(FLÁVIO)TEODÓSIO I O GRANDE
(346<380-395>)
Pe.
Ignácio, dos padres Escolápios
1A PARTE: CRONOLOGIA DE SUA VIDA
346.-Nasce em Cauca,
atual Coca(Segóvia, Espanha)
com o nome de Flávio Teodósio, filho de Thermantia e de Flávio Honório Teodósio,
o velho, lugar-tenente hispano e um dos generais mais
prestigiosos de Valentiniano I, por isso foi descrito
como dux efficacisimus
[chefe, ou general, altamente eficaz].
368-9,-Teodósio o
jovem, luta junto com seu pai contra os pictos (povos
da Escócia que pintavam seus corpos para a guerra, daí seu nome), na
Inglaterra, detrás da famosa muralha de Adriano que separava a Inglaterra da
Escócia com 117 km de comprimento e que demorou 6 anos na construção.
370-1,-Teodósio luta
contra os alamanni (alemães) nos chamados agri decumani (Floresta Negra)
entre a França e a Alemanha.
372-3,-Idem contra os Sármatas,
povo do sul da Rússia que entravam na Bulgária atual, nos Bálcãs.
373,-Primeira pugna entre Ambrósio, bispo de
Milão, com o poder temporal. Morte de S Efrém de Nisíbia ou Nisibis (mapa 12)
374,-Como dux
(comandante militar ) na diocese (nome dado às
províncias por Diocleciano) da Mésia no baixo Danúbio
derrotou de novo os Sármatas quando só contava 27
anos. Além da experiência militar, tanto pai como filho, ambos de origem
aristocrática (daí o nome de Flávius) eram expertos
com os cavalos hispanos, famosos por suas atitudes
para a guerra e sobretudo para as carreiras que tanto apaixonavam os
contemporâneos. Aurélio Símaco, um dos senadores
romanos mais notáveis na época, importou cavalos de suas propriedades hispanas para as carreiras com que devia comemorar a
prefeitura de seu filho em Roma. Desses cavalos, misturados com os do norte da
África, resultou a raça chamada árabe, tão estimada como puro sangue nas
corridas modernas. Seu pai era na época magister equitum (mestre da cavalaria) ) assim nomeado pelo imperador Valentiniano I. Na mesma data das vitórias do filho na Mésia o pai foi enviado com plenos poderes ao norte da
África para reprimir a sublevação de Firmo.
375.- Ao morrer Valentiniano
I de doença quando tratava desde Sirmium (Sremka Mitrovica da atual Sérvia,
ao oeste de Belgrado) (mapa 6) repelir os Quados
(povos de origem suévia no centro da Alemanha,
capital Augsburg),sucede-lhe Graciano,
o filho, agora com 16 anos, que reconhece Valentiniano
II, seu meio irmão de 4 anos como augusto. Devido a maquinações da corte de Graciano (367-83) , a sorte dos dois Teodosios
mudou. O pai foi arrestado e executado em Cartago. Embora cristão só se batizou
na hora da morte. O filho, nosso Teodósio, se retirou
à Espanha durante três anos. É possível que a finca onde se retirou fosse a de
um tio de nome Materno Cinegio. Aí casa com sua
compatriota Aelia Flaccilia
da que teve pronto o primeiro filho, Arcádio, logo Honório e uma filha Pulqueria.
378.-devido à derrota de Andrianópolis,
Graciano chama Teodósio que
derrota os Sármatas.
379.- Graciano nomeia
Teodósio I, imperador do Oriente. Ao provar Teodósio sua habilidade como militar, derrotando os visigodos
causadores do desastre de Andrianópolis, Graciano o proclamou co-imperador, dando-lhe o domínio do
Oriente junto com as províncias de Dácia e Macedônia.
380,- .-Teodósio,
augusto do Oriente, após a paz com os godos, entra
triunfante em Constantinopla, que será sua capital e lugar de residência
habitual até 388 em que se dirige a Milão. Aparece a crônica de S. Jerônimo.
