Proverbs (BAV) 1





Livro dos Provérbios



1 1 Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel,
2
para conhecer a sabedoria e a instrução, para compreender as palavras sensatas,
3
para adquirir as lições do bom senso, da justiça, da eqüidade e da retidão;
4
para dar aos simples o discernimento, ao adolescente a ciência e a reflexão.
5
Que o sábio escute, e aumentará seu saber, e o homem inteligente adquirirá prudência
6
para compreender os provérbios, as alegorias, as máximas dos sábios e seus enigmas.
7
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução.

I - EXORTAÇÃO DO SÁBIO EDUCADOR (1,8-9)

Primeira exortação: fugir da companhia dos maus

8 Ouve, meu filho, a instrução de teu pai: não desprezes o ensinamento de tua mãe.
9
Isto será, pois, um diadema de graça para tua cabeça e um colar para teu pescoço.
10
Meu filho, se pecadores te quiserem seduzir, não consintas;
11
se te disserem: Vem conosco, faremos emboscadas, para (derramar) sangue, armaremos ciladas ao inocente, sem motivo,
12
como a região dos mortos devoremo-lo vivo, inteiro, como aquele que desce à cova.
13
Nós acharemos toda a sorte de coisas preciosas, nós encheremos nossas casas de despojos.
14
Tu desfrutarás tua parte conosco, uma só será a bolsa comum de todos nós!
15
Oh, não andes com eles, afasta teus passos de suas sendas,
16
porque seus passos se dirigem para o mal, e se apressam a derramar sangue.
17
Debalde se lança a rede diante daquele que tem asas.
18
Eles mesmos armam emboscadas contra seu próprio sangue e se enganam a si mesmos.
19
Tal é a sorte de todo homem ávido de riqueza: arrebata a vida àquele que a detém.

Entra en cena a Sabedoria personificada

20 A Sabedoria clama nas ruas, eleva sua voz na praça,
21
clama nas esquinas da encruzilhada, à entrada das portas da cidade ela faz ouvir sua voz: e até quando os que zombam se comprazerão na zombaria?
22
Até quando, insensatos, amareis a tolice, e os tolos odiarão a ciência?
23
Convertei-vos às minhas admoestações, espalharei sobre vós o meu espírito, ensinar-vos-ei minhas palavras.
24
Uma vez que recusastes o meu chamado e ninguém prestou atenção quando estendi a mão,
25
uma vez que negligenciastes todos os meus conselhos e não destes ouvidos às minhas admoestações,
26
também eu me rirei do vosso infortúnio e zombarei, quando vos sobrevier um terror,
27
quando vier sobre vós um pânico, como furacão; quando se abater sobre vós a calamidade, como a tempestade; e quando caírem sobre vós tribulação e angústia.
28
Então me chamarão, mas não responderei; procurar-me-ão, mas não atenderei.
29
Porque detestam a ciência sem lhe antepor o temor do Senhor,
30
porque repelem meus conselhos com desprezo às minhas exortações;
31
comerão do fruto dos seus erros e se saciarão com seus planos,
32
porque a apostasia dos tolos os mata e o desleixo dos insensatos os perde.
33
Aquele que me escuta, porém, habitará com segurança, viverá tranqüilo, sem recear dano algum.

Segunda exortação: utilidade da sabedoria

2 1 Meu filho, se acolheres minhas palavras e guardares com carinho meus preceitos,
2
ouvindo com atenção a sabedoria e inclinando teu coração para o entendimento;
3
se tu apelares à penetração, se invocares a inteligência,
4
buscando-a como se procura a prata; se a pesquisares como um tesouro,
5
então compreenderás o temor do Senhor, e descobrirás o conhecimento de Deus,
6
porque o Senhor é quem dá a sabedoria, e de sua boca é que procedem a ciência e a prudência.
7
Ele reserva para os retos a salvação e é um escudo para os que caminham com integridade;
8
protege as sendas da retidão e guarda o caminho de seus fiéis.
9
Então compreenderás a justiça e a eqüidade, a retidão e todos os caminhos que conduzem ao bem.


