Vaso espiritual!
Vaso insigne de devoção!
Nós vos pedimos que
nos alcanceis
do divino Espírito
Santo o dom de Piedade,
que nos infunde um
amor filial para com Deus,
contemplado como um
Pai boníssimo,
e nos move a um espírito de oração,
terno e cálido, afetuoso e sincero,
próprio dos filhos que vivem habitualmente
na intimidade com o Pai.
Alcançai-nos esse
dom,
que nos faz sentir
também a fraternidade
para com todos e
cada um dos filhos
do mesmo Pai nosso,
"que está junto
de nós e nos Céus".
Que falta nos faz
esse dom de Piedade!
Ele nos dá olhos e
coração
de filhos muito
amados,
de crianças pequenas
de Deus.
Ele nos faz
contemplar, ouvir e falar ao nosso Pai-Deus
com sentimentos de
carinho inefável,
com abandono
confiante de menino
que descansa nos
braços do Pai
– Abbá, Pai! – ; de um Pai
que jamais nos
esquecerá,
nem deixará de olhar
por nós;
que não nos deixará cair no chão;
de um Pai que – sua
mão em nossa mão –
nos conduzirá pelos
caminhos da sua Sabedoria,
que são os caminhos
da sua Providência,
que são os caminhos
da nossa vocação.
De um Pai que estará
feliz
quando nos veja
repousar tranqüilos
no colo da nossa
doce Mãe,
no vosso regaço
aconchegante,
Mãe de Deus e Mãe
nossa.
***
Dai-nos, Mãe, uma
confiança total na vocação
com que Deus nos
agraciou:
quer seja ela a
vocação matrimonial e familiar,
quer a da entrega
total e amorosa
a Deus e aos nossos
irmãos.
Dai-nos uma
confiança serena como a vossa,
como a que tínheis
quando o Pai
vos guiava no escuro
e por Ele vos deixáveis guiar,
sem revolta, sem
desconcerto, sem insegurança e sem medo.
Vós, Mãe, vos
deixáveis conduzir
até à pobreza da
gruta de Belém,
até aos enigmas do
incerto exílio no Egito,
até à
incompreensível separação do Menino
quando se deixou
ficar três dias no Templo.
E também até à
renúncia
dos três anos de
ausência – a vida pública! –
quando só de tarde
em tarde podíeis ver o vosso Menino,
agora já homem feito
de mais de trinta anos,
totalmente entregue
a pregar a Palavra
da salvação,
a perdoar os pecados
e a sarar todos os males,
e todas as
angústias, e todos os enganos,
e todas as tristezas
dos homens pecadores,
pois essa era a
missão confiada a Ele pelo Pai.
E, finalmente, Mãe,
fostes fiel à
vocação divina com que o Pai
vos conduziu até à
Cruz,
onde a última das
sete espadas
transpassou o vosso
coração.
Sim, o Pai
conduziu-vos ao Calvário,
que é o cume do
Amor,
ainda que pareça o
cume do fracasso,
e é o extremo da
pura doação.
Conduziu-vos ao pé
da Santa Cruz
para atingirdes o
cimo da vossa santidade,
e a plenitude da vossa
maternidade,
da vossa mediação
materna
para com cada um de
nós,
os pobres pecadores
que Jesus salvou
e vos deu como
filhos.
Foi lá na Cruz, Mãe
nossa,
que Ele vos designou
co-redentora
e distribuidora de
todas as graças
que brotaram – com a
água e o sangue –
do Coração aberto de
Jesus!
***
Vaso espiritual!
Porta do Céu!
Livrai-nos da
tibieza,
que apaga, como a um
pavio que se extingue e fumega,
a chama do dom de
Piedade!
Livrai-nos, porque,
se essa desgraça
se abatesse sobre
nós,
ficaríamos presos
numa caverna escura
em que as sombras da
revolta
e os fantasmas da
mesquinhez
se confundiriam com
a realidade.
As portas dos
compromissos matrimoniais
ou as dos
compromissos de plena doação a Deus,
nos pareceriam
grades de uma prisão.
Os nossos
compromissos de práticas espirituais,
essas asas leves que
nos erguem até Deus,
seriam para nós
cargas de chumbo
que nos impediriam
de decolar.
Os tempos dedicados
a orar, adorar, formar-nos
e aprender a fazer o
apostolado
que o Amor pede aos
filhos de Deus
seriam para nós
fardos desagradáveis e opressivos,
e os veríamos como
algemas que amarram,
como
camisas-de-força,
como estorvos
insensatos
para a nossa
"realização",
como sobrecargas
que roubam o
"nosso" tempo e tolhem a liberdade.
Quando o que
acontece, Mãe,
vós sabeis disso
muito melhor que nós,
é que só a Piedade,
junto com a Verdade
e a Caridade,
pode tornar-nos verdadeiramente
livres!
Vaso espiritual!
Vaso insigne de
devoção!
Não nos abandoneis
– a nós, que sempre
somos crianças frágeis –,
não nos largueis da
vossa mão delicada e segura,
e ajudai-nos a
unir-nos ao fiat, ao faça-se,
com que vós
mantivestes o vosso Coração,
e a vossa entrega
cheia de alegria,
sempre nas mãos
carinhosas deste “Pai nosso,
que está junto de
nós e nos Céus”.
(Adaptado do livro de F. Faus: A tibieza e os dons
do Espírito Santo, Quadrante 2007)