Pelo edito de Constantinopla de Teodósio I Imperador
romano do Oriente se confirma o cristianismo como religião de Estado no
Império. Teodósio se batiza como cristão devido a uma
grave doença, contraída em Tessalônica escolhida por
ele como capital temporária, sendo assim o primeiro imperador romano que
exerceu o poder estando batizado, apesar dos seus predecessores desde
Constantino, à exceção de Juliano, se declarassem cristãos e intentassem se
comportar como tais. Foi talvez por isso que foi o primeiro imperador que
recusou o título de Pontifex Maximus , que podemos traduzir por Supremo Guardião dos
velhos cultos romanos. Como reconhecesse que os bárbaros, especialmente os teutônicos e germânicos, podiam ajudar o exército, bastante
minado pelas lutas internas, Teodósio os admitiu como
tropa e oficiais, de modo que em suas dioceses (província hoje) tanto romanos
como teutônicos se encontravam entre seus generais.
Em Constantinopla constrói as muralhas e o forum
(Praça) o maior da época ao estilo de Trajano em Roma. Teodósio,
consanguíneo com a família Aelia
da qual procedia sua esposa, era hispano
como Trajano e com o qual tinha grande semelhança: loiro, de mediana estatura e
de agradável aspecto, quis imitar nisto seu predecessor. Junto com Graciano editam um decreto que manda que todos os súditos deviam professar a fé dos bispos de Roma e Alexandria. Os
templos dos arianos e heréticos não podiam ser chamados de igrejas.
381.-As forças bárbaras, especialmente os
visigodos, invadiam as províncias do sul do Danúbio constantemente desde 375. Teodósio que não podia contar com as forças de Graciano, buscou a paz através de uma coexistência pacífica.
Por isso recebeu o rei dos visigodos Atanarico de
maneira amigável. Neste mesmo ano buscará a paz ente
os diversos grupos cristãos. Ele se declara imperador pela graça de Deus e por
isso convoca um concílio ecumênico, o segundo da Igreja, em Constantinopla,
agora capital de seu império. Os arianos e seus partidários são
condenados. Falaremos disto com mais detalhe em outra ocasião
382.-Teodóiso conclui
um tratado(foedus)com os
visigodos. Que recebem um território dentro dos limites do Império ao sul do
Danúbio, a Mésia. Eles se comprometiam como
confederados a ajudar o império com soldados, defendendo sua fronteira oriental
e receberam como missionário cristão o bispo Ulfilas,
que os converteu ao arianismo. Assim permaneceram na Mésia
até 395, quando por ocasião da morte de Teodósio e
sob o comando do rei Alarico, invadiram a Grécia por
4 anos e logo em 401 a Itália. Concílio de Roma sob Damaso Papa (+384) em que
se confirmam as doutrinas trinitárias de
Constantinopla I.
383.-Na primavera, Graciano
é derrotado por Magno Máximo. Graciano escapa da
derrota e é traído por seu general Andragácio que o
mata em Lião. Máximo, de origem hispana
e parente de Teodósio, foi proclamado imperador pelas
tropas da diocese de Bretânia(Inglaterra),
então pertenecente à prefeitura das Gálias que correspondia às dioceses de Hispânia,
Britânia Vienna(Aquitânia) e Gália (região central e norte da França).
Assim Máximo se tornou dono da prefeitura das Gálias.
Morto Graciano, Máximo, defensor do catolicismo niceno porque a imperatriz Justina,
mãe do pequeno Valentiniano II, meio irmão de Graciano, era de religião ariana, é reconhecido como
imperador por Teodósio e escolhe como capital Tréveris. Valentiniano II, filho
de Graciano, jurado augusto aos 4 anos, tinha nesta época
12 anos e se refugia com sua mãe em Milão, como imperador das prefeituras de
Itália(dioceses da Itália Annonaria
ou norte e Itália Suburbicária ou sul, e Panônia ou Ilírico). Valentiniano II reconhece Máximo como imperador. Este
eleva seu filho Flavius Victor ao estatus
de Augusto. Também Teodósio nomeia seu filho Arcádio
como augusto por motivo da quinquenália, cinco anos
como imperador. Neste mesmo ano Flaccila é também
exaltada à categoria de Augusta, título que lhe garantia a coroa ou diadema, o paludamentum ou manto púrpura e o
broche imperial. Podia também cunhar moeda.com sua imagem. As últimas augustas
foram Helena, mãe, e Fausta, esposa de Constantino I. Talvez pelo destino de
Fausta, condenada à morte por pressuposto adultério por Constantino, nenhuma
mulher foi até Flaccila elevada a essa categoria. Flaccila, a consciência de Teodósio,
era fervorosa nicena e antiariana.
384.- Sirício é o
novo Papa título que pela primeira vez recebe o bispo de Roma. .Criador das
DECRETALIA que serão instrumento habitual da soberania dos Papas. Sua carta a Himério bispo de Tarragona
(Espanha) é muito importante.
