AS CRUZADAS E A TERRA SANTA
(D. ESTEVÃO TAVARES
BETTENCOURT, OSB)
No apogeu do Papado, durante a Idade Média, aconteceram as Cruzadas. Esse
movimento religioso-militar, surgido na Europa Ocidental, tinha por objetivo
reconquistar, a Terra Santa (Jerusalém, Belém, Nazaré, etc.) das mãos dos
infiéis muçulmanos. Ou seja, reconquistar os locais onde Jesus Cristo viveu,
onde a Igreja nasceu e que eram visitados por peregrinos cristãos.
Quem eram os muçulmanos e por que eles conquistaram a
Terra Santa?
Os muçulmanos são os seguidores de
Maomé (570-632), fundador da religião muçulmana ou lslamismo ou Maometismo.
Essa religião nasceu a partir da experiência de Maomé, profeta de Alá (Deus) e
iniciou a sua expansão, no ano de 622, com a Égira, data da fuga de Maomé, de
Meca para Medina. A religião muçulmana tem seu núcleo de fé baseado nas
seguintes doutrinas: fé num só Deus, Alá; fé no profeta de Alá, Maomé; e fé no
juízo de Alá que premia os bons e castiga os maus.
O
Islamismo se expandiu de uma forma extraordinária através de várias conquistas:
Damasco, em 635; Jerusalém, em 638; Alexandria, em 643; assédios de
Constantinopla, em 673 e 717; Cartago, em 698 e, em 711, chegam à Espanha e ali
se fixam após as derrotas para os franceses, em 732. Daí se percebe que as
antigas regiões cristãs do norte da África e do Oriente Médio passaram a ser
dominadas por eles. Inicialmente, os muçulmanos toleraram os cristãos mediante
o pagamento de impostos. Depois, criaram certas dificuldades em algumas regiões,
mas não proibiram as peregrinações à Terra Santa.
A partir do século XI, começaram a surgir dificuldades para que os peregrinos
cristãos pudessem visitar a Terra Santa. Além dos problemas dos ladrões que
roubavam os peregrinos — que se viram forçados a viajar em grupos maiores e com
a ajuda de pequenos exércitos —, temos de mencionar o ponto chave da questão:
no ano 1009, o califa Haken destruiu a igreja do Santo Sepulcro e passou a
perseguir os cristãos e peregrinos. Essa atitude foi um golpe terrível na
Cristandade ocidental. Além disso, devemos registrar os pedidos de ajuda
militar que os imperadores cristãos, de Constantinopla, freqüentemente faziam
às lideranças ocidentais para que os ajudassem na luta contra as incursões
militares muçulmanas. Empreenderá toda a luta movida pelos cristãos contra os
vários tipos de infiéis.
O Papa Gregório VII (1073-1085) já tinha tentado, durante o seu pontificado,
convocar uma cruzada para ajudar, particularmente, aos gregos de Constantinopla.
Envolvido, porém, nas lutas contra Henrique IV da Alemanha, não pôde
concretizar aquele objetivo. Assim, será o Papa Urbano II quem convocará a
primeira das oito cruzadas mais importantes.
1ª CRUZADA — Convocada pelo
Papa Urbano II, no Sínodo de CIermont, 1095.
Pedro, o
Ermitão, foi encarregado de pregar a realização da Cruzada, que contou com a
participação de um exército com mais de 600 mil homens, da Alemanha, França,
Inglaterra e ltália, além de uns 18 mil aventureiros, colonos e mendigos. Esse
número se deveu a muitos fatores: o desemprego e a pobreza na Europa ocidental;
a questão dos guerreiros medievais que com a ‘trégua de Deus’ (acordo
temporário de paz), já não podiam lutar em várias épocas do ano; e,
principalmente, a promessa de que todo cruzado que permanecesse fiel à cruzada,
teria o perdão dos pecados e a garantia da salvação eterna. Os cruzados
conquistaram Nicéia, Antioquia e Jerusalém, em julho de 1099. Infelizmente,
foram muito violentos com os sarracenos-muçulmanos, inclusive judeus, matando
adultos, crianças, violentando mulheres, etc. Após a tomada da cidade, foi
estabelecido o Reino de Jerusalém, tendo à frente o francês Godofredo de
Bulhões. Ele não quis ser chamado de rei, pois o único rei de Jerusalém foi
Jesus Cristo e sim, ‘protetor do Santo Sepulcro’. Com o tempo, os cruzados
foram retornando para a Europa. Jerusalém voltou a ser ameaçada pelos
muçulmanos, dificultando a vida dos governos do ‘Reino de Jerusalém’.
2ª CRUZADA — Convocada pelo Papa
Eugênio III, 1144. Causada pela queda
da cidade de Edessa, Mesopotâmia (hoje Iraque), caiu nas mãos do sultão
muçulmano de Alepo. Teve dois grandes pregadores: São Bernardo de Claraval e
frei Rodolfo. Foi formado, então, um exército com mais de 200 mil homens que
chegou até Jerusalém, reforçando a presença cristã na Terra Santa. Fizeram
algumas conquistas, mas sem muitas condições de resistir às pressões dos
muçulmanos. Assim, em 1187, o sultão do Egito, Saladino, reconquistou
Jerusalém, provocando grande apreensão na Europa, que motivou a 3ª Cruzada.
