SÍNODO
DOS BISPOS
ASSEMBLEIA
ESPECIAL PARA AMÉRICA
ENCONTRO COM JESUS CRISTO VIVO,
CAMINHO PARA
A CONVERSÃO, A COMUNHÃO
E A SOLIDARIEDADE
NA AMÉRICA
LINEAMENTA
APRESENTAÇÃO
Sua Santidade o Papa João Paulo II, em sua Carta
Apostólica Tertio millenio adveniente, 38
(10 de novembro de 1994), manifestou a intenção de convocar uma Assembléia
Especial do Sínodo dos Bispos para a América. Imediatamente depois deste
anúncio, o Santo Padre nomeou um Conselho pre-sinodal da Secretaria Geral do
Sínodo dos Bispos para a Assembléia Especial para a América. Este Conselho, na
sua maioria, é composto por Bispos da América. A Secretaria Geral começou
imediatamente o processo de preparação para esta assembléia sinodal especial
enviando uma carta de consulta a todos os interessados no continente americano,
isto é, às Conferências Episcopais e aos Arcebispos sui iuris das
Igrejas Orientais, como também à Cúria Romana e à União dos Superiores Gerais,
com o objetivo de definir um tema de importância contemporânea, de interesse universal
e de caráter urgente, para ser tratado nesta assembléia sinodal especial. Os
resultados desta consulta, ulteriormente analisados e discutidos pelo Conselho
pre-sinodal para a Assembléia Especial da América, assim como uma série de
recomendações elaboradas pelo mesmo conselho, foram em seguida entregues ao
Santo Padre.
Levando em consideração as propostas do Conselho, o
Santo Padre escolheu o seguinte tema para esta Assembléia Especial: Encontro
com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade
na América. A formulação do tema procura responder ao contexto das
circunstâncias da Igreja na América e, ao mesmo tempo, abranger uma realidade
que atinge tanta gente e tantas culturas do continente americano. Realçando o
papel central de Jesus Cristo vivo, como caminho de conversão, de comunhão e de
solidariedade, a Igreja na América preparar-se-á melhor para celebrar o grande
Jubileu do Ano 2000 e realizará mais eficazmente a nova evangelização, levando
a todos os habitantes do continente a mensagem da salvação.
Para apresentar de modo geral este tema sinodal, a
Secretaria Geral, em cooperação com os membros do mesmo Conselho pre-Sinodal e
teólogos do continente americano, elaborou os Lineamenta, o primeiro de uma série de documentos relacionados com a
Assembléia Especial para a América. Como o próprio nome sugere, o presente
documento oferece um primeiro esboço sobre o tema. O único propósito da
elaboração deste texto é o de oferecer uma base comum de reflexão, como também
o de suscitar sugestões e observações. Por este motivo, inclui-se um
questionário em apêndice.
É de se esperar que estes Lineamenta suscitem numerosas observações e sugestões provenientes
das distintas partes da Igreja na América, de modo que as Conferências Episcopais
e os Arcebispos sui iuris das Igrejas Orientais possam ter a informação
necessária para elaborar as respostas oficiais que a seguir enviarão à
Secretaria Geral. A qualidade e o número das respostas contribuirão para
garantir aos Padres Sinodais, reunidos na Assembléia Especial, a possibilidade
de contar com o material necessário para o estudo de uma temática tão
importante para a Igreja que está na América.
Portanto, os Lineamenta em si mesmos não são parte da
agenda da Assembléia Especial. Em um segundo momento será elaborado um
"documento de trabalho" ou "Instrumentum laboris", partindo das respostas oficiais das
diversas partes interessadas do continente americano, dos dicastérios da Cúria
Romana e da União de Superiores Gerais.
Toda a Igreja na América é convidada a participar:
sacerdotes diocesanos e religiosos, mulheres e homens consagrados, mulheres e
homens leigos, seminários e faculdades de teologia, conselhos pastorais;
movimentos e grupos católicos, comunidades paroquiais e todas as organizações
da Igreja. Quanto mais numerosas forem as respostas, mais completa e
substancial será a informação para aqueles que têm a responsabilidade de
redigir os documentos oficiais. Isto garantirá o caráter completo e substancial
do texto do Instrumentum laboris, o
documento no qual se concentrará a atenção e a discussão na Assembléia Especial
do Sínodo dos Bispos para a América.
Ao preparar a resposta aos Lineamenta, é preciso ter em conta os seguintes aspectos. O número e
a variedade das perguntas do questionário foram deliberadamente escolhidos para
servir de guia na estruturação das reflexões sobre o tema da Assembléia
Especial para a América. Estas perguntas, portanto, e não o texto dos Lineamenta,
devem ser a base de todas as respostas. Neste sentido, todas as observações
devem fazer explícita referência às perguntas formuladas. Ao mesmo tempo,
tenha-se presente que não é necessário responder a todas e a cada uma das
perguntas. Dependendo das circunstâncias individuais, aqueles que respondem
devem sentir-se livres de escolher aquelas perguntas que lhes parecerem mais
relevantes.
No continente americano, as respostas das comunidades
eclesiais e dos grupos diocesanos e arquidiocesanos devem ser enviadas ao bispo
local, que fará uso de tal informação na preparação da sua própria resposta.
Esta, em seguida, será enviada à Conferência Episcopal da qual o Bispo é
membro. As respostas de cada uma das mencionadas Conferências Episcopais, dos
Arcebispos sui iuris das Igrejas Orientais, da Cúria Romana e da União de Superiores
Gerais, deverão chegar à Secretaria Geral o mais tardar no dia 1· de abril de
1977. Esta data limite deverá ser recordada por todos aqueles que desejam
contribuir de alguma maneira para este processo de reflexão.
Com a publicação dos Lineamenta, começa uma etapa crucial da preparação da Assembléia
Especial, etapa que supõe a cooperação e a oração de cada um dos membros da
Igreja. A verdadeira comunhão na Igreja é um mistério que se estende para além
dos confins da nação e do continente - para além dos próprios confins do mundo
como o conhecemos - através do tempo e da eternidade. Uma vez que a Igreja na
América se prepara para esta especial celebração de comunhão entre os bispos,
ela o faz em união mística com toda a Igreja. Neste espírito a Igreja na
América é sustentada no período de preparação pre-sinodal pela oração e pelas
boas obras de todos os membros da Igreja, particularmente por aqueles que
integram a comunidade celestial dos Mártires e dos Santos, e, como sempre,
dirige seu olhar para a Virgem Maria, pedindo a sua infalível proteção.
Jan P.
Cardeal Schotte, C.I.C.M.
Secretário General
Nota: Ao falar de Assembléia Especial para a
América, e não de uma Assembléia Pan-americana ou
Intercontinental, não se pretende ignorar as evidentes diferenças culturais,
sociais e histórias que caracterizam a América do Norte, a América Central, a
América do Sul e o Caribe. Não obstante, uma vez que a Assembléia Especial do
Sínodo dos Bispos pretende tratar dos problemas comuns às partes mencionadas,
optou-se por fazer referência à América como uma única realidade geográfica,
especificando, em cada caso, quando o contexto o requer, as respectivas
diferenças.
INTRODUÇAO
1. Aproximando-se o final do Segundo Milênio do
Cristianismo, a Igreja prepara-se com diversas iniciativas pastorais para
celebrar com fé e reconhecimento o Grande Jubileu do nascimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Dispõe-se, desse modo, a entrar no terceiro Milênio da era cristã
com um renovado empenho em dar testemunho alegre da sua fé e esperança diante
do mundo inteiro. A Igreja que peregrina na América também deseja celebrar
Jesus Cristo, como quem recorda e revive o acontecimento fundamental e decisivo
da sua história. A humanidade toda vive no presente uma época dramática e, ao
mesmo tempo, capaz de causar entusiasmo, que alguns interpretam como final de
uma era cultural e como vislumbre laborioso de uma nova civilização. Neste
contexto, é preciso refletir sobre o modo como esta situação história afeta o
Povo de Deus e também sobre a participação da Igreja que está na América no
nascimento de uma nova civilização de justiça, de solidariedade e de amor.
2. Para favorecer a renovação da fé e da vida cristã
do Povo de Deus na América nesta encruzilhada da história, os Bispos,
provenientes em sua maioria deste continente, reúnem-se nesta Assembléia
Especial para a América, acolhendo com espírito apostólico a proposta que o
Santo Padre João Paulo II fez, pela primeira vez, em Santo Domingo, no ano de
1992, ao inaugurar os trabalhos da IV Conferência Geral do Episcopado latino-
americano: "Nesta mesma linha de solicitude pastoral pela situação das
categorias sociais mais carentes, esta Conferência Geral poderia considerar a
oportunidade de que, num futuro não remoto, possa realizar-se um Encontro de
representantes dos Episcopados de todo o Continente americano - que poderia
ter também caráter sinodal - , visando incrementar a cooperação entre as
diversas Igrejas particulares nos distintos campos da ação pastoral, e no qual,
no âmbito da nova evangelização e como expressão da comunhão episcopal, se
enfrentem também os problemas relativos à justiça e à solidariedade entre todas
as nações da América(1).
Posteriormente, o Papa retomou este tema no programa
global que, para a preparação do Jubileu do Ano 2000, apresentou à Igreja
Católica universal em sua Carta Apostólica "Tertio millennio
adveniente": "A última Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano acolheu, em sintonia com o Episcopado da América do Norte, a
proposta de um Sínodo para as Américas sobre as problemáticas da nova
evangelização em duas partes do mesmo continente tão diversas entre si pela
origem e pela história; e sobre as temáticas da justiça e das relações
econômicas internacionais, tendo em conta a enorme disparidade entre o Norte e
o Sul(2).
As finalidades principais que o Santo Padre propõe,
pois, para a presente Assembléia Especial para a América são várias:
3. Estes Lineamenta pretendem responder a tais
finalidades e recolher as propostas das diversas Conferências Episcopais da
América. Antes de tudo, é preciso afirmar que o ponto de partida é Jesus
Cristo, Salvador e Evangelizador, que oferece o seu caminho nesta
conjuntura história. Ele convida o homem de hoje, como Nicodemos, "a
nascer do alto, da água e do Espírito, para poder entrar no Reino de Deus"
(Jo 3,3-5). No momento em que o povo de Deus que está na América se dispõe a
cruzar o umbral do terceiro Milênio, mantém sempre sua validade a antiga e
sempre nova verdade da fé cristã: "Pois Deus amou tanto o mundo, que
entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; quem não
crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus" (Jo
3,16-18).
Jesus Cristo, hoje vivente na sua Igreja, acompanha-a
ao cruzar o umbral da esperança e ao entrar no terceiro milênio, fortalece-a
para prosseguir a missão de anunciar o Evangelho que, há cinco séculos, vem
tornando fecunda a história no Continente americano com abundantes frutos de
salvação. A fim de confirmar e robustecer a vida cristã dos povos e fazê- la
irradiar em todos os âmbitos da sociedade e da vida contemporânea no
continente, os Pastores do Povo de Deus desejam propor uma nova evangelização
que estimule o encontro pessoal dos homens e mulheres da América com Jesus
Cristo vivo. Ele convida todos à conversão, para poderem viver em comunhão
com o Pai e para deixarem-se transformar pelo Espírito em
instrumentos de solidariedade fraterna.
PRIMEIRA
PARTE
ENCONTRO ATUAL COM CRISTO, MORTO E RESSUSCITADO
I
JESUS
CRISTO, SALVADOR E EVANGELIZADOR
4. Ao iniciar os trabalhos sinodais sobre a nova
evangelização na América, é fundamental ter presente que Jesus Cristo, morto e
ressuscitado, vivente atualmente na sua Igreja, deve ser sempre o ponto de
convergência de todas as reflexões e o caminho para a sua atuação pastoral.
Deve-se realçar em todo momento o papel central da pessoa de Jesus Cristo,
"pois não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos
ser salvos" (At 4,12). Do encontro de cada homem e de cada mulher
com Jesus Cristo vivo brotarão a conversão, a comunhão e a solidariedade como
exigências básicas para fazer deles apóstolos da nova evangelização.
"Como o Pai me enviou , também eu vos envio...
Recebei o Espírito Santo" (Jo 20,21-22). Jesus Cristo evangelizador
convoca, evangeliza e envia a evangelizar. "É deste conhecimento amoroso
de Cristo que jorra o desejo de anunciá-lo, de evangelizar, e de levar
outros ao sim da fé em Jesus Cristo. Mas ao mesmo tempo se faz sentir a
necessidade de conhecer cada vez melhor esta f(3).
Que diz hoje Jesus Cristo aos homens e mulheres da
América, neste momento da sua história? A pergunta não deve ser uma
interrogação teórica e sim concreta, isto é, deve levar a um verdadeiro
encontro e a um diálogo na fé. Todos os homens e mulheres da América são
convidados a procurar encontrar-se com Cristo, como se encontra um
discípulo em busca da verdade com o seu Mestre, um amigo em busca de amizade
com um seu companheiro de caminho.
5. Os evangelhos narram diversos encontros de homens e
mulheres com Jesus. Encontram-se com Ele dois dos discípulos de João Batista,
sensíveis à chamada de Deus. Perguntaram-lhe onde vivia e Jesus os recebeu em
sua casa. Esteve dialogando com eles, os quais, finalmente, tornaram-se
discípulos seus (Jo 1,35-51). Encontrou-se com Ele, de noite, Nicodemos, o
magistrado judeu que lhe expôs as suas dúvidas religiosas. Jesus revelou- lhe a
natureza da sua missão, o amor do Pai aos homens e sua própria identidade,
convidando-o a nascer de novo (Jo 3,1-21).
Mas também Jesus adianta-se e vai ao encontro de
muitos homens e mulheres. Assim, Ele mesmo encontrou Zaqueu, o coletor de
impostos que nem sempre respeitava as exigências da justiça em sua função. Foi
comer com ele, levando a alegria e a salvação à sua casa e Zaqueu, tocado no
seu coração, prometeu devolver o quádruplo daquilo que tinha defraudado (Lc
19,1-10). Ele também encontrou-se com a Samaritana, pecadora, junto ao poço de
Jacó; falou-lhe da água viva que sacia a sede profunda do homem e da (Jo
4,6-42).
6. Assim deveriam aproximar-se de Jesus os homens e
mulheres da América: não para fazer teorias sobre Ele, nem para observá-lo como
espectadores neutros, mas para encontrar-se com Ele, nas próprias
circunstâncias das suas vidas, em seus compromissos familiares e profissionais,
em seus projetos, dúvidas e fraquezas. De tal encontro, se souberem dialogar
com Ele e abrirem seu coração à escuta da Palavra de Deus, sairão transformados
em discípulos seus.
O encontro é sempre com Jesus Cristo morto e
ressuscitado. Com Cristo que, "por sua encarnação, uniu-se de algum
modo a todo homem". Com Cristo que "trabalhou com mãos humanas,
pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração
humano". Com Cristo que, "nascido da Virgem Maria, tornou-se
verdadeiramente um de nós em tudo, exceto no pecado(4). Nada de humano
é-lhe estranho, nenhuma situação de alegria ou de sofrimento, de pobreza ou de
trabalho, nenhuma legítima aspiração humana é-lhe alheia. Ele caminha ao lado
de cada homem e de todos os homens e os acompanha nas suas vicissitudes
históricas. Identifica-se com os mais pequeninos entre os homens e morreu na
cruz para livrar a humanidade do pecado e do mal.
Na cruz e pela cruz Cristo venceu a morte física e
sobretudo espiritual. Por sua ressurreição vive eternamente junto ao Pai e, no
tempo, junto à sua Igreja peregrina. Por seu Espírito é doador de vida:
iluminando, guiando, consolando, fortalecendo e salvando a quem se aproxima
dele em busca de paz e de bem-aventurança. Cristo, também hoje, como no domingo
da ressurreição em Jerusalém, faz-se presente no meio de cada comunidade cristã
para dizer-lhe: "A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu
vos envio... Recebei o Espírito Santo" (Jo 20,21-22).
