(FLÁVIO)TEODÓSIO I O GRANDE

 (346<380-395>)

Pe. Ignácio, dos padres Escolápios

 

 

1A PARTE: CRONOLOGIA DE SUA VIDA

 

346.-Nasce em Cauca, atual Coca(Segóvia, Espanha) com o nome de Flávio Teodósio, filho de Thermantia e de Flávio Honório Teodósio, o velho, lugar-tenente hispano e um dos generais mais prestigiosos de Valentiniano I, por isso foi descrito como dux efficacisimus [chefe, ou general, altamente eficaz].

 

368-9,-Teodósio o jovem, luta junto com seu pai contra os pictos (povos da Escócia que pintavam seus corpos para a guerra, daí seu nome), na Inglaterra, detrás da famosa muralha de Adriano que separava a Inglaterra da Escócia com 117 km de comprimento e que demorou 6 anos na construção.

 

370-1,-Teodósio luta contra os alamanni (alemães) nos chamados agri decumani (Floresta Negra) entre a França e a  Alemanha.

 

372-3,-Idem contra os Sármatas, povo do sul da Rússia  que entravam na Bulgária atual, nos Bálcãs.

 

373,-Primeira pugna entre Ambrósio, bispo de Milão, com o poder temporal. Morte de S Efrém de Nisíbia ou Nisibis (mapa 12)

 

374,-Como dux (comandante militar ) na diocese (nome dado às províncias por Diocleciano) da Mésia no baixo Danúbio derrotou de novo os Sármatas quando só contava 27 anos. Além da experiência militar, tanto pai como filho,  ambos de origem aristocrática (daí o nome de Flávius) eram expertos com os cavalos hispanos, famosos por suas atitudes para a guerra e sobretudo para as carreiras que tanto apaixonavam os contemporâneos. Aurélio Símaco, um dos senadores romanos mais notáveis na época, importou cavalos de suas propriedades hispanas para as carreiras com que devia comemorar a prefeitura de seu filho em Roma. Desses cavalos, misturados com os do norte da África, resultou a raça chamada árabe, tão estimada como puro sangue nas corridas modernas. Seu pai era na época magister equitum (mestre da cavalaria) ) assim nomeado pelo imperador Valentiniano I. Na mesma data das vitórias do filho na Mésia o pai foi enviado com plenos poderes ao norte da África para reprimir a sublevação de Firmo.

 

375.- Ao morrer Valentiniano I de doença quando tratava desde Sirmium (Sremka Mitrovica da atual Sérvia, ao oeste de Belgrado) (mapa 6) repelir os Quados (povos de origem suévia no centro da Alemanha, capital Augsburg),sucede-lhe Graciano, o filho, agora com 16 anos, que reconhece Valentiniano II, seu meio irmão de 4 anos como augusto. Devido a maquinações da corte de Graciano (367-83) , a sorte dos dois Teodosios mudou. O pai foi arrestado e executado em Cartago. Embora cristão só se batizou na hora da morte. O filho, nosso Teodósio, se retirou à Espanha durante três anos. É possível que a finca onde se retirou fosse a de um tio  de nome Materno Cinegio. Aí casa com sua compatriota Aelia Flaccilia da que teve pronto o primeiro filho, Arcádio, logo Honório e uma filha Pulqueria.

 

378.-devido à derrota de Andrianópolis, Graciano chama Teodósio que derrota os Sármatas.

 

379.- Graciano nomeia Teodósio I, imperador do Oriente. Ao provar Teodósio sua habilidade como militar, derrotando os visigodos causadores do desastre de Andrianópolis, Graciano o proclamou co-imperador, dando-lhe o domínio do Oriente junto com as províncias de Dácia e Macedônia.

 

