Daniel (BAV) 6

6 1 Dario, o medo, recebeu a realeza mais ou menos com a idade de sessenta e dois anos.
2
Aprouve a Dario, o medo, constituir e espalhar por todo o seu reino cento e vinte sátrapas,
3
submetidos a três ministros um dos quais era Daniel), a quem eles teriam de prestar contas, a fim de que os interesses do rei nunca fossem lesados.
4
Ora, Daniel, devido à superioridade de seu espírito, levava vantagem sobre os ministros e sátrapas e com isso o rei sonhava em pô-lo à frente de todo o reino.
5
Por isso, ministros e sátrapas procuravam um meio de acusar Daniel em relação à sua administração. Mas não puderam descobrir pretexto algum, nem falta, porque ele era íntegro e nada de faltoso e repreensível se encontrava nele.
6
Esses homens disseram então: Não acharemos motivo algum de acusação contra esse Daniel, a não ser naquilo que diz respeito à lei de seu Deus.
7
Então ministros e sátrapas vieram tumultuosamente procurar o rei e lhe disseram: Rei Dario, longa vida ao rei!
8
Os ministros do reino, os prefeitos, os sátrapas, os conselheiros e os governadores estão todos de acordo em que seja publicado um edito real com uma interdição, estabelecendo que aquele que nesses trinta dias dirigir preces a um deus ou homem qualquer que seja, além de ti, ó rei, seja jogado na cova dos leões.
9
Promulga pois, ó rei, esta interdição, e manda fazer um documento, a fim de que, conforme o estabelecido na lei definitiva dos medos e dos persas, não possa ser revogada.
10
Em conseqüência, o rei Dario fez redigir o documento contendo a referida interdição.
11
Ouvindo essa notícia, Daniel entrou em sua casa, a qual tinha no quarto de cima janelas que davam para o lado de Jerusalém. Três vezes ao dia, ajoelhado, como antes, continuou a orar e a louvar a Deus.


12 Então esses homens acorreram amotinados e encontraram Daniel em oração, invocando seu Deus.
13
Foram imediatamente ao palácio do rei e disseram-lhe, a respeito do edito real de interdição: Não promulgaste, ó rei, uma proibição estabelecendo que quem nesses trinta dias invocasse algum deus ou homem qualquer que fosse, à exceção tua, seria jogado na cova dos leões? Certamente, respondeu o rei, (assim foi feito) segundo a lei dos medos e dos persas, que não pode ser modificada.
14
Pois bem, continuaram: Daniel, o deportado de Judá, não tem consideração nem por tua pessoa nem por teu decreto: três vezes ao dia ele faz sua oração.
15
Ouvindo essas palavras, o rei, bastante contrariado, tomou contudo a resolução de salvar Daniel, e nisso esforçou-se até o pôr-do-sol.
16
Mas os mesmos homens novamente o vieram procurar em tumulto: Saibas, ó rei, disseram-lhe, que a lei dos medos e dos persas não permite derrogação alguma a uma proibição ou a uma medida publicada em edito pelo rei.
17
Então o rei deu ordem para trazerem Daniel e o jogarem na cova dos leões. Que o Deus, que tu adoras com tanta fidelidade, disse-lhe, queira ele mesmo salvar-te!
18
Trouxeram uma pedra, que foi rolada sobre a abertura da cova; o rei lacrou-a com seu sinete e com o dos grandes, a fim de que nada fosse modificado em relação a Daniel.
19
De volta a seu palácio, o rei passou a noite sem nada tomar, e sem mandar vir concubina alguma para junto de si. Não conseguiu adormecer.
20
Logo ao amanhecer levantou-se e dirigiu-se a toda pressa à cova dos leões.
21
Quando se aproximou, chamou Daniel com voz cheia de tristeza: Daniel, disse-lhe, servo de Deus vivo, teu Deus que tu adoras com tanta fidelidade terá podido salvar-te dos leões?!
22
Daniel respondeu-lhe: Senhor, vida longa ao rei!
23
Meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões; eles não me fizeram mal algum, porque a seus olhos eu era inocente e porque contra ti também, ó rei, não cometi falta alguma.
24
Então o rei, todo feliz, ordenou que se retirasse Daniel da cova. Foi ele assim retirado sem traço algum de ferimento, porque tinha tido fé em seu Deus.
25
Por ordem do rei, mandaram vir então os acusadores de Daniel, que foram jogados na cova dos leões com suas mulheres e seus filhos. Não haviam tocado o fundo da cova, e já os leões os agarraram e lhes trituraram os ossos!
26
Então o rei Dario escreveu: A todos os povos, a todas as nações e aos povos de todas as línguas que habitam sobre a terra, felicidade e prosperidade!
27
Por mim é ordenado que em toda a extensão de meu reino, se mantenha perante o Deus de Daniel temor e tremor. É o Deus vivo, que subsiste eternamente; seu reino é indestrutível e seu domínio é perpétuo.
28
Ele salva e livra, faz milagres e prodígios no céu e sobre a terra: foi ele quem livrou Daniel das garras dos leões.