10 Quando a sabedoria penetrar em teu coração e o saber deleitar a tua alma,
11
a reflexão velará sobre ti, amparar-te-á a razão,
12
para preservar-te do mau caminho, do homem de conversas tortuosas
13
que abandona o caminho reto para percorrer caminhos tenebrosos;
14
que se compraz em praticar o mal e se alegra com a maldade;
15
do homem cujos caminhos são tortuosos e os trilhos sinuosos.
16
Ela te preservará da mulher alheia, da estranha que emprega palavras lisonjeiras,
17
que abandona o esposo de sua juventude e se esquece da aliança de seu Deus.
18
Sua casa declina para a morte, seu caminho leva aos lugares sombrios;
19
não retornam os que a buscam, nem encontram as veredas da vida.
20
Assim tu caminharás pela estrada dos bons e seguirás as pegadas dos justos,
21
porque os homens retos habitarão a terra, e os homens íntegros nela permanecerão,
22
enquanto os maus serão arrancados da terra e os pérfidos dela serão exterminados.

Terceira exortação: a prática da sabedoria

3 1 Meu filho, não te esqueças de meu ensinamento e guarda meus preceitos em teu coração
2
porque, com longos dias e anos de vida, assegurar-te-ão eles a felicidade.
3
Oxalá a bondade e a fidelidade não se afastem de ti! Ata-as ao teu pescoço, grava-as em teu coração!
4
Assim obterás graça e reputação aos olhos de Deus e dos homens.
5
Que teu coração deposite toda a sua confiança no Senhor! Não te firmes em tua própria sabedoria!
6
Sejam quais forem os teus caminhos, pensa nele, e ele aplainará tuas sendas.
7
Não sejas sábio aos teus próprios olhos, teme o Senhor e afasta-te do mal.
8
Isto será saúde para teu corpo e refrigério para teus ossos.
9
Honra o Senhor com teus haveres, e com as primícias de todas as tuas colheitas.
10
Então, teus celeiros se abarrotarão de trigo e teus lagares transbordarão de vinho.
11
Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que ele te repreenda,
12
porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima.
13
Feliz do homem que encontrou a sabedoria, daquele que adquiriu a inteligência,
14
porque mais vale este lucro que o da prata, e o fruto que se obtém é melhor que o fino ouro.
15
Ela é mais preciosa que as pérolas, jóia alguma a pode igualar.
16
Na mão direita ela sustenta uma longa vida; na esquerda, riqueza e glória.
17
Seus caminhos estão semeados de delícias. Suas veredas são pacíficas.
18
É uma árvore de vida para aqueles que lançarem mãos dela. Quem a ela se apega é um homem feliz.
19
Foi pela sabedoria que o Senhor criou a terra, foi com inteligência que ele formou os céus.
20
Foi pela ciência que se fenderam os abismos, por ela as nuvens destilam o orvalho.

Quarta exortação: sabedoria e caridade

21 Meu filho, guarda a sabedoria e a reflexão, não as percas de vista.
22
Elas serão a vida de tua alma e um adorno para teu pescoço.
23
Então caminharás com segurança, sem que o teu pé tropece.
24
Se te deitares, não terás medo. Uma vez deitado, teu sono será doce.
25
Não terás a recear nem terrores repentinos, nem a tempestade que cai sobre os ímpios,
26
porque o Senhor é tua segurança e preservará teu pé de toda cilada.


27 Não negues um benefício a quem o solicita, quando está em teu poder conceder-lho.
28
Não digas ao teu próximo: Vai, volta depois! Eu te darei amanhã, quando dispões de meios.
29
Não maquines o mal contra teu vizinho, quando ele habita com toda a confiança perto de ti.
30
Não litigues com alguém sem ter motivo, se esse alguém não te fez mal algum.
31
Não invejes o homem violento, nem adotes o seu procedimento,
32
porque o Senhor detesta o que procede mal, mas reserva sua intimidade para os homens retos.
33
Sobre a casa do ímpio pesa a maldição divina, a bênção do Senhor repousa sobre a habitação do justo.
34
Se ele escarnece dos zombadores, concede a graça aos humildes.


