do autor. Seja bem vindo a esse estudo nos passos de Maria.

Elbson do Carmo

Webmaster Universo Católico

 

02 - PREFÁCIO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

ESTUDANDO NOS PASSOS DE MARIA

Autor: CARLÃO

 

 

COM APROVAÇÃO DA AUTORIDADE ECLESIÁSTICA

CONFORME O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, CÂN. 827 §3

 

 

OUTUBRO DE 2003 – MÊS MISSIONÁRIO, ANO DO ROSÁRIO

 

 

“A contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. O rosto do Filho pertence-lhe sob um título especial... à contemplação do rosto de Cristo ninguém se dedicou com a mesma assiduidade de Maria.” (Palavras do Santo Padre João Paulo II na Carta Apostólica “O Rosário da Bem-Aventurada Virgem Maria”, nº 10).

 

Esta reflexão de João Paulo II ajuda-nos a compreender, de forma bem real, a importância do testemunho de Maria na vida e na Obra salvífica do Senhor Jesus. De certa forma esta compreensão apela para um contato mais profundo com toda a elaboração do pensamento teológico da Igreja, desde os tempos apostólicos, a respeito da Virgem Maria.

A riqueza de textos, sempre partindo das Escrituras e por elas iluminados, ao longo destes 20 séculos, é imensa, é fascinante e não deixa de empolgar a quantos se dedicam ao contato com estes escritos, tanto na Tradição Latina como na Tradição Oriental.

 

Creio que foi o que aconteceu com o jovem Autor desta singela Obra mariana, nosso Carlão.

 

Estudioso da Doutrina Revelada desde sua adolescência, pesquisador incansável, mas acima de tudo um crente convicto e íntegro no seu testemunho de vida cristã, não resistiu ao toque interior da graça divina convocando-o à missão de evangelizar e dotando-o, para tanto, de um particular talento.

 

A propósito de um livro sobre Maria, de autoria de um pastor protestante, com a única preocupação de esclarecer a Doutrina Católica, e num agradável estilo dialogal, Carlão vai conduzindo o leitor atento pelos caminhos da autêntica Tradição que, sob a inspiração do Espírito Santo e à luz da Revelação bíblica, apresenta o real sentido dos dogmas marianos e sua importância na vida da Igreja de todos os tempos.

 

O estilo “epistolar”, pois trata-se de uma “carta ao pastor protestante”, é simples, bem constituído, o que certamente será de grande utilidade para os leitores compreenderem a Doutrina mariana de nossa Igreja.

Creio, também, que o fato de um jovem inteligente aplicar seu talento na apresentação e defesa da Fé Católica falará tanto ao coração e à mente dos leitores quanto o conteúdo do livro. É um sinal de vitalidade da Igreja, que nos enche de ânimo e de esperança.

 

Não será difícil imaginar o terno sorriso da Santa Mãe de Deus para este filho que tanto a ama, sorriso que sempre aponta para o Rosto Divino do Filho amado, Jesus Cristo a Quem seja dada toda a adoração, a glória e o louvor!

 

 

   + D. Fr. Alano Maria Pena O.P.

      Arcebispo de Niterói

 


03 - INTRODUÇÃO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

“Amados, tendo um grande desejo de escrever-lhes a respeito da nossa salvação comum, fui obrigado a fazê-lo, a fim de encorajá-los a lutar pela fé que foi transmitida aos fiéis de uma vez por todas” (Jd 3).

 

É obrigação de cada cristão conhecer e defender a Fé. Em maio de 2001 foi ao ar na extinta Gospel Channel, canal do sistema a cabo aqui de Nova Friburgo, um programa de uma igreja protestante onde o pastor comentava sobre Maria. Assistindo ao programa, meu afilhado de Crisma, Sandro Alves de Souza e eu, resolvemos escrever para o pastor algumas observações. Assim nos conhecemos e nos tornamos amigos.

 

Agora, em 2003, passando por uma livraria protestante, vejo o livro: Nos Passos de Maria, de autoria do mesmo pastor. Fui até a sua igreja e pedi um exemplar de seu trabalho. Muito solícito, me dedicou um exemplar autografado.

 

Depois que terminei de ler o livro, decidi escrever algo para novamente enviar ao pastor e também para que se tornasse objeto de estudo entre os católicos. O livro Nos Passos de Maria contém uma grande quantidade de argumentações usadas por todas as igrejas protestantes, que devagarzinho, vão se acumulando na porta da casa das famílias católicas e as afastando do ensinamento da Primeira Igreja.

 

Assim, este meu texto denominado Estudando Nos Passos de Maria, pretende levar aos protestantes a verdadeira visão da Igreja Católica sobre alguns pontos da Mariologia, não poucas vezes deturpados por eles; e pretende levar aos católicos o aprofundamento e a solidificação de sua fé. Como disse Santo Agostinho: “É preciso demonstrar pela autoridade das Santas Escrituras, a certeza de nossa fé” (A Trindade, cap. 2). Por isso, Estudando Nos Passos de Maria é recheado com uma gama bem diversa de citações e passagens bíblicas, além dos documentos da Igreja e da palavra dos santos homens de Deus. É um livro simples, que nasceu de uma necessidade: conhecer a verdade (cf. Jo 8,32).

 

Dedico este trabalho a todos aqueles que lutam pela preservação da Fé Católica.

 

“A vocês, que já conhecem definitivamente essas coisas, quero lembrar-lhes que o Senhor, depois de ter salvo o povo da terra do Egito, destruiu em seguida aqueles que não queriam acreditar... O mesmo acontece com esses indivíduos: levados por seus devaneios, contaminam o próprio corpo, desprezando o senhorio de Cristo e insultando os seres gloriosos... Vocês, porém, amados, lembram-se das coisas que foram ditas anteriormente pelos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo... construam sobre o alicerce da santíssima fé que vocês têm... Para aquele que pode preservar vocês de qualquer falta e pode fazer que vocês compareçam sem defeitos na alegria diante da glória dele, ao Deus único, nosso Salvador, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, seja dada a glória e a majestade, a força e o poder, antes de todos os tempos, agora e para sempre. Amém!” (cf. Carta de Judas).

 

 

Carlão

 


04 - Ao Pastor

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

Prezado pastor,

 

QUE A PAZ DE CRISTO E A UNIDADE DO ESPÍRITO SANTO ESTEJAM CONTIGO!

 

        Resolvi escrever a fim de que fiquem mais organizadas e claras as minhas proposições, e para “celebrar” a primeira carta enviada pelo meu amigo e afilhado Sandro e por mim que comemorou dois anos no último 23 de Maio. Carta que, aliás, o senhor usou bastante no seu livro “Nos passos de Maria” e que segundo o seu próprio testemunho foi quem deu origem a ele.

 

“Nos passos de Maria” traz algumas argumentações interessantes e outras que são julgamentos e “achismos” dentro do que oficialmente ensina a Igreja Católica.

 

A Igreja de Jesus Cristo desde o seu início há 2000 anos, sempre zelou pela “sã doutrina” (2ª Tm 4,3). Esta é a sua missão: guardar o depósito da fé (cf. 2ª Tm 1,14). Por muitas vezes a Igreja teve que enfrentar grandes debates e sérias discussões a fim de cumprir o seu papel (cf. At 18,5-6.28). O zelo da Igreja pela Verdade é tão grande que não foram poucos aqueles que morreram mártires em defesa da fé, a começar por Santo Estevão (cf. At 7,59). Também, em virtude de tão grande cuidado, a exemplo de Moisés (cf. Ex 32,25-29) e de Elias (cf. 1º Rs 18-22.40), caiu-se em erros de comportamen-to como o da Inquisição. Tudo isso para fazer jus à ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Por isso, vejo-me na obrigação de responder a alguns pontos, remover algumas falsas interpretações e desvios do ensinamento do Magistério da Igreja, a fim de “esclarecer suas dúvidas, ter respostas para as suas questões e ao mesmo tempo aprofundar o conhecimento d’Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida e que se manifesta através da Igreja que Ele – e não mais ninguém – pensou, criou e acompanha como prometeu, até o fim dos tempos nos caminhos deste mundo” (D. Fr. Alano Maria Pena, O.P., Arcebispo-eleito de Niterói-RJ no “Programa Na Fé Católica” em 14 de março de 2003).

Demorei em preparar este texto, pois no momento estou dirigindo e apresentando o programa “Na Fé Católica” da Diocese na Rádio Friburgo AM todas as sextas-feiras às 20:30h. Também ministro um curso bíblico às terças-feiras na Paróquia São Roque, em Olaria. Além das palestras que me convidam a fazer e os estudos de Teologia. E como todo mortal, tenho minhas obrigações comuns de trabalho. Graças a Deus, odeio ociosidade. Também quis a revisão e a aprovação do Administrador Diocesano de Nova Friburgo, Dom Frei Alano Maria Pena O.P. Por se tratar de pontos tão profundos da Doutrina Católica, era necessário que alguém com autoridade apostólica de ensinar analisasse estes pensamentos a fim de que se trate realmente de um trabalho que reflita a pura Doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana e não interpretações pessoais da Doutrina, assim como recomenda a própria Igreja (cf. Código de Direito Canônico, cân. 827 §3).

 

Achei muito interessantes algumas de suas colocações sobre Maria, como esta logo abaixo:

 

“‘Nos passos de Maria’ é uma abordagem simples, porém séria, sobre a obra e vida daquela que todo cristão criterioso e fundamentado na Palavra de Deus precisa amar e respeitar”                                                           (pág. 11)

 

E também, comentando sobre a fiel de sua igreja que não gostou de sua pregação sobre as virtudes de Maria, o senhor concluiu:

 

 “A preocupação de nossa irmã denuncia não apenas nossa parcial ignorância sobre a pessoa de Maria, mas aponta também para o errado posicionamento de alguns cristãos verdadeiros que, por receio de cair em um erro, se colocaram em um outro extremo”                                (pág. 15)

 

É exatamente isso que apontam os teólogos da Igreja Luterana no documento “Manifesto de Dresden”, dizem eles: “O temor de diminuir a glória de Jesus foi a causa de que nas igrejas evangélicas, se negassem a Maria a veneração e os louvores devidos. E, entretanto, temos que afirmar que através da justa veneração que aos apóstolos e a ela corresponde, multiplica-se a glória e o louvor ao Senhor, porque foi Ele que a elegeu (e a fez) pela Sua Graça um instrumento seu”.

 

         Parece-me que as igrejas protestantes esqueceram sua origem, seu iniciador, Martinho Lutero que pregava: “Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ser Mãe de Deus é um privilégio tão alto, coisa tão imensa, que supera toda e qualquer inteligência. Daí lhe vem toda a honra e a alegria e isso faz com que ela seja uma única pessoa em todo o mundo, superior a quantas existirem e que não tem igual na excelência de ter com o Pai Celeste um Filhinho em comum. Nestas palavras, portanto, está contida toda a honra de Maria. Ninguém poderia pregar em seu louvor coisas mais magníficas, mesmo que possuísse tantas línguas quantas são na terra as flores e folhas nos campos, nos céus as estrelas e no mar os grãos de areia” (Vitemberga, IV-9, pág. 85).

 


05 - SAGRADA TRADIÇÃO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

        Antes de entrar nas minhas observações sobre seu trabalho, vale lembrar que para nós, católicos, a Bíblia não é a única fonte e regra de fé. Ela o é também, ao lado da Sagrada Tradição. Afinal, “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos” (Jo 21,25). Com este versículo, São João nos faz perceber que a mensagem evangélica não foi passada para o papel na sua totalidade. A própria Bíblia afirma que existiam duas maneiras de ensinar o povo: uma escrita e outra falada (cf. 2ª Ts 2,15). Sendo assim, de tudo o que foi pregado, uma parte foi escrita nas Páginas Sagradas e o que não foi escrito é chamado de Sagrada Tradição e “esta Tradição, que se origina dos apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo” (Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática De Fide Catholica, 4). Por outro lado, a própria Bíblia nunca diz que ela é a única regra de fé, mas indica que a verdade plena está “na casa de Deus, que é a IGREJA do Deus vivo, COLUNA E SUSTENTÁCULO DA VERDADE” (1ª Tm 3,15). É a Igreja que contém a verdade total, pois se baseia em duas fontes de fé: a escrita e a de viva voz. Jesus nunca distribuiu Bíblia, mas Ele fundou uma Igreja e a esta Igreja deu autoridade de pregar em seu nome (cf. Lc 10,16).

 

“As afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja que acredita e ora. Esta mesma Tradição mostra à Igreja quais são exatamente todos os Livros Sagrados (o cânone da Bíblia) e faz compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante sem cessar. Assim Deus, que outrora falou, continua sempre a falar com a Esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo, pelo qual ressoa a voz viva do Evangelho na Igreja e, por ela, no mundo, introduz os crentes na verdade plena e faz que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cf. Cl 3,16)” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8).

 

Se a Bíblia fosse a única fonte de fé, apenas a sua leitura seria o suficiente para compreendermos toda a mensagem divina, mas não é isso que acontece. Lembre o caso do eunuco que não compreendia o que estava lendo na Bíblia e precisava de uma explicação oral, precisava do apoio da Tradição: “Filipe correu, ouviu o eunuco ler o profeta Isaías, e perguntou: ‘Você entende o que está lendo?’ O eunuco respondeu: ‘Como posso entender, se ninguém me explica?’” (At 8,30-31). É como disse Santo Agostinho, Doutor da Igreja: “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (Catecismo da Igreja Católica, §119).

 

        Tendo isso em mente, vamos à análise de alguns pontos interessantes do seu trabalho:

 


06 - AGRACIADA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

“... esta saudação do anjo colocou Maria na posição de um mortal comum, e jamais em uma posição de privilégio, pois ‘graça’ significa ‘favor, benefício, perdão,...’. Biblicamente, todos nós que recebemos a Jesus como Salvador, recebemos sua graça. Somos, portanto, agraciados e isso não nos faz maiores do que ninguém”                                                                         (pág. 16)

       

Parece-me pastor que houve uma falta de esclarecimento na significação da “graça de Deus”. Enquanto cristão, discípulo d’Aquele que trouxe a graça (cf. Jo 1,17) eu não entendo que um favor, um benefício ou um perdão de Deus é algo comum, algo que nos coloque na magra posição de um mortal qualquer. Ao contrário pastor, uma graça de Deus significa vitória, libertação, salvação como nos ensina a Sagrada Escritura: “O pecado não os dominará nunca mais, porque vocês já não estão debaixo da Lei, mas debaixo da graça” (Rm 6,14). Considero-me a pessoa mais feliz do mundo, a mais realizada, quando recebo de Deus uma graça, um favor. O recebimento de uma graça me mostra como estou unido ao meu Senhor Jesus (cf. Jo 15,7). E é de se notar que Maria não é chamada pelo anjo de agraciada porque ela era a Mãe do Salvador; ela ainda não estava grávida e nem havia dado o seu “fiat”, o seu sim. Mas o anjo assim a chamou, pois ela sempre fora cheia de graça e sempre o Senhor esteve com ela (cf. Lc 1,28). Inclusive, na língua original do Evangelho de Lucas, o grego, o anjo a chama de κεχαριτωμένη (agraciada – lê-se kerraritooménee), que na gramática grega é um particípio perfeito passivo, que demonstra uma ação do passado que continua acontecendo, ou seja, Maria sempre foi agraciada, tanto no passado, antes da revelação, como é também agora e sempre será.

 

Com certeza pastor, o anjo não “colocou Maria na posição de um mortal comum”, mas a confirmou como privilegiada serva do Senhor como o senhor mesmo, em seguida, afirma na pág 21: “É verdade que ser mãe da humanidade de Cristo é, por si só, um privilégio indescritível”.

“O Todo-Poderoso realizou grandes obras em meu favor: seu nome é santo” (Lc 1,49).

 


07 - BENDITA ENTRE AS MULHERES

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 “Entre todas as mulheres de seu tempo, ela foi abençoada e louvada”                                               (pág. 16)

 

Não entendo porquê os protestantes (esta não foi a primeira vez que vi isso) reduzem a beatitude de Maria a apenas diante das mulheres de seu tempo. Ainda fazem questão de afirmar que “Maria não foi bendita entre todas as mulheres, mas apenas entre as mulheres”. Não sei porque isso, visto que Maria fez uma grande profecia: “De agora por diante todas as gerações me proclamarão bem aventurada” (Lc 1,48). Maria não é bendita somente diante daquela geração, mas diante de “todas as gerações”.

 

Apesar de o senhor ter tentado reduzir a beatitude de Maria apenas às “mulheres de seu tempo”, na página 21 encontrei uma frase belíssima sua, que parece vir corrigir esse pensamento:

 

“Por isso, devemos como o anjo (Lc 1:28), honrá-la e reconhecê-la como alguém feliz, bem aventurada entre todas as mulheres”.

 

Louvado seja Deus e honrada seja Maria!

 


08 - BEM-AVENTURADA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 “Na própria Bíblia, houve um caso notável de alguém que acreditou ser Maria superior a todas as outras mulheres. O equívoco não foi adiante, porque o comentário foi feito ao próprio Jesus, que imediatamente colocou as coisas em seus devidos lugares. ‘E aconteceu que dizendo ele estas coisas, uma mulher entre a multidão, levantando a voz, lhe disse: ‘Bem aventurado o ventre que te trouxe e o peito em que mamaste’. Mas ele disse: ‘Antes, bem aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam’ (Lc 11:27,28)”                            (pág. 17)                                                                         

 

Pareceu-me uma contradição: primeiramente o senhor diz que “Bem aventurada” não é um título extraordinário e que este termo não “faria Maria maior que outra pessoa” (pág. 16). Entretanto, no comentário sobre o episódio de Lc 11,27-28, assim está:

 

“Uma mulher dentre a multidão que ali estava, impõe sua voz, enaltecendo Maria acima das expectativas de Jesus e das pretensões bíblicas”                                           (pág. 17)

 

Como assim “acima das expectativas” se a mulher apenas disse: “Bem aventurado”? Por que é que o senhor interpreta o mesmo termo “bem-aventurado(a)” com dois sentidos tão diferentes? Com uma interpretação para cada ocasião?

 

Mas isso não é o principal. Vamos ao conhecimento da Igreja sobre essa perícope: “Ora, tal motivo de exaltação (que Jesus fez) se aplica eminentemente a Maria Santíssima, que, sem dúvida, recebeu a graça de se tornar Mãe do Verbo encarnado, porque primeiramente se mostrou em tudo fiel serva do Senhor; diz Santo Agostinho: ‘Mais feliz é Maria por ter vivido inteiramente a fé do Messias do que por ter concebido a carne do Messias’(Ed. Migne Lat. 40,398). À Luz deste princípio, entendam-se as palavras de Jesus: o Senhor quer erguer a estima a Maria sobre o aspecto mais digno e rico que a Mãe de Deus possa apresentar à consideração dos cristãos” (D. Estevão Bettencourt, OSB, Curso sobre parábolas e páginas difíceis dos Evangelhos, mód.10 pág.182). Jesus reponde que a verdadeira felicidade consiste em ouvir a Palavra de Deus e observá-la. Logicamente não excluiu sua Mãe, mas mostra que a verdadeira superioridade dela está no fato de ter sido uma mulher de fé: “Bem aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45); “E sua mãe conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51).

