II Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano
CONCLUSÕES DE MEDELIN
1968
6ª Edição
Edições Paulinas
A Igreja latino-americana, reunida na II Conferência
Geral de seu Episcopado, situou no centro de sua atenção o homem deste
continente, que vive um momento decisivo de seu processo histórico.
Assim sendo, não se acha “desviada”, mas “voltou-se
para” o homem, consciente de que “para conhecer Deus é necessário conhecer o
homem”. Pois Cristo é aquele em quem se manifesta o mistério do homem; procurou
a Igreja compreender este memento histórico do homem latino-americano à Luz da
Palavra, que é Cristo. Procurou ser iluminada por esta palavra para tomar
consciência !mais profunda do serviço que lhe incumbe prestar neste momento.
Esta ramada de consciência do presente volta-se para
o passado. Ao examiná-lo, vê com alegria a obra realizada com tanta
generosidade: seria este o momento de exprimir o nosso reconhecimento a todos
aqueles que traçaram o sulco do Evangelho em nossos países e que estiveram ativa
e caritativamente presentes nas diversas raças, especialmente indígenas, do
continente, àqueles que vêm continuando a tarefa educadora da Igreja erro
nossas cidades e nossos campos. reconhece, também que «nem sempre», ao Longo de
sua história, foram todos os seus membros, clérigos ou Leigos, fié2s ao
Espírito de Deus; «também em nossos tempos, a Igreja não ignora quanto se
distanciam entre si a mensagem que ela profere e a fraqueza humana daqueles aos
quais o Evangelho foi confiado» (GS 43).
Acatando o juízo da história sobre estas Luzes e sombras,
quer assumir inteiramente a responsabilidade histórica que recai sobre ela no
presente.
Não basta, certamente, refletir, conseguir mais clarividência
e falar. E necessário agir. A hora atual não deixou de ser a hora da «palavra»,
mas já se tornou, com dramática urgência, a hora da ação. Chegou o momento de
inventar com imaginação criadora a ação que cabe realizar e que,
principalmente, terá que ser levada a cabo com a audácia do Espírito e o
equilíbrio de Deus. Esta Assembléia foi convidada “a tomar decisões e a
estabelecer projetos, somente com a condição de que estivéssemos dispostos a
executá-los como compromisso pessoal nosso, mesmo à custa de sacrifícios”.
A América Latina está evidentemente sob o signo da
transformação e do desenvolvimento. Transformação que, além de produzir-se cem
uma rapidez extraordinária, atinge e afeta todos os níveis do homem, desde o
econômico até o religioso.
Isto indica que estarmos no Limiar de uma nova época
da história do nosso continente. Época cheia de anelo de emancipação total, de
libertação diante de qualquer servidão, de maturação pessoal e de integração
coletiva. Percebemos aqui os prenúncios do parto doloroso de urna nova civilização.
E não podemos deitar de interpretar este gigantesco esforço por uma rápida
transformação e desenvolvimento como um evidente signo do Espírito que conduz
a história dos homens e dos povos para sua vocação. Não podemos deitar de
descobrir nesta vontade, cada dia mais tenaz e apressada de transformação, os
vestígios da imagem de Deus no homem, cama um poderoso dinamismo.
Progressivamente, este dinamismo leva-o ao domínio cada vez maior da natureza,
a uma mais profunda personalização e coesão fraterna e também a um encontro cem
aquele que ratifica, purifica e dá fundamento aos valores conquistados pelo
esforço humano. O fato de a transformação a que assiste nosso continente
atingir cem seu 2mpacto todos os níveis da existência, apresenta-se como um signo
e uma exigência.
Nós, cristãos, não podemos, com efeito, deitar de
pressentir a presença de Deus, que quer salvar o homem inteiro, alma e corpo.
No dia definitivo da salvação Deus ressuscitará também nossos corpos, por cuja
redenção geme agora em nós o Espírito com gemidos indescritíveis. Deus
ressuscitou a Cristo e, por conseguinte, todos os que crêem nele. Através de
Cristo, ele está ativamente presente em nossa história e antecipa seu gesto
escatológico não somente no desejo impaciente do hormem para conseguir sua total
redenção, mas também naquelas conquistas que, cama sinais indicadores, com voz
cada vez mais poderosa, do futuro, vai fazendo o homem através de uma atividade
realizada no amor.
Assim, como outrora Israel, o antigo Povo, sentia a
presença salvífica de Deus quando ele o libertava da opressão do Egito, quando
o fazia atravessar o mar e o conduzia à conquista da terra prometida, assim
também nós: novo povo de Deus não podemos deixar de sentir seu passo que salva,
quando se diz o “verdadeiro desenvolvimento, que é, para cada um e para todos,
a passagem de condições de vida menos humanas para condições mais humanas.
Menos humanas: as carências materiais dos que são privados do mínimo vital e as carências morais dos que são
mutilados pelo egoísmo. Menos humanas: as estruturas opressoras que provenham
dos abusos da posse do poder, das explorações dos trabalhadores ou da
injustiça das transações. Mais humanas: a passagem da miséria para a posse do
necessário, a vitória sobre as calamidades sociais, a ampliação dos
conhecimentos, a aquisição da cultura. Mais humanas também: o aumento na
consideração da dignidade dos demais, a orientação para o espirito de pobreza,
a cooperação no bem comum, a vontade de paz. Mais humanas ainda: o reconhecimento,
por parte do homem, dos valores supremos e de Deus, que deles é a fonte e o
fim. Mais humanas, finalmente, e em especial, a f é, dom de Deus acolhido pela
boa vontade dos homens e a unidade na caridade de Cristo, que nos chama a
todos a participar como f ilhas na vida de Deus vivo, Pai de todos os homens”.
Nesta transformação, por trás da qual se anuncia o desejo
de passar do conjunto de condições menos humanas para a totalidade de condições
plenamente humanas e de integrar fada a escala de valores temporais na visão
global da fé cristã, tomamos consciência da “vocação original» da América
Latina: «vocação de unir em uma síntese nova e genial o antigo e o moderno, o
espiritual e o temporal, o que outros nos legaram e nossa própria originalidade.
Nesta Assembléia do Episcopado Latino-Americano renovou-se
o mistério de Pentecostes. Em torno de Maria como Mãe da Igreja, que cem seu
patrocínio assistiu a este continente desde sua primeira evangelização,
imploramos as luzes do Espírito Santo e perseverando na oração, alimentamo-nos
do pão da Palavra e da Eucaristia. Esta Palavra foi intensamente meditada.
Nossa reflexão orientou-se para a busca de formas de
presença mais intensa e renovada da Igreja na atual transformação da América
Latina.
Três grandes setores, sobre os qua2s recai nossa
solicitude pastoral, f oram abordados em sua relação com o processo de
transformação do continente.
Em primeiro lugar, o setor da promoção do homem e
dos povos do continente para os valores da justiça, da paz, da educação e do
amor conjugal.
Em seguida, nossa reflexão se dirigiu para os povos
deste continente e suas elites, que por estarem num processo de profunda
mutação de suas condições de vida e da seus valores, requerem uma adaptada
evangelização e educação na fé, através da catequese e da Liturgia.
Finalmente, abordamos os problemas relativos aos
membros da Igreja. E preciso intensificar sua unidade e ação pastoral através
de estruturas visíveis, também adaptadas às novas condições do continente.
As conclusões seguintes são o fruto do trabalho realizado
nesta conferência.
Existem muitos
estudos sobre a situação do homem latino-americano. O documento de trabalho
preparado para esta II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano não
será certamente o último. Em todos eles se descreve a miséria que marginaliza
grandes grupos humanos em nossos povos. Essa miséria, como fato coletivo, se
qualifica de injustiça que clama aos céus. Entretanto, o que talvez não se
esclareceu suficientemente é que os esforços que foram feitos, em geral, não
foram capazes de assegurar que a justiça seja respeitada e realizada em todos
os setores das respectivas comunidades nacionais. As famílias, muitas vezes,
não encontram possibilidades concretas de educação para seus filhos; a
juventude reclama seu direito de entrar nas universidades ou em centros superiores
de aperfeiçoamento intelectual ou técnico-profissional; a mulher reivindica sua
igualdade, de direito e de fato, com o homem; os camponeses pedem melhores
condições de vida; os produtores, melhores preços e segurança na
comercialização; a crescente classe média sente-se atingida pela falta de
perspectivas. Iniciou-se um êxodo de profissionais e técnicos para países mais
desenvolvidos; os pequenos artesãos e industriais da América Latina são
pressionados por interesses maiores e não poucos grandes industriais vão passando
progressivamente a depender das grandes empresas internacionais. Não podemos
ignorar o fenômeno desta quase frustração universal de legítimas aspirações,
que cria o clima de angústia coletiva que já estamos vivendo. A falta de
integração sócio-cultural, na maioria de nossos países deu origem a
superposição de culturas.
No campo
econômico implantaram-se sistemas que encaram só as possibilidades dos setores
com alto poder aquisitivo. Esta falta de adaptação ao que é próprio e às possibilidades
de nossa população, origina, por sua vez, uma freqüente instabilidade política
e a consolidação de instituições puramente formais. A tudo isto deve-se
acrescentar a falta de solidariedade, que provoca no campo individual e
social, verdadeiros pecados, cuja cristalização aparece evidente nas
estruturas injustas que caracterizam a situação da América Latina.
A Igreja
Latino-Americana tem uma mensagem para todos os homens que neste continente
têm «fome e sede de justiça. O mesmo
Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança, criou a aterra e tudo o que
nela existe para uso de todos os
homens, e de todos os povos, de modo
que os bens criados possam bastar a todos de maneira mais justa (GS 69), e dá poder ao homem para que solidária
mente transforme e aperfeiçoe o mundo (Gên 1,29) . É o mesmo Deus que, na plenitude dos tempos
envia seu Filho para que feito carne,
venha libertar todos os homens, de
todas as escravidões a que o pecado os sujeita: a fome, a miséria, a opressão e a ignorância, numa
palavra, a injustiça que tem sua origem no egoísmo humano (Jo 8,32-34) . Por isso, para nossa verdadeira libertação,
todos os homens necessitam de profunda conversão para que chegue a nós o «Reino de justiça, de amor e de
paz». A origem de todo desprezo ao
homem, de toda injustiça, deve ser procurada no desequilíbrio interior da
liberdade humana, que necessita sempre,
na história, de um permanente esforço
de retificação. A originalidade da mensagem cristã não consiste tanto na afirmação da necessidade
de uma mu dança de estruturas, quanto na insistência que devemos por na conversão do homem. Não teremos um
continente novo, sem novas e renovadas estruturas, mas sobretudo, não haverá
continente novo sem homens novos, que à luz do Evangelho saibam ser
verdadeiramente livres e responsáveis. Somente a luz de Cristo esclarece o
mistério do homem. Sob essa luz, toda a obra divina, na história da salvação é
uma ação de promoção e de libertação humana que tem como único objeto o amor. O
homem é «criado em Cristo Jesus», feito nele «criatura nova» (2 Cor 5,17). Pela
fé e pelo batismo, o homem é transformado, cheio do dom do Espírito, com um
dinamismo novo, não de egoísmo, mas de amor que o leva a buscar uma nova
relação mais profunda com Deus, com os homens seus irmãos e com as coisas. O
amor, «a lei fundamental da perfeição humana, e portanto da transformação do mundo»
(GS 32), não é somente o mandamento supremo do Senhor, é também o dinamismo
que deve mover os cristãos a realizarem a justiça no mundo, tendo como
fundamento a verdade e como sinal a liberdade. Assim é que a Igreja quer servir
ao mundo, irradiando sobre ele uma luz e uma vida que cura e eleva a dignidade
da pessoa humana (GS 41), consolida a unidade da sociedade (GS 42) e dá um
sentido e um significado mais profundo a toda a atividade dos homens.
Certamente, para a Igreja, a plenitude e a perfeição da vocação humana se
alcança com a inserção definitiva de cada homem na Páscoa ou triunfo de Cristo,
porém a esperança de tal realização definitiva, antes de adormecer, deve
«avivar a preocupação de aperfeiçoar esta terra onde cresce o corpo da nova
família humana, o que pode, de certa maneira, antecipar a visão do novo século.
Não confundimos progresso temporal com Reino de Cristo; entretanto, o
primeiro, «enquanto pode contribuir a ordenar melhor a sociedade humana,
interessa em grande medida o Reino de Deus» (GS 39) . A busca cristã da justiça
é uma exigência do ensinamento bíblico. Todos os homens, somos apenas humildes
administradores dos bens. Na busca da salvação devemos evitar o dualismo que
separa as tarefas temporais da santificação. Apesar de estarmos rodeados de
imperfeições, somos homens de esperança. Cremos que o amor a Cristo e a nossos
irmãos será não somente a grande força libertadora da injustiça e da opressão,
mas também e principalmente a inspiradora da justiça social, entendida como
concepção de vida e como impulso para o desenvolvimento integral de nossos
povos.
Nossa missão
pastoral é essencialmente um serviço de inspiração e de educação das
consciências dos fiéis, para ajudar-lhes a perceber as exigências e
responsabilidades de sua fé, em sua vida pessoal e social. Dentro dessa perspectiva,
a Segunda Conferência Episcopal quer evidenciar as mais importantes para os
países de nosso continente, tendo em conta o juízo de valor que, sobre a
situação econômica e social do mundo de hoje, emitiram os últimos documentos
do magistério da Igreja, e que no continente latino-americano tem plena
vigência.
A Igreja
latino-americana julga dever orientar-se para a formação de comunidades
nacionais, que refletem uma organização global, onde toda a população, porém,
especialmente as classes populares, tenha, através de estruturas territoriais
e funcionais, uma participação receptiva e ativa, criadora e decisiva, na
construção de uma nova sociedade. Essas estruturas intermediárias entre a
pessoa e o Estado devem ser organizadas livremente, sem uma intervenção
indevida da autoridade ou de grupos dominantes, no seu desenvolvimento e na
sua participação concreta na realização do bem comum total. Constituem a trama
vital da sociedade. São também a expressão real da liberdade e da
solidariedade dos cidadãos.
Sem desconhecer o
caráter insubstituível da família, como grupo natural, consideramo-1a aqui como
estrutura intermediária, posto que o conjunto de famílias deve assumir sua
função no processo de transformação social. As famílias latino-americanas deverão
organizar seu potencial econômico e cultural para que suas legitimas necessidades
e aspirações sejam levadas em conta, dentro dos setores onde se tomam as
decisões fundamentais, que podem ou promovê-las ou prejudicá-las. Deste modo,
assumirão um papel representativo e de participação eficiente na vida de
comunidade global. Além da dinâmica que lhes cabe desencadear no conjunto de
famílias de cada país, é necessário que os governos estabeleçam uma legislação
e uma sadia e atualizada política familiar.
A II Conferência
Episcopal Latino-Americana, dirige-se a todos aqueles que, com o esforço
diário, vão criando os bens e serviços que permitem a existência e o desenvolvimento
da vida humana. Pensamos muito especialmente nos milhões de homens e mulheres
latino-americanos, que constituem o setor camponês e operário. Eles, na sua
maioria, sofrem, esperam e se esforçam por uma mudança que humanize e
dignifique seu trabalho. Sem desconhecer a totalidade do significado humano do
trabalho, aqui o consideramos como estrutura intermediária, enquanto constitui
a função que dá origem à organização profissional no campo da produção.
No mundo de hoje,
a produção encontra sua expressão concreta na empresa, tanto industrial como
rural, que constituem a base fundamental e dinâmica do processo econômico
global. O sistema empresarial latino-americano e, devido a ele, a economia
atual, corresponde a uma concepção errada sobre o direito de propriedade dos
meios de produção e sobre a finalidade mesma da economia. A empresa, numa
economia verdadeiramente humana, não se identifica com os donos do capital,
porque é fundamentalmente uma comunidade de pessoas e unidade de trabalho que
necessita de capital para a produção de bens. Uma pessoa ou um grupo de
pessoas não podem ser propriedade de um indivíduo, de uma sociedade ou do
Estado. O sistema liberal capitalista e a tentação do sistema marxista, pareceriam
esgotar em nosso continente, as possibilidades de transformar as estruturas
econômicas. Ambos sistemas atentam contra a dignidade da pessoa humana; um
porque tem como pressuposto a primazia do capital, seu poder e sua
discriminatória utilização em função do lucro. O outro, embora ideologicamente
defenda um humanismo, vislumbra melhor o homem coletivo e na prática se
transforma numa concentração totalitária do poder do Estado. Devemos
denunciar que a América Latina se encontra fechada entre essas duas opções e
permanece dependente dos centros de poder que canalizam sua economia.
Fazemos, por
isso, um apelo urgente aos empresários , às suas organizações e às autoridades
políticas, para que modifiquem radicalmente a valorização, as atitudes e as
medidas relativas à finalidade, organização e funcionamento das empresas.
Merecem encorajamento todos aqueles empresários que individualmente ou através
de suas organizações fazem esforços para integrar suas empresas nas orientações
do magistério social da Igreja. Disso tudo dependerá fundamentalmente a mudança
social e econômica na América Latina, para uma economia verdadeiramente
humana.
Por outro lado,
esta transformação será fundamental para o desencadeamento do verdadeiro
processo de desenvolvimento e integração latino-americanos. Muitos de nossos
trabalhadores, se bem que venham adquirindo consciência da necessidade desta
transformação, experimentam, simultaneamente, uma situação de dependência ante
os sistemas e instituições econômicas inumanas, situação que, para muitos
deles, aproxima-se da escravidão não apenas física, mas também profissional,
cultural, cívica e espiritual.
Com a lucidez que
surge do conhecimento do homem e de suas aspirações, devemos reafirmar que nem
a acumulação de capitais, nem a implantação das mais modernas técnicas de
produção, nem os planos econômicos serão eficazes, para os trabalhadores e para
o serviço do homem, se os trabalhadores não tiverem a «unidade necessária de
direção e não estiverem incorporados, com todo o empenho do ser humano,
mediante a «ativa participação de todos, na gestão da empresa, segundo formas
estabelecidas com acerto» .(GS 68) , assim como nos níveis da macroeconomia,
decisivos no âmbito nacional e internacional.
Por isso, na
estrutura intermediária profissional, a organização sindical rural e operária
deverá adquirir a força e a presença suficiente a que os trabalhadores têm
direito.
Suas associações
deverão ter uma força de solidariedade e responsabilidade capaz de fazer valer
o direito de sua representação e participação nos meios de produção e no
comércio nacional, continental e internacional.
Assim deverão
exercer, igualmente, o direito de se fazerem representar política, social, e
economicamente, onde quer que sejam adotadas decisões relativas ao bem comum.
Simultaneamente,
as organizações sindicais deverão lutar com todos os meios ao seu alcance ,para
formar moral, econômica e sobretudo tecnicamente, aqueles que forem
designados para o exercício dessas responsabilidades.
A socialização
compreendida como processo sócio-cultural de personalização e de solidariedade
crescente, nos induz a pensar que todos os setores da sociedade, mas, nesse
caso, principalmente o setor econômico-social, deverão superar, pela justiça e
fraternidade, os antagonismos, para se transformarem em agentes do
desenvolvimento nacional e continental. Sem esta unidade, a América Latina não
conseguirá livrar-se do neocolonialismo a que está submetida, nem, em
conseqüência, realizar-se com liberdade, com suas características próprias, no
campo cultural, sóciopolítico e econômico.
A II Conferência
Episcopal não pretende deixar de expressar sua preocupação pastoral pelo amplo
setor camponês, que embora compreendido implicitamente em tudo o que foi dito,
requer, por suas características especiais no continente, uma atenção imediata.
Embora se deva
considerar a diversidade de situações e recursos em países diferentes, não há
dúvida de que existe um denominador comum em todas elas: a necessidade de uma
promoção humana para as populações camponesas e indígenas. Esta promoção não
será viável se não for realizada uma autêntica e urgente reforma das estruturas
e da política agrárias. Esta transformação estrutural e suas políticas
correspondentes não podem limitar-se a uma simples distribuição de terras.
Torna-se necessário fazer um estudo profundo das mesmas, segundo determinadas
condições que legitimam sua ocupação e seu rendimento, tanto para as famílias
camponesas como para sua contribuição à economia do país.
Isso exigirá,
além dos aspectos jurídicos e técnicos , cuja responsabilidade não é de nossa
competência, a organização dos camponeses em estruturas intermediárias eficazes,
principalmente em forma de cooperativas e estímulo para a criação de centros
urbanos nos meios rurais, que permitam o acesso da população camponesa aos bens
de sua cultura, da saúde, desenvolvimento espiritual e de sua participação nas
decisões locais e naquelas que incidam sobre a economia e a política nacional.
Esta elevação do
meio rural contribuirá para o processo necessário de industrialização e para a
participação da massa camponesa nas vantagens de uma civilização urbana.
Não há dúvida de
que o processo de industrialização é irreversível e necessário à independência
econômica e para que possamos nos integrar na moderna economia mundial. A
industrialização será um fator decisivo à elevação dos níveis de vida de
nossos povos e para que se possa proporcionar-lhes melhores condições para o
desenvolvimento integral.
Para isso é
indispensável que se revejam os planos e as macroeconomias nacionais,
salvando-se a legítima autonomia de nossos países, as justas reivindicações
das nações mais fracas e a almejada integração econômica do continente,
respeitando-se sempre os inalienáveis direitos das pessoas e das estruturas
intermediárias, como protagonistas deste processo.
Em face da
necessidade de uma transformação global nas estruturas latino-americanas,
julgamos que esta transformação tem como requisito a reforma política.
O exercício da
autoridade política e suas decisões têm como única finalidade o bem comum. Na
América Latina tal exercício e decisões freqüentemente aparecem favorecendo
sistemas que atentam contra o bem comum ou favorecem grupos privilegiados.
A autoridade
deverá assegurar eficaz e permanentemente, através de normas jurídicas, os
direitos e liberdades inalienáveis dos cidadãos e o livre funcionamento das
estruturas intermediárias.
A autoridade
política tem a missão de proporcionar e fortalecer a criação de mecanismos de
participação e de legítima representatividade da população, ou o estabelecimento
de novas formas de participação do povo se isso se tornar necessário.
Queremos insistir
na necessidade de vitalizar e fortalecer a organização municipal e comunal
como ponto do partida para a vida departamental, provincial, regional o
nacional.
A carência de uma
consciência política em nossos países torna imprescindível a ação educadora da
Igreja, com vistas a que os cristãos considerem sua participação na vida
política da nação como um dever de consciência e como o exercício da caridade
em seu sentido mais nobre e eficaz para a vida da comunidade.
Desejamos afirmar
que é indispensável a formação da consciência social e a percepção realista dos
problemas da comunidade e das estruturas sociais. Devemos despertar a
consciência social e hábitos comunitários em todos os meios e grupos
profissionais, seja no que se refere ao diálogo e à vivência comunitária
dentro do mesmo grupo, seja no que se refere a suas relações com grupos sociais
maiores (operários, camponeses, profissionais liberais, clero, religiosos,
funcionários etc.)
A tarefa de
conscientizar e educar socialmente, devei cá ser parte integrante dos planos de
Pastoral de Conjunto, em seus diversos níveis.
O sentido de
serviço e realismo exige da hierarquia de hoje uma maior sensibilidade e
objetividade sociais. Para isso se torna imprescindível o contato direto com
grupos distintos, social e profissionalmente, em encontros que proporcionem a
todos uma visão mais completa da dinâmica social. Tais encontros podem ser
considerados como instrumentos capazes de facilitar ao Episcopado uma ação
colegiada, útil para a garantia da harmonização do pensamento e das atividades
numa sociedade em transformação.
As conferências
episcopais proporcionarão a organização de cursos, encontros etc., como meio
de integração dos responsáveis pelas atividades sociais, vinculadas à Pastoral.
Além de
sacerdotes, religiosos e leigos, poder-se-ia também. convidar líderes que
trabalhassem em programas nacionais e internacionais de promoção dentro do
país. Os institutos destinados ao preparo de pessoal apostólico de outros
países, coordenarão suas atividades de pastoral social com os respectivos
organismos nacionais; além disso, promover-se-á principalmente, a realização de
semanas sociais para elaboração da doutrina social a ser aplicada a nossos
problemas. Isso permitirá formar a opinião pública a respeito.
Merecem especial
atenção os homens-chave, ou seja, aquelas pessoas que estão em postos de
decisão e comando e cujas atitudes repercutam nas estruturas básicas da vida
nacional e internacional.
As conferências
episcopais, por isso mesmo, através de suas comissões de ação ou Pastoral
social, promoverão, junto com outros organismos interessados, a organização de
cursos para técnicos, políticos, dirigentes, operários, camponeses,
empresários e homens de cultura em todos os níveis.
É necessário que
as pequenas comunidades sociológicas de base se desenvolvam para o
estabelecimento de um equilíbrio diante dos grupos minoritários, que são grupos
que detêm o poder.
Isso só se
tornará possível mediante a ativação das mesmas comunidades e dos seus próprios
elementos naturais e atuantes, em seus respectivos meios.
A Igreja - Povo
de Deus - prestará sua ajuda aos desamparados de qualquer tipo e ambiente social,
para que tomem consciência de seus próprios direitos e saibam fazer uso deles.
Para tanto a Igreja utilizará sua força moral e procurará a colaboração de
profissionais e instituições competentes.
A “Comissão de
Justiça e Paz” deverá ser promovida em todos os países, pelo menos em nível
nacional.
Deverá ser
integrada por pessoas de alto nível moral qualificação profissional e de
representatividade nos diferentes setores sociais; deverá ser capaz de
estabelecer um diálogo eficaz com pessoas e instituições mais diretamente
responsáveis pelas decisões relativas ao bem comum, deverá denunciar tudo o que
possa lesar a justiça e colocar em perigo a paz interna e externa das
comunidades nacionais e internacionais; ajudará a buscar os meios concretos
para conseguir as soluções adequadas a cada situação.
Para o exercício
de sua missão pastoral, as conferências episcopais constituirão sua comissão
de ação ou pastoral social para a elaboração doutrinária e para assumir as
iniciativas na área de atuação da Igreja, como estimuladora da ordem temporal,
numa autêntica atitude de serviço. O mesmo vale para os níveis diocesanos.
Além disso, as
conferências episcopais e as organizações católicas devem promover a
colaboração, em âmbito continental e nacional, com as igrejas e instituições
cristãs não-católicas, dedicadas à tarefa de instaurar a justiça nas relações
humanas.
“Caritas”, que é
um organismo da Igreja (cf. PP 46) integrado na pastoral de Conjunto, não será apenas uma instituição
beneficente, mas um organismo que deve inserir-se mais operativamente no processo de desenvolvimento da América
Latina, como uma instituição verdadeiramente promocional.
A Igreja
reconhece que as instituições de ação temporal pertencem à esfera específica da
sociedade civil, ainda quando criadas e dirigidas por cristãos. Nas atuais
situações concretas esta Conferência Episcopal sente o dever de atribuir um
estímulo especial às organizações que têm como objetivo a promoção humana e a
aplicação da justiça.
A força moral e
animadora da Igreja estará consagrada, particularmente, a estimular aqueles
objetivos e se propõe a atuar, neste campo, a título supletivo e em situações
impostergáveis.
Finalmente, a II
Conferência Episcopal tem plena consciência de que o processo de socialização,
desencadeado pelas técnicas e meios de comunicação social, faz destes um
instrumento necessário e muito apto à educação social, à conscientização de
acordo com a transformação de estruturas e à vigência da justiça.
Em vista disso,
nas tarefas de promoção humana, conclama sobretudo os leigos a seu adequado
cumprimento.
Primeira parte
«Se o
desenvolvimento é o novo nome da paz», o subdesenvolvimento latino-americano,
com características próprias nos diversos países, é uma injusta situação promotora
de tensões que conspiram contra a paz.
Sistematizamos
estas tensões em três grandes grupos, destacando em cada caso aquelas variáveis
que, por exprimir uma situação de injustiça, constituem uma ameaça positiva
contra a paz em nossos países.
Ao falar de uma
situação de injustiça fazemos referência àquelas realidades que exprimem uma
situação de pecado; isto não significa de conhecer que, por vezes, a miséria em
nossos países pode ter causas naturais difíceis de superar.
Ao realizar esta
análise não ignoramos nem deixamos de valorizar os esforços positivos que se
realizam em diferentes níveis para a construção de uma sociedade mais justa.
Não os incluímos aqui porque nossa intenção é a de chamar a atenção, precisamente,
para aqueles aspectos que constituem uma ameaça ou negação da paz.
1) As diversas formas de marginalização:
sócio-econômicas, políticas, culturais, raciais, religiosas, tanto nas zonas urbanas
como nas rurais.
2) Desigualdades excessivas entre as classes
sociais: especialmente, embora não de forma exclusiva, naqueles países que
se caracterizam por um acentuado biclassismo: poucos têm muito (cultura,
riqueza, poder, prestígio) enquanto muitos nada têm. O Santo Padre descreve
esta realidade ao dirigir-se aos camponeses colombianos: «Sabemos que o
desenvolvimento econômico e social foi desigual no grande continente da
América Latina; e embora tenha favorecido os que o promoveram, em princípio,
descuidou da massa das populações nativas, quase sempre abandonadas a um
ignóbil nível de vida e por vezes tratadas e exploradas duramente» (Em Mosquera,
23-8-68).
3) Frustrações crescentes: o fenômeno
universal das expectativas crescentes assume na América Latina uma dimensão
particularmente agressiva. A razão é óbvia: as desigualdades excessivas impedem
sistematicamente a satisfação das legítimas aspirações dos setores
postergados. Geram-se assim frustrações crescentes.
Semelhante estado
de espírito constata-se também nas classes médias que, diante de graves crises,
entram em um processo de desintegração e proletarização.
4) Formas de opressão de grupos e setores
dominantes: sem excluir uma eventual vontade de opressão elas se exprimem
mais freqüentemente numa forma de insensibilidade lamentável dos setores mais
favorecidos perante a miséria dos setores marginalizados. Daí as palavras do
papa aos dirigentes: «Que vosso ouvido e vosso coração sejam sensíveis às vozes
daqueles que pedem paz, interesse justiça . . . » (celebração eucarística no
Dia do Desenvolvimento no Congresso de Bogotá).
Não é raro
comprovar que estes grupos ou setores, com exceção de algumas minorias lúcidas,
qualificam de ação subversiva toda tentativa de modificar um sistema social que
favorece a permanência de seus privilégios.