35 A glória será o prêmio do sábio, a ignomínia será a herança dos insensatos.

Quinta exortação: vantagens da sabedoria

4 1 Ouvi, filhos meus, a instrução de um pai; sede atentos, para adquirir a inteligência,
2
porque é sã a doutrina que eu vos dou; não abandoneis o meu ensino.
3
Fui um (verdadeiro) filho para meu pai, terno e amado junto de minha mãe.
4
Deu-me ele este conselho: Que teu coração retenha minhas palavras; guarda meus preceitos e viverás.
5
Adquire sabedoria, adquire perspicácia, não te esqueças de nada, não te desvies de meus conselhos.
6
Não abandones a sabedoria, ela te guardará; ama-a, ela te protegerá.


7 Eis o princípio da sabedoria: adquire a sabedoria. Adquire a inteligência em troca de tudo o que possuis.
8
Tem-na em grande estima, ela te exaltará, glorificar-te-á quando a abraçares,
9
colocará sobre tua fronte uma graciosa coroa, outorgar-te-á um magnífico diadema.
10
Ouve, meu filho, recebe minhas palavras e se multiplicarão os anos de tua vida.
11
É o caminho da sabedoria que te mostro, é pela senda da retidão que eu te guiarei.
12
Se nela caminhares, teus passos não serão dificultosos; se correres, não tropeçarás.
13
Aferra-te à instrução, não a soltes, guarda-a, porque ela é tua vida.


14 Na estrada dos ímpios não te embrenhes, não sigas pelo caminho dos maus.
15
Evita-o, não passes por ele, desvia-te e toma outro,
16
Porque eles não dormiriam sem antes haverem praticado o mal, não conciliariam o sono se não tivessem feito cair alguém,
17
tanto mais que a maldade é o pão que comem e a violência, o vinho que bebem.
18
Mas a vereda dos justos é como a aurora, cujo brilho cresce até o dia pleno.
19
A estrada dos iníquos é tenebrosa, não percebem aquilo em que hão de tropeçar.
20
Meu filho, ouve as minhas palavras, inclina teu ouvido aos meus discursos.
21
Que eles não se afastem dos teus olhos, conserva-os no íntimo do teu coração,
22
pois são vida para aqueles que os encontram, saúde para todo corpo.
23
Guarda teu coração acima de todas as outras coisas, porque dele brotam todas as fontes da vida.
24
Preserva tua boca da malignidade, longe de teus lábios a falsidade!
25
Que teus olhos vejam de frente e que tua vista perceba o que há diante de ti!
26
Examina o caminho onde colocas os pés e que sejam sempre retos!
27
Não te desvies nem para a direita nem para a esquerda, e retira teu pé do mal.

Sexta exortação: fugir da mulher leviana

5 1 Meu filho, atende à minha sabedoria, presta atenção à minha razão,
2
a fim de conservares o sentido das coisas e guardares a ciência em teus lábios.
3
Porque os lábios da mulher alheia destilam o mel; seu paladar é mais oleoso que o azeite.
4
No fim, porém, é amarga como o absinto, aguda como a espada de dois gumes.
5
Seus pés se encaminham para a morte, seus passos atingem a região dos mortos.
6
Longe de andarem pela vereda da vida, seus passos se extraviam, sem saber para onde.
7
Escutai-me, pois, meus filhos, não vos aparteis das palavras de minha boca.
8
Afasta dela teu caminho, não te aproximes da porta de sua casa,
9
para que não seja entregue a outros tua fortuna e tua vida a um homem cruel;
10
para que estranhos não se fartem de teus haveres e o fruto de teu trabalho não passe para a casa alheia;
11
para que não gemas no fim, quando forem consumidas tuas carnes e teu corpo
12
e tiveres que dizer: Por que odiei a disciplina, e meu coração desdenhou a correção?
13
Por que não ouvi a voz de meus mestres, nem dei ouvido aos meus educadores?
14
Por pouco eu chegaria ao cúmulo da desgraça no meio da assembléia do povo.
15
Bebe a água do teu poço e das correntes de tua cisterna.
16
Derramar-se-ão tuas fontes por fora e teus arroios nas ruas?
17
Sejam eles para ti só, sem que os estranhos neles tomem parte.
18
Seja bendita a tua fonte! Regozija-te com a mulher de tua juventude,
19
corça de amor, serva encantadora. Que sejas sempre embriagado com seus encantos e que seus amores te embriaguem sem cessar!
20
Por que hás de te enamorar de uma alheia e abraçar o seio de uma estranha?
21
Pois o Senhor olha os caminhos dos homens e observa todas as suas veredas.
22
O homem será preso por suas próprias faltas e ligado com as cadeias de seu pecado.
23
Perecerá por falta de correção e se desviará pelo excesso de sua loucura.

