«O COMPROMISSO, A CARTA DOS JOVENS CRISTÃOS DA EUROPA»

 

 

«Europa: encontra-te a ti mesma, sê tu mesma!»

(João Paulo II, Santiago de Compostela, 1982)

«Jovens, construí com valor a Europa da esperança, fiel a suas próprias raízes, terra de acolhida, de solidariedade, de paz para todos».

(João Paulo II, Llanura di Montorso 1995)

 

NOSSO CAMINHO

Chegamos peregrinos a Santiago de Compostela desde vários países da Europa. Refletimos sobre como podemos ser testemunhos de Cristo para uma Europa da esperança. Fizemos isso em um lugar que está nas raízes da identidade européia: sobre o túmulo do apóstolo São Tiago os povos se encontraram e aprenderam a conhecer-se e a conviver.

 

Recém-terminada a Segunda Guerra Mundial --em 1948-- milhares de jovens de toda Europa se encontraram aqui para sonhar juntos um futuro de paz, unidos pela mesma fé. Muitos de seus sonhos se converteram em realidade; outros devem ainda ser realizados.

 

Nós queremos esta herança para dar uma alma cristã ao processo de integração européia. Por isto estamos convencidos de que se deve dar crédito aos jovens e de que se deve permitir ser os protagonistas do desenvolvimento do continente, abrindo espaços de responsabilidade na vida política, social, econômica e eclesial.

 

Queremos uma Europa acolhedora, solidária, que seja respeitosa, compreensiva e capaz de integração, que trabalhe pela paz e pela liberdade, e seja responsável de seu próprio passado. Buscamos uma Europa fundada sobre os valores da generosidade e do dom de si, da interioridade e da busca sincera da verdade.

 

Cremos na centralidade da dignidade da pessoa, pedimos o respeito do direito à vida, pensamos que o desenvolvimento de cada indivíduo deve ser realizado no seio de uma verdadeira família.

 

Consideramos que tais valores devem ser protegidos da ameaça do individualismo, do consumismo, do relativismo ético, da superficialidade...

 

OS PASSOS A CUMPRIR

A Europa de amanhã deverá enfrentar numerosos desafios: como jovens cristãos nos sentimos interpelados de maneira especial por alguns deles.

 

Mobilidade e diálogo intercultural

Vivemos em um mundo cada vez menor, no qual nos movemos velozmente, trocamos cultura e formação através de linguagens novas e originais. Muitos jovens viajavam por estudo ou trabalho; outros por turismo; outros porque buscam uma «terra prometida». Nós queremos que isto não seja ocasião de desorientação ou de conflito, mas que suponha a possibilidade de reencontrar-nos a nós mesmos em relação com os demais.

Cremos que é necessário construir uma cultura «européia», para poder colaborar entre as nações do continente e dialogar com as culturas do leste e do sul do mundo. Comprometemo-nos a acolher toda pessoa, a valorizar as ocasiões de contato entre os povos e a criar novas redes de relações que ajudem a superar as barreiras culturais, desenvolvendo a compreensão recíproca através das linguagens da arte, da música, do esporte, da religião...

 

Educação, formação e ocupação

Existem experiências consolidadas e positivas de intercâmbio estudantil, que fazem entrever um futuro sistema de formação continental. Reconhecemos também a tendência a uma maior mobilidade dos jovens trabalhadores em nível europeu. Desejamos um mercado comum de idéias livres e acessíveis, em um sistema educativo escolar capaz de fazer crescer integralmente a pessoa, em suas dimensões humana, cultural, social e espiritual, e capaz de acompanhar os jovens nas novas modalidades de acesso ao trabalho. Comprometemo-nos a promover uma cultura dos valores humanos e cristãos, a fazer crescer a consciência européia nos ambientes formativos, e a converter-nos em educadores das gerações futuras.

 

Família

Na experiência de muitos jovens, a família tem um papel fundamental como núcleo de estabilidade e escola de valores para o próprio crescimento pessoal. Outros, ao contrário --com freqüência com sofrimento-- a instabilidade dos vínculos afetivos. Nós desejamos uma Europa na qual os filhos possam crescer em um ambiente sereno, garantido e promovido por políticas familiares adequadas, particularmente atentas aos casais jovens.