II
A IGREJA
E A NOVA EVANGELIZAÇÃO
7. Em vista de uma reflexão sobre a nova evangelização
da América poderia, talvez, ser fecunda uma leitura do Evangelho de São Lucas,
que apresenta a obra da salvação como caminho salvador e evangelizador:
Cristo, enviado pelo Pai, percorre este caminho conduzido pelo Espírito. Este
caminho de salvação continua, em seguida, através da obra de
evangelização que realiza a Igreja, peregrina na história. O caminho
compreende três momentos, sendo o primeiro o tempo de preparação no Antigo
Testamento; o segundo é o tempo do cumprimento e abrange tanto a vida e o
ministério público de Jesus, como o tempo da Igreja no qual Cristo continua
agindo por meio do seu Espírito como Messias, Salvador e Evangelizador; o
terceiro é a parusia, meta final do caminho salvífico.
8. É um caminho animado pelo Espírito, que
falou através dos profetas, guiou os passos de Jesus e, a partir de
Pentecostes, os da Igreja. Cada igreja particular, cada comunidade de
discípulos do Senhor, tem o seu Pentecostes ou batismo no Espírito (Lc
3,16; At 1,5; At 11,16). Assim aconteceu com as comunidades de
Jerusalém (At 2,1ss), de Samaria (At 8,14-17), de Cesaréia (At
10,44ss), de Éfeso (At 19,6) e também o apóstolo Saulo teve o seu
próprio "batismo" (At 9,17). O Espírito guia também as
comunidades cristãs na América quando se reúnem para escutar a Palavra de Deus
e para partir o pão da Eucaristia, quando rezam, quando vivem unidas a seus
Pastores e, sobretudo, quando realizam a missão de anunciar a todos os homens a
Boa Nova.
É um caminho que, de acordo com o plano de Deus, não
se detém: tem início na Galiléia, dirige-se a Jerusalém, em seguida a
Antioquia, finalmente a Roma e, de lá, a todo o mundo gentio. Nenhuma
autoridade nem poder humano algum podem detê-lo, pois seu dinamismo é o da
Palavra de Deus que produz seus frutos pela ação do Espírito na Igreja,
independentemente das metamorfoses da história.
9. É um caminho atual: cada geração de cristãos tem o
seu "hoje" salvífico como tarefa própria, caminho a percorrer e
caminho a viver realizando a experiência do Evangelho. O cristão atual há-de
viver e realizar seu próprio caminho de fé hoje, entre a memória salvífica -
Jesus Cristo, morto e ressuscitado, vivo também no presente - e a tensão
escatológica rumo ao futuro, quando a salvação se consumará na parusia. "Agora"
é o tempo da conversão (At 4,29), pois é o tempo em que age a graça e a
Palavra edifica a comunidade (At 20,32). É o tempo de dar testemunho do Reino de Deus.
Toda a Igreja na América deve tomar consciência da
densidade salvífica do "hoje" de salvação e do "hoje" do
compromisso evangelizador. Para isso é necessário saber avaliar adequadamente a
prática do sacramento da reconciliação (o perdão e a misericórdia salvífica em
ato), da celebração da Eucaristia, da escuta da Palavra. É também importante
saber captar tantas manifestações do Reino no presente da história, testemunhos
de comunhão e de caridade: a fidelidade dos esposos, a generosidade dos leigos
nos movimentos apostólicos, o sacrifício dos sacerdotes em seu ministério, a abnegada
doação dos missionários, religiosos e religiosas, os esforços desinteressados e
heróicos de tantos homens de boa vontade pela paz e pelo bem comum, etc. Em
síntese, é necessário interpretar à luz do "hoje" salvífico os
"sinais dos tempos", com seus aspectos positivos e negativos, em
ordem a um justo redimensionamento da realidade.
10. É um caminho salvador: o primeiro a percorrê-lo
foi Jesus, verdadeiro Salvador, e, atrás dele, começando pelos apóstolos, toda
a Igreja em sua peregrinação através dos séculos como sinal e instrumento de
salvação (cf. Lc 2,11; 4,18-21; 19,9-10; At 2,47; 5,31-32;
13,23.26; 16,17;28,28). As Escrituras dão testemunho deste caminho de salvação
que responde aos desejos íntimos de toda a humanidade, judeus e gentios, aos
quais o Filho de Deus oferece a autêntica salvação,convidando-os a abandonar
falsas esperanças. Perante o mundo judeu, Jesus Cristo representa o cumprimento
da salvação prometida pelo Pai (cf. Lc 4,21; Is 58,6; 61,1-2; Lc
7,18-23; Is 26,19; 29,18ss; 35,5ss), que se recebe por pura misericórdia
e não pelos próprios méritos e sim pelo reconhecimento do próprio pecado (cf. Lc
13,1- 9; 14,1-24; 15,11-31; 17,10; At 2,38). Perante os desejos de
salvação dos gentios, Jesus apresenta-se como verdadeiro "Soter" ou
Salvador", pois também para estes Ele é a salvação (cf. At 2,39;
28,28).
Como no areópago de Atenas ou no foro romano em tempos
de São Paulo, também hoje abundam ídolos e divindades, pululam mestres, gurus,
seitas, movimentos esotéricos e gnoses globais, que oferecem projetos de
felicidade e utopias de salvação aos homens do tempo presente. Diante de tais
realidades, é fundamental recordar a todos, de quando em vez, que "não há,
debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (cf.
At 4,12) a não ser somente o Nome de Jesus de Nazaré.
11. A salvação que propõe este caminho é radical e
universal, pois perdoa e cancela os pecados a todo aquele que a receba com
coração sincero (cf. Lc 1,77; 3,3; 4,18; 24,47; At 2,38; 5,31;
10,43; 13,38; 26,17-18). Trata-se de uma libertação do mais radical dos males,
que é o pecado, que, porém, se prolonga na tarefa libertadora e na exigência
ética (5). Por isso Jesus inicia o seu caminho de salvação apresentando-se como
anunciador do ano de graça de Javé, oferecendo o perdão dos pecados, libertando
de Satanás, evangelizando os pobres, libertando os cativos (cf. Lc
4,16-21) e realizando outros sinais que anunciam a libertação escatológica de
toda dor e da morte (cf. Lc 7,18-23; 21,28).
O Espírito Santo, que guiou os passos de Jesus,
é também hoje o primeiro evangelizador no novo Povo de Deus, trabalhando para
congregar os que nunca receberam a Boa Nova e os homens e mulheres que se
afastaram da fé cristã (6). Jesus continua oferecendo a salvação por meio do
seu Espírito, durante o caminho da Igreja. A missão da Igreja a serviço
deste caminho salvador de Jesus é, após ter recebido a salvação, dar testemunho
dela e oferecê-la aos homens. Este iter salutis ou "caminho de
salvação" que oferece a Igreja na sua obra evangelizadora, pode-se
resumir, segundo Atos 2,37ss, segundo a seguinte seqüência: receber a
Palavra, converter-se, crer, ser batizado, receber o perdão dos pecados e,
posteriormente, o dom do Espírito.
12. A palavra de Deus é o meio normal pelo qual
a Igreja convida à salvação. É palavra de graça e de salvação, é palavra
poderosa, mas o seu dinamismo depende também do modo como é acolhida no coração
de quem a escuta (cf. Lc 8,4-15). Para recebê-la, é necessário converter-se
(cf. Lc 10, 13-16; 11,29-32), sobretudo da incredulidade (cf. At
2,38-40) e da idolatria (cf. At 17,30; 26,20), para retornar a Deus Pai,
através de Jesus, no Espírito. A incredulidade difunde-se hoje entre os povos
do Norte, do Centro e do Sul do continente, sob formas de falsos messianismos
ideológicos e políticos. A idolatria esconde-se sob o aspecto do
"culto" a novos "bezerros de ouro", como o dinheiro, a
riqueza, o poder, a sensualidade, a droga, etc.
A Boa Nova é causa de salvação para quem a recebe com
fé, como o demonstram numerosos exemplos da história sagrada (cf. Hb
11,8; Lc 1,37- 38.45.48). "O homem deve responder a Deus, crendo
por livre vontade. Por conseguinte, ninguém deve ser forçado contra a sua
vontade a abraçar a fé. Pois o ato de fé é por sua natureza voluntário(7). Todos
os homens são chamados a este ato livre de fé em ordem à própria salvação. No
entanto, é preciso recordar que Jesus revela uma especial solicitude para com
os mais fracos. Com efeito, no contexto do universalismo da salvação são
privilegiados os pobres, os enfermos, os marginalizados da sociedade. A todos
os homens e, em modo particular, a estes irmãos mais "pequeninos", o
Senhor oferece uma salvação integral, que abrange todas as necessidades do
homem, físicas e espirituais, terrenas e transcendentes.
A etapa terrena de Jesus foi universal em sua
projeção, embora a sua realização estivesse circunscrita à Terra Santa. A sua
obra dirige-se a todos os homens pecadores (cf. Lc 5,31s), uma vez que o
Filho de Deus é também, pelo mistério da sua encarnação, o Filho do Homem e,
portanto, irmão de todos os homens, igual a eles em tudo, exceto no pecado. Por
este motivo a sua obra de redenção possui um alcance universal (cf. Lc
2,14.30-32). É na etapa do caminho da Igreja que o Ressuscitado, presente por
meio do seu Espírito, oferece a Boa Nova da salvação a todos os homens pelo
testemunho de seus discípulos (cf. At 4,33).
É importante tomar consciência do caráter universal da
missão no seio de cada igreja particular: missão "ad gentes" onde
ainda não foi anunciado o Evangelho; mas também missão entre batizados que se
deixaram esfriar na sua vida cristã ou que deixaram a Igreja católica. Esta
missão "ad gentes" deve ir ao encontro das novas situações das
sociedades contemporâneas, onde já não se ouve falar de Cristo, isto é, os
novos areópagos de que fala João Paulo II na carta encíclica Redemptoris
Missio: o areópago dos meios de comunicação social, o areópago da cultura e
da ciência, da arte e do pensamento, do espetáculo, do esporte e da
política(8).
III
MARIA,
EVANGELIZADA E EVANGELIZADORA
13. Maria é o modelo no caminho evangelizador, pois
nela acontece a plenitude de graça. O Espírito Santo, que a transforma por
inteiro, oferece- lhe a missão da maternidade divina, preservando a sua
virgindade (cf. Lc 1,30-35). Maria, com a perfeita obediência da fé, dá
o seu "sim" humilde e generoso a Deus (cf. Lc 1,38) e deixa-se
evangelizar plenamente, acolhendo primeiro a Palavra de Deus em seu coração e
depois em seu seio(9). Por isso ela transforma-se na primeira evangelizadora,
pois através dela o Salvador oferece-se a todos os homens: a Isabel e a seu
filho, João Batista (cf. Lc 1,39-45), aos pastores (cf. Lc
2,16-20), aos magos (cf. Mt 2,10-11), a Simeão e à profetisa Ana (cf. Lc
2,27-38) e a tantos homens de boa vontade que se acercaram dele durante seu
ministério público. Finalmente, é Maria, a Nova Eva e a Mãe da Igreja, que, na
figura do discípulo amado, recebe toda a humanidade das mãos do seu Filho
agonizante no Calvário (cf. Jo 19,25-27). Desde então Maria está sempre
presente na vida da Igreja.
Também no Povo de Deus que está na América a Mãe do
Redentor faz-se presente desde o início da primeira evangelização, sobretudo
desde 1531, quando, sob a invocação de Guadalupe, na aparição a Juan Diego, ela
oferece na colina de Tepeyac proteção materna a todos os homens e mulheres do
Continente americano. Sob muitas outras invocações a Virgem Maria é também
venerada como Mãe de Deus e Mãe de todos os homens nos diversos países e
regiões, nos quais o povo fiel manifesta, através do culto mariano, sua
inconfundível pertença à Igreja Católica. Por isso João Paulo II atribui-lhe os
títulos de Estrela da primeira Evangelização e da Nova Evangelização(10).
Também hoje, como em Belém, em Caná e no Calvário, Maria, estrela da evangelização
na América, continua mantendo com sua presença a obra do anúncio de Jesus
Cristo, Salvador do homem.
14. O Espírito que transformou Maria na primeira
evangelizada e primeira evangelizadora, é o mesmo Espírito do Senhor que
acompanhou seu Filho ao iniciar o seu ministério público na Galiléia: "O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os
pobres..." (Lc 4,16-21). Também em nossa época o Espírito Santo é o
principal evangelizador e impulsiona a Igreja que está na América a cantar com
Maria o Magnificat, seu "canto de louvor", confirmando mais
uma vez que não se pode separar a verdade sobre Deus que salva, da manifestação
do seu amor preferencial pelos pobres e humildes(11). No caminho para o Grande
Jubileu do ano 2000, a Virgem Maria será, para a Igreja na América, modelo de
conversão, de comunhão e de solidariedade para que a obra salvadora do seu
Filho chegue a todos os homens e mulheres do Continente. Por isso, João Paulo
II, ao anunciar a celebração do grande Jubileu do terceiro milênio, quis
confiar o empenho de toda a Igreja à celestial intercessão de Maria, Estrela
que guia os cristãos ao encontro com o Senhor(12).
SEGUNDA PARTE
JESUS CRISTO, CAMINHO PARA A CONVERSÃO
I
A CONVERSÃO PESSOAL E SOCIAL
15. "Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos
e crede no Evangelho" (Mc 1,15). Assim iniciou Jesus a sua missão
messiânica, anunciando o cumprimento do tempo da promessa e convidando à
conversão. O kerigma dos apóstolos,
depois de Pentecostes, também se realizava proclamando Cristo morto e
ressuscitado como o único Salvador e convidando à conversão e a crer nele (cf. At
3,19-20.26). O encontro com o Senhor ressuscitado deve levar a uma profunda
conversão do coração e a uma constante renovação da vida em ordem a uma
configuração sempre mais perfeita com Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Tal
conversão é um dom de Deus que livra o homem do pecado sob todas as suas formas
e o introduz no mistério de Cristo Redentor. O Apóstolo dos gentios resume a
missão de Jesus Cristo explicitando a dimensão cósmica do seu ministério de
reconciliação, como recorda o Papa João Paulo II em sua Exortação Apostólica
pós-sinodal Reconciliatio et Poenitentia: "São Paulo permite- nos,
ainda, alargar a nossa visão da obra de Cristo a dimensões cósmicas, quando
escreve que n'Ele o Pai reconciliou consigo todas as criaturas, as do céu e as
da terra (cf. Col. 1,20)(13).
Ao aproximar-se o Grande Jubileu do terceiro milênio,
Cristo nos oferece os tesouros do seu sangue redentor e da sua graça. A
conversão, porém, é uma exigência prévia para o perdão dos pecados e a
comunicação da graça divina. Também hoje Cristo dirige-se a todos os seus
discípulos na América, para lhes dizer: "Convertei-vos e crede no
Evangelho" (cf. Mc 1,15).
16. Como devemos entender esta conversão? O Papa João
Paulo II diz, na Exortação apostólica pós-sinodal Reconciliatio et
Poenitentia: "O termo e o próprio conceito de penitência são
bastante complexos... a penitência significa então a íntima mudança do coração sob
o influxo da Palavra de Deus e na perspectiva do Reino... a penitência é a
conversão que passa do coração às obras e, por conseguinte, à vida toda do
cristão(14).
A conversão, portanto, não é um ato isolado mas um
processo constante na existência do cristão. Dura tanto quanto dura a sua vida.
Não é um fato que afeta somente às pessoas individualmente, mas também aos
grupos humanos, às instituições e estruturas sociais enquanto criadas e
dirigidas por pessoas humanas, livres e responsáveis. Além disso, a conversão é
reconciliação com Deus, consigo mesmo e com os demais, pois supõe a superação a
ruptura radical que é o pecado.