 

A honra à Maria deve ser dada primeiramente por causa de sua fé e depois por causa da gestação divina. Afinal, ela só ficou grávida do Senhor porque acreditou. Quando a Igreja nos põe Maria como exemplo a ser imitado, claro que não é o exemplo de ser Mãe do Filho de Deus que deveremos imitar (pois isso nos será impossível!), mas é o exemplo da fé, da confiança em Deus que a jovem Maria tinha. E é isso que o Senhor quer demonstrar.  Perceba que Ele não disse que Maria não era bem-aventurada, mas disse que antes, bem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam. Maria é bem aventurada duas vezes: primeiro porque acreditou (cf. Lc 1,45), segundo porque deu à luz o Filho de Deus (cf. Lc 11,27).

 

“O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé” (Santo Irineu, Catecismo da Igreja Católica, § 494).

 

 

 

 

 

 

 


09 - MARIA COMO MÃE DE DEUS

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“É possível que a idéia em si não seja de todo um equívoco; porém as conseqüências desta confissão, quando levadas a extremo, podem ser devastadoras, não apenas pela forma de ver Maria, mas também pela visão distorcida que se terá de Jesus”                                  (pág 19)

       

Pastor, tudo levado a extremo pode ser devastador. Tudo o que é em demasia, por melhor que seja, passa a não ser bom, pois leva à ruína. Exemplo: ir à igreja é bom, é ótimo. Só que se uma pessoa não tiver outra ocupação, e viver na igreja dia após dia, hora após hora, isso não fará bem a ela, a levará ao fanatismo que não é nada bom. Do mesmo modo como comer é bom, mas se alguém levar isso ao extremo, não fará bem, ao contrário, vai passar mal. Veja a sugestão de São Paulo: “Não continues a beber somente água; toma um pouco de vinho por causa de teu estômago...” (1ª Tm 5,23). Evidente-mente São Paulo recomenda o uso do vinho sem exagero, pois o vinho é bom, mas se levado a extremo pode-se tornar um mal: o alcoolismo.

 

        Dei estes exemplos, porque não se pode, por causa de possíveis abusos, negar o que é verdadeiro. O senhor mesmo concorda que esta idéia em si não seja de todo um equívoco, então por que negá-la? Se ficarmos mutilando a Verdade por medo de que alguém a levará para um caminho ruim, deveremos então apagar grande parte dos ensinamentos de Cristo, como este: “Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que seu corpo todo ser jogado no inferno” (Mt 5,29). Vamos sumir com este também: “Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). São ensinamentos do Filho de Deus, mas, se levados a extremo, serão também devastadores.

 


10 - FILHO DE DEUS E FILHO DO HOMEM

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Ainda dentro do tema Mãe de Deus, devo lhe pedir licença, pois acho que o senhor não entendeu muito bem essa questão. Primeiro é dito assim:

 

 “Considerando que Jesus é Deus, e ainda, que nasceu de Maria, penso ser óbvio dizer que Maria é mãe de Deus”             

                                                                                         (pág. 19)

 

E ainda:

 

“O termo grego ‘meter ton Iesous’ (mãe de Jesus) é usado na Bíblia algumas vezes, o que significaria dizer que no sentido humano, Maria é de fato a mãe de Deus. Foi ela quem gerou o Messias, quem o carregou por nove meses, quem o amamentou e cuidou dele até a idade adulta. Seria uma discrepância afirmar que, neste sentido, ela não é a mãe de Deus”                                                      (págs. 19 e 20)

 

O curioso vem agora:

 

“Deus não tem mãe; se tivesse, deixaria de ser Deus. (...) Maria é mãe do Deus homem e nada mais”            (pág. 21)

 

Creio que aqui seja necessário uma detalhada explicação.

 

Maria é Mãe de Deus sim ou não? Não entendi a que conclusão chegou.

Para assimilar melhor esse Mistério nos é necessário saber mais sobre a Encarnação do Filho de Deus no ventre de Maria. Veja, antes de tudo precisamos saber a diferença teológica entre as duas palavras NATUREZA e PESSOA. A palavra NATUREZA se refere a tudo que seja próprio da essência de um ser, a sua estrutura íntima que o faz ser e agir tal como ele é e age. Exemplo: a natureza humana é a racionalidade do homem, isto é, a sua capacidade de pensar. Daí então vem a sua linguagem, sua maneira de agir e etc, ou seja, tudo aquilo necessário para que alguém seja ser humano. A todos os homens é igual esta natureza, pois essas características lhes são próprias. A criatura que tiver esta natureza racional é ser humano.

 

Porém, apesar de todos os seres humanos compartilharem da mesma natureza, eles não compartilham da mesma personalidade. E é aí que entra a palavra PESSOA, que se refere à personalidade, à individualidade e à particularidade que cada um tem e que é próprio seu, somente seu. É o “eu” de cada um, é o “ser” de cada um. Pastor, eu tenho a mesma natureza que a sua, mas a nossa pessoa é diferente.

 

Entendido isso fica mais fácil percebermos o Mistério da Encarnação de Jesus: Ele, sendo “Filho de Deus” (Mt 27,54), Eterno (sem começo e sem fim) igual ao Pai (Ap 22,13), tem a sua Natureza Divina, que é compartilhada pelas Três Pessoas da Santíssima Trindade. O Filho possui uma Natureza com características próprias da Divindade, que o faz ser Deus (cf. Fl 2,6). Junto com essa Natureza, Ele possui a Pessoa, sua personalidade particular que é diferente das demais, que são as características próprias dAquele que é o Filho e que só Ele tem. É o Seu Eu particular, a Sua Pessoa Divina.

 

Em um determinado momento da História (cf. Gl 4,4), essa Pessoa Divina com Natureza Divina, vem ao mundo e assim, no ventre de Maria, assume também a Natureza Humana. Jesus passa a ser então uma Pessoa com dois modos de agir, com duas naturezas: uma Divina (que Ele sempre teve) e uma Humana (que Ele assumiu por causa da Encarnação). No entanto, Este que possui as duas naturezas é uma Pessoa só, a Divina, a Pessoa Eterna do Filho de Deus (cf. Jo 17,5). O Eu de Jesus é Divino (cf. Cl 2,9) e a maneira de agir é Divina (cf. Mc 2,5-12) e Humana (cf. Mt 26,39), pois possui o que é característico de cada uma das naturezas. Por conseguinte, a Pessoa que nasceu de Maria é a Pessoa que sempre existiu: a Pessoa do Filho de Deus, Deus igual ao Pai (cf. Jo 1,1.14). Deste modo, é perfeitamente óbvio que Maria gerou a Natureza Humana, mas como ninguém é mãe só da natureza, mas sim da totalidade do ser, Maria é Mãe de Deus, pois a Pessoa que assumiu a natureza humana gerada em seu ventre é a Pessoa de Deus Filho.

 

O anjo anunciou à Maria: “...o Santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). As palavras do anjo confirmam a maternidade divina de Maria, pois chamando o Filho de Maria de Filho de Deus, o anjo está dizendo que o Filho que nasceu de Maria é “igual a Deus” (Jo 5,18).

 

Diante disso, não há como entender o seu argumento de que ela é Mãe de Deus “no sentido humano”. Se ela é Mãe no sentido humano, não é Mãe de Deus, mas Mãe do homem Jesus somente, e assim estaríamos fazendo uma separação entre dois Jesus diferentes: uma Personalidade de Jesus Humano e uma outra Personalidade de Jesus Divino, o que não existe.

 

Mais confuso ainda é dizer que “Maria é mãe do Deus homem e nada mais”. Como assim Deus homem e nada mais? Nada mais mesmo, pois “Deus homem” já é a totalidade do Senhor Jesus, não existe mais e nem menos. Como já visto, não se divide a Pessoa de Jesus em parcela humana e parcela divina. “O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado da mescla confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem” (Catecismo da Igreja Católica, §464). Esta é a voz perene da Igreja ensinando que Jesus é a Pessoa Eterna Divinal que assumiu a natureza humana em um determinado tempo. A Pessoa do Filho de Deus é a mesma de sempre, acrescentada a Natureza Humana (cf. Rm 9,5), por isso Ele é indivisível!

 

Deste modo, o Concílio de Éfeso no ano 431 proclamou que Maria se tornou de verdade a Mãe de Deus, não porque dela nasceu a Divindade, mas porque nela Deus “se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14). O Filho nascido da Mãe Maria é o mesmo Filho Eterno do Pai que é Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo, e é conhecido como “Filho de Deus” (At 9,20) por ser ter natureza divina e “Filho do Homem” (Mt 17,22) por ter natureza humana.

 

“Aquele que fez todos os seres se tornou filho de sua criatura” (São Leão Magno, Doutor da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores, 1454).

 


11 - DISCRETAMENTE

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Além disso, a igreja católica ensina, mesmo que discretamente, ser Maria Mãe de Deus em todos os sentidos”                                                                         (pág. 20)

 

É lamentável o seu argumento de que “a igreja católica ensina, mesmo que discretamente” que Maria é Mãe de Deus no sentido de que Deus só começou a existir a partir do momento em que foi concebido por Maria. A Igreja jamais ensinou isso. Mas, para “confirmar” o seu argumento, o senhor cita uma frase “da Internet”:

 

 “Maria não é a mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade de seu filho, que tinha uma só pessoa (a Divina)”                                                                            (pág. 20)

 

Se não houver má vontade na interpretação desta frase, será percebido que ela comporta toda a verdade cristã explicada detalhadamente acima. É só reler tudo o que eu escrevi e verá se a frase tem ou não razão. Repetindo: não se divide o Senhor ao meio, a Pessoa é única. Todavia, desconheço qualquer tipo de ensinamento da Igreja mesmo que discreto nessa linha. A Igreja é bastante clara nos seus ensinamentos. O que estou escrevendo aqui, não é conclusão minha, mas é ensinamento oficial da Igreja e isso vem mostrar que a Igreja não ensina nem discretamente nem diretamente essa doutrina que o senhor levantou. Ao contrário, o título “Mãe de Deus” vem se impor perante as heresias que colocavam em dúvida a Deidade de Nosso Senhor. A Igreja deu este título à Maria para confirmar cada vez mais a Divindade do seu Filho, pois Maria é Mãe do “menino... sobre seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Forte’, ‘Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’” (Is 9,5).

 

Sei que, como o senhor já havia me dito pessoalmente, as decisões conciliares da Igreja não representam nada para os protestantes. Contudo, não estou querendo provar nada aqui através dos Concílios, mas apenas mostrar o que de fato é a opinião oficial da Igreja, que tão facilmente é mal interpretada.

 

E veja: mais difícil de entender que Deus teve uma Mãe, ainda é entender que Deus se fez homem, e mais do que isso, que morreu numa cruz. E, no entanto, a fé cristã sempre professou isso sem medo de que fosse levado a extremo ou que, por má interpretação, se diminuísse a grandeza de Deus. O que para “os judeus é escândalo, para os pagãos é loucura” (1ª Cor 1,23), para os cristãos sempre foi Verdade de fé.

 

Na página 20 o senhor afirma com razão que a palavra grega Θεοτόκος (lê-se Theotókos), ou seja, Mãe de Deus, não está na Bíblia. Contudo se esquece que há algo muito similar. Isabel, cheia do Espírito Santo por ter ouvido a saudação da Mãe do Salvador (cf. Lc 1,41) assim exclamou: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1,43). Senhor, em grego Κύριος (lê-se Kírios) é usado na Bíblia como título de Deus e, seguramente, o Senhor de Isabel é o Senhor Deus e não o Senhor Humano. Ou será que Isabel chamou de Senhor somente a parte humana de Jesus? Certamente Isabel não fez essa divisão na Pessoa do Senhor e, portanto Isabel falou: Mãe do meu Deus (cf. At 10,36 compare com Dt 10,17).

 

“Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus” (Calvino, grande nome do protestantismo, Comm Sur I’Harm Evang. 20).

 


12 - A VIRGINDADE PERPÉTUA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

       

Nenhum cristão nega que Jesus tenha nascido verdadeiramente de uma virgem. No desígnio de Deus isso era necessário, pois “a virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus na Encarnação” e assim, “Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de adoção no Espírito Santo pela fé... A participação na vida divina não vem ‘do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus’ (Jo 1,13)... O sentido esponsal da vocação humana em relação a Deus (cf. 2ª Cor 11,2) é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria” (cf. Catecis-mo da Igreja Católica, § 503 e 505).

 

A dúvida, porém, fica com relação à manutenção da virgindade após o nascimento de Jesus. Os católicos crêem que Maria a preservou, já os protestantes têm suas objeções. É o que vamos ver a partir de agora.

No seu comentário sobre a profecia de Isaías 7:14, onde o Profeta anuncia que “uma virgem conceberá e dará à luz um filho” assim está escrito:

 

“Na leitura que fazemos do texto, fica claro que o nascimento virginal de Jesus dizia respeito apenas ao fato de que homem algum teria participação em sua concepção. Depois que a virgem concebesse, a profecia teria sido cumprida e o papel de tal virgem teria terminado”                                                                      (pág. 23)

       

Será mesmo que o “papel de tal virgem teria terminado” com o nascimento do seu Filho? Maria não tinha mais nada para fazer após o nascimento de Jesus? Logo penso que não. Na Bíblia nada está escrito por acaso, tudo tem uma intenção. É imprescindível descobrirmos que a missão de Maria continua após o parto. É só ler as Sagradas Páginas e ver, por exemplo, a profecia do velho Simeão: “e a ti Maria, uma espada transpassará tua alma!” (Lc 2,35). Não é à toa também que Maria aparece em destaque na festa das Bodas de Caná (cf. Jo 2,1) participando intensivamente do primeiro milagre de seu Filho, intercedendo pela família (cf. Jo 2,3) e evangelizando os serventes (cf. Jo 2,5). Depois Maria aparece aos pés da cruz, “de pé” (Jo 19,25), dando testemunho de sua fé, testemunho daquela que “conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51). E por fim, lá está Maria no início da Igreja, como mulher de oração (cf. At 1,14), como primeira cristã, modelo de fé e de vida, vida de quem se fez “serva do Senhor” (Lc 1,38). Certamente a missão da “Mulher” (Jo 2,4), jamais terminou no dia do nascimento do Salvador. A Mulher Mãe do Salvador, pensada por Deus desde o início do mundo (cf. Gn 3,15) teria uma missão que não se prende ao tempo, mas salta para fora dele e atinge todas as gerações, tornando Maria “na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante, a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade” (Martinho Lutero, Deutsche Schriften 14,250).


13 - A MISSÃO ÍMPAR DO JUSTO JOSÉ

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 “Se desejamos ser honestos, tal possibilidade (de virgindade de Maria), ao invés de apontar para a santidade de José, estaria questionando sua masculinidade ou fidelidade. (...) ‘Os sacerdotes devem desistir da idéia da virgindade perpétua de Maria, ou desistir de que José e Maria representam a família humana ideal’”                                                     (págs. 23 e 33)

 

Se analisarmos o celibato e a virgindade com uma visão depreciativa, deveremos também questionar a masculinidade de Jeremias (cf. Jr 16,1), do Apóstolo Paulo (cf. 1º Cor 7,8) e quem sabe até do próprio Jesus que, além de não se casar, pregou o celibato: “Há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para compreender, compreenda!” (Mt 19,11).

 

        Mas poderia se argumentar: Jeremias, São Paulo e Jesus foram celibatários, mas a diferença está em que José casou-se, eles não. No entanto, deveremos perceber que a missão deles era uma, a de José outra.

 

Adentremos um pouco na história de São José: “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1,18).  Primeiramente vemos que Maria já era comprometida em casamento com José. Uma espécie de noivado, que no costume judaico era um compromisso muito real, onde o noivo já podia ser chamado de marido e só poderia terminá-lo por um repúdio, uma denúncia pública. José, ao saber que Maria estava grávida, ficou perdido, sem saber o que fazer. Assim, “José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo” (Mt 1,19). José caminhava ora duvidando, ora vendo a santidade da missão que sua noiva tinha recebido; estava entre admitir um filho que não era seu e ter coragem de assumir uma missão tão nobre. Não queria separar-se dela publicamente, pois isso poderia levá-la ao apedrejamento (cf. Dt 22,20-21). Sem ainda ter definido sua decisão, “eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo’” (Mt 1,20). Pronto: José assim tem a certeza da grandeza da missão de sua mulher e percebe aí também a sua missão: ser protetor e sustento daquela obra divina. “José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher” (Mt 1,24).

 

Não há uma só frase dita por São José nos relatos evangélicos, entretanto, ele agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara demonstrando assim “uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro” (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica Redemptoris Custos, 4). Deus assume assim Maria como esposa e o seu noivo José apenas é orientado a aceitar aquilo como obra do Espírito Santo. Ele entende, e aceita. (cf. Mt 1,21.24).

 

Assim, é impossível compactuar com a idéia de que a Família de Nazaré foi imperfeita porque José teve “uma mulher a quem não possuiu” (pág. 23). “Na Liturgia, Maria é celebrada como tendo estado ‘unida a José, homem justo, por um vínculo de amor esponsal e virginal’. Trata-se, de fato, de dois amores que, conjuntamente, representam o mistério da Igreja, virgem e esposa, a qual tem no matrimônio de Maria e José o seu símbolo. ‘A virgindade e o celibato por amor ao Reino de Deus não só não se contrapõe à dignidade do matrimônio, mas pressupõe-na e confirmam-na. O matrimônio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único Mistério da Aliança de Deus com o seu povo’, que é comunhão de amor entre Deus e os homens” (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica Redemptoris Custos, 20). A Família de Nazaré é, portanto, família humana ideal, pela sua santidade e intimidade com Deus. No entanto, não é uma família normal, pois nada nela foi normal, mas tudo foi extraordinário. Tão extraordinário que possui mistérios que nós ficaremos sempre muito aquém da sua magnitude. Repetindo a frase de Jesus: “Quem tiver capacidade para compreender, compreenda!”

 


14 - REALIDADE DIVINA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 “... Maria deixou de ser virgem; afinal Jesus não nasceu de cesariana e, certamente, houve uma dilatação natural para a saída do bebê”                                                      (pág. 24)

 

“O aprofundamento da sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de Cristo ‘não lhe violou, mas sagrou a integridade virginal’ de sua mãe. A liturgia da Igreja celebra Maria como ‘Aeiparthenos’, ‘sempre virgem’” (Catecismo da Igreja Católica, § 499). Esta é a Verdade Católica que é questão de fé; não tem como ficar provando e discutindo realidades que são divinas. São Leão Magno, Doutor da Igreja, reflete assim: “Ninguém se aproxima tanto do conhecimento da verdade como quem compreende que, tratando-se de realidades divinas, mesmo se já progrediu bastante, resta-lhe sempre algo a aprender” (Na Escola dos Santos Doutores, 1464).

