2 Samuel (BAV) 11

Adúlterio de Davi

11 1 No ano seguinte, na época em que os reis saíam para a guerra, Davi enviou Joab com seus suboficiais e todo o Israel. Eles devastaram a terra dos amonitas e sitiaram Raba. Davi ficara em Jerusalém.
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Uma tarde, Davi, levantando-se da cama, passeava pelo terraço de seu palácio. Do alto do terraço avistou uma mulher que se banhava, e que era muito formosa.
3
Informando-se Davi a respeito dela, disseram-lhe: É Betsabé, filha de Elião, mulher de Urias, o hiteu.
4
Então Davi mandou mensageiros que lha trouxessem. Ela veio e Davi dormiu com ela. Ora, a mulher, depois de purificar-se de sua imundície menstrual, voltou para a sua casa,
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e vendo que concebera, mandou dizer a Davi: Estou grávida.
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Então Davi enviou uma mensagem a Joab, dizendo-lhe: Manda-me Urias, o hiteu. Joab assim fez.
7
Quando Urias chegou, Davi pediu-lhe notícias de Joab, do exército e da guerra.
8
E em seguida disse-lhe: Desce à tua casa, e lava os teus pés. Urias saiu do palácio do rei, e este mandou que o seguissem com um presente seu.
9
Mas Urias não desceu à sua casa; dormiu à porta do palácio com os demais servos de seu amo.
10
Comunicaram-no a Davi: Urias não foi à sua casa. O rei então lhe disse: Não voltaste porventura de uma viagem? Por que não vais à tua casa?


11 A arca, respondeu Urias, se aloja debaixo de uma tenda, assim como Israel e Judá. Joab, meu chefe, e seus suboficiais acampam ao relento, e teria eu ainda a coragem de entrar em minha casa para comer, beber e dormir com minha mulher? Pela tua vida, não farei tal coisa.
12
Davi disse-lhe: Fica ainda hoje aqui; amanhã te despedirei. E Urias permaneceu em Jerusalém naquele dia. No dia seguinte,


13 Davi o convidou, fê-lo comer e beber em sua presença, e embriagou-o. Mas à noite, Urias não desceu à sua casa; saiu e deitou-se com os demais servos de seu senhor.
14
Na manhã seguinte Davi escreve uma carta a Joab, enviando-a por Urias.
15
Dizia na carta: Coloca Urias na frente, onde o combate for mais renhido, e desamparai-o para que ele seja ferido e morra.
16
Joab, que sitiava a cidade, pôs Urias no lugar onde sabia que estavam os mais valorosos guerreiros.
17
Saíram os assediados contra Joab, e tombaram alguns dos homens de Davi: morreu também Urias, o hiteu.


18 Joab mandou informar Davi de todas as peripécias do combate,
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ordenando ao mensageiro: Quando tiveres contado ao rei todos os pormenores do combate,
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se ele se indignar e te disser: Por que vos aproximastes da cidade para lutar? Não sabeis que atiram projéteis do alto da muralha?
21
Quem matou Abimelec, filho de Jerobaal? Não foi uma mulher quem lhe atirou uma pedra de moinho de cima do muro, morrendo ele em Tebes? Por que vos aproximastes dos muros? - dirás então: Morreu também o teu servo Urias, o hiteu.
22
Partiu, pois, o mensageiro e foi ter com o rei em Jerusalém; logo que chegou, contou-lhe tudo o que Joab lhe tinha mandado.
23
Disse ele: Os inimigos, levando vantagem sobre nós, saíram contra nós em pleno campo, mas nós os fizemos recuar até a porta da cidade.
24
Então, do alto da muralha, os arqueiros atiraram sobre os teus servos, e morreram dezoito dos servos do rei; morreu também o servo Urias, o hiteu.
25
O rei respondeu ao mensageiro: Dize a Joab que não se aflija por causa disso, pois a espada devasta ora aqui, ora ali. Mas que ele prossiga vigorosamente a sua luta contra a cidade, até destruí-la. Quanto a ti, encoraja-o.
26
Ao saber da morte de seu marido, a mulher de Urias chorou-o.
27
Passado o luto, Davi mandou buscá-la e recolheu-a em sua casa. Ela se tornou sua mulher e lhe deu um filho. Mas o procedimento de Davi desagradara ao Senhor.

Missão de Natã junto de Davi

12 1 O Senhor mandou a Davi o profeta Natã; este entrou em sua casa e disse-lhe: Dois homens moravam na mesma cidade, um rico e outro pobre.
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O rico possuía ovelhas e bois em grande quantidade;
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o pobre, porém, só tinha uma ovelha, pequenina, que ele comprara. Ele a criava e ela crescia junto dele, com os seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha.
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Certo dia, chegou à casa do homem rico a visita de um estranho, e ele, não querendo tomar de suas ovelhas nem de seus bois para aprontá-los e dar de comer ao hóspede que lhe tinha chegado, foi e apoderou-se da ovelhinha do pobre, preparando-a para o seu hóspede.
5
Davi, indignado contra tal homem, disse a Natã: Pela vida de Deus! O homem que fez isso merece a morte.
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Ele restituirá sete vezes o valor da ovelha, por ter feito isso e não ter tido compaixão.


