EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO XXIII
NOVEM PER DIES
NOVENA DE PENTECOSTES PARA O CONCÍLIO
Aos bispos de todo
o mundo em paz e comunhão com a Sé Apostólica.
1. O recolhimento universal
da Igreja em suplicante expectativa do Espírito Santo nos nove dias que
precedem a grande solenidade de Pentecostes renova no espírito comovido a
recordação da trépida vigília do cenáculo, com a imagem dos apóstolos, unidos
em confiante oração ao redor da Virgem santíssima: "Todos estes, unânimes,
perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de
Jesus, e com os irmãos dele" (At 1,14).
2. O tempo do concílio
ecumênico Vaticano II, com os trabalhos de preparação para a segunda sessão do
próximo mês de setembro em fase adiantada, propõe de novo com maior evidência
aquela cena tocante; e é portanto muito consolador pensar que nos dias da
novena ao Espírito Santo toda a família católica, espalhada pelo mundo
"como grãos de trigo semeados pelos montes", (Didaqué, IX, 4.)
se unirá em oração ao redor da Virgem para invocar do Espírito Santo os dons
copiosos dos seus carismas sobre a grande assembléia dos próprios bispos.
3. Correspondendo, pois,
prontamente, como é nosso costume, a uma boa inspiração, também este ano o
humilde vigário de Cristo, lembrado do anual curso de exercícios em que
costumava participar com os seus coirmãos da província eclesiástica veneziana,
recolher-se-á na solidão de um retiro espiritual durante a mencionada novena. A
rica efusão dos dons do Espírito Santo requer uma disposição aberta às suas
moções, procura interior de perfeição sempre maior, abandono sereno aos acenos
da vontade divina. Por isso, nestes dias, deixaremos o ritmo habitual do
serviço pontifical para aguardar, "no silêncio e na esperança" (Is
30,15), a mística vinda do divino Paráclito que desce para renovar na Igreja os
prodígios como em um novo pentecostes.
4. Ao comunicar-vos esta
nossa humilde decisão, veneráveis irmãos, sentimos que vós, bispos e pastores
da Igreja de Deus, espiritualmente unidos ao sucessor de Pedro, nos
acompanhareis nestes dias com as vossas súplicas e com o vosso recolhimento.
Conforta-nos mesmo o pensamento que deste modo se retemperarão as vossas forças
na prossecução do trabalho de preparação do concílio e na expectativa da
segunda fase das sessôes ecumênicas.
5. O exemplo que parte de
todo o corpo episcopal, unido em oração com Pedro, se difundirá mais eloqüente
e urgente entre os sacerdotes e entre os féis de todas as dioceses do mundo,
convidando à "unica coisa necessária": isto é, àquela santidade de
vida, àquela reforma dos costumes, àquele compromisso de trabalho apostólico
por Cristo e pela Igreja para os quais se orientam as finalidades
essencialmente pastorais do concílio ecumênico.
6. A invocação universal ao
Espírito Santo, "que é Senhor e dá a vida", apresse na família dos
féis aquela desejada renovação para a qual tende antes de tudo o concílio; e
torne mais decidido o compromisso de servir a Deus e às almas com uma vida
iluminada pela verdade, conduzida pela justiça, integrada pela caridade,
impulsionada para as grandes conquistas cristãs pelo espírito daquela liberdade
que Cristo nos deu (Gl 4,31).
7. Com estes votos, com
esta esperança e certeza, nós efundimos sobre vós, veneráveis irmãos, a bênção
apostólica, que estendemos de todo o coração a cada uma das vossas dioceses,
para que em todas elas esteja "a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o
amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo" (2Cor 13,13).
Roma, junto de são
Pedro, no dia 20 de maio de 1963, quinto do nosso Pontificado.
JOÃO
PP. XXIlI