386.-Morte de Élia
Flavia Flaccíla , comumente Flaccila,
a esposa, também de origem hispana, mãe de seus dois
filhos, Arcádio e Honório e de Pulquéria.
387.-Máximo invade a Itália, forçando Valentiniano II e família a fugir para Tessalônica.
388.-Novas núpcias com Gala, filha de Valentiniano I e de Justina. Justina era a ariana mais famosa de seu tempo. Teodósio abandona Constantinopla para enfrentar Máximo.
Escolhe como general supremo a Estilicón, meio galo meio romano, casado com sua sobrinha predileta, Serena,
e se dirige ao Ilírico. Envia uma flotilha
a Roma com Valentiniano II então com 17 anos.
Estratagema de Teófilo: Era este o patriarca de Alexandria, apelidado por suas
riquezas e poder do Faraó cristão. Habitava então o Alto Egito um monge, Jpão de Licópolis que por seu
carisma de predizer o futuro era consultado com freqüência por Teodósio. Naquele tempo os augúrios sobre o resultado de
uma batalha eram compartilhados por todos os povos e eram usuais as consultas
aos deuses ou ao Deus verdadeiro. Teófilo serviu-se de um estratagema que não
deu certo. Enviou a Roma um monge de sua confiança,
Isidoro, com duas cartas: uma para Máximo, felicitando-o pela vitória e outra
para Teodósio com o mesmo conteúdo. Evidentemente,
quem fosse o vencedor, deveria apresentar uma ou outra, com a qual o
poderoso patriarca teria previsto a vitória e seria dono de um Dom profético
inestimável. Por sorte ou azar, quando Isidoro esperava em Roma, as cartas
caíram nas mãos de um diácono que o acompanhava e a patranha foi descoberta. Na
realidade ambos os exércitos se enfrentaram em Aquiléia,
norte da Itália, às margens do Save. Máximo foi
derrotado e morto e Teodósio tratou seus seguidores
com clemência. Teodósio então se dirigiu a Milão,
permanecendo na Itália 3 anos -Pela primeira vez Ambrósio e Teodósio
se encontram em Milão. Teodósio, como era costume no
Oriente, intentou sentar-se no presbitério durante a missa. Mas Ambrósio o
expulsou sem contemplações. Teodósio então proibiu
que Ambrósio recebesse as informações do conselho imperial. Neste mesmo ano
alguns monges incendiaram a sinagoga de Callinicum na
Mesopotâmia e Teodósio obrigou o bispo da cidade a reconstrui-la. Ambrósio num sermão pronunciado na presença
de Teodósio condenou a atitude deste e do conselheiro
imperial Timásio, opondo a Igreja à Sinagoga. À
resposta de Teodósio dizendo que os monges cometiam
muitos crimes, Ambrósio o ameaçou com a excomunhão e Teodósio cedeu. Sem dúvida que a razão legal estava com
imperador, porque o judaísmo estava permitido pelas leis do Estado.
389.-Teodósio, junto
com seu filho de 4 anos Honório, futuro imperador, visita pela primeira
vez Roma. Nela estava o Senado, que aportava ao Império os
quadros mais importante da administração. Embora o processo da conversão
ao cristianismo tinha avançado muito entre os aristocratas, a
maioria dos senadores de Roma eram ainda no final do século IV hostil à
política religiosa e cristã de Teodósio. Algumas
famílias o tinham demonstrado acolhendo com entusiasmo a invasão de Máximo na
Itália. Símaco, o orador mais prestigioso e porta-voz
do senado, tinha dirigido ao usurpador Máximo um discurso de boas
vindas. Nesta ocasião foi Pacato quem saudava Teodósio
como o homem que ao vencer o tirano devolveu a liberdade perdida a Roma,
restaurando a ordem no Império. Teodósio tinha então
a plena maturidade dos 40 anos, era casto, austero e frugal, respeitoso
com as leis e os direitos humanos, odiava o derramamento de sangue e com um
profundo sentimento de amizade, repartia ofícios entre seus amigos e era
acessível aos seus súditos o que constituía uma
atitude muito rara entre os monarcas do Baixo Império. O elogio agradou Teodósio de modo que pouco mais tarde nomeou Pacato para
comes rei publicae ou prefeito da diocese da África.
Em Roma Teodósio conhece Dâmaso,
o Papa, também de origem hispana e se tornam amigos.