 

Seguramente acredito na Palavra de Deus que me diz: “Eis que sou Iahweh, o Deus de todas as criaturas, existe algo impossível para mim?” (Jr 32,27), e assim, do mesmo modo como a luz é capaz de atravessar o vidro sem o quebrar, a “Luz do mundo” (Jo 8,12) acompanha o seu projeto, confirmando o sinal milagroso da virgem que concebeu e deu à luz um filho com o nome de Emanuel, Deus Conosco (cf. Is 7,14).

“O sentido deste acontecimento só é acessível à fé, que o vê no ‘nexo que interliga os mistérios entre si’ no conjunto dos mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até à sua Páscoa. Santo Inácio de Antioquia já dá testemunho deste nexo: ‘O príncipe deste mundo (o demônio) ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus’” (Catecismo da Igreja Católica, § 498).

 


15 - DOUTRINA FUNDAMENTAL

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Se esta fosse uma doutrina fundamental,como exigem al-guns, certamente estaria bem explícita na Bíblia”   (pág. 25)

 

A Virgindade de Maria é uma Doutrina fundamental sim, mas não está explicitamente na Bíblia porque nem tudo está na Bíblia, como disse no início.

 

Há Doutrinas muito mais importantes do que esta e que também não estão explicitamente escritas. Veja por exemplo a Doutrina da Santíssima Trindade. Quer Doutrina mais importante do que esta? No entanto, a encontramos na Bíblia somente após um longo período de detalhado estudo. E esta é uma Doutrina muito mais fundamental do que a Virgindade Perpétua.

 


16 - EVIDÊNCIAS BÍBLICAS

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“A verdade é que não existe nenhuma evidência bíblica a favor desta doutrina; tanto é assim, que os escritores católicos não apresentam fundamentação alguma em favor deste fato. Limitam-se apenas a contra-argumentar sobre os textos bíblicos que apontam para o lado oposto”

                                                                                         (pág. 25)

 

Podemos começar aí um jogo de empurra-empurra. O senhor diz que os católicos apenas contra-argumentam e eu posso dizer que quem contra-argumenta são vocês. Mas tudo bem, isso aí não levará a nada. Se o problema é evidência bíblica, vamos a uma: peguemos a genealogia de Cristo em Mt 1,1-16: “1Livro de origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. (...) 3Jacó foi o pai de Judá e de seus irmãos. (...) 11Josias foi o pai de Jeconias e de seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. (...) 16Jacó foi o pai de José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Messias”. Algumas vezes aparece o nome do pai, do filho e de seus irmãos. No momento em que fala de Jesus, não comenta nada sobre José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus e seus irmãos, mas apenas “José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus”. Esse é mais um texto que se pode contra-argumentar infinitamente, mas eu digo que os autores bíblicos tiveram todas as chances para deixar claro que Maria teve outros filhos, mas eles não disseram.

 


17 - O HEBRAICO TRADUZIDO PARA O GREGO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“A palavra grega traduzida como irmãos no referido texto (Mc 6:3) foi ‘adelphós’, que significa literalmente ‘nascidos do mesmo útero’, o que destrói qualquer argumentação racional de que Maria não gerou outros filhos e que os referidos eram primos ao invés de irmãos”                (pág. 27)

 

Carecemos de muita informação sobre o uso das palavras “primos” e “irmãos” no Novo Testamento. Vamos a um detalhado estudo sobre as línguas da Bíblia:

 

A Bíblia começou a ser escrita mais de 1000 anos antes de Cristo na língua hebraica, pois esta era a língua falada na Palestina até o povo de Deus sofrer o cativeiro de cinqüenta anos na Babilônia em 586 a.C. Após o cativeiro, parte do povo que voltou para a sua terra começou a falar o aramaico; a outra parte de judeus imigrou para o Egito onde começou a falar o grego. Mas a Bíblia continuou a ser lida e copiada em hebraico, sua língua original. Por volta do ano 300 antes de Cristo, o grego havia se tornado a nova língua do comércio e invadiu o mundo daquele tempo. Então, por volta do ano 250 antes de Cristo, os judeus que estavam no Egito desde o fim do cativeiro já não sabiam mais o hebraico e nem o aramaico, tendo dificuldades para ler a Sagrada Escritura. Para resolver a questão, um grupo de setenta e dois sábios judeus (seis de cada tribo de Israel) se reuniu em Alexandria (Egito) e pegaram todo o Texto Sagrado escrito na esquecida língua hebraica (com partes em aramaico) e o traduziram para o grego, formando assim a chamada Bíblia dos Setenta ou Septuaginta. Esta tradução grega tornou-se o referencial dos Apóstolos e dos primeiros cristãos na confecção do Novo Testamento que também foi escrito em grego.

 

Entendido isso, vamos agora saber o que houve com a palavra irmão ao ser traduzida do hebraico (língua original) para o grego (língua agora mais usada).

 

Na língua hebraica a palavra irmão se escreve ’āh e significa filhos dos mesmos pais, mas poderia significar também outros parentes, porque não existe variedade de palavras hebraicas para designar a parentela. Quando se traduziu a Sagrada Escritura para o grego, o termo grego usado para traduzir ’āh (irmão ou parente em hebraico) foi αδέλφος (lê-se adelphós), que é irmão em grego e significa exatamente: “nascidos do mesmo útero”. Com esta tradução, αδέλφος recebeu também um significado mais amplo do que apenas nascidos do mesmo útero, pois αδέλφος passou na tradução a ser ’āh (irmão ou parente).

 

Precisamos agora investigar até onde os semitas utilizavam αδέλφος para podermos estabelecer o grau de parentesco desses αδέλφοι (irmãos – lê-se adelphoi) com Jesus.

 

No grego se designa com essa palavra especificamente o irmão carnal, ou pelo menos o meio irmão. Mas existem exceções como um antigo documento chamado Marco Aurélio 1,14,1; assim como numerosos textos de papiros egípcios, onde, da mesma forma como na tradução grega do Antigo Testamento, os filhos dos irmãos (sobrinhos) ou mesmo primos são chamados de αδέλφος, ou seja, irmão. Veja o exemplo de I Crônicas 23,21-22: “Filhos de Mooli: Eleazar e Cis. Eleazar morreu sem ter filhos, mas somente filhas, que se casaram com os filhos de Cis, seus αδέλφοι (irmãos)”, o texto deveria ser: “...se casaram com os filhos de Cis, seus primos”. Leia também Gn 13,8; Gn 31,22-23; Ex 2,11; Jz 9, 1-3; I Cr 15,1-5; I Cr 23,21-22; II Cr 36,10.

 

Apesar dos autores do Novo Testamento terem tido a possibilidade de usar termos específicos existentes no grego para designar a parentela como ανεψιός (primo, lê-se anepsiós) ou συγγενης (parente, lê-se sungenees), os utilizaram muito pouco. Isso por dois motivos: eles tiveram como referência a tradução grega do Antigo Testamento e nesta tradução αδέλφος engloba toda a parentela; e também tendo eles tido a pobre língua hebraica como língua original, não se importavam muito com a exatidão dos termos da língua grega. Isso notamos, por exemplo, quando São Paulo escreve em grego: “Em seguida, o Senhor apareceu a mais de quinhentos αδέλφοι (irmãos) de uma vez” (1ª Cor 15,6). Com certeza São Paulo não dizia que estes mais de quinhentos irmãos eram nascidos do mesmo útero, mas sim usava αδέλφοι na sua amplitude maior.

Para comparação temos o fato de que a palavra portuguesa saudade não tem tradução em muitas línguas. Esta palavra quer dizer exatamente lembrança triste do que ou de quem está distante. Então vamos ao exemplo: como o inglês é uma das línguas onde não existe o termo exato para designar saudade, se usam termos com outros significados, mas que ganham uma amplitude para englobar saudade. Então se alguém escrevendo em inglês quiser escrever saudade, esta pessoa utilizará (entre outras) a palavra longing que primeiramente quer dizer: ânsia/desejo intenso de algo inacessível no momento. Ao traduzir esse texto para o português onde se procure ser fiel ao original (como foi o caso da Septuaginta) o tradutor traduzirá longing com sua designação inicial, ou seja, ânsia/desejo, apesar de existir na língua portuguesa o termo específico para designar saudade. Deste modo, a tradução ânsia/desejo terá um alargamento onde se englobará também saudade, do mesmo modo como αδέλφος passou a ter outros significados na tradução grega e, daí, no costume semítico.

Assim percebemos que nem sempre αδέλφος quer dizer filhos do mesmo útero como foi proposto.

 


18 - MAIS OBJEÇÕES

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

O senhor cita um argumento católico (que se não me engano foi retirado da primeira carta) onde se comenta que a Bíblia jamais diz filhos de Maria, mas sempre irmãos de Jesus. O argumento cita o trecho evangélico: “...E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13,55) e conclui: não eram filhos de Maria. O senhor responde a esse argumento:

 

“A organização da frase é esta porque seu personagem principal é Jesus e não Maria. Além disso, o contexto nos mostra que ninguém desejava mostrar quem era filho de quem; e sim, identificar os parentes de Jesus”          (pág. 29)

 

Vou concordar contigo. A intenção era identificar os parentes de Jesus, pois os seus conterrâneos estavam “escandalizados” (Mt 13,57) com o que o Mestre estava fazendo. Com sucesso o senhor mostrou que aí não caberia filhos de Maria por causa do centro das atenções que era Jesus.

 

Vamos então “tirar Jesus do jogo” e procurar um texto onde apareça apenas Maria com “seus filhos” sem Jesus para “roubar a cena”.

 

Atos dos Apóstolos 1,14 tem a resposta: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus”. É fácil percebermos: Jesus já não está mais presente, pois já havia voltado para o Pai, e mesmo assim a narrativa diz “irmãos de Jesus”, podendo agora tranqüilamente dizer: “Maria, mãe de Jesus, com seus filhos”. Repito: os autores bíblicos tiveram todas as chances para deixar claro que Maria teve outros filhos, mas eles não disseram.

 


19 - FILHOS DE MARIA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Porém, para sermos decisivos na questão, usemos como base o salmo 69. Trata-se de um salmo messiânico; ou seja, dirige-se profeticamente a Jesus. Possuímos várias citações do Novo Testamento conectando este Salmo a Cristo. (...) Tendo isso em mente, veja o que diz o verso 8: ‘Tenho me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe’. Fica assim estabelecido que as pessoas citadas no referido texto, ou seja, Tiago, José, Simão e Judas, não eram apenas irmãos de Jesus em algum sentido, mas filhos legítimos de Maria”                                                   (págs. 29 e 30)

 

Interessante sua argumentação sobre o Salmo 69. A princípio parece perfeita a alegação de que finalmente encontrou-se na Bíblia a expressão filhos de Maria e que ela está num salmo messiânico. Mais um estudo cabe aqui.

 

Acredito que não se deva tomar este salmo ao pé da letra e dizer que ele venha a provar por fim que Maria teve outros filhos. Este salmo se aplica a Jesus sim, porém apenas algumas de suas partes, não todas, e muito menos detalhes como este. Veja o exemplo que está no versículo 6: “Ó Deus, tu conheces a minha ignorância, meus crimes não são ocultos para ti”. Se dissermos, numa leitura fundamentalista, que este salmo prova ponto por ponto da vida de Jesus, certamente então Jesus teve ignorâncias e também pecou.

 

Já os versos 28 e 29 mostram o clamor do lamentador contra seus opositores e também confirmam minha afirmação: “Acusa-os, crime por crime, não os declares inocentes. Risca-os do livro dos vivos, e não sejam inscritos entre os justos!”. Ao que me parece, no momento de sua maior angústia, assim disse o Senhor: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23,34), o que é muito diferente do que o salmo diz.

 

O salmo é messiânico, pode-se aplicar ao Messias, porém não só a Ele, mas também a todo servo sofredor comum.

 


20 - “EIS AÍ O TEU FILHO!”

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Cena do Evangelho de João 19,25-27: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’ E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa”. Da leitura dessa perícope, a Igreja na sua sabedoria milenar retira belíssimos ensinamentos. É o que vamos passar a ver.

Pela localização do texto dentro do Evangelho se percebe que ele pretende trazer algo a mais do que apenas um cuidado filial de Jesus para com sua Mãe. A perícope, especialmente os versículos 26 e 27, se localiza na seqüência final onde Jesus está cumprindo as profecias da Escritura, veja:

 

v. 24: “Disseram entre si: ‘Não rasguemos a sua túnica, mas tiremos a sorte, para ver com quem ficará’. Isso a fim de se cumprir a Escritura que diz: ‘repartiram entre si as minhas roupas e sortearam minha veste’”

 

v. 26 e 27: “Jesus, então vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’”

 

v. 28: “Depois, sabendo Jesus que tudo estava consumado, disse, para que se cumprisse a Escritura até o fim: ‘Tenho sede!’”

 

v. 36 e 37: “Pois isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura: ‘Nenhum osso lhe será quebrado’. E uma outra Escritura diz ainda: ‘Olharão para aquele que transpassaram’

 

Compreendendo o contexto, a Igreja nunca duvidou em dizer que Jesus apresenta aí a Mulher prometida por Deus desde o peca-do de Adão (cf. Gn 3,15), fazendo de Maria a nova Eva, apresen-tada como Mãe daquele a quem Jesus ama: o fiel redimido pelo seu sangue. É interessante salientar que João no seu Evangelho parece reescrever os primeiros capítulos de Gênesis (a narração da criação do mundo). Três importantes elementos, pelo menos, são comuns entre os dois. João começa o Evangelho da mesma forma como se inicia Gênesis: “No princípio...” (Jo 1,1, compare com Gn 1,1).       João então discorre por toda a vida de Jesus, chamando a Maria sempre de “Mulher” (cf. Jo 2,4 e 19,26), da mesma forma como é chamada a mãe da descendência que venceria o mal. E se o homem foi criado e posto num jardim (cf. Gn 2,8) e ali se iniciou sua culpa (cf. Gn 3,1-13), também o sacrifício para a salvação da humanidade começa (cf. Jo 18,1) e termina num jardim (cf. Jo 19,41). Tudo isso além do pecado, que venceu na árvore do paraíso, mas na árvore da Cruz foi vencido (cf. Oração Eucarística III, Missal p.482; pref. p. 656).

 

Mais do que isso, a Igreja ainda vê nessa cena a Virgindade Perpétua de Maria, pois quem passa a tomar conta de Maria na ausência de Jesus é João, e não os “seus filhos”, o que seria o mais lógico. Acerca desse texto, o senhor comenta:

 

“Finalmente podemos mostrar que Jesus entregou Maria aos cuidados de João porque tinha preocupações espirituais com ela. Jesus desejava entregá-la aos cuidados de um de seus seguidores, e seus irmãos ainda não tinham se convertido: ‘Porque nem mesmo seus irmãos criam nele’ (Jo 7:5)”                                              (pág. 31)

 

O texto de João 7 citado pelo senhor, mostra-nos mais detalhes do que se pode perceber de uma leitura superficial. Ele comenta sobre a falta de fé dos “irmãos de Jesus”. Logicamente, se Jesus tivesse outros irmãos consangüíneos, estes seriam mais novos, afinal Ele foi o primogênito (cf. Lc 2,7) e certamente seriam bem mais novos, pois quando Jesus aparece já com doze anos, ainda não há nenhuma menção sobre eles (cf. Lc 2,41-52). Pois bem, jamais na cultura semítica de 2000 anos atrás, irmãos mais novos (e digamos, bem mais novos) teriam uma atitude de superioridade diante do irmão mais velho como percebemos que os “irmãos” de Jesus tiveram para com Ele em Jo 7,3-4: “Então os irmãos de Jesus disseram: ‘Tu deves sair daqui e ir para a Judéia, para que também teus discípulos possam ver as obras que fazes. Quem quer ter fama não faz nada às escondidas. Se fazes essas obras, mostra-te ao mundo’”. Isso nos faz pensar que não poderiam ser irmãos mais novos de Jesus, pois a cultura oriental não permite um diálogo nesse nível de espontaneidade e autoridade por parte de irmãos mais novos.

 


21 - QUATRO CITAÇÕES

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Encerrando o tema da Virgindade Perpétua,   o senhor coloca na página 32 quatro textos a fim de convencer o leitor de que Maria teve outros filhos após o nascimento de Jesus. Vamos analizá-los:

 


22 - NÚMERO UM

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor” (Gl 1,19).

 

Certamente é dúvida corrente: se os “irmãos de Jesus” não são irmãos consangüíneos, como propõe a Igreja Católica, então quem são eles?

Peguemos mais uma vez o texto de Mateus 13,55: “Ele não é o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?”. Analisaremos agora calmamente não só a Tiago, o irmão do Senhor, mas também a José, Simão e Judas, também irmãos do Senhor.

 

A exegese atual do Novo Testamento vê a presença de três personagens com o nome de Tiago. O primeiro deles é TIAGO MAIOR, filho de Zebedeu e Salomé (cf. Mc 15,40, compare com Mt 27,56) e irmão de João evangelista (cf. Mc 3,17). Este Tiago, juntamente com seu irmão João e Pedro, formava o grupo de apóstolos mais íntimos de Jesus (cf. Mt 17,1). Morreu como mártir por volta do ano 44 (cf. At 12,2).

 

O segundo é TIAGO MENOR (título que na verdade pertence a Tiago, o irmão do Senhor [cf. Mc 15,40], a quem analisaremos logo abaixo com o título de Tiago Pequeno. Estes dois em algumas interpretações são entendidos como sendo a mesma pessoa). Tiago Menor é filho de Alfeu (cf. Mt 10,3). Na Bíblia seu nome aparece apenas na listagem dos Apóstolos.

 

E o terceiro é finalmente TIAGO, O IRMÃO DO SENHOR, que agora comumente se chama de Tiago Pequeno. É filho de Clopas e uma outra Maria (cf. Jo 19,25, compare com Mc 15,40) e irmão de Joset (cf. Mt 27,56) que também é chamado de irmão do Senhor no texto em Mt 13,55. Segundo Hegesipo, o mais antigo historiador da Igreja, Clopas, seu pai, é irmão de São José (Eus. Hist. Eccl. 3,1.2). Sendo assim, Clopas é tio de Jesus e conseqüentemente, seus filhos Tiago e José, são primos de Jesus. Tiago, o irmão do Senhor, não era apóstolo, visto que ele mesmo não se dá esse título em sua carta (cf. Tg 1,1) diferentemente de Pedro (cf. 1ª Pe 1,1) e Paulo (cf. Tt 1,1). Em certa ocasião, Pedro, a quem Jesus colocou como líder da Igreja (cf. Mt 16,18), precisou fugir de Jerusalém (cf. At 12,17) e assim, Tiago, o irmão do Senhor, assume a igreja de Jerusalém, certamente por ser o mais próximo a Jesus, pois era seu primo (cf. Gl 2,9). Segundo relatos históricos, morreu apedrejado na Páscoa de 62. Sendo assim, este Tiago a quem se chama de irmão do Senhor, nada mais é que primo de Jesus. Inclusive, como se fala da morte de São José antes do início da vida pública de Jesus, Maria Santíssima e seu Filho podem ter ser mudado para a casa de Clopas, tornando-se assim uma só família.