 

Enquanto cidadãos, comprometemo-nos a tutelar a família fundada sobre o matrimônio; enquanto filhos, comprometemo-nos a vivê-la como lugar de convivência respeitosa entre gerações; enquanto jovens, comprometemo-nos a educar-nos no dom recíproco e a construir vínculos baseados na responsabilidade para o outro e para a comunidade na qual vivemos.

 

Cidadania e participação

A União Européia foi o fruto de um fecundo trabalho político, que permitiu harmonizar o sistema jurídico-econômico entre países muito diversos. Desejamos que se promova sempre a conscientização «desde baixo» dos cidadãos europeus, e dos jovens em particular.

Nos comprometemos a superar uma postura individualista em tema de direitos humanos, a reconhecer, desenvolver e valorizar a presença das pessoas nas realidades intermediárias de participação social (famílias, associações, comunidades religiosas, organizações...) que são os lugares nos quais a democracia se experimenta e amadurece.

 

Paz e desenvolvimento

A vontade de paz, que suscitou o nascimento da União Européia, mantém ainda hoje sua vocação. Nós, jovens europeus, sabemos que nossas eleições influenciam no presente e no futuro do restante dos habitantes do planeta. Queremos que a pessoa e sua dignidade estejam sempre no centro dos processos de desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental, em uma Europa que promova a paz e a justiça no cenário global.

 

Comprometemo-nos a assumir estilos de vida sustentáveis e a nos educarmos na gestão não violenta dos conflitos. Comprometemo-nos a valorizar aquelas experiências de voluntários e de cooperação internacional que possam contribuir à formação dos novos cidadãos europeus.

 

Desejamos uma informação transparente nos meios de comunicação e nas relações entre instituições públicas e cidadãos, que nos ajudem a sentir-nos europeus.

 

Comprometemo-nos a nos educar no uso dos meios de comunicação, a criar os espaços necessários para a análise crítica das informações que recebemos e a favorecer o acesso a tudo aquilo que permita um maior conhecimento da realidade dos demais países do continente.

 

OS COMPANHEIROS DE VIAGEM

Frente à grandeza destas perspectivas, sentimos a necessidade de solicitar a companhia de nossos irmãos e das pessoas de boa vontade, às quais fazemos uma proposta.

 

Aos outros jovens cristãos

Estai contentes de ser cristãos! Como o apóstolo São Tiago, sede testemunhas de Cristo com atos e palavras, vivendo com alegria na Igreja e ajudando-a a caminhar ao passo com os tempos.

 

Preparai-vos seriamente, com a oração, o estudo, a conscientização pessoal, a ser uma presença significativa no bairro, na paróquia, no mundo do trabalho... Sem medos nem complexos, sede «jovens na Igreja, cristãos no mundo».

 

A todos os demais jovens

Juntos, sem preconceitos, podemos realizar uma «revolução pacífica» para construir uma Europa mais democrática, mais justa, e que seja expressão da sociedade civil.

 

Propomos a pessoa no centro de qualquer projeto, apostando e crendo em seu pleno desenvolvimento.

 

Oferecemos Cristo como referência e modelo de vida, capaz de dar sentido e de saciar a sede de felicidade.

 

Aos adultos

Não tenhais medo de ser adultos! Temos necessidade de pessoas que nos acompanham e sejam modelos de vida.

 

Queremos estabelecer um diálogo para compartilhar experiências e desejos, para colaborar juntos, conscientes do fato de que seremos nós que levaremos adiante a construção da Europa.

 

Pedimos-vos que vos fieis dos jovens e que nos apoieis, deixando-vos provocar por nossa juventude.

 

Sabemos que os demais continentes olham a Europa e seus jovens à espera de uma resposta valorosa aos desafios que o terceiro milênio propõe à humanidade. Sentimos que, com a ajuda de Deus, conseguiremos construir a Europa da esperança, respondendo ao chamado de Cristo com o mesmo entusiasmo que o apóstolo Santiago. Podemos!

 

Monte do Gozo

7 de agosto de 2004

 

[Tradução do texto em espanhol realizada por Zenit]