390.- Condenada a
homossexualidade pelo imperador, deu lugar ao mais grave incidente entre as
duas autoridades civil e eclesiástica em Milão. Tal foi o episódio de Tessalônica do qual falaremos sob o título de Teodósio e o Cristianismo
391.-Por lei proibiu às mulheres serem
diaconisas antes dos 60 anos e às diaconisas nomear como herdeiro à Igreja, aos
pobres e ao clero. Proibiu aos monges morar nas cidades. Todas estas leis
tinham a intenção de manter a independência ante o poder eclesiástico, assim
como foi a nomeação de dois cônsules pagãos, Símaco(inimigo de Ambrósio) e Tatieno.
Porém no mesmo ano proibiu os sacrifícios e a visita aos templos pagãos. Uma
briga entre sua segunda esposa e seu filho mais velho Arcádio o levou de novo a
Constantinopla.
392.-Arbogasto, o
general protetor de Valentiniano II parece que matou
seu dono. Como Arbogasto era de origem bárbara, não
podendo ocupar o trono, escolheu para este cometimento um homem de palha, o
retórico Eugênio, cristão só de nome, que ao não contar com o apoio de Ambrósio
nem de Teodósio, buscou a nobreza
senatorial pagã, dirigida por Nicômaco Flaviano, que viu nele a última
possibilidade de sobrevivência da Roma antiga ante o cristianismo
emergente e triunfador.
393.-Em janeiro levou seu segundo filho Honório
de 8 anos à dignidade de Augusto, pois Valentiniano
II estava morto e o Ocidente precisava de um imperador legítimo.
394.-Teodósio
enfrenta as forças de Eugênio no norte da Itália. A vanguarda de Teodósio formada por visigodos comandados por Alarico vândalos por Estilicón
e até hunos, foi derrotada nas margens do rio Frigido em Aquiléia.
Mas no dia seguinte quando Teodósio se encontrava em
situação difícil aconteceu um fato considerado miraculoso:suscitou-se uma
furiosa tempestade com um vento inesperado soprando com violência contra as
tropas inimigas, que quase as cegou anulando assim o efeito e suas setas e
contribuiu para a desordem e fuga dos inimigos. Mortos Eugênio, Arbogasto e Nicômaco Flaviano, Teodósio se mostrou
benigno com os contrários. A vitória foi comemorada como o segundo triunfo do
cristianismo contra os pagãos, uma repetição da realizada na ponte Mílvio por Constantino. Teodóso
se apresenta em Milão e Ambrósio lhe proíbe receber os sacramentos até aceder
suas petições de clemência para com os vencidos.
395.- Em janeiro deste ano Teodósio
morre de doença, .pronunciando suas últimas palavras que foram as do salmo
116(5) :Diligo Dominum quia audivit vocem
obsecrationis meae.( Amo o Senhor porque ouviu a voz de minha súplica).
Deixou ao cuidado de Ambrósio seus dois filhos, Arcádio, enfermiço de 17 anos e
Honório de 10. Estilicón, o general de origem vândala casado com sua sobrinha Serena, foi o encarregado de
cuidar de Honório, augusto do Ocidente enquanto Rufino cuidava de Arcádio,
augusto do Oriente. Mas o Império estava agonizando e praticamente morria com
seu último grande imperador.
SEU CARÁCTER: Descrevem-no como virtuoso,
sóbrio, trabalhador, rico e liberal que socorreu com seus conselhos e fortuna
seus compatriotas. Tinha porém um temperamento colérico e precisava de muito
esforço para dominar seus primeiros impulsos. Cristão de coração e piedoso, só
foi batizado por causa de uma doença . Porém só quis recebê-lo de um bispo
católico. Quando S. Ásculo se ofereceu para administrá-lo Teodósio pediu a ele
uma profissão de fé nicena. Poucos dias após ter recebido o batismo, o
Imperador ficou livre da sua doença. Da sua piedade temos o fato de que
quando Máximo se apoderou de todo o Império Ocidental expulsando Valentiniano,
Teodósio esteve na dúvida de se devia declarar a guerra ao usurpador. Então
mandou consultar S. João de Egito, famoso anacoreta que vivia na Tebaida e cuja
fama se alastrava pelo Oriente. O santo assegurou ao imperador que ele
triunfaria nessa guerra justa e com pouco derramamento de sangue. Apesar da
inferioridade numérica, Teodósio enfrentou seu rival. Várias batalhas, mas bem
escaramuças, se sucederam, e em cada uma delas algumas legiões desertavam do
campo de Máximo, unindo-se ao verdadeiro Imperador. Máximo, abandonado e
despojado de suas insígnias reais, foi decapitado pelos soldados. De Teodósio
se diz que costumava dizer: Frente a um problema concreto, busca uma solução
concreta, se existe. E resolverá o problema. Se a solução não existe, então do
que não existe não faças um problema
OS JUDEUS: Com Constantino as restrições foram
poucas: Era um delito passar do cristianismo ao judaísmo, se proibia aos judeus
circuncidar seus escravos cristãos e protegia os conversos ao cristianismo da
vingança de seus correligionários e somente aos rabinos tinha proibido certos
ofícios públicos. Constâncio acrescentou uma nova lei : pena de morte para
matrimônios entre judeus e cristãos. Juliano os favoreceu querendo tê-los como
colaboradores na Mesopotâmia na guerra contra os persas e decretou a
reconstrução do templo de Jerusalém que foi impedida por uns fogos que
apareceram no local. Sob Graciano e Teodósio encontraram a proteção do trono.
