O apóstolo São Paulo é, sem dúvida, um
dos personagens mais marcantes do início do cristianismo. Judeu da diáspora,
nasceu em Tarso, na província romana da Silícia, hoje na Turquia; seu nome era
Saulo, provavelmente em homenagem a Saul, o primeiro rei dos hebreus. Recebeu
sólida educação nas tradições religiosas do seu povo e tornou-se um ardoroso
membro do grupo dos fariseus, que se destacava pela observância rigorosa das
prescrições mosaicas. Em nome dessas tradições, ainda jovem, passou a perseguir
de maneira impiedosa os seguidores de Jesus Cristo. Os Atos dos Apóstolos
referem-se a ele no primeiro relato de martírios cristãos: “E Saulo estava lá,
consentindo na execução de Estêvão” (Atos 8,1).
A mudança em sua vida aconteceu quando,
às portas de Damasco, ele foi fulminado e cegado por uma luz fortíssima e
interpelado por uma voz a lhe perguntar: “Saulo, Saulo, por que me persegues?!”
Perseguia os cristãos e queria lançá-los na prisão; ele mesmo diz que a voz era
de Jesus: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (cf Atos 9, 1-22). Aquele
encontro tão desconcertante provocou uma nova trajetória na vida de Saulo, que
passou a ser chamado Paulo; em várias passagens de seus escritos ele conta o
que lhe aconteceu perto de Damasco (cf. Atos 22; 26; Carta aos Gálatas 1).
Daí em diante, Paulo dedicou todas as
suas energias à pregação do Evangelho de Cristo. Com Barnabé, Lucas, Silas,
Marcos e outros companheiros fez diversas viagens missionárias pela Ásia Menor
e a Grécia, fundando comunidades cristãs e instruindo-as, depois, com suas
cartas. O privilégio da cidadania romana lhe salvou a vida diante do tribunal
de Jerusalém, que ameaçava condená-lo à morte por infidelidade religiosa; por
seu apelo ao tribunal de César, foi levado a Roma onde, mesmo prisioneiro,
continuou sua atividade missionária. Sofreu o martírio, por decapitação segundo
uma tradição antiga, durante a perseguição movida contra os cristãos pelo
imperador Nero, pelo ano 64 dC.
Seu túmulo é conservado sob o altar
principal da basílica romana de São Paulo Fora dos Muros, uma esplêndida
edificação em estilo romano feita construir pelo imperador Constantino no
século IV°; depois do incêndio devastador de 1823, foi reconstruída no seu
antigo esplendor com a contribuição de organizações e grupos do mundo inteiro.
Estudos arqueológicos recentes confirmaram a autenticidade histórica do túmulo
do Apóstolo, venerado sob o altar. A basílica é meta de constantes
peregrinações de religiosos, estudiosos e turistas e uma referência para
encontros ecumênicos de cristãos. Uma comunidade monástica beneditina zela pela
igreja e acolhe os visitantes.
Mesmo sem endossar a afirmação de Wrede,
um estudioso do início do século XX, segundo o qual é Paulo o verdadeiro
fundador do cristianismo, é inegável a importância do grande apóstolo para a
Igreja. Mais que os outros apóstolos e discípulos de Jesus Cristo, ele difundiu
o Evangelho entre os povos e fez uma primeira aproximação da mensagem cristã
com as culturas da época, dando um cunho universalista ao “caminho” vivido
pelos cristãos. Isso foi fundamental para que, ao longo dos séculos, os povos
que, sem deixarem de lado sua identidade cultural, pudessem conviver na mesma
grande comunidade de fé.
Na sua pregação, Paulo já faz um
primeiro desenvolvimento da “doutrina cristã”; partindo do Evangelho de Jesus
Cristo no Evangelho, ele reflete sobre os vários temas centrais da fé cristã,
como as afirmações sobre Deus e a clara configuração trinitária de Deus. Por
outro lado, Paulo desenvolveu muito a reflexão sobre Jesus Cristo, abordando
aspectos relativos à obra, aos ensinamentos e à pessoa do Mestre. Sua
cristologia foi determinante para a definição das verdades da fé cristã nos
concílios ecumênicos dos primeiros séculos do cristianismo.
A cosmovisão de Paulo e sua maneira de
entender a existência humana neste mundo, a convivência e as relações sociais e
os valores morais também foram e são determinantes para o cristianismo. Sua
reflexão sobre a Igreja é bem estruturada e parte sempre da experiência do seu
próprio encontro com Cristo; mas também tem em conta sua missão nas comunidades
que fundou e acompanhou e suas relações com Pedro, outros apóstolos e os demais
companheiros de missão. Ele tem clara consciência de não ser o fundador da
Igreja mas colaborador numa causa bem maior que seus projetos pessoais. Para
ele, a Igreja não é uma estrutura abstrata e meramente funcional, mas uma
realidade viva, através da qual Jesus Cristo continua presente e sua missão se
prolonga no mundo.
Paulo nasceu, segundo os estudiosos,
entre os anos 6 e 9 depois de Cristo. Para comemorar os 2 mil anos do
nascimento do grande apóstolo, o papa Bento XVI abriu no dia 28 de junho passado
um ano santo especial. Durante este período, a Igreja convida às práticas
habituais previstas para os anos jubilares, como peregrinações aos “lugares
paulinos”, a busca da reconciliação e do perdão de Deus e as celebrações
especiais em igrejas localmente estabelecidas como metas de peregrinação. Para
conhecer melhor o apóstolo, é recomendada, de maneira especial, a leitura e o
estudo dos escritos de São Paulo, no Novo Testamento.
Fica o registro deste aniversário
histórico. Nossa cidade, o Estado e um número considerável de instituições e
organizações da sociedade, inclusive nossa arquidiocese e este Jornal, levam o
nome de São Paulo. Mesmo sem referência direta à fé religiosa, resta o fato que
o Apóstolo é um personagem da história da humanidade. Bem mais do que muitos
filósofos, conquistadores e aventureiros, e sem recorrer à violência, ele
influenciou a cultura de muitos povos.
Fonte: www.cnbb.com.br