29 Foi assim que Daniel prosperou durante o reinado de Dario e durante o de Ciro, o persa.

II - VISÕES PROFÉTICAS (7-12)

Os quatro animais

7 1 No primeiro ano do reinado de Baltazar, rei de Babilônia, Daniel, estando em seu leito, teve um sonho e visões surgiram em seu espírito. Consignou por escrito esse sonho e a substância dos fatos.


2 Assim se manifestou: Via, no transcurso de minha visão noturna, os quatro ventos do céu precipitarem-se sobre o Grande Mar.
3
Surgiram das águas quatro grandes animais, diferentes uns dos outros.
4
O primeiro parecia-se com um leão, mas tinha asas de águia. Enquanto o olhava, suas asas foram-lhe arrancadas, foi levantado da terra e erguido sobre seus pés como um homem, e um coração humano lhe foi dado.
5
Apareceu em seguida outro animal semelhante a um urso; erguia-se sobre um lado e tinha à boca, entre seus dentes, três costelas. Diziam-lhe: Vamos! Devora bastante carne!
6
Depois disso, vi um terceiro animal, idêntico a uma pantera, que tinha nas costas quatro asas de pássaro; tinha ele também quatro cabeças. O império lhe foi atribuído.
7
Finalmente, como eu contemplasse essas visões noturnas, vi um quarto animal, medonho, pavoroso e de uma força excepcional. Possuía enormes dentes de ferro; devorava, depois triturava e pisava aos pés o que sobrava. Ao contrário dos animais precedentes, ostentava dez chifres.
8
Como estivesse ocupado em observar esses chifres, eis que surgiu, entre eles outro chifre menor, e três dos primeiros foram arrancados para dar-lhe lugar. Este chifre tinha olhos idênticos aos olhos humanos e uma boca que proferia palavras arrogantes.


9 Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um ancião chegou e se sentou. Brancas como a neve eram suas vestes, e tal como a pura lã era sua cabeleira; seu trono era feito de chamas, com rodas de fogo ardente.
10
Saído de diante dele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! O tribunal deu audiência e os livros foram abertos.


11 Olhei então, devido à balbúrdia causada pelos discursos arrogantes do chifre, olhei até o momento em que o animal foi morto, seu corpo subjugado e a fera jogada ao fogo.
12
Quanto aos outros animais, o domínio lhes foi igualmente retirado, mas a duração de sua vida foi fixada até um tempo e uma data.


13 Olhando sempre a visão noturna, vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu: dirigiu-se para o lado do ancião, diante de quem foi conduzido.
14
A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído.


15 Quanto a mim, Daniel, senti minha alma desfalecer dentro de mim, e fiquei perturbado por essas visões de meu espírito.
16
Aproximando-me de um dos assistentes, perguntei-lhe sobre a realidade de tudo isso. Respondeu-me dando a explicação seguinte:
17
esses grandes animais, (disse), em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra.
18
Mas os santos do Altíssimo receberão a realeza e a conservarão por toda a eternidade.
19
Quis então saber exatamente o que representava o quarto animal, diferente dos demais, pavoroso em extremo, cujos dentes eram de ferro e as garras de bronze, que devorava, depois triturava e calcava aos pés o que sobrava.
20
Quis ser informado sobre os dez chifres que tinha na cabeça, bem como a respeito desse outro chifre que havia surgido e diante do qual três chifres haviam caído, esse chifre que tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes, e parecia maior do que os outros.
21
Tinha visto esse chifre fazer guerra aos santos e levar-lhes vantagem, até o momento em que veio o ancião,
22
quando foi feita justiça aos santos do Altíssimo e quando lhes chegou a hora de obterem a realeza.
23
Ele me respondeu: o quarto animal é um quarto reino terrestre, diferente de todos os demais, que devorará, calcará e aniquilará o mundo.
24
Os dez chifres indicam dez reis levantando-se nesse reino. Mas depois deles surgirá outro, diferente, que destronará três.
25
Proferirá insultos contra o Altíssimo, e formará o projeto de mudar os tempos e a lei; e os santos serão entregues ao seu poder durante um tempo, tempos e metade de um tempo.
26
Mas realizar-se-á o julgamento e lhe será arrancado seu domínio, para destruí-lo e suprimi-lo definitivamente.
27
A realeza, o império e a suserania de todos os reinos situados sob os céus serão devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é eterno e a quem todas as soberanias renderão seu tributo de obediência.


28 Aqui terminou o discurso (a mim dirigido). Quanto a mim, Daniel, meus pensamentos transtornaram-me a ponto de me mudar de cor. Mas conservei tudo isso em meu coração.