OS HEREGES: Teodósio, filho de uma família
cristã ocidental professava a fé do Homousios nicena, ao contrário dos
soberanos orientais de tendências arianas. Em 380 junto com Graciano e
Valentiniano II publicou o famoso decreto, ordenando seus súditos professar a
religião cristã, a fé que era ensinada pelos dois bispos católicos da época: o
pontífice(!) de Roma [S Damaso] e o bispo de
Alexandria, porque o bispo de Constantinopla era ariano. (Por isso temos uma
razão par afirmar que o bispo oriental de Bizâncio não pode ser considerado
como coluna da Igreja). Eis o decreto ou Constitutio CUNCTOS POPULOS de 380 que
traduzimos: Queremos que todos os povos aos quais rege a moderação de nossa clemência, se incumbam em tal
religião que declara que o santo Pedro trouxe a Roma, religião por ele
instituída, que seguem Dâmaso o Pontífice (!)e Pedro de Alexandria bispo,
varão de apostólica santidade. Isto é: que segundo a disciplina apostólica
e doutrina evangélica creiamos na única deidade do Pai do Filho e do
Espírito Santo, sob uma igual majestade e uma piedosa trindade. Seguindo esta
norma, mandamos que se dê o nome de cristãos católicos aos seguidores da mesma
, julgando aos restantes loucos e insensatos os que mantêm a
infâmia de dogma herético, primeiro por defesa divina e depois por impulso
nosso, que recebemos da vontade de Deus. Saibam todos que não deve aparecer
ocasião alguma para os heréticos de lugar de seus mistérios nem de exercitar
loucura de sua demência, (...) celebre-se em todas partes o único nome do sumo
Deus e sempre seja mantida a fé nicena pouco antes pelos antepassados entregue
(325) (...) Esta afirmação de fé nicena e o verdadeiro culto da religião
católica devem ser admitidos (..)da qual corretamente
com a palavra ousia se diz pelos crentes.(...) Proibimos como ilícitas
todas as congregações heréticas dentro das cidade;s se
alguma broteja facciosa for intentada, mandamos que sejam dos muros das cidades
rejeitados, para que em todas partes existam bispos ortodoxos que mantenham a
fé nicena. Seguindo o decreto antes mencionado, tão pronto como chegou a
Constantinopla expulsou os arianos da cidade entre eles o bispo Demófilo e
colocou no seu lugar S. Gregório de Nazianza. Já em janeiro de 381 o prefeito
da cidade tinha fechado todas as igrejas arianas e expulsado seus ministros,
decretos que Teodósio estendeu aos maniqueus.e outros heréticos. Sozomenos diz
que as severas penas de suas leis eram mais para amedrontar do que para punir.
Nesse mesmo ano celebrou-se o Concílio de Constantinopla I como uma base de
reconciliação entre arianos e católicos, mas sem resultados positivos
COMENTÁRIO:Vemos como por causa das conversões
em massa ao cristianismo se proíbe primeiro o uso de outras religiões não
cristãs. Segundo, que são tratados como heréticos os que não seguem a fé
nicena. Terceiro, que o decreto não provém de Teodósio como geralmente se
afirma, mas antes dele estão os nomes de Graciano e Valentiniano, sendo um
decreto comum aos três augustos. Finalmente é de notar que Dâmaso não é um
bispo qualquer mas PONTÍCICE. Deve se comparar o decreto com afirmações como:
Teodósio endureceu as penas contra os hereges, proibiu os oráculos, os sacrifícios
e os templos. Porém, vejamos: Constantino proíbe a magia. E trata os adúlteros
como ladrões com gravíssimas penas. Impõe o descanso domincal. Juliano impõe o
paganismo como religião de Estado. Os cristãos são expulsos do exército.
