A ética
católica do trabalho
Por Scott Hahn
Esse trabalho – humilde, monótono, pequeno – é oração plasmada em
obras que te preparam para receber a graça do outro trabalho – grande, vasto e
profundo – com que estás sonhando. (Caminho, n. 825)
Às
vezes, a propaganda dá-nos agudas – e dolorosas – percepções da religiosidade
popular. Certa vez, vi em uma revista um anúncio que proclamava: “Se o pecado
original tivesse sido de preguiça, ainda estaríamos no paraíso”.
O
publicitário pretendia fazer uma piada, é claro. Mas sabia que roçava um tema
poderoso: a noção comum de que a vida ideal consistiria em um ininterrupto
tempo de ociosidade e de que o trabalho está para as férias como a vida está
para o céu. Nas palavras da canção popular, “todo o mundo trabalha pelo fim de
semana”.
O
reverso dessa noção é bem mais insidioso e ilude muita gente: a crença de que o
trabalho é uma punição pelo pecado. Os que sustentam essa teoria costumam
invocar a condenação divina de Adão depois do seu pecado: “Maldita seja a
terra por tua causa! Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os
dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da
terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra da
qual foste tirado” (Gên 3, 17-19).
Esta
passagem parece traçar um triste prognóstico de longo prazo para as condições
do trabalho humano. E efetivamente retrata a fadiga do trabalho como uma
punição pelo pecado. A punição, porém, não está no trabalho em si, mas nas
duras condições que o tornam tedioso, frustrante e árduo.
O
trabalho em si era uma das bênçãos originais de Deus. São Josemaria gostava de
ressaltar que, “desde o começo da sua criação, o homem teve que trabalhar
[...], antes de que o pecado e, como conseqüência dessa ofensa, a morte e as
penalidades e misérias entrassem na humanidade (cfr. Rom 5, 12). Deus formou
Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua descendência este mundo
tão belo, ut operaretur et custodiret illum (Gên 2, 15), para que o
trabalhasse e guardasse” (1).
Deus
fez Adão porque não havia homem que cultivasse a terra (cfr. Gên 2, 5).
Ou seja, havia uma vaga de emprego, uma descrição do cargo e uma tarefa a ser
executada. O próprio Deus criou o candidato perfeito para esse posto. E devemos
lembrar-nos de que tudo isso aconteceu quando o mundo ainda não conhecia o
pecado nem a infelicidade. Deus fez o homem e a mulher para o trabalho; em
conseqüência, eles não poderiam – e nós não podemos – encontrar a realização
fora do trabalho.
Porém,
mais ainda do que fazer o homem e a mulher por causa do trabalho, fez o
trabalho por causa do homem e da mulher – porque era só através do trabalho que
eles poderiam tornar-se verdadeiramente semelhantes a Deus. Isto não significa
que eles possam merecer a graça da divinização por força do seu trabalho. A
graça é um dom e, por isso, não pode ser merecida (2). Antes, é o próprio
trabalho que é um dom e torna os homens e as mulheres cada vez mais parecidos
com Deus.
Com
efeito, o Gênesis representa o próprio Deus entregue ao trabalho ao
criar o mundo: Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito,
descansou do seu trabalho (Gên 2, 2). Portanto, o trabalho é em si mesmo
algo divino, algo em que o próprio Deus se ocupa; é assim uma atividade
divinizante para aqueles que foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Quando
os seres humanos trabalham, imitam o seu Criador; compartilham a sua vida. Ele
fez a terra do nada, mas quis que a criatura a trabalhasse e guardasse.
Quis que os seus filhos terrenos conservassem os campos da família e se
multiplicassem para assim viverem de modo mais perfeito à imagem do Pai
celestial. Quis que o próprio trabalho pudesse tornar-se um ato de cooperação
no ato criador, uma co-criação, feita por ambos, o Pai e os seus herdeiros.
TERMOS
E CONDIÇÕES
Deus
deu o trabalho à humanidade quando deu a vida a Adão, no tempo da inocência
primitiva. O Gênesis conta-nos a história com o máximo laconismo, dando peso a
cada palavra. Convém que nos detenhamos um pouco a examinar em que termos Deus
nos confiou o trabalho.
O
preceito de Deus a Adão de cultivar [o jardim] e guardá-lo
exprime-se por meio de dois verbos hebraicos: ’abodah e shamar.