5) Poder exercido injustamente por certos
setores dominantes: como uma conseqüência normal das atitudes mencionadas,
alguns membros dos setores dominantes recorrem, por vezes, ao uso da força para
reprimir drasticamente toda tentativa de reação. Será muito fácil para eles
encontrar aparentes justificativas ideológicas (anticomunismo) ou práticas
(conservação da «ordem») para coonestar este procedimento.
6) Crescente tomada de consciência dos setores
oprimidos: tudo o que ficou dito torna-se cada vez mais intolerável diante
da progressiva tomada de consciência que os setores oprimidos fazem de sua
situação. A isto se referia o Santo Padre quando dizia aos camponeses: «Mas
hoje o problema se agravou porque tomastes consciência de vossas necessidades
e de vossos sofrimentos e não podeis tolerar que estas condições perdurem sem
apresentar-lhes solícito remédio» (Em Mosquera, idem). A visão estática descrita
nos parágrafos precedentes agrava-se quando se projeta para o futuro: a
educação de base e a alfabetização aumentarão a tomada de consciência e a
explosão demográfica multiplicará os problemas e tensões. Não se deve
esquecer, tampouco, a existência de movimentos de todo tipo, interessados, cada
vez mais, em aproveitar e exacerbar estas tensões. Portanto, se hoje a paz já
é vista seriamente ameaçada, o agravamento automático dos problemas provocará
conseqüências explosivas.
Referimo-nos aqui,
particularmente, às conseqüências que traz para nossos países sua dependência
de um centro de poder econômico em torno do qual gravitam. Daí resulta que
nossas nações, cem freqüência, não são donas de seus bens e de suas decisões
econômicas. Como é óbvio, isto não deixa de ter suas incidências no plano
político, dada a interdependência que existe entre os dois campos.
Para nós
interessa assinalar especialmente dois aspectos deste fenômeno:
a) ASPECTO
ECONÔMICO - Analisamos somente aqueles fatores que mais influem no
empobrecimento global e relativo de nossos países, constituindo uma fonte de
tensões internas e externas.
1) Distorção crescente do comércio
internacional - Por causa da perda de preço relativa aos termos de troca,
as matérias-primas valem cada vez menos em relação ao custo dos produtos manufaturados.
Isso significa que os países produtores de matérias-primas - sobretudo em se
tratando de monocultores - permanecem sempre pobres, enquanto os países
industrializados enriquecem cada vez mais. Esta injustiça, denunciada
claramente pela Populorum Progressio
(56-61), anula o eventual efeito positivo das ajudas externas; constitui, além
disso, uma ameaça permanente para a paz, porque nossos países percebem que
«uma mão tira o que a outra dá».
2) Fuga de capitais econômicos e humanos -
A busca de segurança e o critério do lucro individual leva muitos membros dos
setores abastados de nossos países a inverter seus lucros no estrangeiro. A
injustiça desse procedimento já foi denunciada categoricamente pela Populorum Progressio (24) . A isso se
acrescenta a fuga de técnicos e pessoal competente, fato tanto ou mais grave
quanto a fuga de capitais, devido ao alto custo de sua formação e valor
multiplicador de sua ação.
3) Evasão de impostos e envio de lucros e
dividendos - Diversas companhias estrangeiras que atuam em nossos meios (também
algumas nacionais) costumam burlar com sutis subterfúgios os sistemas
tributários vigentes. Constatamos também que por vezes enviam ao estrangeiro
os lucros e os dividendos sem contribuir com adequadas reversões para o
progressivo desenvolvimento de nossos países.
4) Endividamento progressivo - Não é raro
constatar que, no sistema de créditos internacionais, nem sempre são levadas
em conta as verdadeiras necessidades e possibilidades de nossos países.
Corremos assim o risco de afundarmo-nos em dívidas, cujo pagamento absorve a
maior parte de nossos lucros (PP 54) .
5) Monopólios internacionais e o imperialismo
internacional do dinheiro - Com isso queremos sublinhar que os principais
culpados da dependência econômica de nossos países são aquelas forças que,
inspiradas no lucro sem freios, conduzem à ditadura econômica e ao
«imperialismo internacional do dinheiro» condenado por Pio XI na Quadragésimo Ano e por Paulo VI na Populorum Progressio.
b) ASPECTO
POLÍTICO - Denunciamos aqui o imperialismo de qualquer matiz ideológico, que
se exerce na América Latina, em forma indireta e até com intervenções diretas.
Denunciamos aqui
um fenômeno especial de origem histórico-política, que perturba as relações
cordiais entre alguns países e levanta obstáculos a uma colaboração realmente
construtiva: sem dúvida, o processo de integração apresenta-se como uma necessidade
imperiosa para a América Latina. Sem pretender ditar normas sobre os aspectos
técnicos, realmente complexos desta necessidade, julgamos oportuno destacar seu
caráter pluridimensional. A integração, com efeito, não é um processo
exclusivamente econômico; apresenta-se antes com amplas dimensões, que abrangem
o homem total, considerado em sua totalidade: dimensão social, política, cultural,
religiosa, racial etc.
Entre os fatores
que favorecem as tensões entre os nossos países, salientamos:
1 - Um nacionalismo exacerbado em alguns países
- Já a Populorum Progressio (62)
denunciou o que de nocivo tem esta atitude, precisamente onde a fraqueza das
economias das nações exige a cooperação comum de esforços, de conhecimentos,
de meios financeiros etc.
2 - Armamentismo - Em determinados países,
verifica-se uma corrida armamentista que supera o limite do razoável.
Trata-se, muitas vezes, de uma necessidade fictícia que responde a interesses
diversos e não a uma verdadeira necessidade da comunidade nacional. A
propósito, uma frase da Populorum
Progressio é particularmente válida: «Quando tantos povos têm fome, quando
tantos lares sofrem miséria, quando tantos homens vivem submersos na ignorância,
toda corrida armamentista torna-se um escândalo intolerável».
Segunda parte
A realidade
descrita constitui uma negação da paz, tal como a entende a tradição cristã.
Três notas
caracterizam a concepção cristã da paz:
1 - A paz é,
antes de mais nada, obra da justiça (GS 73) ; ela supõe e exige a instauração
de uma ordem justa (PT 167; PP 76) na qual todos os homens possam realizar-se
como homens, onde sua dignidade seja respeitada, suas legítimas aspirações
satisfeitas, seu acesso à
verdade
reconhecido e sua liberdade pessoal garantida. Uma ordem na qual os homens não
sejam objetos, senão agentes de sua própria história. Portanto, onde existem
injustiça, desigualdade entre os homens e as nações, atenta-se contra a paz
(Mensagem de Pau1o VI, 1-1-1968) .
A paz na América
Latina, não é, portanto, a simples ausência de violências e de derramamento de
sangue. A opressão exercida pelos grupos de poder pode dar a impressão de que
a paz e a ordem estão sendo mantidas, mas na realidade, não se trata senão do
“germe contínuo e inevitável de rebeliões e guerras”(Mensagem de Paulo VI,
1-1-1968).
Não se consegue a
paz senão criando uma ordem nova que «comporte uma justiça mais perfeita entre
os homens» (PP 76) . Nesse sentido, o desenvolvimento integral do homem, a
passagem de condições menos humanas para condições mais humanas é o nome novo
da paz.
2 - A paz é, em
segundo lugar, uma tarefa permanente (GS 78) . A comunidade humana realiza-se
no tempo e está sujeita a um movimento que implica contentemente em mudanças de
estrutura, transformações de atitudes, conversão de corações.
A “tranqüilidade
da ordem”, segundo a definição agostiniana da paz, não é, portanto, passividade
nem conformismo. Não é, tampouco, algo que se adquira de uma vez por todas, é
o resultado de um contínuo esforço de adaptação às novas circunstâncias, às exigências
e desafios de uma história em mutação. Uma paz estática e aparente pode ser
alcançada com o emprego da força; uma paz autêntica implica luta, capacidade
inventiva, conquista permanente (Cf. Paulo VI, Mensagem de Natal, 1967) .
A paz não se
acha, há que construí-1a. O cristão é um artesão da paz (Mt 5,9) . Esta tarefa,
dada a situação descrita acima, reveste-se de um caráter especial, em nosso
continente; por isso, o Povo de Deus na América Latina, seguido o exemplo de
Cristo, deverá enfrentar com audácia e valentia o egoísmo, a injustiça pessoal
e a coletiva.
3 - A paz é,
finalmente, fruto do amor (GS 78), expressão de uma real fraternidade entre os
homens. Fraternidade trazida por Cristo, príncipe da paz, ao reconciliar
todos os homens com o Pai. A solidariedade humana não pode ser realizada senão
em Cristo, que dá a paz que o mundo não pode dar (cf. Jo 14,27). O amor é a
alma da justiça. O cristão que trabalha pela justiça social deve cultivar
sempre a paz e o amor em seu coração.
A paz com Deus é
o fundamento último da paz interior e da paz social. . . Por isso mesmo, onde a
paz social não existe, onde há injustiças, desigualdades sociais, políticas,
econômicas e culturais, rejeita-se o dom da paz do Senhor; mais ainda,
rejeita-se o próprio Senhor (Mt 25,31-46) .
A violência
constitui um dos problemas mais graves da América Latina. Não se pode abandonar
aos impulsos da emoção e da paixão uma decisão da qual depende todo o futuro
dos países do continente. Faltaríamos a um grave dever pastoral se não recordássemos
em termos de consciência, neste dramático dilema, os critérios que derivam da
doutrina cristã do amor evangélico.
Ninguém se
surpreenderá se reafirmarmos firmemente nossa fé na fecundidade da paz. Esse é
nosso ideal cristão. “A violência não é nem cristã nem evangélica” (Discurso
de Paulo VI em Bogotá, na celebração eucarística do Dia do Desenvolvimento,
23-8-68). O cristão é pacífico e não se envergonha disso. Não é simplesmente
pacifista, porque é capaz de lutar (ver Mensagem de Paulo VI de 1-1-1968). Mas
prefere a paz à guerra. Sabe que «as mudanças bruscas e violentas das
estruturas seriam falhas, ineficazes em si próprias, e certamente em desacordo
com a dignidade do povo, a qual exige que as transformações necessárias se
realizem de dentro, isto é, mediante uma conveniente tomada de consciência, uma
adequada preparação e efetiva participação de todos. A ignorância e as
condições de vida, por vezes infra-humanas, impedem hoje que seja assegurada»
(Discurso de Paulo VI em Bogotá, na celebração eucarística do Dia do
Desenvolvimento, 23 de agosto de 1968) .
Se o cristão
acredita na fecundidade da paz como meio de chegar à justiça, acredita também
que a justiça é uma condição imprescindível para a paz. Não deixa de ver que a
América Latina se acha, em muitas partes, em face de uma situação de injustiça
que pode ser chamada de violência institucionalizada, porque as atuais
estruturas violam os direitos fundamentais, situação que exige transformações
globais, audaciosas, urgentes e profundamente renovadoras. Não é de estranhar,
portanto, que nasça na América Latina, “a tentação da violência» (PP 30). Não
se deve abusar da paciência de um povo que suporta durante anos uma condição
que dificilmente aceitaria os que têm maior consciência dos direitos humanos.
Em face de uma
situação que atenta tão gravemente contra a dignidade do homem e, portanto,
contra a paz, dirigimo-nos, como pastores, a todos os membros do povo cristão,
para que assumam sua grave responsabilidade na promoção da paz na América
Latina.
Desejaríamos
dirigir nosso apelo, em primeiro lugar, aos que têm uma maior participação na
riqueza, na cultura ou no poder. Sabemos que existem na América Latina
dirigentes que são sensíveis às necessidades e procuram remediá-las].
Reconhecem eles que os privilegiados, em seu conjunto, exercem muitas vezes
pressão sobre os governantes, com todos os meios de que dispõem, impedindo as
mudanças necessárias. Em algumas ocasiões, esta resistência chega a adotar
formas drásticas, com destruição de vidas e de bens.
Dirigimo-lhes,
pois, um apelo urgente a fim de que a posição pacífica da Igreja não seja
invocada pela oposição, passiva ou ativa, para opor-se às transformações profundas
que são necessárias. Se mantiverem zelosamente seus privilégios e sobretudo, se
os defenderem com o emprego de meios violentos, tornam-se responsáveis, perante
a história, por provocar as «revoluções nascidas do desespero» (Discurso de
Paulo VI, em Bogotá, na celebração eucarística do Dia do Desenvolvimento, 23 de
agosto de 1968) . De sua atitude depende, portanto, em grande parte, o
pacífico porvir dos países da América Latina.
São também
responsáveis pela injustiça todos os que não agem em favor da justiça na medida
dos meios de que dispõem, e ficam passivos por temerem os sacrifícios e riscos
pessoais que implica toda ação audaciosa e realmente eficaz. A justiça e conseqüentemente
a paz conquista-se por uma ação dinâmica de conscientização e de organização
dos setores populares, capaz de urgir os poderes públicos, muitas vezes,
impotentes nos seus projetos sociais, sem o apoio popular. Finalmente, nos
dirigimos aos que, diante da gravidade da injustiça e da reação ilegítima às
mudanças, colocam suas esperanças na violência. Reconhecemos que sua atitude,
como diz Paulo VI, “tem freqüentemente sua última motivação em nobres impulsos
de justiça e solidariedade” (Discurso de Paulo VI, em Bogotá, celebração
eucarística do Dia do Desenvolvimento, 23 de agosto de 1968). Não falamos,
aqui, por puro verbalismo que não implica em nenhuma responsabilidade pessoal
e afasta as ações pacíficas e fecundas imediatamente realizáveis . . . É
verdade que a insurreição revolucionária pode ser legítima no caso «de tirania
evidente e prolongada que ofendesse gravemente os direitos fundamentais da pessoa
e danificasse perigosamente o bem comum do país» (PP 31) - provenha esta
tirania de uma pessoa ou de estruturas evidentemente injustas, - também é
certo que a violência ou “revolução armada” geralmente «acarreta novas
injustiças, introduz novos desequilíbrios e provoca novas ruínas: não se pode
combater um mal real ao preço de um mal maior» (PP 31) . Se considerarmos,
então, o conjunto das circunstâncias de nossos países e levarmos em conta a
preferência dos cristãos pela paz, a enorme dificuldade da guerra civil, sua
lógica de violência, os males cruéis que provoca, o perigo de atrair a intervenção
estrangeira - por mais ilegítima que seja, - a dificuldade de construir um
regime de justiça e de liberdade, através de um processo de violência,
ansiamos que o dinamismo do povo conscientizado ponha-se a serviço da justiça
e da paz. Fazemos nossas, finalmente, as palavras do Santo Padre, dirigidas
aos sacerdotes e diáconos em Bogotá, quando referindo-se a todos os que sofrem,
lhes disse: «Seremos capazes de compreender suas angústias e transformá-las
não em ódio e violência, mas em energia forte e pacífica para obras construtivas».
Diante das
tensões que ameaçam a paz, chegando inclusive a insinuar a tentação da
violência; diante da concepção cristã da paz que ficou descrita acima, cremos
que o Episcopado latino-americano não pode deixar de assumir responsabilidades
bem concretas, porque criar uma ordem social justa, sem a qual a paz é ilusória,
é uma tarefa eminentemente cristã. A nós, pastores da Igreja, cumpre educar
as consciências, inspirar, estimular e ajudar a orientar todas as iniciativas
que contribuem para a formação do homem. Cumpre-nos também denunciar todos
aqueles que ao irem contra a justiça, destroem a paz. .
Neste espírito
cremos oportuno avançar as seguintes linhas pastorais:
1) Despertar nos
homens e nos povos, principalmente através dos meios de comunicação social, uma
viva consciência da justiça, inspirando-lhes um sentido dinâmico de
responsabilidade e solidariedade.
2) Defender
segundo o mandato evangélico o direito dos pobres e oprimidos, urgindo nossos
governos e classes dirigentes que eliminem tudo quanto destrói a paz social:
injustiça, inércia, venalidade, insensibilidade.
3) Denunciar
energicamente os abusos e as injustiças, conseqüências das desigualdades
excessivas entre ricos e pobres, entre poderosos e fracos, favorecendo a integração.
4) Fazer com que
nossa pregação, catequese e liturgia tenham em conta a dimensão social e
comunitária do cristianismo, formando homens comprometidos na construção de um
mundo de paz.
5) Procurar que
em nossos colégios, seminários e universidades se forme um sadio espírito
crítico da situação social e se fomente a vocação do serviço. Consideramos
ainda de grande eficácia as campanhas de nível diocesano e nacional que
mobilizem a todos os fiéis e organizações levando-os a uma reflexão similar.
6) Convidar
também as diversas confissões e comunidades cristas e não-cristãs a
colaborarem nesta fundamental tarefa de nossos tempos.
7) Encorajar e
favorecer todos os esforços do povo para criar e desenvolver suas próprias
organizações de base, para a reivindicação e consolidação de seus direitos na
busca de uma verdadeira justiça.
8) Pedir o
aperfeiçoamento da administração judicial cujas deficiências freqüentemente
causam sérios males.
9) Empenhar-se
para que em muitos de nossos países se detenha e reveja a atual política
armamentista, que constitui às vezes uma carga excessivamente desproporcionada
em face às legítimas exigências do bem comum, em detrimento de urgentes
necessidades sociais. A luta contra a miséria é a verdadeira guerra que devem travar
nossas nações.
10) Convidar os
Bispos, os responsáveis das diversas confissões religiosas e os homens de boa
vontade das nações desenvolvidas para que promovam nas suas respectivas
esferas de influência, especialmente entre os dirigentes políticos e
econômicos, uma consciência de maior solidariedade com as nossas nações
subdesenvolvidas, fazendo com que sejam reconhecidos, entre outras coisas, preços
justos para nossas matérias-primas.
11) Por ocasião
do vigésimo aniversário da declaração solene dos direitos humanos, interessar
as universidades da América Latina na realização de investigações para se
verificar sua aplicação em nossos países.
12) Diante da
ação injusta que, em escala mundial intentam as nações poderosas contra a
autodeterminação dos povos fracos, que têm de sofrer os efeitos sangrentos da
guerra e da invasão, denunciar o fato, pedindo aos organismos internacionais
competentes, ação eficaz e decidida.
13) Alentar e
aplaudir as iniciativas e trabalhos de todos aqueles que nos diversos setores
da ação contribuem para a criação de uma ordem nova que assegure a paz no seio
de nossos povos.
Nesta tomada de
consciência da Igreja a respeito de si mesma, enquanto inserida na realidade
latino-americana, é-lhe indispensável a reflexão sobre a realidade da família.
Esta reflexão não
é fácil, por várias razões. Porque a idéia da família encarna-se em realidades
sociológicas sumamente diversas. Porque a família tem sofrido, talvez mais que
outras instituições, os impactos das mudanças e transformações sociais. Porque
na América Latina a família sofre de modo especialmente grave as conseqüências
«dos círculos viciosos» do subdesenvolvimento: más condições de vida e
cultura, baixo nível de salubridade, baixo poder aquisitivo etc.,
transformações que nem sempre se podem captar adequadamente.
1) A família
sofre, na América Latina, como também em outras partes do mundo, a influência
de quatro fenômenos sociais fundamentais:
a) Passagem de
uma sociedade rural a uma sociedade urbana, o que leva uma família de tipo
patriarcal a um novo tipo de família, de maior intimidade, com melhor
distribuição de responsabilidades e maior dependência de outras
micro-sociedades.
b) O processo de
desenvolvimento implica em abundantes riquezas para algumas famílias,
insegurança para outras e marginalidade social para as restantes.
c) O rápido
crescimento demográfico, que não deve ser tomado como a única variável
demográfica e muito menos como a causa de todos os males da América Latina,
engendra vários problemas tanto de ordem sócio-econômica como de ordem
ético-religiosa.
d) O processo de
socialização, que subtrai à família alguns aspectos de sua importância social e
de suas zonas de influência, mas deixa intactos seus valores essenciais e sua
condição de instituição básica de sociedade global.
2) Estes
fenômenos produzem na família concreta da América Latina algumas repercussões
que se traduzem em problemas de certa gravidade. Na impossibilidade de
catalogá-los todos, apontamos os que parecem ter maior transcendência,
incidência mais freqüente ou maior repercussão sócio-pastoral.
a) Baixíssimo
índice de casamento. A América Latina registra os mais baixos índices de
casamentos em relação à sua população. Isto indica uma alta porcentagem de
uniões ilegais, aleatórias e quase sem estabilidade, com todas as conseqüências
que derivam de tal situação.
b) A alta
porcentagem de nascimentos ilegítimos e de uniões ocasionais é um fator que
pesa fortemente sobre a explosão demográfica.
c) Crescente e
alto índice de desagregação familiar, seja pelo divórcio tão facilmente aceito
e legalizado em não poucas regiões, seja por abandono do lar (quase sempre por
parte do pai), seja pelas desordens sexuais nascidas de uma falsa noção de
masculinidade.
d) Acentuação do
hedonismo e do erotismo como resultante da asfixiante propaganda propiciada
pela civilização de consumo.
e) Sérios
problemas de moradia por causa de insuficiente e defeituosa política a
respeito desse problema.
f) Desproporção
entre os salários e as condições reais da família.
g) Má
distribuição dos bens de consumo e de civilização, como: alimentação,
vestuário, trabalho, meios de comunicação, descanso, diversões, cultura etc.
h)
Impossibilidade material e moral para muitos jovens de constituir dignamente
uma família, o que provoca o surgimento de muitas células familiares
deterioradas.
Nosso dever
pastoral é fazer um premente apelo aos que governam e a todos os que possuem
alguma responsabilidade a respeito, para que dêem à família o lugar que lhe
corresponde na construção de uma cidade temporal digna do homem, ajudando-a a
superar os graves males que a afligem e impedem sua plena realização.
«A força e o
vigor da instituição matrimonial e familiar se evidenciam igualmente: as
profundas mudanças sociais contemporâneas, não obstante as dificuldades a que
dão origem, manifestam muitas vezes, de várias maneiras, a verdadeira índole
dessa instituição» (GS 47) .
É portanto
necessário ter em conta os valores fundamentais que a doutrina da Igreja
atribui à família cristã para que a ação pastoral leve as famílias
latino-americanas a conservar ou a adquirir esses valores que as capacitem a
cumprir sua missão.
Entre eles,
dentro das linhas de reflexão desta conferência, queremos assinalar três
especificamente: a família formadora de pessoas, educadora na fé, promotora do
desenvolvimento.
“A família
recebeu diretamente de Deus a missão de ser célula primeira e vital da
sociedade” (AA 11,3).
«É, pois, dever
dos pais, criar um ambiente de família animado pelo amor, pela piedade para
com Deus e para com os homens que promova a educação íntegra, pessoal e social
dos filhos».
«Continua
impor-se a cada homem o dever de salvar a integridade de sua personalidade, no
qual sobressaem os valores de sua inteligência, vontade, consciência e fraternidade.
. . Como mãe e alimentadora desta educação acha-se em primeiro lugar a família»
(GS 61) .
Essa doutrina do
Concílio Vaticano II nos faz ver a urgência de a família cumprir sua tarefa de
formar personalidades integrais, e para tanto conta com muitos elementos.
Realmente a
presença e influência dos modelos distintos e complementares do pai e da mãe
(masculino e feminino), o vínculo do afeto mútuo, o clima de confiança,
intimidade, respeito e liberdade, o quadro de vida social com uma hierarquia
natural mas matizada pelo clima de afeto, tudo converge para que a família se
torne capaz de plasmar personalidades fortes e equilibradas para a sociedade.
“Os esposos
cristãos são para si mesmos, para seus filhos e demais familiares, cooperadores
da graça e testemunhas da fé. São para seus filhos os primeiros pregadores e
educadores na fé” (AA 11) e devem «inculcar a doutrina crista e as virtudes
evangélicas aos filhos amorosamente recebidos de Deus» (LG 41, 5), e realizar
esta missão «mediante a palavra e o exemplo» (LG 11), de tal maneira que «graças
aos pais, que precederão com o exemplo e a oração na família, os filhos e
ainda os demais que
vivem no círculo
familiar, encontrarão mais facilmente o caminho do sentido humano, da salvação
e da santidade».
Sabemos que
muitas famílias da América Latina foram incapazes de se tornarem educadoras na
fé, ou por não estarem bem constituídas, ou por estarem desintegradas e
outras, ainda, porque vêm dando esta educação em termos de mero
tradicionalismo, às vezes até com aspectos míticos e supersticiosos. Daí a
necessidade de se dotar a família atual de elementos que lhe restituam a
capacidade evangelizadora, de acordo com a doutrina da Igreja.
«A família é a
primeira escola das virtudes sociais necessárias às demais sociedades. . . É aí
que os filhos fazem a primeira experiência de uma sã sociedade humana . . . É
através dela que os filhos vão sendo introduzidos gradativamente na sociedade
civil e na Igreja (GS 3) .
Além disso, «a
família é a escola do mais rico humanismo» (GS 52), e o «humanismo completo é
o desenvolvimento integral».
E considerando
que «na família convivem diversas gerações que se ajudam mutuamente para
adquirir uma sabedoria mais completa e estabelecer os direitos das pessoas com
as demais exigências da vida social, sabemos que ela constitui o fundamento da
sociedade» (GS 2).
«Nela, os filhos,
num clima de amor, aprendem, juntos, com maior facilidade a reta hierarquia
dos valores, ao mesmo tempo em que se imprime, de modo natural, na alma dos
adolescentes, à medida que vão crescendo formas aprovadas de cultura» (GS 61)
.
«Aos pais cabe
preparar, no seio da família, os filhos para conhecerem o amor de Deus para com
todos os homens; ensinar-lhes, gradativamente, sobretudo pelo exemplo, a
solicitude pelas necessidades materiais e espirituais do próximo» (AAEE), e
assim a família cumprirá sua missão e promoverá a justiça e demais boas obras a
serviço de todos os irmãos que padecem necessidade (AA) .
Por isso, «o bem-estar da pessoa e da
sociedade humana está ligado estreitamente a uma situação favorável da
comunidade conjugal e familiar» (GS 47), pois ela é um fator importantíssimo no
desenvolvimento.
«Por isso todos os que têm influência nas
comunidades e grupos sociais devem trabalhar eficazmente para a promoção do
matrimônio e da família» (GS 52) .
A questão
demográfica em nosso continente reveste-se de uma complexidade e delicadeza
peculiares: é certo que existe um rápido crescimento da população, devido,
menos ao índice de nascimento, que ao índice de mortalidade infantil, baixo
mas não satisfatório, ao mesmo tempo que ao crescente índice de longevidade.
Mas é certo, também, que a maioria de nossos países sofre de subpopulação e
precisa de um aumento demográfico como fator de desenvolvimento; também é
certo que as condições sócio-econômico-culturais, excessivamente baixas, se
mostram adversas a um crescimento demográfico pronunciado.
Como pastores,
sensíveis aos problemas de nossa gente, fazendo nossas suas dores e angústias,
julgamos necessário enunciar os seguintes pontos sobre esta matéria:
l. Todo enfoque
unilateral, como toda solução simplista a respeito desses problemas são
incompletos e, portanto, equívocos. Aparece como particularmente daninha a adoção
de uma política demográfica antinatalista que tende a suplantar, substituir ou
relegar ao esquecimento uma política de desenvolvimento mais exigente, mas a
única aceitável. «Trata-se, com efeito, não de suprimir os comensais e sim de
multiplicar o pão» (Paulo VI) .
2. Neste sentido
a encíclica Humanae Vitae, com o caráter
social que nela ocupa um lugar proeminente e que a coloca ao lado da Populorum Progressio tem para nosso continente
uma importância especial, pois ante nossos problemas e aspirações a Humanae Vitae:
a) Acentua a
necessidade imperiosa de sair ao encontro do desafio dos problemas
demográficos com uma resposta integral e orientada para o desenvolvimento.
b) Denuncia toda
política fundada num controle indiscriminado da natalidade, isto é, a qualquer
preço e de qualquer maneira, sobretudo quando se torna condição de ajuda
econômica.
c) Ergue-se como
defensora dos valores inalienáveis como: o respeito à pessoa humana,
especialmente dos pobres e dos marginalizados, o valor da vida, o amor
conjugal.
d) Contém um
apelo e um estímulo à formação integral das pessoas mediante uma auto-educação
dos casais, cujos elementos principais são: o autodomínio, a rejeição de
soluções fáceis, mas perigosas por serem alienantes e deformadoras, a
necessidade da graça de Deus para o cumprimento da lei, a fé como estimuladora
da existência e um humanismo novo, livre do erotismo da civilização burguesa
etc.
3) A aplicação da
Encíclica na parte a que se refere à ética conjugal, como o reconhece o próprio
papa: «aparecerá facilmente aos olhos de muitos como difícil e até impossível
na prática” (n. 20).
Conscientes
dessas dificuldades e sentindo na alma as indagações e angústias de todos os
nossos filhos e empenhados em oferecer nosso apoio a todos indistintamente,
mas de modo particular àqueles que escutam a palavra do papa e procuram viver o
ideal que ela propõe, indicamos os seguintes pontos:
a) O ensinamento
do magistério na Encíclica é claro e inequívoco a respeito da exclusão dos
meios artificiais para tornar voluntariamente infecundo o ato conjugal (HV).
b) Mas o próprio
Santo Padre reafirmou, ao inaugurar esta conferência: «Esta norma não
constitui uma cega corrida para a superpopulação nem diminui a responsabilidade,
nem a liberdade dos cônjuges, a quem não se proíbe uma honesta e razoável
limitação da natalidade, nem impede os meios terapêuticos legítimos, nem o
progresso das investigações científicas” (Discurso ao inaugurar a II
Conferência Episcopal Latino-americana) .
c) A vida sacramental,
sobretudo como caminho para uma progressiva maturidade humana e cristã do matrimônio,
é um direito e, mais ainda, um dever, e corresponde a nós, pastores, facilitar
esse caminho aos casais cristãos.
d) A ajuda mútua
que os casais se proporcionam ao reunirem-se, apoiados por peritos em ciências
humanas e sacerdotes imbuídos do espírito pastoral, pode ser inestimável aos
que, apesar de suas dificuldades, procuram alcançar o ideal visado.
e) Formulamos o
propósito, e procuraremos cumpri-lo, não só de prestar «nosso serviço às almas
que lutam com essas dificuldades, com o coração de bom pastora (HV, e discurso
de abertura da II Conferência), mas também, e de modo especial, de hipotecar
nossa solidariedade aos casais que sofrem, por meio do exemplo de nossa própria
abnegação pessoal e coletiva, na pobreza real, no celibato assumido com
sinceridade e vivido com seriedade e alegria, na paciência e dedicação aos
homens, na obediência à palavra de Deus e, sobretudo, na caridade elevada até
ao heroísmo.