Igrejas são queimadas em Damasco e Beirute , bispos são desterrados e Baco foi
instalado em algumas basílicas cristãs. Valentiniano em 372 proíbe os maniqueus
de se reunirem em Roma sob pena de morte, exílio e confiscação de bens. Em 372
condena os bispos donatistas. Proíbe sob pena de morte matrimônios mistos entre
romanos e germanos. Valente: Como ariano persegue os católicos. A tradição
atribui a ele a morte de 80 mártires afogados no mar (370). Desterra Atanásio,
o bispo católico de Alexandria. Graciano confisca os bens das Vestais e dos
templos de Roma.. Retira do senado da cúria a estátua da Dea Victória.. É
co-autor junto com Valentiniano e Teodósio do decreto Cunctos Populos, contra
arianos e pagãos..
OS PAGÃOS: Sob Graciano e Teodósio os cidadãos
romanos se converteram em massa ao cristianismo. Muitos talvez só para evitar
prejuízos; porém os filhos destes conversos de conveniência receberam uma
educação cristã e eram católicos sinceros. O arianismo decaiu rapidamente.
Alguns arianos se tornaram católicos, outros adotaram religiões menos
perseguidas, especialmente o maniqueísmo e outros decidiram abandonar o império
e pregar o arianismo ente os germanos. Por isso, aceitando o cristianismo
pregado pelo bispo Ulfila, os godos aceitaram a versão ariana do cristianismo
porque era mais fácil para a sua mentalidade conceber um Cristo como um líder
tribal humano no lugar de um deus, ao contrário dos romanos acostumados a
adorar deuses de carne e osso na figura do imperador. Em 391 proclama uma
sentença mortal contra o paganismo: proíbe visitar os templos, venerar as
estátuas, acender lamparinas aos penates [deuses do lar] e qualquer tipo de
sacrifício aos deuses até os domésticos. Toda casa em que tenha ardido o
incenso será considerada propriedade do fisco. As condenações contemplam
diversas penas segundo a consideração do sacrilégio por elas contemplado.
Ordena os curiais [funcionários subalternos da justiça] denunciar qualquer tipo
de prática pagã que observassem, castigando inclusive sua falta de zelo com
multas. Simmaco, Flaviano e todos os pagãos que durante seu enfrentamento com
Ambrósio tinham gozado de cargos e dignidades, foram despojados dos mesmos. O
paganismo estava sentenciado e o Império reduzia suas fronteiras, porém
Teodósio parecia mais preocupado por impor a religião cristã de grado ou por
força do que assegurar a paz tanto interior como exterior do Império. O nome de
Teodósio está ligado a uma das grandes basílicas de Roma, a de S. Paulo
Extramuros, que historiadores têm como totalmente obra de Teodósio e de seus
filhos, filha e neto. Teodósio rodeia-se de uma corte de parentes hispânicos em
Constantinopla, cujo personagem central era seu tio Materno que teve um poder
quase total. Ocupado Teodósio na guerra contra os persas, deixou em Materno a
execução da política religiosa. Foi nomeado prefeito do Pretório de Oriente,
uma espécie de lugar-tenente das províncias orientais.Tendo sua residência no
Egito ordenou, animado por sua esposa Acantia, a destruição dos templos de
Edessa e Apamea (norte da Síria) assim como bom número de capelas e santuários
no Egito. Nesta época de novo houve um conflito entre a comunidade cristã e os
pagãos do Museion. Em 389 o templo de Serapis [o Zeus supremo dos egípcios após
a conquista dos gregos, muito relacionado com a magia
e talvez seja esta uma se não a razão principal de sua supressão] em Canopo
(Abau-Qir) ruiu. Os sentimentos chegaram a um máximo em 391 quando Teodósio
decretou a destruição do templo de Serapis em Alexandria,o último refúgio pagão
onde estes resistiram um assédio de várias semanas.. Foi o bispo Teófulo que
com um machado rachou a estátua de madeira do Serapião da qual se dizia que se
era tocada um temível tremor de terra destruiria a cidade. Mas do ídolo só saiu
um batalhão de ratos. Este formava parte do palácio de Alexandro mandado
construir por Tolomeo II em Alexandria onde estava a famosa biblioteca, cópia
da ateniense de nome Mouseion de onde recebeu o nome a famosa biblioteca
de Alexandrina com mais de 500 mil manuscritos. Afirmava-se que não havia manuscrito
no mundo em qualquer biblioteca que não pudesse ser achado também no Mousion.