Ambos são ricos e passíveis de um duplo sentido. Aparecem juntos em outros
lugares da Bíblia – e sempre que isso acontece, é para descrever os deveres
ministeriais dos levitas, antiga tribo sacerdotal de Israel (cfr. Núm 3, 7-8;
8, 26; 18, 5-6). O verbo ’abodah, freqüentemente traduzido por “servir”,
tem no hebraico um duplo significado: pode designar “trabalho manual” ou
“ministério sacerdotal” (enquanto “serviço ao culto”), ou pode sugerir os dois
ao mesmo tempo. Já o verbo shamar significa “conservar” ou “guardar”, e
descreve a proteção que os levitas deviam dispensar ao lugar sagrado, ao
tabernáculo, que por eles era guardado e preservado da contaminação.
Muitos
estudiosos das Escrituras acreditam que o autor do livro do Gênesis pretendeu
sugerir tudo isso na história da criação de Adão. Deus fez Adão para que
trabalhasse, e Deus o fez para que fosse um sacerdote do templo cósmico. Não
eram atividades separadas. No começo, Adão desfrutava de unidade de vida: o seu
trabalho estava ordenado para a adoração a Deus e era em si mesmo um ato de
adoração. Até a divisão do tempo refletiu esse princípio de ordenação: Deus
trabalhou seis dias e no sétimo descansou, santificando-o. Deus plasmou o ritmo
sabático na própria estrutura da criação.
Nós
trabalhamos para podermos adorar de modo mais perfeito. Adoramos enquanto
trabalhamos. Quando os primeiros cristãos andaram à busca de uma palavra para
descrever a sua adoração, escolheram leitourgía, uma palavra que, como a
hebraica ’abodah, podia indicar “adoração ritual”, mas também “serviço
público”, como o trabalho dos varredores de rua ou dos homens que em outros
tempos acendiam os lampiões de rua à noite. O significado é evidente para
aqueles que conhecem as línguas bíblicas, estejam ou não familiarizados com a
tradição litúrgica católica. O estudioso bíblico protestante inglês C.F.D.
Moule explica bem a questão:
“A
maneira surpreendente com que palavras «seculares» como leitourgein («prestar
um serviço público») são aplicadas também ao «serviço divino» recorda-nos de
modo muito salutar que, para uma pessoa verdadeiramente religiosa, adorar a
Deus constitui toda a razão e finalidade do trabalho; e que, se distinguimos
entre adoração e trabalho, é apenas por causa da fragilidade da natureza
humana, que não pode fazer mais do que uma coisa de cada vez. A necessária
alternância entre erguer mãos santas em oração e brandir com mãos fortes e
dedicadas um machado para a glória de Deus é o sucedâneo humano para aquela
vida divina una e simultânea em que o trabalho é adoração e a adoração é a
atividade mais elevada possível. E a única palavra «liturgia» do Novo
Testamento, tal como a ’abodah – «trabalho» e «serviço» – do Antigo
Testamento, cobre os dois significados” (3).
Vemos
uma vez mais que o trabalho é uma imagem terrena da atividade de Deus e,
portanto, o trabalhador é uma imagem (e semelhança) de Deus. Como Deus é
eterno, a sua atividade é simples e una. Nós, como vivemos no tempo, temos uma
atividade diferenciada – e, com excessiva freqüência, dispersa. Porém, por
compartilharmos a vida de Deus, as nossas próprias vidas começam a adquirir uma
simplicidade, uma unidade entre trabalho e adoração.
No
entanto, essa simplicidade muitas vezes confunde os cristãos de hoje, que
tendem a pôr o trabalho e a oração em compartimentos separados e estanques. São
Josemaria preveniu com freqüência sobre “a tentação [...] de levar uma vida dupla:
a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e por outro,
diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas
realidades terrenas”. Teve palavras fortes para essa atitude: “Não, meus
filhos! Não pode haver uma vida dupla [...]. Há uma única vida, feita de carne
e espírito, e essa é que tem de ser – na alma e no corpo – santa e plena de
Deus, desse Deus invisível que nós encontraremos nas coisas mais visíveis e
materiais”.
E
prosseguiu falando dessa vida unificada: “Por isso, posso afirmar que a nossa
época precisa de devolver à matéria e às situações aparentemente mais vulgares
o seu nobre e original sentido: pondo-as ao serviço do Reino de Deus” (4).
A
PALAVRA EM AÇÃO
Nessa
tarefa de restauração, Jesus Cristo foi, é claro, o primeiro. Muito
simplesmente, Ele trabalhou. Os seus contemporâneos conheceram-no como um
trabalhador bem capacitado, em grego um tekton, um artesão. A tradição
diz-nos que o seu ofício foi o de carpinteiro. Os seus vizinhos maravilharam-se
de que um trabalhador comum pudesse ter estudado as Escrituras, que tivesse
adquirido sabedoria e ensinasse com a autoridade com que o fazia. “Não é ele
o artesão?”, perguntavam (Mc 6, 3). E, em outro lugar, acrescentaram que
era “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55).