Máximas diversas

6 1 Meu filho, se ficaste por fiador do teu próximo, se estendeste a mão a um estranho,
2
se te ligaste com as palavras de teus lábios, se ficaste cativo com a tua própria linguagem,
3
faze, pois, meu filho, o que te digo: livra-te, pois caíste nas mãos do teu próximo; vai, apressa-te, solicita-o com instância,
4
não concedas sono aos teus olhos, nem repouso às tuas pálpebras.
5
Salva-te como a gazela , e como o pássaro das mãos do que arma laços.
6
Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga, observa seu proceder e torna-te sábio:
7
ela não tem chefe, nem inspetor, nem mestre;
8
prepara no verão sua provisão, apanha no tempo da ceifa sua comida.
9
Até quando, ó preguiçoso, dormirás? Quando te levantarás de teu sono?
10
Um pouco para dormir, outro pouco para dormitar, outro pouco para cruzar as mãos no seu leito,
11
e a indigência virá sobre ti como um ladrão; a pobreza, como um homem armado.
12
É um homem perverso, um iníquo aquele que caminha com falsidade na boca;
13
pisca os olhos, bate com o pé, faz sinais com os dedos;
14
só há perversidade em seu coração, não cessa de maquinar o mal, e de semear questões.
15
Por isso, repentinamente, virá sua ruína, de improviso ficará irremediavelmente quebrantado.
16
Seis coisas há que o Senhor odeia e uma sétima que lhe é uma abominação:
17
olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente,
18
um coração que maquina projetos perversos, pés pressurosos em correr ao mal,
19
um falso testemunho que profere mentiras e aquele que semeia discórdias entre irmãos.

Continuação da sexta exortação

20 Guarda, filho meu, os preceitos de teu pai, não desprezes o ensinamento de tua mãe.
21
Traze-os constantemente ligados ao teu coração e presos ao teu pescoço.
22
Servir-te-ão de guia ao caminhares, de guarda ao dormires e falarão contigo ao despertares,
23
porque o preceito é uma tocha, o ensinamento é uma luz, a correção e a disciplina são o caminho da vida,
24
para te preservar da mulher corrupta e da língua lisonjeira da estranha.
25
Não cobices sua formosura em teu coração, não te deixes prender por seus olhares;
26
por uma meretriz o homem se reduz a um pedaço de pão, e a mulher adúltera arrebata a vida preciosa do homem.
27
Porventura pode alguém esconder fogo em seu seio sem que suas vestes se inflamem?
28
Pode caminhar sobre brasas sem que seus pés se queimem?
29
Assim o que vai para junto da mulher do seu próximo não ficará impune depois de a tocar.
30
Não se despreza o ladrão que furta para satisfazer seu apetite, quando tem fome;
31
se for preso, restituirá sete vezes mais e entregará todos os bens de sua casa.
32
Quem comete adultério carece de senso, é por sua própria culpa que um homem assim procede.
33
Só encontrará infâmia e ignomínia e seu opróbrio não se apagará,
34
porque o marido, furioso e ciumento, não perdoará no dia da vingança,
35
não se aplacará por resgate algum, nem aceitará nada, se multiplicares os presentes.