Visão do carneiro dominado pelo bode

8 1 No terceiro ano do reinado de Baltazar, eu, Daniel, tive uma visão, continuação daquela que eu tinha tido anteriormente.
2
Nessa visão, eu me achava na fortaleza de Susa, na província de Elão, e eu me vi, sempre em visão, às margens do Ulai.
3
Erguendo os olhos, eis que vi um carneiro, o qual se achava em frente ao rio. Tinha dois chifres, dois longos chifres, um dos quais era mais alto do que o outro. Esse chifre mais alto apareceu por último.
4
Vi o carneiro dar chifradas em direção do oeste, do norte e do sul. Nenhum animal resistia diante dele, e ninguém conseguia escapar de seu poder. Fazia o que queria, e crescia.
5
Enquanto observava com atenção, eis que um bode robusto veio do ocidente e percorreu a terra inteira sem tocar o solo; tinha entre os dois olhos um chifre muito saliente.
6
Foi até o carneiro de dois chifres, que eu tinha visto em frente ao rio, e avançou contra ele num excesso de fúria.
7
Eu o vi aproximar-se do carneiro e atirando-se com fúria sobre ele, espancá-lo e quebrar-lhe os dois chifres, sem que o carneiro tivesse força para sustentar o assalto. O bode jogou por terra o carneiro e o calcou aos pés, sem que alguém interviesse para subtraí-lo ao ataque de seu adversário.
8
Então o bode tornou-se muito grande. Mas, assim que se tornou poderoso, seu grande chifre quebrou-se e foi substituído por quatro chifres que cresciam em direção dos quatro ventos do céu.
9
De um deles saiu um pequeno chifre que se desenvolveu consideravelmente para o sul, para o oriente e para a jóia (dos países).
10
Cresceu até alcançar os astros do céu, do qual fez cair por terra diversas estrelas e as calcou aos pés.
11
Cresceu até o chefe desse exército de astros, cujo (holocausto) perpétuo aboliu e cujo santuário destruiu.
12
Por causa da infidelidade, além do holocausto perpétuo foi-lhe entregue um exército! A verdade foi lançada à terra. O pequeno chifre teve êxito na sua empreitada.
13
Ouvi um santo que falava, a quem outro santo respondeu: quanto tempo durará o anunciado pela visão a respeito do holocausto perpétuo, da infidelidade destruidora, e do abandono do santuário e do exército calcado aos pés?
14
Respondeu: duas mil e trezentas noites e manhãs. Depois disso o santuário será restabelecido.
15
Ora, enquanto eu contemplava essa visão e procurava o significado, vi, de pé diante de mim, um ser em forma humana,
16
e ouvi uma voz humana vinda do meio do Ulai: Gabriel, gritava, explica-lhe a visão.
17
Dirigiu-se então em direção ao lugar onde eu me achava. À sua aproximação, fiquei apavorado e caí com a face contra a terra. Filho do homem, disse-me ele, compreende bem que essa visão simboliza o tempo final.
18
Enquanto falava comigo, desmaiei, com o rosto em terra. Mas ele tocou-me e me fez ficar de pé.
19
Eis, disse, vou revelar-te o que acontecerá nos últimos tempos da cólera, porque isso diz respeito ao tempo final.
20
O carneiro de dois chifres, que viste, simboliza os reis da Média e da Pérsia.
21
O bode valente é o rei de Javã; o grande chifre que ele tem entre os olhos é o primeiro rei.
22
Sua ruptura e o nascimento de quatro chifres em seu lugar significam quatro reinos saindo dessa nação, mas sem terem o mesmo poder.
23
No fim do reinado deles, quando estiver cheia a medida dos infiéis, um rei surgirá, cheio de crueldade e fingimento.
24
Seu poder aumentará, nunca porém por si mesmo. Fará monstruosas devastações, terá êxito nas suas empresas, exterminará os poderosos e o povo dos santos.
25
Graças à sua habilidade, fará triunfar sua perfídia, seu coração inchar-se-á de orgulho; mandará matar muita gente que não espera por isso, levantar-se-á contra o príncipe dos príncipes, mas será aniquilado sem a intervenção de mão humana.
26
A visão que te foi apresentada sobre as noites e as manhãs é perfeitamente verídica. Mas tu, guarda esta visão em segredo, pois ela se refere a dias longínquos.
27
Então, eu, Daniel, desfaleci. Estive doente durante muitos dias. Depois disso recomecei a trabalhar nos serviços do rei. Fiquei atônito com a visão que tive, completamente incompreensível para mim.

O oráculo enigmático de Jeremias

9 1 No primeiro ano do reinado de Dario, filho de Assuero, da estirpe dos medos, que havia sido elevado ao trono do império dos caldeus,
2
no primeiro ano do reinado, (digo), eu, Daniel, lendo as Escrituras, tive minha atenção despertada para o fato de que o número de anos a passar-se, segundo a palavra do Senhor ao profeta Jeremias, sobre a desolação de Jerusalém, seria de setenta anos.
3
Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza.

Oração de Daniel

4 Supliquei ao Senhor, meu Deus, e fiz-lhe minha confissão nestes termos: Ah! Senhor, Deus grande e temível, que sois fiel à aliança e que conservais vossa misericórdia àqueles que vos amam e guardam vossos mandamentos:
5
nós pecamos, prevaricamos, cometemos maldade, fomos recalcitrantes, desviamo-nos de vossos mandamentos e de vossas leis.
6
Não escutamos vossos servos, os profetas, que falaram em vosso nome a nossos reis, a nossos chefes, a nossos antepassados e a todo o povo da terra.
7
A vós, Senhor, a justiça, e para nós a vergonha, como hoje acontece ao povo de Judá e de Jerusalém, a todo o Israel, àqueles que estão perto e àqueles que estão longe, em todos os países aonde os haveis dispersado por causa das iniqüidades que cometeram contra vós.
8
Sim, Senhor, para nós a vergonha, para nosso rei, nossos chefes e nossos antepassados, porque pecamos contra vós.
9
Ao Senhor, nosso Deus, as misericórdias e o perdão, porque nós nos rebelamos contra ele.
10
Recusamos ouvir a voz do Senhor, nosso Deus; não seguimos as leis que ele nos oferecia pela boca de seus servos, os profetas.