Mas
foi em uma referência ao seu Pai celestial que Cristo disse: “Meu Pai
não cessa de trabalhar, e eu também trabalho” (Jo 5, 17). Jesus estava
sempre trabalhando e o seu trabalho era uma só coisa com a sua vida divina e
com a sua divina adoração. Estava continuamente criando, redimindo e
santificando o mundo, e sempre unido ao seu Pai no amor do Espírito Santo. Cada
uma das ações da sua vida terrena era uma manifestação terrena dessa atividade
celestial una, simples e eterna, ao mesmo tempo serena e dinâmica. Portanto, todas
as coisas que fez foram redentoras – não apenas o seu sofrimento e morte na
cruz. As horas que gastou na carpintaria tiveram um valor redentor, uma
eficácia reparadora. Ofereceu o seu trabalho a Deus, e todos esses seus atos
trabalharam para salvar o mundo.
Como
carpinteiro e cabeça de família, Jesus viveu o sacerdócio que Deus concebera
para Adão – e para todos nós, na terra. Nisto, como em todas as coisas, Ele é o
nosso modelo. Mas é mais que isso. Pelo Batismo e pela Sagrada Comunhão, está
unido a nós. Por isso, não o imitamos apenas, mas participamos da sua vida.
Trabalha em nós e nós trabalhamos nEle. Oferecemos o nosso trabalho como uma
oferenda sacerdotal, um sacrifício redentor, em benefício dos nossos
familiares, vizinhos, colegas de trabalho e amigos. E com Cristo recriamos o
mundo por meio dos nossos trabalhos e orações.
Não
se trata apenas de uma pie in the sky [de um “castelo nas nuvens”].
Trata-se também da pie on the table [da “torta na mesa”], para a mãe que
a preparou e ofereceu esse trabalho a Deus; da pie chart [do “diagrama
de pizza”], nos slides que o corretor prepara para uma apresentação; do pi
na equação (5), para a professora de geometria que prepara os seus planos de
aula.
Tudo
isso, se bem feito e oferecido a Deus, faz avançar a causa da criação divina e
alcança a redenção do mundo. E realmente funciona!
NA
TERRA COMO NO CÉU
É
razoável perguntar: – Se Jesus restaurou o projeto original para o trabalho,
por que o nosso trabalho atual ainda traz as marcas do pecado de Adão? Por que
o nosso trabalho tem de ser feito à força de suor, de frustrações, de tédio e
de malogros? Por que as minhas costas têm de doer no fim de cada dia de
trabalho, quando soa o apito da fábrica?
Devemos
notar que Jesus não esteve livre do sofrimento na sua própria vida terrena de
trabalho. Os seus esforços foram custosos, como os nossos. Além de que Ele
sofreu incompreensões, falsas acusações, a inveja de outros mestres e – no
Calvário – uma aparente derrota.
É
correto dizer, como os evangélicos protestantes, que Jesus pagou uma dívida que
Ele não tinha porque nós tínhamos uma dívida que não podíamos pagar. Mas Cristo
não foi meramente o nosso substituto. Se o tivesse sido, poderíamos perguntar,
e com razão, por que ainda temos de carregar com o peso da punição pelo pecado
de Adão: por que o nosso trabalho ainda tem de ser custoso? Como nosso
substituto, Cristo deveria ter eliminado a necessidade do nosso sofrimento,
certo?
Errado.
Cristo não foi o nosso substituto, mas o nosso representante, e,
como a sua paixão salvadora foi em nossa representação, não nos exime do
sofrimento, mas confere ao nosso sofrimento uma força divina e um valor
redentor. São Paulo disse: Eu, agora, alegro-me nos meus sofrimentos por vós
e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo pelo seu corpo, que é
a Igreja (Col 1, 24). Que pode faltar ao sofrimento perfeito de Cristo?
Somente aquilo que Ele quis que faltasse, porque desejava que fôssemos seus
co-redentores, seus co-trabalhadores.
Jesus
não erradicou o sofrimento, mas tornou-nos capazes de sofrer como Ele sofreu.