Por vários
fatores históricos, étnicos, sociológicos e até caracterológicos, a instituição
familiar sempre teve, na América Latina, uma importância global muito grande.
É certo que nas
grandes cidades perde parte de sua importância. Nas áreas rurais, que formam
ainda maior parte do continente, apesar de todas as transformações externas, a
família continua a desempenhar um papel primordial tanto no campo social,
quanto no cultural, no ético ou no religioso.
Por isso e ainda
mais por sua condição de formadora de pessoas, educadora na fé e promotora do
desenvolvimento, mas também a fim de sanar todas as carências de que ela
padece e que tem graves repercussões, julgamos necessário dar à pastoral
familiar uma prioridade na planificação da pastoral de conjunto; sugerimos que
esta seja planejada em diálogo com os casais que, por sua experiência humana e
pelos carismas próprios do sacramento do matrimonio, podem auxiliar eficazmente
em sua elaboração.
Esta pastoral
familiar deve conter, entre outras coisas, as seguintes metas e orientações
fundamentais:
1. Procurar,
desde os anos da adolescência, uma sólida educação para o amor que integre e
ao mesmo tempo sobrepasse a simples educação sexual, inculcando nos jovens de
ambos os sexos a sensibilidade e a consciência dos valores essenciais : amor,
respeito, dom de si mesmo etc.
2. Difundir a
idéia e facilitar, na prática, uma preparação para o matrimônio, acessível a
todos os que vão se casar e tão integral quanto possível: física, sociológica,
jurídica, moral e espiritual.
3. Elaborar e
difundir uma espiritualidade matrimonial baseada simultaneamente numa clara
visão do leigo no mundo e na Igreja, e numa teologia do matrimônio como
sacramento.
4. Inculcar nos
jovens em geral e sobretudo nos casais jovens a consciência e a convicção de
uma paternidade realmente responsável (noção esta de primeiríssima importância
neste continente tão marcado pela praga dos nascimentos ilegítimos) .
5. Despertar nos
esposos a necessidade do diálogo conjugal que os leve à unidade profunda e a
um espírito de co-responsabilidade e colaboração.
6. Facilitar o
diálogo entre pais e filhos que ajude a superar, no seio da família, o conflito
de gerações e torne o lar “um lugar onde se realize o encontro das gerações”
(GS).
7. Fazer com que
a família seja verdadeiramente uma «igreja doméstica» : comunidade de fé, de
oração, de amor, de ação evangelizadora, escola de catequese etc.
8. Levar todas as
famílias a uma generosa abertura para as outras famílias, inclusive de
concepções cristãs diferentes; e sobretudo para as famílias marginalizadas ou
em processo de desintegração; abertura para a sociedade, para o mundo e para a
vida da Igreja.
Queremos,
finalmente, estimular os casais que se esforçam por viver a santidade conjugal
e realizam o apostolado familiar, bem como os que, «de comum acordo, de forma
bem ponderada, aceitam com magnanimidade uma prole mais numerosa para educá-1a
condignamente» (GS 50) .
Bem planejada e
bem executada mediante os movimentos familiares, tão meritórios, ou mediante
outras formas, a pastoral familiar contribuirá, certamente, para fazer de
nossas famílias uma força viva (e não, como poderia acontecer, um peso morto) a
serviço da construção da Igreja, do desenvolvimento e da realização das necessárias
transformações em nosso continente.
Introdução
Esta Conferência
do Episcopado Latino-americano, que teve o propósito de entrosar a Igreja no
processo de transformação dos povos latino-americanos, fixa muito especialmente
sua atenção na educação, como um fator básico e decisivo no desenvolvimento do
continente.
Devemos
reconhecer, antes de mais nada, que têm sido feitos esforços consideráveis em
quase todos os nossos países para estender a educação em seus diversos níveis e
são grandes os méritos que, neste esforço, correspondem tanto aos governos como
à Igreja e aos demais setores responsáveis pela educação.
Contudo, o
panorama geral da educação apresenta-se a nós, ao mesmo tempo, com
características de drama e de repto. Ao dizer isto, não nos anima um espírito
pessimista, mas um desejo de superação.
Considerando a
urgência do desenvolvimento integral do homem e de todos os homens na grande
comunidade latino-americana, os esforços educativos padecem de sérias
deficiências e inadequações.
Existe, em
primeiro lugar, o vasto setor dos homens «marginalizados» da cultura, os
analfabetos e especialmente os analfabetos indígenas, privados por vezes até
do benefício elementar da comunicação por meio de uma língua comum. Sua
ignorância é uma escravidão inumana. Sua liberação, uma responsabilidade de
todos os homens latino-americanos. Devem ser libertados de seus preconceitos e
superstições, de seus complexos e inibições, de seus fanatismos, de sua
tendência fatalista, de sua incompreensão temerosa do mundo em que vivem, de
sua desconfiança e de sua passividade.
A tarefa de
educação destes irmãos nossos não consiste propriamente em incorporá-los nas
estruturas culturais que existem em torno deles, e que podem ser também
opressoras, mas sim em algo muito mais profundo. Consiste em capacita-los para
que, eles próprios, como autores de seu próprio progresso, desenvolvam de uma
maneira criadora e original, um mundo cultural, em acordo com sua própria
riqueza e que seja fruto de seus próprios esforços, especialmente no caso dos
indígenas, devem-se respeitar os valores próprios de sua cultura.
A educação formal
ou sistemática se estende cada vez mais para as crianças e os jovens
latino-americanos, embora grande número deles fique ainda fora dos sistemas
escolares. Qualitativamente, está longe de corresponder àquilo que exige nosso
desenvolvimento, considerando-se o futuro.
Sem esquecer as
diferenças que existem relativamente aos sistemas educativos nos diversos
países do continente, parece-nos que o seu conteúdo programático é em geral
demasiado abstrato e formalista. Os métodos didáticos estão mais preocupados
com a transmissão dos conhecimentos do que com a criação de um espírito
crítico. Do ponto de vista social, os sistemas educativos estão orientados
para a manutenção das estruturas sociais e econômicas imperantes, mais do que
para sua transformação. É uma educação uniforme, em um momento em que a comunidade
latino-americana despertou para a riqueza de seu pluralismo humano; é passiva,
quando já soou a hora para nossos povos de descobrirem seu próprio ser, pleno
de originalidade; está orientada no sentido de sustentar uma economia baseada
na ânsia de «ter mais», quando a juventude latino-americana exige “ser mais”,
na posse de sua auto-realização pelo serviço e no amor.
Em especial, a
formação profissional de nível médio e superior sacrifica com freqüência a
profundidade humana, em nome do pragmatismo e do imediatismo, para ajustar-se
às exigências do mercado de trabalho. Este tipo de educação é responsável pela
colocação do homem a serviço da economia e não desta a serviço do homem.
Neste momento
aflora também uma preocupação nova pela educação assistemática, de crescente
importância: meios de comunicação social, movimentos juvenis e tudo quanto
contribui para a criação de uma certa cultura popular e para o aumento do
desejo de mutação.
A democratização
da educação é um ideal que está ainda longe de ter sido atingido em todos os
níveis, sobretudo no universitário. Já que nossas universidades não levaram
suficientemente em conta as peculiaridades latino-americanas, transpondo com freqüência
esquemas de países desenvolvidos, não deram suficientemente resposta aos
problemas próprios do nosso continente. A universidade permaneceu muitas vezes
com cursos tradicionais, quase sem currículos de duração intermediária, aptos à
nossa situação sócio-econômica. Nem sempre e em todo lugar esteve devidamente aberta
para a investigação ou para o diálogo interdisciplinar, indispensável ao
progresso da cultura e ao desenvolvimento integral da sociedade.
Particularmente
quanto à Universidade católica, assinalamos uma insuficiência na instauração
do diálogo entre a teologia e os diversos ramos do saber, diálogo capaz de
respeitar a devida autonomia das ciências e de trazer a luz do Evangelho para a
convergência dos valores humanos em Cristo.
A educação
latino-americana, numa palavra, é chamada a dar uma resposta ao repto do
presente e do futuro em nosso continente. Somente assim será capaz de libertar
nossos homens das servidões culturais, sociais, econômicos e políticas que se
opõem ao nosso desenvolvimento. Quando falamos assim não perdemos de vista a
dimensão sobrenatural que se inscreve no próprio desenvolvimento o qual
condiciona a plenitude da vida cristã.
Nossa reflexão
sobre este panorama conduz-nos a propor uma visão da educação mais conforme com
o desenvolvimento integral que propugnamos para nosso continente;
chamá-1a-íamos de «educação libertadora», isto é, que transforma o educando em
sujeito de seu próprio desenvolvimento. A educação é efetivamente o meio-chave
para libertar os povos de fada servidão e para fazê-los ascender «de condições
de vida menos humanas para condições mais humanas” (PP) , tendo-se em conta
que o homem é o responsável e «o artífice principal de seu êxito e de seu
fracasso» (PP 15).
Para tanto, a
educação em todos os seus níveis deve chegar a ser criadora, enquanto deve
antecipar o novo tipo de sociedade que buscamos na América Latina; deve basear
seus esforços na personalização das novas gerações, aprofundando a consciência
de sua dignidade humana, favorecendo sua livre autodeterminação e promovendo
seu sentido comunitário.
Deve ser aberta
ao diálogo, para se enriquecer com os valores que a juventude intui e descobre
como válidos para o futuro e assim promover a compreensão dos jovens entre si
e com os adultos. Isto permitirá aos jovens recolher ao melhor do exemplo e
dos ensinamentos de seus pais e mestres e formar a sociedade de amanhã»
(Mensagem do Concílio aos Jovens) .
A educação deve,
além disso, afirmar, com sincero apreço, as peculiaridades locais e nacionais e
integrá-las na unidade pl2cral2sta do continente e do mundo. Finalmente, deve
capacitar as novas gerações para a mudança permanente e orgânica que o desenvolvimento
supõe.
Esta é a educação
libertadora de que a América Latina necessita para redimir-se das servidões
injustas e, antes de tudo, do seu próprio egoísmo. Esta é a educação reclamada
por nosso desenvolvimento integral.
Como toda
libertação já é uma antecipação da plena redenção de Cristo, a Igreja na
América Latina sente-se particularmente solidária com todo esforço educativo
tendente a libertar nossos povos. “O Espírito do Senhor está sobre mim, por
isso me enviou para evangelizar os pobres” (Isaías). Cristo pascal, “imagem do
Deus invisível”, é a meta que o desígnio de Deus estabelece para o desenvolvimento
do homem, para que «alcancemos todos a estatura do homem perfeito” (Et 1,4-13)
.
Por isso, todo
«crescimento em humanidade» (PP) capacita-nos a «reproduzir a imagem do Filho,
para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos» (Rom 8,29).
A Igreja, no que
se refere à sua missão específica, recomendada por seu divino fundador, deve
promover e fomentar a educação cristã a que todos os batizados têm direito,
para que alcancem a maturidade de sua fé. Enquanto servidora de todos os
homens, a Igreja busca por meio de seus membros, especialmente pelos leigos,
colaborar nas tarefas de promoção cultural humana sob todas as formas que
interessam à sociedade. No exercício deste direito e serviço, juntamente com
os demais setores responsáveis, a obra educadora da Igreja não deve ser
obstaculizada por discriminações de qualquer espécie.
Esta é a visão
alentadora que, sobre a educação na América Latina, apresenta hoje a Igreja.
Ela, isto é, todos os cristãos, empregarão seus esforços, com humildade, desinteresse
e desejo de servir, na tarefa de criar a nova educação exigida pelos nossos povos,
neste despertar de um novo mundo.
A Conferência
Episcopal Latino-americana recomenda os seguintes critérios e orientações:
1.1. Reconhecendo
a transcendência da educação sistemática para a promoção do homem, em escolas
ou colégios, convém não identificar a educação com qualquer dos instrumentos
concretos. Dentro do conceito educativo moderno, esta transcendência é enorme,
pois a educação é a maior garantia para o desenvolvimento das pessoas e do
progresso social; já que conduzida corretamente para os autores do
desenvolvimento; e é também ela a melhor distribuidora dos frutos do
progresso, que são as conquistas culturais da humanidade, constituindo-se no
elemento mais rentável da nação.
1.2. Este
conceito ultrapassa a mera institucionalidade dos centros docentes e projeta
sua dinâmica apostólica em outros setores que reclamam urgentemente a presença
e o compromisso da Igreja. Por isso, a Conferência Episcopal faz um apelo aos
responsáveis pela educação para que ofereçam oportunidades educativas a todos
os homens, em vista da posse sempre maior de seu próprio talento e de sua
própria personalidade, a fim de que, através dela, consigam alcançar, por si
próprios, a sua integração na sociedade, com plenitude de participação social,
econômica, cultural, política e religiosa.
Exorta, portanto,
os educadores ao cumprimento de seus deveres e à guarda de seus direitos. A
Igreja, de seu lado, por sua missão de serviço, compromete-se a utilizar todos
os meios a seu alcance.
1.3. Dirige-se em
primeiro lugar aos pais de família,
«os primeiros e principais educadores». Não podem ficar marginalizados do
processo educativo. É urgente auxiliá-los a tomarem consciência de seus deveres
e direitos e facilitar-lhes a participação direta nas atividades e na organização
dos centros docentes, através das Associações de Pais de Família, que devem ser
criadas ou encorajadas onde existirem, ao nível local, nacional e
internacional.
1.4. No que se
refere aos educandos, insiste para
que se leve em conta sua problemática. A juventude pede para ser ouvida com
relação à sua própria formação. É preciso não esquecer que o aluno tende para
seu auto-aperfeiçoamento, e por isso é preciso apresentar-lhe os valores, a
fim de que ele adote uma atitude de aceitação pessoal em face deles. A
auto-educação, que deve ser ordenada com sabedoria, é requisito indispensável
para alcançar a verdadeira comunidade de educandos.
1.5. Quanto aos educadores é preciso antes de mais nada
valorizar sua missão decisiva na transformação da sociedade e chegar a uma
decisão consciente e corajosa na preparação, seleção e promoção do
professorado.
A seleção e a
promoção deverão insistir fundamentalmente nos dotes humanos de personalidade
e atitude de serviço em permanente evolução; e para a preparação deve a Igreja
latino-americana apoiar os institutos de formação do pessoal docente, confessional
ou não.
A Igreja deve,
além disso, trabalhar para que todas as tarefas sociais lhes sejam retribuídas
convenientemente, colaborando com eles em suas justas reivindicações.
1.6. Dentro da
comunidade educacional ocupam hoje lugar prioritário os grupos juvenis, que vencem a distância crescente entre o mundo
adulto e o mundo dos jovens. Por isso, a Conferência Episcopal recomenda a
formação de movimentos juvenis que realizem toda sorte de atividades, de
acordo com seus próprios interesses e com uma direção suficiente, gradual e
cada vez maior dos próprios jovens. Além disso, aos que tiverem qualidades
humanas apropriadas devem ser dadas oportunidades de se formarem como líderes.
1.7. A Igreja
toma consciência da suma importância da educação de base. Em atenção ao grande
número de analfabetos e marginalizados na América Latina, a Igreja, sem poupar
sacrifício algum, se comprometerá a promover a educação de base, que não visa
somente alfabetizar mas também capacitar o homem para convertê-1o em agente
consciente de seu desenvolvimento integral.
2.1. A Igreja,
servidora da humanidade, tem-se preocupado, ao longo de sua história, com a
educação, não só catequética, mas integral do homem. A II Conferência Geral do
Episcopado Latino-americano reafirma esta atitude de serviço e continuará preocupando-se,
por meio de seus Institutos Educacionais, aos quais reconhece plena validez, em
prosseguir nesta tarefa adaptada às mudanças históricas. Assim, incentiva
todos os educadores católicos e congregações docentes a prosseguirem
incansavelmente em sua abnegada função apostólica e exorta-os à sua renovação e
atualização, dentro da linha proposta pelo Concílio e por esta Conferência.
2.2. Recomenda,
portanto, a obtenção dos títulos correspondentes ao exercício de sua profissão
educadora.
2.3. Procure-se
aplicar a recomendação do Concílio, relativa a uma efetiva democratização da
escola católica, a fim de que todos os setores sociais, sem discriminação
alguma, tenham acesso a ela e nela adquiram uma autêntica consciência social
que enforme sua vida.
2.4. A escola
católica deverá:
a) Ser uma
verdadeira comunidade formada por todos os elementos que a integram;
b) Integrar-se na
comunidade local e estar aberta à comunidade nacional e latino-americana;
c) Ser dinâmica,
viva e estar em contínua experimentação franca e leal;
d) Estar aberta
ao diálogo ecumênico;
e) Partir da
escola para a comunidade, transformando a mesma escola em centro cultural,
social e espiritual da comunidade; partir dos filhos para chegar aos pais e à
família; partir da educação escolar para chegar aos demais ambientes
educacionais.
2.5. A fim de
conseguir uma escola católica, aberta e democrática, esta Conferência Episcopal
apóia o direito que os pais e os alunos têm de escolherem sua própria escola e
de obter os meios econômicos necessários, dentro das exigências do bem comum.
A II Conferência
Geral do Episcopado Latino-americano lembra às Universidades católicas:
3.1. Que devem
ser antes de tudo universidades; isto
é, órgãos superiores, onde a investigação e a procura da verdade seja um
trabalho comum entre professores e alunos e, desta forma, se crie a cultura em
suas diversas manifestações.
3.2. Para
alcançar este objetivo as Universidades católicas devem estabelecer o diálogo
entre as disciplinas humanas e o saber teológico, em íntima conexão com as exigências
mais profundas do homem e da sociedade.
Para isso o
ensino teológico deve estar em todos os setores da universidade, em harmônica
integração. Para este fim procurarão ter sua própria faculdade de teologia, ou,
pelo menos, um instituto superior de formação teológica ( GE 2) .
3.3. De acordo
com o Concílio Vaticano II e a PP, as Universidades católicas devem esforçar-se
por integrar ativamente seus professores, alunos e graduados na comunidade
universitária, suscitando sua respectiva responsabilidade e participação na
vida e atividade universitária, na medida em que as circunstâncias concretas o
aconselhem.
3.4. A
universidade deve estar integrada na vida nacional e poder responder com
espírito criador e coragem às exigências do próprio país. Deverá auscultar as
necessidades reais, para o estabelecimento de suas faculdades e institutos e
para estabelecer, simultaneamente, as carreiras intermediárias de capacitarão
técnica, tendo em vista o desenvolvimento da comunidade, do país e do continente.
3.5. Para a
constante renovação das tarefas universitárias, é importante promover uma
permanente avaliação dos métodos e estruturas de nossas universidades.
4.1. Dada a
complexidade atual dos problemas educacionais nos países latino-americanos, a
pastoral educacional não pode ser concebida como uma série de atividades e
normas desconexas, mas sim como resultado de um verdadeiro planejamento,
sempre renovado e composto dos seguintes elementos :
a) Reconhecimento
das urgências na pastoral de conjunto;
b) Elaboração das
metas educacionais, fixando as prioridades;
c) Censo e
ordenação dos recursos humanos disponíveis;
d) Censo dos
instrumentos e meios institucionais, financeiros
e outros;
e) Elaboração das
etapas do plano.
4.2. Nos assuntos
de pastoral educacional, é conveniente que se procure gradualmente, dentro do
respeito às pessoas e grupos, uma
adequada articulação entre os organismos episcopais de educação e os organismos
correspondentes das Conferências de Religiosos e das Federações de Colégios
católicos.
4.3. Compete aos
cristãos estar presentes em todas as
possíveis iniciativas do campo educacional e da cultura e informá-las para que a todos chegue o plano
divino da salvação.
4.4. Para atender
ao grande número de alunos das universidades e escolas não-católicas será
necessário organizar equipes de sacerdotes, de religiosos ou de leigos
educadores, responsáveis pelas tarefas apostólicas dessas instituições.
4.5.A atitude da
Igreja no campo da educação não pode ser a de contrapor a escola confessional à
não-confessional, a escola particular à escola oficial, e sim, a de colaboração
aberta e franca entre escola e escola, universidade e universidade, entre as
escolas e as iniciativas extra escolares de formação e de educação, entre os planos
de educação da Igreja e os do Estado; colaboração essa exigida em benefício da
comunidade universal dos homens (GM 12) .
Esta coordenação
não só está isenta de perigo para o caráter confessional das escolas católicas,
mas é antes um dever pós-conciliar das mesmas, segundo o novo conceito da
presença da Igreja no mundo de hoje.
4.6. A Igreja
deve procurar prioritariamente a melhoria das Universidades católicas
existentes, antes que promover a criação de novas instituições.
4.7. Procure-se
ainda uma coordenação efetiva entre as instituições educacionais da Igreja e os
organismos nacionais e internacionais interessados na educação.
1.1. A juventude,
tema «digno do máximo interesse e de grandíssima atualidade»[1],
constitui hoje não somente o grupo mais numeroso da sociedade latino-americana,
como também uma grande força nova de pressão. Ela se apresenta, em grande parte
do continente, como um novo corpo social (com perigo de detrimento na relação
com os outros corpos sociais) , portador de idéias próprias e valores
inerentes ao seu próprio dinamismo interno. Procura participar ativamente,
assumindo novas responsabilidades e funções, dentro da comunidade
latino-americana.
Freqüentemente,
sua impossibilidade de participação na vida da sociedade, provoca na juventude
uma certa marginalidade forçada.
1.2. Vive numa
época de crises e mudanças que são causas de conflito entre as diversas
gerações.[2]
Conflitos que estão exigindo um sincero esforço de compreensão e diálogo, tanto
da parte dos jovens como da parte dos adultos. Trata-se de uma crise que
atinge todos os níveis, e ao mesmo tempo que produz um efeito purificador, traz
também freqüentemente, a negação dos grandes valores.
1.3. Enquanto um
setor da juventude aceita passivamente as formas burguesas da sociedade
(deixando-se levar, às vezes, pelo indiferentismo religioso) , outro rejeita
com marcado radicalismo o mundo que seus pais construíram, por considerar seu
estilo de vida carente de autenticidade; rejeita igualmente uma sociedade de
consumo que massifica e desumaniza o homem. Esta insatisfação cresce de momento
a momento.
A juventude,
particularmente sensível aos problemas sociais, reclama as mudanças profundas e
rápidas que assegurem uma sociedade mais justa: exigência que, constantemente,
sente tentação de expressar por meio da violência[3].
É um fato constatável que o excessivo idealismo dos jovens os coloca facilmente
sob a ação de grupos de diversas tendências extremistas[4].
1.4. Os jovens
são mais sensíveis do que os adultos aos valores positivos do processo de
secularização. Esforçam-se por construir um mundo mais comunitário, que vislumbram,
talvez, com mais clareza do que os antepassados. Estão mais abertos a uma sociedade
pluralista e a uma dimensão mais universal da fraternidade.
A atitude
religiosa da juventude se caracteriza por recusar uma imagem desfigurada de
Deus, que, às vezes, lhe tem sido apresentada, e pela busca de autênticos valores
evangélicos.
1.5.
Freqüentemente os jovens identificam a Igreja com os bispos e os sacerdotes.
Por não terem sido chamados a uma plena participação na comunidade eclesial,
não se consideram como integrantes da Igreja. A linguagem comum da transmissão
da palavra (pregação, documentos pastorais etc.), são-lhes muitas vezes estranhos
e por isso não têm influência em suas vidas. Esperam dos pastores que não
somente divulguem princípios doutrinais, mas que os provem com atitudes e
realizações concretas. Dá-se o caso de jovens que condicionam a aceitação dos
pastores à coerência de suas atitudes com a dimensão social do Evangelho : ( «
. . . o mundo, disse Paulo VI, nos observa hoje de modo particular com relação
à pobreza e à simplicidade de vida . . . » )[5].
1.6. A tendência
a reunir-se em grupos ou comunidades juvenis, mostra-se cada vez mais forte
dentro da dinâmica dos movimentos de juventude na América Latina. Os jovens
rejeitam as organizações demasiado institucionalizadas, as estruturas rígidas
e as formas de agrupamentos massificados. As comunidades juvenis acima
referidas se caracterizam, geralmente, por serem grupos naturais (com «dimensão
humana») de reflexão evangélica e revisão de vida, em torno de um compromisso
cristão ambiental.
1.7. Sem desconhecer
o significado das ações de massa entre os jovens, o excessivo valor que a
hierarquia atribui por vezes a seus resultados (resultados que muitas vezes é
de importância numérica), dificulta a tarefa daqueles movimentos educativos e
apostólicos que se esforçam por manter uma presença de fermento e irradiação.
1.8. Os
movimentos juvenis esperam da hierarquia da Igreja um maior apoio moral, quando
se comprometem na aplicação concreta dos princípios da doutrina social enunciada
pelos pastores.
1.9. Em síntese:
a juventude oferece inegavelmente um conjunto de valores, acompanhados,
entretanto, de aspectos negativos. Mencionemos em primeiro lugar, uma
tendência à personalização, consciência de si mesmo, criatividade, que por
contraste os leva a rejeitar os valores da tradição. Possuem um idealismo
excessivo que os leva a desconhecer realidades inegáveis que terão de ser aceitas,
e adotam um inconformismo radical, cujas manifestações características ocorrem
em quase todos os países que os impulsionam a pretender construir um mundo novo
com negação absoluta do passado. Também é característica da juventude a
espontaneidade que a leva a menosprezar nem sempre com razão as formas
institucionais, as normas, a autoridade e o formalismo.
Finalmente
apresenta um conjunto de valores no plano da relação comunitária: certas
formas de responsabilidade, desejo de autenticidade e de sinceridade, uma aceitação
dos outros tais como são e um franco reconhecimento do caráter pluralista da
sociedade. Esta tendência comunitária, por sua vez, os faz correr o perigo de
fecharem-se em pequenos grupos agressivos.
Antes de passar a
considerar as atitudes concretas que se deverão adotar com relação à juventude,
será oportuno esboçar a visão geral que a Igreja tem dela.
2.1. A Igreja vê
na juventude a constante renovação da vida da humanidade e descobre nela um
sinal de si mesma: «a Igreja é a verdadeira juventude do mundo»[6].
a) Vê, portanto,
na juventude o contínuo recomeço e a persistência da vida, ou seja, uma forma
de superação da juventude. Isto não tem somente um sentido biológico mas também
sócio-cultural, psicológico e espiritual. De fato, diante das culturas que
mostram sinais de velhice e caducidade, a juventude está sendo chamada a levar
uma revitalizado; a manter a «fé na vida»s a conservar sua «faculdade de
alegrar-se com as coisas que começam»s Ela tem a tarefa de reintroduzir
constantemente o «sentido da vida»s. Renovar as culturas e o espírito significa
trazer e manter vivos novos sentidos da vida.
b) Na juventude,
assim entendida, a Igreja descobre também um sinal de si mesma. Um sinal de sua
fé, pois fé é a interpretação escatológica da existência, seu sentido pascal,
e através dele, a «novidade que o Evangelho encerrado. A fé, anúncio do novo
sentido das coisas, é a renovação e rejuvenescimento da humanidade. Nesta perspectiva
a Igreja convida os jovens a “mergulhar nas luzes da fé” se deste modo
introduzir a fé no mundo para vencer as formas espirituais da morte, quer
dizer, «as filosofias do egoísmo, do prazer, do desespero e do nada”. Filosofias
que implantam na cultura formas velhas e caducas.
A juventude é um
símbolo da Igreja, chamada a uma constante renovação de si mesma, ou seja, a
um constante «rejuvenescimento»[7].
3.1. A Igreja,
adotando uma atitude francamente acolhedora para com a juventude, saberá
distinguir os aspectos positivos e negativos que ela apresenta na atualidade.
Por um lado, quer perscrutar atentamente as atitudes dos jovens que são
manifestações dos sinais dos tempos: a juventude anuncia valores que renovam
as diversas épocas da história; quer aceitar com prazer em seu seio e em suas
estruturas a juventude e promovê-la numa ativa participação das tarefas humanas
e espirituais.
Por outro lado,
coerente com a ânsia de sinceridade que demonstra a juventude, a Igreja terá de
chamá-1a a um constante aprofundamento de sua autenticidade e a uma autocrítica
de suas próprias deficiências, apresentando-lhe então os valores permanentes
para que sejam reconhecidos por ela. Tudo isto demonstra a sincera vontade da
Igreja de adotar uma atitude de diálogo com a juventude. Dentro desta linha
pastoral a II Conferência do Episcopado Latino-americano, reconhecendo na
juventude não somente sua força numérica, mas ainda seu papel cada vez mais
decisivo no processo de transformação do continente, bem como sua importância
insubstituível na missão profética da Igreja, formula as seguintes recomendações:
I. Desenvolver,
em todos os níveis, nos setores urbanos e rurais, dentro da pastoral de
conjunto, uma autêntica pastoral da juventude. Esta pastoral haverá de tender
à educação da fé dos jovens, partindo de sua vida, de modo que eles participem
plenamente da comunidade eclesial, assumindo consciente e cristãmente seu
compromisso temporal. Esta pastoral implica:
a) A necessidade
de elaboração de uma pedagogia orgânica da juventude através da qual se
estimule no jovem uma sólida formação humana e cristã e se apóiem os esforços
em adquirir uma autêntica personalidade. Personalidade que os capacite, por
uma parte, assimilar com critério lúcido e verdadeira liberdade todos os elementos
positivos das influências que recebem através dos diversos meios de
comunicação social e lhes permita, por outra parte, fazer frente ao processo de
despersonalizado e massificação, que ataca de modo particular a juventude.
Pedagogia que eduque também no sentido (valor e relatividade) do
institucional.
b) A necessidade de um conhecimento da
realidade sócio-religiosa da juventude
constantemente atualizado.
c) A necessidade
de promover centros de investigação e estudos no que se refere à participação
da juventude na solução dos problemas do desenvolvimento.
d) Esta pastoral
exige, em particular, da parte dos ministros da Igreja, um diálogo sincero e
permanente com a juventude, tanto de movimentos organizados, como de setores
não organizados, através dos conselhos pastorais ou outras formas de diálogo.
3.3. II. A
atitude de diálogo implica responder aos legítimos e veementes reclamos
pastorais da juventude, nos quais se há de reconhecer um chamado de Deus. Por
isso, esta Segunda Conferência recomenda:
a) Que se
apresente cada vez mais nítido na América Latina o rosto da Igreja
autenticamente pobre, missionária e pascal, desligada de todo poder temporal e
corajosamente comprometida com a libertação do homem todo e de todos os
homens.
b) Que a
pregação, dos documentos pastorais, e em geral a linguagem da Igreja sejam
simples e atuais, tendo em conta a vida real dos homens de nosso tempo.
c) Que se viva na
Igreja, em todos os níveis, com caráter de serviço, um sentido de autoridade
isento de autoritarismo.