380,- .-Teodósio, augusto do Oriente, após a paz com os godos, entra triunfante em Constantinopla, que será sua capital e lugar de residência habitual até 388 em que se dirige a Milão. Aparece a crônica de S. Jerônimo. Pelo edito de Constantinopla de Teodósio I Imperador romano do Oriente se confirma o cristianismo como religião de Estado no Império. Teodósio se batiza como cristão devido a uma grave doença, contraída em Tessalônica escolhida por ele como capital temporária, sendo assim o primeiro imperador romano que exerceu o poder estando batizado, apesar dos seus predecessores desde Constantino, à exceção de Juliano, se declarassem cristãos e intentassem se comportar como tais. Foi talvez por isso que foi o primeiro imperador que recusou o título de Pontifex  Maximus , que podemos traduzir por Supremo Guardião dos velhos cultos romanos. Como reconhecesse que os bárbaros, especialmente os teutônicos e germânicos, podiam ajudar o exército, bastante minado pelas lutas internas, Teodósio os admitiu como tropa e oficiais, de modo que em suas dioceses (província hoje) tanto romanos como teutônicos se encontravam entre seus generais. Em Constantinopla constrói as muralhas e o forum (Praça) o maior da época ao estilo de Trajano em Roma. Teodósio, consanguíneo com a família Aelia da qual procedia sua esposa, era hispano como Trajano e com o qual tinha grande semelhança: loiro, de mediana estatura e de agradável aspecto, quis imitar nisto seu predecessor. Junto com Graciano editam um decreto que manda que todos os súditos deviam professar a fé dos bispos de Roma e Alexandria. Os templos dos arianos e heréticos não podiam ser chamados de igrejas.

 

381.-As forças bárbaras, especialmente os visigodos, invadiam as províncias do sul do Danúbio constantemente desde 375. Teodósio que não podia contar com as forças de Graciano, buscou a paz através de uma coexistência pacífica. Por isso recebeu o rei dos visigodos Atanarico de maneira amigável. Neste mesmo ano buscará a paz ente os diversos grupos cristãos. Ele se declara imperador pela graça de Deus e por isso convoca um concílio ecumênico, o segundo da Igreja, em Constantinopla, agora capital de seu império.  Os arianos e seus partidários são condenados. Falaremos disto com mais detalhe em outra ocasião

 

382.-Teodóiso conclui um tratado(foedus)com os visigodos. Que recebem um território dentro dos limites do Império ao sul do Danúbio, a Mésia. Eles se comprometiam como confederados a ajudar o império com soldados, defendendo sua fronteira oriental e receberam como missionário cristão o bispo Ulfilas, que os converteu ao arianismo. Assim permaneceram na Mésia até 395, quando por ocasião da morte de Teodósio e sob o comando do rei Alarico, invadiram a Grécia por 4 anos e logo em 401 a Itália. Concílio de Roma sob Damaso Papa (+384) em que se confirmam as doutrinas trinitárias de Constantinopla I.

 

383.-Na primavera, Graciano é derrotado por Magno Máximo. Graciano escapa da derrota e é traído por seu general Andragácio que o mata em Lião. Máximo, de origem hispana e parente de Teodósio, foi proclamado imperador pelas tropas da diocese de Bretânia(Inglaterra), então pertenecente à prefeitura das Gálias que correspondia às dioceses de Hispânia, Britânia Vienna(Aquitânia) e Gália (região central e norte da França). Assim Máximo se tornou dono da prefeitura das Gálias. Morto Graciano, Máximo, defensor do catolicismo niceno porque a imperatriz Justina, mãe do pequeno Valentiniano II, meio irmão de Graciano, era de religião ariana, é reconhecido como imperador por Teodósio e escolhe como capital Tréveris. Valentiniano II, filho de Graciano, jurado augusto aos 4 anos, tinha nesta época 12 anos e se refugia com sua mãe em Milão, como imperador das prefeituras de Itália(dioceses da Itália Annonaria ou norte e Itália Suburbicária ou sul, e Panônia ou Ilírico). Valentiniano II  reconhece Máximo como imperador. Este eleva seu filho Flavius Victor ao estatus de Augusto. Também Teodósio nomeia seu filho Arcádio como augusto por motivo da quinquenália, cinco anos como imperador. Neste mesmo ano Flaccila é também exaltada à categoria de Augusta, título que lhe garantia a coroa ou diadema, o paludamentum ou manto púrpura e o broche imperial. Podia também cunhar moeda.com sua imagem. As últimas augustas foram Helena, mãe, e Fausta, esposa de Constantino I. Talvez pelo destino de Fausta, condenada à morte por pressuposto adultério por Constantino, nenhuma mulher foi até Flaccila elevada a essa categoria. Flaccila, a consciência de Teodósio, era fervorosa nicena e antiariana.

 

384.- Sirício é o novo Papa título que pela primeira vez recebe o bispo de Roma. .Criador das DECRETALIA que serão instrumento habitual da soberania dos Papas. Sua carta a Himério bispo de Tarragona (Espanha) é muito importante.