Dotou o nosso sofrimento de poder divino e de valor redentor. E foi por isso
que São Paulo pôde alegrar-se nos seus padecimentos por Cristo! Esta é a
profunda fonte bíblica do gozoso espírito de mortificação que São Josemaria
pregava, e que suscitou tantas incompreensões: “Abençoada seja a dor – escreveu
–. Amada seja a dor. Santificada seja a dor... Glorificada seja a dor!” (6) Não
dizia nenhuma tolice inane, como o faria se dissesse que “a dor é boa”; o que
dizia é que, através da dor, podemos alcançar um grande bem nas nossas vidas,
e, mais ainda, que Deus pode proporcionar-nos uma grande santidade por meio
dela. Através da dor, podemos assemelhar-nos mais a Jesus Cristo nos seus sofrimentos.
Assim,
o nosso trabalho é custoso, mas na realidade o seu custo não sobrepuja os seus
benefícios, porque estes são concedidos por Deus todo-poderoso. E são
benefícios que podemos aplicar não apenas em favor dos nossos familiares, mas
de todas as pessoas das nossas relações e do mundo inteiro, pelos vivos e pelos
mortos, pelo eterno descanso dos nossos antepassados e pela perseverança dos
nossos descendentes na fé cristã. E podemos viver na alegre esperança de que
todas essas pessoas virão igualmente a rezar e oferecer o seu trabalho por nós.
O Credo chama a isto “comunhão dos santos”.
ABENÇOADO
PELO SUCESSO?
Quando
eu era ministro presbiteriano, orgulhava-me daquilo que os cientistas sociais
designaram por “ética protestante do trabalho”. O sociólogo Max Weber cunhou
essa frase para descrever uma determinada atitude que observou nos calvinistas.
Eles trabalhavam arduamente e procuravam dar sempre o melhor de si no campo
profissional. Não é que pensassem que com isso ganhavam um bilhete para o céu.
Pelo contrário, acreditavam que todos na terra estavam predestinados ou para o
céu ou para o inferno, mas achavam que o sucesso terreno era um sinal
providencial do favor divino, de terem sido escolhidos, de estarem destinados
ao céu. Weber estava certo, ao menos parcialmente, quando apontava essa ética
como a força que movia o dínamo do capitalismo.
A
ética protestante do trabalho não é um dogma cristão, mas apenas um fenômeno
sociológico (embora, efetivamente, poderoso). Já o que vimos no livro do Gênesis
é muito mais profundo do que qualquer tendência cultural e não é uma ética do
trabalho, e sim algo mais completo e sólido. É uma verdadeira “teologia do
trabalho”, uma metafísica do trabalho. Não é apenas a resposta coletiva de
alguns fiéis ao Credo, e sim uma verdade inserida no próprio tecido da Criação.
Além
disso, não depende do sucesso terreno. Como a Bem-aventurada Madre Teresa dizia
com freqüência, Deus não nos pede que sejamos bem-sucedidos, mas apenas fiéis.
Fidelidade
significa que tentaremos sempre fazer o melhor que pudermos. Mas isso não
garante que venhamos a receber um aumento, ou a ser promovidos, ou a ganhar as
eleições: poderemos até ter o salário diminuído, ser despedidos ou sofrer um
acidente de trabalho. Mesmo assim, a teologia do trabalho é uma motivação mais
poderosa que qualquer mera ética do trabalho: reivindica audaciosamente
que o trabalho que realizamos nos pode levar para o céu – e também redimir
muitas outras almas –, não por se tratar do nosso trabalho, mas por ser
trabalho de Deus, opus Dei. Se o mundo nos considera um sucesso ou um
fracasso, é coisa secundária; desejamos o sucesso unicamente para glorificar a
Deus. O que é primordial é que trabalhemos com as mãos de Deus, com a mente de
Cristo (cfr. 1 Cor 2, 16).
Santa
Teresa de Ávila falou da assombrosa dignidade que Cristo nos conferiu ao
fazer-nos seus colaboradores no trabalho:
“Cristo agora não tem
outro corpo senão o vosso,
não tem outras mãos nem
outros pés na terra senão os vossos.
Vossos são os olhos com
que Ele olha
compassivamente para
este mundo.
Vossos são os pés com
que Ele caminha para fazer o bem.
Vossas são as mãos com
que Ele abençoa o mundo inteiro” (7).
Jesus
foi fiel até ao fim, e foi precisamente isso que constituiu o seu sucesso.
Cumpriu a vontade de seu Pai e salvou o mundo com o sangue que marcou a sua
“derrota”. E continua a operar as maravilhas da redenção através dos seus
irmãos e irmãs, dos nossos êxitos e dos nossos malogros, de todo o trabalho que
oferecemos com Ele a Deus nosso Pai.