 

O outro “irmão do Senhor” chamado Judas provavelmente é o autor de Carta de Judas do Novo Testamento, pois este também não era apóstolo: não se dá esse título (cf. Jd 1) e se diferencia deles (cf. Jd 17). Por isso não deve ser confundido com o Apóstolo Judas Tadeu (cf. Mt 10,3); com Judas Iscariotes (cf. Mt 27,3-9); com Judas de Damasco (cf. At 9,11); com Judas, o galileu (cf. At 5,37) e nem com Judas Barsabás (cf. At 15,22). Interessante que na Carta, Judas apresenta-se como sendo “irmão de Tiago” (Jd 1,1). Certamente é Tiago, o irmão do Senhor, bispo de Jerusalém, pois, Judas mencionaria alguém conhecido. Como já disse, Tiago, o irmão do Senhor, é filho de Clopas e de uma outra Maria e irmão de Joset. Assim sendo, os irmãos do Senhor, Tiago, Judas e Joset são sobrinhos de São José, primos de Jesus, irmãos no linguajar grego semítico.

 

No que se refere a Simão, o outro irmão de Jesus, pouco é sabido dele. No entanto, deve-se diferenciá-lo de Simão Pedro (cf. Jo 1,42); de Simão, o zelota (cf. Mc 3,18); de Simão, o leproso (cf. Mc 14,3); de Simão, o fariseu (cf. Lc 7,36-50); de Simão de Cirene (cf. Mc 15,21); de Simão Iscariotes (cf. Jo 6,71); de Simão, o feiticeiro (cf. At 8,9-13) e de Simão, o curtidor (cf. At 9,43). Simão, o irmão do Senhor, foi o segundo bispo de Jerusalém, na morte de seu irmão Tiago Pequeno. Mais uma vez segundo Hegesipo, ele era também filho de Clopas, assim, ao lado de seus irmãos Tiago, Judas e Joset, era também primo do Senhor.

Podemos, para ficar mais fácil, esboçar o seguinte esque-ma:

 

Jacó – avô paterno de Jesus (cf. Mt 1,16)

pai de

 

                                                     

                                 Clopas        irmão de         José

                      casado com Maria           casado com Maria Ssma.

                                   Tiago

                                   Jose         primos de            Jesus Cristo

                                   Judas

                                   Simão

 

Em Jo 19,25 ainda há um detalhe: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas...”, na interpretação mais óbvia percebe-se que a mulher de Clopas é irmã de Maria Santíssima. O que faz com que o parentesco entre os filhos de Clopas e Jesus seja cada vez mais próximo, porém não são irmãos no sentido primeiro da palavra.

 

Finalizando, é importante ressaltar que a Verdade definida pela Igreja no Concílio de Latrão no ano 649 é decisiva: Maria é virgem antes, durante e depois do parto, tendo apenas um filho: Jesus Cristo, uma vez que a cristandade toda nisso acreditou desde os mais longínquos tempos. No entanto, os estudos teológicos sobre a identidade exata de cada um dos irmãos do Senhor ainda estão em processo de caminhada e aprofundamento, pois “cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que constituem parte da Tradição” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8). Além da explicação que demonstrei, ainda existem outras sobre o assunto que embora divergindo em alguns pontos, continuam a indicar a Virgindade Perpétua. A dificuldade de exatidão se dá porque os autores da Bíblia não pretenderam fazer um livro de biografia, mas sim “uma narração” (Lc 1,3), um relato sobre a Pessoa e os atos do Filho de Deus. Além do mais, eles escreveram seus Textos Sagrados muitos anos depois dos acontecimentos e basearam-se em várias fontes que poderiam divergir em pontos secundários. Por isso não se deve fazer uma leitura fundamentalista da Bíblia. Ela não erra enquanto fala de realidades divinas, porém, o modo de escrever e as palavras usadas para tratar dessa realidade estão presas ao tempo, à História e à cultura daquele povo.

 


23 - NÚMERO DOIS

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“...Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de coabitarem, achou-se grávida do Espírito Santo” (Mt 1,18)

 

Utilizando-se desta passagem o senhor tenta mostrar que “antes de coabitarem” prova que houve um depois de coabitarem, no sentido de que José e Maria depois do nascimento de Jesus tiveram relações sexuais. Porém, coabitar nada mais quer dizer que morar juntamente, viver em comum.

 

Este texto, na verdade, não contém provas que possam ser usadas nem por católicos e nem por protestantes para tratar da Virgindade de Maria. São Mateus escreveu isto apenas para confirmar que quando Maria engravidou, ela era virgem e ainda não estava morando juntamente com José, mostrando assim que ela é Esposa do Espírito Santo. Confirmamos essa intenção em Mt 1,24: “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado: levou Maria para casa”, a partir daí sim, eles coabitaram, ou seja, moraram juntos.

 

Nas traduções da Bíblia onde se coloque uma outra expressão para “antes de coabitarem”, jamais se usa: “antes que tivessem relações”, mas se traduz: “antes que morassem juntos”. A própria Bíblia protestante tradução de João Ferreira de Almeida contribui para minha observação. Assim ela traduz o antes de coabitarem: “antes de se ajuntarem”. Até a Bíblia Tradução do Novo Mundo utilizada pelos Testemunhas de Jeová, apesar de possuir muitíssimos erros de tradução, conservou nesse versículo fidelida-de à intenção de São Mateus e traduziu: “... antes de se unirem”.

 


24 - NÚMERO TRÊS

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“... e Maria deu à luz seu filho primogênito” (Lc 2,7).

 

Pode-se argumentar com este versículo: se Jesus é o filho primogênito de Maria, é porque é o primeiro filho, e se existe o primeiro é porque existe o segundo, o terceiro... Este primogênito, que significa primeiro, não significa necessariamente que seja o primeiro de outros, mas apenas quer mostrar o valor que tinha naquela cultura o primeiro filho, mesmo que seja o único. No costume judaico, o primogênito tinha muitas vantagens e era isso que o autor queria lembrar: “Consagra-me todo o primogênito, todo o que abre o útero materno” (Ex 13,2).

 

Por exemplo, muita gente na Igreja Católica faz a Primeira Comunhão, o que não quer dizer que depois voltará a comungar. Do mesmo aconteceu quando viajei a Belo Horizonte, eu disse: “É a primeira vez que venho aqui”, apesar de ter sido a primeira vez, até hoje não teve a segunda e pode não ter nunca. Portanto, esse primogênito não prova nem de longe que Maria teve outros filhos. Um exemplo: sabemos que Jesus é o Filho único do Pai e, no entanto, em Hebreus 1,6, lemos que Jesus é o “Primogênito”. Jesus é o Primogênito do Pai, mas nem por isso deixa de ser também o “Filho Único” (Jo 3,16). Este então, é mais um texto que nada prova contra a Verdade Católica.

 


25 - NÚMERO QUATRO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“... e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14).

 

Já falei desse texto quando disse que ele até ajuda a perceber que Maria não teve outros filhos. Afinal, Jesus já não mais está presente e mesmo assim, ao lado de Maria eles não são chamados de filhos de Maria, mas continuam sendo chamados de irmãos de Jesus.

 

“Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que Ele veio salvar: Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez ‘o primogênito entre uma multidão de irmãos’(Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno” (Catecismo da Igreja Católica, § 501).

 


26 - A IMACULADA CONCEIÇÃO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

        Agora o estudo volta-se para a grande graça reservada àquela cuja missão era ser “a mãe do meu Senhor” (Lc 1,43): a IMACULADA CONCEIÇÃO, ou seja, a concepção sem mancha, sem pecado da Virgem Maria. Maria não possuiu a mancha do pecado original e mais do que isso, nunca pecou.

Assim está posto na página 34:

 

“O dogma da imaculada conceição de Maria foi inicialmente apresentado pelo Papa Pio IX”

 

Porém, na página 38 é dito:

 

“Esse pensamento (da Imaculada) é endossado por João Duns Scoto (1308)”

 

Se ele foi inicialmente apresentado por Pio IX em 1854 como o senhor diz, então não poderia ter sido comentado 546 anos antes por João Duns Scoto. Entretanto, a origem desta verdade é ainda anterior a João Duns Scoto. Essa Doutrina se firmou inicialmente no Oriente por volta do século IV (há 1700 anos atrás!). Desde então ela começou a se espalhar e por volta do ano 600 já havia comemoração de sua festa em parte da Europa. Em 1128 o Monge Eadmer de Conterbury organizou e escreveu o primeiro tratado teológico sobre a concepção sem mancha de Maria. Em 1661, o Papa Alexandre VII já escrevia na Bula Sollicitudo omnium Ecclesiarum: “A devoção à Virgem Imaculada cresceu e espalhou-se e, depois que as escolas apoiaram esta pia doutrina, a partilham agora quase todos os católicos”.  Diante de tantos anos de estudos e de fé neste mistério, a Igreja em 8 de dezembro de 1854, através da Definição Dogmática Ineffabilis Deus do Papa Pio IX, reconheceu oficialmente esta Verdade professada desde os tempos mais remotos do cristianismo.

 


27 - INFALIBILIDADE

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Comentando sobre a incapacidade da Igreja errar em termos de Doutrina o senhor afirma:

 

 “Os papas acreditam efetivamente que suas determina-ções são como as determinações de Deus”             (pág. 34)

       

Não diria que as determinações papais são como as determina-ções de Deus, mas digo que elas são totalmente constituídas pelo carisma da Verdade divina.  E assim, não só os papas acreditam nisso, mas todos os cristãos que pautam sua vida pela Palavra de Deus deveriam saber e acreditar também. As determinações papais em termos de fé e moral não possuem erros. Isso porque Jesus é categórico ao falar com Pedro, o primeiro líder do grupo apostólico: “Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a MINHA IGREJA e o poder da morte nunca poderá vencê-la. Eu lhe darei AS CHAVES DO REINO DO CÉU, e O QUE VOCÊ LIGAR NA TERRA SERÁ LIGADO NO CÉU, E O QUE VOCÊ DESLIGAR NA TERRA SERÁ DESLIGADO NO CÉU” (Mt 15,18-19). Além de Jesus ter deixado uma Igreja que Ele chama no singular “minha Igreja”, dá a Pedro “as chaves do Reino do Céu”. Tranqüilamente eu digo que Jesus não fez tudo o que fez, ensinou tudo o que ensinou para deixar uma obra que tempos depois poderia fracassar. Não. Logicamente que Jesus desejou que sua mensagem chegasse intacta e sem erro a todos os cantos do mundo, em todos os tempos a partir de sua vinda. Por isso, Ele escolheu para a Missão “os que ele quis” (Mc 3,13-16) e a esses deu autoridade (cf. Jo 20,21-23). Assim, deu capacidade primeiro a Pedro (cf. Mt 16,19) e depois a todos os outros juntos (cf. Mt 18,18) de ensinar aquilo que era ensinamento de Deus (cf. Mt 10,40; Jo 13,20) sem mancha, sem erro. Estes, que possuíam a autoridade dada pessoalmente pelo Senhor, foram passando essa autoridade para outros (cf. At 6,3-6) a fim de que nunca se acabasse no mundo essa corrente de Poder, de Autoridade e de Verdade iniciada pelo Filho de Deus. Daí concluímos que a Igreja que Jesus chamou de minha, enquanto se pronuncia sobre fé e moral é incapaz de errar, pois foi com este selo de inerrância que Deus a marcou “por causa da verdade que permanece em nós e estará conosco para sempre” (2ª Jo 1,2), assim, como a Palavra de Deus é uma só, não podemos duvidar que o Senhor esteve e está acompanhando de perto essa Igreja (cf. Jo 14,18) e que tudo o que se decide e se conclui na união dos apóstolos é inspirado e confirmado pelo Espírito Santo (cf. At 15,28).

 

“Jesus disse: ‘Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu’” (Mt 16,17). Certamente Pedro foi feliz porque recebeu do Senhor tão nobre tesouro: falar das coisas de Deus não com sua capacidade humana imperfeita, mas com sabedoria revelada pelo Pai que está no céu: este é o dom de infalibilidade.

 

Errar em questões pessoais e assuntos que não se referem à fé e à moral, o Santo Padre e os Bispos podem errar como errou também Pedro (cf. Gl 1,11-14); são humanos. Mas até aí, nos erros, a graça se Deus se destaca demonstrando o quanto Ele acompanha a sua Igreja:

 

“... graças a Deus nós temos percebido isso ao longo dos séculos. Sempre ao lado do pecado, sobressaiu o mistério da santidade, a beleza da santidade, através de homens e mulheres que por uma vida de fidelidade absoluta, de uma busca incansável de Deus, semearam o ideal da santidade evangélica no chão da História” (D. Fr. Alano Maria Pena, O.P., Arcebispo-eleito de Niterói-RJ no “Programa Na Fé Católica” em 22 de agosto de 2003).

 

Esse dom da infalibilidade dado a Pedro e seus sucessores, na verdade nada tem de novo. Os redatores da Bíblia também receberam de Deus esse carisma, visto que tudo o que eles escreveram, pela graça de Deus, não possui erro de Doutrina (cf. 2ª Pe 1,20-21). E como o Senhor cooperou para que a Bíblia tivesse uma palavra inerrante, quis também que a sua Igreja a tivesse. Fato: em 2000 anos de Igreja Católica, 21 Concílios Ecumênicos e 264 papas, a Doutrina foi amadurecida, mas nunca alterada ou corrigida. Nunca um Concílio anulou ou corrigiu outro Concílio em termos de Doutrina. Nunca um Papa desdisse outro Papa em pontos de fé e moral. Perdoe-me, mas eu não consigo ver uma instituição assim, tão grande e tão una, como uma obra que não seja de Deus. Por isso temos a certeza que tudo o que a Igreja declara como Verdade de Fé, é para ser acreditado sem sombra de dúvida.

 

É o mesmo que os protestantes fazem: vocês também acreditam na verdade de fé declarada pelo líder de vocês. A diferença está apenas em que no nosso caso, temos o respaldo bíblico das palavras de Jesus sobre o primeiro líder que se estende a todos os outros nessa corrente apostólica ininterrupta bimilenária.

 

“Considerar-se-á, antes de tudo, a autoridade da Igreja universal e dos outros espíritos mais doutos que brilham nas controvérsias e escritos quando se trata da Verdade da Igreja” (Santo Agostinho, Doutor da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores, 175).

 


28 - TODOS PECARAM

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“ (...) ‘Na verdade não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque’ (Ecle 7:20); ‘...todos estão debaixo do pecado’(Rm 3,9); ‘Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus’ (Rm 3,23) (...) Note que em nenhum dos textos citados se indica alguma exceção a Maria”                                                               (pág. 35)

 

        Sempre que nós lermos um texto ao pé da letra e não estivermos abertos a uma interpretação coerente e correta, correremos o risco de desviar da Verdade e atropelarmos o que já conhecemos.

 

        Se pegarmos a citação de Rm 3,23, por exemplo, ainda um pouco antes, no final do versículo 22, veremos com mais precisão a respeito disso: “...E não há distinção: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Certamente qualquer pessoa nota claramente que o Apóstolo Paulo não faz distinção, ele afirma: todos pecaram.

 

        A problemática vem a seguir: o Senhor Jesus fez-se um homem normal, conforme a Igreja ensina, 100% homem. A própria Bíblia é bem clara a esse respeito: “Uma vez que os filhos têm todos em comum a carne e o sangue, Jesus também assumiu uma carne como a deles” (Hb 2,14). Notemos que Jesus fez-se homem igual aos outros e que segundo Rm 3,9 “todos estão debaixo do pecado”. Conclusão: Jesus, sendo homem, tinha pecado. No entanto, em Hb 4,15 está escrito: “... pois Jesus mesmo foi provado em tudo como nós, em todas as coisas, menos no pecado”. Entendamos: apesar da afirmação todos estão debaixo do pecado, havia exceções, e Jesus é uma delas. Apesar de assumir uma natureza humana como a de todo mundo, não tinha pecado. Sendo assim, em nenhum dos textos que o senhor citou, se indica alguma exceção a Maria, assim como também não indica alguma exceção a Jesus. Por isso, não se pode usar de fundamenta-lismo e dizer que absolutamente todos os homens, sem exceção, estão sob a condição do pecado.

 


29 - O SALVADOR DE MARIA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 “‘A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador’ (Lc 1:46,47). Veja que ela admite precisar de um Salvador. Ora, parece óbvio, se ela não tivesse pecado, não teria necessidade de um Salvador”                                                                        (pág. 36)

       

Certamente Maria precisou de Salvador. Maria é um ser humano, uma criatura de Deus. Se não fosse a missão salvadora do Filho, Maria também teria o pecado original como todo mundo. Jesus salvou Maria. Contudo, os méritos do sacrifício de Cristo foram aplicados antecipadamente a Maria: “... a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, em previsão dos méritos do Redentor Jesus Cristo, nunca esteve sujeita ao pecado original, tendo sida, por isso, redimida de modo mais sublime“ (Papa Pio IX, Definição Dogmática Ineffabilis Deus, 10). 

 

“Dois, porém, são os modos de remir... Consiste o primeiro em levantar o caído e o segundo, em preservá-lo da queda. É fora de dúvida que este último é mais nobre... Os outros tiveram um Redentor que os livrou do pecado já contraído; porém a Santíssima Virgem teve um Redentor que, em sendo seu Filho, a livrou de contrair o pecado” (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, pág. 246).  Com certeza Maria chama a Deus de “meu Salvador” pois a sua pureza e santidade vêm justamente da salvação trazida por seu Filho a todos os homens.

 


30 - PURIFICAÇÃO DA IMACULADA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 “E cumprindo os dias da purificação dela (Maria), segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém para apresentarem ao Senhor... e para darem oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:22-24). Este texto nos informa que Maria, em obediência ao dispositivo da lei de Moisés, ofereceu holocausto pelos seus pecados. (...) É incoerente conceber uma pessoa sem pecado a oferecer oferta pelo pecado”                                                                                  (pág. 36)

       

Posso responder isso com uma comparação: Jesus não tinha pecado e, no entanto, se batizou no “batismo de arrependimento para a remissão dos pecados” (Mc 1,4) de João Batista: “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou” (Mt 3,13-15). Jesus, enquanto homem, deveria cumprir toda a justiça.