3ª CRUZADA — Promovida pelos papas
Gregório VIII e Clemente III, 1189.
Foi dirigida pelos soberanos Frederico
Barbarroxa, Ricardo Coração de Leão e Felipe II Augusto. Só conseguiram
conquistar a cidade de São João do Acre, em 1191. Ricardo Coração de Leão,
antes de retornar à lnglaterra, fechou um acordo com o sultão do Egito,
Saladino, que se comprometeu a não maltratar os peregrinos cristãos.
4ª CRUZADA — Convocada pelo papa
Inocêncio III, 1202. A condição era de
que os legados papais a comandassem. Infelizmente, desviou-se de seus objetivos
e os cruzados se dirigiram para Constantinopla, contra a vontade do Papa. Lá
fundaram o ‘lmpério Latino de Constantinopla’, em 1204, aumentando, ainda mais,
a cisão entre as lgrejas latina e grega. Em 1261, os gregos reconquistaram
Constantinopla.
CRUZADA DAS CRIANÇAS
• No ano de 1212, aconteceu essa
infeliz iniciativa, que teve como ponto de partida a cidade de Marselha.
Milhares de crianças acabaram sendo vendidas como escravas, no norte da África.
5ª CRUZADA — Promovida pelos Papas
Inocêncio III e Honório II, 1218.
Os cruzados conseguiram conquistar a
fortaleza de Damieta, no Egito, em 1219, perdida anos depois.
6ª CRUZADA — Foi dirigida pelo
Imperador Frederico II da Al emanha, 1229.
Esse imperador tinha sido excomungado
pelo Papa Gregório IX. A cruzada deu ótimos resultados. Por um tratado com o
sultão muçulmano do Egito, em 1229, as cidades de Jerusalém, Belém, Nazaré,
Tiro e Sidon passaram para o rei alemão. A condição foi que a mesquita de Omar,
em Jerusalém, ficasse nas mãos dos muçulmanos.
7ª CRUZADA — Convocada pelo
Papa Inocêncio IV, 1245. Após o
Concílio de Lyon. No ano anterior, Jerusalém voltou a cair nas mãos dos infiéis
muçulmanos. São Luís da França foi seu grande líder e conquistou Damieta, no
Egito, junto ao Mar Mediterrâneo em 1249. Mas perdeu a batalha seguinte e teve
de pagar um alto resgate.
8ª CRUZADA — Novamente dirigida por
São Luís de França, 1249.
Com a morte de São Luís, vitimado pela
peste, em Túnis, na Africa do Norte. Em 1270, a cruzada terminou.
Para se
entender as Cruzadas, é preciso voltar para o século VII. No ano 637, apenas
alguns anos após a morte de Mohammed, o profeta do Islamismo, o Califa Omar
tomou a Palestina, há três séculos, cristã. Tomou de assalto os lugares santos
e expulsou os cristãos. Não proibiu as peregrinações, porém impôs pesados
tributos. No século X (cem anos antes das Cruzadas), a dinastia dos Fatimistas,
que dominavam a Palestina, empreendeu uma perseguição cruel ao cristianismo,
provocando a morte dos que se aproximavam dos lugares santos e empreendendo uma
violenta onda de conquistas das cidades cristãs, rumando para a Europa.
Essa
perseguição teve seu auge no ano de 1076, com a chegada dos turcos a Jerusalém e
a destruição da Igreja do Santo Sepulcro, quando (e veja só, após mais de cem
anos de perseguição) o Papa Gregório VII ressaltou a necessidade de convocar os
Cristãos a uma campanha de resgate dos lugares santos. Em 1095, Urbano II
convocou a primeira Cruzada. Ganharam a primeira e sofreram a massacrante
derrota de outras sete. Lembre-se que, na sexta Cruzada, Felipe II, ainda que
excomungado, recupera Jerusalém e assegura ao sultão que as Mesquitas da Cidade
Santa ficariam em poder dos muçulmanos. A paz durou dez anos.
O Sultão
do Egito, auxiliado pelos povos do Turquistão invadiram a Cidade Santa e
promoveram a degolação de todos os habitantes, o que desencadeou a Sétima
Cruzada, empreendida por São Luís, que, ainda que tenha tomado Damieta, acabou
preso. Fora libertado e deportado para a França após o pagamento de uma soma em
dinheiro exigida pelo Sultão.
A oitava
Cruzada ocorreu pelas mãos de São Luis também. São Luis recebera a falsa
notícia por parte de seu irmão, de que o Sultão do Egito desejava conhecer o
cristianismo. Empreendeu uma expedição que visava uma reunião diplomática com o
Sultão, para fazê-lo um aliado. Esse porém havia dissimulado o interesse
e preparava uma emboscada. A
guerra se segue. São Luis morre de peste após desembarcar em Cartago.
Alguns pontos positivos podem ser relacionados com as Cruzadas, como o declínio
e desaparecimento do poder feudal e o atraso em quatro séculos da invasão dos
turcos à Europa, o que acabou por acontecer, infelizmente. Os muçulmanos
tomaram violentamente a Espanha, a Sicília, a Grécia, a região onde se encontra
hoje a Turquia, os Balcãs, uma parte de Portugal e só parou de avançar quando
bateu à porta de Viena. Os muçulmanos só desistiram da conquista da Europa em
meados do século XIX.