Em preparação à celebração do Grande Jubileu do ano
2000 o Santo Padre convida a todos os membros do Povo de Deus a um sincero exame
de consciência, que é o primeiro passo para uma verdadeira conversão: "No
limiar do novo milênio, os cristãos devem pôr-se humildemente diante do Senhor,
interrogando-se sobre as responsabilidades que lhes cabem também nos males do
nosso tempo(15).
II
LUZES E
SOMBRAS
17. De um ponto de vista pastoral, existem numerosos
elementos que favorecem a conversão e que agem como fermentos de reconciliação
com Deus e com os irmãos. Pode-se constatar um evidente despertar religioso,
sob formas de sede de oração e de contemplação, sobretudo entre os jovens. A
religiosidade popular continua vigorosa, com manifestações de uma prática
religiosa simples, que sabe descobrir o núcleo essencial do mistério cristão.
Prova disso é a participação dos fiéis na celebração dos sacramentos, sobretudo
do batismo, da Eucaristia e do matrimônio, que costuma ser também ocasião de
encontros familiares e sociais. Este despertar religioso manifesta-se ainda no
culto à pessoa de Cristo em seus diversos mistérios e sob distintos títulos, acompanhado
por peregrinações a santuários, muitas vezes em cumprimento de votos e
promessas. Igualmente percebe-se sempre viva a devoção à Virgem Santíssima, Estrela
da Evangelização da América, como chamou-a João Paulo II, sobretudo na sua
invocação de Guadalupe, mas também com tantos outros títulos com os quais é
venerada em cada país e quase em cada região. Não menos importante é também a
devoção aos santos da América e da Igreja universal. O afeto e adesão ao
Vigário de Cristo, o Papa, a obediência e respeito aos pastores e sacerdotes;
as inúmeras tradições e gestos com os quais o povo marca e manifesta a sua fé,
são outros tantos sinais através dos quais faz-se evidente o despertar
religioso.
O empenho em prol da paz e da vida, a solidariedade
para com os marginalizados da sociedade e para com os que sofrem todo tipo de
doença (particularmente os doentes de AIDS e os toxicômanos, em número sempre
crescente nestes últimos tempos), a preocupação por toda a criação que se
manifesta em uma especial atenção aos problemas ecológicos, são outros tantos
sinais que preparam o caminho para o encontro com Deus e com os irmãos.
18. É verdade, no entanto, que existem também aspectos
de sombra que exigem conversão à f(16). Com efeito, na religiosidade dos povos
da América não faltam, às vezes, elementos alheios ao cristianismo que, em
algumas ocasiões, chegam a formar uma espécie de sincretismo construído sobre a
base de crenças populares, ou que, em outros casos, desorientam os crentes
desviando-os para seitas ou movimentos para-religiosos.
Percebe-se nas sociedades, tanto do Norte como do
Centro e do Sul, um estilo de vida materialista e consumista. O materialismo,
no entanto, longe de proporcionar a felicidade, produz uma grande insatisfação.
Muitos homens e mulheres da nossa época, movidos pelo mero desejo de posse e
desfrute dos bens materiais, experimentam um vazio interior que confirma
aquelas palavras de Santo Agostinho: "Tu nos fizeste para Ti, Senhor, e o
nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti(17). Esta inquietude,
presente em todo homem, revela a universalidade na busca do sentido para a
existência humana que encontra a sua razão de ser somente em Jesus Cristo,
revelação do Pai no Espírito. Além disso, é preciso não esquecer que, junto com
o materialismo, se difunde cada vez mais uma mentalidade de recusa da vida,
antes do nascer ou em sua etapa final e um crescente recurso à violência e à
morte.
Por outro lado, constata-se no aspecto religioso uma
mentalidade secularizada que vai levando as pessoas, pouco a pouco, ao
relativismo moral e ao indiferentismo religioso. O Papa João Paulo II, na carta
apostólica Tertio Millennio adveniente, indica este aspecto como um dos
pontos que devem integrar o exame de consciência em preparação ao Jubileu do
ano 2000: "Como calar, por exemplo, a indiferença religiosa, que leva
tantos homens de hoje a viverem como se Deus não existisse ou a contentarem-se
com uma religiosidade vaga, incapaz de se confrontar com o problema da verdade
e com o dever da coerência?(18).
Não menos importante é a influência dos fatores
anteriormente mencionados sobre as vocações sacerdotais e sobre a vida e
ministério dos presbíteros(19). O resultado é a ausência de vocações e as
deserções sacerdotais. Assim, muitas comunidades se vêem privadas da celebração
da Santa Missa, a qual é substituída, às vezes, por celebrações da Palavra com
distribuição da Eucaristia, a cargo de ministros extraordinários ou de diáconos
permanentes.
19. O indiferentismo religioso sempre crescente leva à
perda do sentido de Deus e de sua santidade, o qual se traduz, às vezes,
em uma perda do sentido do sagrado, do mistério e da capacidade de admirar-se,
como disposições humanas que predispõem ao diálogo e ao encontro com Deus. Tal
indiferentismo leva quase inevitavelmente a uma falsa autonomia moral e a um
estilo de vida secularizada que exclui Deus. Da perda do sentido de Deus
segue-se a perda do sentido do pecado, que tem sua raiz na consciência
moral do homem. Este é outro grande obstáculo para a conversão.
O pecado, como revelam as fontes bíblicas, é antes de
tudo ruptura com Deus, desobediência à sua santa Lei (cf. Gn 3,1ss; Rm
7,7-25); mas é também ruptura e divisão entre os irmãos (Gn 4,1-16).
Para que possa ter lugar a transformação do coração, é preciso existir uma
sensibilidade pelo pecado. "Reconhecer o próprio pecado... é reconhecer-se
pecador, capaz de pecar, é o princípio indispensável para se tornar a Deus (Sal
51(50),53; Lc 15,18.21)... Em realidade, reconciliar-se com Deus pressupõe e
inclui, por conseguinte, fazer penitência no sentido mais completo do termo:
arrepender-se, mostrar arrependimento..." (20).
Pio XII, em uma carta dirigida ao episcopado dos
Estados Unidos, alertava os pastores da Igreja com aquelas proféticas palavras:
"O maior pecado do século é a perda do sentido do pecado(21). Na mesma
linha, o Papa João Paulo II, no Angelus de 14 de março de 1982, dizia:
"Temos nós uma idéia justa da consciência? ... O homem contemporâneo não
vive sob a ameaça de um eclipse da consciência? ... De um entorpecimento da
consciência, ou de uma ?anestesia' da consciência'?(22).
Em algumas partes um certo abandono da prática
freqüente do sacramento da penitência não é senão a conseqüência lógica
desta dupla perda, do sentido de Deus e do sentido do pecado.
III
AGENTES
DE CONVERSÃO
20. A conversão é um dom que vem de Deus, "rico
em misericórdia" (cf. Ef 2,4) e que se oferece aos homens, como
iniciativa do seu amor, em Jesus Cristo, mediador do perdão e da graça.
"Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que
todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16).
É Jesus Cristo, o Bom Pastor, que busca a ovelha perdida e que dá sua
vida pelo rebanho; é ele mesmo quem oferece ao homem os múltiplos caminhos de
conversão e de reconciliação. Ele é a nossa reconciliação, por isso exclama São
Paulo: "...Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e
nos confiou o ministério da reconciliação. Pois era Deus que em Cristo
reconciliava o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e
colocando em nós a palavra da reconciliação" (cf. 2Cor 5,18-19).
21. A Igreja, continuadora da obra salvífica de
Cristo, oferece o perdão e a reconciliação. "Tudo o que o Filho de Deus
fez e ensinou para a reconciliação do mundo, não conhecemos somente pela
história das suas ações passadas, mas também sentimos na eficácia daquilo que
ele realiza no presente(23). Celebrando suas ações litúrgicas (sobretudo
administrando o sacramento da reconciliação), anunciando a Palavra de Deus, orando,
promovendo a união de corações, fomentando a solidariedade e testemunhando o
amor de Deus, a Igreja convida todos os homens e mulheres da América à
conversão.
Os bispos, sucessores dos apóstolos e,
portanto, continuadores por antonomásia da missão do Bom Pastor, anunciam a
todos os homens e mulheres a bondade e o perdão de Deus e promovem a
reconciliação fraterna entre os membros da igreja particular, entre os irmãos
de outras confissões e entre todos os homens de boa vontade. Todos os demais
membros do Povo de Deus, presbíteros, religiosos, religiosas e leigos,
cada um segundo seu ministério e carisma, com sua oração, com sua palavra, com
sua ação e seu testemunho, são chamados a cooperar com esta missão pastoral,
promovendo sempre a renovação interior e a reconciliação entre os homens.
IV
CAMPOS
PARA A CONVERSÃO
22. Assim como não é possível desconhecer as
conseqüências sociais em todo pecado pessoal, assim também não se pode esquecer
que a conversão pessoal tem seus próprios efeitos na sociedade. Neste sentido,
devem ser atentamente considerados os espaços de reconciliação e de conversão
no contexto da vida social.
Um campo elementar de reconciliação e de conversão é
aquele que, com expressão a um tempo simples e densa, se chama "a vida
cristã", isto é, a vida de oração, a vida da graça, a participação
litúrgica e sacramental (sobretudo nos sacramentos da Eucaristia e da
Penitência), o testemunho e a realização do compromisso apostólico. Para isso,
meio privilegiado tem sido sempre - e o é ainda hoje - a catequese integralmente
considerada, que compreende, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica,
a profissão de fé, os sacramentos da fé, a vida de fé (os Mandamentos) e a
oração do crente(24). Os espaços da vida social, nos quais certamente realizam-se
a reconciliação e a união de coração, são: a família, a paróquia, as
comunidades religiosas e os movimentos leigos, a igreja particular em si mesma
e em suas relações com as demais igrejas particulares, o âmbito do próprio país
e suas relações com outros países.
23. A conversão com relação ao tema do respeito pela
vida humana é outro dos aspectos sobre os quais pode-se e deve-se trabalhar
incansavelmente. O fomento de uma mentalidade favorável à vida humana, que a
respeite, a estime e a acolha em todas as suas fases, é uma exigência diante da
"cultura de morte" que, sob distintas formas, apresenta-se na
sociedade. A formação de atitudes positivas em favor da vida começa no lar, mas
deve prosseguir na paróquia, na escola, na universidade e nos diversos âmbitos
da sociedade.
Como recorda João Paulo II na carta encíclica Evangelium
Vitae, a promoção da vida humana, desde o ponto de vista da fé, assume uma
dupla dimensão, de respeito ao próximo e de reconhecimento a Deus: "O
mandamento" não matarás' estabelece, pois, o ponto de partida de um
caminho de verdadeira liberdade, que nos leva a promover ativamente a vida e a
desenvolver determinadas atitudes e comportamentos ao seu serviço: procedendo
assim, exercemos a nossa responsabilidade para com as pessoas que nos estão
confiadas, e manifestamos, em obras e verdade, o nosso reconhecimento a Deus
pelo grande dom da vida(25).
24. Outro campo de conversão é o dos meios de
comunicação social e o dos espetáculos. Este é um dos desafios mais
urgentes, que exige por parte da Igreja uma resposta pastoral adequada. Urge
educar as pessoas não somente para que use com responsabilidade cristã estes
meios admiráveis e, ao mesmo tempo, ambíguos, mas também para que saiba
empregá-los como instrumentos valiosos para conhecer e anunciar a Palavra de
Deus. Aqui também se faz presente o convite de Cristo a uma mudança interior de
coração e de atitudes. Mesmo sendo meios maravilhosos de formação e de
informação, freqüentemente são manipulados para "desinformar" e "deformar",
propagando uma mentalidade materialista e hedonista, na qual se realça a
riqueza, o poder, o egoísmo, a violência e a sensualidade. Além disso, a
difusão através dos meios maciços de comunicação social de certos modelos de
vida que exaltam o individualismo e atentam contra os valores da família e da
fé, leva freqüentemente a uma aceitação indiscriminada e inconsciente de tais
modelos, dando lugar, deste modo, a uma verdadeira infiltração cultural. Por
outra parte, com a telemática, da qual é exemplo eloqüente a Internet ou
"caminho de informação", abrem-se à família humana e, por isso mesmo,
ao Evangelho, novos campos e horizontes de presença, de comunicação e de
testemunho.
25. Também o campo das estruturas sociais é um
terreno de conversão. Existem sistemas econômicos organizados de acordo
com mecanismos de intercâmbios comerciais em base a empréstimos e juros que
geram dívidas enormes e impedem o desenvolvimento dos povos. Existem ajudas
condicionadas a ideologias de pequenos grupos, lideranças e hegemonias políticas,
que nem sempre se regem por critérios de equidade e de solidariedade, mas por
interesses egoístas. Neste sentido, um aspecto que reclama conversão é
constituído pela já mencionada desigualdade de nível econômico entre o Norte e
o Sul do continente, a qual interpela a fé e a consciência humana e cristã.
Com relação a este aspecto, pode-se perguntar se
existe uma adequada difusão da Doutrina Social da Igreja entre os
cristãos; e, sobretudo, se há um esforço em prol de uma aplicação da mesma,
diante dos numerosos problemas sociais do Continente americano, tanto no Norte
como no Centro e no Sul. Este é um grande desafio para a Igreja que está na
América. Ela é chamada a traduzir em obras e em iniciativas concretas o
mandamento do amor fraterno e o testemunho diáfano de Cristo que se identifica
com os famintos, os enfermos, os nus, os forasteiros, os prisioneiros, em uma
palavra, com "seus irmãos mais pequeninos" (cf. Mt 25,31ss).
26. Também o ecumenismo é outro campo fértil
para a reconciliação. Com efeito, como recorda o Concílio Vaticano II no
decreto Unitatis redintegratio, "não há verdadeiro ecumenismo sem
conversão interior(26). A prática do ecumenismo começa, como recorda o citado
decreto conciliar, por uma renovação de toda a Igreja. Esta "perene reforma,
(a Igreja) dela necessita perpetuamente como instituição humana e divina...Esta
renovação tem, por isso, uma grande importância ecumênica(27). A tal respeito,
são muito positivas as experiências que, acolhendo o convite do Concílio
Vaticano II, promovem: a oração em comum com os irmãos de outras confissões
cristãs, especialmente na celebração das chamadas semanas de oração pela
unidade dos cristãos; o diálogo respeitoso em busca de um melhor conhecimento
mútuo entre os irmãos separados e os membros da Igreja Católica; a formação
ecumênica dos Pastores para que, no mencionado diálogo ecumênico, a doutrina da
fé seja exposta com clareza e com firmeza, e, ao mesmo tempo, com caridade e
humildade(28). Estas e outras iniciativas contribuem em grande medida para a
construção da unidade que Cristo suplicou ao Pai como um dom: "que todos
sejam um... para que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21).
V
PARTICULARES
APELOS DE CONVERSÃO NA AMÉRICA
27. Na exortação pós-sinodal Reconciliatio et
Paenitentia, o Papa João Paulo II descobria, em 1984, a existência de
numerosas divisões existentes entre os homens e mulheres do nosso tempo. Falava
de um mundo em pedaços pelas crescentes desigualdades entre grupos, classes
sociais e países; pelos antagonismos ideológicos, pela contraposição de
interesses econômicos e polarizações políticas, pelas várias formas de
discriminação racial, cultural ou religiosa, pela violência e pelo terrorismo,
pela distribuição não eqüitativa das riquezas do mundo e dos bens da civilização,
de acordo com uma organização social na qual aumenta cada vez mais a distância
nas condições humanas entre ricos e pobres. Neste contexto, o Santo Padre
advertia que tal situação, de alguma maneira, repercutia na Igreja: "Para
além das cisões entre as Comunidades cristãs, a Igreja experimenta hoje no seu
seio, aqui e além, divisões entre as suas próprias componentes, causadas pela
diversidade de pontos de vista e de escolhas, no campo doutrinal e
pastoral(29).