11 Todo o Israel transgrediu vossa lei e se desviou, a fim de não obedecer à vossa voz. Por isso a maldição e a imprecação que figuram na lei de Moisés, o servo de Deus, caíram sobre nós, porque pecamos contra ele.
12
Pôs em execução as ameaças proferidas contra nós e contra nossos governantes: descarregou sobre nós tais calamidades, como jamais sob o céu aconteceu, coisa semelhante àquela que fulminou Jerusalém.
13
Foi de acordo com a lei de Moisés que nos sucederam essas desgraças. E nós nunca procuramos abrandar o Senhor, nosso Deus, renunciando às nossas iniqüidades e dando atenção à vossa verdade.
14
O Senhor não se descuidou do castigo, e o descarregou sobre nós, porque o Senhor, nosso Deus, é justo em tudo o que faz. Mas nós não escutamos a sua voz.
15
Mas agora, Senhor, nosso Deus, que tirastes vosso povo do Egito por um desígnio de vosso poder, e do qual vós fizestes uma glória que perdura ainda hoje, nós pecamos, nós prevaricamos.
16
Senhor, dignai-vos, pela vossa misericórdia, afastar de vossa cidade santa, Jerusalém, vossa cólera e vossa exasperação, porque é devido às nossas iniqüidades e aos pecados de nossos antepassados que Jerusalém e vosso povo são alvo dos insultos de todos os nossos vizinhos.
17
Ouvi, pois, Senhor, a prece suplicante de vosso servo. Por amor a vós mesmo, Senhor, fazei irradiar vossa face sobre vosso santuário deserto.
18
Ó meu Deus, ficai atento para ouvir-nos; abri os olhos para ver nossa ruína e a cidade que ostenta um nome vindo de vós. Não é em nome dos nossos atos de justiça que depositamos a vossos pés nossas súplicas, mas em nome de vossa grande misericórdia.
19
Senhor, escutai! Senhor, perdoai! Senhor, ficai atento! Agi! Por vosso próprio amor, ó meu Deus, não demoreis, pois vosso nome foi dado à vossa cidade e a vosso povo!

As setenta "semanas"

20 Eu falava ainda, pedindo, confessando meu pecado e o de meu povo de Israel, depositando aos pés do Senhor, meu Deus, minha súplica pelo seu monte santo;
21
não havia terminado essa prece, quando se aproximou de mim, num relance (era a hora da oblação da noite), Gabriel, o ser que eu havia visto antes em visão.
22
Deu-me, para meu conhecimento, as seguintes explicações: Daniel, vim aqui agora para te informar.
23
Apenas havias iniciado a tua oração e uma palavra foi pronunciada; eu venho desvendá-la a ti, porque és um homem de predileção. Presta pois atenção a este oráculo e compreende bem a sua revelação:
24
Setenta semanas foram fixadas a teu povo e à tua cidade santa para dar fim à prevaricação, selar os pecados e expiar a iniqüidade, para instaurar uma justiça eterna, encerrar a visão e a profecia e ungir o Santo dos Santos.
25
Sabe, pois, e compreende isto: desde a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até um chefe ungido, haverá sete semanas; depois, durante sessenta e duas semanas, ressurgirá, será reconstruída com praças e muralhas. Nos tempos de aflição,
26
depois dessas sessenta e duas semanas, um ungido será suprimido, e ninguém (será) a favor dele. A cidade e o santuário serão destruídos pelo povo de um chefe que virá. Seu fim (chegará) com uma invasão, e até o fim haverá guerra e devastação decretada.
27
Concluirá com muitos uma sólida aliança por uma semana e no meio da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; sobre a asa das abominações virá o devastador, até que a ruína decretada caia sobre o devastado.