7 Natã disse então a Davi: Tu és esse homem. Eis o que diz o Senhor Deus de Israel: ungi-te rei de Israel, salvei-te das mãos de Saul,


8 dei-te a casa do teu senhor e pus as suas mulheres nos teus braços. Entreguei-te a casa de Israel e de Judá e, se isso fosse ainda pouco, eu teria ajuntado outros favores.
9
Por que desprezaste o Senhor, fazendo o que é mau aos seus olhos? Feriste com a espada Urias, o hiteu, para fazer de sua mulher a tua esposa, e o fizeste perecer pela espada dos amonitas.


10 Por isso, jamais se afastará a espada de tua casa, porque me desprezaste, tomando a mulher de Urias, o hiteu, para fazer dela a tua esposa.


11 Eis o que diz o Senhor: vou fazer com que se levantem contra ti males vindos de tua própria casa. Sob os teus olhos, tomarei as tuas mulheres e dá-las-ei a um outro que dormirá com elas à luz do sol!
12
Porque agiste em segredo, mas eu o farei diante de todo o Israel e diante do sol.


13 Davi disse a Natã: Pequei contra o Senhor. Natã respondeu-lhe: O Senhor perdoa o teu pecado; não morrerás.

Morte do filho de Betsabé

14 Todavia, como desprezaste o Senhor com essa ação, morrerá o filho que te nasceu.
15
E Natã voltou para sua casa. O Senhor feriu o menino que a mulher de Urias tinha dado a Davi, e ele adoeceu gravemente.
16
Davi suplicou ao Senhor pelo menino; jejuou e passou a noite em sua casa prostrado por terra, vestido com um saco.
17
Os anciãos de sua casa, de pé junto dele, insistiam em que ele se levantasse do chão, mas ele não o quis, nem tomou com eles alimento algum.


18 Ao sétimo dia, morreu o menino, e os servos do rei não ousavam dar-lhe a notícia, pensando: Quando o menino ainda vivia, nós lhe falávamos e ele não queria ouvir-nos; quanto mais se afligirá agora, se lhe anunciarmos que o menino morreu? Seria uma desgraça.
19
Davi notou que seus servos cochichavam entre si, e compreendeu que o menino morrera. Perguntou-lhes: Morreu o menino? Sim, responderam-lhe.
20
Então Davi levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, mudou de roupa e entrou na casa do Senhor para se prostrar. De volta à sua casa, mandou que lhe servissem a refeição, e comeu.
21
Seus servos disseram-lhe: Que fazes? Quando a criança ainda vivia, jejuavas e choravas; agora, que morreu, tu te levantas e comes.
22
Eu jejuava e orava pelo menino enquanto vivia, respondeu ele, porque dizia comigo: Quem sabe, talvez o Senhor terá pena de mim e o menino ficará bom?
23
Mas agora, que morreu, para que jejuar ainda? Posso por acaso fazê-lo voltar à vida? Eu é que irei para junto dele; ele, porém, não voltará mais a mim!
24
Davi consolou Betsabé, sua mulher. Foi procurá-la e dormiu com ela. Ela concebeu e deu à luz um filho, ao qual chamou Salomão. O Senhor o amou,
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e revelou isto a Davi por intermédio do profeta Natã, que deu ao menino o sobrenome de Amado-de-Javé, segundo a ordem do Senhor.

Derrota dos amonitas

26 Joab, que sitiava Raba dos amonitas, apoderou-se da cidade das Águas.
27
E enviou a Davi mensageiros com esta notícia: Assaltei Raba e ocupei a cidade das Águas.
28
Ajunta o resto do exército, vem acampar perto da cidade e tomá-la, para não acontecer que, tomando-a eu, seja-lhe dado o meu nome.
29
Reuniu Davi todo o exército e foi contra Raba, assaltando-a e tomando-a.
30
Tirou a coroa da cabeça de Milcom. Esta pesava um talento de ouro, e era ornada de uma pedra preciosa, que foi colocada sobre a cabeça de Davi. O rei levou da cidade grande quantidade de despojos.
31
Quanto à sua população, fê-la sair para empregá-la em serrar, em trabalhar com a picareta e o machado e em fazer tijolos. Assim fez com todas as cidades dos amonitas. E Davi voltou com todas as suas tropas para Jerusalém.