28. Com preocupação constatam-se no Continente
Americano alguns elementos de divisão que constituem outros tantos
apelos à conversão e à reconciliação, tanto em nível individual como social:
Estes e outros aspectos foram especialmente tratados
em uma reunião convocada pela Congregação para a Doutrina da Fé e que foi
celebrada em Guadalajara (México), de 6 a 10 de maio de 1996. Neste encontro
das Comissões doutrinais das Conferências episcopais da América Latina
refletiu-se sobre alguns temas teológicos que emergem da realidade pastoral dos
países representados, buscando-se sempre critérios iluminantes, orientados a
construir a unidade sobre a verdade da revelação e do dogma(30).
TERCEIRA PARTE
JESUS CRISTO, CAMINHO PARA A COMUNHÃO
I
A
COMUNHÃO COM JESUS CRISTO VIVO NA IGREJA
29. O encontro com Cristo vivo conduz sempre à
conversão e à reconciliação com Deus e com o próximo, culmina na comunhão de
vida com Ele e frutifica na solidariedade com os mais necessitados. No momento
em que o Povo de Deus que peregrina na América, enfrentando a tarefa da nova
evangelização, dispõe-se a celebrar o Jubileu do ano 2000, será necessário
perguntar-se em que medida os cristãos vivem a comunhão querida por Cristo,
quais são os obstáculos, as exigências e os desafios apresentados à comunhão na
caridade, a partir do chamado de Cristo.
A comunhão dos discípulos com Cristo foi um dos
pedidos que o Senhor dirigiu com insistência ao Pai, após instituir a
eucaristia e o sacerdócio, pouco antes da sua paixão e morte: "...Como tu,
Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia
que tu me enviaste" (Jo 17, 21-26). Ele mesmo expressou esta
realidade, de uma maneira muito bela, na parábola da videira e dos ramos,
indicando a dimensão trinitária da comunhão: o Pai, como vinicultor, planta e
cultiva a videira, que é Cristo, cujos ramos são os membros da Igreja. Como os
ramos devem permanecer unidos à videira para darem fruto abundante, assim os
cristãos devem permanecer em Cristo, guardando a sua Palavra e observando os
seus mandamentos, sobretudo o amor fraterno. A videira, que é imagem da Igreja,
produz seus frutos de caridade pela ação do Espírito Santo que nela age (cf. Jo
15,1-17)(31).
Outra imagem que emprega a Sagrada Escritura para
exprimir a comunhão de vida com Cristo em sua Igreja é a do corpo. Cristo
Ressuscitado, cabeça da Igreja que é o seu Corpo, identifica-se misticamente
com seus membros (cf. 1Cor 12,12-29)(32). Pela ação do Espírito Santo, o
mistério da sua morte e da sua ressurreição faz-se presente na
vida atual da Igreja, não somente em seu conjunto mas também em cada um dos
seus membros, pois aquilo que se faz aos mais pequeninos dos seus irmãos -
famintos, nus, enfermos, sem casa, forasteiros, prisioneiros - é a Ele que se
faz (cf. Mt 25,34-46).
30. Hoje, o rosto de Cristo sofredor e crucificado
tem, na América, a fisionomia dos pobres das grandes cidades, dos
desempregados, dos migrantes, dos marginalizados por diversas razões, das
crianças não nascidas, dos meninos de rua e daqueles que ficam sem escola, dos
jovens sem trabalho e sem guia, das mulheres desprezadas e exploradas, dos
anciãos abandonados, dos doentes, especialmente dos enfermos de AIDS, dos
prisioneiros. É também o rosto das minorias étnicas marginalizadas, dos índios
e dos afro-americanos, dos camponeses e dos habitantes dos bairros de periferia
das grandes cidades, no Norte, no Centro e no Sul do continente.
31. No entanto, pode-se dizer também que nas
comunidades cristãs da América transparece irradiante o rosto de Cristo
ressuscitado, cujo Espírito produz inúmeros sinais de vida nova, vencedora
do pecado, da morte e das forças do mal. Testemunho desta realidade é a
santidade de tantos membros da Igreja, freqüentemente anônimos: pastores fiéis
à sua missão; religiosos e religiosas que oferecem o holocausto de suas vidas
consagradas a Deus e ao serviço de seus irmãos, sobretudo dos mais abandonados;
os mártires e testemunhas da fé; os inúmeros missionários que, do Norte, vão
anunciar o Evangelho entre seus irmãos do Centro e do Sul, assim como os
sacerdotes, religiosos e religiosas do Centro e do Sul que trabalham entre seus
irmãos do Norte; os esposos fiéis à aliança matrimonial e generosos na educação
de seus filhos; os jovens que participam do compromisso apostólico e do serviço
de voluntariado, como se vê na resposta alegre e generosa aos freqüentes apelos
do Santo Padre; os leigos que trabalham como voluntários e voluntárias nas
organizações de serviço aos necessitados, etc.
A comunhão é, pois, obra da Trindade, querida pelo
Pai, realizada por Cristo no Espírito Santo e continuada na Igreja, como
realidade mistérica e como tarefa a ser realizada na história. A Igreja vai
tecendo a comunhão guiada pelo Espírito nos diversos campos da vida do Povo de
Deus e na vida da sociedade civil(33).
II
LUZES E
SOMBRAS
32. A comunhão, tal como vivida atualmente nas
comunidades cristãs da América, oferece luzes e sombras. Entre as primeiras, é
oportuno realçar o papel das famílias cristãs como verdadeiras escolas de
comunhão. No núcleo familiar, as novas gerações recebem as primeiras
experiências de fé e de amor a Deus, como também os primeiros exemplos de
caridade para com o próximo. Muitas famílias cristãs na América são células
vivas de comunhão, que testemunham a fidelidade a Cristo, o amor à sua Palavra,
a observância da sua vontade. Elas representam uma das grandes esperanças da
Igreja para a nova evangelização.
A vida consagrada no continente americano, embora não
careça de dificuldades, é também um testemunho de comunhão, que se manifesta na
vida em comum, mas também em uma atitude comunitária para com os membros da
Igreja particular e universal. Os religiosos e religiosas, como ainda os
membros de Sociedades de vida apostólica e de Institutos seculares, apresentando
a singularidade e diversidade do próprio carisma a serviço do único Corpo que é
a Igreja, fortalecem os vínculos de comunhão eclesial(34). Como recorda o Papa
João Paulo II na exortação pós-sinodal Vita consacrata, os consagrados
têm uma importante missão na Igreja: "Em cada lugar e situação, as pessoas
consagradas sejam ardorosos anunciadores do Senhor Jesus, prontas a responder
com a sabedoria evangélica às interpelações feitas hoje pela inquietude do
coração humano e pelas suas urgentes necessidades(35).
Outro aspecto luminoso é a vida de tantos sacerdotes,
que "existem e agem... em nome e na pessoa de Cristo Cabeça e Pastor(36) e
assim edificam, com seu abnegado trabalho quotidiano, a comunhão nas igrejas
particulares, trazendo cada um seu próprio dom e ministério, no anúncio da
Palavra, na administração dos sacramentos e na condução pastoral da comunidade
paroquial.
São também construtores de comunhão os leigos que, em
virtude da sua unção batismal, assumem seu compromisso apostólico na Igreja e
na sociedade civil. Com efeito, todos aqueles que, com responsabilidade cristã,
cumprem seus deveres na família, no trabalho, na defesa das causas do homem,
nos campos dos meios de comunicação social, do pensamento, da política, da
economia e do trabalho em geral, santificam o mundo e constroem a comunhão. Por
isso diz a Carta a Diogneto: "os cristãos são, no mundo, aquilo que a alma
é no corpo(37). Todos os homens de boa vontade que trabalham pelo bem comum,
pelo progresso dos povos, pela cultura, pela justiça e pela paz, também
contribuem para construir a comunhão querida por Deus entre todos os membros da
família humana.
Sinais desta comunhão viva entre os membros da Igreja
e da sociedade são ainda: uma sensibilidade cada vez mais aguda perante os problemas
de injustiça social, no campo econômico, político e cultural; o anelo por uma
legítima libertação e promoção de toda a pessoa e de todas as pessoas e grupos
humanos; o estudo e a aplicação sempre mais amplos e esclarecedores da Doutrina
Social da Igreja, como também o exercício da solidariedade não somente em
âmbito regional e nacional, mas também internacional.
33. Não faltam as dificuldades e obstáculos para a
vivência prática da comunhão nas realidades eclesiais da América. Por exemplo,
nem sempre há ocasião nem espaço para o diálogo entre os diversos membros da
Igreja. Igualmente, muitas vezes não se concretiza uma colaboração pastoral
através de organismos eficazes. No Povo de Deus não faltam tensões e atritos.
Dentro da mesma Igreja, não favorece a comunhão a crise de obediência ao
Magistério da Igreja, que se manifesta de tantas maneiras: algumas posições
teológico-pastorais sobre certos problemas, as dissensões de alguns teólogos,
as atitudes de grupos ou pessoas que, apesar de se auto- proclamarem
"católicos", encontram-se em aberta contradição com o ensinamento da
Igreja, seja em matéria moral como em certos aspectos do dogma.
Alguns membros do Povo de Deus, não estão firmemente
radicados na fé, e por esse motivo, as seitas, com seu proselitismo enganador,
desorientam-nos e afastam-nos da verdadeira comunhão em Cristo. Além disto, o
multiplicar-se de supostas "aparições" ou "visões" semeia
confusão entre os membros da Igreja e denuncia carências de bases sólidas de fé
e de vida cristã. Estes aspectos negativos, por outro lado, revelam uma certa
sede do espiritual que, adequadamente orientada, pode ser o ponto de partida
para uma conversão à fé em Cristo.
34. Na sociedade contemporânea não faltam agentes de
erosão da comunhão, que se manifestam especialmente no predomínio de
contravalores, como o materialismo, o egoísmo e o hedonismo. Cresce, além
disso, o subjetivismo, que freqüentemente se exprime em uma atitude
contestatária diante da autoridade, seja a da Igreja como a de qualquer outro
tipo de instituição: familiar, escolar ou civil. Entre as famílias, mesmo entre
as cristãs, verifica-se um enfraquecimento dos valores religiosos; um relativo
aumento das separações, inclusive dos divórcios; como se constata também o
fenômeno do crescente número de filhos nascido fora do matrimônio. Por último,
não se pode deixar de aludir a uma certa "cultura de morte", que se
estende com a prática sempre mais freqüente do aborto e a tendência potencial
para a eutanásia. A falta de uma atitude positiva com relação à vida exprime-se
tanto na redução do número dos nascimentos como em uma segregação dos anciãos
do núcleo familiar e da sociedade.
III
AGENTES
DE COMUNHÃO
35. O Espírito Santo, princípio de comunhão na Igreja,
"foi enviado no dia de Pentecostes a fim de santificar perenemente a
Igreja para que assim os crentes pudessem aproximar-se do Pai por Cristo num
mesmo Espírito(38). É Ele quem guia a Igreja "para a verdade
completa" (Jo 16,13) e a unifica em comunhão e ministério. Ele a
provê com diversos dons hierárquicos e carismáticos e a embelece com os seus
frutos (cf. Ef 4,11-12; 1Cor 12,4). A comunhão dos fiéis com o
Espírito Santo e entre eles mesmos foi uma das súplicas mais insistentes que
Cristo dirigiu ao Pai após instituir a Eucaristia e antes de iniciar a sua
paixão (cf. Jo 17,21-26). Os homens e mulheres da América, na medida em
que crêem em Cristo, esforçam-se por ser agentes de comunhão, permanecendo em
seu amor e observando a sua Palavra, sobretudo na prática da caridade fraterna.
Os membros do Povo de Deus na América, cada um em sua própria vocação, são
chamados a construir a comunhão praticando a bem-aventurança de Cristo:
"Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de
Deus" (Mt 5,9).
36. Os Bispos, como sucessores dos Apóstolos,
"individualmente são o visível princípio e fundamento da unidade em suas
igrejas particulares, formadas à imagem da Igreja universal(39). Portanto, eles
devem ser os primeiros artífices de comunhão, vivendo a unidade com o Pontífice
Romano, sucessor de São Pedro, e com os demais membros do Colégio Episcopal.
Assim, promovendo e defendendo a unidade da fé e a disciplina comum de toda a
Igreja e fomentando entre os fiéis o amor a todo o Corpo místico de Cristo -
especialmente aos pobres, aos que sofrem, aos que são perseguidos por causa da
justiça e a todos aqueles que o Senhor chamou "bem-aventurados" (cf. Mt
5,1-12)(40) - os Bispos são agentes de comunhão em suas respectivas Igrejas
particulares. Eles são também agentes de comunhão em nível da Igreja universal.
37. A realidade mostra que é múltipla e muito fecunda
a irradiação da comunhão dentro das igrejas particulares: o bispo com
seu presbitério, os sacerdotes entre si e com os leigos. Os religiosos
e religiosas, inserindo harmoniosamente o próprio carisma na vida e na
pastoral da diocese, em diálogo com os membros da Igreja local e em obediência
ao Bispo diocesano, também se integram nesta fecunda estrutura de comunhão
eclesial.
A Igreja que se encontra na América está vivendo um
momento histórico importante, ao celebrar pela primeira vez a Assembléia
Especial do Sínodo dos Bispos que congrega Pastores das Igrejas particulares do
Continente. O povo de Deus na América e toda a Igreja universal vêem com
esperança esta assembléia, em vistas de tornar efetiva a comunhão nos diversos
âmbitos da vida eclesial e social.
38. Os leigos têm, por sua vez, a missão de
construir a comunhão no amplo horizonte das suas atividades no mundo. Em
virtude da sua consagração batismal e da missão de dar testemunho do Evangelho,
reforçada em modo especial com o sacramento da confirmação, os leigos
contribuem com seu próprio carisma para o crescimento de todo o Corpo místico
que é a Igreja. Eles levam o fermento novo do Evangelho em meio às atividades
temporais, seja com seu testemunho de vida cristã e de caridade na família,
seja promovendo o respeito e a convivência na sociedade civil. Acolhida de
migrantes e estrangeiros, ajuda a grupos minoritários marginalizados,
compromisso com as causas da paz, da vida, da defesa dos direitos humanos, do
respeito para com a criação, são algumas das tantas expressões concretas
através das quais os leigos tornam visível e efetiva a comunhão na Igreja e na
sociedade.
A família, "igreja doméstica" e
imagem da Trindade, é agente de comunhão, porque nela se aprende a amar a Deus
e ao próximo. "Todos os membros da família, cada um segundo o dom que lhe
é peculiar, possuem a graça e a responsabilidade de construir, dia após dia, a
comunhão de pessoas, fazendo da família uma escola de humanismo mais completo e
mais rico(41).
Também os jovens na América deram e continuam a
dar provas de vitalidade renovadora, assumindo um espaço no tecido deste grande
tapete de comunhão entre os homens. Com seu entusiasmo e sinceridade, com sua
capacidade de amizade e de serviço às grandes causas, eles constroem a
comunhão, inserindo-se através das novas gerações na vida da sociedade.
39. A mulher está especial dotada por seu gênio
feminino para ser construtora de comunhão: na família como espaço de amor, de
encontro e de reconciliação, na sociedade como promotora de ajuda e de serviço
a quem tem necessidade, na vida consagrada como testemunho de amor a Deus e de
disponibilidade ao serviço dos demais, na vida cultural, profissional e
política como portadora de humanidade e de sensibilidade, de paciência e de
serenidade. Com muita razão o Papa João Paulo, na sua Carta às Mulheres,
de 29 de junho de 1995, escrevia uma bela ação de graças a todas as mulheres do
mundo, que, de modo particular, as mulheres da América têm demonstrado merecer,
com o testemunho da própria vida: "Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes
ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que
te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos
seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo
o caminho da vida. Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o
teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da
comunhão e da vida. Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao
núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da tua
sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância.
Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida
social econômica, cultural, artística, política, pela contribuição
indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e
sentimento, a uma concepção de vida sempre aberta ao sentido do ?mistério', à
edificação de estruturas econômicas e políticas mais ricas de humanidade.