Destino do povo judeu

10 1 No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, um oráculo foi revelado a Daniel (cognominado Baltazar). Esse oráculo era verídico e anunciava grandes lutas. Daniel compreendeu o oráculo e teve conhecimento do sentido da visão.
2
Naquele tempo, eu, Daniel, fiz penitência durante três semanas.
3
Não provei alimento delicado algum: não passou em minha boca nem carne nem vinho; não me ungi de óleo absolutamente durante o transcurso dessas três semanas.
4
No vigésimo quarto dia do primeiro mês, encontrava-me à beira do grande rio, o Tigre.
5
Levantando os olhos, vi um homem vestido de linho. Cingia-lhe os rins um cinto de ouro de Ufaz.
6
Seu corpo era como o crisólito; seu rosto brilhava como o relâmpago, seus olhos, como tochas ardentes, seus braços e pés tinham o aspecto do bronze polido e sua voz ressoava como o rumor de uma multidão.
7
Eu, Daniel, era o único a ver essa aparição; meus companheiros não a viram, mas se apoderou deles um tão grande pavor que fugiram para esconder-se.
8
Fiquei portanto sozinho a contemplar essa grandiosa aparição. As forças me abandonaram: a tez do meu rosto tornou-se lívida e eu desfaleci.
9
Ouvi então esse homem falar, e, ao som de suas palavras, caí desmaiado, com o rosto por terra.
10
Eis porém que uma mão me tocou, e fez com que me erguesse sobre os joelhos e as palmas das mãos.
11
Daniel, homem de predileção, disse-me ele, presta atenção às palavras que vou dirigir-te. Levanta-te, pois tenho uma mensagem a te confiar. Como me falasse assim, levantei-me tremendo.
12
Não temas, Daniel, disse-me, porque desde o primeiro dia em que aplicaste teu espírito a compreender, e em que te humilhaste diante de teu Deus, tua oração foi ouvida, e é por isso que eu vim.
13
O chefe do reino persa resistiu-me durante vinte e um dias; porém Miguel, um dos principais chefes, veio em meu socorro. Permaneci assim ao lado dos reis da Pérsia.
14
Aqui estou para fazer-te compreender o que deve acontecer a teu povo nos últimos dias; pois essa visão diz respeito a tempos longínquos.
15
Enquanto assim me falava, eu mantinha meus olhos fixos no chão e permanecia mudo.
16
De repente, um ser de forma humana tocou-me nos lábios. Abri a boca e falei; disse ao personagem que estava perto de mim: Meu senhor, essa visão transtornou-me, e estou sem forças.
17
Como poderia o servo de meu senhor conversar com seu senhor, quando está sem forças e sem fôlego?
18
Então o ser em forma humana tocou-me novamente e me reanimou.
19
Não temas nada, homem de predileção! Que a paz esteja contigo! Coragem, coragem! Enquanto ele me falava senti-me reanimado. Fala, meu senhor, disse, pois tu me restituíste as minhas forças.
20
Sabes bem, prosseguiu ele, porque vim a ti? Vou voltar agora para lutar contra o chefe da Pérsia, e no momento em que eu partir virá o chefe de Javã.
21
Mas (antes), far-te-ei conhecer o que está escrito no livro da verdade.
22
Contra esses adversários não há ninguém que me defenda a não ser Miguel, vosso chefe.


11 1 Assim como eu, (no primeiro ano do reinado de Dario, o medo, mantive-me) junto a ele para auxiliá-lo e protegê-lo.

Luta entre ptolomeus e selêucidas

2 Agora vou manifestar-te a verdade. Haverá ainda três reis na Pérsia. O quarto ultrapassará todos os demais em riquezas. Quando suas riquezas o tiverem tornado poderoso, movimentará tudo contra o reino de Javã.
3
Mas levantar-se-á um rei forte que dominará sobre um vasto império e fará tudo quanto lhe aprouver.
4
Quando ficar poderoso, seu reino será desmembrado e dividido aos quatro ventos do céu. Não passará à posteridade e não terá mais o mesmo poder; seu reino será desmembrado e entregue a estranhos e não a seus descendentes.
5
O rei do sul tornar-se-á poderoso, mas um dos chefes do seu exército ficará ainda mais forte e seu império será grande.
6
Após alguns anos aliar-se-ão: a filha do rei do sul virá à casa do rei do norte para fazer o acordo; mas ela não conservará o apoio de seu pai, cujo poder não se manterá, nem o do seu esposo. Ela será morta com aqueles que a tiverem trazido, aquele que a criou e aquele que a tinha feito poderosa.
7
Um dos rebentos da mesma raiz levantar-se-á em seu lugar; virá em direção do exército, entrará nas fortalezas do rei do norte, atacá-lo-á e sairá vencedor.
8
Levará para o Egito até mesmo seus deuses cativos, assim como seus ídolos e seus objetos preciosos de ouro e de prata. Depois, durante alguns anos, abster-se-á de atacar o rei do norte.
9
Este virá contra o rei do sul, mas voltará para a sua terra.
10
Mas seus filhos prepararão a guerra recrutando um exército numeroso, o qual, precipitando-se como uma torrente, invadirá e levará a batalha até a sua fortaleza.
11
Irritado, o rei do sul sairá para atacar o rei do norte: como porá em campo um numeroso exército, as tropas inimigas ser-lhe-ão entregues.
12
Após o aniquilamento desse exército, encher-se-á de orgulho. Mandará matar dezenas de milhares de homens, sem ficar mais forte por isso.
13
O rei do norte organizará novamente um exército mais numeroso ainda que o primeiro, e alguns anos depois avançará em meio a enormes tropas e a um grandioso aparato.
14
Nesse momento, muitos se levantarão contra o rei do sul; homens violentos de teu povo revoltar-se-ão para cumprir a visão, mas fracassarão.
15
O rei do norte virá então, destruirá trincheiras e tomará fortalezas. Os exércitos do rei do sul, mesmo as suas tropas de escol, não se manterão; nada poderá resistir.
16
O invasor agirá à sua vontade sem que ninguém possa enfrentá-lo. Deter-se-á no país que é a jóia da terra; e a destruição estará em suas mãos.
17
Empreenderá a conquista do reino do sul; fará um pacto com seu rei e dar-lhe-á sua filha como mulher, a fim de amenizar a ruína dessa terra; mas isso não dará resultado, e esse reino não lhe pertencerá.
18
Depois voltar-se-á contra as ilhas e tomará diversas. Porém um chefe militar porá fim à sua soberba, e fá-lo-á pagar sua injúria.
19
Então voltar-se-á contra as fortalezas de sua terra, mas tropeçará, cairá e acabará desaparecendo.
20
No lugar deste último será colocado um príncipe, que enviará um fiscal ao país que é a jóia da terra. Em poucos dias ele será aniquilado, e não será nem por efeito de cólera nem de batalha.