O crime de Amnon

13 1 Aconteceu, depois disso, que Amnon, filho de Davi, se enamorou de Tamar, irmã de Absalão, filho de Davi, que era muito bela.
2
Amnon se consumia de tal modo por Tamar, sua irmã, a ponto de ficar doente, pois ela era virgem e parecia-lhe impossível fazer-lhe o que quer que fosse.
3
Ora, Amnon tinha um amigo chamado Jonadab, filho de Semaa, irmão de Davi, o qual era muito sagaz.
4
Disse ele a Amnon: Por que, ó príncipe, estás tão abatido todas as manhãs? Não mo queres dizer? É que amo Tamar, respondeu Amnon, a irmã de meu irmão Absalão.
5
Jonadab disse-lhe: Deita em tua cama, e finge-te doente. Quando o teu pai vier ver-te, tu lhe dirás: Permite que Tamar venha dar-me de comer, preparando a comida diante de mim, a fim de que eu coma iguarias preparadas por sua mão.
6
Amnon deitou-se e fingiu que estava enfermo. Quando o rei veio visitá-lo, ele disse-lhe: Peço-te que minha irmã Tamar venha preparar à minha vista dois pasteizinhos, para que eu coma de sua mão.
7
Davi mandou dizer a Tamar, no palácio: Vai à casa de teu irmão Amnon e prepara-lhe sua refeição.
8
Tamar foi ter com o seu irmão Amnon, que estava deitado. Tomou farinha, amassou e fez os pastéis à sua vista.
9
Depois de tê-los cozido, tomou a panela e despejou-a diante dele, mas Amnon não quis comer, e disse: Manda sair todos daqui. E retiraram-se todos os que estavam junto dele,
10
Amnon disse então a Tamar: Traze o prato no meu quarto, para que eu coma de tua mão. Tamar tomou os pastéis que fizera e levou-os ao seu irmão no quarto.
11
E quando ela os oferecia a Amnon para que comesse, este segurou-a, dizendo: Vem, deita-te comigo, minha irmã!
12
Não, meu irmão, disse-lhe ela; não me violentes. Não se faz uma tal coisa em Israel. Não cometas semelhante infâmia.
13
Aonde levaria eu o meu opróbrio? E tu serias olhado como um ímpio em Israel! É melhor que fales ao rei: ele não recusará dar-me a ti.
14
Mas ele não quis dar-lhe ouvidos e, como era mais forte que ela, violentou-a e se deitou com ela.
15
E logo a seguir Amnon concebeu uma profunda aversão por ela, mais violenta do que o amor que antes lhe tivera. Levanta-te, disse-lhe ele, e vai-te!
16
Não, meu irmão, respondeu ela; o ultraje que me farias, expulsando-me, seria ainda mais grave do que o que me acabas de fazer. Ele, porém, não quis ouvi-la;
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chamou o seu servo e disse-lhe: Põe fora daqui esta moça que me está importunando, e fecha a porta atrás dela.
18
(Ela trazia um vestido comprido, como se vestiam outrora as donzelas filhas do rei.) O servo expulsou-a, fechando a porta atrás dela.
19
Tamar derramou então cinza sobre a cabeça, rasgou o seu longo vestido e, pondo a mão sobre a cabeça, afastou-se gritando.
20
Seu irmão Absalão disse-lhe: Esteve realmente contigo Amnon, teu irmão? Por agora, cala-te, minha irmã; ele é teu irmão: não penses mais nisso. E Tamar permaneceu consternada, na casa de seu irmão Absalão.
21
O rei Davi soube de tudo o que se tinha passado, e inflamou-se com violência a sua cólera, mas não quis afligir seu filho Amnon, pois o amava por ser o seu primogênito.
22
Quanto a Absalão, este não disse a Amnon uma só palavra, nem boa nem má, porque o odiava, por ter ele violado sua irmã Tamar.

Vingança de Absalão

23 Passados dois anos, Absalão tosquiava suas ovelhas em Baal Hasor, perto de Efraim, e convidou todos os filhos do rei.
24
Veio ter com o rei e disse-lhe: Eis que se tosquiam as ovelhas de teu servo; venha, pois, o rei com os seus familiares à casa do teu servo.
25
O rei disse-lhe: Não, meu filho, não iremos todos, para não te sermos pesados. Malgrado instâncias de Absalão, o rei não quis ir, e o abençoou.
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Absalão replicou: Se tu não vens, deixa ao menos que venha conosco o meu irmão Amnon. Por que, disse Davi, iria ele contigo?
27
Mas Absalão tanto insistiu que Davi deixou partir com ele Amnon e todos os filhos do rei. E Absalão organizou um banquete real.
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Ora, Absalão dera aos seus criados a ordem seguinte: Ouvi! Quando Amnon tiver o coração alegre por causa do vinho, e eu vos disser: Feri Amnon!, então vós o matareis; não tenhais medo, porque sou eu quem vo-lo ordena. Coragem, e sede homens fortes!
29
Os servos de Absalão fizeram a Amnon conforme o seu senhor lhes ordenara. Então todos os filhos do rei se levantaram, montaram nas suas mulas e fugiram.
30
Estavam ainda a caminho, quando chegou ao rei o boato que dizia: Absalão feriu todos os príncipes; nenhum se salvou!
31
O rei levantou-se, rasgou suas vestes e prostrou-se por terra; e todos os que o rodeavam rasgaram também as suas vestes.
32
Mas Jonadab, filho de Semaa, irmão de Davi, tomou a palavra: Não pense o rei, meu senhor, que foram assassinados todos os jovens. Só Amnon morreu, porque Absalão decidira matá-lo desde o dia em que ele violou sua irmã Tamar.
33
Não acredite o rei, meu senhor, que morreram todos os príncipes. Só Amnon pereceu,
34
e seus outros irmãos estão vivos. Entretanto, Absalão fugira. A sentinela, levantando os olhos, viu uma grande tropa que descia pelo declive do caminho de Horonaim, e veio anunciar ao rei: Vi homens que vinham pelo caminho de Horonaim, no flanco da montanha.
35
Jonadab disse ao rei: São os príncipes que chegam; é bem como tinha dito o teu servo.
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Falava ele ainda, quando entraram os filhos do rei e puseram-se a chorar. Então o rei e todos os seus derramaram abundantes lágrimas.
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Quanto a Absalão, fugira para junto de Tolomai, filho de Amiud, rei de Gessur.
38
Enquanto isso, Davi continuava de luto pelo filho. E Absalão permaneceu três anos em Gessur, para onde fugira.
39
O ânimo do rei cessou de irritar-se contra Absalão, tendo-se consolado da perda de Amnon.