Obrigada a ti, mulher-consagrada, que, a exemplo da maior de todas as mulheres,
a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abres com docilidade e fidelidade ao amor
de Deus, ajudando a Igreja e a humanidade inteira a viver para com Deus uma
resposta ?esponsal', que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer
estabelecer com a sua criatura. Obrigado a ti, mulher, pelo simples fato de
seres mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a
compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações
humanas" (42).
A mulher ocupa na vida da Igreja um papel
insubstituível que, lamentavelmente, nem sempre é compreendido em toda sua
verdadeira dimensão. Provavelmente por este motivo, surgiram certos movimentos,
sobretudo entre alguns fiéis das igrejas particulares da América do Norte, que
pedem a aceitação por parte da Igreja Católica da ordem sagrada para a mulher.
O Magistério da Igreja exprimiu-se reiteradas vezes com relação a este tema, procurando
fazer compreender, não somente a impossibilidade de mudar a precisa vontade de
Jesus Cristo sobre este aspecto, mas também a riqueza e as inúmeras
possibilidades da participação da mulher na vida e na missão da Igreja(43).
IV
CAMPOS E
CAMINHOS PARA A COMUNHÃO
40. A Igreja, continuadora da obra de Cristo, é
também, ela mesma, mistério de comunhão e de unidade. Ela é a grei de Cristo,
lavoura de Deus, videira mística plantada por Deus, edifício de Deus, família e
povo de Deus e, sobretudo, Corpo místico de Cristo, imagens todas que o
Concílio Vaticano II recordou(44). Ela tem a missão de continuar e realizar a
obra de comunhão iniciada por Cristo, de viver e de construir a comunhão entre
os discípulos de Cristo e entre todos os homens, pois "a Igreja é em
Cristo como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus
e da unidade de todo o gênero humano(45).
Os caminhos para estender esta comunhão, sob a
direção do Espírito, são, antes de tudo, os sacramentos, que significam
e produzem a graça e a união vital com Cristo. Por esta razão, tem uma
importância primordial, na nova evangelização na América, a vida litúrgica
das comunidades cristãs. Com efeito, a Eucaristia é o cume e a fonte de toda a
vida da Igreja(46): "Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um
só corpo, visto que todos participamos desse único pão" (1Cor
10,17). É um sinal muito positivo que em muitas comunidades se fomenta a
participação litúrgica dos fiéis, consciente e ativa, e busca-se recuperar o
sentido religioso do Dia do Senhor, para orar ao Pai no Espírito, como nos
ensinou Jesus, para prestar ao Deus uno e trino o culto devido como Criador,
Redentor e Santificador. Deste modo, o domingo continua sendo não somente dia
festivo e de repouso, mas também, e sobretudo, um dia de culto, de oração e de
adoração. Da celebração da Eucaristia dominical os fiéis saem fortalecidos e
estimulados para dar testemunho de Cristo diante do mundo e para realizar obras
de caridade e de solidariedade.
41. O vínculo principal com que se manifesta a
comunhão no povo do Deus é o da fé: "Um só Senhor, uma só fé, um só
batismo" (Ef 4,5). A fé do Povo de Deus está sendo enfraquecida
hoje por múltiplos fatores: a mentalidade secularizada, o materialismo, o
relativismo, a agressividade e o proselitismo das seitas, a falta de formação
religiosa de alguns fiéis. Daí que a educação da fé do Povo de Deus deve
ser uma das prioridades urgentes da Igreja na América. Por isso promova-se o anúncio
da Palavra em todos os seus níveis: catequese infantil, juvenil, de
adultos, ensino religioso nas escolas primárias, médias e superiores, cursos
sobre temas religiosos para leigos em universidades e centros de cultura
superior(47).
Neste empenho pela catequese devidamente adaptada
ocupam um lugar especial entre os destinatários aquelas categorias de pessoas
que mais influenciam na sociedade: políticos, economistas, empresários,
intelectuais, operadores do espetáculo e dos meios de comunicação social. O
exemplo de Cristo, que dirige a sua Palavra a todos os homens e mulheres,
pobres e ricos, letrados e ignorantes, crianças e adultos, indica ao
evangelizador o seu caminho.
A educação na fé está intrinsecamente unida à educação
na caridade. Por isso, outro campo no qual se cultiva a comunhão é a prática
do amor fraterno, que inclui entre tantos outros aspectos: o serviço da
caridade, a promoção social dos mais necessitados, o diálogo em todos os
níveis, com os membros da comunidade eclesial, mas também com todos os homens
de boa vontade. Um lugar importante na prática do amor entre irmãos ocupa a
cooperação inter-eclesial como expressão da caridade entre as igrejas
particulares: cooperação em recursos humanos e materiais, comunicação de
valores culturais, cooperação através de iniciativas pastorais comuns, solidariedade
entre as diversas igrejas locais de um mesmo País e também para além das
fronteiras nacionais.
42. O ecumenismo é também um campo privilegiado
para o exercício da comunhão. Esta dimensão da pastoral, mais ou menos
desenvolvida por iniciativa de diversas Igrejas particulares no Continente, é
uma resposta ao desejo e à súplica de Cristo ao Pai: "que todos sejam um,
como tu, Pai, em mim e eu em ti" (Jo 17,21). Pela oração, pelo
diálogo respeitoso e sincero que privilegia sempre a lealdade e a verdade, pela
cooperação em campo social, ecológico e caritativo, e através de iniciativas de
paz, vai-se construindo a unidade do Povo de Deus.
A Igreja Católica na América, confiando no Espírito
Santo, fonte de unidade e de verdade, não deixa de fazer-se promotora de
iniciativas orientadas a fomentar o diálogo ecumênico. Embora a exigência de
comunhão é a mesma para toda a Igreja, o mencionado diálogo ecumênico é
realizado tendo-se presente as diversas situações. Em países nos quais
tradicionalmente a imensa maioria do povo é católico (como os países latino-
americanos), as iniciativas ecumênicas são concretizadas com muita prudência,
evitando que comprometam a clara adesão dos fiéis à doutrina da Igreja, à
freqüência da vida litúrgica e sacramental, como também à participação em
tradições e atos que exprimem a própria religiosidade. Em países onde
tradicionalmente os católicos conviveram com outras confissões (como são os do
Norte e alguns das Antilhas), as iniciativas e a cooperação com membros de
outras confissões realizam-se com mais facilidade e evidência. Um exemplo desta
maior intercomunicabilidade com outras confissões é constituído pela iniciativa
de Bispos do Caribe, que contribuíram para a fundação do único organismo
ecumênico existente nesta região.
V
METAS E
DESAFIOS
43. Para poder realizar a missão de construir a
unidade e a comunhão, a Igreja que está na América propõe-se várias metas, que
são outros tantos desafios para a sua fé, a sua esperança e a sua caridade,
para a sua coragem e operosidade. Entre estas metas está a promoção da
santidade de seus membros, o impulso à missão, o trabalho pela aculturação e a
contribuição à realização da unidade e da paz.
A Igreja, indefectivelmente santa porque o
Filho de Deus a amou como a sua Esposa, entregando-se por ela para santificá-la
(cf. Ef 5,25-26) e enriquecendo-a com o dom do Espírito Santo para
glória de Deus, convida todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, à
plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade(48). Na realidade, é
sobretudo através da santidade que a Igreja realiza a obra da salvação dos
homens. Nos santos e santas, nos mártires e confessores da fé, a Igreja que
está na América vê os frutos mais exímios da obra de Cristo e os melhores
instrumentos da nova evangelização. A Igreja que peregrina na América recorda
com gratidão e veneração seus santos e santas, fiéis testemunhas de Jesus
Cristo Salvador e Evangelizador: os mártires São João de Brebeuf, Isaac Jogues
e seus companheiros, Santa Rosa de Lima, São Turíbio de Mongrovejo, Santa
Francisca Xavier Cabrini, São Martinho de Porres, Santa Isabel Ann Seton, São
João Macías, Santa Rosa Philippine Duchesne, São Ezequiel Moreno, São Pedro
Claver, São Francisco Solano, Santa Teresa dos Andes, Santa Maria Ana de Jesus
Paredes y Flores, os beatos Kateri Tekawitha, Junípero Serra, Catarina Drexel,
João Diego, Miguel Pro e Rafael Guizar y Valencia, e tantos outros santos e
beatos que deram testemunho do Evangelho na América.
44. Da catolicidade e universalidade da Igreja
deduz-se que a missão e o anúncio do Evangelho a todos os povos é uma
das tarefas essenciais. Todos, pastores e fiéis, devem considerar como próprio
o dever da missão, tanto dentro da própria Igreja particular como para além dos
seus confins. Sinal da vitalidade e autenticidade da fé cristã no Continente
são os numerosos missionários e missionárias que, partindo de lugares mais
ricos em vocações, têm trabalhado generosamente e continuam trabalhando ainda
em regiões onde o anúncio do Evangelho não tem sido tão fecundo. A partilha de
dons, começando pelos dons vivos e pessoais que são os sacerdotes e os
religiosos, constitui uma aplicação concreta do princípio de comunhão entre as
Igrejas particulares(49). A sempre crescente consciência na América, tanto no
Norte como no Centro e no Sul, de que a fé se fortalece ao transmitir o anúncio
também para fora da próprias fronteiras, dá nova vida e abre novos caminhos à
pastoral em todo o continente.
45. A cultura adquiriu em nossos dias uma
importância de primeira ordem, pois sendo, simultaneamente, fruto e causa da
formação e elevação do homem, é ao mesmo tempo um campo fecundo para a
evangelização e, portanto, para a comunhão. A cultura compreende não somente
aquelas realidades que desenvolvem no homem as suas inumeráveis qualidades espirituais
e corporais, mas também os distintos estilos de vida e os diversos valores dos
povos que conseguem tornar mais humana a vida social(50). Para que a
evangelização seja realmente eficaz, será necessário que alcance as raízes da
cultura, como sugeria Paulo VI, para transformar com a força do Evangelho
"os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse,
as linhas do pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da
humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o
desígnio da salvação(51).
Na América, formada por inúmeros povos, estão
presentes também diversas culturas. Esta multiplicidade, longe de empobrecê-la,
enriquece-a. Assim como cada pessoa tem a sua própria alma, assim analogamente
cada povo tem a sua própria forma espiritual que se expressa em categorias
culturais. A América enriquece-se com todo o esplêndido manto das diversas
culturas dos seus povos: indígenas, afro-americanos, mestiços, crioulos,
europeus, asiáticos e outras minorias éticas. Neste mosaico, encontram também
seu lugar as assim chamadas "culturas modernas" e
"pós-modernas" do presente, com os seus numerosos valores, como a
liberdade, a democracia, a participação, a igualdade, a solidariedade, o
progresso e o saber científico e técnico.
Uma nova evangelização já começou onde quer que se
procure evangelizar respeitando a cultura para que esta, uma vez evangelizada,
traduza na sua própria linguagem a mensagem do Evangelho. É o chamado processo
de aculturação. Para que tal processo aconteça de maneira adequada, a
evangelização deve seguir os passos do mistério de Cristo: encarnação, páscoa e
pentecostes. Pela encarnação, o Verbo de Deus entra na nossa realidade humana,
assume-a e exprime-se nela; pela páscoa, tudo o que há de caduco e pecaminoso
na existência humana purifica-se e renasce a vida nova; pelo pentecostes a vida
humana e cristã, na multiplicidade e diversidade dos povos, línguas e formas
culturais, transforma-se pelo Espírito em expressão do mistério da unidade da
fé. Com efeito, a Igreja, ao acolher a diversidade de povos e culturas,
purifica-a e a unifica, levando-a à confissão de uma mesma fé e à experiência
de uma mesma vida na caridade.
46. Por outro lado, a Igreja, para poder congregar
efetivamente as diversas culturas na unidade, deve ela mesma trabalhar
incansavelmente para alcançar a unidade entre os seus filhos: pastores
com a sua grei, bispos com o seu presbitério, sacerdotes com seus pastores;
sacerdotes entre si e com os fiéis, sacerdotes com religiosos, os movimentos
leigos entre si e com as estruturas eclesiais da respectiva Igreja particular,
teólogos com pastores, igrejas particulares entre si a nível regional,
nacional, continental. Por isso o Papa João Paulo II diz: "Entre os
pecados que requerem maior empenho de penitência e conversão, devem certamente
ser incluídos os que prejudicaram a unidade querida por Deus para o seu
Povo(52).
Vasto campo de trabalho em favor da comunhão é o que
tem diante de si cada comunidade cristã em sua própria Igreja particular. Neste
sentido, é sumamente precioso o esforço que cada um possa fazer dentro da sua
própria comunidade para suavizar tensões e discrepâncias no campo doutrinal e
pastoral, evitando assim exacerbar diferenças étnicas, culturais ou nacionais.
Das comunidades cristãs da América também deveriam dizer os homens do nosso
tempo o que se dizia das primeiras comunidades cristãs: "vede como eles se
amam", ao ver que, nelas e entre elas, existe uma só alma e um único
coração pela fé em Cristo, pelo amor fraterno e pela solidariedade feita ação.
47. A grande tarefa de construir a paz e de
chegar a fazer da humanidade uma grande família humana é um desafio iniludível
para os homens e mulheres de fé do nosso tempo(53). Para isso, hão-de trabalhar
juntos católicos e membros de outras confissões cristãs, pelo diálogo ecumênico
paciente, sincero, fundado na verdade, na caridade e na oração. Além disso, é
louvável a abertura ao diálogo com os crentes de religiões não cristãs,
sobretudo com os judeus e muçulmanos, como também com membros de outras
religiões que crêem em um Deus único. Enfim, o grande desafio da paz e da
unidade supõe também uma disposição ao diálogo com todos os homens de boa
vontade.
Para alcançar esta meta, que responde ao desígnio de
Deus em Cristo, o caminho é largo e difícil. Trata-se de um trabalho que
implica diversas etapas orientadas à formação de comunidades intermediárias, a
nível regional, nacional e internacional. A tendência histórica a formar
comunidades de povos a nível nacional e comunidades de nações a nível
internacional e continental é sinal desta aspiração da humanidade a se
reconhecer como uma grande e única família.
Por outro lado, é já um fato a unidade que estão
fazendo os meios de comunicação social, que vão conseguindo, aos poucos, fazer
do nosso planeta uma "aldeia global". Basta somente pensar na
"Internet" (como caminho de informação e comunicação internacional) e
na programação de certas atividades em nível internacional, como o turismo, o
esporte, a cultura, a ciência, a técnica, o comércio, a economia, etc. Estes e
outros são sinais de uma marcha lenta mas grandiosa e impossível de se conter,
que contribui para a unidade da família humana. Usando todos os elementos
mencionados que promovem a unidade, a Igreja prepara o encontro com Cristo.
Quando Ele tiver reunido em seu Corpo ressuscitado todos os seus membros, então
entregará o Reino ao Pai e Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,24-28).
Esta é uma grandiosa tarefa e um enorme desafio que a Igreja na América tem
diante de si: trabalhar pela comunhão, enquanto dispõe-se a cruzar o umbral do
terceiro milênio da era cristã.
QUARTA PARTE
JESUS CRISTO CAMINHO PARA A SOLIDARIEDADE
I
A SOLIDARIEDADE NASCE DA COMUNHÃO
48. A comunhão corretamente entendida e vivida é o
preâmbulo natural e como que a raiz da solidariedade. São João, o discípulo
amado, apreendeu muito bem o espírito e o ensinamento do Mestre: "Este é o
seu mandamento: crer no nome do seu Filho Jesus Cristo e amar-nos uns aos
outros como ele nos deu o mandamento. Aquele que guarda os seus mandamentos
permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 3,23-24).
Se a prática deste mandamento do amor fraterno tem
sido, ao longo dos dois mil anos passados, o princípio de transformação das
sociedades, hoje, no limiar do terceiro milênio, continua tendo igual validade
e força para renovar a sociedade na América. Com efeito, grande parte dos
problemas que hoje afligem diversos povos no Continente tem sua origem em
causas econômicas e sociais conjunturais, que podem ser superadas se cada um, pessoas
ou grupos humanos e inclusive Estados, aplicarem o princípio da solidariedade.