 

386.-Morte de Élia Flavia Flaccíla , comumente Flaccila, a esposa, também de origem hispana, mãe de seus dois filhos, Arcádio e Honório e de Pulquéria.

 

387.-Máximo invade a Itália, forçando Valentiniano II e família a fugir para Tessalônica.

 

388.-Novas núpcias com Gala, filha de Valentiniano I e de Justina. Justina era a ariana mais famosa de seu tempo. Teodósio abandona Constantinopla para enfrentar Máximo. Escolhe como general supremo a Estilicón, meio galo meio romano, casado com sua sobrinha predileta, Serena, e se dirige ao Ilírico. Envia uma flotilha a Roma com Valentiniano II então com 17 anos.  Estratagema de Teófilo: Era este o patriarca de Alexandria, apelidado por suas riquezas e poder do Faraó cristão. Habitava então o Alto Egito um monge, Jpão de Licópolis que por seu carisma de predizer o futuro era consultado com freqüência por Teodósio. Naquele tempo os augúrios sobre o resultado de uma batalha eram compartilhados por todos os povos e eram usuais as consultas aos deuses ou ao Deus verdadeiro. Teófilo serviu-se de um estratagema que não deu certo. Enviou a Roma um monge de sua confiança, Isidoro, com duas cartas: uma para Máximo, felicitando-o pela vitória e outra para Teodósio com o mesmo conteúdo. Evidentemente, quem fosse o vencedor,  deveria apresentar uma ou outra, com a qual o poderoso patriarca teria previsto a vitória e seria dono de um Dom profético inestimável. Por sorte ou azar, quando Isidoro esperava em Roma, as cartas caíram nas mãos de um diácono que o acompanhava e a patranha foi descoberta. Na realidade ambos os exércitos se enfrentaram em Aquiléia, norte da Itália, às margens do Save. Máximo foi derrotado e morto e Teodósio tratou seus seguidores com clemência. Teodósio então se dirigiu a Milão, permanecendo na Itália 3 anos -Pela primeira vez Ambrósio e Teodósio se encontram em Milão. Teodósio, como era costume no Oriente, intentou sentar-se no presbitério durante a missa. Mas Ambrósio o expulsou sem contemplações. Teodósio então proibiu que Ambrósio recebesse as informações do conselho imperial. Neste mesmo ano alguns monges incendiaram a sinagoga de Callinicum na Mesopotâmia e Teodósio obrigou o bispo da cidade a reconstrui-la. Ambrósio num sermão pronunciado na presença de Teodósio condenou a atitude deste e do conselheiro imperial Timásio, opondo a Igreja à Sinagoga.  À resposta de Teodósio dizendo que os monges cometiam muitos crimes, Ambrósio o ameaçou com a excomunhão e Teodósio cedeu. Sem dúvida que a razão legal estava com imperador, porque o judaísmo estava permitido pelas leis do Estado.

 

389.-Teodósio, junto com seu filho de 4 anos Honório, futuro imperador,  visita pela primeira vez Roma. Nela estava o Senado, que aportava ao Império os quadros mais importante da administração. Embora o processo da conversão ao cristianismo tinha avançado muito entre os aristocratas, a maioria dos senadores de Roma eram ainda no final do século IV hostil à política religiosa e cristã de Teodósio. Algumas famílias o tinham demonstrado acolhendo com entusiasmo a invasão de Máximo na Itália. Símaco, o orador mais prestigioso e porta-voz  do senado, tinha dirigido ao usurpador  Máximo um discurso de boas vindas. Nesta ocasião foi Pacato quem saudava Teodósio como o homem que ao vencer o tirano devolveu a liberdade perdida a Roma, restaurando a ordem no Império. Teodósio tinha então a plena maturidade dos 40 anos, era casto, austero e  frugal, respeitoso com as leis e os direitos humanos, odiava o derramamento de sangue e com um profundo sentimento de amizade, repartia ofícios entre seus amigos e era acessível aos seus súditos o que constituía uma atitude muito rara entre os monarcas do Baixo Império. O elogio agradou Teodósio de modo que pouco mais tarde nomeou Pacato para comes rei publicae ou prefeito da diocese da África. Em Roma Teodósio conhece Dâmaso, o Papa, também de origem hispana e se tornam amigos.