Antioco Epífanes

21 Em seu lugar, elevar-se-á um homem vil, sem nenhuma dignidade real, que surgirá repentinamente e apossar-se-á da realeza pelas suas intrigas.
22
As tropas de invasão serão postas em fuga diante dele e aniquiladas, bem como o chefe da aliança.
23
A despeito do pacto firmado com ele, agirá com perfídia: atacará e triunfará com poucos homens.
24
Invadirá inesperadamente as regiões mais férteis da terra; fará o que nunca fizeram seus pais nem os antepassados deles: distribuirá com os seus os saques, despojos, riquezas; combinará ofensivas contra as fortalezas, mas apenas por um tempo.
25
Dará novo impulso a suas forças e a seu valor, atacando o rei do sul com um exército considerável. Por seu lado, o rei do sul entrará na luta com um exército importante e valoroso, mas não poderá resistir devido às intrigas urdidas contra ele.
26
Seus comensais o aniquilarão; seu exército se dispersará e muitos homens cairão feridos mortalmente.
27
Com o coração repleto de desejos malévolos, os dois reis enganar-se-ão mutuamente à volta da mesma mesa. Mas seus projetos fracassarão, porque o fim só virá no tempo determinado.
28
Volverá à sua terra com grandes riquezas. Seu coração meditará o mal contra a santa aliança; cometê-lo-á, depois entrará novamente em sua terra.
29
No tempo previsto atacará de novo o sul: mas esta expedição não será semelhante à precedente.
30
Navios de Cetim o atacarão e ele desanimará. Dirigirá novamente sua fúria contra a santa aliança, tomará medidas contra ela, fazendo um pacto com aqueles que a abandonarem.
31
Tropas sob sua ordem virão profanar o santuário, a fortaleza; farão cessar o holocausto perpétuo e instalarão a abominação do devastador.
32
Submeterá, com suas lisonjas, os violadores da aliança, mas a multidão daqueles que conhecem seu Deus manter-se-á firme e resistirá.
33
Os homens doutos desse povo instruirão um grande número; mas, durante algum tempo, perecerão pela espada, fogo, cativeiro e pilhagem.
34
Enquanto forem caindo dessa maneira, serão um tanto amparados; e um bom número unir-se-á hipocritamente a eles.
35
Muitos desses sábios sucumbirão, a fim de que sejam provados, purificados e branqueados até o termo final; ora, esse final só chegará no tempo marcado.
36
O rei fará então tudo o que desejar. Ensoberbecer-se-á, elevar-se-á no seu orgulho acima de qualquer divindade; proferirá até coisas inauditas contra o Deus dos deuses; prosperará até que a cólera divina tenha chegado ao seu termo, porque o que está decretado deverá ser executado.
37
Não respeitará nem os deuses de seus antepassados, nem a deusa querida das mulheres, nem divindade alguma; julgar-se-á superior a todos.
38
Mas venerará o deus das fortalezas, no próprio local, um deus desconhecido de seus antepassados, com ouro, prata, pedras preciosas e jóias.
39
Com o auxílio de um deus estranho, atacará as muralhas das fortalezas; aos que o reconhecerem, multiplicará as honras, conferir-lhes-á autoridade sobre numerosos vassalos e distribuir-lhes-á terras em recompensa.
40
No final, o rei do sul e ele entrarão em luta. O rei do norte cairá sobre ele, como um furacão, com carros, cavaleiros e uma frota considerável. Entrará na terra como uma torrente que transborda.
41
Invadirá o país que é a jóia da terra, onde muitos homens cairão. Mas os edomitas, os moabitas, e a maioria dos amonitas escapar-lhe-ão.
42
Apoderar-se-á de diferentes países; o Egito não lhe escapará.
43
Pilhará os tesouros de ouro e de prata bem como tudo o que houver de precioso no Egito. Os líbios e os etíopes juntar-se-ão a ele.
44
Mas, alarmado pelas notícias vindas do oriente e do norte, retirar-se-á como uma fúria, para destruir e exterminar uma multidão de povos.
45
Erguerá os pavilhões de seu palácio entre o mar e a nobre montanha do santuário. Então alcançará o termo de sua vida e ninguém lhe prestará socorro.