 

Quando Maria deu à luz, a Lei que vigorava era a Lei Mosaica que ordenava a ida da mulher até o sacerdote para fazer uma oferta para o sacrifício (cf. Lv 12,6). Esta Lei, de maneira nenhuma poderia ser descumprida pelo casal José e Maria que eram bons judeus. Essa passagem também não destrói em momento nenhum o dogma da Imaculada Conceição e nem prova nada contra ele. Tudo que Maria fez por sua purificação também recebe as palavras de Jesus: “Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça”.

 


31 - SITUAÇÕES DIFERENTES

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Se é verdade que o pecado original (desonra de Eva), não pôde alcançar Maria pela dignidade de Jesus, logo com a simples aplicação da mesmíssima regra, teríamos necessariamente de concluir que o pecado original não poderia ter alcançado a mãe de Maria pela dignidade de Maria; e de igual modo: o pecado original não poderia ter alcançado a avó de Maria pela dignidade da mãe de Maria”                                                                               (págs. 37-38)

       

Agora me surpreendeu sua argumentação. O senhor ultrapassou a veneração dos católicos e colocou Maria no mesmo patamar de dignidade de Jesus. É claro que o pecado original não poderia ter alcançado Maria pela dignidade de Jesus que é Deus e que, como Deus, não poderia “ter contato com o pecado” (pág. 64). Agora, dizer que a mãe de Maria não poderia ser atingida pelo pecado por causa da dignidade de Maria é o mesmo que dizer que a grandeza de Maria é como a do Senhor Jesus. Ora pastor, Maria é digníssima sim, mas não à altura de Deus, pois ela é sua criatura. Olha o seu erro: “...com a simples aplicação da mesmíssima regra, teríamos necessariamente de concluir que o pecado original não poderia ter alcançado a mãe de Maria pela dignidade de Maria...” Não se pode ter a simples aplicação da mesmíssima regra para situações tão diferen-tes. Maria foi preservada porque Deus iria habitar no seu ventre, já a mãe de Maria teria uma missão muito nobre, mas sua filha não era Deus.

 


32 - LIBERDADE DA ESCOLHIDA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Com isso (o dogma da Imaculada) a igreja de Roma tira de Maria o direito de decidir, fazendo dela pouco mais que um robô; e ainda, a rebaixa a uma posição amoral”

                                                                                         (pág. 38)

       

Para entendermos melhor a questão da Imaculada Conceição de Maria, nos é necessário conhecer dois pontos:

 

1– “Não ter o pecado original”, é diferente de “não ter livre-arbítrio”.

 

2– Deus não traça um destino que fira a liberdade, mas sabe o que vai acontecer antes que tudo aconteça;

 

Vamos analisá-los calmamente:

 

1 – É um engano dizer que Maria não tendo o pecado original também não teve o livre-arbítrio, a liberdade de decisão. Note: Adão e Eva, os primeiros pais, não tinham o pecado original, foram criados sem mancha, e apesar de sua pureza tinham a liberdade de escolha e, por utilizar essa liberdade de maneira ruim, pecaram. Assim, Deus preservou Maria da mancha do pecado original, mas não lhe retirou a liberdade. Uma coisa não anula a outra. A liberdade de escolha de Maria fica clara na cena da Anunciação. Do mesmo modo como Maria disse: “Eis a escrava do Senhor” (Lc 1,38) ela também poderia ter dito: “Não quero isso, não. É muita responsabilidade para mim”. Maria é livre da mancha original e livre também para decidir sua vida. O que acontece é que Maria foi de tal maneira plasmada pela graça de Deus que ela entendeu que a verdadeira liberdade é servir a Deus integralmente e, por causa de seu conhecimento e de seu contato com Deus, não cabia em sua vida o pecado. Nesta Mulher (Maria), ao contrário da primeira mulher (Eva), se cumpriu toda a vontade de Deus e Ele a presenteou com “bens extraordinários e preciosos” tornando Maria participante “da natureza divina, depois de escapar da corrupção que o egoísmo provoca neste mundo” (2ª Pe 1,4).

 

2 – Não existe um destino traçado que tire a liberdade de alguém. A maior “semelhança” (Gn 1,26) que temos para com Deus é justamente o nosso poder de decidir sobre a nossa vida. Se existisse um destino traçado, impedido a liberdade, ninguém poderia ser culpado de nada. O ladrão seria ladrão porque Deus assim escreveu. O assassino seria assassino porque assim foi da vontade de Deus. Sendo assim, não seríamos imagem e semelhança de Deus, mas seríamos meros bonecos nas mãos do destino. Apesar disso, Deus já sabe de todas as atitudes que iremos tomar com nossa liberdade durante a nossa vida. Ele não escreveu, mas Ele já sabe o que, em nossa liberdade, vamos fazer. Um exemplo: Judas entregou Jesus às autoridades por trinta moedas de prata (cf. Mt 26,15). Deus não escreveu isso de maneira arbitrária ferindo a liberdade de Judas, mas Ele já sabia da atitude de Judas antes até do traidor nascer. No livro de Zacarias, escrito muitos anos antes, já se encontra a profecia: “E eles pesaram o meu salário: trinta moedas de prata” (Zc 11,12). Pus este exemplo para ser possível entender que o Senhor salvou Maria de seus pecados antes mesmo de acontecer o sacrifício da cruz, porque Ele já sabia que o sacrifício iria acontecer. Ele preservou Maria antes mesmo dela dizer o “sim” porque já sabia que Maria, na sua liberdade o diria.

 

“O divino artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por isso ornou a Maria com as mais encantadoras graças” (Beato Dionísio Cartuxo, Glórias de Maria, pág. 239).

 


33 - DEUS DO IMPOSSÍVEL

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Algumas regras estabelecidas por Deus não podem ser quebradas por ninguém, nem pelo próprio Deus. Deus não podia tirar a mancha de pecado de Maria, pois já havia estabelecido que ‘o pecado passaria a todos os homens’ (Rm 5:12), e certamente não tirou”                            (pág. 41)

 

Repito suas palavras: “Algumas regras estabelecidas por Deus não podem ser quebradas por ninguém, nem pelo próprio Deus”. E se eu lhe perguntar: acredita em milagres? E o que é um milagre senão o poder de Deus que quebra as regras que estão estabelecidas? Certamente o senhor vai se lembrar que Deus quebrou suas regras quando abriu o Mar Vermelho (cf. Ex 14,21); quando fez brotar água da rocha (cf. Ex 17,6); quando curou a mulher que sofria havia 12 anos de hemorragia incurável (cf. Mt 9,20-22); quando fez Lázaro tornar a viver depois de quatro dias de sepultado (cf. Jo 11,43-33); quando fez “o sol parar” (cf. Josué 10,12-13) e fez sua sombra voltar dez graus (cf. 2 Reis 20,10-11); quando Jesus andou sobre as águas do mar (Jo 6,19) e quando alimentou cinco mil homens sem contar mulheres e crianças com apenas cinco pães e dois peixes e, como se não bastasse, recolheram ainda 12 cestos cheios (cf. Jo 6,1-15). É o que Jesus disse: “Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível” (Mt 19,26).

Tentar provar que Deus não retirou o pecado original de Maria porque “não podia” é negar que Deus opera milagres, e negando isto, abandona completamente a fé em Cristo, pois Ele superou e quebrou as regras desde o início quando foi concebido não de um relacionamento estabelecido homem-mulher, mas de algo diferente, algo único e inimaginável.

 

 “Para ser a Mãe do Salvador, Maria ‘foi enriquecida por Deus com dons dignos de tamanha função’” (Catecismo da Igreja Católica,      § 490).

 


34 - ASSUNÇÃO DE MARIA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“A proclamação da assunção de Maria como proposição de fé foi o último decreto doutrinário declarado por Roma”                                                                                     (pág. 42)

       

A Assunção de Maria é um dos quatro dogmas declarados sobre Maria. “Os dogmas são luzes no caminho de nossa fé que o iluminam e o tornam seguro” (Catecismo §89). Os dogmas são pronunciados quando o Papa, imbuído de sua autoridade e dever de apascentar as ovelhas (cf. Jo 21,15-17) precisa esclarecer para os fiéis cristãos algum ponto da fé que está sofrendo contestação ou dúvidas. São chamados Pronunciamentos Ex Cátedra, ou seja, pronunciamentos feitos da Cadeira de Pedro, da Autoridade de Pedro. É importante esclarecer que o dogma não cria uma nova Doutrina, mas reforça e fecha de vez a questão em torno do ponto de fé que esteja sendo discutido. Uma vez declarado, nunca mais a Igreja o discute nem o altera em nada, pois ela conta sempre com a Palavra definitiva do Espírito Santo: “Afinal, a Igreja de Cristo, que guarda e transmite as doutrinas a ela confiadas, nunca as alterou, nem com acréscimos e nem com decréscimos; mas trata com a máxima sagacidade e sabedoria as que a antigüidade delineou e os Padres semearam; e busca aprimorar e afinar aquela antiga doutrina da divina revelação, de modo que receba clareza, luz e precisão. Assim, enquanto conservam sua plenitude, integridade e caráter, desenvolvem-se somente segundo sua própria natureza, ou seja, no mesmo pensamento e direção” (Papa Pio IX, Definição Dogmática Ineffabilis Deus, 11).

 

Só uma correção: o dogma da Assunção de Maria não foi o último decreto doutrinário declarado pelo Vaticano. A última declara-ção dogmática da Igreja foi sobre a ordenação sacerdotal de mulheres, na Carta Ordinatio Sacerdotalis, onde o Papa João Paulo II esclarece e confirma a incapacidade que a Igreja sempre teve de ordenar mulheres, visto que nunca os Apóstolos ou o próprio Jesus deram funções ministeriais a nenhuma mulher.

 


35 - LENDA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Foi a 1º de novembro de 1950, com o pronunciamento do Papa Pio XII, que esta doutrina (a Assunção) passou a fazer parte da fé católica. Antes disso, este era um tema de discordância entre a própria liderança romana. Não é para menos, considerando que tal dogma originou-se a partir de uma lenda”                                                     (pág. 42)

       

Em primeiro lugar, esta Doutrina não passou a fazer parte da fé católica a partir de 1950, mas nesta data, o Papa Pio XII a definiu como Verdade absoluta de fé. Em segundo lugar, este não era um tema de discordância entre a liderança romana, basta analisar a História. Muito ao contrário do que foi afirmado, esta é a mais antiga comemoração de Nossa Senhora. Antes do ano 431, ou seja, antes mesmo da Igreja declarar Maria Mãe de Deus, já se comemorava esta festa. Até os Nestorianos que discordavam do título “Mãe de Deus”, mesmo depois de separados da Igreja, continuaram celebrando-a. O Papa Sérgio I, por volta do ano 700, ordenou que se fizesse uma procissão no dia da festa. Na Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus onde o Papa Pio XII declara como verdade de fé a Assunção, ele diz: “Nas homilias e orações para o povo na festa da Assunção da Mãe de Deus, santos padres e grandes doutores dela falaram como de uma festa já conhecida e aceita”. Como se vê, não é uma novidade na Igreja e nem um tema de discordância. No século X surgiram dúvidas e indagações sobre este tema, mas que passaram como se passa uma chuva de verão.

 

        Um outro detalhe interessante: nenhuma lenda pode sobreviver tantos e tantos anos se passando por verdade. A Doutrina da Assunção de Maria não é uma lenda, mas é algo real. Na página 43 o senhor cita um trecho do escrito apócrifo “Morte e Assunção de Maria” que narra como teria sido a Assunção de Nossa Senhora dando a entender que a Igreja se baseia por esse escrito para afirmar este dogma. A Igreja jamais iria se basear num documento apócrifo para confirmar suas Doutrinas. O nome já diz: apócrifo, livro escondido, não inspirado por Deus, que não deve ser lido no culto.

 

Deste modo pastor, esta festa é muito mais do que um decreto de Roma, mas é uma realidade de fé, cultivada no coração dos cristãos há centenas de anos.

 


36 - APOSTASIA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“E o pior é, que a este pronunciamento de fé, se acrescentou: ‘qualquer um que doravante duvide ou negue esta doutrina apostatou totalmente da fé católica’. O que significa dizer que, se você se declara católico, precisa acreditar nisso, sob pena de ir para o inferno (ou seria para o purgatório?) por pecado mortal”

                                                                      (págs. 43 e 44)

 

Cabe aqui apenas uma observação: apostatar quer dizer separar, sair, não fazer mais parte. Aquele que não crê na Assunção saiu da fé católica, assim como quem não crê na divindade de Jesus Cristo também apostatou da fé católica. E isso não significa dizer que este alguém esteja condenado, pois a Igreja não é juíza da perdição de ninguém. Só o Senhor Jesus é Juiz (cf. Mt 25,31-46).

 


37 - A MORTE DA CHEIA DE GRAÇA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 “A morte é conseqüência do pecado. Se Maria foi sem pecado, não poderia ter morrido, a não ser que Deus tenha punido um inocente”                                        (pág. 44)

 

Seu argumento é interessante e certamente nos ajudará a crescer no conhecimento. O Papa João Paulo II é bastante claro na sua reflexão sobre este assunto: “É verdade que na Revelação a morte se apresenta como castigo do pecado. Todavia, o fato de a Igreja proclamar Maria liberta do pecado original por singular privilégio divino não induz a concluir que ela recebeu também a imortalidade corporal. A mãe não é superior ao Filho, que assumiu a morte, dando-lhe novo significado e transformando-a em instrumento de salvação” (L’Osservatore Romano, ed. port. nº 26, 28/06/1997, pág. 12). A Igreja admite a morte de Maria, pois era necessário que a parte mortal fosse retirada para se revestir de imortalidade (cf. 1º Cor 15,53), contudo, prefere usar o termo dormida da Mãe de Deus, por se tratar da passagem de uma vida tão santa. “Qualquer que tenha sido o fato orgânico ou biológico que, sob o aspecto físico, causou a cessação da vida do corpo, pode-se dizer que a passagem desta vida à outra constitui para Maria uma maturação da graça na glória, de tal forma que jamais como nesse caso, a morte pôde ser concebida como uma ‘dormida’” (Papa João Paulo II, L’Osservatore Romano, ed. port. nº 26, 28/06/1997, pág. 12).

 


38 - O RELICÁRIO DA VIRGEM

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Falando sobre o túmulo de Maria que existe, mas está vazio, o senhor comenta sobre o cuidado que os católicos têm pelas relíquias dizendo:

 

 “Na verdade, pouco importa saber onde ele (Jesus) foi sepultado, considerando que seu corpo não esteve ali por mais de três dias. Mas para os católicos isso é importante. Todos somos conhecedores de como (os católicos) valorizam todo e qualquer tipo de relíquia. Se você não sabia, agora sabe”                                                             (pág. 47)

 

As relíquias, em todos os tempos, sempre foram consideradas objetos sagrados por terem estado em contato com alguma pessoa santa ou por se tratar do corpo de um santo. Com certeza, qualquer um, inclusive um protestante, se sentiria feliz por poder tocar na cruz onde o Cristo se sacrificou por nós; por apreciar a Arca da Aliança com as Tábuas da Lei; passear na barca que os apóstolos usavam; visitar o túmulo dos apóstolos ou então sentar numa cadeira fabricada pelo carpinteiro Jesus. Não é à toa que católicos e protestantes visitam a Terra Santa e também o Vaticano, pois todos, mesmo sem perceber, valorizam essas relíquias, estes pertences ou lugares que serviram aos santos homens de Deus.

 

A grande graça do católico é saber que participa de uma fé oriunda do tempo apostólico e assim como o povo de Deus no deserto conservou o maná numa vasilha para que as gerações futuras pudessem vê-lo (cf. Ex 16,32-34) e os primeiros cristãos valorizavam até os lenços e aventais usados por Paulo (cf. At 19,12), também os católicos, com muito orgulho, preservam e valorizam todas as relíquias, pois são elas lembranças palpáveis de vidas santas.

 


39 - PROVAS CIENTÍFICAS

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 “...a ciência diz que uma prova científica se dá a partir das repetições das experiências com os mesmos resultados alcançados. Considerando que todos que nasceram há dois mil anos atrás passaram pela morte, e permanecem sepultados até hoje, concluímos que fica provado cientificamente que Maria morreu e permanece sepultada, a não ser que algum católico prove o contrário (...) Jesus foi o único que passou pela morte e venceu. Sendo Deus, a morte não tinha poder sobre ele (1º Cor 15:54-58)”                                                             (pág. 47)

 

Essa prova científica merece uma nova reformulação. Através dela o senhor consegue “provar” não só que Maria não ressuscitou como também que Jesus continua enterrado, afinal, os que nasceram no tempo de Jesus também continuam mortos e enterrados. Já filosofava Aristóteles: “O argumento que prova demais não prova nada”.

 

A ressurreição de Jesus como a de Maria transcende provas científicas e pensamentos humanos. Prova disto é a incapacidade da ciência explicar o que originou o Sudário de Turim (mortalha que envolveu o Senhor no sepulcro) e o manto do índio Juan Diego onde está estampada misteriosamente a figura de Nossa Senhora de Guadalupe. Há décadas que a ciência se debruça sobre essas duas relíquias e nada consegue explicar delas.

 

Curiosamente após dizer que só Jesus ressuscitou, o senhor cita 1ª Cor 15,54-58 que justamente encerra o tema da ressurreição dos mortos, onde o autor (São Paulo) no versículo 22 do mesmo capítulo diz: “Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a vida”. Jesus ressuscitou e venceu a morte: só Ele podia fazer isso. Mas, uma vez isto feito, agora todos, inclusive Maria, podem ressuscitar graças a Jesus.

É certo que nada disso prova a Ressurreição e Assunção de Maria, e não é essa a minha intenção. Minha intenção é apenas demonstrar que não há impedimentos bíblicos sobre as Verdades proclamadas pela Igreja a respeito da Virgem de Nazaré. E também, mesmo que eu quisesse, não teria como provar: são questões de fé. O senhor me pedir provas da Assunção de Maria é o mesmo que alguém te pedir provas da autenticidade da Bíblia. Como faremos para provar que a Bíblia é realmente um livro inspirado por Deus? A prova que tenho da Assunção é a mesma prova que temos da veracidade da Bíblia: o testemunho dos fiéis cristãos em toda a história do cristianismo.

 


40 - APOCALIPSE DOZE

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Por fim, nas páginas 48, 49, 50 e 51 é feito um longo comentário sobre Apocalipse 12, texto que é citado pela Igreja de Cristo quando fala da Assunção e Glorificação de Nossa Senhora por causa das palavras: “E viu-se um grande sinal no céu: uma Mulher revestida de sol...”. Após analisar versículo por versículo, o senhor conclui dizendo que o texto não fala de Maria, mas

 

“toda estruturação do texto de Apocalipse 12 aponta para o fato de que a mulher é a nação de Israel”  (pág. 51)

 

Não precisava destinar quatro páginas do seu livro para refletir sobre Apocalipse 12 e chegar a conclusão que a Igreja já chegou há muito tempo: ao escrever este texto João falava sobre o povo santo, a nação de Israel, como também sobre a Igreja Cristã, pois a Besta atacava os seguidores de Cristo (v. 17).