 

390.- Condenada a homossexualidade pelo imperador, deu lugar ao mais grave incidente entre as duas autoridades civil e eclesiástica em Milão. Tal foi o episódio de Tessalônica do qual falaremos sob o título de Teodósio e o Cristianismo

 

391.-Por lei proibiu às mulheres serem diaconisas antes dos 60 anos e às diaconisas nomear como herdeiro à Igreja, aos pobres e ao clero. Proibiu aos monges morar nas cidades. Todas estas leis tinham a intenção de manter a independência ante o poder eclesiástico, assim como foi a nomeação de dois cônsules pagãos, Símaco(inimigo de Ambrósio) e Tatieno. Porém no mesmo ano proibiu os sacrifícios e a visita aos templos pagãos. Uma briga entre sua segunda esposa e seu filho mais velho Arcádio o levou de novo a Constantinopla.

 

392.-Arbogasto, o general protetor de Valentiniano II parece que matou seu dono. Como Arbogasto era de origem bárbara, não podendo ocupar o trono, escolheu para este cometimento um homem de palha, o retórico Eugênio, cristão só de nome, que ao não contar com o apoio de Ambrósio nem de Teodósio, buscou a nobreza senatorial pagã, dirigida por Nicômaco Flaviano, que viu nele a última possibilidade de sobrevivência da Roma  antiga ante o cristianismo emergente e triunfador.

 

393.-Em janeiro levou seu segundo filho Honório de 8 anos à dignidade de Augusto, pois Valentiniano II estava morto e o Ocidente precisava de um imperador legítimo.

 

394.-Teodósio enfrenta as forças de Eugênio no norte da Itália. A vanguarda de Teodósio formada por visigodos comandados por Alarico vândalos por Estilicón  e até hunos, foi derrotada nas margens do rio Frigido em Aquiléia. Mas no dia seguinte quando Teodósio se encontrava em situação difícil aconteceu um fato considerado miraculoso:suscitou-se uma furiosa tempestade com um vento inesperado soprando com violência contra as tropas inimigas, que quase as cegou anulando assim o efeito e suas setas e contribuiu para a desordem e fuga dos inimigos. Mortos Eugênio, Arbogasto e Nicômaco Flaviano, Teodósio se mostrou benigno com os contrários. A vitória foi comemorada como o segundo triunfo do cristianismo contra os pagãos, uma repetição da realizada na ponte Mílvio por Constantino. Teodóso se apresenta em Milão e Ambrósio lhe proíbe receber os sacramentos até aceder suas petições de clemência para com os vencidos.

 

395.- Em janeiro deste ano Teodósio morre de doença, .pronunciando suas últimas palavras que foram as do salmo 116(5) :Diligo Dominum quia audivit vocem obsecrationis meae.( Amo o Senhor porque ouviu a voz de minha  súplica). Deixou ao cuidado de Ambrósio seus dois filhos, Arcádio, enfermiço de 17 anos e Honório de 10. Estilicón, o general de origem vândala casado com sua sobrinha Serena, foi o encarregado de cuidar de Honório, augusto do Ocidente enquanto Rufino cuidava de Arcádio, augusto do Oriente. Mas o Império estava agonizando e praticamente morria com seu último grande imperador.

SEU CARÁCTER: Descrevem-no como virtuoso, sóbrio, trabalhador, rico e liberal que socorreu com seus conselhos e fortuna seus compatriotas. Tinha porém um temperamento colérico e precisava de muito esforço para dominar seus primeiros impulsos. Cristão de coração e piedoso, só foi batizado por causa de uma doença . Porém só quis recebê-lo de um bispo católico. Quando S. Ásculo se ofereceu para administrá-lo Teodósio pediu a ele uma profissão de fé nicena. Poucos dias após ter recebido o batismo, o Imperador ficou livre da sua doença.  Da sua piedade temos o fato de que quando Máximo se apoderou de todo o Império Ocidental expulsando Valentiniano, Teodósio esteve na dúvida de se devia declarar a guerra ao usurpador. Então mandou consultar S. João de Egito, famoso anacoreta que vivia na Tebaida e cuja fama se alastrava pelo Oriente. O santo assegurou ao imperador que ele triunfaria nessa guerra justa e com pouco derramamento de sangue. Apesar da inferioridade numérica, Teodósio enfrentou seu rival. Várias batalhas, mas bem escaramuças, se sucederam, e em cada uma delas algumas legiões desertavam do campo de Máximo, unindo-se ao verdadeiro Imperador. Máximo, abandonado e despojado de suas insígnias reais, foi decapitado pelos soldados. De Teodósio se diz que costumava dizer: Frente a um problema concreto, busca uma solução concreta, se existe. E resolverá o problema. Se a solução não existe, então do que não existe não faças um problema