7 1 Meu filho, guarda minhas palavras, conserva contigo meus preceitos. Observa meus mandamentos e viverás.
2
Guarda meus ensinamentos como a pupila de teus olhos.
3
Traze-os ligados aos teus dedos, grava-os em teu coração.
4
Dize à sabedoria: Tu és minha irmã, e chama a inteligência minha amiga,
5
para que elas te guardem da mulher alheia, da estranha que tem palavras lúbricas.
6
Estava eu atrás da janela de minha casa, olhava por entre as grades.
7
Vi entre os imprudentes, entre os jovens, um adolescente incauto:
8
passava ele na rua perto da morada de uma destas mulheres e entrava na casa dela.
9
Era ao anoitecer, na hora em que surge a obscuridade da noite.
10
Eis que uma mulher sai-lhe ao encontro, ornada como uma prostituta e o coração dissimulado.
11
Inquieta e impaciente, seus pés não podem parar em casa;
12
umas vezes na rua, outras na praça, em todos os cantos ela está de emboscada.
13
Abraça o jovem e o beija, e com um semblante descarado diz-lhe:
14
Tinha que oferecer sacrifícios pacíficos, hoje cumpri meu voto.
15
Por isso saí ao teu encontro para te procurar! E achei-te!
16
Ornei minha cama com tapetes, com estofos recamados de rendas do Egito.
17
Perfumei meu leito com mirra, com aloés e cinamomo.
18
Vem! Embriaguemo-nos de amor até o amanhecer, desfrutemos as delícias da voluptuosidade;
19
pois o marido não está em casa: partiu para uma longa viagem,
20
levou consigo uma bolsa cheia de dinheiro e só voltará lá pela lua cheia.
21
Seduziu-o à força de palavras e arrastou-o com as lisonjas de seus lábios.
22
Põe-se ele logo a segui-la, como um boi que é levado ao matadouro, como um cervo que se lança nas redes,
23
até que uma flecha lhe traspassa o fígado, como o pássaro que se precipita para o laço sem saber que se trata dum perigo para sua vida.
24
E agora, meus filhos, ouvi-me, prestai atenção às minhas palavras.
25
Que vosso coração não se deixe arrastar para seguir essa mulher, nem vos extravieis em suas veredas,
26
porque numerosos são os feridos por ela e considerável é a multidão de suas vítimas.
27
Sua casa é o caminho da região dos mortos, que conduz às entranhas da morte.

Segunda intervenção da Sabedoria

8 1 Por ventura não clama a Sabedoria e a inteligência não eleva a sua voz?
2
No cume das montanhas posta-se ela, e nas encruzilhadas dos caminhos.
3
Alça sua voz na entrada das torres, junto às portas, nas proximidades da cidade.
4
É a vós, ó homens, que eu apelo; minha voz se dirige aos filhos dos homens.
5
Ó simples, aprendei a prudência, adquiri a inteligência, ó insensatos.
6
Prestai atenção, pois! Coisas magníficas vos anuncio, de meus lábios só sairá retidão,
7
porque minha boca proclama a verdade e meus lábios detestam a iniqüidade.
8
Todas as palavras de minha boca são justas, nelas nada há de falso nem de tortuoso.
9
São claras para os que as entendem e retas para o que chegou à ciência.
10
Recebei a instrução e não o dinheiro. Preferi a ciência ao fino ouro,
11
pois a Sabedoria vale mais que as pérolas e jóia alguma a pode igualar.
12
Eu, a Sabedoria, sou amiga da prudência, possuo uma ciência profunda.
13
O temor do Senhor é o ódio ao mal. Orgulho, arrogância, caminho perverso, boca mentirosa: eis o que eu detesto.
14
Meu é o conselho e o bom êxito, minha a inteligência, minha a força.
15
Por mim reinam os reis e os legisladores decretam a justiça;
16
por mim governam os magistrados e os magnatas regem a terra.


17 Amo os que me amam. Quem me procura, encontra-me.
18
Comigo estão a riqueza e a glória, os bens duráveis e a justiça.
19
Mais precioso que o mais fino ouro é o meu fruto, meu produto tem mais valor que a mais fina prata.
20
Sigo o caminho da justiça, no meio da senda da eqüidade.
21
Deixo os meus haveres para os que me amam e acumulo seus tesouros.