 

O que acontece é que este texto não é algo real, mas uma “visão”, um mito com o objetivo de esclarecer algo para os cristãos que estavam sendo perseguidos ferozmente por César Nero, o Imperador. Por não se tratar de algo real, as palavras de João tomam uma dimensão maior, e passam para além de apenas um significado.

 

A gerações cristãs sempre souberam que João falava do povo de Deus, porém perceberam uma semelhança com a figura de Maria. E foi aí, que também destinam este texto para falar de Maria.

 

Não é de se estranhar essa interpretação mariana do texto se analisarmos três pontos:

 

1º - O Filho da Mulher é o Messias, o Salvador do Mundo (v.5), o que nos faz lembrar da Mulher que deu à luz a Jesus: Maria.

 

2º - O termo “Mulher”: o mesmo autor do Apocalipse escreveu no seu Evangelho que por duas vezes Jesus chamou sua Mãe de “Mulher” (Jo 2,4 e 19,26) e em Gálatas 4,4 usa-se o mesmo termo para ela: “Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher”. Sendo assim, o uso do termo Mulher também facilita a lembrança de Maria.

 

3º - Já comentei o quanto João se baseou nos primeiros capítulos de Gênesis para escrever o seu Evangelho. Agora parece que mais uma vez João os utiliza. A cena muito se parece com Gn 3,15, quando, depois de tentar Eva, a Serpente ouve de Deus: “Colocarei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e os descendentes dela”. As gerações cristãs entenderam desde cedo que aí Deus já prometia o Salvador, e por conseqüência, já falava da sua Mãe, a Mulher da qual Ele iria descender. Veja agora o paralelo: em Ap 12,9 assim está: “Esse Dragão é a antiga Serpente”, perceba que João lembra da cena de Gênesis afirmando que o Dragão é a Serpente que Deus amaldiçoou no início. Ao lembrar da Serpente, João torna fácil a lembrança do ódio posto por Deus entre a Serpente e a Mulher (Gn 3,15 compare com Ap 12,4.13) e da mulher que seria mãe de uma descendência santa (Gn 3,15 compare com Ap 12,17). Todos esses pontos de Gênesis 3 que falam profeticamente de Maria aparecem em Apocalipse 12.

 

Logicamente que os pormenores, dependendo da interpreta-ção que se dêem a eles, não vão bater com a vida de Maria. No entanto, sabemos que é uma linguagem figurada, simbólica e que se trata de uma realidade de fantasia, porém, com um fim de evangelização. Afirmar que a Igreja só interpreta Apocalipse 12 apontando para Maria é mutilar o estudo bíblico milenar que a Igreja faz sobre a Palavra de Deus.

 

“Todos estes argumentos e reflexões dos santos padres apóiam-se como em seu maior fundamento nas Sagradas Escrituras. Estas como que põem diante dos olhos a Santa Mãe de Deus profundamente unida a seu divino Filho, participando constantemente de seu destino” (Papa Pio XII, Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus).

 


41 - ORAÇÕES A MARIA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

 

“Regra geral, os católicos se sentem mais agredidos quando se fala algo sobre Maria do que contra Jesus ou Deus”                                                                                        (pág. 52)

       

Graças a Deus, dos males o menor. Na divisão provocada por Lutero, os protestantes protestaram, entre outras coisas, contra as verdades sobre Maria Santíssima. No entanto, em tudo (ou pelo menos em quase tudo) concordam com os católicos sobre Deus. Louvado seja Deus! Não me lembro de ver nenhum protestante falando algo contra Deus. Menos mal. Sendo assim, não sei como fez para afirmar que um católico se sente mais agredido quando se fala de Maria do que quando se fala contra Deus, já que eu nunca vi nenhum protestante protestando contra Deus. Porém, se alguém disser algo contra Maria, não só o católico, mas todo aquele que se diz cristão, deverá se sentir agredido, pois se está falando da pessoa escolhida por Deus para ser a Mãe d’Aquele que redimiu a humanidade. E seguramente, Jesus que veio dar pleno cumprimento aos mandamentos (cf. Mt 5,17-19), com certeza não iria pecar contra o quarto mandamento (cf. Ex 20,12), ficando satisfeito ao ver alguém desonrando sua Mãe.

 


42 - O CARÁTER DE DEUS

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“A Bíblia nos revela que Deus é bom. Sendo Deus bom, Ele não precisa de alguém no céu a rogar por nós, como que tentando convencê-lo de que deve nos abençoar”

                                                                      (pág. 53)

       

Não há dúvida quanto ao caráter de Deus, sua bondade, sua benevolência.

 

É a primeira vez que vejo alguém dizer que se orarmos ou pedirmos oração estaremos duvidando da bondade de Deus. Entretanto, foi o próprio Filho de Deus que nos ensinou a estar sempre em oração: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto. Pois todo aquele que pede, recebe; o que busca acha e ao que bate a porta lhe será aberta” (Mt 7,7-8). O Apóstolo Paulo escreveu: “Orai sem cessar” (1ª Ts 5,17), e também: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens (...) a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (1ª Tm 2,1-2). Tenho certeza que nem Jesus e nem São Paulo duvidavam da bondade de Deus quando pediam para que estivéssemos sempre em oração. Jesus ainda certa vez contou uma parábola “para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18,1) dizendo que um juiz atendeu a viúva por causa da insistência de seus pedidos.

 

Perceba: não que Deus precise de alguém no céu a rogar por nós, mas Deus quer precisar. Do mesmo modo como Ele não precisa do senhor no pastoreio dos seus fiéis, mas Ele quer precisar. Na Teologia se diz que Deus age através das Causas Segundas, ou seja, através das pessoas e das coisas criadas.

 

Deus não precisa da oração de ninguém para convencê-lo a nada, pois Ele sabe do que é que nós precisamos antes mesmo que façamos os pedidos (cf. Mt 6,8), mas acontece que Deus quer que todos nós nos encontremos na oração e, apesar de saber de tudo, e saber o que deve ser feito, Ele quer ter diálogo com sua criatura e quer que nos abramos à caridade da oração como ensina São Paulo em 1ª Cor 13,13: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade”. É a caridade que permanece, sendo a maior delas. Na bem-aventurança não existe mais a fé, pois já se vêem a realidade divina; não existe mais a esperança, pois a criatura já atingiu sua plenitude; apenas permanece a caridade, caridade de estar em oração por aqueles que ainda seguem o seu curso terrestre. “Invocar a Santíssima Virgem, não é desconfiar da misericórdia de Deus, mas temer a própria indignidade” (Santo Afonso Maria de Ligório, Na Escola dos Santos Doutores, 754).

 

Em 15 de Setembro de 1983, teólogos ortodoxos, luteranos, reformados, calvinistas e anglicanos assinaram em conjunto o documento “Declaração de Malta” onde reconhecem a realidade da intercessão dos Santos após terem estudado o assunto juntamente com teólogos católicos. Veja um trecho:

 

 “O fato de que, mesmo no céu, à direita do Pai, Cristo roga por nós, indica-nos que a morte não rompe a comunhão daqueles que durante a própria vida estiveram pelos laços da fraternidade unidos em Cristo. Existe, pois, uma comunhão entre os que pertencem a Cristo, quer vivam na terra, quer, tendo deixado os seus corpos, estejam com o Senhor (cf. 2ª Cor 5,8; Mc 12,27). Neste contexto, compreende-se que a intercessão dos Santos por nós existe de maneira semelhante à oração que os fiéis fazem uns pelos outros. A intercessão dos Santos não deve ser entendida como um meio de informar Deus das nossas necessidades. Nenhuma oração pode ter esse sentido a respeito de Deus, cujo conhecimento é infinito. Trata-se de uma abertura à vontade de Deus por parte de si mesmo e dos outros, e da prática do amor fraterno. (...) Por ouro lado, quaisquer que sejam as nossas diferenças confessionais, não há razão alguma que impeça unir a nossa oração a Deus no Espírito Santo com a da liturgia celeste e, de modo especial, com a da Mãe de Deus” (§ 3,4 e 5).

 


43 - FIGURA FEMININA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Considerando que Maria está no céu, é razoável suspeitar que ela deixou de ser a Maria terrena, pois agora ela é como os anjos. Logo, não pode mais sustentar a personalidade de uma figura feminina a interceder por nós como se fosse a mãe da humanidade”                          (pág. 54)

       

Logicamente como é sabido de todos, no céu não tem sexo, lá “não se casa e nem se dá em casamento” (Mt 22,30). Porém não tem fundamento a sua afirmação de que Maria não pode ser chamada Mãe da humanidade por não possuir mais uma sexualidade feminina. Veja: Jesus está na bem-aventurança e mesmo após a sua subida aos céus continua sendo chamado de “homem” (1ª Tm 2,5). Pastor, não conhecemos de fato a realidade divina, por isso continuamos a atribuir os mesmos títulos àqueles que já estão lá. É o modo humano de se expressar. Dizendo assim, parece até que o senhor é contra chamar a Deus de “Pai” (Mt 6,9).

ÚNICO MEDIADOR

 

“‘Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem’ (1ª Tm 2:5). (...) Dar o título de ‘intercessora’ ou ‘medianeira’ para Maria é roubar de Jesus uma das suas funções no projeto divino”         (pág. 54)

       

Esta problemática é resolvida a partir do momento em que reconhecemos a diferença entre a Mediação de Jesus e a mediação de Maria ou de qualquer outra pessoa. Jesus é o único mediador, pois Ele é o único capaz de ligar novamente Deus e o homem, separados pelo pecado dos primeiros pais. Jesus foi a única vítima perfeita, sem manha, que poderia ser imolada e redimir, resgatar, salvar a humanidade e entregá-la nas mãos do Pai: “Jesus é o Sumo Sacerdote de quem tínhamos necessidade: santo, inocente, sem mancha, diferente dos pecadores e elevado acima dos céus.” (Hb 7,26). O Papa João Paulo II recentemente escreveu: “O Filho de Deus fez-se homem para, num supremo ato de louvor, devolver toda a criação Àquele que a fez surgir do nada. Assim, Ele, o sumo e eterno sacerdote, entrando com o sangue da sua cruz no santuário eterno, devolve ao Criador e Pai toda a criação redimida” (Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 8). Na Declaração Dominus Iesus a Igreja declara: “Deve-se, portanto, crer firmemente como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus” (§ 14). Jesus ligou definitivamente o homem a Deus, “desse modo ele é o mediador de uma nova aliança” (Hb 9,15). No entanto, isso não quer dizer que não exista ninguém, nenhum intercessor a nos levar até Jesus. Maria e todos os outros intercessores são mediadores na oração, e não no ato que corresponde exclusivamente ao Filho de Deus que é salvar a humanidade. Eles, portanto não tiram o papel de Jesus, mas em Jesus cooperam na obra da redenção através de suas orações. Não se rouba funções de Deus, isso é impossível, mas com Ele, por Ele e nEle nos tornamos também intercessores.

 

        Nesse contexto, Maria desempenha um papel singular. Ela é lembrada como grande intercessora, não porque as graças vêm de Maria, mas porque ela, pelo mistério do plano de Deus, se tornou a Mãe da Fonte da Graça. Esse papel de medianeira nos é lembrado pela Palavra de Deus quando percebemos que no Novo Testamento a primeira graça espiritual (a santificação de João Batista no ventre de Isabel – cf. Lc 1,41) e a primeira graça material (a transformação da água em vinho – cf. Jo 2,1-11) se dão por intermédio de Maria. Diante desta evidência bíblica, as gerações cristãs não duvidaram em clamar por Maria nos momentos difíceis. Um papiro grego do ano 200 encontrado no Egito indica esta devoção mariana já nos primeiros séculos do cristianismo: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas”.

 


44 - ÚNICO MEDIADOR

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“‘Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem’ (1ª Tm 2:5). (...) Dar o título de ‘intercessora’ ou ‘medianeira’ para Maria é roubar de Jesus uma das suas funções no projeto divino”         (pág. 54)

       

Esta problemática é resolvida a partir do momento em que reconhecemos a diferença entre a Mediação de Jesus e a mediação de Maria ou de qualquer outra pessoa. Jesus é o único mediador, pois Ele é o único capaz de ligar novamente Deus e o homem, separados pelo pecado dos primeiros pais. Jesus foi a única vítima perfeita, sem manha, que poderia ser imolada e redimir, resgatar, salvar a humanidade e entregá-la nas mãos do Pai: “Jesus é o Sumo Sacerdote de quem tínhamos necessidade: santo, inocente, sem mancha, diferente dos pecadores e elevado acima dos céus.” (Hb 7,26). O Papa João Paulo II recentemente escreveu: “O Filho de Deus fez-se homem para, num supremo ato de louvor, devolver toda a criação Àquele que a fez surgir do nada. Assim, Ele, o sumo e eterno sacerdote, entrando com o sangue da sua cruz no santuário eterno, devolve ao Criador e Pai toda a criação redimida” (Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 8). Na Declaração Dominus Iesus a Igreja declara: “Deve-se, portanto, crer firmemente como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus” (§ 14). Jesus ligou definitivamente o homem a Deus, “desse modo ele é o mediador de uma nova aliança” (Hb 9,15). No entanto, isso não quer dizer que não exista ninguém, nenhum intercessor a nos levar até Jesus. Maria e todos os outros intercessores são mediadores na oração, e não no ato que corresponde exclusivamente ao Filho de Deus que é salvar a humanidade. Eles, portanto não tiram o papel de Jesus, mas em Jesus cooperam na obra da redenção através de suas orações. Não se rouba funções de Deus, isso é impossível, mas com Ele, por Ele e nEle nos tornamos também intercessores.

 

        Nesse contexto, Maria desempenha um papel singular. Ela é lembrada como grande intercessora, não porque as graças vêm de Maria, mas porque ela, pelo mistério do plano de Deus, se tornou a Mãe da Fonte da Graça. Esse papel de medianeira nos é lembrado pela Palavra de Deus quando percebemos que no Novo Testamento a primeira graça espiritual (a santificação de João Batista no ventre de Isabel – cf. Lc 1,41) e a primeira graça material (a transformação da água em vinho – cf. Jo 2,1-11) se dão por intermédio de Maria. Diante desta evidência bíblica, as gerações cristãs não duvidaram em clamar por Maria nos momentos difíceis. Um papiro grego do ano 200 encontrado no Egito indica esta devoção mariana já nos primeiros séculos do cristianismo: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas”.

 


45 - INCRIMINAÇÃO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“... dois outros problemas doutrinários do catolicismo:        A – Apesar de negarem, ensinam que Maria é onipresente (por incrível que pareça); B – Dizem que Maria não precisaria ser onipresente para interceder por nós, pois são os anjos que levam nossos pedidos até ela”            (pág. 54)

       

Analisemos calmamente os dois pontos:

 

Ponto A - assim está na página 52:

 

“Se Maria está no céu, e evidentemente, não é onipresente, é fácil concluir que ela não pode nos ouvir. Como pediremos a alguém que não pode nos escutar?”

 

Com certeza esta é uma grande verdade: Maria não é onipresente, não está em todos os lugares ao mesmo tempo, mas só Deus é assim. Não me lembro de que a Igreja ensine o contrário. Na página 55 o senhor cita um texto católico sobre isto:

 

 “Certamente Maria sabe nossas necessidades, porque está no céu de corpo e alma, tem identidade com nossa humanidade, e, porque imersa na bem-aventurança celeste, vê claramente o estado de nossa alma e nossas reais necessidades, através da ótica de Deus, a quem contempla sem cessar”

 

Aqui neste texto está claro que Maria não é onipresente e que a Igreja ensina não o contrário. Maria sabe de nossas necessidades porque está imersa na bem-aventurança celeste e não é através de seus sentidos que ela os conhece, mas é através da ótica de Deus, ou seja, é pela graça de Deus que chegam até Maria nossas súplicas. Do mesmo modo como Maria está contemplando a Deus e não é onipresente, mas sabe de nossas necessidades, também os anjos estão na contemplação de Deus e não são onipresentes, mas mesmo assim também sabem de nossas necessidades como nos disse o próprio Senhor: “Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu” (Mt 18,10). “Tendo entrado no reino eterno do Pai, mais próxima do divino Filho e, portanto, de todos nós, Ela pode exercer no Espírito de maneira mais eficaz, a função de intercessão materna que lhe foi confiada pela Providência divina” (Papa João Paulo II, L’Osservatore Romano, ed. port. nº 39, 27/09/1997, pág. 12).

 

Ponto B - Desconheço esta afirmação de que Maria tome conhecimento dos pedidos através dos anjos. Li todas as referências que o Catecismo da Igreja Católica faz aos anjos e não achei uma sequer que fale disto. Portanto não é verdade que a Igreja ensine isto. Antes de falar da posição católica sobre os temas é necessário recorrer, principalmente, ao Catecismo e aos documentos vatica-nos. A Igreja crê sim na existência dos anjos como mensageiros de Deus, criaturas espirituais dotadas de liberdade e de vontade própria que cumprem as ordens de Deus (cf. Sl 103,20) e acompanham o ser humano desde o início (cf. Mt 18,10) até o fim de sua vida (cf. Lc 16,22). “Os anjos cooperam para todos os nossos bens” (Sto. Tomás de Aquino, S. Th. I, 114,3, ad 3). Essa é a verdadeira posição católica sobre os anjos.