3.4. III.
Procurar que em todos os centros educacionais da Igreja e nos outros, onde ela
deve realizar sua presença se capacite os jovens, através de uma autêntica
orientação vocacional, que tenha em conta os diferentes estados de vida, para
assumirem sua responsabilidade social como cristãos no processo de mudanças na
América Latina.
I. Que se tenha
muito em conta a importância das organizações e movimentos católicos de
juventude, em particular os de caráter nacional e continental.
Que se dê maior
confiança aos dirigentes leigos e se reconheça a autonomia própria dos seus
movimentos. Que sejam eles consultados na elaboração da pastoral juvenil, em
nível diocesano, nacional e continental. Que se estimule sua ação
evangelizadora na transformação das pessoas e das estruturas.
Que se apóiem
seus esforços no sentido da formação de líderes da comunidade.
Que se distribua
mais racionalmente os sacerdotes para que haja uma maior atenção para os
movimentos juvenis.
Que se dê à
formação de assessores da juventude (sacerdotes, religiosos, religiosas e
leigos) a importância que têm num continente com uma maioria de jovens em sua
população.
3.6. II. Que se
favoreça em todos os níveis o encontro, o intercâmbio e a ação em comum dos
movimentos e organizações juvenis católicos com outras instituições de juventude.
III. Que se dê
apoio às iniciativas de caráter ecumênica, entre os grupos e organizações de
juventude, segundo as orientações da Igreja.
IV. Que se
considere a possibilidade e a conveniência de contar com a colaboração de
leigos, e entre eles de jovens, na qualidade de consultores, nos diversos
departamentos do CELAM.
Na América
Latina, na grande massa de batizados, as condições de fé, crenças e práticas
cristas são muito diversas, não só de um país para outro, como entre regiões
de uma mesma nação, e ainda entre os diversos níveis sociais.
Encontram-se
também grupos étnicos semi-pagãos; massas camponesas que conservam uma profunda
religiosidade e massas de marginalizados com sentimentos religiosos, mas de
pouca prática cristã.
Há um processo de
transformação cultural e religiosa. A evangelização do continente experimenta
sérias dificuldades que se vêm agravando face à explosão demográfica, às
migrações internas, às modificações sócio-culturais, à escassez de pessoal
apostólico e à deficiente adaptação das estruturas eclesiais.
Até agora a
Igreja contou principalmente com uma pastoral conservadora, baseada numa
sacramentalização com pouca ênfase numa prévia evangelização. Pastoral apta,
sem dúvida, para uma época em que as estruturas sociais coincidiam com as
estruturas religiosas, em que os métodos de comunicação dos valores (família, escola
. . . ) estavam impregnados de valores cristãos e onde a fé se transmitia quase
pela própria força da tradição.
Hoje, entretanto,
as próprias transformações do continente exigem uma revisão dessa pastoral, a
fim de que se adapte à diversidade e pluralidade culturais do povo
latino-americano.
A expressão da
religiosidade popular é fruto de uma evangelização realizada desde o tempo da
conquista, com características especiais. É uma religiosidade de votos e
promessas, de peregrinações e de um número infinito de devoções, baseada na
recepção dos sacramentos, especialmente do batismo e da primeira eucaristia,
recepção que tem mais conseqüências sociais que um verdadeiro influxo no
exercício da vida cristã.
Embora a conduta
moral deixe muito a desejar, observa-se, entre nossos povos, uma enorme
reserva de virtudes autenticamente cristãs, especialmente no que diz respeito à
caridade. Sua participação na vida cultural oficial é quase nula e sua adesão
à organização da Igreja é muito escassa.
Esta
religiosidade, mais do tipo cósmico, em que Deus é resposta a todas as
incógnitas e necessidades do homem, pode entrar em crise e, de fato, já começou
a entrar com o conhecimento científico do mundo que nos rodeia.
Ante esta
religiosidade se apresenta à Igreja um dilema: ou continua a ser Igreja
universal ou converte-se em seita e, portanto, não os incorpora a si. Por ser
Igreja e não seita, deverá oferecer sua mensagem de salvação a todos os homens,
correndo, talvez, o risco de que nem todos a aceitem da mesma forma e com a
mesma intensidade.
Como em toda
sociedade humana os diversos grupos de pessoas captam de modo diferente os
objetivos da organização, respondem igualmente de formas diversas aos valores
e normas que o grupo professa, os graus de participação são diversos; as
lealdade, o sentido de solidariedade nem sempre são expressos do mesmo modo.
Há, além disso,
na sociedade contemporânea, uma tendência aparentemente contraditória;
tendência às manifestações grupais no comportamento humano e, simultaneamente,
uma tendência para as pequenas comunidades onde existe melhor possibilidade de
realização como pessoas.
Do ponto de vista
da vivência religiosa, sabemos que nem todos os homens aceitam e vivem a
mensagem religiosa da mesma maneira. No nível pessoal um mesmo homem
experimenta fases distintas em sua resposta a Deus, e no nível social, nem
todos manifestam sua religiosidade nem sua fé de um modo unívoco. O povo
precisa manifestar sua fé de uma forma simples, emocional, coletiva.
Ao julgar a
religiosidade popular, não podemos partir de uma interpretação cultural
ocidentalizada das classes médias e alta urbanas e sim do significado que essa
religiosidade tem no contexto da sub-cultura dos grupos rurais e urbanos
marginalizados.
Suas expressões
podem estar deformadas e mescladas, em certa medida, com um patrimônio
religioso ancestral, onde a tradição exerce um poder quase tirânico; correm o
perigo de serem facilmente influenciadas por práticas mágicas e supersticiosas,
de revelarem um caráter mais utilitário e um certo temor ao divino, que
necessita da intervenção de seres mais próximos ao homem e de expressões mais
plásticas e concretas.
Esses tipos de
religiosidade podem ser, entretanto, balbucios de uma autêntica religiosidade,
expressa com os elementos culturais de que dispõe.
É mister recordar
aos pastores que no fenômeno religioso existem motivações distintas que, por
serem humanas, são mistas e podem corresponder ao desejo de segurança,
impotência e, simultaneamente, à necessidade de adoração, gratidão para com o
Ser supremo. Motivações que se plasmam e se expressam em símbolos diversos. A
fé chega ao homem envolta sempre numa linguagem cultural; e na religiosidade
natural do homem há germens de um chamado de Deus.
Para responder a
cada situação na qual o homem se encontra em seu caminho para Deus, há
necessidade de reafirmar a diversidade de respostas que devem ser dadas ao
homem contemporâneo e não esquecer a urgência em exigir, na medida do possível,
uma aceitação mais pessoal e comunitária da mensagem da revelação.
Uma pastoral
popular pode ser baseada nos seguintes critérios teológicos :
1. A fé, e, por
conseguinte, a Igreja, nascem e crescem em religiosidade
culturalmente diversificada nos distintos povos. Fé, que embora imperfeita,
pode encontrar-se ainda nos níveis culturais mais inferiores.
Pertence
precisamente à tarefa evangelizadora da Igreja descobrir nessa religiosidade a
«secreta presença de Deus» (AG 9) e a luz da verdade que ilumina a todos (NA
2), a luz do Verbo presente, mesmo antes da encarnação ou da pregação
apostólica, e fazer frutificar essa semente.
Sem extinguir a
mecha fumegante (cf. Ml 12,20), a Igreja aceita com alegria e respeito,
purifica e incorpora à fé os diversos “elementos religiosos” (GS 92) que estão
presentes nessa religiosidade como “semente oculta do Verbo (AG 11) e que
constituem ou podem constituir uma preparação evangélica” (LG 16) .
2. Os homens
aderem à fé e participam de diversas maneiras.
Ainda que não se
possa supor sem mais nem menos a existência da fé e por trás de qualquer
expressão religiosa aparentemente crista tampouco se pode negar, arbitrariamente,
o caráter de verdadeira adesão fiel e de participação eclesial real, embora
fraca, a toda expressão que apresente elementos espúrios ou motivações
temporais e egoístas. Com efeito, mesmo na fé, como ato de uma humanidade
peregrina no tempo, o homem depende da imperfeição das motivações mistas.
3. É igualmente
próprio da fé, emborca incipiente e débil, um dinamismo e exigência que a
levam a superar constantemente suas motivações inautênticas para firmar-se em
outras mais autênticas.
Pertence, pois,
ao ato de fé, sob o impulso do Espírito Santo, o dinamismo interior que tende
constantemente a aperfeiçoar o momento de apropriação salvífica transformando-o
em ato de doação e entrega absoluta de si.
4.
Conseqüentemente, longe de tranqüilizar-se com a idéia de que o povo
latino-americano, em seu conjunto, possui já fé; longe de estar satisfeita com
a tarefa de conservar a fé do povo em seus níveis inferiores, fracos e
ameaçados, a Igreja, na América Latina, se propõe a estabelecer e a seguir uma
linha de pedagogia pastoral, que
a) Assegure uma
séria re-evangelização das diversas áreas humanas do continente;
b) Promova
constantemente uma reconversão e uma educação de nosso povo na fé em níveis
cada vez mais profundos e maduros, seguindo o critério de uma pastoral
dinâmica, que em consonância com a natureza da fé, impulsione o povo fiel para
a dupla dimensão personalizante e comunitária.
5. Segundo a
vontade de Deus, os homens devem santificar-se e salvar-se não
individualmente, mas constituídos em comunidade (LG 9; GS 32). Esta comunidade
é convocada e congregada em primeiro lugar pelo anúncio da Palavra de Deus vivo
(PO 2 e 4) . Entretanto, não se edifica nenhuma comunidade cristã se ela não
tiver como raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia (PO 6), mediante
a qual a Igreja continuamente vive e cresce (LG 26) .
1. Pedir que se
realizem estudos sérios e sistemáticos sobre a religiosidade popular e suas
manifestações, seja em universidades católicas, seja em outros centros de
investigação sócio-religiosa.
2. Estudar e
realizar uma pastoral litúrgica e catequética adequada, não só destinada a
pequenos grupos, mas sim à totalidade do povo de Deus, partindo-se de um estudo
das sub-culturas próprias, das exigências e das aspirações dos homens.
3. Impregnar as
manifestações populares, como romarias, e peregrinações, devoções diversas, da
palavra evangélica. Rever muitas das devoções aos santos, para que não sejam
tomados apenas como intercessores, mas também como modelos de vida, de
imitadores de Cristo. Tratar das devoções e dos sacramentos de maneira que não
levem o homem a uma aceitação semi-fatalista e sim que o eduquem para se tornar
administrador com Deus, de seu destino.
4. Procurar a
formação do maior número de comunidades eclesiais nas paróquias, especialmente
nas zonas rurais ou entre os marginalizados urbanos. Comunidades que se devem
basear na Palavra de Deus e realizar-se, enquanto seja possível, na celebração
eucarística, sempre em comunhão e sob a dependência do bispo.
5. A comunidade
se formará na medida em que seus membros adquirirem um sentido de pertença que
os leve a ser solidários numa missão comum, e consigam uma participação ativa,
consciente e frutificante, na vida litúrgica e na convivência comunitária.
Para isso, se torna mister fazê-los viver como comunidade, incu1cando-lhes um
objetivo comum: alcançar a salvação mediante a vivência de fé e de amor.
6. Para a
necessária formação dessas comunidades, colocar em vigência, o quanto antes, o
diaconato permanente e convidar a uma participação mais ativa os religiosos,
religiosas e leigos.
7. A pastoral das
massas deverá adotar uma exigência cada vez maior para conseguir personalização
e vida comunitária, de modo pedagógico,
respeitando as etapas diversas no caminho para Deus. Respeito que não significará
apenas aceitação e imobilismo, mas também um convite a uma vivência mais plena
do Evangelho e a uma conversão reiterada. Para este fim, se torna necessária a
estruturação de organismos pastorais (nacionais, diocesanos, paroquiais) e a
utilização dos meios adequados, como os de comunicação social, para uma
catequese apropriada, missões baseadas sobretudo em núcleos familiares ou de
bairros etc., que dêem um sentido de vida mais de acordo com as exigências do
Evangelho.
l. As elites são,
em nosso contexto :
a) De modo geral:
os grupos dirigentes mais adiantados, dominantes no plano da cultura, da
profissão, da economia e do poder;
b) De modo
especial: dentro desses mesmos grupos, as minorias comprometidas que exercem
uma influência atual ou potencial nos distintos níveis de decisão cultural,
profissional, econômica, social ou política[8].
2. Conscientes da
dificuldade em apresentar uma classificação adequada, assinalamos, entretanto,
como pertencentes à elite cultural:
os artistas, homens de letras e universitários (professores e estudantes); à elite profissional: os médicos, os
advogados, educadores (profissões liberais) ; engenheiros, agrônomos,
planificadores, economistas, sociólogos, técnicos em comunicação social
(tecnólogos) ; à elite econômico-social:
os industriais, banqueiros, líderes sindicais (operários e camponeses),
empresários, comerciantes, fazendeiros. . . ; à elite dos poderes políticos e militares: os políticos, os que
exercem o poder judiciário, os militares . . .
3. Partindo do
ponto de vista de que se trata, em geral, de círculos específicos e compactos,
convém examinar, em primeiro lugar, suas atitudes, mentalidades e indicações em vista da transformação social, para
considerar, posteriormente, as manifestações de sua fé, seu espírito eclesial
e social, em confronto com a pastoral atual da Igreja, propondo, finalmente,
algumas recomendações pastorais.
4. A experiência mostra que é difícil
realizar uma análise exata e profunda do assunto por carência de dados
precisos, nestes diferentes setores.
Para uma análise
deste tipo, seria necessário ouvir mais os técnicos e os leigos. Entretanto
apresentamos as seguintes observações:
Por questões de
método e levando-se em conta o caráter relativo de toda tipologia - que
comporta necessariamente matizes e simplificações - e tratando-se de uma classificação
em função da transformação social, assinalaremos os seguintes grupos : os tradicionalistas ou conservadores; os progressistas
ou revolucionários, que podem ser
marxistas, esquerdistas não-marxistas, ou ideologicamente indefinidos[9].
1. Os tradicionais ou conservadores manifestam pouca ou nenhuma consciência social, têm
mentalidade burguesa e por isso não discutem o problema das estruturas
sociais. Em geral se preocupam com a manutenção de seus privilégios, que eles
identificam com a «ordem estabelecida». Sua atuação na comunidade possui um
caráter paternalista e assistencial, sem nenhuma preocupação em modificar o status quo.
Entretanto,
alguns conservadores atuam, muitas vezes, sob o influxo do poder econômico
nacional ou internacional, com alguma preocupação desenvolvimentista.
Trata-se de uma
mentalidade que freqüentemente se destaca em alguns meios profissionais, em
setores econômico-sociais e do poder estabelecido. Isto faz com que certos
setores governamentais atuem em benefício dos grupos tradicionalistas ou
conservadores, o que dá lugar à corrupção e ausência de um benéfico processo de
personalização e socialização das classes populares. Em diversas regiões as
forças militares apóiam esta estrutura, e, às vezes, intervêm para reforçá-1a.
2. Os progressistas se ocupam
preferencialmente dos meios de produção que, segundo eles, devem ser modificados
em qualidade e quantidade. Atribuem grande valor à tecnização e ao planejamento
da saciedade. Acham que o povo marginalizado deve ser integrado na sociedade
como produtor e consumidor. Dão mais ênfase ao progresso econômico que à
promoção social do povo que vise à participação de todos nas decisões que
interessem à ordem econômica e política.
É essa a
mentalidade que se observa, freqüentemente, entre os tecnólogos e os vários
organismos que procuram o desenvolvimento dos países.
3. Os revolucionários contestam a estrutura
econômico-social. Desejam a transformação radical da mesma, tanto de seus objetivos
como de seus meios. Para eles o povo é ou deve ser o sujeito dessa
transformação, de modo a participar das decisões para o ordenamento de todo o
processo social.
Esta atitude pode
ser observada com maior freqüência entre os intelectuais, pesquisadores,
cientistas e universitários.
Reconhecendo que
em todos estes ambientes muitos vivem sua fé conforme sua consciência e ainda
realizam um trabalho positivo de conscientização e promoção humana, notamos,
do ponto de vista da mudança social as seguintes manifestações desta fé :
l. No grupo dos
conservadores ou tradicionalistas se encontra, com maior freqüência, a
separação entre fé e responsabilidade social. A fé é mais a adesão a um credo e
a princípios morais. A pertença à Igreja é mais de estilo tradicional, e, às
vezes interesseira. Dentro desses grupos, mais que verdadeira crise de fé, se
verifica uma crise de religiosidade.
2. Entre os
progressistas podem ser encontradas diversas gamas de fé, desde o
indiferentismo até a vivência pessoal. Têm tendência a considerar a Igreja
instrumento mais ou menos favorável ao desenvolvimento. Nestes grupos se
percebe mais claramente o impacto da dessacralização devida à mentalidade
técnica.
Nota-se também em
alguns desses grupos, especialmente entre universitários e os profissionais
jovens, uma tendência que leva ao indiferentismo religioso ou a uma visão
humanística que exclui a religião, devido, sobretudo, à sua preocupação com os
problemas sociais.
3. Os
revolucionários tendem a identificar unilateralmente a fé com a responsabilidade
social. Possuem um sentido muito agudo do serviço ao próximo e, ao mesmo tempo,
experimentam dificuldades no relacionamento pessoal com Deus transcendente na
expressão litúrgica da fé.
Dentro destes
grupos ocorre mais freqüentemente uma crise real de fé. Quanto à Igreja,
criticam determinadas formas históricas e algumas manifestações dos representantes
oficiais da Igreja, em sua atitude e vivência concretas, frente ao social.
l. Em todos esses
ambientes a evangelização deve orientar-se para formação de uma fé pessoal,
adulta, interiormente formada, operante e constantemente em confronto com os
desafios da vida atual, nesta fase de transição.
2. Esta
evangelização deve ser relacionada com os «sinais dos tempos».
Não pode ser
atemporal nem a-histórica. Com efeito, os “sinais dos tempos”, observados em
nosso continente sobretudo na área social, constituem um «dado teológico” e
interpelação de Deus.
3. Por outro
lado, esta evangelização deve ser realizada através do testemunho pessoal e
comunitário, que se expressará de forma especial no contexto do próprio compromisso
temporal.
4. A
evangelização de que estamos falando deve tornar explícitos os valores de
justiça e fraternidade, contidos nas aspirações de nossos povos, numa
perspectiva escatológica.
5. A
evangelização precisa, como suporte, de uma Igreja-sinal.
1. É necessário
animar, dentro das elites, as minorias comprometidas, criando - enquanto
possível - equipes de base que façam uso da pedagogia da revisão da vida,
fazendo-as compreender que são, simultaneamente, apóstolos de seu próprio
ambiente, e estimulando, além disso, contatos com os demais grupos na vida paroquial,
diocesana e nacional. Esta pastoral das elites não deve ser separada da
pastoral geral da Igreja.
2. Procuremos que
os sacramentos e a vida litúrgica, com base numa relação pessoal com Deus e com
a comunidade, adquiram o sentido de apoio e desenvolvimento, o amor de Deus e
do próximo, como expressão da comunidade cristã.
3. Na formação do
clero, é preciso dar maior atenção a este tipo de pastoral especializada,
preparando-se - também mediante estudos profissionais e técnicos quando for
preciso - assessores especializados para estes grupos.
a) Levando-se em
conta o importante papel que os artistas e homens de letras estão chamados a
desempenhar em nosso continente, especialmente em relação a sua autonomia
cultural, como intérpretes naturais de suas angústias e de suas esperanças,
como promotores de valores autóctones que configuram a imagem nacional, a II
Conferência considera particularmente importante a presença animadora da
Igreja nestes setores.
b) Esta presença
deverá revestir-se de um caráter de diálogo, longe de toda preocupação
moralizante ou confessional, em atitude de profundo respeito à liberdade criadora,
sem detrimento da responsabilidade moral.
c) A Igreja
latino-americana deve dar ao homem de letras e aos artistas o seu devido lugar,
requerendo sua ajuda para a expressão estética de sua palavra litúrgica, de sua
música sacra e de seus lugares de culto.
a) Ante a urgente
necessidade de uma efetiva presença da Igreja no meio universitário, esta II
Conferência pede que se levem em conta as recomendações práticas do encontro
episcopal sobre pastoral universitária realizada em Buga, em fevereiro de 1967.
b) Da mesma
forma, pede às hierarquias locais maior compreensão dos problemas próprios dos
universitários, procurando valorizar antes de condenar indiscriminadamente, as
nobres motivações e as justas aspirações, muitas vezes contidas em suas inquietudes
e protestos, tratando de canalizá-las devidamente através de um diálogo aberto.
c) Levando-se em
conta o fato de que milhares de jovens latino-americanos estudam na Europa e
América do Norte, o CELAM procurará, de acordo com as hierarquias desses
países, dar a devida atenção pastoral aos mesmos, cuidando, simultaneamente,
de manter viva, neles, a consciência do compromisso de serviço para com seus
países de origem.
a) A experiência
demonstra que no ambiente dessas elites é possível a constituição de grupos e
organizações especializadas, cujas metas e metodologia devem manter-se em
constante revisão à luz do contexto latino-americano e da pastoral social da
Igreja.
b) Sem subestimar
as formas assistenciais de ação social, a pastoral da Igreja deve orientar
preferencialmente esses grupos para um compromisso no plano das estruturas
sócio-econômicas e que conduza às necessárias reformas das mesmas.
c) A Igreja deve
prestar uma atenção especial às minorias ativas (líderes sindicais e
cooperativas) que nos ambientes rural e operário estão realizando um importante
trabalho de conscientização e promoção humana, apoiando e acompanhando
pastoralmente suas preocupações com a transformação social.
Com relação às
forças armadas, a Igreja deve inculcar-lhes a idéia de que, além de suas
funções normais específicas, elas têm a missão de garantir as liberdades políticas
dos cidadãos, em vez de lhes pôr obstáculos. Por outro lado, as forças armadas
têm a possibilidade de educar, dentro de seus próprios quadros, os jovens recrutas
para a futura participação, livre e responsável, na vida política do país.
a) Promovam-se
contatos e diálogos entre a Igreja e o poder constituído sobre exigências da
moral social, não se excluindo, onde se torne necessário, a denúncia, enérgica
e prudente, das injustiças e dos excessos do poder.
b) A ação
pastoral da Igreja estimulará todas as categorias de cidadãos a colaborarem
nos planos construtivos dos governos e a contribuírem também por meio de uma
crítica sadia, numa oposição responsável, para progresso do bem comum.
c) A Igreja
deverá manter sempre sua independência diante dos poderes constituídos e dos
regimes que os asseguram, renunciando, se for preciso, às formas legítimas de
presença que, por causa do contexto social, a tornam suspeita de aliança com o
poder constituído e são, por isso mesmo, um contra-sinal pastoral (cf. GS 76).
d) A Igreja,
entretanto, deverá colaborar na formação política das elites, através de seus
movimentos e instituições educativas.
e) Note-se,
finalmente, que também na América Latina «com o desenvolvimento cultural,
econômico e social, se consolida na maioria o anseio de participar mais plenamente
da ordenação da comunidade política . . . A consciência mais viva da natureza
humana fez com que «surgisse o propósito de se estabelecer uma ordem
político-jurídica destinada a proteger melhor a vida pública e os direitos da
pessoa humana, como o direito de livre reunião, de livre associação, de
expressar suas próprias opiniões e de professar, particular e publicamente, a
religião» (cf. GS 73 ) .
l. Diante de um
mundo em transformação, e considerando o atual processo de maturação da Igreja
na América Latina, o movimento catequético sente a necessidade de uma profunda
renovação que expresse a vontade da
Igreja e de seus responsáveis de levar avante sua missão fundamental: educar
eficazmente a fé dos jovens e dos adultos, em todas as camadas. Falhar neste
ponto seria trair, ao mesmo tempo, a Deus, que confiou à Igreja sua mensagem,
e ao homem, que necessita dela para salvar-se.
2. A renovação
catequética não pode ignorar um fato: que nosso continente vive, em grande
parte, de uma tradição crista, e que
esta impregna, simultaneamente, a existência dos indivíduos e o contexto social
e cultural. A religiosidade popular, embora se observe um crescimento no
processo de secularização, é um elemento válido na América Latina. Não se pode
prescindir dela, dada a importância, seriedade e autenticidade com que é vivida
por muitas pessoas, sobretudo nos meios populares. A religiosidade popular
pode ser a ocasião ou ponto de partida para um anúncio da fé. Não obstante,
impõe-se uma revisão e um estudo científico dessa religiosidade, para purificá-1a
de elementos que a tornem autêntica e
para valorizar seus elementos positivos. Evitar-se-á, assim, uma estagnação
em formas do passado, algumas das quais parecem hoje, além de ambíguas,
inadequadas e até nocivas.
3. Como
conseqüência, os responsáveis pela catequese encontram-se diante de uma série
de tarefas complexas e difíceis de conjugar:
Promover a evolução de formas tradicionais de
fé, próprias de uma grande parte do público cristão, e também suscitar formas
novas.
Evangelizar e catequizar massas incontáveis de pessoas
simples, freqüentemente analfabetas, e, ao mesmo tempo, responder às
necessidades dos estudantes e dos intelectuais, que são as parcelas mais vivas
e dinâmicas da sociedade.
Purificar, quando necessário, formas
tradicionais de presença e, ao mesmo tempo, descobrir uma nova maneira de
estar presente às formas contemporâneas de expressão e comunicação numa
sociedade que se seculariza.
Assegurar, finalmente, o conjunto
dessas tarefas, utilizando todos os recursos atuais da Igreja e, ao mesmo
tempo, renunciar a formas de influência e atitudes de vida que não sejam evangélicas.
4. Ao apresentar
sua mensagem renovada, a catequese deve manifestar a unidade do plano de Deus.
Sem cair em
confusões ou em identificações simplistas, deve-se expressar sempre a unidade
profunda que existe entre o plano divino de salvação, realizado em Cristo, e
as aspirações do homem; entre a história da salvação e a história humana; entre
a Igreja, povo de Deus, e as comunidades temporais; entre a ação reveladora de
Deus e a experiência do homem; entre os dons e carismas sobrenaturais e os
valores humanos.
Excluindo assim
toda dicotomia ou dualismo no cristão, a catequese prepara o desenvolvimento
progressivo do povo de Deus para a sua realização escatológica, que tem agora
sua expressão na liturgia.
5. Por outro
lado, a catequese deve conservar sempre seu caráter dinâmico e evolutivo.
A tomada de
consciência da mensagem cristã se faz aprofundando
cada vez mais a compreensão autêntica da verdade revelada. Essa tomada
progressiva de consciência, porém, cresce na medida do surgimento das experiências
humanas, individuais e coletivas. Por isso, a fidelidade da Igreja à Revelação tem que ser e é dinâmica.
A catequese não
pode, pois, ignorar em sua renovação as mudanças econômicas, demográficas,
sociais e culturais sofridas na América Latina.
6. De acordo com
esta teologia da Revelação, a catequese
atual deve assumir totalmente as angústias e esperanças do homem de hoje, para
oferecer-lhe as possibilidades de uma libertação plena, as riquezas de uma
salvação integral em Cristo, o Senhor. Por isso, deve ser fiel à transmissão,
não somente da mensagem bíblica em seu conteúdo intelectual, mas também à sua
realidade vital encarnada nos fatos da vida do homem de hoje.
As situações históricas e as aspirações
autenticamente humanas são parte indispensável do conteúdo da catequese. E
devem ser interpretadas seriamente, dentro de seu contexto atual, à luz das
experiências vivenciais do povo de Israel, de Cristo, e da comunidade eclesial,
na qual o Espírito de Cristo ressuscitado vive e opera continuamente.
7. A América
Latina vive hoje um momento histórico, que a catequese não pode ignorar: o
processo da transformação social, exigido pela atual situação de necessidade e injustiça em que se encontram marginalizados grandes setores da
sociedade. As formas desta evolução global e profunda poderão ser diversas: progressivas e mais ou menos rápidas. E
cabe à catequese ajudar na evolução integral do homem, dando-lhe seu autêntico
sentido cristão, promovendo sua motivação nos catequizados e orientando-a
para que seja fiel ao Evangelho.
8. É necessário ressaltar, também, as exigências do pluralismo numa pastoral
latino-americana. As situações em que se desenvolve a catequese são muito
diversas: desde as de tipo patriarcal, em que as formas tradicionais são ainda
aceitas, até as mais avançadas formas da civilização urbana contemporânea.
Convém, por isso, destacar a riqueza que deve existir na diversidade de pontos
de vista e de formas que se dão na catequese. Tanto mais quanto esta deve
adaptar-se à diversidade de línguas e de mentalidade e à variedade de situações
e culturas humanas.
É impossível, em
vista disso, querer impor moldes fixos e universais. Com um sincero
intercâmbio de colaborações, devemos guardar a unidade da fé na diversidade de
formas.
9. Apesar deste
pluralismo de situações, nossa catequese tem um ponto comum em todos os meios:
tem que ser eminentemente evangelizadora,
sem pressupor uma realidade de fé, senão após oportunas constatações.
Já o fato de se
batizarem as crianças pequenas, confiando na fé da família, torna necessário
uma «evangelização dos batizados»,
como uma etapa na educação de sua fé. E esta necessidade é mais urgente, quando
se considera a desintegração que a família tem sofrido em muitas regiões, a
ignorância religiosa dos adultos e a escassez de comunidades cristãs de base.
Esta
evangelização dos batizados tem um objetivo concreto: levá-los a um compromisso
pessoal com Cristo e a uma entrega consciente à obediência da fé. Daí, a
importância de uma revisão da pastoral da confirmação, assim como de novas
formas de catecumenato na catequese de adultos, insistindo na preparação para os sacramentos.
Devemos rever,
também, tudo aquilo que em nossa vida ou em nossas instituições possa ser um
obstáculo para a re-evangelização dos adultos, purificando assim a face da
Igreja diante do mundo.
10. Para os
cristãos, tem particular importância a forma comunitária de vida, como testemunho de amor e de unidade.
Não pode,
portanto, a catequese limitar-se às dimensões individuais da vida. As
comunidades cristãs de base, abertas ao mundo e inseridas nele, têm que ser o
fruto da evangelização, assim como sinal que confirma com fatos a mensagem de
salvação.
Nesta catequese
comunitária deve-se ter em conta a família, como primeiro ambiente natural onde
se desenvolve o cristão. Ela deve ser objeto da ação catequética, para que
seja dignificada e se torne capaz de cumprir sua missão. E, ao mesmo tempo, a
família se converte em agente eficaz da renovação catequética.