22 O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra.
23
Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos.
24
Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado.
25
Antes que assentados fossem os montes, antes dos outeiros, fui dada à luz;
26
antes que fossem feitos a terra e os campos e os primeiros elementos da poeira do mundo.
27
Quando ele preparava os céus, ali estava eu; quando traçou o horizonte na superfície do abismo,
28
quando firmou as nuvens no alto, quando dominou as fontes do abismo,
29
quando impôs regras ao mar, para que suas águas não transpusessem os limites, quando assentou os fundamentos da terra,
30
junto a ele estava eu como artífice, brincando todo o tempo diante dele,
31
brincando sobre o globo de sua terra, achando as minhas delícias junto aos filhos dos homens.


32 E agora, meus filhos, escutai-me: felizes aqueles que guardam os meus caminhos.
33
Ouvi minha instrução para serdes sábios, não a rejeiteis.


34 Feliz o homem que me ouve e que vela todos os dias à minha porta e guarda os umbrais de minha casa!
35
Pois quem me acha encontra a vida e alcança o favor do Senhor.


36 Mas quem me ofende, prejudica-se a si mesmo; quem me odeia, ama a morte.

Banquete da Sabedoria e banquete da loucura

9 1 A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas.
2
Matou seus animais, preparou seu vinho e dispôs a mesa.
3
Enviou servas, para que anunciassem nos pontos mais elevados da cidade:
4
Quem for simples apresente-se! Aos insensatos ela disse:
5
Vinde comer o meu pão e beber o vinho que preparei.
6
Deixai a insensatez e vivereis; andai direito no caminho da inteligência!


7 Quem censura um mofador, atrai sobre si a zombaria; o que repreende o ímpio, arrisca-se a uma afronta.
8
Não repreendas o mofador, pois ele te odiará. Repreende o sábio e ele te amará.
9
Dá ao sábio: tornar-se-á ele mais sábio ainda, ensina ao justo e seu saber aumentará.
10
O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria, e o conhecimento do Santo é a inteligência,
11
porque por mim se multiplicarão teus dias e ser-te-ão acrescentados anos de vida.
12
Se tu és sábio, é para teu bem que o és, mas se tu és um mofador, só tu sofrerás as conseqüências.
13
A senhora Loucura é irrequieta, uma tola que não sabe nada.
14
Ela se assenta à porta de sua casa, numa cadeira, nos pontos mais altos da cidade,
15
para convidar os viandantes que seguem direito seu caminho.
16
Quem for simples venha para cá! Aos insensatos, ela diz:
17
As águas furtivas são mais doces e o pão tomado às escondidas é mais delicioso.
18
Ignora ele que ali há sombras e que os convidados jazem nas profundezas da região dos mortos.

II - PROVÉRBIOS DE SALOMÃO (10-22,16)