Os tempos messiânicos

12 1 Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe, o protetor dos filhos do seu povo. Será uma época de tal desolação, como jamais houve igual desde que as nações existem até aquele momento. Então, entre os filhos de teu povo, serão salvos todos aqueles que se acharem inscritos no livro.
2
Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão, uns para uma vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna.
3
Os que tiverem sido inteligentes fulgirão como o brilho do firmamento, e os que tiverem introduzido muitos (nos caminhos) da justiça luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor.


4 Quanto a ti, Daniel, guarda isso secreto, e conserva este livro lacrado até o tempo final. Muitos daqueles que a ele recorrerem verão aumentar seu conhecimento.
5
Continuei a olhar. Vi dois outros personagens mantendo-se cada um sobre uma das margens do rio.
6
Um deles disse ao homem vestido de linho que estava em cima do rio: Para quando o fim dessas coisas prodigiosas?
7
Então ouvi o homem vestido de linho, que estava em cima do rio, jurar, levantando para o céu sua mão esquerda bem como sua mão direita: pelo eterno vivo, será num tempo, tempos e na metade de um tempo, no momento em que a força do povo santo for inteiramente rompida, que todas estas coisas se cumprirão.
8
Ouvi essas palavras, mas sem entendê-las. Meu senhor, perguntei, qual será a conclusão de tudo isso?
9
Vamos, Daniel, respondeu; esses oráculos devem ficar fechados e lacrados até o tempo final.
10
Muitos serão limpos, acrisolados e provados. Os ímpios agirão com perversidade, mas nenhum deles compreenderá, enquanto que os sábios compreenderão.
11
Desde o tempo em que for suprimido o holocausto perpétuo e quando for estabelecida a abominação do devastador, transcorrerão mil duzentos e noventa dias.
12
Feliz quem esperar e alcançar mil trezentos e trinta e cinco dias!
13
Quanto a ti, vai até o fim. Tu repousarás e te levantarás para (receber) tua parte de herança, no fim dos tempos.

III - APÊNDICES (13-14)

História de Suzana

13 1 Havia um homem chamado Joaquim, que habitava em Babilônia.
2
Tinha desposado uma mulher chamada Suzana, filha de Helcias, de grande beleza, e piedosa,
3
porque havia sido educada segundo a lei de Moisés por pais honestos.
4
Joaquim era sumamente rico. Junto à sua casa havia um pomar. Os judeus reuniam-se freqüentemente em casa dele, porque gozava de uma particular consideração entre seus compatriotas.
5
Haviam sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo, aos quais se aplicava bem a palavra do Senhor: A iniqüidade surgiu, em Babilônia, de anciãos juízes que passavam por dirigentes do povo.
6
Esses dois personagens freqüentavam a casa de Joaquim, aonde vinham consultá-los todos aqueles que tinham litígio.
7
Lá pelo meio-dia, quando toda essa gente tinha ido embora, Suzana vinha passear no jardim de seu marido.
8
Os dois anciãos viam-na portanto todos os dias durante seu passeio, tanto que se apaixonaram por ela e,
9
perdendo a justa noção das coisas, desviaram os olhos para não ver mais o céu e não ter mais presente no espírito a verdadeira regra de comportamento.


10 Ambos foram atingidos pelo amor a Suzana, mas sem se confiarem mutuamente sua emoção.
11
Tinham vergonha de declarar um ao outro o desejo que sentiam de possuí-la.
12
Todos os dias, inquietos, procuravam avistá-la.
13
Uma vez disseram um ao outro: Vamos para casa; está na hora do almoço. Saíram cada um para seu lado.
14
Mas, havendo ambos retrocedido, encontraram-se novamente no mesmo lugar. Perguntando um ao outro qual o motivo de sua volta, confessaram-se sua concupiscência. Combinaram então um encontro onde a pudessem surpreender sozinha.


15 Enquanto calculavam qual seria o momento propício, eis que Suzana chegou como de costume, com duas empregadas, e tomou a resolução de banhar-se, pois fazia calor.
16
Lá não havia ninguém, salvo os dois anciãos escondidos, que a espreitavam.
17
Trazei-me, disse ela às duas empregadas, óleo e ungüentos, e fechai as portas do jardim, para eu me banhar.


18 O que elas fizeram por sua ordem. As portas do jardim estando fechadas, saíram pela porta do fundo para ir buscar os objetos pedidos, ignorando que os anciãos lá se achavam escondidos.


19 Apenas saíram, os dois homens precipitaram-se em direção de Suzana.
20
As portas do jardim estão fechadas, disseram-lhe, ninguém nos vê. Ardemos de amor por ti. Aceita, e entrega-te a nós.
21
Se recusares, iremos denunciar-te: diremos que havia um jovem contigo, e que foi por isso que fizeste sair tuas servas.
22
Suzana exclamou tristemente: Que angústias me envolvem por todos os lados! Consentir? Eu seria condenada à morte! Recusar? Nem assim eu escaparia de vossas mãos!
23
Não! Prefiro cair, sem culpa alguma, em vossas mãos, do que pecar contra o Senhor.
24
Suzana soltou grandes gritos, e os dois anciãos gritavam também contra ela.
25
E um deles, correndo às portas do jardim, abriu-as.
26
Com essa balbúrdia, os criados precipitaram-se pela porta do fundo para ver o que havia acontecido.
27
Os anciãos se puseram a falar, e os criados enrubesceram, pois jamais nada de semelhante fora dito de Suzana.
28
No dia seguinte, os dois anciãos, cheios de criminosas intenções contra a vida de Suzana, vieram à reunião que se realizava em casa de Joaquim, marido dela.
29
Disseram, diante da assembléia: Mandem buscar Suzana, filha de Helcias, a mulher de Joaquim! Foram-na buscar,
30
e ela chegou com seus pais, seus filhos e os membros de sua família.