11. Deve-se fazer
ressaltar o aspecto totalmente positivo do ensinamento catequético com seu
conteúdo de amor. Assim, fomentar-se-á um são ecumenismo, evitando toda
polêmica, e criar-se-á um ambiente propício à justiça e à paz.
12. A catequese
encontra-se diante de um fenômeno que está incluindo profundamente nos valores,
nas atitudes e na vida mesma dos homens: os meios de comunicação social.
Este fenômeno
constitui um fato histórico irreversível que, na América Latina, avança
rapidamente e conduz em breve prazo a uma cultura universal: “ cultura da
imagem” Este é um sinal dos tempos, que a Igreja não pode ignorar.
Da situação
criada por este fenômeno, deve partir a catequese para uma apresentação eficaz
da mensagem cristã. É urgente, pois, uma séria investigação sobre o efeito dos
meios de comunicação social e uma pesquisa da forma mais adequada de dar uma
resposta, utilizando-os na tarefa evangelizadora, e uma séria avaliação das
realizações atuais.
13. Para a
realização do trabalho catequético, impõe-se um mínimo de organização que, partindo da ordem nacional e diocesana, chegue às
distantes comunidades primárias. A organização de tipo nacional, com suas
óbvias relações internacionais, facilitará evidentemente e dará agilidade ao
trabalho nas dioceses e outros meios, com maior e eficaz aproveitamento das
técnicas, pessoal especializado e possibilidades econômicas.
14. Esta
renovação exige pessoal adequado, para formar a comunidade cristã.
Conseqüentemente,
admitido o necessário testemunho da própria vida, sugerem-se os seguintes
pontos:
- preparação de
dirigentes e orientadores catequistas com dedicação exclusiva;
- A formação de
catequistas com um conhecimento básico e uma visão ampla das condições
psico-sociológicas do meio humano em que terão de trabalhar, bem como das
religiões primitivas, em alguns lugares, e dos recursos de evangelização que
tenham sido empregados;
- A promoção de
catequistas leigos, preferentemente originários de cada lugar, e a formação,
no ministério da Palavra, dos diáconos permanentes.
15. A linguagem
falada pela Igreja reveste-se de importância particular. Trata-se tanto das
formas de ensino simples - catecismos, homilia etc. - nas comunidades locais,
como das formas mais universais da palavra do magistério. Impõe-se um trabalho
permanente, de maneira que seja possível fazer perceber como a mensagem de salvação
contida nas Escrituras, na liturgia, no magistério e no testemunho é hoje
palavra de vida. Não basta, pois, repetir ou explicar a mensagem. Ao
contrário, cumpre reexpressar incessantemente por novas maneiras, o Evangelho
em relação com as formas de existência do homem, tendo em conta os meios
humanos étnicos e culturais e guardando
sempre a fidelidade à palavra revelada.
16. Para que a
renovação seja eficaz, necessita-se de um trabalho de reflexão, orientação e
avaliação nos diferentes aspectos da catequese. Há que multiplicar por toda
parte os institutos catequéticos, as equipes de trabalho, nos quais pastores,
catequistas, teólogos especialistas em ciências humanas, dialoguem e trabalhem
conjuntamente a partir. da experiência, a fim de propor formas novas de palavras
e ação, de elaborar o material pedagógico correspondente e de verificar e
avaliar, em cada caso, sua validade. É mister que essas equipes sejam dotadas
de meios de trabalho adequados e da indispensável liberdade de ação.
a) Renovar a
catequese, promovendo a evolução das formas tradicionais da fé, insistindo na
catequese permanente dos adultos (no. 1, 2, 3) .
b) Evitar toda
dicotomia ou dualismos entre o natural e o sobrenatural (n. 4).
c) Guardar fidelidade
à mensagem revelada, encarnada nos fatos atuais (n. 8).
d) Orientar e
promover, através da catequese, a evolução integral do homem e as
transformações sociais (n.7).
e) Respeitar na
unidade a pluralidade de situação (n. 8) .
f) Promover a
evangelização dos batizados: na confirmação, para adolescentes e jovens; em um
novo catecumenato, para os adultos (n. 9) .
g) Dar todo o
valor catequético à família (n. 10) .
h) Empregar os
meios de comunicação social (n.12) . i) Fomentar a organização da catequese em
nível nacional e diocesano (n. 13) .
j) Formar
catequistas leigos, preferentemente autóctones (n. 14).
k) «Adaptar a
linguagem eclesiástica ao homem de hoje, resguardando a integridade da
mensagem».
1) Impulsionar
trabalhos de reflexão e experimentação em institutos e equipes de trabalho, com
a suficiente amplitude e liberdade (n. 16) .
A pluralidade de
situação na renovação litúrgica é um fato; enquanto em algumas regiões esta
aplicação se realiza com crescentes esforços, em outras sua aplicação é feita
de forma ainda débil. Em geral é insuficiente. Falta uma mentalidade sobre o
conteúdo da reforma, a qual é especialmente importante para o clero, cujo papel
na renovação litúrgica é básico. Além disso, é necessário reconhecer que a
variedade de culturas provoca difíceis problemas de aplicação (línguas, sinais)
.
Tem-se a
impressão de que o bispo nem sempre exerce de forma eficaz seu papel
litúrgico, de promotor, regulador e orientador do culto.
As traduções
litúrgicas significaram um passo no avanço da Igreja; mas os critérios que têm
sido adotados não permitiram ainda chegar ao grau de adaptação necessária.
A liturgia não
está integrada organicamente na educação religiosa, nem a ela vinculada em
mútua compenetração.
São insuficientes
os estudiosos capacitados para desenvolver a renovação litúrgica.
a) Elementos doutrinários: a presença do
mistério da salvação, enquanto a humanidade peregrina até sua plena realização
na parusia do Senhor, culmina na celebração da liturgia eclesial[10].
A liturgia é ação
de Cristo, Cabeça e de seu Corpo, que é a Igreja[11].
Contém, portanto, a iniciativa salvadora que vem do Pai, pelo Verbo e no
Espírito Santo, e a resposta da humanidade nos que se ligam pela fé e pela
caridade no Cristo, recapitulador de todas as coisas[12].
Como não vivemos
ainda a plenitude do Reino[13],
toda celebração litúrgica está essencialmente marcada pela tensão entre o que
já é uma realidade e o que ainda não se verifica plenamente[14];
é a imagem da Igreja, ao mesmo tempo santa e necessitada de purificação[15];
tem um sentido de alegria e uma dolorosa consciência do pecado. Numa palavra,
vive na esperança[16].
A liturgia,
momento em que a Igreja é mais perfeitamente ela própria, realiza,
indissoluvelmente unidas, a comunhão com Deus e entre os homens[17],
e de tal modo, , que aquela é a razão desta[18].
Busca-se, antes de tudo, o louvor da glória
da graça[19]. É certo, também, que todos os homens precisam
da glória de Deus[20]
para serem verdadeiramente homens. E por isso mesmo o gesto litúrgico, não é
autêntico se não implica um compromisso de caridade, um esforço sempre renovado
por ter os sentimentos de Cristo Jesus[21],
e para uma contínua conversão.
A instituição divina da liturgia jamais pode
ser considerada como um adorno contingente da vida eclesial, já que «nenhuma» comunidade cristã se edifica
se não tem sua raiz na celebração da
Santíssima Eucaristia, pela qual se
inicia toda a educação do espírito da comunidade. Esta celebração, para ser sincera e plena, deve
conduzir tanto às várias obras de caridade e mútua ajuda como à ação
missionária e às várias formas de testemunho cristão[22].
No momento atual
da América Latina, como em todos os tempos, a celebração litúrgica comporta e
coroa um compromisso com a realidade humana[23],
com o desenvolvimento e com a promoção, precisamente porque toda a criação
está envolvida pelo desígnio salvador que abrange a totalidade do homem[24].
b) Princípios pastorais. No momento atual
de nosso continente, certos estados de vida e certas atividades humanas representam
uma importância vital para o futuro. Entre os primeiros cabe destacar a
família, a juventude, a vida religiosa e o sacerdócio; entre as segundas, a
promoção humana e tudo o que está ou pode ser colocado a seu serviço: a
educação, a evangelização e as diversas formas de ação apostólica.
Sendo a sagrada
liturgia a presença do mistério da salvação, visa em primeiro lugar à glória
do Pai[25].
Mas essa mesma glória[26]
comunica-se aos homens e por isso a celebração litúrgica, mediante o conjunto
de sinais com que expressa a fé, apresenta:
l. Um
conhecimento e uma vivência mais profunda da fé;[27]
2. Um sentido da
transcendência da vocação humana;[28]
3. Um fortalecimento
do espírito da comunidade;[29]
4. Uma mensagem
cristã de alegria e esperança;[30]
5. A dimensão
missionária da vida eclesial;[31]
6. A exigência
postulada pela fé, de comprometer-se com as realidades humanas.[32]
Todas essas
dimensões devem estar presentes onde quer que cada estado de vida realize
alguma atividade humana.
Para que a
liturgia possa realizar, em plenitude, esses objetivos, necessário se faz:
l. Uma catequese
prévia sobre o mistério cristão e sua expressão litúrgica;[33]
2. Adaptar-se ao
gênio das diversas culturas e encarnar-se nele;[34]
3. Acolher,
portanto, positivamente, a pluralidade na unidade, evitando erigir, a priori, a
uniformidade como princípio;[35]
4. Manter-se numa
situação dinâmica que acompanhe tudo o que houver de são no processo de evolução
da humanidade;[36]
5. Conduzir a uma
experiência vital da união entre a fé, a liturgia e a vida cotidiano, em
virtude da qual chegue o cristão ao testemunho de Cristo.[37]
Não obstante, a
liturgia, que interpela o homem, não pode reduzir-se a mera expressão de uma
realidade humana freqüentemente unilateral ou marcada pelo pecado.[38]
a) referentes aos bispos. O Concílio
Vaticano II reconhece ao bispo o direito de regulamentar a liturgia e aponta-lhe
o dever de promove-1a no seio da Igreja local[39].
A ele cumpre:
1. Com toda a
responsabilidade pastoral, promover singular ou coletivamente, a vida
litúrgica;
2. Celebrar
freqüentemente como «grande sacerdote de sua grei», cercado por seu presbitério
e ministros no meio de seu povo[40];
3. Uma função
moderadora «ad normam juris» e segundo o espírito da Constituição da Sagrada
Liturgia;[41]
4. Valer-se da
comissão diocesana ou inter-diocesana,
recomendadas pelo
Concílio, compostas de estudiosos da liturgia, Bíblia, pastoral, música e arte
sacra[42].
b) Referentes às conferências episcopais. A
renovação comunitária e hierárquica necessita, além disso, da integração de
«diversas assembléias territoriais» de bispos legitimamente constituídas[43].
A elas cabe uma função regulamentadora e coordenadora, dentro dos limites estabelecidos
que assegurem a fidelidade da imagem eclesial que cada comunidade crista deve
oferecer da Igreja universal.
Para conseguir
melhor estas finalidades, a II Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano:
l. Deseja que se
confiram às Conferências Episcopais faculdades mais amplas em matéria
litúrgica, a fim de que possam realizar melhor as adaptações necessárias, levando
em conta as exigências de cada assembléia;
2. Recomenda que,
dadas as peculiaridades circunstanciais dos territórios de missão, seus
ordinários se reúnam para estudar as adaptações necessárias e para que possam
ser apresentadas à autoridade competente[44].
c) Serviços do CELAM. A coincidência de
problemas comuns e a necessidade de contar com grupos de técnicos devidamente
preparados, aconselha, além disso, o incremento dos serviços que possa
proporcionar o Departamento de Liturgia do CELAM. Tais são:
1° - Um serviço
de informação, documentação bibliográfica e coordenação prestado pelo
secretário executivo do Departamento, que se propõe manter em permanente
comunicação os Episcopados latino-americanos.
2° - Um serviço
de investigação e formação que já começou a prestar o Instituto de Liturgia
Pastoral de Medellin, com vistas a adaptação mais profunda da liturgia às
necessidades e culturas da América Latina[45].
Para isso se torna necessário que se considere e se facilite o agrupamento de
técnicos em liturgia, Sagradas Escrituras e Pastoral, como em ciências
antropológicas, cujos trabalhos abram caminho a um progresso legítimo[46].
3° - Um
escritório de coordenação dos musicólogos, artistas e compositores numa união
de esforços que se estejam realizando em nossos países, de forma a
proporcionar uma música digna dos sagrados mistérios.[47]
4° - Um serviço de
assessoramento técnico, tanto para a conservação do patrimônio artístico como
para a promoção de novas formas artísticas[48].
5º - Um serviço
editorial para diversas publicações que sirvam de instrumento valioso para a
pastoral litúrgica, sem que isso interfira no âmbito de outras publicações.
Os serviços
mencionados pressupõem a existência de bibliotecas especializadas e
suficientemente providas.
d) Sugestões particulares
1º - A celebração
da Eucaristia em pequenos grupos e comunidades de base pode ter verdadeira
eficácia pastoral; aos bispos cabe permiti-1a, tendo em conta as circunstâncias
de cada lugar.
2° - A fim de que
os sacramentos alimentem e fortaleçam a fé na situação atual da América
Latina, aconselha-se o estabelecimento, planificação e intensificação de uma
pastoral sacramental comunitária mediante preparações sérias, graduais e adequadas
para o batismo (os pais e padrinhos) , confirmação, primeira eucaristia e
matrimônio[49].
É recomendável a
celebração comunitária da penitência, mediante uma celebração da Palavra em
observância a legislação vigente, porque isso contribui para ressaltar a
dimensão eclesial desse sacramento e torna mais frutuoso, a participação no
mesmo.
3° -
Incremente-se as sagradas celebrações da Palavra, conservando sua relação com
os sacramentos nos quais ela alcança sua máxima eficácia e particularmente com
a Eucaristia[50]. Promovam-se
as celebrações ecumênicas da palavra, segundo o teor do decreto sobre o
ecumenismo, n, 8, e seguindo as normas do Diretório no. 33.35.
4º - Sendo tão
arraigadas em nosso povo certas devoções populares, recomenda-se buscar formas
mais adequadas, que lhes dêem conteúdo litúrgico, de modo que se tornem
veículos da fé e de compromisso com Deus e com os homens.[51]
1.1. Em outros
documentos, e de diferentes ângulos, assinalou-se a presença dos leigos no
processo de transformação de nosso continente.
Neste documento
nos propomos rever a dimensão apostólica dessa presença no momento histórico em
que todos estamos vivendo na América Latina.
1.2. Recordemos
mais uma vez que o momento histórico atual de nossos povos, se caracteriza na
ordem social e do ponto de vista objetivo, por uma situação de subdesenvolvimento,
revelada por fenômenos maciços de marginalidade, alienação e pobreza, e
condicionada, em última instância, por estruturas de dependência econômica,
política e cultural em relação às metrópoles industrializadas, que detêm o
monopólio da tecnologia e da ciência (neocolonialismo, cf. PP n. 3) .
Do ponto de vista
subjetivo, nosso continente se caracteriza pela tomada de consciência dessa
situação, que provoca em amplos setores dos povos latino-americanos atitudes de
protesto e aspirações à libertação, ao desenvolvimento e à justiça social.
Esta complexa
realidade, historicamente, coloca os leigos latino-americanos ante o desafio de
um compromisso libertador e humanizador.
1.3. Por um lado,
a modernização refletida nos setores mais dinâmicos da sociedade
latino-americana, acompanhada pela crescente tecnização e aglomeração urbana,
manifestou-se em fenômenos de mobilidade, socialização e divisão do trabalho,
cujo efeito foi carrear importância crescente aos grupos e ambientes funcionais
- fundados sobre o trabalho, a profissão ou a função - em relação às
comunidades tradicionais de caráter de vizinhança ou territorial.
Os ditos meios
funcionais constituem em nossos dias os centros de decisão mais importantes no
processo de transformação social, e os focos onde se condensa, ao máximo, a
consciência da comunidade.
Estas novas
condições de vida obrigam os movimentos leigos da América Latina a aceitarem o
desafio de um compromisso de presença, de adaptação permanente e de
criatividade.
1.4. A
insuficiente resposta a estes desafios e, muito especialmente, a inadequação às
novas formas de vida que caracterizam os setores dinâmicos de nossa sociedade,
explicam em grande parte as diferentes formas de crises que afetam os
movimentos leigos.
Muitos deles, com
efeito, empreenderam um trabalho decisivo em seu tempo, mas, por circunstâncias
posteriores, ou se fecharam em si mesmos, ou se aferraram indevidamente a
estruturas demasiado rígidas, ou não souberam situar devidamente seu apostolado
no contexto de um compromisso histórico libertador.
Por outro lado,
muitos destes movimentos não refletem um meio sociológico compacto, ou talvez
não tenham adotado a organização e a pedagogia mais apropriadas a um apostolado
de presença e compromisso nos ambientes funcionais, onde, em grande parte, fermenta
o processo de transformação social.
1.5. Finalmente,
entre os fatores que favorecem a crise de muitos movimentos, assinalam-se
também a pequena integração do leigo latino-americano na Igreja, o freqüente
desconhecimento, na prática, de sua legítima autonomia e a falta de assessores
devidamente preparados para as novas exigências do apostolado dos leigos.
1.6. Finalmente,
não é possível desconhecer os valiosos serviços que prestaram e continuam
prestando com renovado vigor os movimentos leigos à promoção cristã do homem
latino-americano. Sua presença em muitos ambientes, apesar dos obstáculos e
das dolorosas crises de crescimento, é cada vez mais efetiva e notória. Por
outro lado, na elaboração de muitas renovações acolhidas e confirmadas pelo Vaticano
II, não se pode deixar de ver o trabalho e a reflexão de muitas gerações de
militantes cristãos.
2.1. No seio do
Povo de Deus, que é a Igreja, há unidade de missão e diversidade de carismas,
serviços e funções «obra do único e mesmo Espírito» (1 Cor 12,11), de sorte
que todos, a seu modo, cooperem unanimemente na obra comum (cf. LG 32 e 33).
2.2. Os leigos,
como membros da Igreja, participam da tríplice função profética, sacerdotal e
real do Cristo, em vista da realização da sua missão eclesial. Todavia,
realizam especificamente esta missão no âmbito do temporal, em vista da
construção da história, «exercendo funções temporais e ordenando-as segundo
Deus» (LG 31).
2.3. O que
tipifica o papel do leigo é seu compromisso com o mundo, entendido como quadro
de solidariedade humana, como trama dos acontecimentos e fatos significativos,
em uma palavra, como história.
Pois bem,
comprometer-se é ratificar com ações a solidariedade em que todo homem se
encontra imerso, assumindo tarefas de promoção humana na linha de um determinado
projeto social.
O compromisso
assim entendido, na América Latina, deve estar impregnado pelas circunstâncias
peculiares de seu momento histórico presente, pelos signos da libertação, da humanização
e do desenvolvimento.
Nunca é demais
dizer que o leigo goza de autonomia e responsabilidade próprias para optar por
seu compromisso temporal. A Gandium et
Spes assim o reconhece, quando diz que os leigos «conscientes das
exigências da fé e vigorizados por suas próprias energias, empreendam, sem
vacilar e quando seja necessário, novas iniciativas e levem-nas a bom termo ( .
. . ) Não pensem que seus pastores estejam sempre em condições de poder
dar-lhes de imediato soluções concretas em todas as questões, por mais graves
que surjam. Não é esta sua missão. Cumpram os leigos melhor suas missões
específicas, à luz da sabedoria crista e com a observância atenta da doutrina
do magistério» (GS 43) .
E, como diz a Populorum Progressio em seu final: «Aos
leigos, por sua livre iniciativa e sem esperar passivamente ordens e
diretrizes, pertence impregnar de espírito cristão a mentalidade, os costumes,
as leis e as estruturas da comunidade em que vivem» (n. 81) .
2.4. Por mediação
da consciência, a fé - que opera pela caridade - está presente no compromisso
temporal do leigo como motivação, iluminação e perspectiva escatológica, e dá
sentido integral aos valores baseados na dignidade humana, na união fraternal e
na liberdade, que «voltaremos a encontrar limpos de toda a mancha, iluminados
e transfigurados, no Dia do Senhor» (GS 39). “Ensina também a Igreja que a
esperança escatológica não diminui a importância das tarefas temporais, mas,
pelo contrário, proporciona novas motivações, para seu exercício" (GS
21).
2.5. Pois bem,
como a fé exige ser compartilhada e por isso mesmo implica uma exigência de
comunicação ou de proclamação, compreende-se a vocação apostólica dos leigos
dentro, e não fora, de seu próprio compromisso temporal.
Mais ainda: ao
ser assumido este compromisso no dinamismo da fé e da caridade, ele adquire em
si mesmo um valor de testemunho e se confunde com o testemunho cristão. A
evangelização do leigo, nesta perspectiva, nada mais é que a explicação ou a
proclamação do sentido transcendente deste testemunho.
Vivendo “nas
ocupações e nas condições ordinárias de vida familiar e social, pelas quais sua
existência está como que tecida”, os leigos são chamados por Deus ali mesmo
“para que, desempenhando sua própria profissão e guiados pelo espírito
evangélico, contribuam para santificação do mundo, penetrando-o como fermento...
A eles, pois, corresponde iluminar e ordenar as realidades temporais, às quais
estão estreitamente vinculados” (LG 31).
2.6. O apostolado
leigo terá maior transparência de sinal e maior densidade eclesial, quando apóia
seu testemunho em equipes ou comunidades de fé, nas quais o Cristo prometeu
especialmente estar presente (Mt 18,20) . Deste modo, os leigos cumprirão mais
cabalmente sua missão de fazer com que a Igreja «aconteça» no mundo, na tarefa
humana e na história.
Tendo em conta as
numerosas recomendações pastorais já desenvolvidas em outros documentos desta
Conferência sobre o papel dos leigos na América Latina, atemo-nos apenas às
seguintes:
3.1. Atendendo às
prioridades evidentes, derivadas da situação latino-americana que descrevemos
acima com especial ênfase e urgência, deve ser promovida a criação de equipes
apostólicas ou de movimentos seculares nos lugares ou estruturas funcionais,
sobretudo naquelas onde se elabora e se decide o processo de libertação e
humanização da sociedade a que pertencem, dotando-os de uma estrutura adequada
e de uma pedagogia baseada no discernimento dos sinais dos tempos, no cerne
dos acontecimentos.
3.2. Reconhecendo
a crescente interdependência entre as nações e o peso das estruturas
internacionais de dominação, que condicionam de forma decisiva o subdesenvolvimento
dos povos periféricos, os leigos devem assumir seu compromisso cristão ao nível
dos movimentos e organismos internacionais para promover «o progresso dos povos
mais pobres e favorecer a justiça entre as nações (PP 5) .
3.3. As equipes
ou movimentos que já existirem para tais tarefas devem ser apoiadas
decididamente, e que não se abandone seus militantes quando, pelas implicações
sociais do Evangelho, são levados a compromissos que ocasionam dolorosas
conseqüências.
3.4. Os
movimentos de apostolado dos leigos, situados no plano de uma mais estreita
colaboração com a hierarquia e que tanto contribuíram para a ação da Igreja,
continuam tendo vigência como apostolado organizado. Hão de ser, portanto,
promovidos, ainda que se deva evitar “ir para além do limite de vida útil de
associações e métodos antiquados” (AA 19 d) .
3.5. Deve ser
fomentada uma espiritualidade própria dos leigos, baseada em sua própria
experiência de compromisso com o mundo, ajudando-os a se entregarem a Deus,
entregando-se aos homens. Ensinando-os a redescobrir o sentido da oração e da
liturgia como expressão e alimento dessa dupla e recíproca doação. «Seguindo o
exemplo do Cristo, que exerceu o artesanato, alegrem-se os cristãos de poder
exercer todas as suas atividades temporais, fazendo uma síntese vital do
esforço humano, familiar, profissional, científico ou técnico, com os valores
religiosos, tudo cooperando para a glória de Deus» (GS 43).
3.6. Finalmente,
que se preste o devido reconhecimento e apoio a todos os movimentos
internacionais de apostolado dos leigos, que através de seus organismos de
coordenação promovem e edificam com tanto sacrifício o apostolado neste
continente, atentos às exigências peculiares de sua problemática social.
As grandes
mudanças do mundo de hoje na América Latina afetam obrigatoriamente os
presbíteros no seu ministério e em sua vida. Por isso nós, os bispos, tentamos
refletir com o propósito de contribuir para o orientamento da renovação
sacerdotal nesta hora complexa do continente.
As conseqüências
das mudanças não são as mesmas em todos os países, nem em todos os setores de
cada país. Afetam de modo particular as pessoas jovens e os sacerdotes que
estão comprometidos nos pontos-chaves da presente situação de mudança. Estas
conseqüências se caracterizam de modo particular pela maior valorização de alguns
aspectos do ministério e da vida sacerdotal e pelo menosprezo de outros. Em
ambos os casos existem elementos positivos e negativos. A soma desses
elementos dá um total, em definitivo, construtivo e gerador de esperança.
Como causa global
da insuficiência pastoral na América Latina leva-se muito em conta a escassez
numérica dos sacerdotes, além do crescimento demográfico. E isto é verdade:
apesar da generosa integração de presbíteros enviados pelas Igrejas-irmâs e
apesar de não poucas famílias religiosas procurarem estabelecer núcleos em
zonas ainda não providas de clero diocesano. Reconhecemos, contudo, que
existem erros de ordem distributiva que influem na qualidade do trabalho
pastoral como por exemplo:
a) a primeira
coisa que salta à vista é o excessivo acúmulo de pessoas nas igrejas mais
desenvolvidas e a ausência de elementos do clero em regiões que deles necessitam,
no mesmo país, e até na mesma diocese ou cidade;
b) existem
igrejas com abundância de clero paroquial mas carecem de pessoas
especializadas. Existem regiões e igrejas que se beneficiariam se recebessem -
mesmo temporariamente - a ajuda de sacerdotes especializados cujos serviços não
são aproveitados integralmente.
O sacerdócio
hierárquico é enriquecido certamente pela ação renovadora do Espírito Santo que
provê sempre de carismas a sua Igreja. É, sem dúvida, possível comprovar que
neste campo os superiores nem sempre prestam suficiente atenção à diversidade carismática,
o que afeta negativamente o ministério sacerdotal. Por outro lado, não faltam
sacerdotes que confundem os dons do Espírito Santo com simples inclinações
naturais ou interesses individuais sem levar em conta as perspectivas da
comunidade, para cujo exercício são outorgados os carismas.
a) Existe, antes
de tudo, um perigo para a própria fé do presbítero de hoje e para isso
contribui um conjunto de elementos de especial complexidade. Cabe assinalar
principalmente certa superficialidade na formação mental e uma insegurança
doutrinária, ocasionada por um relativismo ideológico e por certa
desorientação teológica (cf. discurso de Paulo VI em Bogotá por ocasião da
abertura da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano) e também pelos
atuais progressos, sobretudo das ciências antropológicas e das ciências da
Revelação de que muitos presbíteros não possuem o necessário esclarecimento ou
não chegaram a assimilá-los suficientemente.
Percebe-se, além
disso, neste momento de transição, uma crescente desconfiança nas estruturas
históricas da Igreja, que chega, em alguns, ao menosprezo de tudo o que foi
instituído, comprometendo os próprios aspectos da instituição divina.
Parece-nos que este perigo para a fé é, definitivamente, o elemento mais pernicioso
para o presbítero de hoje.
b) O sacerdote de
hoje sente a necessidade de uma expressão mais vivencial em sua oração, de sua
ascese e consagração. A superação da dicotomia entre a Igreja e o mundo e a
necessidade de maior presença da fé nos valores temporais exigem a adoção de
novas formas de espiritualidade, segundo as orientações do Vaticano II. Não
poucos sacerdotes, antes de assegurar a passagem valedoura para novas formas,
emancipam-se do tradicional com o risco de cair em desastroso enfraquecimento
de sua vida espiritual. Este enfraquecimento da espiritualidade é particularmente
perigoso porque o sacerdote transfere facilmente sua própria crise à
comunidade em que vive.
c) Em relação ao
celibato sacerdotal, um louvável aprofundamento do valor afetivo da pessoa
humana e uma exacerbação do erotismo no meio ambiente, unidos ao freqüente
descuido da vida espiritual e a outras causas mais, abriram caminho a uma nova
e variada problemática.
Alguns apóiam
seus argumentos em razões do tipo pastoral ou psicológico ou aduzem reflexões
teológicas que delimitam a distinção entre carisma e ministério, enquanto
outros pretenderiam diminuir a força do próprio compromisso assumido na
consagração.
d) No ministério
presbiterial é fácil sentir hoje uma tensão entre as novas exigências da missão
e certo modo de exercer a autoridade, que pode implicar em crise de obediência.
A consciência mais viva da dignidade e responsabilidade da pessoa, a maior
sensibilidade atual pela ordem dos valores mais do que pela ordem das normas, a
nova concepção do ministério hierárquico como estrutura colegial, o sentido da
autoridade como serviço, a distinção da obediência específica do religioso, da
obediência própria do sacerdote, (PC 14, comparado com PO 15) são indícios de
um novo clima muito positivo mas também portador de tensões: se a isto aduzirmos
as falhas naturais das pessoas, compreender-se-á facilmente a presença de um
conjunto de problemas delicados no exercício do ministério sacerdotal.
Nesta ordem de
coisas é preciso assinalar, sobretudo, um perigoso ofuscamento, em alguns, do
valor do magistério papal e episcopal, que pode levar não só a uma falta de
obediência mas também de fé.
e) Também surgem
dúvidas no que concerne à própria vocação sacerdotal. Motivam essas dúvidas
vários fatores característicos desta hora de renovação eclesial:
- a crescente
valorização do papel do leigo no desenvolvimento do mundo e da Igreja;
- a discussão
moderna sobre o papel e a figura do sacerdote na sociedade;
- a
superficialidade com que se encara e vive o próprio sacerdócio, em serviços
religiosos de rotina e em uma forma de vida aburguesada.
f) Há também uma
crise entre sacerdotes que por sua idade e formação recebida sentem-se como que
incapacitados para assumir as mudanças de renovação promovidas pelo Concílio.
g) Muitos
sacerdotes lamentam que a revisão do regime de benefícios, lenta por sua
própria complexidade, mantenha ainda em suas igrejas um lamentável estado de penúria
e pedem a quantos sejam afetados pelas imprescindíveis reformas
administrativas, que facilitem a pronta aplicação das indicações conciliares.
a) Na nova
Aliança, Cristo Jesus, Senhor ressuscitado, é o único sacerdote, mediador
sempre ativo ante o Pai em favor dos homens.