 


46 - DUAS QUESTÕES

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Um assunto paralelo à intercessão de Maria também precisa ser abordado. É a repetição das rezas usadas pelos católicos. É bem comum ouvirmos a respeito das penitências impostas aos adeptos da igreja de Roma. Como se não bastasse o termo ‘penitência’, sugerindo que ainda resta algo a fazer pelos nossos pecados, indicando assim uma suposta insuficiência no sacrifício de Cristo, ainda há o agravante de, deliberadamente, descumpri-rem uma ordem expressa de Jesus: ‘e, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falar serão ouvidos’ (Mt 6:7)”                            (pág. 56)

 

Uma coisa de cada vez. O senhor fala aí sobre a penitência, dizendo que isto é uma coisa inútil e fala também das rezas repetidas que os católicos fazem, como por exemplo, o Terço e outras devoções mais. Vamos analisar as duas questões separadamente:

 

Penitências – a penitência não anula e nem indica insuficiên-cia do sacrifício expiatório de Cristo. Sabemos perfeitamente que o sacrifício de Cristo é perfeito sem precisar de complementos. O sacrifício de Cristo foi feito “uma vez por todas” (Hb 7,27). A parte dEle está pronta. Tudo o que Deus tinha para fazer, fez em Jesus Cristo. Agora, porém, precisamos nós fazer a nossa parte buscando a santidade e o nosso lugar ao lado de Cristo. Essa busca se dá muitas vezes através de sacrifícios e de penitências. As penitências não têm a intenção de se tornar um outro sacrifício expiatório como o de Cristo, mas elas “contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração” (Catecismo da Igreja Católica, §2043). A esmola (cf. Mt 6,2-4), a oração (cf. Mt 6,5-15) e o jejum (cf. Mt 6,16-18) são penitências que fazem elevar o nosso espírito. Jesus nunca disse que não era preciso fazer penitências, muito pelo contrário. Ele mesmo disse sobre os apóstolos: “Mas chegarão os dias em que o noivo será tirado do meio deles. Aí então eles vão jejuar” (Mt 9,15). E o que é o jejum senão uma penitência? O Apóstolo Paulo também fazia penitência a fim de alcançar a santidade: “Os atletas se impõe a si muitas privações; e o fazem para ganharem uma coroa perecível; e nós, nos privamos para ganharmos uma coroa imperecível. Quanto a mim, também eu corro, mas não como quem vai sem rumo. Dou golpes, mas não como quem luta contra o ar. Trato duramente o meu corpo e o submeto, para não acontecer que eu proclame a palavra de Deus aos outros, e eu mesmo venha a ser reprovado” (1ª Cor 9,25-27). Como se não bastasse, São Paulo ainda disse: “Agora eu me alegro por sofrer por vocês, pois vou completando em minha carne o que falta nas tribulações de Cristo, a favor do seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). O Apóstolo não fala aí do sacrifício salvífico do Senhor, mas fala de suas tribulações, de modo que todo o cristão é convidado a junto com o Senhor sofrer, se penitenciar pela santificação do Corpo que é a Igreja. Afinal de contas, Paulo, apesar de Apóstolo do Senhor, não se dizia salvo. Além de saber que necessitava fazer penitências tratando duramente o seu corpo, também dizia: “De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso eu sou justificado. Meu juiz é o Senhor” (1ª Cor 4,4).

 

Orações repetidas – Para entendermos o ensinamento de Jesus sobre esse tema, precisamos compreender o contexto onde ocorre essa recomendação do Senhor no capítulo 6 do Evangelho de São Mateus.

Jesus está orientando os seus seguidores a terem um comportamento superior ao dos “hipócritas” (v. 2) e dos “gentios” (v. 7). Jesus se referia a pessoas que fazem da religião uma maneira de adquirir status para assim conseguirem destaque na sociedade. Assim Jesus ensinou: “Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu” (v. 1). Assim sendo, Jesus procurou mostrar que o cristão não deve ser como os hipócritas que dão esmola para serem elogiados (v. 2-4); como também devem ser diferentes daqueles que jejuam e desfiguram o rosto para que todos vejam que está jejuando (v. 16-18) e que devem ser diferentes dos gentios que usam muitas palavras para impressionar aos homens e a Deus, achando que assim serão atendidos (v. 7). Diante desta realidade o Senhor orienta: “e, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falar serão ouvidos”.  Nossas orações devem superar a oração daqueles que só oram para aparecer e impressionar. Não deve haver em nossas orações vãs repetições a fim de comover a platéia (ou Deus), pois não é pelo muito falar ou pela força das palavras que Deus vai nos atender, mas sim pelo nosso coração sincero. Por isso a nossa oração deve ser pura e voltada exclusivamente para o nosso encontro com Deus (v. 6). “Não é pela quantidade de palavras que se chega à oração perfeita, mas pelo amor e conhecimento de Mim (Deus) e de si mesmo” (Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores, 901).

 

Tudo isso, é muito diferente de rezar um Terço ou dizer quantas vezes eu quiser uma oração desde que a intenção seja meu verdadeiro relacionamento com Deus. O senhor mesmo concorda com isso quando diz:

 

“...que mal há em repetir uma determinada frase em nossa oração se assim o desejarmos? Ou orarmos o ‘Pai nosso’ como algo que de fato flua de nosso coração?”

                                                                                         (pág. 59)

 

Exatamente pastor, que mal há em repetir palavras bíblicas como o “Pai Nosso” se assim meu coração pede? Contudo logo depois o senhor completa:

 

“Penso que isso é bastante diferente de rezar 50 vezes qualquer reza”                                                                      (pág. 59)

 

Não há nada de diferente. No Terço se reza 50 vezes a oração da Ave-Maria; no Rosário se reza 200 vezes, mas isso não é obrigatório nenhum cristão fazer. Quem reza o Terço é porque o faz de coração, assim essa pessoa deseja. Quantos testemunhos eu conheço de famílias que se uniram através da oração do Terço ou pessoas que cresceram muito na espiritualidade através dessa devoção? Que mal há nisso? Se não há nenhum mal em orar repetidamente o Pai Nosso como algo que de fato flua de nosso coração, também não há problema na oração do Terço, do Rosário ou de qualquer outra devoção que também flua do coração do fiel.

 


47 - O PAI-NOSSO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Com a oração do ‘Pai nosso’, Jesus não queria nos ensinar uma reza, mas um modelo (esboço) de oração. Perceba que jamais se vê na Bíblia um discípulo ou qualquer outra pessoa fazendo uso da oração do Pai nosso”                                                                              (pág. 57)

       

Certamente a oração do Pai Nosso “é o Modelo de nossa oração” (Catecismo da Igreja Católica, §2765). Nenhum discípulo ou qualquer outra pessoa é visto fazendo uso desta oração na Bíblia, pois ficaria muito trabalhoso para o escritor bíblico dizer o conteúdo de todas as orações feitas naquela época. Por isso muitas vezes está escrito: “Eram perseverantes nas orações” (At 2,42), não precisava descrever quais eram elas. No entanto, o costume de rezar o Pai Nosso ou outras orações é um costume do início da Igreja. Existe um livrinho chamado “Didaqué, a Instrução dos Doze Apóstolos” que é um documento muito antigo, escrito na mesma época dos Evangelhos. Ele fala de como viviam as primeiras comunidades cristãs. E neste livrinho está escrito assim: “Não rezem como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no seu Evangelho. Rezem assim: Pai nosso que estás no céu... Rezem assim três vezes por dia” (VIII,2-3). No “Catecismo de Lutero”, o primeiro protestante ensinou “como o chefe de família deve ensinar com toda a simplicidade da sua casa” a oração do Pai Nosso. Apesar de ser um Modelo, não nos é proibido recitar essas belas palavras bíblicas assim quando desejarmos.

 


48 - SALVE-RAINHA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“No livro católico ‘Amém? Cremos em tudo que professamos?’ (p. 130), encontrei uma frase interessante no comentário do autor sobre a reza ‘Salve-Rainha’: ‘O problema desta oração é a sua linguagem arcaica. Durante a oração encontramos palavras difíceis que não costumamos usar no dia a dia’”                                 (pág. 59)

       

Devo agora desenvolver bem a questão, pois o livro “Amém? Cremos em tudo que professamos?” é de minha autoria.

 

O senhor tem razão quando diz que é “fraco o nível cultural de boa parte de nossa gente” (pág. 60) o que dificulta ainda mais a compreensão. Porém, tudo pode ser explicado, tudo pode ser ensinado e também tudo pode ser aprendido. Não é porque as palavras não são de uso habitual que as pessoas ficarão para sempre na ignorância. Ninguém nasce sabendo, mas no decorrer da vida vai aprendendo.

 

Apesar da linguagem arcaica da Salve-Rainha, esta é uma oração da devoção popular e o povo tem um grande prazer em rezá-la, pois sabe que, embora mesmo que muitas vezes não a compreenda completamente, confia na sua autora que é a Igreja de Nosso Senhor e sabe que ela tem a autoridade para ensinar a “diversidade da sabedoria de Deus” (Ef 3,10).

 

Não são pelas palavras mais fáceis ou mais difíceis que deveremos reconhecer o valor das coisas. Veja por exemplo a Bíblia. Para muitas pessoas a Bíblia não tem uma linguagem entendível. Dizem elas: “Esse negócio de ir ver um texto lá na frente, depois voltar cá atrás, versículos, capítulos, é muito complicado”. E tem mais: além de tratar de uma realidade muito diferente da de hoje, ela ainda traz palavras, gestos e costumes que também não estão no nosso uso diário.

 

O que pessoas menos esclarecidas entendem, por exemplo, quando lêem “excelentíssimo Teófilo” (Lc 1,3) ou a ordem: “Se um homem for pego em flagrante tendo relações sexuais com uma mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem quanto a mulher” (Dt 22,22). A própria Bíblia diz que ela é difícil: “Em todas as cartas de Paulo, ele fala disso. É verdade que nas cartas há alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes distorcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição” (2ª Pe 3,16). E não é pela Bíblia ser difícil que devamos dizer que ela é inútil, dispensável.

 

Como a Bíblia, a oração da Salve-Rainha precisa ser explicada e não inutilizada.

 

“Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Catecismo da Igreja Católica, §956).

 

 


49 - MARIA COMO CO-REDENTORA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“‘Em vós, Senhora, tenho colocado toda a minha esperança e de vós espero a minha salvação... Maria é toda a esperança de nossa salvação (...) pois só por vosso intermédio esperamos a salvação’ (Glórias de Maria – Afonso Maria de Ligório – p. 21). Como se não fosse suficiente elevar Maria a posição de Co-Redentora, isso é, Redentora junto com Cristo, alguns documentos católicos vão além, colocando nela ‘toda a esperança de salvação’. Sugere assim não apenas ser ela uma redentora, mas a única redentora. (...) Tal tese teria sido desenvolvida a partir do fato de Maria ter sofrido, como mãe, ao pé da cruz de seu filho. Ora, se Maria sofreu junto com Jesus, logo é Redentora junto com Ele, concluem.”                                                       

                                                                                  (pág. 61 e 64)

       

Agora o senhor faz menção a um dos maiores e mais bonitos documentos sobre a Virgem Santíssima: “Glórias de Maria”, escrito  por Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) que é um dos 33 Doutores da Igreja. Como eu ainda não havia lido esse livro, fiquei pasmo ao ver um Doutor da Igreja escrevendo: “Em vós, Senhora, tenho colocado toda a minha esperança e de vós espero a minha salvação”. Não me contive e fui em busca de um exemplar dessa magnífica obra. Quando abri o livro tive a confirmação daquilo que suspeita-va: Santo Afonso nunca escreveu isto. No livro de Santo Afonso está claramente escrito na mesma página 21 citada no seu livro: “Dirijo-me também a vós, ó Maria, minha Mãe dulcíssima e Senhora. Sabeis que, depois de Jesus, em vós tenho colocado a minha esperança de minha salvação”, pensamento que Santo Afonso repete na página 98: “Depois de Deus, outra esperança não temos senão Maria e por isso a invoca como única esperança nossa depois de Deus”. Penso que o senhor deve ter copiado isso de alguma fonte errada ou ter tido uma distração, porém é bom que procure consertar esse erro, pois tenho que dizer que ficou muito parecido com um “levantar falso testemunho contra teu próximo” (Ex 20,16).

 

        Quanto ao título Co-Redentora dado a Maria, reflete toda a participação intensa que Maria Santíssima teve no mistério da Salvação. Certamente, como o senhor falou, o sofrimento de Maria ao pé da cruz junto com seu Filho, é um dos motivos desse título. Num belo sermão, São Bernardo, Doutor da Igreja, fala do sofrimento da Mãe: “Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada traspassou tua alma. Aliás, somente traspassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isto a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal” (Liturgia das Horas, Segunda Leitura do dia 15 de setembro).

 

Mas a Igreja ao proclamar Maria como Co-Redentora, vê sua participação ainda muito mais além do que no acontecimento do Calvário. É uma questão muito mais profunda do que isto e merece a nossa atenção.

 

        Como sabemos, Deus criou o homem e percebeu que não era bom que estivesse sozinho (cf. Gn 2,18). Criou então a “mulher” (Gn 2,23) para ser sua “auxiliar semelhante” (Gn 2,18), para que vivesse com o homem (cf. Gn 2,24), que juntamente com ele transmitisse o dom da vida (cf. Gn 1,28) e que fosse “a mãe de todos os que vivem” (Gn 3,20). Porém, logo depois esta obra foi manchada pelo pecado (cf. Gn 3,7). Era necessário então uma nova criação (cf. Is 65,17-18). E então Deus faz a sua nova criação em Jesus Cristo, que passa a ser o novo Adão (cf. Rm 5,15). E da mesma maneira como Deus criou “homem e mulher” (Gn 1,27) também na nova criação o plano divino seguiu a mesma linha: recriou Adão em Jesus Cristo, do qual recebemos a vida (cf. Jo 3,15), e como não poderia deixar de participar da nova criação, Eva foi recriada em Maria, que sendo uma auxiliar semelhante, subordinada ao novo Adão, é agora a nova mãe de todos os que vivem, pois todos somos irmãos de seu Filho (cf. Rm 8,27).

 

“Irmãos caríssimos, há um homem e uma mulher que nos prejudicaram grandemente, mas, graças a Deus, há também um homem e uma mulher que tudo nos restauram, e com notável superabundância de graça... Sem dúvida, Cristo por si só bastava-nos, pois tudo que possamos fazer no plano da salvação, dEle vem; todavia era bom que o homem não ficasse só. Havia profunda conveniência em que os dois sexos tomassem parte na nossa Redenção, como haviam tomado parte em nossa queda” (São Bernardo, Sermão sobre as doze estrelas 1, ed. Migne lat. 183,429). Da mesma maneira como a primeira Eva, co-pecadora ao lado de Adão, disse sim à Serpente e trouxe ao mundo o pecado (cf. Gn 3,6), agora a nova Eva, Co-Redentora ao lado de Cristo, diz sim a Deus e traz ao mundo a salvação (cf. Lc 1,38).

 

        A Co-Redenção de Maria não tem a mesma grandiosidade da Redenção do Filho de Deus, mas o título quer mostrar a participação viva de Maria nesta obra. Quando Santo Afonso diz que “Depois de Deus, outra esperança não temos senão Maria”, não está diminuindo a grandeza de Deus, mas está mostrando a importância de Maria neste contexto. De modo parecido nos fala São Paulo: “Sejam meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (1ª Cor 11,1). Nesta frase, São Paulo não indica que o exemplo de Cristo seja insuficiente, mas mostra que o seu exemplo também é importante e quem o segue estará seguindo a Cristo. O mesmo o senhor concorda quando publica na página 73 de seu livro este pensamento:

 

 

“A beleza serena e silenciosa de uma vida santa é a influência mais poderosa do mundo, depois do poder do Espírito Santo de Deus” (C.H. Spurgeon)”

 

Os primeiros cristãos entenderam perfeitamente que ao dar valor aos servos de Deus, de maneira nenhuma se retira a Glória do Senhor, antes, a multiplica: “... o povo muito engrandecia aos apóstolos (...) a ponto de levarem os doentes até as ruas, colocando-os sobre leitos e em macas, para que, ao passar Pedro, ao menos sua sombra encobrisse alguns deles” (At 5,13-15).

 

Não há nada de estranho no título de Co-Redentora se analisarmos as palavras de Rm 8,17 onde somos chamados de “co-herdeiros com Cristo, pois, uma vez que, tendo participado dos seus sofrimentos, também participamos da sua glória”. Veja que nenhum de nós tem condições de ser comparado a Jesus, mas mesmo assim São Paulo diz que somos co-herdeiros com Cristo, ou seja, juntos com Jesus receberemos a recompensa porque também nós participamos de seus sofrimentos. Sabemos que nossa herança não é exatamente a mesma de Cristo e que nem participamos da mesma forma nos seus sofrimentos, mas mesmo assim ganhamos o título de co-herdeiros. O mesmo acontece com Maria: sua Co-Redenção não é a mesma Redenção do Filho, mas o título deve ser este por causa da sua singular participação neste mistério.

 

“Não sejamos daqueles que julgam diminuir a glória de Jesus Cristo quando se alimentam elevados sentimentos para com a Santíssima Virgem e os Santos (...) Por certo seria atribuir a Deus fraqueza deplorável crer que Ele se torne invejoso das dádivas e luzes que Ele próprio derrama sobre as criaturas. Pois que são os Santos e a Virgem se não a obra das mãos e da graça do Criador? (...) Por mais elevadas que sejam as perfeições que reconhecemos em Maria, não poderia Jesus Cristo ter-lhes inveja, porque é dEle que vêm e é a glória exclusiva dEle que se referem” (Bossuet, 3º sermão na festa da Conceição da Virgem, 1669. Obras t. II. Paris, 1863, 51).

 

 


50 - A RAINHA DO CÉU

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“A exemplo da reza ‘Ave Maria’, (a Salve-Rainha) inicia-se com uma exaltação nada bíblica a Maria, que desta vez é promovida a discrepante posição de Rainha”      (pág. 66)

 

       

Não entendi porquê o senhor afirmou que a oração da Ave Maria inicia-se com uma exaltação nada bíblica a Maria. Façamos uma ponte entre a oração mariana e a Bíblia. Assim inicia-se a oração da Ave Maria:

 

        “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco”, compare com Lc 1,28.

 

        “Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”, compare com Lc 1,42.

 

Quanto ao título “Rainha” não vejo discrepância alguma, visto que Maria se tornou Mãe do “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19,16). Se o Filho é Rei, logicamente a Mãe é Rainha. Devemos entender que todos os títulos dados a Maria só têm um objetivo: elevar a glória de seu Filho. Seguramente Maria é Rainha subordinada ao Seu Filho, do mesmo modo como é intercessora ou nova Eva: sempre subordinada ao poder e a glória do “Verbo de Deus” (Ap 19,13).

 

 


51 - O TERMO RAINHA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Pior que o próprio termo em si, é conhecer sua origem. Ao contrário do que muitos pensam, o título ‘rainha do céu’, emprestado a Maria pelos católicos romanos não é novo, nem se trata de uma exclusividade de Maria, mãe de Jesus. Segundo o texto de Jeremias 7:18, este antigo posto ‘pagão’, é não apenas mais antigo que a própria Maria mas, abominável a Deus desde sua origem.(...) Entretanto, parece óbvio que o catolicismo romano tenta, mesmo que discretamente, usurpar o lugar de Deus, infiltrando Maria em seu lugar. Um exemplo bem interessante disso é a oração das 18h, dirigida a Maria nos países católicos. Segundo a Bíblia, Deus tinha comunhão com o homem ‘na viração do dia’ (Gn 3:8), ou seja, às 18h. (...) o que mostra claramente que se pretende deslocar o que pertence a Deus, entregando a Maria”                          

                                                                                 (págs. 66 e 68)

 

        Aqui há bastante assunto para estudo. Veja: primeiro o senhor diz que o título “Rainha do céu” é um título pagão e assim, estamos paganizando e idolatrando Maria. Ora pastor, o título é pagão e idólatra se fizermos dele alguém que substitua o lugar do Deus Verdadeiro, e não alguém que esteja a Seu serviço. Maria está a serviço de Deus. Embora sendo Rainha Mãe do Rei, continua sua “escrava!” (Lc 1,38). Qualquer título que se use com o fim de idolatria será contrário ao gosto de Deus, e qualquer título que se use para glorificar a Deus e exaltar seus companheiros só pode ter a Sua aprovação. Veja um fato: os antigos idolatravam o “deus Sol”. A Bíblia, no entanto, transforma esse “título pagão” em título para exaltar o Messias: “sol que nasce do alto” (Lc 1,78), sem que isso paganizasse a Jesus. Não é porque se usava determinado título no paganismo que não podemos usá-lo no cristianismo, desde que ele não venha a substituir a Deus. Por tudo o que já foi dito acima, não vejo necessidade de me estender para explicar que a Igreja honra a Maria não como deusa, mas como Rainha a serviço do Rei dos reis.