Volta de Absalão

14 1 Joab, filho de Sarvia, percebendo que o coração do rei (se voltava de novo) para Absalão,
2
mandou vir de Técua uma mulher habilidosa e disse-lhe: Põe-te de luto; toma vestes de luto e não te unjas, para pareceres uma mulher que chora um morto há muito tempo.
3
Virás então ter com o rei e lhe falarás assim e assim. E Joab sugeriu-lhe o que ela devia dizer.
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A mulher veio, pois, de Técua, e apresentou-se ao rei; lançou-se por terra e prostrou-se, dizendo: Salva-me, ó rei, salva-me!
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O rei disse-lhe: Que tens? Ai de mim, disse ela, sou uma viúva. Meu marido morreu.
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Tua serva tinha dois filhos. Brigaram no campo, e não havendo quem os separasse, um deles feriu o outro e matou-o.
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E eis que agora se levanta contra a tua serva toda a família, dizendo-lhe: dá-nos o fratricida, para o matarmos em castigo do sangue do irmão que ele matou, e exterminaremos o herdeiro. Querem assim apagar a última brasa que me resta, de modo que não se conserve de meu marido nem nome, nem posteridade na terra.
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O rei disse à mulher: Volta para a tua casa; tomarei providências a teu respeito.
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Mas a mulher de Técua disse ao rei: Sobre mim, e não sobre a casa de meu pai recaia a culpa; o rei e o seu trono serão inocentes.
10
O rei disse-lhe: Se alguém te ameaçar, traze-o à minha presença, e ele não te incomodará mais.
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Ela ajuntou: Queira o rei lembrar-se do Senhor, seu Deus, para que o vingador do sangue não agrave a desgraça, matando o meu filho! Pela vida de Deus, disse ele, não cairá um só cabelo da cabeça de teu filho!
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A mulher então disse: Permite que a tua serva diga uma palavra ao rei, meu senhor? Fala.
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Por que, pois, pensas fazer o mesmo contra o povo do Senhor? Pronunciando essa sentença, o rei se confessa culpado, pelo fato de não se lembrar daquele que desterrou.
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Quando morremos, somos como a água que não mais se pode recolher, uma vez derramada por terra. Deus não faz voltar uma alma. Cuide, pois, o rei, que o banido não fique mais exilado longe dele.
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Se eu vim falar desse assunto ao rei, foi porque o povo me aterrou. A tua serva disse: falarei ao rei: talvez o rei faça o que eu lhe pedir;
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sim, o rei me ouvirá e livrar-me-á da mão do homem que procura excluir-nos, a mim o meu filho, da herança do Senhor.
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Que o rei, ajuntou ela, se digne pronunciar uma palavra de paz, porque o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus para discernir o bem do mal. Que o senhor, teu Deus, seja contigo!
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O rei disse à mulher: Não me escondas nada do que te vou perguntar. A mulher respondeu: Que o rei, meu senhor, fale.
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Não anda a mão de Joab contigo em tudo isso? Por tua vida, respondeu-lhe ela, não se pode desviar para nenhum lado o que o rei acaba de dizer! Sim, foi o teu servo Joab quem me deu instruções e sugeriu à tua serva tudo o que ela disse.
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Foi para dar a esse assunto uma nova feição que Joab fez isso. Porém tu, ó rei, meu senhor, és tão sábio como um anjo de Deus, para saber tudo o que se passa na terra!
21
O rei disse a Joab: A coisa está decidida. Vai, traze o jovem Absalão!
22
Joab prostrou-se com o rosto por terra, e abençoou o rei, dizendo: Agora o teu servo reconhece que ganhou o teu favor, ó rei, meu senhor, pois que o rei cumpriu o desejo de seu servo!
23
Joab foi a Gessur e trouxe Absalão para Jerusalém.
24
Mas o rei disse: Que ele vá para a sua casa, pois não será admitido à minha presença! Absalão retirou-se para a sua casa, e não se apresentou diante do rei.
25
Não havia em todo o Israel homem mais belo que Absalão, e que fosse tão admirado como ele. Da cabeça aos pés, não havia nele defeito algum.
26
Quando cortava o cabelo - o que fazia a cada ano, porque sua cabeleira se tornava por demais pesada -, o peso deste era de duzentos siclos, pelo peso real.
27
Nasceram-lhe três filhos e uma filha, chamada Tamar, que era de grande beleza.
28
Absalão permaneceu em Jerusalém dois anos antes de ser admitido à presença do rei.
29
Mandou chamar Joab para mandá-lo ao rei, mas ele não quis vir. Chamou-o uma segunda vez, e ele recusou-se de novo.
30
Disse então Absalão aos seus servos: Vedes o campo de Joab ao lado do meu, semeado de cevada? Ide e lançai-lhe fogo. Os servos de Absalão incendiaram o campo. Os servos de Joab foram ter com ele, rasgadas as suas vestes, e disseram-lhe: Os homens de Absalão incendiaram o teu campo.
31
Joab foi então à casa de Absalão, e disse: Por que incendiaram os teus homens o meu campo?
32
Absalão respondeu: Eu te mandara chamar, dizendo: vem, pois quero enviar-te ao rei para dizer-lhe: por que vim eu de Gessur? Seria melhor ter ficado lá. Quero ser admitido à presença do rei; se sou culpado, que me matem!
33
Joab foi ter com o rei e contou-lhe tudo. Absalão foi chamado, entrou à presença do rei e prostrou-se diante dele com o rosto por terra. E o rei o beijou.

