O temor do Senhor é santo (Salmo 19, 10)
O temor do Senhor é
o princípio da sabedoria (Provérbios 1, 7)
Maria, Mãe nossa, Refúgio dos pecadores,
Virgem clemente!
Nós vos pedimos
que nos alcanceis do
Espírito Santo
o dom do santo
Temor de Deus,
que nos abre os
olhos à infinita
grandeza e bondade
de Deus Uno e Trino,
de tal modo que
compreendemos com luz poderosa
que, "na terra–
como dizia São Josemaria –,
só há um mal que
devemos temer
e, com a graça
divina, evitar: o pecado".
Mas, para podermos
ter essa luz santa na alma,
ajudai-nos, Virgem
pura,
a ter um vivo
sentimento da grandeza
e da majestade de
Deus,
que nos abisme numa
adoração profunda,
cheia de reverência
e humildade,
e do temor filial de
ofendê-Lo.
Ensinai-nos a viver
uma adoração tão clarividente
que torne o coração
capaz de extasiar-se
perante a beleza
infinita de Deus e de seu Amor,
e também capaz de
experimentar verdadeiro temor
– cum timore et tremore:
com temor e tremor amorosos
de pecar e ficarmos
afastados dEle.
***
Mãe, dai-nos um
coração semelhante ao vosso,
para que convosco
possamos exclamar:
A minha alma engrandece o Senhor
e o meu espírito
exulta de alegria
em Deus, meu
Salvador!
E que saibamos dizer
isso tão sinceramente,
tão vibrantemente,
que só o receio de
que possamos de novo ofendê-Lo,
após tê-Lo ofendido
tantas vezes
– temor de filhos apaixonados pelo Pai –
chegue a nos causar
arrepios,
e desperte em nossa
alma
vivíssimos
sentimentos de contrição,
unidos ao propósito
de nunca mais o ofender,
de fugir
radicalmente das ocasiões de pecar
e de reparar com
generosidade
o mal que fizemos.
***
Mãe, bem sabemos
– é tão triste a nossa experiência! –
que, se esse temor
filial começasse a arrefecer
e se instalasse em
nossa alma a tibieza,
a nossa consciência
se iria deteriorando pouco a pouco,
inexoravelmente,
tomada de cegueira e
endurecimento,
até perder quase de
todo a sensibilidade moral.
Se essa tibieza nos
dominasse, Mãe,
os pecados veniais
(de raiva, preguiça, irritação,
murmuração, gula,
vaidade, egoísmo, sensualidade...)
nos deixariam cada
vez mais indiferentes
e esqueceríamos que
– como dizia São Josemaria –:
"Os pecados
veniais fazem muito mal à alma",
e são verdadeiras
"raposas que destroem a vinha".
Cada pequena
concessão a um pecado leve
é uma rachadura na
consciência
e a ruptura de uma
fibra da alma.
Mãe, fazei que logo
percebamos essas fendas,
pois elas vão-se
abrindo mais e mais
até se tornarem
portas malditas
por onde entra o
pecado mortal
e por onde nós
saímos a caminho do Calvário
para crucificar
novamente Jesus.
***
Mãe Santa, Virgem
fiel!
Que vejamos!
Que não fiquem
cegados os olhos da nossa alma!
Sabemos como é
temível a tibieza,
que brota, como
fruto maligno,
do joio dos pecados
veniais,
alimentados pela
falta de humildade
e pela falta de
contrição;
pelo desleixo no
exame de consciência
e pelo abandono da
Confissão.
***
Refúgio dos
pecadores!
Livrai-nos da
incapacidade
de compreender a
penitência,
pois essa
incompreensão é um triste sinal
de que perdemos o
amor e o temor de Deus
e, com eles, o
sentido do pecado
e da delicadeza
espiritual.
Livrai-nos, Mãe,
desse sinal de tibieza
que nos afasta, assustados
ou escandalizados,
da prática generosa
da penitência,
ungida por um forte
espírito de reparação;
que nos impede de
entender com luz divina
o valor da
penitência corporal e espiritual
que todos os santos
abraçaram,
alegres e generosos,
mas que, aos olhos
dos tíbios,
não passam de
ridicularia
e absurdo
"medieval".
Por isso, com versos
do Stabat Mater
do vosso poeta
Jacopone da Todi,
que meditava sobre
as lágrimas que Vós derramastes
junto da Cruz de
Jesus,
nós queremos
rogar-vos:
"Eia, Mãe,
fonte de amor,
fazei-me sentir a
dor
para que eu chore
convosco.
Que arda o meu
coração
no amor a Cristo,
meu Deus,
para que possa
agradar-Lhe.
Fazei isto, santa
Mãe:
gravai fundo em
minha alma
as chagas do vosso
Filho.
Junto à Cruz eu
quero estar,
minhas lágrimas juntar
às que lá Vós
derramais".
(Adaptação
de um trecho do livro de F. Faus: A tibieza e os dons do Espírito Santo,
Quadrante 2007)