O ministério
hierárquico da Igreja, sacramento na terra desta única mediação, faz com que os
sacerdotes atuem entre os homens “in persona Christi”. A eles também se aplica
parcialmente o que Paulo VI dissera de Cristo sumo e eterno Sacerdote « . . .
não és diafragma, mas passagem; não és obstáculo, mas sim caminho; não és um
profeta qualquer, mas o intérprete único e necessário do mistério religioso .
. . és a ponte entre o reino da terra e o reino do céu. . . és necessário, és
suficiente para nossa salvação . . . » (Disc. de 22-8-68, em Bogotá) .
b) Em seu
sacerdócio Cristo unificou a tríplice função de profeta, liturgo e pastor,
estabelecendo com isso uma peculiar originalidade no ministério sacerdotal de
sua Igreja. Por isso os sacerdotes, embora dedicados a tarefas ministeriais
nas quais se acentua alguns dos aspectos desta tríplice missão, não devem
esquecer os outros, nem enfraquecer a intrínseca unidade da ação total de seu
ministério, porque o sacerdócio de Cristo é indivisível (cf. PO 8) .
a) No corpo
místico de Cristo, os bispos e os presbíteros são consagrados pelo sacramento
da Ordem para exercer o sacerdócio ministerial como um conjunto orgânico, que
manifesta e torna presente a Cristo Cabeça (cf. LG 21). Os presbíteros são
incorporados a este conjunto orgânico para serem cooperadores da Ordem episcopal.
Deduz-se daí, como conseqüência inevitável, a íntima união de amizade, amor,
preocupações, interesses e trabalhos entre bispos e presbíteros de modo que não
se possa conceber um bispo desligado ou alheio a seus presbíteros, nem um
presbítero desligado do ministério de seu bispo. Todos os sacerdotes vinculados
entre si por uma verdadeira “fraternidade sacramental” (PO 4), devem saber conviver
e atuar unidos na solidariedade de uma mesma consagração.
b) Em vista da
comunhão hierárquica do ministério sacerdotal sugere-se assegurar uma forma
institucionalizada da adequada co-responsabilidade dos presbíteros com a ordem
episcopal. Encarece-se, assim, antes de mais nada, a criação ou eficiente funcionamento
do Conselho Presbiteral em cada diocese. Além disso achamos importante, hoje,
maior representação dos presbíteros nos organismos episcopais de nível supra-diocesano.
Os bispos, com os
presbíteros, receberam “o ministério da comunidade” (cf. LG 20), pelo qual
devem dedicar-se a edificar e a guiar a comunidade eclesial como sinais e
instrumentos de sua unidade (cf. PO 6).
Os presbíteros
atuam na comunidade como membros específicos que compartilham com todo o povo
de Deus o mesmo ministério e a mesma e única missão salvadora. Os leigos, por
seu sacerdócio comum, gozam na comunidade do direito e têm o dever de
contribuírem com uma indispensável colaboração para a ação pastoral (cf. AA 3)
. Por isso, é dever dos sacerdotes dialogar com eles não de maneira ocasional,
mas de maneira constante e institucional. O mesmo diga-se a respeito das
religosas e dos religiosos não-presbíteros.
a) Todo sacerdote ministerial é tomado de entre os homens
e constituído em favor dos homens no que se refere a Deus (cf Hebr 5,1).
A consagração sacramental da Ordem situa o sacerdote
no mundo a serviço dos homens. É de particular importância sublinhar que a
«consagração sacerdotal é conferida por Cristo para a «missão» de salvação do
homem. Isto exige de todo sacerdote uma especial solidariedade de serviço
humano, que seja expressa em uma viva dimensão missionária, que o faça colocar
suas preocupações ministeriais a serviço do mundo com seu grandioso futuro e
seus humilhantes pecados, e um contato inteligente e constante com a realidade,
de tal maneira que sua consagração resulte num modo especial de presença no
mundo, e não em uma segregação dele.
b) O mundo latino-americano encontra-se empenhado em
um gigantesco esforço para acelerar o processo de desenvolvimento no
continente.
Nesta tarefa cabe ao sacerdote um papel específico e
indispensável. Ele é meramente um promotor do progresso humano. Descobrindo o
sentido dos valores temporais, deverá procurar conseguir «unindo o esforço humano,
familiar, profissional, científico e técnico, uma síntese vital com os valores
religiosos, sob cuja altíssima hierarquia tudo coopera para a glória de Deus»
(GS 43) . Mas para isso deve esforçar-se, pela palavra e pela ação apostólica
não só sua mas também da comunidade eclesial, para que todo o trabalho temporal
adquira seu pleno sentido de liturgia espiritual, incorporando-o de maneira
vital na celebração da Eucaristia.
c) Para promover o desenvolvimento integral do homem
deverá formar e incentivar entre os leigos a participação ativa, com
consciência cristã, na técnica e elaboração do progresso. Mas acontece que na
ordem econômica e social e principalmente na ordem política, onde se apresentam
diversas opções concretas, ao sacerdote não cabe diretamente a decisão, nem a
liderança e nem tampouco a estruturação de soluções.
a) A adequada
co-responsabilidade ser uma vivência pessoal intrinsecamente vinculada à ação
ministerial (cf. PO 13) .
Dentre as
exigências desta espiritualidade nenhuma é superior nem mais necessária que a
de uma profunda e permanente vida de fé. Por ela o sacerdote deve tornar clara
a perfeita unidade de Cristo com o Pai «quem me vê, vê ao Pai» (Jo 14,9) ; e
poder testemunhar com São Paulo «sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo»
(1 Cor 11,1).
O que importa,
pois, antes de mais nada, é que o sacerdote seja homem de oração por
antonomásia. Um sacerdote, cuja vida não for testemunha deste espírito de fé,
jamais poderá ser reconhecido como digno ministro de Cristo Senhor.
b) A caridade
pastoral infundida pelo sacramento da ordem deve impulsionar, hoje, os
sacerdotes a trabalharem mais do que nunca pela união entre os homens até dar
a vida por eles, como o fez o Bom Pastor.
No exercício
desta caridade que une o sacerdote intimamente com a comunidade,
encontrar-se-á o equilíbrio da personalidade humana, feita para o amor, e se
redescobrirão as grandes riquezas contidas no carisma do celibato, em toda
sua visão cristológica, eclesiológica, escatológica e pastoral (cf. Encíclica:
Sacerdotalis cœlibatus).
Uma clara
conseqüência da orientação conciliar é a superação da uniformidade da figura do
presbítero; os sacerdotes «...quer exerçam o ministério paroquial ou supraparoquial,
quer se dediquem às investigações ou ao ensino, quer trabalhem manualmente,
compartilhando da sorte dos próprios operários . . . quer, enfim, levem a cabo
outras obras apostólicas ou relacionadas com o apostolado» (PO 8), exercerão
seu ministério em consonância com a exigência pastoral das diferenças
carismáticas.
É mister,
entretanto, lembrar com respeito aos carismas, que compete aos que presidem a
Igreja julgar da autenticidade e ordenado exercício de tais dons (cf. LG 12 e AA
3) . Neste campo é preciso que haja uma planificação pastoral para melhor
distribuição dos sacerdotes tanto quantitativa quanto qualitativamente.
a) A adequada co-responsabilidade entre bispos e presbíteros
pede o exercício de um diálogo no qual haja mútua liberdade e compreensão,
tanto com respeito aos assuntos a tratar quanto à maneira de discuti-tos. Isto
ajudará muito a compreender melhor a missão comum do sacerdócio ministerial e
trará um clima novo, no qual será mais fácil superar certas tensões de
obediência pela busca em comum da vontade de Deus.
b) É de extraordinária importância dar vida aos
«Conselhos Pastorais» que são inegavelmente uma das instituições mais originais
sugeridas pelo Concílio e um dos mais eficientes instrumentos da renovação da
Igreja em sua ação de pastoral de conjunto.
c) É contrário ao profundo sentido de união do presbitério
o isolamento em que vivem muitos sacerdotes.
Para que possa realmente ser compartilhada a
responsabilidade comum na igreja local, recomendamos vivamente que se fomente a
vida das equipes sacerdotais em suas
diversas formas. É preciso estabelecer centros sacerdotais onde possam
reunir-se, em um ambiente fraternal e de contato freqüente com o bispo, todos
os presbíteros que tenham em mente seu
aperfeiçoamento pessoal.
É
hoje urgente tornar possível a atualização cultural dos presbíteros,
proporcionando-lhes tempo e meios adequados.
Em primeiro lugar, será necessário ajudá-los
a assimilarem com a devida profundeza as grandes metas de orientação teológica do Concílio e os
principais progressos das ciências da revelação. Além disso, é preciso
maior adaptação a todo o progresso humano;
a missão do presbítero, na verdade, exige uma cultura autêntica e dinâmica,
contentemente atualizada e aprofundada, que não se reduza a mero cultivo intelectual, mas que abranja todo o sentido
da “humanitas” enriquecida pelos valores vividos sacerdotalmente (tf PO 3).
Uma das
características indispensáveis da espiritualidade sacerdotal, especialmente
requerida por nossa situação continental, é a pobreza evangélica.
Os presbíteros
devem ser testemunhas do Reino, sendo pobres pelo espírito e imitando Jesus
Cristo, mas valorizando e usando de maneira pastoral os bens econômicos em favor de Cristo pobre, presente todos os
dias na pessoa dos necessitados. A
pobreza evangélica, que é vivida na Igreja
de acordo com as diferentes vocações, terá que concretizar-se, para os
presbíteros diocesanos, num modo de
vida que lhes dê as possibilidades econômicas, condizentes com um ministério de especial situação
comunitária.
Deverá ser
preocupação dos bispos com seu presbitério cuidar da realização concreta de um
sistema de sustentação dos presbíteros que, por um lado, evite toda a aparência
de lucro com relação ao sagrado e, por outro lado, distribua eqüitativamente as
rendas diocesanas reunidas de maneira solidária por todas as paróquias (cf. PO
21). Em particular as Conferências Episcopais consigam quanto antes o funcionamento
de uma previdência social adequada para o clero.
Nós, bispos,
sentimo-nos unidos a todos os queridos irmãos que, na serenidade e na paz, vêm
enfrentando problemas e inquietude que põem em relevo a riqueza de seu amor
pela Igreja e pelos homens. Unidos procuramos dar nossa resposta aos problemas
do homem atual. Pensaremos juntos, apoiando-nos no dom de Deus para discernir
os sinais dos tempos. Encontraremos no Evangelho a imagem mais nítida de Cristo
Senhor. Contamos com sua ajuda para levar a cabo este serviço em uma Igreja
que empreende com prazer e confiança a tarefa de conduzir com Cristo, Pastor
eterno, todos os homens à casa do Pai.
É de justiça, em
particular, manifestar nosso reconhecimento a todos os sacerdotes que, em
passado remoto ou próximo viveram, trabalharam e se entregaram aos povos da
América Latina.
Não podemos
tampouco deixar de testemunhar nosso íntimo reconhecimento aos numerosos
sacerdotes e religiosos das Igrejas irmãs que, deixando pátria, tradições e
amigos, vieram juntar-se à tarefa apostólica que sozinhos não poderíamos
consumar.
Dirigimo-nos,
além disso, aos nossos queridos cooperados que estão padecendo as angústias de
muitas e variadas crises depois de anos vividos na fidelidade e abnegação.
Reconhecemos que sua situação é fruto, às vezes e em parte, de sinceridade e
autenticidade. Que exista entre nós uma recíproca confiança e apesar de nossas
deficiências e até possíveis, embora não intencionais, falhas, acreditem com
espírito elevado que nós, por disposição divina, somos também com respeito a
tudo isso, responsáveis perante Deus.
Permitam que os
ajudemos e, na convivência com os irmãos presbíteros, que vivem e sofrem na
senda do Senhor, procurem amparo e solidariedade. Acima de tudo, não se
afastem do contato íntimo e confiante com Cristo, que não os considera servos,
mas sim amigos. Saibam também que por eles oramos ao Pai das luzes.
Aos presbíteros
que, com ou sem consentimento da autoridade competente, como resultado de uma
crise, que em última instância só a Deus cabe julgar, afastaram-se do
presbitério, dizemos que os reconhecemos marcados com o caráter do sacerdócio e
que os respeitamos como irmãos, amando-os como filhos.
Encontrarão
sempre nosso coração aberto para prestar-lhes ajuda, na medida de nossas
possibilidades para que, conservando ou recuperando o vínculo visível da união
essencial da Igreja de Cristo, dêem testemunho do Reino para o qual foram
consagrados.
1. A caridade com
que amamos a Deus e ao próximo é a única santidade cultivada por todos aqueles
que, guiados pelo Espírito de Deus, seguem o Cristo em qualquer estado de vida
e profissão a que foram chamados (LG 41 e 42) .
Na Igreja, todos
são chamados à santidade (LG 39), tanto os que pertencem à hierarquia como os
leigos e os religiosos. Essa santidade se realiza mediante a imitação do
Senhor, no amor. Pelo batismo o cristão inaugura sua configuração com o Cristo
(LG 7) que, em seguida, pela ação de Deus e pela fidelidade do homem, irá
crescendo até chegar à idade perfeita da plenitude de Cristo (LG 7) . Cada qual
procura alcançar a santidade pela vivência da caridade, segundo as características
próprias de seu estado de vida.
2. Nestes
momentos de revisão, muitos se perguntam qual é o lugar do religioso na Igreja
e em que consiste sua vocação especial no seio do Povo de Deus.
No transcorrer da
história da Igreja, a vida religiosa teve sempre, e agora com maior razão, uma
missão profética, a de ser um testemunho da escatologia. Todo cristão, seja
religioso ou leigo, deve buscar o Reino de Deus identificando-se, por amor,
com Cristo na sua encarnação e na sua morte e ressurreição, que culmina na
escatologia; todavia, o que é próprio do religioso, o que mais o caracteriza é
viver a caridade mediante uma peculiar consagração que se funda na do batismo
e a exprime com maior plenitude (PC 5). Esta consagração peculiar é um compromisso
a viver com mais intensidade o aspecto escatológico do cristianismo, para ser
dentro da Igreja, de um modo especial, «testemunha da Cidade de Deus».
3. Isto quer
dizer, de uma parte, que o religioso deve encarnar-se no mundo real, e hoje com
maior audácia que em outros tempos: não podendo alhear-se dos problemas
sociais, do sentido democrático, da mentalidade pluralista etc., dos homens
que vivem a seu lado. E assim, nas circunstâncias concretas da América Latina
(nações em via de desenvolvimento, com escassez de sacerdotes etc.), exigem
dos religiosos uma especial disponibilidade, segundo seu próprio carisma, para
inserirem-se nas linhas de uma pastoral efetiva. Por outra parte, em meio a um
mundo que marcha para a secularização e o esfriamento da fé e da caridade, o
religioso deve ser o sinal de que o Povo de Deus não tem uma cidadania
permanente neste mundo, mas que busca a futura mediante o estado religioso «que
deixa seus seguidores mais livres dos cuidados terrenos, manifesta melhor aos
fiéis os bens celestiais - já presentes nesta vida - e, sobretudo, dá um
testemunho da vida nova e eterna conquistada pela redenção do Cristo, prenuncia
a ressurreição futura e a glória do reino celestial» (LG 44) . Ou, conforme
expressa a Lumem Gentium em outra passagem:
«Os religiosos, por seu estado, dão claro e exímio testemunho de que o mundo
não pode ser transfigurado nem oferecido a Deus sem o espírito das
bem-aventuranças».
Se é verdade que
o religioso se coloca à certa distância das realidades do mundo presente, não
o faz por desprezo ao mundo, mas com o propósito de recordar seu caráter
transitório e relativo.
4. Seu testemunho
não é algo abstrato mas existencial, sinal da santidade transcendente da
Igreja: quer-se viver com maior plenitude, por meio desta especial consagração,
aquela identificação pessoal com Cristo, que se iniciou com o batismo. Ela se
expressa principalmente pelo voto de castidade através do qual o religioso se
une ao
Senhor com um
amor indivisível (OT 10) , e pela caridade da vida em comunidade é um prenúncio
da união perfeita no reino futuro.
Nas congregações
de vida ativa, a ação apostólica, como atividade missionária, não é um trabalho
de desagregação da vida religiosa, mas uma manifestação do desígnio de Deus
na história da salvação que «também tende à plenitude escatológica» (AG 9) .
O testemunho do
mundo futuro se manifesta de modo especial na vida religiosa contemplativa que
é uma mediação e uma presença do mistério de Deus no mundo. A ela corresponde
um grande papel, especialmente na situação latino-americana, já que, com sua
vida de fé e abnegação, os contemplativos convidam a uma visão mais crista do
homem e do mundo.
5. Tanto na vida
ativa como na contemplativa requer-se, para que esse testemunho seja autêntico,
um contato íntimo com Deus na oração pessoal e um aprofundamento no sentido da
caridade que tem sua melhor expressão na celebração eucarística.
6. Colocados
esses princípios e orientando-se este documento especialmente para o
desenvolvimento e pastoral na América Latina, insistiremos somente naqueles
aspectos da vida religiosa que têm relação direta com estes temas.
7. As mudanças
provocadas no mundo latino-americano pelo processo de desenvolvimento e, por
outro lado, os planos de pastoral de conjunto, através dos quais a Igreja da
América Latina quer encarnar-se em nossas concretas realidades de hoje, exigem
uma revisão séria e metódica da vida religiosa e da estrutura da comunidade.
Esta é uma condição indispensável para que os religiosos sejam um sinal inteligível
e eficaz dentro do mundo atual.
8. Algumas vezes
a separação entre a vida religiosa e o mundo é interpretada equivocamente e há
comunidades que mantém ou criam barreiras artificiais, esquecendo-se que a
vida comunitária deve abrir-se para o ambiente humano que a cerca, a fim de
irradiar a caridade e abranger todos os valores humanos.
9. A verdadeira
caridade tem como efeito a flexibilidade de espírito para adaptar-se a toda
sorte de circunstâncias. Ao religioso cabe ter uma perfeita disponibilidade
para seguir o ritmo da Igreja e do mundo atual, dentro dos limites que lhe
marca a obediência religiosa. Deve adaptar-se às condições culturais, sociais e
econômicas ainda que isto suponha a reforma de costumes e constituições ou a
supressão de obras que hoje perderam sua eficácia. Os costumes, os horários, a
disciplina devem facilitar as tarefas apostólicas.
10. É necessário
levar em conta as inquietações e interrogações da juventude, que revelam em
geral uma atitude de generosidade e compromisso com o ambiente.
11. Por outro
lado, é preciso abordar seriamente o «conflito de gerações», que se caracteriza
não somente como conflito entre um sistema de normas, de um lado, e de valores,
de outro, mas também porque a certos valores não se lhes dá o caráter de absolutos,
e este «relativismo» produz na juventude, e mais ainda nos adultos, um estado
de insegurança que chega a afetar os valores da vida religiosa e da própria
fé. É necessário, portanto, dar uma educação personalizadora, que os leve a
realizarem-se através de graduais opções sociais, que tenham por meta a
vivência autêntica dos valores evangélicos.
12. Também
notamos que por causa desta transformação de mudança e insegurança
registram-se numerosas deserções nos institutos religiosos. Nestes casos é necessário
um espírito de compreensão fraterna que facilite ao máximo o reajustamento psicológico
e social dos que deixam a vida religiosa.
13. O amor
fraternal a todos os membros do Corpo místico terá que nascer da «vida
escondida com Cristo em Deus» e há de ser a fonte de todo apostolado (PC 6), e
o apostolado terá que conduzir à unidade da caridade (PO 9) . Para os
religiosos de vida ativa a ação apostólica não pode ser considerada como algo secundário;
muito ao contrário, ela «integra a própria natureza da vida religiosa»; toda a
vida religiosa de seus membros há de estar saturada do espírito apostólico, e
toda a ação apostólica enformada do espírito religioso» (PC 8; LG 44) .
14. A integração
da vida apostólica (em todas as suas manifestações) na própria vida das
instituições religiosas está se apresentando na América Latina como um
problema de características dramáticas, especialmente entre os jovens, mais
sensibilizados pelos condicionamentos do processo de humanização do continente.
15. No entender
desses jovens há uma dissociação prática entre o conjunto de observância a que
se dá o nome de «vida regular» e a participação no desenvolvimento do homem
latino-americano.
16. Isto provoca
uma crítica severa a seus próprios institutos e comunidades, acusando a vida
religiosa, assim entendida, de alienação fundamental relativamente à vida
cristã, e a inadaptação ao mundo de hoje.
17. As crises nas
comunidades religiosas tomam grandes proporções, enquanto diminui o número dos
que nelas ingressam.
18. a) Por isso
recomendamos aos religiosos: desenvolver e aprofundar uma teologia e uma
espiritualidade da vida ativa. É necessário adquirir uma mentalidade que valorize
sobrenaturalmente os elementos de penitência que o apostolado encerra e que
realce o exercício das virtudes teologais e morais que ele implica.
b) É preciso
tomar consciência dos graves problemas sociais de vastos setores do povo em que
vivemos.
19. A situação
atual não pode deixar inativos os religiosos que, embora não tenham que
intervir no sentido de dirigir o que é temporal, hão de trabalhar diretamente
com as pessoas em um duplo aspecto: no de fazê-las viver sua fundamental
dignidade humana e no de servi-las em vista dos bens da redenção (CELAM,
Conclusões de Mar del Plata, p. 39) .
20. Consideramos
que a colaboração do religioso para o desenvolvimento integral é algo vital e
inerente à sua própria vocação. Cada um deve aceitar generosamente seu papel,
sobretudo os que, por sua educação, sua situação e sua influência, têm maiores
possibilidades (PP 32) .
21. A este
respeito recordamos aos religiosos a necessidade de:
a) Insistirem em
uma séria formação espiritual, teológica, profunda e continuada, harmonizada
com o cultivo e apreciação dos valores humanos.
b) Valorizar o
apostolado e suas exigências como elemento essencial da vida religiosa. A
fidelidade a este aspecto essencial exige dos religiosos a renovação constante
de seus métodos dentro da continuidade com seu próprio patrimônio, para
assimilar tudo o que de melhor for surgindo na Igreja e adaptar seus sistemas
aos novos processos e novas necessidades e, em nosso caso, a Igreja da América
Latina, em cumprimento de sua missão salvadora vá ao encontro do problema do
desenvolvimento.
c) Considerar que
o desenvolvimento se conecta necessariamente com dimensões de justiça e
caridade; a teologia deve intervir para ponderá-las no sentido de uma pastoral
que cada vez mais carece de maior atualização, dado o dinamismo do progresso
humano.
d) Rever
sinceramente a formação que se dá no campo social aos religiosos, dando
especial importância às experiências vitais ordenadas à aquisição de uma
mentalidade social.
e) Atender,
educar, evangelizar e promover as classes sociais marginalizadas sobretudo,
com um espírito eminentemente missionário, preocupar-se com os numerosos
grupos indígenas do continente (PC 20).
f)Promover um
autêntico espírito de pobreza que se traduza efetivamente em colocar a serviço
dos outros os bens de que se disponha (PC 13).
g) Realizar o
pedido de Paulo VI referente à reforma agrária no caso de possuírem terras não
necessárias à obra apostólica.
22. É necessário
que em nossos planos de Pastoral de Conjunto possam as congregações religiosas
integrar-se de acordo com o carisma, as finalidades específicas de cada
instituto e as prioridades pastorais, ainda que para isso seja necessário, às
vezes, abandonar certas obras para atender a outras que se considerem mais
urgentes e necessárias.
23. Esta íntima
participação dos religiosos terá que realizar-se a partir da fase de reflexão e
planificação até a fase de realização, sem esquecer que a integração real só se
obtém quando as próprias comunidades religiosas (ao nível provincial e local)
tomarem consciência da responsabilidade pastoral colegial e refletirem em
sintonia com os demais grupos e membros do Povo de Deus.
24. Temos
consciência do indispensável trabalho apostólico que realizam religiosos e
religiosas; eles continuarão sendo, junto ao clero das dioceses, a base da
evangelização da América Latina. Sugerimos, sem embargo, que os religiosos se
esforcem por integrar os leigos nos trabalhos apostólicos, respeitando
sinceramente sua competência na ordem temporal e reconhecendo-lhes sua responsabilidade
própria dentro da Igreja.
25. Finalmente,
já que o trabalho de evangelização supõe permanência e estabilidade, esta II
Conferência Geral do Episcopado Latino-americano pede encarecidamente aos
superiores que dêem estabilidade ao pessoal religioso que desempenha funções apostólicas
na América Latina, de acordo com convênios firmados com os bispos da região.
26. A consciência
mais clara que os leigos vão tomando do lugar que lhes cabe dentro da Igreja
por força de seu batismo, leva-nos a ver e apreciar de maneira especial o
enorme potencial que representam para a América Latina os numerosos homens e
mulheres que, conservando sua condição leiga, se consagraram ao Senhor na vida
religiosa ou nos institutos seculares.
27. Recordamos
antes de tudo que «a vida religiosa leiga, tanto para os homens como para as
mulheres, constitui em si mesma um estado completo de profissão dos conselhos
evangélicos» (PC 10) .
28. Todavia, para
que os religiosos leigos possam cumprir sua missão específica na América
Latina de hoje, é necessário que valorizem seu papel de «leigos consagrados» e
consigam uma inserção mais profunda no laicato do Povo de Deus. Por meio de diversas
formas de presença em pequenas comunidades que vivem do próprio trabalho, os
religiosos leigos serão o «fermento na massa». Por suas tarefas apostólicas e
profissionais, comunitárias ou pessoais, eles hão de ser um apoio eficaz para
os leigos que trabalham nas mesmas atividades.
29. No campo da
promoção humana, os institutos leigos deveriam partir para uma diversificação
à luz de uma presença bem compreendida da Igreja em um mundo em
desenvolvimento.
30. Os religiosos
leigos poderão prestar freqüentemente um apoio valioso ao ministério
hierárquico. Deste modo é que adquire especial importância, na situação atual,
o trabalho que realizam as religiosas encarregadas de paróquias nos lugares em
que a presença do padre não é permanente.
31. Toda essa
atualização exige uma preparação esmerada que obriga as comunidades religiosas
a uma profunda reflexão crista sobre as condições humanas encontradas na
América Latina e a uma aptidão profissional nos diversos setores (GE 3) .
32. Os trabalhos
domésticos necessários e meritórios não devem ser, para os religiosos e
religiosas de instituições de apostolado direto, um impedimento para seu trabalho
específico.
33. Uma atenção
especial deve ser prestada à formação espiritual e ao ajornamento dos
religiosos leigos para que eles possam ser um sinal inteligível que manifeste
ao homem latino-americano sua vocação.
(Cir. CLAR, op. cit., p. 48)
34. Por ser a
situação da América Latina muito diferente da de outras regiões, em todos os
planos, é muito importante que as decisões para aplicação concreta das normas
gerais dadas pelos institutos religiosos sejam tomadas pelos responsáveis
latino-americanos de cada país. De outra maneira, corre-se o risco de interpretar
mal a situação regional e local, com grave dano para a vida e a atividade das
comunidades religiosas.
35. A
característica dos religiosos só é compreensível relacionando-a com os outros
membros, funções e ministérios do Povo de Deus.
36. Os religiosos
sacerdotes têm uma situação especial: estão unidos com os bispos no
sacerdócio, são consagrados para ser cooperadores da ordem episcopal, pertencem
ao clero da diocese enquanto participam em obras de apostolado sob a autoridade
dos bispos (PO 7; CD 34) .
37. Religiosos e
religiosas se integram à pastoral hierárquica em diversos níveis: no
sacerdócio, no conselho pastoral, em organismos supra-diocesanos.
38. A diversidade
de níveis de integração supõe para os superiores religiosos a missão de
coordenar e alimentar as diferentes participações; cabe-lhes desenvolver e
manter o sentido de comunidade que deve ligar a vida religiosa, em suas
diversas funções e ministérios, com o Povo de Deus. Em conseqüência, a missão
dos superiores, sobretudo dos superiores de grau mais elevado, deverá integrar-se
muitas vezes em níveis que ultrapassam os da Igreja local.
39. Para o bem da
pastoral diocesana e nacional, é indispensável que os bispos se reúnem periodicamente
com os superiores religiosos e que as Conferências Episcopais convidem para
suas assembléias a Conferência de Religiosos e Religiosas e vice-versa, para
tratar, em um ambiente de compreensão e cordialidade, do que se relaciona com a
participação dos religiosos na pastoral de conjunto (CD 5, 6, 35).
40. Um exemplo
desta coordenação tão necessária encontramo-lo muito bem retratado no plano
continental, graças às relações institucionalizadas já existentes entre a CELAM
e a Confederação Latino-americana de Religiosos - CLAR. Que seja esta a oportunidade
para pedir a todos os religiosos e religiosas do continente que secundem a
atividade de suas conferências nacionais e da CLAR, a fim de que todos esses
organismos sejam para o Episcopado interlocutores cada vez mais válidos e mais
eficazes veículos de nosso interesse pela vida religiosa.
41. De outra
parte, esta II Conferência considera de extrema conveniência que religiosos e
religiosas de diversas regiões da América Latina participem nas Congregações
Romanas e, em particular, na dos Religiosos.
«A América Latina
apresenta uma sociedade em movimento, sujeita a transformações rápidas e
profundas (exortação de Paulo VI ao CELAM, 24 de novembro de 1965, IV 8) . Isto
repercute na Igreja e exige dela uma tomada de posição. A Igreja latino-americana
deve exprimir seu testemunho e seu serviço neste continente, que enfrenta
problemas angustiosos como os de integração, desenvolvimento, profundas
modificações e miséria.
Por outro lado,
diante dos múltiplos problemas de tipo estritamente religioso, a Igreja está
com um número cada vez mais escasso de sacerdotes, com estruturas ministeriais
insuficientes e às vezes inadequadas para um real trabalho apostólico.
Neste contexto
colocamos a formação do clero, que deve ser instrumento fundamental de
renovação de nossa Igreja e resposta às exigências religiosas e humanas de
nosso continente.
A restauração do
diaconato permanente e os problemas particulares suscitados pela existência do
sacerdócio nos leva ao estudo da situação atual da formação do clero.
Em alguns países
da América Latina já se desenvolvem experiências de formação de diáconos. É
cedo para emitir um juízo, porque sendo iniciativas incipientes, ainda não
alcançaram o suficiente grau de maturidade.
Contudo, nota-se
que a promoção do diaconato surgiu devido a determinadas exigências pastorais.