O que, em outros tempos, fazia-se com pessoas individuais, hoje deve ser
realizado com povos e mesmo com nações inteiras, dada a atual interdependência
econômica, cultural e política.
49. A Doutrina Social da Igreja, este corpo de
princípios deduzido pelo Magistério dos ensinamentos da Palavra de Deus (com
especial referência à virtude da justiça e à da caridade fraterna), assim como
também das exigências do direito natural e na análise da situação histórica
concreta, apresenta uma idéia integral do homem, da justiça, do desenvolvimento
e da solidariedade(54).
Todo homem, enquanto criado por Deus à sua
imagem e semelhança, é chamado a participar da vida divina em Cristo. A criatura
humana tem um corpo e uma alma e, portanto, experimenta necessidades e
aspirações para sua plena realização, tanto em nível material e histórico, como
no mais alto nível espiritual e transcendente. Por isso, quando se fala de promoção
e desenvolvimento do homem, deve-se afirmar que eles devem ser de "todo
o homem", pois "não só de pão vive o homem, mas também de toda
palavra que sai da boca de Deus" (cf. Dt 8,3; Mt 4,4). O
homem é a medida e o centro de toda a atividade econômica, política, social e cultural.
Pelo mesmo motivo, fala-se de um desenvolvimento integral no sentido da
passagem de "condições menos humanas" a "condições mais
humanas": pão, vestido, casa, trabalho, instrução, liberdade, abertura ao
Pai e a Jesus Cristo(55). Fala-se também de um desenvolvimento autêntico,
isto é, "mais humano, que - sem negar as exigências econômicas - esteja em
condições de se manter à altura da vocação autêntica do homem e da mulher(56).
50. O ser humano, criado por Deus como homem e mulher
- com uma fundamental igualdade, embora com suas respectivas peculiaridades e
dons - foi colocado no mundo para formar uma família e viver em sociedade.
Portanto, não pode ter a pretensão de se desenvolver e realizar à margem dos
demais; por outra parte, porém, o Criador quis o homem e a mulher por si
mesmos. O que significa que, embora Deus os tenha criado como membros de uma
comunidade, o problema social implica necessariamente o desenvolvimento
integral do homem e da mulher. Daqui brota o dever constante da solidariedade
entre indivíduos, grupos e povos, para que homens e mulheres possam alcançar a
própria realização de acordo com o plano de Deus(57).
O homem e a mulher desfiguraram a imagem primigênia de
filhos de Deus ao pecar contra os preceitos divinos. Pecando, afastaram-se de
Deus e introduziu -se em seus corações o egoísmo, origem de tantos pecados de
injustiça e de prepotência contra o próximo. Cristo, com a sua graça redentora
renova o homem e a mulher, indicando-lhes o caminho da justiça e do amor, que
se exprime concretamente na solidariedade. Esta nasce da comunhão e lança
suas raízes na união com Cristo, com o Pai e com o Espírito Santo. Com efeito, afirma São João na sua Primeira Epístola:
"Se caminhamos na luz, estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue
de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1Jo 1,7), pois
"esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos
outros" (1Jo 3,11). "Aquele que diz que está na luz, mas odeia
o seu irmão, está nas trevas até agora. O que ama o seu irmão permanece na luz,
e nele não há ocasião de queda" (1 Jo 2,9-10).
A caridade e a solidariedade são exigências de uma fé
operosa, pois do contrário, como diz o Apóstolo São Tiago, "meus irmãos,
se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso
a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes
faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhes
disser ?Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos', e não lhes der o necessário para
a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver
obras, está morta em seu isolamento" (Tg 2,14-17).
51. Diante das necessidades de tantos homens e
mulheres na América muitos outros irmãos despertam da indiferença, da passividade
e da resignação fatalista, para pôr-se ativamente em atitude de serviço. Cristo
dá- lhes a garantia e indica o caminho: "Confiança! Eu venci o mundo"
(Jo 16,33). Com efeito, Ele venceu o pecado com a grandeza e o realismo
do seu amor até ao sacrifício de si mesmo, em generoso espírito de serviço: o
Filho do homem não veio para ser servido "mas para servir e dar a sua vida
em resgate por muitos" (Mc 10,45). Do mesmo modo que Jesus, o
Senhor e Mestre, lavou os pés de seus discípulos como sinal de amor e de
humildade, os cristãos são chamados a expressar a comunhão fraterna no serviço
solidário em favor dos outros (cf. Jo 13, 1ss). Este amor, que se
manifesta no serviço solidário e é o testemunho mais eficaz da evangelização,
encerra em si mesmo toda a potência capaz de transformar verdadeiramente a
sociedade. É um amor fundamentalmente oblativo e de serviço, não de palavra ou
de mero sentimento, que leva a pessoa a sair de si mesma, a deixar a própria
comodidade, a superar os seus egoísmos e a servir Cristo em seus irmãos que
padecem necessidade. É um amor solidário que, definitivamente, determinará o
destino eterno pessoal: "Tudo aquilo que fizestes a um destes meus irmãos
mais pequeninos, a mim o fizestes... Em verdade vos digo: todas as vezes que o
deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de
fazer" (Mt 25,40.45).
52. A Igreja que está na América, sobretudo nos países
em via de desenvolvimento, sempre manifestou uma especial solicitude em
responder às necessidades dos pobres, fazendo-se, desse modo, eco da mensagem e
da vida de Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por nós, para nos
enriquecer mediante a sua pobreza (cf. 2Cor 8,9). Esta especial
preocupação estimulou a reflexão teológica que, como justamente assinala a
Instrução da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sobre alguns aspectos da
"Teologia da Libertação", apoia-se sobre três pilares: a verdade
sobre Jesus Cristo, a verdade sobre a Igreja e a verdade sobre o homem(58). Por
esta razão, a experiência do amor preferencial pelos pobres deve interpretar-se
à luz da experiência mesma da Igreja, a qual brilha com singular esplendor na
vida dos santos(59). Para iluminar a vida pastoral e a reflexão teológica, a
segunda instrução da Sagrada Congregação sobre o mesmo tema da libertação
indica que é indispensável manter uma clara distinção e, ao mesmo tempo, uma
justa e necessária inter-relação entre evangelização e promoção da justiça:
"A Igreja presta grande atenção em manter, clara e firmemente, tanto a
unidade como a distinção entre evangelização e promoção humana: unidade, porque
ela busca o bem do homem todo; distinção, porque essas duas tarefas, sob
títulos diversos, integram a sua missão(60).
Será importante ter presente que a missão da Igreja
que está na América, cujo objetivo é a autêntica libertação do homem
contemporâneo submetido a duras opressões e ansioso pela liberdade, não somente
estende- se aos países menos desenvolvidos do Centro e do Sul do Continente,
mas compreende também a área geográfica dos países mais desenvolvidos no Norte,
onde nascem novas formas de pobreza e de escravidão a partir do próprio
fenômeno do desenvolvimento industrial e tecnológico: a decadência moral, a
corrupção, a extrema pobreza e solidão de algumas pessoas que vivem em centros urbanos
densamente povoados, a delinqüência e a violência juvenis, uma certa escravidão
gerada pelo consumismo e pelo materialismo, a marginalização social de alguns
grupos ao interno das grandes cidades, etc.
II
ALGUNS
PROBLEMAS SOCIAIS URGENTES E SUAS CAUSAS
53. São numerosos e complexos os problemas que, em
campo social, a Igreja na América deve enfrentar. Também são várias as ocasiões
em que os Bispos na América, reunidos em assembléias episcopais a nível
nacional e continental, ocuparam-se destes problemas, tratando-os em diversos
documentos, como, por exemplo: A Igreja na atual transformação da América
Latina à luz do Concílio (Medellín, 1968), A evangelização no presente e
no futuro da América Latina (Puebla, 1978) e Nova Evangelização,
Promoção Humana e Cultura Cristã (Santo Domingo, 1992), da Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano; Economic Justice for all: Catholic
Social Teaching and the U.S. Economy (1986), Moral Principles and
Policies for Welfare Reform (1995), da Conferência Episcopal dos Estados
Unidos da América do Norte; Les coûts humains du chômage (1980), da
Conferência Episcopal do Canadá e outros tantos documentos da Comissão para os
assuntos sociais da mesma Conferência Episcopal. Estes pronunciamentos fazem-se
eco da mensagem dos Papas, nas diversas encíclicas, especialmente da "Populorum
progressio", da "Laborem exercens" e da "Sollicitudo
rei socialis".
Os problemas mais citados, nos mencionados documentos,
são: a pobreza, a injustiça, a migração, as relações econômicas internacionais,
a expansão das multinacionais, o livre mercado, a dívida externa, a disparidade
no desenvolvimento e a desigual distribuição das riquezas entre Norte, Centro e
Sul, a falta de solidariedade, o comércio clandestino da droga, a situação da
mulher em alguns países, o direito das minorias étnicas (sobretudo de indígenas
e afro-americanos), os problemas da saúde, etc. A estes aspectos é preciso
acrescentar também os novos problemas que, ultimamente, apresenta o avanço
científico no campo da bioética, sobretudo no que se refere à manipulação
genética(61). Os pastores de todo o Continente mostram-se bem conscientes do
problema que todos estes fatos representam para aqueles que trazem o título de
crentes em Cristo.
54. Um aspecto de particular importância no contexto
da problemática social é o do emprego. A experiência ensina que o crescimento
econômico pode causar dificuldades em relação ao emprego. O tema do trabalho
foi colocado pelo Papa João Paulo II no centro da questão social, na sua
encíclica Laborem excercens: "o trabalho humano é uma chave,
provavelmente a chave essencial, de toda a questão social, se nós procurarmos
vê-la verdadeiramente sob o ponto de vista do bem do homem. E se a solução - ou
melhor, a gradual solução - da questão social, que continuamente se reapresenta
e se vai tornando cada vez mais complexa, deve ser buscada no sentido de
?tornar a vida humana mais humana', então por isso mesmo a chave, que é o
trabalho humano, assume uma importância fundamental e decisiva(62).
Neste sentido, resulta fundamental a afirmação
programática deste mesmo documento, segundo o qual os meios de produção
"não podem ser possuídos contra o trabalho, ... porque o único título
legítimo para a sua posse - e isto tanto sob a forma da propriedade privada como
sob a forma da propriedade pública ou coletiva - é que eles sirvam ao
trabalho(63).
Outro aspecto que merece uma particular atenção é o
relacionado com as companhias transnacionais, que nos últimos anos vêm
adquirindo grande poder e que terão ainda maior importância com a globalização
do mercado. A este incremento de poder deverá corresponder uma maior
responsabilidade por parte dos executivos de tais empresas. Por este motivo, a
Igreja tem a importante missão de fazer chegar a sua mensagem social também a
este setor.
A presença da Igreja no campo social, entre tantos os
outros modos, realiza-se através da difusão dos documentos da Santa Sé e dos
Bispos neste campo. A este respeito, a comunicação é crucial. Em alguns casos,
o conteúdo de importantes documentos recebe somente um tratamento e
distribuição superficiais através de algum meio de comunicação, por ocasião da
sua publicação. O desafio da nova evangelização no Continente americano
consiste em encontrar o modo de usar os meios de comunicação disponíveis para
que a Doutrina Social da Igreja seja mais conhecida.
Sempre no contexto da questão social, não podem deixar
de serem mencionados, além dos aspectos positivos da vida na cidade, os
problemas que surgem da revolução urbana: desenraizamento, anonimato, solidão,
imoralidade, etc. Realidade que é particularmente preocupante quando a estes
fatores acrescentam-se outros elementos, especialmente a pobreza e a
indigência, que definem o complexo problema social dos bairros pobres ou
"favelas" nas periferias urbanas da América Central e do Sul, e de
zonas marginalizadas das grandes cidades da América do Norte. Por outro lado,
tanto a urbanização como a industrialização estão comportando uma progressiva
destruição dos recursos naturais e uma contaminação ecológica global.
Simultaneamente com a emigração do campo rumo à cidade está se originando uma
espécie de "deserto cultural e cristão" nas sociedades urbanas,
sobretudo nos países do Sul do continente.
55. Estas suscintas observações da realidade social da
América ficariam incompletas se não houvesse uma referência a possíveis causas
dos problemas, sugerindo-se também algumas vias de superação. As pautas de
reflexão devem ser sempre os documentos da Igreja em campo social. Entre as
causas destes problemas, que são também socio-econômicas, a Igreja realça antes
de tudo a causa moral. Na carta encíclica Sollicitudo rei socialis,
o Papa João Paulo II afirma claramente que entre as atitudes que contribuem ao
desequilíbrio econômico deve-se ter presente "o afã de ganância exclusiva
e a sede de poder(64). Tais atitudes dão origem a outras omissões e comissões
negativas, que acabam por criar as estruturas de pecado que, por sua vez,
acentuam as divisões que existem entre os poucos que têm muito e os muitos que
têm pouco.
Na linha da carta encíclica Sollicitudo rei
socialis é possível dizer: se a causa é moral, a solução também ter que ser
moral. Por isso, o Papa João Paulo II propõe o cultivo da virtude da
solidariedade(65), entendida como a reação moralmente exigida ao constatar a
injustiça das condições sociais em que hoje vivem muitos homens. Ao falar de
virtude, se quer realçar a necessidade de uma conduta continuada e não reduzida
a atos esporádicos de boa vontade. O crescimento nesta virtude será motivado
pela consciência da interdependência que une os homens em um destino comum:
alcança-se a salvação individual na medida em que cada um assume
responsavelmente a sua preocupação pela salvação dos demais.
É importante considerar também a dimensão completa da
solidariedade proposta pela doutrina social da Igreja. Não se trata de uma ação
unidirecional no sentido de uma assistência de cima para baixo. Todos
devem fazer a sua parte. Na carta encíclica do Papa João Paulo II Sollicitudo
rei socialis e no documento sobre a dívida internacional da Pontifícia
Comissão "Iustitia et pax" insiste-se sobre a responsabilidade de
todas as partes e categorias sociais(66).
56. Há quem afirme que o catolicismo, ou mais
propriamente a tradição cultural de raiz católica é, em parte, "culpável"
do subdesenvolvimento de alguns países. Esta teoria é perigosa porque se pode
tentar vender o progresso às custas da fé. É inegável que a religião influencia
na cultura de um povo e no seu conceito de história, do tempo, do trabalho e da
vida em geral, porém nem sempre em sentido negativo, como às vezes procura-se
demonstrar com respeito ao catolicismo em relação a outras religiões. Por isso
é importante continuar aprofundando o estudo e a reflexão das relações entre a
religião cristã, e mais concretamente católica, e o desenvolvimento dos povos.
Às vezes a análise dos problemas sociais torna-se
muito difícil, pela complexidade e contingência das ciências sociais. Para
certos problemas, porém, como os da miséria, não cabe a indecisão. Em tais
casos, inclusive quando há uma diversidade de opiniões ou quando se vê uma
solução perfeita, há a obrigação moral de agir. A este propósito, é importante
recordar uma advertência de João XXIII: "Nas aplicações (dos princípios)
podem surgir divergências mesmo entre católicos retos e sinceros. Quando isto
suceder, não faltem nunca a consideração, o respeito mútuo e a boa vontade em
descobrir os pontos sobre que existe acordo, a fim de se conseguir uma ação
oportuna e eficaz. Não nos percamos em discussões intermináveis e sob o
pretexto de conseguirmos o ótimo, não deixemos de realizar o bom que é
possível, e portanto obrigatório(67).
Uma maneira de tornar mais efetivo o raciocínio
prático é procurar pôr-se sempre no lugar dos pobres. Para poder realizar isso,
convém não esquecer a regra de ouro: "fazer aos outros aquilo que queres
que te façam a ti". Esta, por sua vez, é uma conclusão lógica do primeiro
princípio da moral natural: "fazer o bem e evitar o mal". Rever o
ponto a partir do qual se contemplam os problemas poderia ser uma pauta
importante de conversão, dado que a raiz da injustiça está, como foi
dito anteriormente, no campo moral.