Conjuração de Absalão

15 1 Depois disso Absalão adquiriu para si um carro, cavalos e cinqüenta homens para escoltaram-no.
2
Colocava-se desde cedo à beira do caminho, junto à grande porta, e interpelava todos os que vinham procurar o rei para um julgamento, dizendo: De que cidade és tu? O outro respondia: Teu servo é de tal tribo de Israel.
3
Vê, dizia-lhe Absalão; a tua causa é boa e justa; mas não há ninguém para te ouvir da parte do rei.
4
E Absalão ajuntava: Oh, quem me dera ser juiz desta terra! Todo o que tivesse um litígio ou uma questão e viesse ter comigo, eu lhe faria justiça.
5
E se alguém se aproximava para se prostrar diante dele, estendia a mão, detinha-o e beijava-o.
6
Assim fazia Absalão com todos os israelitas que vinham procurar o rei para qualquer julgamento. E desse modo conquistou os corações dos israelitas.
7
Quatro anos se passaram. Absalão disse ao rei: Deixa-me ir a Hebron para cumprir ali uma promessa que fiz ao Senhor.
8
Quando o teu servo estava em Gessur, fez este voto: se Senhor me reconduzir a Jerusalém, irei prestar-lhe culto em Hebron.
9
Vai em paz, disse-lhe o rei. E ele foi para Hebron.
10
Absalão enviou emissários secretos a todas as tribos de Israel, com esta mensagem: Quando ouvirdes o som da trombeta, dizei: Absalão é rei em Hebron!
11
Ora, tinham partido de Jerusalém com Absalão duzentos homens, convidados por ele, que o seguiam com simplicidade de coração, sem nada suspeitar.
12
Enquanto oferecia os sacrifícios, Absalão mandou chamar também Aquitofel, gilonita, conselheiro de Davi, à sua cidade de Gilo. E assim a conjuração se fortificava e se tornava cada vez mais numerosa em torno de Absalão.

Fuga de Davi

13 Vieram então anunciar a Davi: Os israelitas aderem a Absalão!
14
Davi disse então a todos os que estavam com ele em Jerusalém: Vamos, fujamos, porque não podemos de outro modo escapar a Absalão! Apressai-vos e parti, não suceda que ele nos surpreenda de repente, e nos inflija a ruína, passando a cidade ao fio da espada.


15 Os servos do rei disseram-lhe: Faça-se como ordenar o rei, meu senhor; somos teus servos.
16
O rei partiu a pé com toda a sua família, mas deixou dez concubinas para guardar o palácio.
17
O rei saiu, pois, a pé com todos os seus servos, e se detiveram na última casa.
18
Todo o seu exército desfilava ao seu lado; os cereteus, os feleteus e todos os geteus, em número de seiscentos homens que o tinham seguido desde Get, todos marchavam diante do rei.
19
O rei disse a Etai, o geteu: Por que vens também tu conosco? Volta e fica com o (novo) rei, pois és um estrangeiro, e mesmo um exilado de tua terra.
20
Chegaste ontem, e hoje vou fazer que andes errante conosco, não sabendo eu mesmo aonde vou? Volta. Toma os teus contigo, e que o Senhor seja misericordioso e fiel para contigo.
21
Mas Etai respondeu ao rei: Pela vida do Senhor, e pela vida do rei, meu senhor! Onde estiver o meu senhor e rei, ali estará também o teu servo, tanto para a morte como para a vida.
22
Está bem, disse Davi, passa. E Etai, o geteu, desfilou com todos os seus homens e com toda a sua comitiva.
23
E estando o rei junto do Cedron, enquanto desfilava o povo diante dele, tomando o caminho da oliveira do deserto, toda a terra chorava em alta voz.
24
Veio também Sadoc com todos os seus levitas, trazendo a arca da aliança de Deus. Depuseram-na, enquanto Abiatar subia, e até que tivesse passado todo o povo que tinha saído da cidade.
25
Disse então o rei a Sadoc: Reconduz a arca de Deus à cidade. Se eu achar graça aos olhos do Senhor, ele me reconduzirá e me fará revê-la, bem como o lugar de sua habitação.
26
Mas se disser que não quer mais saber de mim, eis-me aqui; faça de mim o que lhe aprouver.
27
O rei disse ainda a Sadoc: Vede: tu e Abiatar, voltai em paz para a cidade com Aquimaas, teu filho, e Jônatas, filho de Abiatar.
28
Eu vou arrastar-me pelas campinas do deserto, esperando que me mandeis notícias.
29
Sadoc e Abiatar reconduziram, pois, a arca de Deus para Jerusalém e lá ficaram.


30 Davi subiu chorando o monte das Oliveiras, cabeça coberta e descalço. Todo o povo que o acompanhava subia também chorando, com a cabeça coberta.