Era além disso um centro de investigações e ensino, um santuário e um albergue
de eruditos. Na verdade, mais que os oficiais do Estado contribuíram a estas
perseguições bispos e monges exaltados. Por isso 14 anos mais tarde foi
assassinado o matemático Hypatia , último mestre a lecionar no Mouseion pagão.
Os monges eram mais fanáticos do que os oficiais imperiais como vemos na
disputa entre Teodósio e Ambrósio narrada acima no ano 388. Como nota curiosa
podemos narrar que o corpo de Materno foi levado num cortejo fúnebre
acompanhado a pé por sua viúva Acantia desde Constantinopla até a Espanha.
A IGREJA CATÓLICA: Favorecida com muitos
privilégios fiscais e judiciais encontrou-se por cima do direito comum. Os
clérigos se beneficiaram com a dispensa de impostos. A jurisdição dos bispos em
matéria civil estendeu-se consideravelmente. As igrejas gozaram do direito de
asilo, exceto para os devedores do fisco. E no penal e judicial os sacerdotes e
clérigos tinham seus juizes próprios. Os hereges foram sancionados em 395 com a
privação de direitos civis. A tarefa empreendida por Constantino de introduzir
no direito os princípios evangélicos como leis foi continuada
por Teodósio contra delação, difamação, usura, tráfico de crianças abandonadas,
e vícios contra natura. O conjunto constitui o código Teodosiano mais
tarde chamado de Legislação Áurea. Também houve medidas generosas como a
proibição de executar condenados durante a quaresma e a anistia pascal. O nome
de Teodósio está ligado à construção de uma das grandes basílicas de Roma, a de
S. Paulo Extramuros, que historiadores dizem ser totalmente obra de Teodósio e
de seus filhos e netos.
AELIA FLACCÍLIA: Era o nome da esposa de
Teodósio, segundo tradição, filha de Claudio Antonino, prefeito das Gálias e
cônsul em 382. Casou com Teodósio em 376, e foi mãe de Arcádio e Honório
futuros imperadores e de Pulquéria que morreu com tenra idade pouco antes da
mãe. Era, como seu esposo, zelosa promotora da fé nicena. No trono ela foi um
exemplo vivo de virtudes cristãs, especialmente de caridade. S. Ambrósio
fala dela como uma verdadeira alma de Deus. No seu panegírico S. Gregório de
Niza a descreveu como uma parceira para toda obra boa, ornamento do império,
líder da justiça e imagem da beneficência, uma coluna da fé e uma mãe para os
indigentes. Ela cuidava pessoalmente dos aleijados e diz-se dela que afirmava:
O dinheiro que eu distribuo pertence à dignidade do Estado, mas eu ofereço para
a dignidade do Estado meus serviços pessoais ao Dador..Na igreja grega
ela é venerada como santa, sendo sua festa o 14 de setembro.
AS ESTÁTUAS: Em 387 um imposto extraordinário ensangüentou as ruas de Antioquia(Síria). A cúria foi assaltada, o prefeito arrastado e maltratado e destruídas entre gritos selvagens as estátuas do imperador, da imperatriz e dos seus filhos. Em Constantinopla todos falavam de incendiar a cidade que Teodósio rejeitou mas mandou investigar e proceder com rigor ao castigo. Muitos dos rebeldes procuram refúgio nas igrejas enquanto outros fogem da cidade. O Patriarca Flaviano dirige-se à corte demandando perdão. O povo está aterrado.É então que Crisóstomo durante vinte dias se dirige ao povo exortando-o à penitência e a se defender contra as insinuações criminosas dos agitadores. Como Crisóstomo caísse enfermo, é um magistrado pagão que durante dois dias acalma as turbas. No seu primeiro discurso após a doença, Crisóstomo recrimina o povo: ¨Tenho vergonha ao pensar que foi necessária a palavra de um pagão para reanimar a esperança de um povo cristão¨. Flaviano retorna com o perdão completo.