 

OS JUDEUS: Com Constantino as restrições foram poucas: Era um delito passar do cristianismo ao judaísmo, se proibia aos judeus circuncidar seus escravos cristãos e protegia os conversos ao cristianismo da vingança de seus correligionários e somente aos rabinos tinha proibido certos ofícios públicos. Constâncio acrescentou uma nova lei : pena de morte para matrimônios entre judeus e cristãos. Juliano os favoreceu querendo tê-los como colaboradores na Mesopotâmia na guerra contra os persas e decretou a reconstrução do templo de Jerusalém que foi impedida por uns fogos que apareceram no local. Sob Graciano e Teodósio encontraram a proteção do trono.

 

OS HEREGES: Teodósio, filho de uma família cristã ocidental professava a fé do Homousios nicena, ao contrário dos soberanos orientais de tendências arianas. Em 380 junto com Graciano e Valentiniano II publicou o famoso decreto, ordenando seus súditos professar a religião cristã, a fé que era ensinada pelos dois bispos católicos da época: o pontífice(!) de Roma [S Damaso]  e o bispo de Alexandria, porque o bispo de Constantinopla era ariano. (Por isso temos uma razão par afirmar que o bispo oriental de Bizâncio não pode ser considerado como coluna da Igreja). Eis o decreto ou Constitutio CUNCTOS POPULOS de 380 que traduzimos:  Queremos que todos os povos aos  quais rege a moderação de nossa clemência, se incumbam em tal religião que declara que o santo Pedro trouxe a Roma, religião por ele instituída,  que seguem Dâmaso o Pontífice (!)e Pedro de Alexandria bispo, varão de apostólica santidade. Isto é: que segundo a disciplina apostólica e  doutrina evangélica creiamos na única deidade do Pai do Filho e do Espírito Santo, sob uma igual majestade e uma piedosa trindade. Seguindo esta norma, mandamos que se dê o nome de cristãos católicos aos seguidores da mesma , julgando aos restantes loucos e insensatos os que mantêm a infâmia de dogma herético, primeiro por defesa divina e depois por impulso nosso, que recebemos da vontade de Deus. Saibam todos que não deve aparecer ocasião alguma para os heréticos de lugar de seus mistérios nem de exercitar loucura de sua demência, (...) celebre-se em todas partes o único nome do sumo Deus e sempre seja mantida a fé nicena pouco antes pelos antepassados entregue (325) (...) Esta afirmação de fé nicena e o verdadeiro culto da religião católica devem ser admitidos (..)da qual corretamente com a palavra ousia  se diz pelos crentes.(...) Proibimos como ilícitas todas as congregações heréticas dentro das cidade;s se alguma broteja facciosa for intentada, mandamos que sejam dos muros das cidades rejeitados, para que em todas partes existam bispos ortodoxos que mantenham a fé nicena. Seguindo o decreto antes mencionado, tão pronto como chegou a Constantinopla expulsou os arianos da cidade entre eles o bispo Demófilo e colocou no seu lugar S. Gregório de Nazianza. Já em janeiro de 381 o prefeito da cidade tinha fechado todas as igrejas arianas e expulsado seus ministros, decretos que Teodósio estendeu aos maniqueus.e outros heréticos. Sozomenos diz que as severas penas de suas leis eram mais para amedrontar do que para punir. Nesse mesmo ano celebrou-se o Concílio de Constantinopla I como uma base de reconciliação entre arianos e católicos, mas sem resultados positivos

 