31 Foi anunciado a Davi que Aquitofel estava também entre os conjurados de Absalão. Davi disse: Fazei que se frustrem, ó Senhor, meu Deus, os desígnios de Aquitofel!
32
Ora, chegando Davi ao cume do monte, no lugar onde se adorava Deus, veio-lhe ao encontro Cusai, o araquita, com a túnica em farrapos e a cabeça coberta de pó.
33
Davi disse-lhe: Se vieres comigo, ser-me-ás pesado;
34
mas se voltares à cidade e disseres a Absalão: eu quero ser, ó rei, teu servo, como fui outrora servo de teu pai; doravante servir-te-ei a ti - então desconcertarás a meu favor o desígnio de Aquitofel.
35
Terás lá contigo os sacerdotes Sadoc e Abiatar, a quem comunicarás tudo o que souberes no palácio real.
36
Com eles estão os seus dois filhos, Aquimaas, filho de Sadoc, e Jônatas, filho de Abiatar; por eles me transmitireis tudo o que ouvirdes.
37
E Cusai, amigo de Davi, voltou para a cidade, no momento em que Absalão fazia a sua entrada em Jerusalém.

Intrigas de Siba

16 1 Tendo Davi avançado um pouco além do cume, viu que lhe vinha ao encontro Siba, servo de Mifiboset, com dois jumentos selados e carregados de duzentos pães, cem cachos de uvas secas, cem frutos maduros e um odre de vinho.
2
O rei disse-lhe: Que tens aí? Os jumentos, respondeu Siba, devem servir à família do rei, para que os montem; os pães e frutos servirão de comida para os teus servos, o vinho será para aqueles que se fatigarem no deserto.
3
O rei perguntou: Mas onde está o filho do teu senhor? Ficou em Jerusalém, respondeu Siba, alegando que agora a casa de Israel lhe devolveria o reino de seu pai.
4
O rei disse a Siba: Tudo o que possuía Mifiboset te pertence doravante. Eu me inclino diante de ti, respondeu ele; conserva-me a tua graça, ó rei, meu senhor.

Ultrajes de Semei

5 Quando o rei chegou a Baurim, apareceu um homem da família da casa de Saul, chamado Semei, filho de Gera, o qual ia proferindo maldições enquanto andava.
6
Atirava pedras contra o rei Davi e contra todos os seus servos, embora todo o exército e todos os guerreiros valentes se encontrassem à direita e à esquerda do rei.
7
E o amaldiçoava, dizendo: Vai-te, vai-te embora, homem sanguinário e celerado.
8
O Senhor faz cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste; o Senhor entregou o reino ao teu filho Absalão. Eis-te oprimido de males, homem sanguinário que és!
9
Então Abisai, filho de Sarvia, disse ao rei: Por que insulta esse cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar, vou cortar-lhe a cabeça.
10
Que nos importa, filho de Sarvia?, respondeu Davi. Deixa-o amaldiçoar. Se o Senhor lhe ordenou que me amaldiçoasse, quem poderia dizer-lhe: por que fazes isso?
11
E Davi disse a Abisai e à sua gente: Vede: se meu filho, fruto de minhas entranhas, conspira contra a minha vida, quanto mais agora esse benjaminita? Deixai-o amaldiçoar, se o Senhor lho ordenou.
12
Talvez o Senhor considere a minha aflição e me dê agora bens por esses ultrajes.
13
Davi e seus homens retomaram o seu caminho, mas Semei ia ao longo da montanha, ao lado dele, vomitando injúrias, atirando-lhe pedras e espalhando poeira pelo ar.

Absalão em Jerusalém

14 O rei e toda a sua tropa chegaram extenuados a... onde descansaram.
15
Absalão entrou em Jerusalém com toda a sua tropa de israelitas, acompanhado de Aquitofel.
16
Quando Cusai, o araquita amigo de Davi, se apresentou a Absalão, disse-lhe: Viva o rei! Viva o rei!
17
Absalão disse-lhe: É essa a tua afeição por teu amigo? Por que não partiste com ele?
18
Não, respondeu-lhe Cusai; eu sou daquele que escolheu o Senhor com todo esse povo: com esse é que eu ficarei.
19
Aliás, a quem serviria eu senão ao seu filho? Como servi a teu pai, assim te servirei a ti também.
20
Absalão disse a Aquitofel: Deliberai entre vós sobre o que devemos fazer.
21
Aquitofel respondeu-lhe: Aproxima-te das concubinas de teu pai, que ficaram aqui para guardar o palácio. Assim todo o Israel saberá que te tornaste odioso ao teu pai, e os teus partidários se animarão com maior coragem.
22
Armaram, pois, para Absalão uma tenda no terraço, e ali, à vista de todo o Israel, ele vinha abusar das concubinas de seu pai.
23
Ora, os conselhos que dava Aquitofel naquele tempo eram considerados como palavras de Deus; assim se consideravam todos os seus conselhos, tanto para Davi como para Absalão.