Isso vem dando lugar a uma relativa pluralidade de formas na concepção,
preparo e realização da ação dos candidatos ao diaconato, de acordo com os
ambientes regionais.
- Aspectos positivos: a juventude de
nossos seminários participa das inquietudes e dos valores dos jovens de hoje.
Nota-se neles um desejo de autenticidade e sensibilidade aos problemas sociais,
desejo de justiça e de participação nas responsabilidades nas transformações de
hoje, maior desejo de vida comunitária, diálogo e sentido de Igreja como
catolicidade; anelo de pobreza e busca de valores evangélicos; respeito à
pessoa humana; espírito de iniciativa pastoral; sentido de liberdade e
autonomia; desejo de trabalhar para inserir-se no ambiente e auxiliar em sua
formação; apreço aos valores essenciais.
- Aspectos negativos: da mesma forma, a
crise vivida hoje pela juventude e pela sociedade se refletem na vida do seminário
: tensões entre a autoridade e a obediência; ânsia de total independência;
falta de equilíbrio para discernir entre o positivo e o negativo das novidades
que surgem dentro da vida da Igreja; rejeição de certos valores religiosos
tradicionais; exagerado ativismo que leva a descuidar sua vida de relação
pessoal com Deus; desconfiança dos adultos.
- Aspectos negativos: nota-se uma crise
nos seminários, que se manifesta principalmente numa baixa notável na
perseverança e no ingresso cada vez menor de seminaristas. Há, aqui, algumas
causas reveladoras desta situação: educadores insuficientemente preparados;
falta de unidade de critérios na equipe de formadores e de segurança entre os
mesmos, para defender certos valores fundamentais dentro da formação;
deficiência de uma orientação segura e pessoal no que se relaciona com o
crescimento na fé e na vocação específica sacerdotal nos candidatos; abertura
às vezes muito brusca dos seminários, sem graduá-1a e sem preparar e assistir
os seminaristas; falhas de formação para uma maturidade humana plena; carência
em alguns seminários de um espírito autêntico de família; relaxamento na
direção espiritual do seminário. Certos fatores externos como a crise da atual
figura do sacerdote, a valorização do leigo e do matrimônio como possibilidades
de participação na missão da Igreja e maiores oportunidades para a promoção
social etc.
- Aspectos positivos: nota-se uma ardente
busca de soluções. As principais tentativas atualmente desenvolvidas, entre outras,
são :
Em geral se
verifica que há maior integração na equipe de educadores, atualização deste
nível pessoal, através de cursos e encontros de reflexão, esforços de uma formação
mais pessoal dos seminaristas num ambiente de família; integração do seminário
na comunidade eclesial e na comunidade humana, em maior contato com o bispo e
os párocos com os seminários; maior sensibilidade para as realidades do mundo
atual e da família; renovação dos métodos pedagógicos; aplicação de uma sã
psicologia no discernimento e orientação dos candidatos. Quanto ao seminário
menor, maior incorporação do pessoal leigo, inclusive feminino; abertura para
uma formação fundamentalmente humana e cristã e uma orientação vocacional pluralista;
criação de formas novas de seminários menores, tais como semi-internatos,
externatos, assistência a classes de colégios estatais, particulares, etc.
No que respeita
ao seminário maior: uma formação pessoal à base de equipes e pequenas
comunidades, sobre o que a Santa Sé deu orientações precisas. No campo da
formação intelectual: tendência a unir o pessoal de várias dioceses e
comunidades em centros de estudos comuns e a freqüentar universidades católicas
ou estatais, sobretudo para o estudo da filosofia (Carta do Cardeal Garrone, maio de 1968) .
A razão de ser do
seminário devemos colocá-1a dentro da perspectiva bíblica do chamado e
resposta. Como centro de formação sacerdotal deverá partir, o seminário, da
visão bíblica «Ex Hominibus Assumptus «Pro Hominibus constitutos», para lograr
aquela maturidade humana nos candidatos que os capacite a tornarem-se guias de
homens. Mais ainda que aos simples batizados, pede-se aos seminaristas aquela
maturidade cristã indispensável para serem idôneos do carisma sacerdotal, pelo
qual são chamados a configurar-se com Cristo, Cabeça do Corpo Místico. Esta
configuração com o sacerdócio ministerial de Cristo os situa num nível especificamente
distinto do sacerdócio comum dos fiéis.
De acordo com o
que ficou dito e tendo em conta a situação latino-americana, e sem pretender
esgotar todos os aspectos de formação contidos nos documentos do Concílio
Vaticano II e da Santa Sé, permitimo-nos destacar os seguintes pontos:
Considerando o
papel específico do sacerdote na América Latina e as tarefas da pastoral que
esta Conferência destacou, julga que a formação específica dos seminários deve
insistir particularmente sobre algumas atitudes e virtudes sem pretender que
elas sejam nem as únicas nem as principais.
Exige-se do
sacerdote de hoje saber interpretar, habitualmente, à luz da fé, situações e
exigências da comunidade. Esta tarefa profética, por um lado, exige a capacidade
de compreender, com a ajuda do laicato, a realidade humana; exige, por outro,
como carisma específico do sacerdote em união com o bispo, saber julgar as
realidades que estão em conexão com o plano de salvação. Para chegar a esta
capacidade necessita-se de:
3.1.1.1. Uma
profunda e continuada purificação interior que dê capacidade ao homem para
captar as autênticas exigências da Palavra de Deus (sentido da direção espiritual)
.
3.1.1.2. Um
«sensus fidei» que é aprofundado particularmente pela Sagrada Escritura,
assimilada vitalmente pela oração pessoal, por uma ativa, consciente, frutuosa
participação na liturgia e pelo estudo sério da mensagem; por um constante
confronto com o ensino do magistério da Igreja. Com o mesmo fim parece
necessário desenvolver uma forte paixão pela verdade e uma disposição habitual
para defender-se da unilateralidade com uma busca e verificação comunitárias.
3.1.2.1. No
período em que a pastoral latino-americana se acha comprometida com a promoção
humana, a fim de que cada homem se realize a si mesmo e goze dos bens da
natureza, é necessário que o sacerdote dê a seus irmãos, de maneira
convincente, o testemunho de saber viver com equilíbrio e liberdade a renúncia
daqueles bens da natureza, sem lhes dar um valor absoluto, evitando assim que
se repitam os erros de outros países.
3.1.2.2. O
Concílio Vaticano II e o Sumo Pontífice reafirmaram recentemente a vigência do
celibato para os sacerdotes. Sendo o motivo central do celibato a entrega a
Cristo, e por ele à Igreja, e constituindo ao mesmo tempo uma forma de
caridade pastoral que se confunde com a consagração total e é um testemunho escatológico
para os homens, é necessário que se dêem aos seminaristas bases muito sólidas
para garantir seu cumprimento. Assim pois, dadas as circunstâncias concretas em
que freqüentemente o sacerdote latino-americano vive, é de particular
importância uma cuidadosa formação dos seminaristas nesse sentido.
Principalmente isso exige uma formação gradual, de acordo com o desenvolvimento
físico e psicológico; capacidade para que realize uma escolha madura, consciente
e livre; capacidade de amor e de entrega sem reserva, que exige uma fé forte,
que o capacite a responder ao chamado de Deus; disciplina ascética e vida de
oração que o leve a uma maturidade no relacionamento com 0 outro sexo; uma
realização do sentido da amizade e a capacidade para trabalhar em equipe com
seus irmãos sacerdotes.
O sacerdote está
posto ao serviço do povo como Cristo. Isto exige que ele aceite sem limitações
as exigências e as conseqüências do serviço aos irmãos e, em primeiro lugar,
saber assumir as realidades e “o sentido do povo” em suas situações e em sua mentalidade.
Ele, com espírito
de humildade e espírito de pobreza, antes de ensinar deve aprender, fazendo-se
tudo para todos a fim de leva-los a Cristo.
Assim como a
Pedro, Cristo pede ao seminarista de hoje um serviço de entrega total, como
resultado de amor pessoal a ele e ao Pai, pelo Espírito, já que Cristo não quer
servos, mas amigos.
A disciplina é
indispensável, não somente para a boa ordem, mas sobretudo para a formação da
personalidade. É necessário que a disciplina seja objeto de uma adesão interior
para o seminarista, o que só é possível se os jovens perceberem seu valor e se
tiverem por objeto metas essenciais (tudo isto dentro das orientações do
Concílio e de Paulo VI. Cf. 11; Paulo VI no Seminário Lombardo 1966).
3.3.1. Hoje mais
do que nunca é urgente atualizar os estudos de acordo com as orientações do
Concílio, insistindo naqueles aspectos que mais particularmente se relacionam
com a situação atual do continente.
3.3.1.2. Nesse
sentido cuide-se da pureza doutrinal, ante uma tendência de novidades não
suficientemente fundamentadas (cf. Discurso de Paulo VI na abertura da II
Assembléia do CELAM) . Insista-se, além disso, em aprofundar-se de tal modo que
se alcance um alto nível intelectual com vistas sobretudo à sua condição de
pastor.
3.3.1.3. Dê-se
uma importância particular ao estudo e investigação de nossas realidades
latino-americanas em seus aspectos religioso, social, antropológico e
sociológico.
3.3.1.4. Quanto
ao professorado, constatada a capacitação dos futuros professores, há que procurar
atualizá-los, por meio de encontros, cursos e institutos de alcance nacional e
latino-americano, buscando ainda a colaboração de professores especializados
que possam prestar serviços nos diferentes centros.
3.4.1. Há que
cuidar que os professores de seminários tenham experiência pastoral e, ademais,
que o clero esteja convenientemente atualizado para que assim possa colaborar
eficazmente para a formação dos futuros sacerdotes.
3.4.2. Numa forma
mais concreta e em conformidade com sua futura atividade pastoral,
providencie-se melhor preparação dos seminaristas em alguns aspectos de particular
importância de nosso ambiente latino-americano: formação básica sobre pastoral
de conjunto, preparação para a iniciação e assistência às comunidades de base,
conveniente formação e treinamento da dinâmica de grupos e relações humanas e
adequada informação para utilizar os meios de comunicação social.
3.4.3. Por outro
lado, deve-se procurar que participem de atividades pastorais de forma
gradual, progressiva e prudente, especialmente na época de férias.
3.5.1. Sendo a
pastoral vocacional a ação da comunidade eclesial sob a orientação da
hierarquia para levar todos os homens a fazerem sua parte na Igreja, toda a comunidade
cristã, unificada e guiada pelo bispo, é responsável solidamente pelo desenvolvimento
vocacional, tanto no seu aspecto fundamental cristão, «a vocação», quanto em
seus aspectos específicos: vocações sacerdotais, religiosas e leigas.
3.5.2. Note-se
que o sacerdote, por sua própria missão, deve ser o mediador mais direto nos
chamados de
Deus, pelo ideal
que deve encarnar para a juventude, e porque, sendo fiel à sua vocação, será
mais sensível aos chamados de Deus nos outros.
3.5.3. Dado o fenômeno
de um número cada vez mais crescente de jovens e mesmo de adultos, tenha-se
cuidado especial na promoção e cultivo dessas vocações. Para isso é necessário
uma pastoral juvenil que, para ser plenamente autêntica, deve levar os jovens
a um amadurecimento pessoal e comunitário, e assim assumirem um compromisso
concreto ante a comunidade eclesial em alguns dos mencionados estilos de vida.
3.6.1. Procure-se
promover no seminário, uma reflexão contínua sobre a realidade em que vivemos,
a fim de que se saiba interpretar os sinais dos tempos e se criem atitudes e
mentalidade pastoral adequadas.
3.6.2. Todos os
que participam da vida do seminário, sejam quais forem os seus graus, devem-se
considerar como educadores.
3.6.3. Verifica-se,
na América Latina, uma busca de novas formas de preparação de sacerdotes.
Tenha-se em conta que, para que tais experiências sejam fecundas, devem ser
preparadas refletidamente, aprovadas pelas autoridades competentes, bem compreendidas
pelos interessados, acompanhadas, controladas e avaliados os seus resultados,
tendo sempre em conta sua reversibilidade. Ademais, seria desejável que, uma
vez demonstrada sua validade, fosse comunicada às Conferências Episcopais dos
distintos países, para utilização comum.
3.6.4. Por razões
óbvias, é conveniente que a formação dos seminaristas, em geral, seja realizada
no seu próprio ambiente.
3.6.5. Julga-se
conveniente que os sacerdotes de outros países designados para trabalhar na
formação do clero, sigam cursos de adaptação em centros nacionais ou
internacionais e que completem um período prudencial de trabalho pastoral.
3.6.6. Para uma
maior economia de forças e melhoramento do ensino, recomendam-se iniciativas
como: seminários regionais e internacionais, cuidando que haja simultaneamente
uma integração dos bispos responsáveis e que, na medida do possível, abranjam
zonas humana e pastoralmente homogêneas. Igualmente recomendam-se institutos
e faculdades de filosofia e teologia comuns para os candidatos ao clero
diocesano e religioso. Isto ajudará a promover maior integração no futuro
trabalho pastoral e melhor inserção na realidade do mundo atual.
3.6.7.
Considera-se de muita utilidade que se intensifique a colaboração mútua e as
relações entre o CELAM e OSLAM (Organização de Seminários Latino-Americanos)
com as Comissões Episcopais de Seminários e com as Conferências Nacionais de
Religiosos, havendo uma informação mútua sobre os problemas de cada um.
Em seguida
assinalamos algumas orientações gerais no que se refere à formação dos diáconos
permanentes.
3.7.1. Fator
indispensável na formação do futuro diácono será a colaboração recíproca entre
este e a comunidade. Quer dizer que o candidato amadurece sua formação atuando
na comunidade e esta também contribui para formá-lo. Além disso, os métodos de
formação terão de levar em conta a psicologia do adulto, excluindo todo tipo
de formação massificadora e utilizando os métodos ativos.
3.7.2. A primeira
preocupação dos responsáveis da formação do futuro diácono será a de prepará-1o
para que seja capaz de criar novas comunidades cristãs e ativar as existentes,
para que o ministério da Igreja possa realizar-se nelas com maior plenitude.
3.7.3. Em vista
do que acima ficou dito, é necessário despertar nos candidatos uma
espiritualidade diaconal própria, que nos casados se una a uma autêntica
espiritualidade conjugal.
3.7.4.
Considerando-se as diversas tarefas que o ministério diaconal terá de realizar
na América Latina, será necessário que a formação intelectual seja ao mesmo tempo
adequada às funções que terão de cumprir e ao nível cultural do ambiente.
3.7.5. Ademais,
de acordo com as condições da Igreja na América Latina, na formação do diácono,
cuidar-se-á também de capacitá-lo para uma ação efetiva no terreno da
evangelização e do desenvolvimento integral.
3.7.6.
Recomenda-se que haja nas dioceses, região ou país, equipes responsáveis pela
formação dos candidatos que poderão ser integradas por presbíteros, diáconos,
religiosos e leigos.
l. O Episcopado
Latino-americano não pode ficar indiferente ante as tremendas injustiças
sociais existentes na América Latina,
que mantêm a maioria de nossos povos
numa dolorosa pobreza, que em muitos casos chega a ser miséria desumana.
2. Um surdo
clamor nasce de milhões de homens, pedindo a seus pastores uma libertação que
não lhes chega de nenhuma parte. «Agora
nos estais escutando em silêncio, mas ouvimos o grito que sobe de vosso
sofrimento», disse o papa aos
camponeses colombianos. E chegam igualmente até nós as queixas de que a hierarquia,
o clero e os religiosos, são ricos e
aliados dos ricos. Sobre isso devemos
esclarecer que com muita freqüência se confunde a aparência com a
realidade. Muitos fatores têm contribuído
para a formação desta imagem de uma Igreja hierárquica rica. Os grandes edifícios, as residências
dos párocos e religiosos, quando são superiores às dos bairros em que vivem; os
veículos próprios, às vezes luxuosos; a maneira de vestir herdada de outras
épocas, são alguns desses fatores.
O sistema de espórtulas e pensões escolares
para o sustento do clero e para a
manutenção das obras educacionais, tornam-se mal vistos e até têm contribuído
para a formação de uma opinião
exagerada sobre o montante das somas
percebidas.
Acrescentamos a isso o exagerado sigilo em
que se tem mantido o movimento
econômico de colégios, paróquias e dioceses, ambiente de mistério que agiganta
as sombras e ajuda a criar fantasias; e
casos isolados de condenável enriquecimento que foram generalizados.
Tudo isso tem
levado à convicção de que a Igreja, na América Latina, é rica.
3. Na realidade,
muitíssimas paróquias e dioceses vivem tremendamente pobres. Há casos de
muitos bispos, sacerdotes e religiosos que vivem cheios de privações e que se
entregam com grande abnegação ao serviço dos pobres. Isso escapa, em geral, à
apreciação de muitos e não consegue dissipar a imagem deformada que persiste.
No contexto de
pobreza e até de miséria em que vive a grande maioria do povo latino-americano,
os bispos, sacerdotes e religiosos temos o necessário para a vida e certa
segurança, enquanto os pobres carecem do indispensável e se debatem entre a
angústia e a incerteza. E não faltam casos em que os pobres sentem que seus bispos,
párocos e religiosos, não se identificam realmente com eles, com seus problemas
e angústias, e que nem sempre apóiam os que trabalham com eles ou defendem sua
sorte.
4. Devemos distinguir:
l. A pobreza como carência dos bens deste
mundo, necessários para uma vida humana digna é um mal em si. Os profetas a
denunciam como contrária à vontade do Senhor e, muitas vezes, como fruto da
injustiça e do pecado dos homens.
2. A pobreza espiritual, que é o tema dos
pobres de Javé (cf. Sof 2,3; Magnificat) . A pobreza espiritual é a atitude de
abertura para Deus, a disponibilidade de quem tudo espera do Senhor (cf. Mt 5).
Embora valorize os bens deste mundo, não se apega a eles e reconhece o valor
superior dos bens do Reino (cf. Am 2,6-7; 4,1; 5,7; Jer 5,28; Miq 6,12-13; Is
10,2 etc).
3. A pobreza como compromisso, assumida
voluntariamente e por amor à condição dos necessitados deste mundo, para testemunhar
o mal que ela representa e a liberdade espiritual frente aos bens do Reino.
Continua, nisto, o exemplo de Cristo, que fez suas todas as conseqüências da
condição pecadora dos homens (cf. Flp 2) e que sendo «rico se fez pobre» (2 Cor
8,9) para salvar-nos.
Neste contexto,
uma Igreja pobre:
- Denuncia a
carência injusta dos bens deste mundo e o pecado que a engendra.
- Prega e vive a
pobreza espiritual como atitude de infância espiritual e abertura para o
Senhor.
- Compromete-se
ela mesma com a pobreza material. A pobreza da Igreja é, com efeito, uma
constante na história da salvação.
5. Todos os
membros da Igreja são chamados a viver a pobreza evangélica. Mas nem todos da
mesma maneira, pois nela há diversidade de vocações, que comportam diversos
estilos de vida e diversas formas de agir. Entre os próprios religiosos, que
têm a missão especial de dar testemunho da pobreza, há diferenças segundo os
carismas mais próprios.
6. Dito tudo
isso, é necessário salientar que o exemplo e o ensinamento de Jesus, a
situação angustiosa de milhões de pobres na América Latina, as incisivas exortações
do papa e do Concílio, põem a Igreja latino-americana ante um desafio e uma
missão a que não pode fugir e à qual deve responder com a diligência e audácia
adequadas à urgência dos tempos. Cristo, nosso Salvador, não só amou aos
pobres, mas também, «sendo rico se fez pobre», viveu na pobreza, centralizando
sua missão no anúncio da libertação aos pobres e fundou sua Igreja como sinal
dessa pobreza entre os homens.
A Igreja sempre
tem procurado cumprir essa vocação, não obstante «tantas debilidades e
fracassos nossos, no passado” (ES 50). A Igreja da América Latina, dadas às
condições de pobreza e subdesenvolvimento do continente, sente a urgência de
traduzir esse espírito de pobreza em gestos, atitudes e normas, que a tornem
um sinal mais lúcido e autêntico do Senhor. A pobreza de tantos irmãos clama
por justiça, solidariedade, testemunho, compromisso, esforço e superação para o
cumprimento pleno da missão salvífica confiada por Cristo.
A situação atual exige,
pois, dos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos o espírito de pobreza que
«rompendo as amarras da posse egoísta dos bens temporais, estimula o
cristianismo a dispor organicamente da economia e do poder em benefício da
comunidade (Paulo VI, 23-7-68) .
«A pobreza da
Igreja e de seus membros na América Latina deve ser sinal e compromisso. Sinal
do valor inestimável do pobre aos olhos de Deus; compromisso de solidariedade
com os que sofrem». (ibid.)
7. Por tudo isso
queremos que a Igreja da América Latina seja evangelizadora e solidária com os
pobres, testemunha do valor dos bens do Reino e humilde servidora de todos os
homens de nossos povos. Seus pastores e demais membros do Povo de Deus hão de
dar à sua vida, suas palavras, suas atitudes e sua ação, a coerência necessária
com as exigências evangélicas e as necessidades dos homens latino-americanos.
8. Preferência e solidariedade
O mandato
particular do Senhor, que prevê a evangelização dos pobres, deve levar-nos a
uma distribuição tal de esforços e de pessoal apostólico, que deve visar,
preferencialmente, os setores mais pobres e necessitados e os povos segregados
por uma causa ou outra, estimulando e acelerando as iniciativas e estudos que
com esse fim se realizem.
Queremos, como
bispos, nos aproximar cada vez com maior simplicidade e sincera fraternidade,
dos pobres, tornando possível e acolhedor o seu acesso até nós.
Devemos tornar
mais aguda a consciência do dever de solidariedade para com os pobres;
exigência da caridade. Esta solidariedade implica em tornar nossos seus
problemas e suas lutas e em saber falar por eles.
Isto há de se
concretizar na denúncia da injustiça e da opressão, na luta contra a
intolerável situação suportada freqüentemente pelo pobre, na disposição de
dialogar com os grupos responsáveis por essa situação, para faz-los
compreender suas obrigações.
Expressamos nosso
desejo de estar sempre bem perto dos que trabalham no abnegado apostolado dos
pobres, para que sintam nosso estímulo e saibam que não ouviremos vozes
interessadas em denegrir seu trabalho.
A promoção humana
há de ser a linha de nossa ação em favor do pobre, respeitando sua dignidade
pessoal, ensinando-lhe a ajudar-se a si mesmo. Com esse fim, reconhecemos a
necessidade da estruturação racional de nossa pastoral e da integração de
nosso esforço com os esforços de outras entidades.
9. Testemunho
Desejamos que
nossa habitação e estilo de vida sejam modestos; nossa indumentária, simples;
nossas obras e instituições funcionais, sem aparato nem ostentação.
Pedimos aos
sacerdotes e fiéis que nos dêem um tratamento que convenha à nossa missão de
padres e pastores, pois desejamos renunciar a títulos honoríficos próprios de
outras épocas.
Com o auxílio de
todo o povo de Deus, esperamos superar o sistema de espórtulas, substituindo-o
por outras formas de cooperação econômica, desligadas da administração dos
sacramentos.
A administração
dos bens diocesanos ou paroquiais deverá ser integrada por leigos competentes e
dirigida, da melhor forma possível, para o bem de toda a comunidade (PO 17) .
Em nossa missão
pastoral, confiaremos antes de tudo na força da Palavra de Deus; quando
tivermos que empregar meios técnicos buscaremos os mais adequados ao ambiente
em que devam ser usados e os colocaremos a serviço da comunidade (GS 69) .
a) Exortamos os
sacerdotes a darem, também, testemunho de pobreza e desprendimento dos bens
materiais como o fazem tantos, particularmente, em regiões rurais e em bairros
pobres. Com empenho, procuraremos fazer com que tenham um justo, embora
modesto, sustento e a necessária assistência social. Para isso, procuraremos
criar um fundo comum levantado de todas as paróquias e da própria diocese e
das dioceses de todo o país (PO 21).
Estimularemos os
que se sentem chamados a compartilhar da sorte dos pobres, vivendo com eles e
trabalhando com suas próprias mãos, de acordo com o decreto Presbyterorum Ordinis (n. 8) .
b) As comunidades
religiosas, por especial vocação, devem dar testemunho da pobreza de Cristo. Recebam
nosso estímulo as que se sintam chamadas a formar, entre seus membros,
pequenas comunidades, encarnadas realmente nos ambientes pobres; serão um
chamado contínuo à pobreza evangélica dirigido a todo o Povo de Deus.
Esperamos,
também, que possam cada vez mais fazer participar de seus bens os outros,
especialmente os mais necessitados, repartindo com eles não só o supérfluo,
mas também o necessário e dispostos a colocar a serviço da comunidade humana os
prédios e instrumentos de suas obras (GS 68).
A distinção entre
o que pertence à comunidade e o que pertence às obras, permitirá a realização
de tudo isto com maior facilidade. Igualmente, permitirá buscar novas formas
para essas obras, da qual participem também outros membros da comunidade
crista, em sua administração ou propriedade.
c) Estes exemplos
autênticos de desprendimento e liberdade de espírito, fará com que os demais
membros do Povo de Deus dêem testemunho análogo de .pobreza. Uma sincera
conversão terá que modificar a mentalidade individualista em outra de sentido
social e preocupação pelo bem comum. A educação da infância e da juventude, em
todos os níveis, começando pelo lugar, deve ser incluída neste aspecto
fundamental da vida cristã.
Este sentimento
de amor ao próximo é efetivo quando se estuda e se trabalha tendo em vista a
preparação ou a realização de um serviço para a comunidade; quando se trata de
render e produzir mais para maior benefício da comunidade; quando se dispõe organicamente
a economia e o poder em benefício da comunidade.
10. Serviço
A Igreja não é
impulsionada por nenhuma ambição terrena. O que ela quer é ser humilde
servidora de todos os homens (GS 3; Paulo VI, 7-12-65).
Precisamos
acentuar esse espírito em nossa América Latina.
Queremos que
nossa Igreja latino-americana esteja livre de peias temporais, de conveniências
indevidas e de prestígio ambíguo; que livre pelo espírito dos vínculos da
riqueza (Paulo VI, 24-8-68), seja mais transparente e forte sua missão de
serviço; que esteja presente na vida e nas tarefas temporais, refletindo a luz
de Cristo, presente na construção do mundo.
Queremos
reconhecer todo o valor e autonomia legítima das tarefas temporais;
servindo-nos delas, não queremos desvirtuá-las nem desviá-las de seus próprios
fins (GS 38). Desejamos respeitar sinceramente a todos os homens, escutando-os
para servi-los em todos os seus problemas e angústias (GS 1,3) . Assim, a
Igreja, continuadora da obra de Cristo, «que sendo rico se fez pobre por nós,
para enriquecer-nos com sua pobreza” (2 Cor 8,9), apresentará ao mundo um sinal
claro e inequívoco da pobreza do Senhor.
1. Em nosso
continente, milhões de homens se encontram marginalizados da sociedade e
impedidos de alcançar a plena dimensão de seu destino, ou em virtude da
existência de estruturas inadequadas e injustas, ou por outros fatores, como o
egoísmo e a insensibilidade das classes dirigentes; de outro lado, nossos povos
estão tomando consciência da necessidade de desencadear um processo de
integração em todos os níveis: desde a integração dos marginalizados nos
benefícios da vida social, até a integração econômica e cultural de nossos
países.
2. A Igreja deve,
pois, fazer face a esta situação com estruturas pastorais aptas, marcadas pelo
sinal da organicidade e da unidade. Nesse sentido, quando se examina a
realidade latino-americana, constata-se alguns fatores de ordem positiva e
outros de ordem negativa.
a) Entre os
primeiros, podemos mencionar:
- A consciência
bastante difundida, ainda que às vezes imprecisa e vaga, das idéias de
«Pastoral de Conjunto» e de «Planificação Pastoral», como também diversas
realizações efetivas nesta linha.
- A vitalização
dos vicariatos forâneos, a criação de zonas, e a constituição de equipes
sacerdotais, por exigências da ação pastoral conjunta.
- A celebração de
Sínodos e a constituição, já iniciada em vários lugares, dos Conselhos
presbiterais e de pastoral, incentivados pelo Concílio.
- O desejo dos
leigos de participar das estruturas pastorais da Igreja.
- A importância
adquirida pelas Conferências Episcopais e a própria existência da Conferência
Geral do Episcopado Latino-americano e do CELAM.
b) Entre os
fatores de ordem negativa, figuram os seguintes:
- Inadequação da
estrutura tradicional em muitas paróquias para proporcionar uma vivência
comunitária. - Sensação bastante generalizada de que as Cúrias diocesanas são
organismos burocráticos e administrativos. - Falta de gosto de muitos
sacerdotes, proveniente do fato de não encontrarem um lugar claro e satisfatório
na estrutura pastoral; falta de gosto que amiúde foi o fator decisivo em
algumas crises sacerdotais, tal como foi - por analogia de situações - nas crises
de um número considerável de religiosos e leigos.
- Atitudes
particularistas de pessoas ou instituições, em situações que exigem
coordenação.
- Casos de
aplicação incorreta da Pastoral de Conjunto ou da Planificação, seja por
improvisação ou incompetência técnica, seja pela excessiva valorização dos
«plano”, seja por uma concepção demasiado rígida e autoritária de sua
realização.
l. Toda revisão e
renovação das estruturas eclesiais no que têm de reformável, deve evidentemente
ser feita para atender as exigências de situações históricas concretas, mas
não perdendo de vista a própria natureza da Igreja. A revisão que hoje se deve
levar a cabo em nossa situação continental há de ser inspirada e orientada pelas
idéias diretivas muito sublinhadas no Concílio: a da COMUNHÃO e a da
CATOLICIDADE (cf. LG 13).
2. Com efeito, a
Igreja antes de tudo é um mistério de = comunhão católica, pois no seio de sua
comunidade visível, pela vocação da Palavra de Deus e pela graça de seus sacramentos,
particularmente a Eucaristia, todos os homens podem participar fraternalmente
da comum dignidade de filhos de Deus (LG 32), e todos também, compartilhar a
responsabilidade e o trabalho para realizar a missão comum de dar testemunho do
Deus que os salvou e os fez irmãos em Cristo (LG 17; AA 3) .