COMENTÁRIO:Vemos como por causa das conversões em massa ao cristianismo se proíbe primeiro o uso de outras religiões não cristãs. Segundo, que são tratados como heréticos os que não seguem a fé nicena. Terceiro, que o decreto não provém de Teodósio como geralmente se afirma, mas antes dele estão os nomes de Graciano e Valentiniano, sendo um decreto comum aos três augustos. Finalmente é de notar que Dâmaso não é um bispo qualquer mas PONTÍCICE. Deve se comparar o decreto com afirmações como: Teodósio endureceu as penas contra os hereges, proibiu os oráculos, os sacrifícios e os templos. Porém, vejamos: Constantino proíbe a magia. E trata os adúlteros como ladrões com gravíssimas penas. Impõe o descanso domincal. Juliano impõe o paganismo como religião de Estado. Os cristãos são expulsos do exército. Igrejas são queimadas em Damasco e Beirute , bispos são desterrados e Baco foi instalado em algumas basílicas cristãs. Valentiniano em 372 proíbe os maniqueus de se reunirem em Roma sob pena de morte, exílio e confiscação de bens. Em 372 condena os bispos donatistas. Proíbe sob pena de morte matrimônios mistos entre romanos e germanos. Valente: Como ariano persegue os católicos. A tradição atribui a ele a morte de 80 mártires afogados no mar (370). Desterra Atanásio, o bispo católico de Alexandria. Graciano confisca os bens das Vestais e dos templos de Roma.. Retira do senado da cúria a estátua da Dea Victória.. É co-autor junto com Valentiniano e Teodósio do decreto Cunctos Populos, contra arianos e pagãos..

 

OS PAGÃOS: Sob Graciano e Teodósio os cidadãos romanos se converteram em massa ao cristianismo. Muitos talvez só para evitar prejuízos; porém os filhos destes conversos de conveniência receberam uma educação cristã e eram católicos sinceros. O arianismo decaiu rapidamente. Alguns arianos se tornaram católicos, outros adotaram religiões menos perseguidas, especialmente o maniqueísmo e outros decidiram abandonar o império e pregar o arianismo ente os germanos. Por isso, aceitando o cristianismo pregado pelo bispo Ulfila, os godos aceitaram a versão ariana do cristianismo porque era mais fácil para a sua mentalidade conceber um Cristo como um líder tribal humano no lugar de um deus, ao contrário dos romanos acostumados a adorar deuses de carne e osso na figura do imperador. Em 391 proclama uma sentença mortal contra o paganismo: proíbe visitar os templos, venerar as estátuas, acender lamparinas aos penates [deuses do lar] e qualquer tipo de sacrifício aos deuses até os domésticos. Toda casa em que tenha ardido o incenso será considerada propriedade do fisco. As condenações contemplam diversas penas segundo a consideração do sacrilégio por elas contemplado. Ordena os curiais [funcionários subalternos da justiça] denunciar qualquer tipo de prática pagã que observassem, castigando inclusive sua falta de zelo com multas. Simmaco, Flaviano e todos os pagãos que durante seu enfrentamento com Ambrósio tinham gozado de cargos e dignidades, foram despojados dos mesmos. O paganismo estava sentenciado e o Império reduzia suas fronteiras, porém Teodósio parecia mais preocupado por impor a religião cristã de grado ou por força do que assegurar a paz tanto interior como exterior do Império. O nome de Teodósio está ligado a uma das grandes basílicas de Roma, a de S. Paulo Extramuros, que historiadores têm como totalmente obra de Teodósio e de seus filhos, filha e neto. Teodósio rodeia-se de uma corte de parentes hispânicos em Constantinopla, cujo personagem central era seu tio Materno que teve um poder quase total. Ocupado Teodósio na guerra contra os persas, deixou em Materno a execução da política religiosa. Foi nomeado prefeito do Pretório de Oriente, uma espécie de lugar-tenente das províncias orientais.Tendo sua residência no Egito ordenou, animado por sua esposa Acantia, a destruição dos templos de Edessa e Apamea (norte da Síria) assim como bom número de capelas e santuários no Egito. Nesta época de novo houve um conflito entre a comunidade cristã e os pagãos do Museion. Em 389 o templo de Serapis [o Zeus supremo dos egípcios após a conquista dos gregos, muito relacionado com a magia e talvez seja esta uma se não a razão principal de sua supressão] em Canopo (Abau-Qir) ruiu. Os sentimentos chegaram a um máximo em 391 quando Teodósio decretou a destruição do templo de Serapis em Alexandria,o último refúgio pagão onde estes resistiram um assédio de várias semanas.. Foi o bispo Teófulo que com um machado rachou a estátua de madeira do Serapião da qual se dizia que se era tocada um temível tremor de terra destruiria a cidade. Mas do ídolo só saiu um batalhão de ratos. Este formava parte do palácio de Alexandro mandado construir por Tolomeo II em Alexandria onde estava a famosa biblioteca, cópia da ateniense de nome Mouseion de onde recebeu o nome a famosa biblioteca  de Alexandrina com mais de 500 mil manuscritos. Afirmava-se que não havia manuscrito no mundo em qualquer biblioteca que não pudesse ser achado também no Mousion. Era além disso um centro de investigações e ensino, um santuário e um albergue de eruditos. Na verdade, mais que os oficiais do Estado contribuíram a estas perseguições bispos e monges exaltados. Por isso 14 anos mais tarde foi assassinado o matemático Hypatia , último mestre a lecionar no Mouseion pagão. Os monges eram mais fanáticos do que os oficiais imperiais como vemos na disputa entre Teodósio e Ambrósio narrada acima no ano 388. Como nota curiosa podemos narrar que o corpo de Materno foi levado num cortejo  fúnebre acompanhado a pé por sua viúva Acantia desde Constantinopla até a Espanha.