III
AGENTES
DE SOLIDARIEDADE
57. A responsabilidade dos pastores do Povo de
Deus (bispos e sacerdotes), nos campos acima indicados, é clara e iniludível.
No cumprimento desta responsabilidade, é muito apreciada a colaboração dos
religiosos e religiosas, dos movimentos apostólicos e outras instituições
que trabalham com famílias, com crianças e jovens, que atendem centros de
caridade e de assistência, que trabalham nas escolas ou que vivem entre os mais
necessitados levando o testemunho do seu amor e da sua ajuda solidária. Todos
eles, como o demonstram tantas experiências da vida da Igreja na América,
também são eficazes agentes de solidariedade.
Nesta comum tarefa de solidariedade, os leigos
têm um papel determinante. Há nos leigos cristãos do Norte, do Centro e do Sul
do Continente, um extraordinário potencial de generosidade para acudir à
chamada de quem padece necessidade. A história passada e recente está cheia de
exemplos desta cooperação eficaz por ocasião de catástrofes naturais, de
conflitos sociais ou políticos (guerras, guerrilhas ou outros problemas mais ou
menos crônicos de índole social ou cultural).
Em todas as partes do continente a ajuda solidária
enriquece-se com a vitalidade e a espontânea generosidade dos jovens. Há
neles uma enorme reserva de doação de si mesmos, que espera a chamada e o
convite dos pastores. São estes que podem dizer-lhes, como Cristo aos
trabalhadores ociosos: "Ide também vós à minha vinha" (Mt
20,4). Ontem como hoje, eles respondem a esta chamada, como sacerdotes,
religiosos, religiosas, pessoas consagradas, leigos missionários e voluntários,
etc.
Também a família tem um papel primário na
educação das novas gerações para a solidariedade com os mais necessitados. O
exemplo e testemunho dos pais é decisivo para a formação da sensibilidade e da
atitude altruísta em crianças e adolescentes. Em especial, a mulher, a
quem Deus "confia de um modo especial o homem, ou seja, o ser humano(68),
ocupa um lugar de grande relevância no campo da solidariedade. Ela, com efeito,
"não pode encontrar-se a si mesma a não ser dando amor aos demais(69). A
adequada inserção da mulher na Igreja, de acordo com a sua particular vocação à
vida e ao amor, converte-a em uma eficiente agente de solidariedade a serviço
do Evangelho.
IV
POSSÍVEIS
CAMINHOS DE ACTUAÇÃO DA SOLIDARIEDADE
58. A formação de sacerdotes, religiosos e
religiosas na Doutrina Social da Igreja é um aspecto de fundamental
importância na preparação do caminho de solidariedade(70). Na medida em que os
responsáveis da condução pastoral estiverem mais capacitados para poder
entender os problemas humanos em relação a fatores determinantes da vida social
contemporânea (a política, as finanças, a cultura, a justiça social, a
economia, etc.), eles poderão agir mais eficazmente no campo social para levar
a cabo iniciativas concretas de solidariedade. Com efeito, duplo é o objetivo
da formação nesta matéria: por um lado, à luz dos princípios permanentes,
chegar a um juízo objetivo sobre a realidade social e, por outro lado,
concretizar as opções mais adequadas que eliminem as injustiças e favoreçam as
transformações políticas, econômicas e culturais de acordo com as circunstâncias
particulares de cada caso(71).
59. Diversas possibilidades de atuação da
solidariedade apresentam-se em distintos níveis ao interno da Igreja na
América. Um caminho de solidariedade entre as comunidades cristãs do Norte e do
Centro-Sul do Continente já foi aberto. Ele pode ser visto na iniciativa de
ensinar a língua castelhana em muitos seminários dos Estados Unidos da América
do Norte para que os futuros sacerdotes se encontrem mais preparados quanto à
assistência pastoral às comunidades de língua espanhola e aos imigrados. É
também um fato o voluntariado dos leigos provenientes da América do Norte nas
regiões mais carentes do Centro e do Sul do Continente. Assim também, seria
positivo inspirar nos imigrantes uma atitude de respeito e de compreensão pela
cultura do país que os acolhe. Igualmente poder-se-iam promover programas que
contemplem a possibilidade de sacerdotes da América Latina visitarem os países
do Norte do continente para dar assistência espiritual à população de origem
latino-americana.
Permanece aberto também à criatividade de novas formas
de solidariedade o caminho iniciado por muitos leigos, especialmenteprofissionais,
que dão generosamente o seu tempo e seus conhecimentos em favor dos mais
necessitados. Um aspecto que merece ser tido em especial consideração é o
voluntariado, não somente em nível local mas também em nível internacional. As
três partes do continente muito têm a partilhar neste sentido.
Também a cidade apresenta numerosos problemas,
mas conhece igualmente novas possibilidades de ação. A Igreja, com suas
estrutura de paróquias e de movimentos, integra-se na estrutura urbana
oferecendo aos homens espaços novos para que possam ter uma experiência
religiosa. A pastoral urbana continua sendo uma prioridade na formação dos sacerdotes,
dos religiosos e dos agentes leigos. Neste sentido, estão abertas as portas à
criatividade de novos métodos, de novos caminhos e de novas linguagens de
evangelização.
V
ASPIRAÇÕES
E DASAFIOS DA IGREJA NA AMÉRICA
60. Na linha destas considerações, uma aspiração para
a Igreja na América é a de fomentar e praticar a solidariedade entre Norte,
Centro e Sul do continente, buscando meios que canalizem ajudas efetivas a
grupos e mesmo a nações que padecem pobreza e carências de educação, de
medicina e de estruturas sanitárias, de habitação, de emprego, etc. Por isso
apresenta-se como um verdadeiro desafio a formação da consciência ética
daqueles que podem influir decisivamente em programas e políticas econômicas,
de comunicação social, de cultura, de saúde, etc. Eles poderão trabalhar, não
somente em benefício das próprias comunidades locais e povos, mas também em um
raio nacional e, inclusive, internacional, promovendo adequadas estratégias
políticas, econômicas e culturais.
Não é missão da Igreja resolver todos os problemas
sociais. No entanto, a Igreja pode contribuir à solução, em parte, de problemas
elementares, como a privação das coisas mínimas necessárias para uma vida
humana digna: comida, casa, escola, roupa, medicina, etc. Muitas Igrejas particulares
na América dão testemunho evangélico de comunhão na solidariedade, criando
espaços para que se multipliquem iniciativas de cooperação de igreja a igreja,
também em nível continental, dentro de estruturas de ajuda já estabelecidas,
porém também fora delas quando é oportuno. O exemplo da primitiva comunidade
apostólica continua sendo inspirador no campo de uma real comunhão e
participação de bens, inclusive materiais. O claro texto dos Atos é eloqüente e
iluminante: "A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só
alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles
era comum. Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do
Senhor, e todos tinham grande aceitação. Não havia entre eles necessitado
algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os
valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se então, a
cada um, segundo a sua necessidade" (At 4,32-35).
O exemplo de São Paulo, que não tinha dúvidas em organizar
uma coleta entre as igrejas da Ásia Menor em favor da perseguida comunidade
irmã de Jerusalém, oferece-nos um modelo concreto e imediato de como acudir as
necessidades dos irmãos, em nome d'Aquele que "sendo rico, fez- se pobre
por vós, afim de nos enriquecer com a sua pobreza" (2Cor 8.9).
61. O ensino social da Igreja é exigente, porque o
Evangelho também o é, porém para entrar no espírito do Evangelho é necessária a
conversão que é mudança de coração e de mentalidade. Esta mudança interior
conduz, quando autêntica, a mudanças no modo de agir. A Igreja na América tem
mostrado e continua mostrando ainda hoje um particular empenho no campo da promoção
social de todos os homens e mulheres do continente. Este peculiar interesse
manifesta-se na opção evangélica pelos mais fracos e necessitados, como também
no desejo de apoiar o desenvolvimento integral, físico e espiritual, material e
cultural, de todo homem e de toda mulher. Uma promoção social em sentido
cristão implica também o desafio da formação de uma consciência social
solidária e generosa nos leigos, que permita partilhar recursos materiais e
humanos de zonas privilegiadas ou auto- suficientes, com zonas e grupos humanos
menos favorecidos.
No campo da promoção social, um aspecto do qual a
Igreja na América se interessou sempre com particular solicitude tem sido a
instrução e educação escolar primária, média e superior, como condição
fundamental para o desenvolvimento dos povos. Esta preocupação com a educação
tem sido oferecida sempre, pela Igreja, juntamente com uma adequada formação
religiosa para que os cristãos possam dar razão da sua esperança e
responder adequadamente ao desafio da secularização e de outras confissões
religiosas. Com efeito, as seitas religiosas e movimentos
pseudo-espirituais estão minando a unidade religiosa e cultural do povo
católico da América, fazendo uso de abundantes recursos econômicos e técnicas
através de um proselitismo, muitas vezes manipulador das consciências. Na
América Latina tais seitas atacam com freqüência a própria identidade nacional,
intimamente ligada à fé católica. Este é outro desafio para a Igreja na América
no campo da formação religiosa.
62. Dado que no conceito de cultura entram em jogo os
modos com os quais os homens cultivam a sua relação com Deus, entre si mesmos e
com a natureza, a aculturação é outra grande aspiração para a Igreja na
América. Com efeito, evangelizando a cultura é possível promover relações
humanas que reflitam o mandamento do amor, seja para com Deus, seja para com os
homens, através de formas concretas de solidariedade fraterna. Conhecer,
respeitar, promover a cultura de cada grupo étnico, anunciar o Evangelho a cada
cultura para que esta, uma vez evangelizada, expresse nas suas próprias formas
o conteúdo do Evangelho: tal é o processo circular da aculturação que se
apresenta como meta a alcançar na nova evangelização.
Cada povo, ao trazer para a comunidade humana e
eclesial a sua própria cultura, enriquece-a. O Evangelho, ao encarnar-se nas
diversas formas culturais dos povos, alarga a sua inesgotável riqueza. Por isto
a Igreja aprecia e defende a cultura própria de cada povo e de cada grupo
humano, em tudo aquilo que ela tem de positivo e harmonizável com a mensagem
perene da Boa Nova. Na América, existem expressões culturais heterogêneas: a
das sociedades contemporâneas, a dos grupos indígenas e autóctones de todo o
Continente (do Alasca à Terra do Fogo), a dos afro- americanos do Norte, do
Centro, do Caribe e do Sul, a das minorias étnicas que nos últimos dois séculos
foram chegando à América, enriquecendo-a com as suas culturas. Cada um destes
grupos humanos possui um patrimônio cultural, reconhecível em suas expressões
artísticas, em sua religiosidade e em sua sensibilidade, que constitui um dom
precioso para o continente e para todo o mundo.
63. No campo ecumênico são múltiplas as
iniciativas, algumas já concretizadas e outras em via de realização, que tentam
construir a unidade através de gestos de solidariedade com os irmãos de outras
confissões cristãs, não somente naquilo que se refere ao diálogo
inter-confessional mas também em outros campos, como, por exemplo, o
assistencial, o econômico, o cultural, o sanitário, etc. As palavras do
Concílio Vaticano II estimulam os católicos à cooperação com os irmãos de
outras confissões cristãs: "Sendo que nos tempos hodiernos se estabelece
largamente a cooperação no campo social, todos os homens são chamados a uma
obra comum, mas de modo especial os que crêem em Deus, máxime todos os cristãos
assinalados com o nome de Cristo(72). Unindo forças diante do avanço da
mentalidade indiferentista e atéia, é possível preservar melhor o patrimônio de
verdades e valores cristãos comuns. Enquanto isso, encontros de oração e de
reflexão, organizados pelos respectivos responsáveis, permitem continuar
caminhando juntos rumo à unidade desejada por Cristo.
64. A comunhão e a solidariedade de toda a família
humana devem ser obtidas através de um caminho feito de pequenos passos, até
alcançar uma verdadeira e sólida integração de comunidades em nível
nacional e continental, estabelecendo caminhos de inter-relação entre o Norte,
o Centro e o Sul, no respeito por suas diversas realidades socio-culturais.
Como tudo o que inicia, não carece de dificuldades e a alguns pode parecer uma
utopia inalcançável e inoportuna. No entanto, terá que superar dificuldades não
somente técnicas - de tipo econômico, jurídico, cultural ou político - mas
sobretudo humanas: receios e desconfianças mútuas, ressentimentos históricos,
atitudes atávicas de recusa, nacionalismos demasiadamente estreitos e
exclusivos.
Os grandes problemas merecem grandes soluções que, a
miúdo, implicam gestos de generosidade e de sacrifício. Aqui estão em jogo as
causas da comunhão e da solidariedade queridas por Cristo como modo de vida
entre seus discípulos. É não somente um anelo da humanidade, mas também, e
fundamentalmente, uma meta para a qual caminha o Povo de Deus guiado pela fé,
pela esperança e pelo amor de Jesus Cristo. Os atuais esforços em diversas
partes do mundo por formar comunidades de nações, nos campos da economia ou da
cultura - na Europa, no Pacífico oriental, no Norte, no Centro e no Sul do
continente americano - são como tesselas com as quais vai-se formando o mosaico
de uma grande comunidade de nações. A meta última, que responde ao desígnio de
Deus e à súplica de Cristo, é sempre a unidade da família humana, cujo cimento
de coesão é a fé em Cristo. A Igreja mesma, com efeito, una em sua fé,
em seus sacramentos e em sua hierarquia, católica na universalidade dos seus
membros e das suas comunidades com suas respectivas culturas, é já uma
antecipação do único povo e da única família querida por Deus desde o alvorecer
da criação.
CONCLUSÃO
65. O mandato de Cristo: "Ide, portanto, e fazei
que todas as nações se tornem discípulos" (Mt 28,19) continua sendo
tão peremptório hoje como quando Ele o dirigiu aos apóstolos no monte da
Galiléia, pouco antes de subir ao céu. No limiar do terceiro Milênio, Cristo
envia de novo a sua Igreja que está na América a evangelizar o mundo
contemporâneo. Um dos primeiros e mais urgentes deveres de todo o povo de Deus
é o da missão. Diante de um mundo novo que se vai configurando, diante de uma
sociedade profundamente transformada em relação às décadas anteriores, todos os
cristãos devem sentir o dever da missão como tarefa primordial. Esta missão
deve cumprir-se seguindo o mesmo caminho salvador que Cristo traçou há dois mil
anos. Hoje, como ontem e sempre, ele é "o Caminho, a Verdade e a
Vida" (Jo 14,6) do homem que peregrina rumo à pátria definitiva.
Os objetivos indicados pelo Para João Paulo II para a
Assembléia Especial para a América são, ao mesmo tempo, árduos e desafiadores:
promover a nova evangelização em todo o território do continente americano,
incrementar a solidariedade entre as igrejas particulares e analisar os
problemas da justiça e das relações econômicas entre o Norte, o Centro e o Sul.
66. A análise e as sugestões de ação que surgirão como
resultado da Assembléia Especial para a América não serão primariamente
sociológicas nem técnicas e sim evangélicas. Como Pedro disse ao paralítico da
Porta Formosa do templo de Jerusalém: "Não tenho ouro nem prata, mas
aquilo que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e
anda" (At 3,6), assim também a Assembléia Especial do Sínodo dos
Bispos para a América, presidida pelo sucessor do primeiro Vigário de Cristo,
ajudará a iluminar o caminho do Povo de Deus que deseja pôr-se em marcha para
ir ao encontro de Jesus Cristo vivo, Senhor do tempo e da eternidade.
Nesta hora da história, o Espírito do Senhor convida a
abandonar temores e dúvidas e a lançar-se com arrojo a anunciar a Palavra na
América com audácia ou "parresía", com toda a sua força de
transformação dos corações, das sociedades, das culturas. Isto exige conversão
e mudança interior do próprio coração. O eco da voz do Apóstolo chega hoje em
terra americana para exortar a Igreja dizendo: "Em nome de Cristo
suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus" (2Cor 5,20). Conversão e
reconciliação com Deus, nosso Pai e com os homens, nossos irmãos: esta é a
primeira condição que Jesus põe ao iniciar a nova evangelização: "O Reino
de Deus está próximo; convertei-vos e crede na Boa Nova" (Mc 1,15).