Não
é preciso dizer que deveríamos sempre trabalhar o melhor que pudermos, porque
nada que esteja abaixo disso merece ser colocado no altar de Deus. Leiamos os
profetas do Antigo Testamento e meditemos no que aconteceu quando os sacerdotes
do Templo se tornaram preguiçosos ou gananciosos e começaram a oferecer a Deus
animais defeituosos e com manchas, pois queriam guardar o melhor para si
próprios. Nós corremos o risco de fazer o mesmo com o nosso tempo, com a nossa
atenção e os nossos esforços. Semelhante egoísmo deu péssimos resultados para
Israel e pode dar péssimos resultados também para nós. Se o nosso trabalho é
culto a Deus, deve ser perfeito!
Uma
última palavra: Jesus ensinou-nos, pela palavra e pelo exemplo, a trabalhar
muito, mas não a idolatrar o trabalho ou o dinheiro que possamos ganhar
trabalhando muito. Quando Deus fez o mundo, dividiu o tempo de tal modo que não
pudéssemos esquecer a razão pela qual trabalhamos. Ele trabalhou seis dias para
santificar o sétimo. Nós também devemos santificar o dia do Senhor. Os nossos
seis dias de trabalho estão ordenados para um sétimo dia dedicado a uma
adoração mais pura.
Deus
fez-nos para esse descanso sabático, e os nossos corpos e o nosso trabalho
deixam transparecer esse inteligente desígnio divino. É humano esperar ansiosamente
pelo descanso sabático. É humano necessitar do Sabbath.
O
exército dos Estados Unidos descobriu isso há muito tempo, na década de 1940, e
pelo caminho árduo. Visando atingir quotas ambiciosas, o governo pediu às
fábricas de munição que estendessem a semana de trabalho a sete dias de vinte e
quatro horas. A maior parte das fábricas seguiu essa diretriz, mas algumas não.
Curiosamente, as únicas fábricas que cumpriram as suas quotas foram aquelas que
fecharam aos domingos. Os seus operários estavam mais descansados e por isso
eram mais eficientes e sofriam menos acidentes de trabalho. Como Jesus
sublinhou, o sábado foi feito para o homem (Mc 2, 27). Cumpre uma necessidade
do corpo, da mente e do espírito. E também nesse sentido o homem foi feito para
o sábado.
Uns
anos depois de me ter feito católico, e uns anos depois de ter entrado no Opus
Dei, pude assistir um dia à missa em memória do recém-declarado Beato Josemaria
Escrivá. Vibrei ao ouvir a primeira leitura que a Igreja escolheu para essa
Missa. Era do livro do Gênesis: O Senhor tomou o homem e o pôs no jardim do
Éden para que o cultivasse e guardasse (Gên 2, 15).
NOTAS:
(1) São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 2ª
ed., Quadrante, São Paulo, 2001, n. 57.
(2) A primeira graça, para o pecador, não pode ser
merecida; no cristão em estado de graça, porém, os atos bons animados pelo amor
(caridade) e feitos com a graça merecem o aumento da graça santificante
e o prêmio da vida eterna (N. do T.).
(3) C.F.D. Moule, The
Birth of the New Testament, Harper & Row, San Francisco, 1981, pág. 43.
(4) Questões atuais do cristianismo, n. 114.
(5) O número pi, em inglês, pronuncia-se como
pie (N. do T.).
(6) Caminho, n. 208.
(7) “Oração de Santa Teresa”, adaptação musical de
John Michael Talbot. In The John Michael Talbot Collection,
Sparrow, 1995.
Scott Hahn
Professor de Teologia da Sagrada Escritura na Universidade Franciscana
de Steubenville e catedrático de Teologia Bíblica e Proclamação Litúrgica no
Seminário de São Vicente, na Pensilvânia. É também fundador e presidente do
Saint Paul Institute for Biblical Theology, órgão dedicado à interpretação da
Bíblia à luz do Magistério da Igreja. É autor de mais de uma dezena de livros,
dentre os quais destacamos: “Rome, Sweet Home” (tradução portuguesa: “Todos os
caminhos vão dar a Roma”, Diel, Lisboa, 2002), escrito em colaboração com a sua
esposa, Kimberly, em que ambos narram a sua conversão ao catolicismo; “The
Supper of the Lamb” (tradução portuguesa: “O banquete do Cordeiro”, Loyola, São
Paulo, 2003); e “First comes Love” (tradução portuguesa: “Primeiro, é o amor”,
Diel, Lisboa, 2006).
Fonte: Trabalho ordinário, graça extraordinária. Quadrante, 2ª
edição, São Paulo: 2008.
Link: www.quadrante.com.br
Tradução: Élcio Carillo