3. Esta comunhão
que une a todos os batizados, longe de impedir, exige que dentro da comunidade
eclesial exista multiplicidade de funções específicas, pois para que ela se
construa e possa cumprir sua missão, o mesmo Deus suscita em seu seio diversos
ministérios e outros carismas que determinam a cada qual um papel peculiar na
vida e na ação da Igreja. Entre os ministérios, ocupam um lugar particular os
que estão vinculados com um «caráter» sacramental; estes introduzem na Igreja
uma dimensão estrutural de direito divino. Os diversos ministérios não só devem
estar a serviço da unidade de comunhão, mas também, por sua vez, devem
constituir-se e atuar de forma solidária. Em especial, os ministérios que trazem
anexa a função pastoral - episcopado e presbiterado - devem exercer-se sempre
em espírito colegial, e assim bispos e presbíteros, por terem de atuar sempre
como membros de um corpo (colégio episcopal ou presbitério, respectivamente)
são chamados a constituir na comunidade uma realização «exemplara de comunhão:
«forma facti gregis» («feitos modelo do rebanho») (Pdr 5, 3).
4. É essencial que todas as comunidades
eclesiásticas se mantenham abertas à
dimensão da comunhão católica, de tal
forma que nenhuma se feche sobre si mesma. Assegurar o cumprimento desta
exigência é tarefa que incumbe particularmente aos ministros da hierarquia, e
em forma essencialíssima aos bispos, os quais, colegialmente unidos ao
Pontífice Romano, sua cabeça, são o princípio da catolicidade das Igrejas. Para
que a mencionada abertura seja efetiva e não puramente jurídica, é necessário
haver uma comunicação real, ascendente e descendente, entre a base e a
cúpula.
5. De todo o
exposto, se depreende que a ação pastoral da comunidade eclesial, destinada a
levar o homem todo e a todos os homens à plena comunhão de vida com Deus na
comunhão visível da Igreja, deve ser necessariamente global, orgânica e
articulada. Disto se infere que as estruturas eclesiais devem ser periodicamente
revistas e reajustadas, de tal forma que se possa desenvolver harmoniosamente
o que se chama uma Pastoral de Conjunto: quer dizer, toda essa obra salvífica
comum exigida pela missão da Igreja em seu aspecto global, «como que o
fermento e alma da sociedade humana a ser renovada em Cristo e transformada em
família de Deus» (GS 40).
A) Renovação das estruturas pastorais
a) A vivência da
comunhão a que foi chamado, o cristão deve encontrá-la na «comunidade de base»:
ou seja, em uma comunidade local ou ambiental, que corresponda à realidade de
um grupo homogêneo e que tenha uma dimensão tal que permita a convivência
pessoal fraterna entre seus membros. Por conseguinte, o esforço pastoral da
Igreja, deve estar orientado à transformação dessas comunidades em «família de
Deus», começando por tornar-se presente nelas, como fermento por meio de um
núcleo, mesmo pequeno, que constitua uma comunidade de fé, esperança e caridade
(LG 8; GS 40) . A comunidade cristã de base é, assim, o primeiro e fundamental
núcleo eclesial, que deve em seu próprio nível responsabilizar-se pela riqueza
e expansão da fé, como também do culto que é sua expressão. Ela é, pois, célula
inicial da estrutura eclesial e foco de evangelização e, atualmente, fator
primordial da promoção humana e do desenvolvimento.
b) Elemento
capital para a existência de comunidades cristãs de base são seus líderes ou
dirigentes. Estes podem ser sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas ou
leigos. É desejável que eles pertençam à comunidade por eles animada. A
escolha e formação dos líderes deverá ter acentuada preferência na preocupação
dos párocos e bispos, os quais terão sempre presente que a maturidade espiritual
e moral depende em grande parte da assunção de responsabilidade em um clima de
autonomia (GS 55) .
c) Os membros
destas comunidades, «vivendo conforme a vocação a que foram chamados, exerçam
as funções que Deus lhes confiou: sacerdotal, profética e real», e façam assim
de sua comunidade num sinal da presença de Deus no mundo» (AG 15) .
d) Recomenda-se a
elaboração de estudos sérios, de caráter teológico, sociológico e histórico, a
respeito destas comunidades cristãs de base, que hoje começam a surgir depois
de terem sido ponto-chave na Pastoral dos missionários que implantaram a fé e
a Igreja em nosso continente. Recomenda-se, também, que as experiências que
foram realizadas sejam divulgadas pelo CELAM e coordenadas na medida do
possível.
a) A visão que se
expôs há de levar-nos a fazer da paróquia um conjunto pastoral vivificador e
unificador das comunidades de babe. Assim, a paróquia tem de descentralizar
sua Pastor a1 no tocante a lugares, funções e pessoas, justamente para «reduzir
à unidade todas as diversidades humanas que nela se encontram e inseri-las na
universidade da Igreja» (AA 10) .
b) O pároco terá
que ser, nesta configuração de paróquia, o sinal e o princípio da unidade,
assistido no ministério pastoral pela colaboração de representantes leigos,
religiosos e diáconos. Merecem menção especial os vigários cooperadores, os
quais, não obstante sob a autoridade do pároco, não podem mais ser considerados
meros executores de suas diretivas, mas como seus colaboradores, pois
pertencem ao mesmo e único Presbitério (PO 8) .
c) Quando uma
paróquia não pode ser normalmente atendida, ou contar com um pároco residente,
ela pode ser confiada aos cuidados de um diácono ou a um grupo de religiosos ou
religiosas, a exemplo do que já se fez em algumas regiões com resultados muito
positivos.
d) A comunidade
paroquial faz parte de uma unidade mais ampla: a do vicariato forâneo ou
decanato, cujo titular é chamado a «promover e dirigir a ação pastoral comum
no território a ele confiado» (ES 19,1). Se vários vicariatos forâneos vizinhos
forem suficientemente homogêneos e caracterizados em sua problemática
pastoral, convêm, formar com eles uma região, que poderia ficar sob a
responsabilidade de um vigário episcopal (ES 14,2) .
a) O fato de ser
presidida por um bispo, faz com que uma porção do Povo de Deus «constitua uma
Igreja particular, na qual se encontra e opera verdadeiramente a Igreja de
Cristo que é una, santa, católica e apostólica» (CD 11). O bispo é a «testemunha
de Cristo ante todos os homens» (ibid.),
e sua tarefa essencial é colocar seu povo em condições de testemunho evangélico
de vida e ação. E isto, sem prejuízo do apostolado que compete a todos os batizados
em razão de sua ação. Ele deve preocupar-se de forma especial que os
movimentos apostólicos ambientais, que ocupam um lugar tão importante na
estrutura Pastoral diocesana, se integrem harmonicamente na busca de ditas
metas. Em uma palavra, o bispo tem a responsabilidade da Pastoral de Conjunto
enquanto tal, e todos, na diocese, hão de coordenar sua ação nas metas e
prioridades determinadas por ele.
b) «Para assumir
esta tarefa e responsabilidade, o bispo deve, porém, antes de mais nada, contar
com o Conselho Presbiteral, que deve ajudá-1o eficazmente com seus conselhos
no ministério e função de ensinar, santificar e apascentar o Povo de Deus» (PO
7). É também muito desejável que o bispo possa contar com um Conselho Pastoral,
dotado de consistência e funcionamento (cf. Disc. Paulo VI, II As. Ger. Ep. Lat.-Am.)
: a este Conselho, que representa o Povo de Deus na diversidade de suas condições
e estados de vida (sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e leigos)
incumbe «estudar e ponderar o que diz respeito às obras pastorais, de tal sorte
que se promova a conformidade da vida e ação do Povo de Deus com o Evangelho»
(ES 16). Se o Conselho Presbiteral deve ser o principal canal do diálogo do
bispo com seus presbíteros, o Conselho Pastoral deve sê-1o de seu diálogo com
toda a sua diocese.
c) A Cúria
diocesana, como prolongação da pessoa mesma do bispo em todos os seus aspectos
e atividades, deve ter um caráter primordialmente pastoral (cf. CD 27) , e
seria de desejar que tivesse representação dentro do Conselho Presbiteral.
Recomenda-se que os cargos da Cúria que possam ser exercidos por leigos, sejam
a eles confiados.
d) De
transcendental importância é a figura dos vigários do bispo. A função dos
chamados «Vigários Episcopais» e o caráter eminentemente pastoral de seu papel,
delineado pelo Concílio (cf. CD 27) , dispensam maiores comentários; todavia, é
oportuno sublinhar que não se pode continuar considerando o Vigário Episcopal
como um mero administrador da diocese. Sendo o «altar ego» do bispo, há de ser
um pastor. Na medida mesma em que se multiplicam os Vigários Episcopais
especializados (cf. ES 14,2), é indispensável que o vigário geral seja um homem
penetrado de toda a amplitude da missão episcopal.
e) «Os bispos, em
virtude da sagração sacramental e pela comunhão hierárquica com o chefe e os
membros do Colégio, são constituídos membros do corpo episcopal» (CD 4) . Por
conseguinte, devem «manter-se sempre unidos entre si e mostrar-se solícitos
com todas as Igrejas, já que por instituição divina e por imperativo do ofício
apostólico, cada qual, juntamente com os outros bispos, é responsável pela
missão apostólica da Igreja (ibid., 6). O cumprimento deste dever reflete em
benefício da própria diocese, pois assim a comunhão eclesial dos fiéis se abre
às dimensões da catolicidade.
a) A Conferência
Episcopal deve constituir em cada país ou região a expressão concreta do
espírito de colegialidade que deve animar cada bispo. Deve fortalecer sua
estrutura interna, precisando as respectivas responsabilidades mediante comissões
formadas por bispos competentes, com assessores especializados. É recomendável
a utilização de uma dinâmica de grupo e uma técnica de organização operantes,
com ampla utilização dos meios de comunicação social e de opinião pública.
b) Sua atividade
deve desenvolver-se dentro de uma autêntica Pastoral de conjunto e com planos
pastorais que corresponda sempre à realidade humana e às necessidades
religiosas do Povo de Deus. Deve também ser elemento de integração entre as
diversas dioceses e, em especial, fator de equilíbrio na distribuição de
pessoal e dos meios (cf. CD 6; ES 2; Paulo VI, Exort. Apost., 24-1165). Ela
deve procurar, também, uma autêntica integração de todo o pessoal apostólico
que se oferece ao país, vindo do exterior, em particular mediante o diálogo com
os organismos episcopais que o oferecem.
c) As
Conferências Episcopais devem assumir decididamente todas as atribuições,
reconhecidas ou concedidas pelo Concílio, nos campos de sua competência e de
acordo com seu conhecimento concreto da realidade imediata.
d) As
Conferências Episcopais devem procurar ouvir a voz dos respectivos Presbíteros
e do laicato do país e que chegue até elas fielmente. Por essa razão, devem ter
uma mais estreita e operante integração com a Confederação dos Superiores
Maiores religiosos, incorporado-os no estudo, elaboração e execução da
Pastoral.
e) Para que a
ação seja mais eficaz, faz-se necessário aplicar o que disse o Concílio: 00 bem
das almas pede a devida circunscrição não apenas das dioceses, como das
províncias eclesiásticas, de forma que se provisionem as necessidades de
apostolado de acordo com as circunstâncias sociais e locais» (CD 39). É conveniente
pensar nas conveniências das prelazias pessoais (cf. PO 10; ES 4) para maior
atenção a certos grupos étnicos dispersos em várias circunscrições
eclesiásticas e em situações variadas, incluindo aqui as situações migratórias.
f) As
Conferências Nacionais devem ser os órgãos de aplicação dos resultados das
Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano.
g) Para viver
profundamente o espírito católico, as Conferências Episcopais estarão em
contato não apenas com o Pontífice Romano e os organismos da Santa Sé, como
também com as igrejas de outros continentes, tanto para a mútua edificação das
igrejas, como para a promoção da justiça e da paz no mundo.
a) Em nível
continental, o espírito de colegialidade dos bispos latino-americanos, na
solução de problemas comuns, expressa-se na Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e no CELAM, se bem que de diferentes maneiras (cf. Paulo VI,
Exort. Apost. 24-11-65) . Guardada a integridade do CELAM como organismo de
índole continental, nada impede que, para uma maior coordenação dos trabalhos
pastorais, se agrupem vários países que vivem problemas e situações similares.
b) O CELAM, como
órgão de contato, colaboração e serviço, é uma indispensável ajuda para a
reflexão e ação de toda a Igreja latino-americana (cf. Exort. Apost. 24-11-65,
n. 27) .
c) Para que este
organismo tenha uma melhor solidez e funcionalidade, é urgente uma maior
correspondência entre os departamentos do CELAM, e as respectivas Comissões
das Conferências Episcopais Nacionais, por meio das frentes de trabalho.
d) O CELAM, nesta
fase, deve preocupar-se muito na reflexão integral e numa continuada e
enriquecedora comunhão de experiências no campo pastoral. Entre as matérias
cujo estudo seria oportuno que abordasse, atualmente deveriam figurar as
comunidades de base.
e) O CELAM deve
aumentar suas relações com os organismos latino-americanos e mundiais para um
melhor serviço ao continente.
B) Outras exigências da pastoral de conjunto
1. A Pastoral de
Conjunto, levando em conta o momento atual da Igreja na América Latina, além
da já mencionada reforma de estruturas, exige: a) uma renovação pessoal, e b)
uma ação pastoral devidamente planificada de acordo com o processo de desenvolvimento
da América Latina.
2. A renovação
pessoal implica um processo de contínua mentalização ou ajornamento, de dois
pontos de vista:
a)
teológico-pastoral, fundamentado nos documentos conciliares e na teologia
vigente; e
b) pedagógico,
proveniente de um contínuo diálogo apoiado na dinâmica de grupo e na revisão da
ação levada a efeito pelas equipes de pastoral, tendendo a criar um autêntico
sentido comunitário, sem o qual é totalmente impossível uma genuína Pastoral de
Conjunto.
Esta renovação
pessoal deve alcançar todas as esferas do Povo de Deus, criando nos bispos,
sacerdotes, religiosos e leigos, movimentos e associações, uma só consciência
eclesial.
3. Uma ação
pastoral planificada exige:
a) Estudo da
realidade local, com a colaboração técnica de organismos e pessoas
especializadas.
b) Reflexão
teológica sobre a realidade.
c) Levantamento e
ordenação dos elementos humanos disponíveis e dos materiais de trabalho; o
pessoal especializado deve-se preparar nos diversos institutos nacionais ou
latino-americanos.
d) Determinação
das prioridades de ação.
e) Elaboração do
plano pastoral. Para tal, devem ser seguidos os princípios técnicos e sérios de
uma autêntica planificação, dentro de uma integração em planos de nível
superior.
f) Avaliação
periódica das realizações.
1.1. A
Comunicação Social é hoje uma das principais dimensões da humanidade. Ela
inaugurou uma nova época e produz um
impacto que aumenta na medida em que
avançam os satélites, a eletrônica e a ciência em geral.
Os Meios de
Comunicação Social (MOS) abrangem a
pessoa na sua totalidade. Plasmam o homem e a sociedade e tomam cada vez mais
seu tempo livre. Forjam uma nova
cultura, produto da civilização audiovisual que, se por um lado tende a massificar o homem, por outro favorece sua personalização.
Esta nova cultura, pela primeira vez, se põe ao alcance de todos, alfabetizados
ou não, fato que não acontecia com a
cultura tradicional, que favorecia apenas
uma minoria.
1.1.1. De outra parte, aproximam homens e
povos, convertendo-os em próximos e
solidários, contribuindo desta forma
para o fenômeno da socialização (cf. IM 59),
uma das conquistas da época moderna.
1.2. Na América
Latina os MCS representam um dos
fatores que mais têm contribuído e contribuem para despertar a
consciência das grandes massas sobre suas condições de vida, suscitando
aspirações e exigências de transformações radicais. Ainda que de forma
incipiente, vêm atuando, também, como
agentes positivos de mudança através da educação de base, programas de formação
e opinião pública etc.
1.2.1. Todavia, muitos destes meios estão
vinculados a grupos econômicos e
políticos, nacionais e estrangeiros,
interessados na preservação do «status quo» social.
1.3. A Igreja empreendeu uma série de iniciativas
neste campo. Se algumas não chegaram a preencher sua finalidade pastoral,
deveu-se acima de tudo à falta de uma visão clara do que representa a
comunicação social em si mesma e ao desconhecimento das condições que seu uso
impõe.
2.1. A Igreja
universal acolhe e incentiva os maravilhosos inventos da técnica, sobretudo os
que se referem ao espírito humano, e têm aberto novos caminhos à comunicação
entre os homens, como a imprensa, o cinema, rádio, televisão, teatro, discos
etc. (cf. IM 1).
Também na América
Latina a Igreja recebe com prazer a ajuda providencial destes meios, com a
firme esperança de que contribuirão cada vez mais para a promoção humana e
cristã do continente.
2.2. Os MCS são
essenciais para sensibilizar a opinião pública no indispensável processo de
transformação da América Latina; são essenciais para apoiar esse processo;
essenciais para impulsionar os centros de poder que inspiram os planos de
desenvolvimento, a fim de orientá-los segundo as exigências do bem comum; são
essenciais para divulgar ditos planos e promover a participação ativa de toda a
sociedade em sua execução, especialmente nas classes dirigentes.
2.3. De igual
maneira, os MCS se convertem em agentes ativos do processo de transformação,
quando se colocam ao serviço de uma autêntica educação integral, apta para
desenvolver o homem todo, capacitando-o a ser o artífice de sua própria
promoção; o que se aplica também à evangelização e ao crescimento na fé.
2.3.1. De outra
parte, não se pode ignorar que o uso dos MCS ocupa cada vez mais o tempo livre
de todas as categorias de pessoas que buscam neles a distração. Este uso lhes
proporciona ao mesmo tempo informação, conhecimentos e influências morais positivas
e negativas.
2.4. No mundo de
hoje a Igreja não pode cumprir a missão que Cristo lhe confiou de levar a
Boa-nova «até os confins da terra», se não emprega os MCS, únicos capazes de
chegar efetivamente a todos os homens.
2.4.1. A palavra
é o vínculo normal da fé: «Fides ex auditu» (Rom 10,17) . Em nossos tempos,
«palavra» também compreende imagem, cores e sons, adquirindo formas variadas
através dos diversos MCS. Ademais, os MCS, assim compreendidos, são um
imperativo dos tempos presentes para que a Igreja realize sua missão
evangelizadora (Ml 28,26).
2.5. Finalmente,
a Comunicação Social é para a Igreja o meio de apresentar a este continente
uma imagem mais exata e fiel de si mesma, transmitindo ao grande público não
apenas notícias relativas aos acontecimentos da vida eclesial e suas atividades,
mas, sobretudo, interpretando os fatos à luz do pensamento cristão.
2.6. Por todas
estas razões, é que o Decreto Inter Mirifica
concita a todos os filhos da Igreja para que utilizem os MCS eficazmente, sem
a menor dilação e com o máximo empenho. E «insiste com os sagrados pastores
para que cumpram sua missão neste campo, intimamente ligada ao seu dever
ordinário de pregar» (cf. IM 3).
3.1. O influxo
sempre crescente e esmagador que a comunicação social exerce em toda a vida do
homem moderno, leva a Igreja a estar presente neste campo, com uma pastoral
dinâmica que abarque todos os setores deste amplo mundo.
3.2. Reconhecendo
o direito de a Igreja possuir meios próprios, que em alguns casos são
necessários para ela, faz-se indispensável um requisito para justificar essa
possessão: não apenas contar com uma organização que garanta sua eficácia
profissional, econômica e administrativa, mas sobretudo que preste um serviço
real à comunidade.
3.3. A inserção
dos cristãos no mundo de hoje obriga a que estes trabalhem nos MCS alheios à
Igreja segundo o espírito de diálogo e serviço assinalado pela Constituição Gandium et Spes. O profissional
católico, chamado a ser fermento na massa, cumprirá melhor sua missão se
integrar nesses meios para ampliar os contatos entre a Igreja e o mundo, e, ao
mesmo tempo, contribuir na sua transformação.
3.4. Dada a
dimensão social destes meios e a escassez de pessoal habilitado para neles
atuar, urge suscitar e promover vocações no campo da comunicação social, especialmente
entre os leigos.
3.5. Este pessoal deve receber uma adequada
formação apostólica e profissional, de acordo com os diversos níveis e categorias de suas funções; a
formação deverá incluir tanto conhecimentos teológicos, como sociológicos e
antropológicos que exigem as realidades do continente.
3.6. O trabalho de formação, no que se refere
aos usuários da comunicação social, se estenderá às pessoas de todas as condições
sociais, e de modo particular aos jovens, para que conheçam, valorizem e
apreciem esses meios fundamentais pelos quais se expressa o mundo
contemporâneo, desenvolvendo seu sentido crítico e sua capacidade de tomar
responsavelmente suas próprias decisões.
É conveniente, pois, que esta capacitarão
comece desde os níveis inferiores do ensino e também esteja incluída na catequese (cf. IM 16).
3.7. Em virtude do caráter de ministros da
«Palavra» e de educadores do Povo de Deus, é igualmente necessário que se ofereçam
aos bispos, sacerdotes e religiosos de ambos os sexos, cursos que os instruam no significado da comunicação social e no conhecimento das
condições que regem sua utilização.
Esta formação deve ser matéria de
estudo sistemático nos seminários e casas de formação religiosa (cf. IM 15).
3.7.1. Devido à
importância que a Igreja concede aos
MCS, pedimos aos superiores eclesiásticos que facilitem a capacitarão e dedicação de sacerdotes,
religiosos e religiosas à tarefa específica da formação, assessoria e
inspiração das obras apostólicas, relacionadas com este campo.
3.8. Aos
estudiosos e intelectuais, especialmente às seções especializadas das
universidades e institutos de MCS,
pedimos que aprofundem o estudo do fenômeno da comunicação social em
seus diversos aspectos - entre os quais,
a Teologia da Comunicação - a fim de especificar cada vez mais as dimensões desta nova cultura e
suas projeções futuras. De igual maneira, solicitamos que promovam e utilizem todo tipo de investigações que
ensine a melhor adaptar os MCS à uma
mais efetiva promoção das distintas comunidades.
3.9. O material
adaptado às variadas culturas locais (p. ex.: artigos de imprensa, emissões
radiofônicas e televisivas etc.) deve ser orientado para a promoção dos valores
autóctones e que possam ser recebidos adequadamente pelos destinatários.
3.10. Para os
objetivos específicos da Igreja é necessário que, entre outras coisas, se
criem e fortaleçam em cada país da América Latina, Escritórios Nacionais de Imprensa,
Cinema, Rádio e Televisão, com a autonomia que requer seu trabalho e com a
eficiente coordenação entre os mesmos.
3.11. Estes
Escritórios devem manter uma estreita relação com os organismos continentais :
ULARC, UNDAAL e SAL-OCIC. Da mesma forma, ditos organismos devem prestar toda
sua colaboração ao Departamento de Comunicação Social do CELAM, para
estruturar planos de nível latino-americano e promover sua execução.
3.12. É
indispensável favorecer o diálogo sincero e eficaz entre a hierarquia e todos
aqueles que trabalham nos MCS. Este diálogo também deve ser mantido com os que
atuam nas estruturas próprias da Igreja com o propósito de estimulá-los e
orientá-los pastora1mente.
3.13. Esta
atitude de abertura vem de encontro à necessária liberdade de expressão,
indispensável dentro da Igreja, conforme o espírito da Gantium et Spes, 92: «A Igreja... consolida um diálogo sincero, o
qual, em primeiro lugar, requer que se promova no seio da Igreja uma mútua
estima, respeito e concórdia. Reconhecendo todas as legítimas diversidades para
abrir com fecundidade sempre crescente, o diálogo entre todos os que integram
o único Povo de Deus, tanto os pastores como os demais fiéis. Os laços de união
entre os fiéis são muito mais fortes que os motivos de divisão entre eles. Haja
unidade no necessário, liberdade no duvidoso e caridade em tudo».
3.14. A
Assembléia lembra aos Episcopados Nacionais a disposição do Decreto Inter Mirifica, que em seu n. 18,
oferece uma oportunidade excepcional para ensinar aos fiéis a transcendência da
mesma na vida do homem e da sociedade.
3.15. As
observações e orientações pastorais que mencionamos, põem em relevo a
importância que hoje ocupam os MCS; sem eles não se poderá obter a promoção do
homem latino-americano e as necessárias transformações do continente. Assim,
de todo o exposto, se infere não apenas sua utilidade e conveniência, mas
sobretudo a necessidade absoluta de empregá-los, em todos os níveis e em todas
as formas, na ação pastoral da Igreja, para conseguir os fins a que esta
Assembléia se propôs.
ÍNDICE
III. Projeções da
pastoral social
l. Orientação da
mudança, social
3. Informação e
conscientização
A situação
Latino-Americana e a paz
I. Tensões entre
classes e colonialismo interno
II. Tensões
internacionais e neocolonialismo externo
III. Tensões entre
os países da América, Latina,
II. O problema da
violência na América Latina
I. A família em
situação de transformação na América Latina
II. Papel da
família na América Latina
3. Promotora do
desenvolvimento
III. Problemas de
demografia na América Latina,
IV. Recomendações
para uma pastoral familiar
I. Características
da educação na América, Latina
II. Sentido
humanista e cristão da educação
1. A educação
libertadora como resposta a nossas necessidades
2. A educação
libertadora e a missão da Igreja
3. Relativamente à
universidade católica
4. Relativamente
ao planejamento
2. Critérios
básicos para orientação pastoral
3.2. A) Com
relação à juventude em geral
3.5. B) Com
relação aos movimentos juvenis
1. Artistas e
homens de letras
2. Universitários
(estudantes)
I. Necessidade de
uma renovação
II.
Características da renovação
III. Prioridades
na renovação catequética
IV. Meios para a
renovação catequética
I. Dados garis
sobre a situação na América Latina
II. Fundamentação
teológica e pastoral
II. Critérios
teológico-pastorais
I. Observações
sobre a situação atual
2. Diversidade da
situações concretas
3. O quantitativo
s o qualitativo em relação aos sacerdotes
4. Consideração
das carismas sacerdotais
II. Elementos de
reflexão pastoral
II. Algumas
conclusões orientadoras
Participação no
desenvolvimento da vida religiosa
Leigos consagrados
na Vida Religiosa e nos Institutos Seculares
Necessidade de
centros regionais de decisão
Os Religiosos na
vida do Povo de Deus sob a coordenação da Hierarquia
I. Realidade da
Igreja na América Latina
1.2. Estado atual
da formação ao clero
3.1.1. Capacidade
para ouvir fielmente a Palavra de Deus.
3.1.2. Uma
espiritualidade marcada pelos conselhos evangélicos
3.1.4. Experiência
pessoal e amor a Cristo
1. Comunidades
cristãs de base
2. Paróquias,
vicariatos forâneos e zonas
16. MEIOS DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL
[1] Paulo VI, Discurso de Abertura da II Conferência do Episcopado Latino-americano.
[2] Cf. Populorum Progressio, n. 10.
[3] Cf. Populorum Progressio, n. 30.
[4] A comissão analisou de maneira sumária a situação atual da juventude latino-americana, com exceção ao que se refere ao setor universitário, estudo solicitado especialmente da comissão de “Pastoral das Elites”.
[5] Paulo VI, Discurso de Abertura da II Conferência do Episcopado latino-americano.
[6] Mensagem do Concílio aos Jovens.
[7] João XXIII, Humanae Salutis.
[8] No texto, o conceito de “elite” tem um significado puramente descritivo e designa os principais agentes da mudança social, sem qualquer juízo de valor ou conotação classista.
[9] Existem, evidentemente, grupos intermediários que lutam pelas mudanças de estruturas em forma gradativa e mais ou menos acelerada, opondo-se, porém, à violência e aos governos da força.
[10] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 8 e 10.
[11] Cf. Ibid., n. 7.
[12] Cf. Ef. 1,10.
[13] Cf. Lumen
Gentium, nn. 3 e 5.
[14] Cf. Lumen Gentium, n. 48; Sacrosactum concilium, n. 6.
[15] Cf. Lumen Gentium, n. 8; Sacrosactum concilium, n. 2.
[16] Cf. Lumen Gentium, n. 48; Sacrosactum concilium, n. 8.
[17] Cf. Lumen Gentium, n. 1; Sacrosactum concilium, n. 47.
[18] “Parece-nos oportuno chamar a atenção a este respeito sobre dois pontos doutrinários: o primeiro é a dependência da caridade para com o próximo da caridade para com Deus. Conheceis os ataques que sofre em nossos dias, esta doutrina de claríssima e inexpugnável derivação evangélica...” (Discurso de Paulo VI na inauguração da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, Bogotá, 24 de setembro de 1968).
[19] Cf. Ef 1,5.12.14; Sacrosanctum concilium, n. 7.
[20] Cf. Rom 3,23; cf. também Sacrosanctum concilium, n. 10.
[21] Cf. Flp 2,5.
[22] Cf. Presbyterorum ordinis, n. 6.
[23] Cf. gaudium
et spes, n. 43.
[24] Cf. Ibid., n. 41.
[25] Cf. Sacrosanctum concilium, n, M2. (?)
[26] Sobre o sentido bíblico de “glória”, pode-se ver essa palavra no Vocabulário de Teologia Bíblica, ed. Herder.
[27] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 33.
[28] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 41.
[29] Cf. Perfectae caritatis, n 6; Sacrosanctum concilium, nn. 26 e 27.
[30] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 5 e 6.
[31] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 2; Ad gentes, n. 15.
[32] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 11,12 e 48; Gaudium et spes, n. 43. “Associar o povo de Deus à celebração hierárquica e comunitária dos santos ritos, exercitando, não só formalmente, senão também sincera e cordialmente a caridade fraterna” (Paulo VI, Discurso de Abertura da Conferência).
[33] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 9 e 35,3.
[34] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 37; Ad gentes, n. 22; Gaudium et spes, n. 44.
[35] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 37; Lúmen gentium, n. 13;
[36] Cf. Gaudium
et spes, nn. 1 e 42.
[37] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 11 e 48.
[38] Assim, por exemplo, uma liturgia exequial não deve expressar somente o natural sentido de tristeza, mas também p sentido de fé e esperança cristãs na ressurreição (Cf. prólogo do Novo ritual de exéquias).
[39] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 22,1 e 41; Christus Dominus, n. 15; Lúmen gentium, n. 26.
[40] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 41.
[41] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 22,1; Instr. “Inter œcumenici”, n. 22.
[42] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 45 e 46; Instr. “Inter œcumenici”, n. 47.
[43] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 22,2.
[44] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 40.
[45] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 15, 16 e 44.
[46] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 23.
[47] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 46 e 119.
[48] Cf. Sacrosanctum concilium, nn. 126, 127 e 129.
[49] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 59.
[50] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 35,4.
[51] Cf. Sacrosanctum concilium, n. 13.