17 1 Aquitofel disse a Absalão: Deixa-me escolher doze mil homens, e irei ainda esta noite perseguir Davi.
2
Assaltá-lo-ei no momento em que estiver extenuado de fadiga: provocarei pânico, e todos os que estão com ele fugirão. O rei ficará sozinho, e então o ferirei;
3
e te reconduzirei todo o povo, assim como a esposa volta para o seu esposo. É só a um homem que procuras, e todo o povo estará em paz.
4
Esse conselho agradou a Absalão e a todos os anciãos de Israel.
5
No entanto, Absalão disse: Chamai Cusai, o araquita, e ouçamos também o que ele diz.
6
Chegando Cusai, Absalão disse-lhe: Eis o que propôs Aquitofel. Faremos o que ele disse? Se não, fala por tua vez!
7
Desta vez, respondeu Cusai, o conselho de Aquitofel não é bom.
8
Tu sabes, ajuntou ele, que teu pai e seus homens são valentes, e estão furiosos como a ursa a quem roubaram a cria na estepe. Teu pai é um guerreiro: ele não passará a noite com o exército.
9
Ele deve estar agora escondido em alguma gruta ou em qualquer outro lugar. E se vierem a cair desde o começo alguns do nosso exército, isso será publicado e dir-se-á: Houve uma derrota no partido de Absalão.
10
Então mesmo o mais valente desanimaria, ainda que tivesse um coração de leão, pois todo o Israel sabe que o teu pai é um herói, e que está acompanhado de homens valentes.
11
Eis o meu conselho: Que se mobilize todo o Israel, desde Dã até Bersabéia, e se reúnam junto de ti tão numerosos como os grãos de areia na praia do mar, indo tu mesmo no meio deles.
12
Atingi-lo-emos em qualquer lugar onde esteja, caindo contra ele como o orvalho cai sobre a terra, e não deixaremos vivos nem ele nem homem algum dos que estão com ele.
13
Se se refugiar nalguma cidade, todo o Israel trará cordas a essa cidade, e a arrastaremos até a torrente, de maneira que não fique dela uma só pedra!
14
Absalão e todos os israelitas acharam o conselho de Cusai melhor que o de Aquitofel. O Senhor decidira frustrar o bom conselho de Aquitofel, a fim de trazer a desgraça sobre Absalão.
15
Cusai disse aos sacerdotes Sadoc e Abiatar: Aquitofel aconselhou a Absalão e aos anciãos de Israel desse e desse modo; eu, porém, aconselhei-lhe assim e assim.
16
Mandai, pois, imediatamente a Davi esta mensagem: Não fiques esta noite nas planícies do deserto, mas atravessa-o sem demora, não suceda que sejam exterminados o rei e todo o povo que está com ele.
17
Jônatas e Aquimaas estavam em En-Rogel; uma criada foi dar-lhes as notícias, que eles mesmos levariam ao rei Davi, porque não deviam ser vistos entrando na cidade.
18
Mas um jovem os viu e avisou Absalão. Eles, porém, partiram com toda a pressa e entraram na casa de um homem em Baurim. Havia uma cisterna no pátio, onde se esconderam,
19
e a mulher colocou uma tampa sobre a cisterna, espalhando por cima grãos socados, de sorte que não se notava coisa alguma.
20
Os enviados de Absalão entraram na casa dessa mulher e disseram: Onde estão Aquimaas e Jônatas? Ela respondeu: Atravessaram o regato. Puseram-se a procurar, mas não encontrando ninguém, voltaram para Jerusalém.
21
Depois que partiram, saíram os jovens da cisterna e foram levar a notícia ao rei Davi, dizendo: Ide! Passai depressa as águas, porque Aquitofel deu o seguinte conselho contra vós.
22
Davi partiu com todos os seus homens, e passaram o Jordão. Ao amanhecer, não havia um só homem que não tivesse atravessado o rio.
23
Aquitofel, vendo que seu conselho não fora seguido, selou o seu jumento e tomou o caminho de sua casa, na sua cidade. Pôs em ordem os seus negócios e enforcou-se. Morto, foi enterrado no túmulo de seu pai.

Guerra entre Davi e Absalão

24 Davi chegou a Maanaim quando Absalão passou o Jordão com os israelitas.
25
Absalão pusera Amasa à frente do exército em lugar de Joab. Esse Amasa era filho de um tal Jetra, ismaelita, que se unira a Abigail, filha de Naas, irmã de Sarvia, mãe de Joab.
26
Os israelitas e Absalão acamparam na terra de Galaad.
27
Quando Davi chegou a Maanaim, Sobi, filho de Naas, de Raba dos amonitas, Maquir, filho de Amiel de Lodabar, e Berzelai, o galaadita, de Rogelim,
28
vieram trazer-lhe camas, tapetes, copos e vasilhas, bem como trigo, cevada, farinha, grão torrado, favas, lentilhas,
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mel, manteiga, ovelhas e queijos de leite de vaca. Trouxeram tudo isso a Davi e às suas tropas, para que se alimentassem, dizendo: Estes homens sofreram certamente fome, fadiga e sede no deserto.