TESSALÔNICA: No ano 388 quando
na primeira missa, ao entrar vitorioso da guerra contra Máximo, sendo Ambrósio
bispo de Milão, Teodósio intentou sentar-se no presbitério, como era costume em
Constantinopla. Ambrósio o
expulsou do mesmo. Mas o que se considera máxima humilhação
do poder imperial e triunfo da igreja, deu-se com motivo do caso da
matança de Tessalônica. Teodósio tinha publicado um decreto que condenava à
morte os vícios contra natura (homossexuais). A homossexualidade e a pederastia
eram vícios que de antigo estavam admitidos na sociedade grega. Os guerreiros
espartanos podiam casar-se ao cumprir os 30 anos de idade, mas não tinham o
direito a dormir em seus lares com suas esposas e por isso dormiam com os
guerreiros mais jovens até a idade de sua licença. A pederastia era considerada
como o melhor exemplo de companheirismo entre guerreiros, pois transmitia valor
e coragem. Daí seu nome de amor grego, que se dava entre um adulto maduro o
erastés [amante] e um adolescente entre 15 e 18 anos, o erômeno [amado]. Dos
romanos sabemos como Adriano, o imperador, teve como amante Antinoo a quem,
depois de matá-lo, sangrando-o, mutilou e dedicou um templo no Egito.
Aplicando a lei, o chefe da infantaria, Buterico, um godo, encarcerou em
Tessalônica (Grecia) um auriga (condutor de quadrigas de cavalo) do circo que
gozava de grande popularidade e ganhava tanto como os melhores futebolistas atuais.
Houve uma revolta popular e, durante a mesma e em virtude do ódio aos soldados
bárbaros, foi morto o general Buterico. Ao ter conhecimento disso, Teodósio, no
momento em Milão, ordenou um massacre do povo quando estivesse reunido para o
circo. É verdade que revogou a ordem, mas esta chegou tarde e, na repressão,
morreram 300 pessoas segundo alguns ou 3 mil que outros elevam a 7 mil.
Pela mesma época o imperador Valentiniano I fazia queimar ante ele os cortesãos
que caiam em desgraça ou os jogava como comida para suas duas ursas favoritas,
Migalha de Ouro e Inocência. Ambrósio apartou da comunhão a Teodósio o único imperador cristão, batizado antes de morrer. Durante
8 meses a tensão se manteve, até que Teodósio, durante o Natal desse ano,
vestido com um saco de penitência, foi perdoado. Teodósio afirmará mais
tarde: sem dúvida, Ambrósio me fez compreender pela primeira vez o que deve ser
um Bispo. Desde então o poder eclesiástico de julgar os poderes públicos, não
só em questões dogmáticas mas também por seus erros públicos, prevaleceu até os
tempos modernos. Se critica Teodósio por dar uma ordem
brutal, mas vejamos alguns exemplos de imperadores e chefes que não são
criticados tão duramente. Alexandre magno afogou cm suas próprias mãos seu
irmão Clito porque este criticou o fato de Alexandre querer ser adorado como
Deus. O cônsul Mário(+86 aC) após a sublevação dos
escravos na Sicília crucificou 20 mil deles como escarmento para a população.
Cear e Pompeio dizimaram na guerra civil o senado, de modo que tiveram que
admitir os eqüestres como senadores. Cláudio, que não foi apontado como
especialmente cruel em pouco mais de 10 anos condenou à morte 30 senadores e
300 equestres acusados de traição.São um exemplo dentre os mais respeitados
líderes do tempo. Ricardo I o Coração de Leão mandou degolar 3 mil prisioneiros
sarracenos entre eles mulheres e criançasapós a toma de Acre, porque Saladino
se demoravaempagar o resgate dos mesmos. E ninguém o reprovou por isso.
NA MORTE: Parece que a causa foi uma hidropisia.
Tomando conhecimento de seu delicado estado de saúde Ambrósio acorreu junto a
seu leito de morte. O Imperador agradeceu-lhe tudo quanto havia feito por ele e
pediu que continuasse a fazer o mesmo por seus filhos, os quais confiou a seus
cuidados. O santo respondeu: Senhor, espero que Deus lhes dará,
como deu a vós, um espírito reto e um coração dócil;recebo com prazer o encargo
que me impondes, e vós respondo não só pela instrução desses queridos filhos,
como também pela sua eterna salvação. Teodósio morreu em 17 de fevereiro de 395
murmurando pidosamente as primeiras palavras do salmo 116: Dilexi quoniam
audies Domine vocem deprecationis meae Amei Senhor porque ouves a voz de minha
súplica.