 

A IGREJA CATÓLICA: Favorecida com muitos privilégios fiscais e judiciais encontrou-se por cima do direito comum. Os clérigos se beneficiaram com a dispensa de impostos. A jurisdição dos bispos em matéria civil estendeu-se consideravelmente. As igrejas gozaram do direito de asilo, exceto para os devedores do fisco. E no penal e judicial os sacerdotes e clérigos tinham seus juizes próprios. Os hereges foram sancionados em 395 com a privação de direitos civis. A tarefa empreendida por Constantino de introduzir no direito os princípios evangélicos como leis foi continuada por Teodósio contra delação, difamação, usura, tráfico de crianças abandonadas, e vícios contra natura. O conjunto constitui o código Teodosiano mais tarde chamado de Legislação Áurea. Também houve medidas generosas como a proibição de executar condenados durante a quaresma e a anistia pascal. O nome de Teodósio está ligado à construção de uma das grandes basílicas de Roma, a de S. Paulo Extramuros, que historiadores dizem ser totalmente obra de Teodósio e de seus filhos e netos.

 

AELIA FLACCÍLIA: Era o nome da esposa de Teodósio, segundo tradição, filha de Claudio Antonino, prefeito das Gálias e cônsul em 382. Casou com Teodósio em 376, e foi mãe de Arcádio e Honório futuros imperadores e de Pulquéria que morreu com tenra idade pouco antes da mãe. Era, como seu esposo, zelosa promotora da fé nicena. No trono ela foi um exemplo vivo de virtudes cristãs, especialmente de caridade. S. Ambrósio  fala dela como uma verdadeira alma de Deus. No seu panegírico S. Gregório de Niza a descreveu como uma parceira para toda obra boa, ornamento do império, líder da justiça e imagem da beneficência, uma coluna da fé e uma mãe para os indigentes. Ela cuidava pessoalmente dos aleijados e diz-se dela que afirmava: O dinheiro que eu distribuo pertence à dignidade do Estado, mas eu ofereço para a dignidade do Estado meus serviços pessoais  ao Dador..Na igreja grega ela é venerada como santa, sendo sua festa o 14 de setembro.

 

AS ESTÁTUAS: Em 387 um imposto extraordinário ensangüentou as ruas de Antioquia(Síria). A cúria foi assaltada, o prefeito arrastado e maltratado e destruídas entre gritos selvagens as estátuas do imperador, da imperatriz e dos seus filhos. Em Constantinopla todos falavam de incendiar a cidade que Teodósio rejeitou mas mandou investigar e proceder com rigor ao castigo.  Muitos dos rebeldes procuram refúgio nas igrejas enquanto outros fogem da cidade. O Patriarca Flaviano dirige-se à corte demandando perdão. O povo está aterrado.É então que Crisóstomo durante vinte dias se dirige ao povo exortando-o à penitência e a se defender contra as insinuações criminosas dos agitadores. Como Crisóstomo caísse enfermo, é um magistrado pagão que durante dois dias acalma as turbas. No seu primeiro discurso após a doença, Crisóstomo recrimina o povo: ¨Tenho vergonha ao pensar que foi necessária a palavra de um pagão para reanimar a esperança de um povo cristão¨. Flaviano retorna com o perdão completo.