18 1 Davi passou em revista as tropas que estavam com ele, e pôs à sua frente chefes de milhares e de centenas.
2
Depois dividiu o exército em três grupos: confiou um terço a Joab, um terço ao seu irmão Abisai, filho de Sarvia, e um terço a Etai, o geteu. E disse às tropas: Eu também marcharei convosco.
3
Mas o povo respondeu-lhe: Não, tu não irás; pois se fugíssemos, não dariam atenção a isso, e mesmo que morra a metade de nós, isso não lhes importaria; tu, porém, vales por dez mil de nós. É melhor que fiques na cidade, para poder vir em nosso socorro.
4
Farei, disse o rei, o que bem vos parecer. Postou-se então junto da porta, enquanto todo o exército saía formado em esquadrões de cem e de mil.
5
O rei deu esta ordem a Joab, a Abisai e a Etai: Por favor, poupai-me o jovem Absalão! Todo o povo ouviu a ordem que o rei deu aos chefes a respeito de Absalão.
6
Saiu o exército à campanha contra Israel e travou-se o combate na floresta de Efraim.
7
Os israelitas foram batidos pela gente de Davi, e houve naquele dia uma grande carnificina de vinte mil homens.
8
O combate estendeu-se por toda a região, devorando a floresta naquele dia mais homens do que a espada.

Morte de Absalçao

9 Absalão encontrou-se de repente em presença dos homens de Davi. Montava uma mula, e esta enfiou-se sob a folhagem espessa de um grande carvalho. A cabeça de Absalão prendeu-se nos galhos da árvore, e ele ficou suspenso entre o céu e a terra, enquanto a mula em que montava passava adiante.
10
Vendo isso, um homem informou a Joab, dizendo: Eu vi Absalão suspenso a um carvalho.


11 Se o viste, respondeu Joab ao mensageiro, por que não o abateste no mesmo lugar? Eu me sentiria no dever de dar-te dez siclos de prata e um cinturão.
12
O homem respondeu: Ainda que me pusessem nas mãos mil siclos de prata, eu não levantaria a mão contra o filho do rei, porque o rei ordenou a ti, a Abisai e a Etai, em nossa presença, que lhe poupassem o jovem Absalão.
13
E se eu tivesse cometido esse atentado contra a vida do jovem, nada se ocultaria ao rei, e tu mesmo te terias esquivado.


14 Joab disse: Não tenho tempo a perder contigo. Tomou, então, três dardos na mão e plantou-os no coração de Absalão. E estando ele ainda vivo no carvalho,


15 dez jovens escudeiros de Joab cercaram-no e deram-lhe os últimos golpes.
16
Joab tocou então a trombeta e o exército cessou de perseguir Israel, porque Joab deteve o povo.
17
Tomaram Absalão e jogaram-no numa grande fossa no interior da floresta, erguendo em seguida sobre ele um enorme monte de pedras. Entrementes, todo o Israel fugira, indo cada qual para a sua casa.
18
Ora, Absalão quando ainda vivia, mandara erigir para si o monumento que se encontra no vale do Rei, porque dizia: Não tenho filhos para perpetuar a memória de meu nome. E deu o seu próprio nome ao monumento que se chama ainda hoje o monumento de Absalão.
19
Aquimaas, filho de Sadoc, disse: Vou correndo anunciar ao rei a boa nova de que o Senhor lhe fez justiça, livrando-o de seus inimigos.
20
Mas Joab disse-lhe: Não lhe levarás hoje essa notícia, mas outro dia; não hoje, porque morreu o filho do rei.
21
E dirigindo-se a um cusita: Vai ter com o rei, disse-lhe, e anuncia-lhe o que viste. O cusita prostrou-se diante de Joab e partiu correndo.
22
Aquimaas, porém, filho de Sadoc, insistiu: Seja como for, mas deixa-me ir também atrás do cusita. E Joab: Por que queres correr, meu filho? Essa mensagem de nada te aproveitaria.
23
Em todo caso, eu correrei. Corre, disse-lhe Joab. Aquimaas foi correndo pelo caminho da planície e passou à frente do cusita.


24 Davi estava sentado entre as duas portas. A sentinela que tinha subido ao terraço da porta, sobre a muralha, levantou os olhos e viu um homem que vinha correndo sozinho.
25
Gritando, anunciou-o ao rei, que disse: Se ele vem só, traz alguma boa nova. Entretanto, o homem se aproximava.


26 A sentinela viu então outro homem que corria; e gritou do alto da porta: Vejo outro homem que vem correndo sozinho. Também esse traz alguma boa nova.
27
A sentinela: Pela maneira de correr do primeiro, só pode ser Aquimaas, filho de Sadoc. O rei: É um homem de bem: traz boas notícias.
28
Aquimaas, chegando, disse ao rei: Salve! e prostrou-se diante dele com a face por terra. Depois ajuntou: Bendito seja o Senhor, teu Deus, que te entregou os homens que ergueram a mão contra o rei, meu senhor.
29
O rei disse: Tudo vai bem para o jovem Absalão? Eu vi um grande tumulto, respondeu Aquimaas, no momento em que Joab enviava o teu servo, mas ignoro o que se tenha passado.


30 O rei disse-lhe: Põe-te aqui ao lado e espera. Ele afastou-se e esperou ali.
31
Então chegou o cusita, dizendo: Saiba o rei, meu senhor, da boa nova: O Senhor te fez hoje justiça contra todos os que se tinham revoltado contra ti.
32
O rei disse ao cusita: Tudo vai bem para o jovem Absalão? E o cusita respondeu: Sejam como esse jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal!
33
Então o rei comoveu-se, subiu ao quarto que estava por cima da porta e pôs-se a chorar. E enquanto ia, dizia assim: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Por que não morri em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!


19
2 Samuel (BAV) 11