31 Era delicada e bela de rosto.
32
Aqueles homens perversos exigiam que ela retirasse seu véu - pois estava velada -, a fim de poderem (pelo menos) fartar-se de sua beleza.


33 Os seus choravam, assim como seus amigos.
34
Os dois anciãos levantaram-se à vista de todos, e pousaram a mão sobre sua cabeça,
35
enquanto ela, debulhada em lágrimas, mas com o coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu.
36
Os anciãos disseram então: Quando passeávamos pelo jardim, ela entrou com duas servas; depois fechou a porta e mandou embora suas acompanhantes.
37
Então, um jovem que se achava escondido ali, aproximou-se e pecou com ela.
38
Nós nos encontrávamos num recanto do jardim. Diante de tal desvergonhamento, corremos para eles e os surpreendemos em flagrante delito.
39
Não pudemos agarrar o homem, porque era mais forte do que nós, e fugiu pela porta aberta.
40
Ela, nós a apanhamos; mas quando a interrogamos para saber quem era o jovem, recusou-se a responder. Somos testemunhas do fato.


41 Confiando nesses homens, que eram anciãos e juízes do povo, condenaram Suzana à morte.
42
Então ela exclamou bem alto: Deus eterno, vós que penetrais os segredos, que conheceis os acontecimentos antes que aconteçam,
43
sabeis que isso é um falso testemunho que levantaram contra mim. Vou morrer, sem nada ter feito do que maldosamente inventaram de mim.
44
Deus ouviu sua oração.
45
Como a levassem para a morte, o Senhor suscitou o espírito íntegro de um adolescente chamado Daniel,
46
que proclamou com vigor: Sou inocente da morte dessa mulher!
47
Todo mundo virou-se para ele: O que significa isso?, perguntaram-lhe.
48
Então, no meio de um círculo que se formava, disse: Israelitas, estais loucos! Eis que condenais uma israelita sem interrogatório, sem conhecer a verdade!
49
Recomeçai o julgamento, porque é um falso testemunho a declaração desses dois homens contra ela.
50
O povo apressou-se em voltar. Os anciãos disseram a Daniel: Vem sentar conosco e esclarece-nos, pois Deus te deu o privilégio da velhice!
51
Separai-os um do outro, exclamou Daniel, e eu os julgarei. Foram separados.
52
Então Daniel chamou o primeiro e disse-lhe: Velho perverso! Eis que agora aparecem os pecados que cometeste outrora em julgamentos injustos,
53
condenando os inocentes e absolvendo os culpados; no entanto, é Deus quem diz: não farás morrer o inocente e o íntegro.
54
Vamos! Se realmente a viste, dize-nos debaixo de qual árvore os viste juntos. -"Debaixo de um lentisco", respondeu.
55
"Ótimo!, continuou Daniel, eis a mentira, que pagarás com tua cabeça. Eis aqui o anjo do Senhor que, segundo a sentença divina, vai dividir teu corpo pelo meio".
56
Afastaram o homem. Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: Filho de Canaã! Tu não és judeu: foi a beleza que te seduziu, e a concupiscência que te perverteu.
57
Foi assim que sempre fizeste com as filhas de Israel, as quais, por medo, entravam em relação convosco. Mas eis uma filha de Judá que não consentiu no vosso crime.
58
Vamos, dize-me sob qual árvore os surpreendeste em intimidade. Sob um carvalho.
59
Ótimo!, respondeu Daniel, tu também proferiste uma mentira que vai te custar a vida. Eis aqui o anjo do Senhor, que empunha a espada, prestes a serrar-te pelo meio para te fazer perecer.
60
Logo a assembléia se pôs a clamar ruidosamente e a bendizer a Deus por salvar aqueles que nele põem sua esperança.
61
Toda a multidão revoltou-se então contra os dois anciãos os quais, por suas próprias declarações, Daniel provou terem dado falso testemunho.
62
De acordo com a lei de Moisés, aplicaram o tratamento que tinham querido infligir ao seu próximo: foram mortos. Assim, naquele dia, foi poupada uma vida inocente.


63 Helcias e sua mulher louvaram a Deus por sua filha Suzana, com Joaquim, seu marido, e todos os seus parentes, pois nada de desonesto havia sido encontrado em seu proceder.
64
E Daniel gozou, desde então, de uma alta consideração entre seus concidadãos.

História de Bel

65 Tendo-se reunido o rei Astíages a seus antepassados, Ciro, o persa, subiu ao trono.


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Daniel (BAV) 6