 

TESSALÔNICA: No ano 388 quando na primeira missa, ao entrar vitorioso da guerra contra Máximo, sendo Ambrósio bispo de Milão, Teodósio intentou sentar-se no presbitério, como era costume em Constantinopla. Ambrósio o expulsou do mesmo. Mas o que se considera máxima humilhação do poder imperial e triunfo da igreja, deu-se com motivo do caso da matança de Tessalônica. Teodósio tinha publicado um decreto que condenava à morte os vícios contra natura (homossexuais). A homossexualidade e a pederastia eram vícios que de antigo estavam admitidos na sociedade grega. Os guerreiros espartanos podiam casar-se ao cumprir os 30 anos de idade, mas não tinham o direito a dormir em seus lares com suas esposas e por isso dormiam com os guerreiros mais jovens até a idade de sua licença. A pederastia era considerada como o melhor exemplo de companheirismo entre guerreiros, pois transmitia valor e coragem. Daí seu nome de amor grego, que se dava entre um adulto maduro o erastés [amante] e um adolescente entre 15 e 18 anos, o erômeno [amado]. Dos romanos sabemos como Adriano, o imperador, teve como amante Antinoo a quem, depois de matá-lo, sangrando-o, mutilou e dedicou um templo no Egito.  Aplicando a lei, o chefe da infantaria, Buterico, um godo, encarcerou em Tessalônica (Grecia) um auriga (condutor de quadrigas de cavalo) do circo que gozava de grande popularidade e ganhava tanto como os melhores futebolistas atuais. Houve uma revolta popular e, durante a mesma e em virtude do ódio aos soldados bárbaros, foi morto o general Buterico. Ao ter conhecimento disso, Teodósio, no momento em Milão, ordenou um massacre do povo quando estivesse reunido para o circo. É verdade que revogou a ordem, mas esta chegou tarde e, na repressão, morreram 300 pessoas segundo alguns ou  3 mil que outros elevam a 7 mil. Pela mesma época o imperador Valentiniano I fazia queimar ante ele os cortesãos que caiam em desgraça ou os jogava como comida para suas duas ursas favoritas, Migalha de Ouro e Inocência. Ambrósio apartou da comunhão a Teodósio o único imperador cristão, batizado antes de morrer. Durante 8 meses a tensão se manteve, até que Teodósio, durante o Natal desse ano, vestido com um saco de penitência, foi perdoado.  Teodósio afirmará mais tarde: sem dúvida, Ambrósio me fez compreender pela primeira vez o que deve ser um Bispo. Desde então o poder eclesiástico de julgar os poderes públicos, não só em questões dogmáticas mas também por seus erros públicos, prevaleceu até os tempos modernos. Se critica Teodósio por dar uma ordem brutal, mas vejamos alguns exemplos de imperadores e chefes que não são criticados tão duramente. Alexandre magno afogou cm suas próprias mãos seu irmão Clito porque este criticou o fato de Alexandre querer ser adorado como Deus. O cônsul Mário(+86 aC) após a sublevação dos escravos na Sicília crucificou 20 mil deles como escarmento para a população. Cear e Pompeio dizimaram na guerra civil o senado, de modo que tiveram que admitir os eqüestres como senadores. Cláudio, que não foi apontado como especialmente cruel em pouco mais de 10 anos condenou à morte 30 senadores e 300 equestres acusados de traição.São um exemplo dentre os mais respeitados líderes do tempo. Ricardo I o Coração de Leão mandou degolar 3 mil prisioneiros sarracenos entre eles mulheres e criançasapós a toma de Acre, porque Saladino se demoravaempagar o resgate dos mesmos. E ninguém o reprovou por isso.

 

NA MORTE: Parece que a causa foi uma hidropisia. Tomando conhecimento de seu delicado estado de saúde Ambrósio acorreu junto a seu leito de morte. O Imperador agradeceu-lhe tudo quanto havia feito por ele e pediu que continuasse a fazer o mesmo por seus filhos, os quais confiou a seus cuidados. O santo respondeu: Senhor, espero que Deus lhes dará, como deu a vós, um espírito reto e um coração dócil;recebo com prazer o encargo que me impondes, e vós respondo não só pela instrução desses queridos filhos, como também pela sua eterna salvação. Teodósio morreu em 17 de fevereiro de 395 murmurando pidosamente as primeiras palavras do salmo 116: Dilexi quoniam audies Domine vocem deprecationis meae Amei Senhor porque ouves a voz de minha súplica.