 

        O senhor também comenta sobre a comunhão que Deus tinha com o homem “na viração do dia” e que este horário foi entregue à Maria pelos católicos. É bom sabermos que Gênesis 3,8 não mostra que o horário exclusivo para a comunhão com Deus era (ou é) às 18h, “na viração do dia”, mas comenta que naquele determinado dia, nesse horário, Deus passou por ali. Prova disso é que em mais nenhum trecho bíblico se comenta sobre esse horário. Se recorrermos ao original bíblico, lá está escrito que Deus passou pelo jardim no “rúah”, palavra hebraica que em seu sentido primeiro significa sopro, ar, atmosfera. Deus tinha e tem a comunhão com o homem, mais do que num horário marcado, Ele a tem no meio ambiente, no sopro de sua criação.

 

Inclusive tem o seguinte: se nesse horário (ou em qualquer outro) lembramos de Maria é porque justamente confirmamos nossa fé em Jesus, pois foi Ele quem a tornou grande. “Quanto a Maria, nenhum problema: é excelente caminho para Jesus. Até porque, quem está perto de Maria, nunca está longe de Jesus. Ela nunca se afastou dele” (Pe. Zezinho, Semanário litúrgico “O Santuário da Penha”, SP, Dezembro de 1999).

 


52 - IDOLATRIA E RIQUEZA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“Qualquer observador dotado de um mínimo discernimento espiritual concluirá que, quanto mais idólatra for um povo, tanto maior será a desgraça de sua terra. Isso pode ser verificado com muita clareza em vários países do mundo, inclusive no nosso, principalmente no norte e nordeste”                                                           (pág. 67)

 

Agora o senhor acusa os nordestinos de adoração a ídolos ao invés de Deus e conclui que por isso que sua terra é tão inóspita: resultado de sua idolatria. E com certeza se refere aos católicos que são grande maioria naquelas terras. Não sei como pode chamar os católicos de idólatras, visto que a Igreja é claríssima no seu ensinamento sobre quem devemos adorar: “A adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso. ‘Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto’ (Lc 4,8), diz Jesus citando o Deuteronômio (6,13)” (Catecismo da Igreja Católica, §2096).

 

Se algum católico pratica a idolatria é porque está na ignorância e totalmente fora do que ensina a sua Igreja. Precisa aprender. Agora, julgar todos os católicos de idolatria por causa de uma parte que anda errada é o mesmo que chamar todos os Apóstolos de ruins, por causa da traição de Judas Iscariotes. Agora, tenha precaução, pois se a Igreja ensina com clareza que a adoração só pertence a Deus e o senhor acusa o catolicismo de adorar ídolos, podem pensar que o senhor acha que Deus é um ídolo...

 

Com respeito à desgraça da terra do norte e nordeste, eu penso que como pastor cristão, o senhor deve saber que uma das grandes novidades trazidas por Jesus foi justamente quando se fez pobre e mostrou que a pobreza não significa desgraça de Deus e que riqueza não significa graça de Deus. Ele dizia: “Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem...” (Mt 6,19). A graça de Deus justamente está naquele que, pode não ter dinheiro, nem vida financeira tranqüila, “mas é rico para Deus” (Lc 12,21). Certamente foi por isso que os discípulos ficaram muito espantados com Jesus (cf. Mc 10,24.26), pois o pensamento antes de Jesus Cristo era justamente achar que a graça de Deus se media pelo tamanho da carteira. Diante disso, fica impossível a um cristão afirmar que a falta de provento de um povo signifique ausência da graça de Deus ou que, se um povo é pobre é porque é idólatra e que por serem os nordestinos católicos “idólatras” eles sofrem o que sofrem. Se assim fosse, o Japão não seria a grande potência mundial que é, visto que as religiões predominantes são justamente religiões idólatras como o Xintoísmo e o Budismo.

 


53 - INÍCIO DO DIA

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

“A visão de Deus sempre foi de que o dia do ser humano começasse com luz. Por isso, de acordo com a palavra de Deus, o dia inicia-se às 6h da manhã com o nascimento do sol. Este princípio é respeitado até hoje em Israel; porém, os países católicos estabeleceram que o dia do ser humano começaria com as trevas, passando a contar a partir da meia noite”                                                 (pág. 68)

 

 

É natural que a manhã seja considerada como o início do dia. Porém, existem concepções diferentes sobre este assunto. Concep-ções inclusive bíblicas. No antigo Egito, na Grécia e em Roma o dia começava ao amanhecer. Já em Israel houve marcações diferentes. Na época de Cristo, por exemplo, o costume era que se começasse o dia com o pôr do sol por causa do calendário lunar de Israel.  Suas festas são marcadas pela lua, como a festa da Páscoa que é celebra-da na 1ª lua cheia do equinócio da primavera (março ou abril). Muito diferente do que foi afirmado, o dia para os judeus começa com o pôr do sol, no final da tarde. Prova disso é que Jesus foi enterrado às pressas justamente porque foi morto na sexta feira da Preparação, véspera do sábado de Páscoa e os judeus não poderiam adentrar no sábado de Páscoa tratando de um funeral (cf. Jo 19,31). Com a pressa, José de Arimatéia fez o sepultamento de Jesus num “túmulo que estava perto” (Jo 19,42). Era sexta à tarde, “dia de preparação da Páscoa, e o sábado já estava começando” (Lc 23,54), pois o sol já estava se pondo. As maneiras de marcar os dias foram sendo diversas, até que em 1925 convencionou-se que o início do dia se daria à meia noite de acordo com o horário do Meridiano de Greenwich. Em Greenwich passa a Linha internacional de mudança de data que desde 1885 já havia sido aceita num acordo internacional.

 

“Elevada à glória celeste, Maria dedica-se totalmente à obra da salvação, para comunicar a cada vivente a felicidade que lhe foi concedida. É uma Rainha que dá tudo aquilo que possui, comunicando, sobretudo, a vida e o amor de Cristo” (Papa João Paulo II, L’Osservatore Romano, ed. port. nº 30, 26/07/1997, pág. 8).

 


54 - CONCLUSÃO

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 

 

Já finalizando o seu trabalho, o senhor fala do seu verdadeiro propósito (pág. 70). Aproveito deste capítulo apenas a frase de A. Raine:

 

“Você pode atingir o topo da escada e então descobrir que ela não está apoiada na parede certa”           (pág. 70)

 

Certamente pastor, lendo tudo o que li e refletindo tudo o que pude refletir, percebi que tive sorte, pois a minha escada está apoiada numa parede sólida, de 20 séculos de História, iniciada pelo amor de Jesus (cf. Ef 5,25) e não pelas divisões e meditações humanas (cf. 1ª Cor 1,10-13).

 

“Nos passos de Maria” é um livro interessante. No seu decorrer vai acontecendo uma espécie de mutação, onde o senhor vai evoluindo no conhecimento da pessoa e da importância de Maria. Essa evolução do pensamento é percebida quando, por exemplo, logo no início, na página 16, é dito que Maria está “na posição de um mortal comum, e jamais numa posição de privilégio”. No fim do livro já se entende que isso não é verdade. Agora o senhor vê que Maria aceitou “o maior desafio que um mortal poderia ter aceito” (pág. 74) e que isto deu a ela uma “posição de destaque” (pág. 75).

 

Falar de Maria para um protestante torna-se algo muito difícil, já que durante séculos foi sufocado “no coração dos evangélicos o culto da Virgem” e assim “destruíram os sentimentos mais delicados da piedade cristã. No seu Magnificat, Maria declara que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada até o fim dos tempos (Lc 1,48). Todos nós verificamos que esta profecia se cumpre na Igreja Católica e, nestes tempos dolorosos, com intensidade sem precedentes. Na Igreja Evangélica, tal profecia caiu em tão grande esquecimento que dificilmente se encontra algum vestígio da mesma” (Manifesto de Dresden – Teólogos Luteranos). E o autor do documento protestante ainda continua: “Eu próprio me devo contar entre as pessoas que não o fizeram durante os longos anos de sua vida, por conseguinte, não seguiram as Escrituras segundo a qual ‘Desde agora vão me chamar de bem-aventurada todas as gerações da Terra’. Eu não me havia incluído entre estas gerações. É verdade que havia lido na Sagrada Escritura que Isabel havia falado, inspirada pelo Espírito Santo, reconhecendo Maria como a Mãe do meu Senhor. Sua velha prima tributou-lhe o maior louvor dizendo: ‘Como mereço que a Mãe do meu Senhor venha visitar-me?’ (Lc 1,43)”.

 

Maria é uma das figuras mais fortes do cristianismo. Apesar de aparecer muito pouco na Bíblia, os cristãos de todos os tempos sempre admiraram e olharam com muito carinho àquela que Deus “desejou como residência própria” (Sl 132,13). Apenas a partir da divisão de 1517, é que uma parte dos cristãos protestaram e jogaram por terra 1500 anos de respeito e afeição pela Mãe do Filho de Deus (cf. Lc 1,35).

Devo dizer que seu livro foi uma ajuda para que eu me preparasse mais e buscasse um maior conhecimento da Doutrina Cristã e da pessoa da Virgem Santíssima que “posta, no que é possível a uma criatura, o mais próxima de Deus, tornou-se superior a todos os louvores dos homens e dos anjos” (Papa Pio IX, Definição Dogmática Ineffabilis Deus, 15). A própria Bíblia recomenda a prepararmo-nos: “Estejam sempre prontos a responder para a vossa defesa a todo aquele que pedir a razão da vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito” (1ª Pe 3,15). Foi o que procurei fazer: mostrando a razão de minha esperança, a verdadeira Doutrina, mas com suavidade e respeito, sem atacar.

Nestes 2 milênios de Igreja, ela sempre soube que sua função era anunciar a Boa Notícia sobre o Reino pelo mundo inteiro, como um testemunho para todas as nações (cf. Mt 24,14), pois a vontade de Deus é “que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se” (2ª Pe 3,9). E é nesta missão que a Igreja segue, sob ataques, divisões e lutas, mas firme e forte, pois muitos “desviaram da verdade” e “estão pervertendo a fé de vários. Apesar disso, o sólido alicerce colocado por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra: ‘O Senhor conhece os que são seus’” (2ª Tm 2,18-19). “Foi sempre privilégio da Igreja vencer quando é ferida, progredir quando é abandonada, crescer em ciência quando é atacada” (Santo Hilário de Poitiers, Doutor da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores, 1783).

 

Muitos podem afirmar que a Igreja deixada por Cristo saiu de seu rumo e perdeu a intimidade com o seu Senhor. Afirmando isso, essas pessoas correm o risco de dizer que a Palavra de Deus é ineficiente e que Deus não tem capacidade de sustentar aquilo que fala. Muito ao contrário disto, a Bíblia é bem clara ao falar da obra de Cristo, que é a Igreja, Seu Corpo: “Foi o Senhor quem estabeleceu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres. Assim, ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo. A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento é a plenitude de Cristo. Então, já não seremos crianças, jogados pelas ondas e levados para cá e para lá por qualquer vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e pela astúcia com que eles induzem ao erro. Ao contrário, vivendo amor autêntico, cresceremos sob todos os aspectos em direção a Cristo, que é a Cabeça. Ele organiza e dá harmonia ao Corpo inteiro, através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com sua atividade própria, para que o Corpo cresça e construa a si próprio no amor” (Ef 4,11-16). É lógico: foi o Senhor quem estabeleceu e preparou os cristãos para que unidos na mesma fé e livres de qualquer vento de doutrina construíssem o Corpo de Cristo, que é a Igreja, no amor. Veja que é o Senhor pessoalmente quem administra e zela por sua obra. Se Ele tivesse que fazer alguma correção, alguma modificação, faria na sua obra, porque Ele “a alimenta e cuida dela” (Ef 5,29). Não abandonaria sua Igreja como uma obra inacabada, criando inúmeras divisões (cf. Mt 12,25) pois afinal tudo o que Deus faz é “muito bom” (Gn 1,31).

 

“Como, afinal, Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1ª Tm 2,4); como Cristo veio procurar e salvar a quem estava perdido (Lc 19,10) e para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos (Jo 11,52), assim, a Igreja, constituída por Deus mãe e mestra dos povos, reconhece-se devedora em relação a todos e está sempre disposta e procura erguer os que estão caídos, a sustentar os que vacilam, a abraçar os que retornam, a confirmar os bons e conduzi-los à perfeição. Por isso ela não pode deixar de testemunhar e anunciar a verdade divina que a tudo cura (cf. Sb 16,12), bem sabendo que lhe foi dito: ‘O meu Espírito que está sobre ti e as minhas palavras que te pus na boca não se afastarão agora e para sempre’ (Is 59,21)” (Papa Pio IX, Consti-tuição Dogmática Dei Filius, 6).

 

Obviamente, por mais que se tente explicar a Doutrina, se o ouvinte não estiver acompanhado pela graça de Deus e não quiser realmente compreendê-la, de nada adiantará tantas exposições e tanto trabalho, assim como ensina o Apóstolo Paulo: “para que vocês acreditassem na minha pregação, não por causa da sabedoria dos homens, mas por causa do poder de Deus” (1ª Cor 2,5). Deste modo, “saibamos que a fé católica não é apenas o conteúdo daquilo que nós cremos e que está no ‘Creio em Deus Pai’ que todos os domingos nós professamos, mas está, sobretudo, numa atitude interior de adesão à Verdade revelada, aí está a fé. Se eu faço livremente uma adesão minha ao que Jesus me revelou, ao que está na Bíblia, ao que a Igreja ensina, aí está a minha fé” (Dom José de Almeida Batista Pereira, Bispo Emérito de Guaxupé-MG, no “Programa Na Fé Católica” em 25 de abril de 2003).

 

Apesar do senhor discordar dos dogmas marianos, pude perceber a sua intenção de apontar a figura de Maria em sua comunidade. Belo aconselhamento o senhor dá:

 

“Nos exemplos que deu, imitemos aquela que foi digna de ter copiados seus princípios de vida e fé. Podemos andar nos passos de Maria”                                                    (pág. 77) 

            

Continue pastor a levar para os cristãos de sua comunidade a figura santa e suave da Santa Maria. Feliz pela intenção com a Mãe do Senhor, tenho agora a mesma alegria do Concílio Vaticano II: “Muito se alegra e se consola este sagrado Concílio o saber que não falta, mesmo entre os Irmãos separados, quem preste a honra devida à Mãe do Senhor e Salvador... Todos os fiéis dirijam súplicas insistentes à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que ela, que assistiu os alvores da Igreja, também agora, exaltada no céu acima de todos os anjos e bem-aventurados interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, para que as famílias dos povos, quer se honrem do nome de cristão tão quer desconheçam ainda o seu Salvador, se reúnam felizmente, em paz e concórdia, no único povo de Deus, para a glória da santíssima e indivisa Trindade” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 69).

 

Assim chego ao fim, reafirmando o que disse no decorrer de todo esse trabalho: como a Bíblia me diz que a obra do Redentor é eterna (cf. Mt 16,18 e Jr 32,37-40) e não comenta nada sobre a sua falência, muito ao contrário, Jesus mesmo promete assistência diária (cf. Mt 28,20) e o Espírito que nos “encaminhará para a Verdade plena” (Jo 16,13), continuo católico; e da mesma forma como o povo de Deus venerava a Arca da Aliança que era a habitação da Lei (cf. Js 7,6), continuarei venerando a sempre Imaculada Santíssima Virgem Maria, a nova Arca da Aliança, habitação do Legislador, seguindo a orientação de São Paulo: “Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo; você sabe de quem o aprendeu” (2ª Tm 3,14).

 

Um abraço fraterno na Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Amém!

 


55 - FONTES DE CONSULTA:

 

 

Por Carlos J. Magliano Neto

 A Bíblia de Jerusalém; Editora Paulus / A Trindade; Santo Agostinho; Editora Paulus / A Virgem Maria; Papa João Paulo II; Editora Cléofas / Bíblia Sagrada; Edição Pastoral; Edições Paulinas / Bíblia Tradução Ecumênica em CD-Rom; Edições Loyola / Bíblia, um livro feito em mutirão; Carlos Mesters; Edições Paulinas / Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia; Papa João Paulo II; Edições Paulinas / Catecismo da Igreja Católica Edição Típica Vaticana; Editoras Loyola, Vozes, Paulinas, Ave-Maria e Paulus / Comentário Bíblico; Dianne Bergant, CSA e Robert J. Karris, OFM; Edições Loyola / Constituição Dogmática De Fide Catholica; Concílio Vaticano I / Constituição Dogmática Dei Filius; Papa Pio IX; Editora Paulus / Constituição Dogmática Dei Verbum; Concílio Vaticano II; Editora Paulus / Constituição Dogmática Lumen Gentium; Concílio Vaticano II; Editora Paulus / Curso de Parábolas e Páginas Difíceis dos Evangelhos; Escola “Mater Ecclesiae” / Declaração Dominus Iesus; Congregação para a Doutrina da Fé; Editoras Paulus e Loyola / Definição Dogmática Ineffabilis Deus; Papa Pio IX; Editora Paulus / Dicionário de Teologia Bíblica; Johannes B. Bauer; Edições Loyola / Dicionário Enciclopédico da Bíblia; Dr. A. Van Den Born; Editora Vozes / Dicionário Informativo Bíblico, Teológico e Litúrgico; José Antônio Jorge; Editora Átomo / Dicionário Inglês-Português Amadeu Marques e Português-Inglês David Draper; Editora Ática / Em Defesa da Fé Católica; Pe. José Maria Cavalcante / Enciclopédia Novo Século; Editora Visor / Exortação Apostólica Redemptoris Custos; Papa João Paulo II / Glórias de Maria; Santo Afonso Maria de Ligório; Editora Santuário /  Liturgia da Horas Segundo o Rito Romano;  Editoras  Vozes,  Paulinas,  Paulus  e Ave- Maria / Na  Escola dos  Santos Doutores;  Professor Felipe Aquino;  Editora Cléofas  /  Novo Testamento Comentário e Mensagem – Tiago; Otto Knoch; Editora Vozes / Os Três Momentos de Maria; Pe. José Maria Cavalcante/ Pergunte e Responderemos 1957-1958; D. Estevão Bettencourt, O.S.B. / Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas; Int. Bible Students Association

 

2003 - Carlão (cmagliano@bol.com.br / (22) 2523-4933)

 

Caso queira expandir em sua comunidade o estudo de Maria através deste livro, faça os pedidos para:

 

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Nova Friburgo – RJ

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