Para ser bons evangelizadores, é preciso antes deixar-se evangelizar. Só
preparando o caminho com uma autêntica conversão, é possível dirigir-se
com confiança rumo à meta, que é a comunhão com Deus em Cristo, e poder
dar frutos abundantes de amor e de solidariedade no Espírito.
67. A Virgem Maria, Mãe do Redentor e Mãe da
Igreja(73), é a Estrela da nova evangelização, que guia com segurança o Povo de
Deus na América ao encontro com o Senhor(74). Ela faz sentir a sua presença
materna no meio do seu povo, como nos começos da vida da Igreja, e hoje como
ontem continua a convidar todos os seus filhos à conversão, à comunhão e à
solidariedade.
Nesta época em que não faltam motivos de preocupação,
na qual, porém, são numerosos os sinais de esperança, a Assembléia Especial
para a América é um acontecimento que convida todo o Povo de Deus a deixar de
lado os temores e desconfianças para escutar com atenção o que o Espírito diz à
Igreja que peregrina no Continente: "América, abre teu coração a
Cristo!".
QUESTIONÁRIO
Encontro com Jesus Cristo vivo
1 - Como é anunciada e apresentada a pessoa de Jesus
Cristo, Salvador e evangelizador, aos homens e mulheres da época presente, em
ordem a provocar um verdadeiro encontro com Ele em meio às situações concretas
da vida? Descrever os modos com que a Igreja pode manter a centralidade de
Jesus Cristo vivo nas diversas manifestações da vida da Igreja: a liturgia, a
catequese sistemática, a formação na fé, as atividades apostólicas e
caritativas.
A conversão na Igreja e na sociedade
2 - Enumerar e descrever sinais concretos do despertar
religioso na Igreja local. Quanto ao contrário, quais são os aspectos mais
necessitados de conversão na realidade intra-eclesial?
3 - Quais elementos da sociedade contemporânea, em sua
área, podem ser considerados positivos em relação à mensagem do Evangelho? Em
que aspectos do contexto social é necessária uma conversão?
A comunhão na Igreja
4 - Quais são os fatores que produzem as divisões mais
importantes no âmbito eclesial, em nível de: bispos, sacerdotes, religiosos e
religiosas, movimentos eclesiais, fiéis em geral? Como podem ser superados estes
obstáculos que atentam contra a comunhão?
5 - Avaliar em que medida na Igreja particular têm
sido aplicados os ensinamentos do Concílio Vaticano II, especialmente no que se
refere à comunhão. Em que modo pode-se contribuir para pôr em evidência toda a riqueza
doutrinal e pastoral deste concílio, seguindo o convite do Santo Padre a
realizar um "exame de consciência" que "deve visar também a
recepção do Concílio, este grande dom do Espírito à Igreja no final do
segundo milênio" (Carta apostólica Tertio millennio adveniente,
36)?
Diálogo ecumênico e inter-religioso
6 - O que se faz concretamente nas Igrejas
particulares ou a nível inter- diocesano, para favorecer o diálogo ecumênico, a
oração e a cooperação solidária com os irmãos de outras confissões cristãs?
Como são preparados os agentes de pastoral para desenvolver atividades
ecumênicas orientadas à construção da unidade do único Povo de Deus?
7 - Avaliar as relação que a sua comunidade cristã
mantém com as outras religiões não-cristãs.
A Igreja diante do problema das seitas
8 - Descrever sinteticamente o panorama religioso com
relação às seitas, aos movimentos religiosos sincretistas e a outras correntes
espiritualistas: quais são? Que tipo de atividade desenvolvem? O que a Igreja
pode fazer diante desta situação para confirmar os fiéis na sua fé?
Evangelização e cultural
9 - O que faz a Igreja para evangelizar o mundo da
cultura (artes, letras, ciências, etc)? Como se faz presente a Igreja com
programas de evangelização nos distintos níveis do campo educativo: primário ou
elementar, secundário ou médio e universitário?
10 - Quais são os elementos mais salientes das
culturas de grupos indígenas, afro-americanos ou de imigrantes, existentes no
território nacional ou nas comunidades locais, que merecem ser revalorizados e
utilizados como sementes de evangelização? Em que medida tais elementos
enriquecem a espiritualidade cristã e em que medida devem ser purificados de
elementos alheios à fé cristã?
11 - Quais são as características mais salientes da
religiosidade popular em sua área e em que medida tais aspectos são levados em
conta na elaboração dos planos pastorais? Que lugar ocupa a devoção à Virgem
Maria na religiosidade popular?
A Igreja e os meios de comunicação social
12 -O que faz atualmente a Igreja, em sua área, para
promover o reto uso dos meios de comunicação social e para que estes sejam
também úteis instrumentos ao serviço da nova evangelização? Qual é a presença
da Igreja nos chamados "areópagos modernos"?
A Igreja e a solidariedade social
13 - Que atividades promove a Igreja, em sua área,
para a ajuda solidária aos mais necessitados e como em geral responde o povo
fiel a estas iniciativas? Que colaborações externas em nível eclesial ou civil
recebe a Igreja em ordem a esta ajuda solidária? Existem programas de formação
da consciência solidária em pessoas ou grupos relevantes na sociedade?
A Igreja diante dos problemas sociais
14 -Que uso se faz da Doutrina Social da Igreja, em
sua área, na nova evangelização, diante das diversas situações que reclamam uma
ação social, como, por exemplo, a promoção e o desenvolvimento humanos, as
migrações, os problemas do mundo do trabalho, etc? Que meios se usam para
difundir o conhecimento da Doutrina Social da Igreja, dentro e fora do âmbito
eclesial?
A Igreja e a promoção da vida humana
15 -Como promove a Igreja o respeito pela vida humana
em todas as suas fases, desde a concepção no seio materno até à ancianidade?
Enumerar exemplos concretos da sensibilidade da comunidade cristã com
referência a este aspecto.
Outros temas comuns
16 -Pode fazer observações ou sugestões sobre outros
problemas comuns a todo o Continente Americano relacionados com o tema da
Assembléia Especial, que, na sua opinião, não foram suficientemente
aprofundados nos Lineamenta os que não são mencionados no presente
questionário?
Cidade do Vaticano, 1996
(1) João Paulo II, Discurso inaugural, IV Conferência Geral do Episcopado Latino- americano (12 de outubro de 1992), 17; L'Osservatore Romano, edição portuguesa, 18 de outubro de 1992, p. 12.
(2) João Paulo II, Carta Apostólica Tertio
millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), 38: AAS 87 (1995),
30.
(3) Catecismo da Igreja Católica, 429.
(4) Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje Gaudium et spes, 22.
(5) Cfr. Gongregação para a Doutrina da Fé, Instrução
sobre a liberdade cristã e a libertação, Libertatis conscientia (22 de
março de 1986) 99: AAS 79 (1987), 594.
(6) Cfr. Paulo VI, Exortação apostólica Evangelii
Nuntiandi (8 de dezembro de 1975), 75: AAS 68 (1976), 64-67.
(7) Catecismo da Igreja Católica, n. 160.
(8) Cf. João Paulo II, Carta encíclica Redemptoris
missio (7 de dezembro de 1990), 37; AAS 83 (1991), 284.
(9) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, 63. Cf. Santo Agostinho, Sermo
CCXV, 4: PL 38, 1074.
(10) Cf. João Paulo II, Discurso inaugural, IV
Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano (12 de outubro de 1992), 31; L'Osservatore
Romano, edição portuguesa, 18 de outubro de 1992, p. 12s.
(11) Cf. João Paulo II, Carta encíclica Redemptoris
Mater (25 de março de 19879: AAS 79 (1987), 410.
(12) Cf. João Paulo II, Carta apostólica Tertio
millennio adveniente (10 de novembro de 1994), 59: AAS 87 (1995),
41.
(13) João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Reconciliatio
et poenitentia (2 de dezembro de 1984): AAS 77 (1985), 199.
(14) Ibid., 4: AAS 77 (1985), 190.
(15) João Paulo II, Carta apostólica Tertio
millennio adveniente (10 de novembro de 1994),36: AAS 87 (1995), 27.
(16) Cf. Ibid.
(17) Santo Agostinho, Confessiones I,1: CCL 27,1.
(18) João Paulo II, Carta apostólica Tertio
millennio adveniente (10 de novembro de 1994), 36: AAS 87 (1995),
27.
(19) Cf. João Paulo II, Exortação apostólica
pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de março de 1992), 9: AAS 84
(1992), 670s.
(20) João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Reconciliatio
et poenitentia (2 de dezembro de 1984), 13: AAS 77 (1985), 209.
(21) Pio XII, Radiomensagem ao Congresso Catequético
Nacional dos Estados Unidos, em Boston (26 de outubro de 1946), Discursos e
Radiomensagens, VIII, 1946, p. 288. Cf. João Paulo II, Exortação apostólica
pós-sinodal Reconciliatio et paenitentia (2 de dezembro de 1984) 18: AAS
77 (1985), 225.
(22) João Paulo II, Alocução dominical de 14 de março
de 1982, L'Osservatore Romano, edição portuguesa, 21 de março de 1982,
p.2.
(23) S. Leão Magno, Tractatus 63 (De Passione
Domini),6;CCL 138/A, 386.
(24) Cf. Catecismo da Igreja Católica, nn.
13-17.
(25) João Paulo II, Carta encíclica Evangelium
vitae (25 de março de 1995) 76, L'Osservatore Romano, edição
portuguesa, 1º de abril de 1995, p. 16.
(26) Concílio Ecumênico Vaticano II, Decreto sobre o
ecumenismo Unitatis redintegra tio, 7.
(27)Ibid., 6.
(28) Cf. Ibid., 8-11.
(29) João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Reconciliatio
et paenitentia (2 de dezembro de 1984), 2: AAS 77 (1985), 188.
(30) Cf. Comunicado dos Bispos responsáveis pelas
Comissões Doutrinais das Con ferências Episcopais da América Latina, Guadalajara
(México) 6-10 de maio de 1996: L'Osservatore Romano, edição portuguesa,
25 de maio de 1996, p.12.
(31) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, 6.
(32) Cf. Ibid., 7.
(33) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
pastoral sobre a Igreja no mundo atual Gaudium et spes, 40.
(34) Cf. João Paulo II, Carta apostólica aos
religiosos e religiosas da América Latina por motivo do V Centenário da
evangelização do Novo Mundo (29 de junho de 1990) 22: AAS 83 (1991),
37.
(35) João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Vita
consacrata (25 de março de 1996), 81, AAS 88 (1996), 458.
(36) João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Pastores
dabo vobis (25 de março de 1992), 15: AAS 84 (1992), 680.
(37) Carta a Diogneto VI,1: FUNK F., Patres Apostolici, Tubingae 1901, vol. I, 401. Cf. Liturgia das Horas II, Ofício de leituras da quarta-feira da V semana do tempo pascal.
(38) Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, 4.
(39) Ibid., 23.
(40) Cf. Ibid., 24-27.
(41) João Paulo II, Exortação apostólica Familiaris
consortio, 22 de novembro de 1981, 21d: AAS 74 (1982), p. 105.
(42) João Paulo II, Carta do Papa às mulheres
(29 de junho de 1995) 2: L'Osservatore Romano, edição portuguesa, 15 de
julho de 1995, p.6.
(43) Cf. Ibid., 11. Cf. Sagrada Congregação
para a Doutrina da Fé, Instrução sobre a questão da admissão da mulher
ao sacerdócio ministerial, Inter insigniores (15 de outubro de 1976): AAS
69 (1977) 98-116; cf. João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodalChristifideles
laici (30 de dezembro de 1988) 51: AAS 91 (1989) 492-493.
(44) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, 6-7.
(45) Ibid., 1.
(46) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
sobre a sagrada liturgia Sacrosan ctum Concilium, 10.
(47) Cf. João Paulo II, Exortação apostólica sobre a
catequese em nosso tempo Catechesi tradendae (16 de outubro de 1979),
35-45: AAS 71 (1979), 1307-1314.
(48) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, 39-40.
(49) Cf. João Paulo II, Exortação apostólica
pós-sinodal Pastores bado vobis (25 de março de 1992), 74: AAS 84
(1992), 789.
(50) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
pastoral sobre a Igreja no mundo atual Gaudium et spes, 53.
(51) Paulo VI, Exortação apostólica Evangelii
nuntiandi (8 de dezembro de 1975), 19: AAS 68 (1976), 18.
(52) João Paulo II, Carta encíclica Tertio
millennio adveniente (10 de novembro de 1994), 34: AAS 87 (1995),
26.
(53) Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição
pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 77-78.
(54) Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução
sobre a liberdade cristã e a libertação Libertatis conscientia (22 de
março de 1986), 71-96: AAS 79 (1987), 585-597.
(55) Cf. Paulo VI, Carta encíclica Populorum
progressio (26 de março de 1967), 20-21: AAS 59 (1967), 267-268.
(56) João Paulo II, Carta encíclica Sollicitudo rei
socialis (30 de dezembro de 1987), 28: AAS 80 (1988), 550.
(57) Cf. ibid.,29: AAS 80 (1988), 550 s.
(58) Cf. Sagrada Congregação para a Doutrina da Fè,
Instrução sobre alguns aspectos da "Teologia da libertação" Libertatis
nuntius (6 de agosto de 1984) V,8: AAS 76 (1984), 887. Cf. João
Paulo II, Discurso inaugural da III Conferência Geral do Episcopado latino-
americano de Puebla (28 de janeiro de 1979) I,2-9: AAS 71 (1979),
189-196.
(59) Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução
sobre a liberdade cristã e a libertação, Libertatis conscientia (22 de
março de 1986) 70: AAS 79 (1987), 585.
(60) Ibid. 64: AAS 79 (1987), 581.
(61) Cf. João Paulo II, Carta encíclica Evangelium
vitae (25 de março de 1995), 4, L'Osservatore Romano, edição
portuguesa, 1º de abril de 1995, p. 3.
(62) João Paulo II, Carta encíclica Laborem exercens
(14 de setembro de 1981),3: AAS 73 (1981), 583s.
(63) Ibid., 14: AAS 73 (1981), 613s.
(64) Cf. João Paulo II, Carta encíclica Sollicitudo
rei socialis (30 de dezembro de 1987), 37: AAS 80 (1988), 563.
(65) Cf. Ibid. 38: AAS 80 (1988), 565.
(66) Cf. Ibid., 39: AAS 80 (1988),
566-568. Cf. Pontifíicia Comissão "Iustitia et Pax", Ao serviço da
comunidade humana: uma consideração ética da dívida internacional (17 de
dezembro de 1986) Cidade do Vaticano, Tipografia Poliglota Vaticana 1986, I
- 2,5.
(67) João XXIII, Carta encíclica Mater et Magistra
(15 de maio de 1961), 238: AAS 53 (1961), 456.
(68) João Paulo II, Carta apostólica Mulieris
dignitatem (15 de agosto de 1988), 30: AAS 80 (1988), 1724-1727.
(69) Ibid., 30.
(70) Cf. Congregação para a Educação Católica, Orientações
para o estudo e o ensino da Doutrina Social da Igreja na formação dos
sacerdotes (30 de dezembro de 1988) Cidade do Vaticano, Tipografia
Poliglota Vaticana 1988, 71-77.
(71) Cf. Ibid. 13.
(72) Concílio Ecumênico Vaticano II, Decreto conciliar
sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 12.
(73) Cf. Paulo VI, Discurso aos Padres conciliares
por ocasião do encerramento do terceiro período do Concílio Ecumênico Vaticano
II, 21 de novembro de 1964: AAS 56 (1964) 1015.
(74) Cf. João Paulo II, Carta apostólica Tertio
millennio adveniente (10 de novembro de 1994), 59: AAS 87 (1995),
41.