Primeira compilação dos provérbios de Salomão

10 1 O filho sábio é a alegria de seu pai; o insensato, porém, a aflição de sua mãe.
2
Tesouros mal adquiridos de nada servem, mas a justiça livra da morte.
3
O Senhor não deixa o justo passar fome, mas repele a cobiça do ímpio.
4
A mão preguiçosa causa a indigência; a mão diligente se enriquece.
5
Quem recolhe no verão é um filho prudente; quem dorme na ceifa merece a vergonha.
6
As bênçãos descansam sobre a cabeça do justo, mas a boca dos maus oculta a injustiça.
7
A memória do justo alcança as bênçãos; o nome dos ímpios apodrecerá.
8
O sábio de coração recebe os preceitos, mas o insensato caminha para a ruína.
9
Quem anda na integridade caminha com segurança, mas quem emprega astúcias será descoberto.
10
Quem pisca os olhos traz desgosto, mas o que repreende com franqueza procura a paz.
11
A boca do justo é uma fonte de vida; a do ímpio, porém, esconde injustiça.
12
O ódio desperta rixas; a caridade, porém, supre todas as faltas.
13
Nos lábios do sábio encontra-se a sabedoria; no dorso do insensato a correção.
14
Os sábios entesouram a sabedoria, mas a boca do tolo é uma desgraça sempre ameaçadora.
15
A fortuna do rico é a sua cidade forte; a pobreza dos indigentes ocasiona-lhes ruína.
16
O salário do justo é para a vida; o fruto do ímpio produz o pecado.
17
O que observa a disciplina está no caminho da vida; anda errado o que esquece a repressão.
18
Quem dissimula o ódio é um mistificador; um insensato o que profere calúnias.
19
Não pode faltar o pecado num caudal de palavras; quem modera os lábios é um homem prudente.
20
A língua do justo é prata finíssima; o coração dos maus, porém, para nada serve.
21
Os lábios dos justos nutrem a muitos; mas os néscios perecem por falta de inteligência.
22
É a bênção do Senhor que enriquece; o labor nada acrescenta a ela.
23
É um divertimento para o ímpio praticar o mal; e para o sensato, ser sábio.
24
O que receia o mal, este cai sobre ele. O desejo do justo lhe é concedido.
25
Quando passa a tormenta, desaparece o perverso, mas o justo descansa sobre fundamentos duráveis.
26
Como o vinagre nos dentes e a fumaça nos olhos, assim é o preguiçoso para os que o mandam.
27
O temor do Senhor prolonga os dias, mas os anos dos ímpios serão abreviados.
28
A expectativa dos justos causa alegria; a esperança dos ímpios, porém, perecerá.
29
Para o homem íntegro o Senhor é uma fortaleza, mas é a ruína dos que fazem o mal.
30
Jamais o justo será abalado, mas os ímpios não habitarão a terra.
31
A boca do justo produz sabedoria, mas a língua perversa será arrancada.
32
Os lábios do justo sabem dizer o que é agradável; a boca dos maus, o que é mal.


11 1 A balança fraudulenta é abominada pelo Senhor, mas o peso justo lhe é agradável.
2
Vindo o orgulho, virá também a ignomínia, mas a sabedoria mora com os humildes.
3
A integridade dos justos serve-lhes de guia; mas a perversidade dos pérfidos arrasta-os à ruína.
4
No dia da cólera a riqueza não terá proveito, mas a justiça salva da morte.
5
A justiça do homem íntegro aplana-lhe o caminho, mas o ímpio se abisma em sua própria impiedade.
6
A justiça dos retos os salva, mas em sua própria cobiça os pérfidos se prendem.
7
Morto o ímpio, desaparece sua esperança, a esperança dos iníquos perecerá.
8
O justo livra-se da angústia; em seu lugar cai o malvado.
9
Com os lábios, o hipócrita arruína o seu próximo, mas os justos serão salvos pela ciência.
10
Com a felicidade dos justos, exulta a cidade; com a perdição dos ímpios solta brados de alegria.
11
Uma cidade prospera pela bênção dos justos, mas é destruída pelas palavras dos maus.
12
Quem despreza seu próximo demonstra falta de senso; o homem sábio guarda silêncio.
13
O perverso trai os segredos, enquanto um coração leal os mantém ocultos.
14
Por falta de direção cai um povo; onde há muitos conselheiros, ali haverá salvação.
15
Quem fica por fiador de um estranho cairá na desventura; o que evita os laços viverá tranqüilo.
16
Uma mulher graciosa obtém honras, mas os laboriosos alcançam fortuna.
17
O homem liberal faz bem a si próprio, mas o cruel prejudica a sua própria carne.
18
O ímpio obtém um lucro falaz, mas o que semeia justiça receberá uma recompensa certa.
19
Quem pratica a justiça o faz para a vida, mas quem segue o mal corre para a morte.
20
Os homens de coração perverso são odiosos ao Senhor; os de conduta íntegra são objeto de seus favores.
21
Na verdade, o iníquo não ficará impune, mas a posteridade dos justos será salva.
22
Um anel de ouro no focinho de um porco: tal é a mulher formosa e insensata.
23
O desejo dos justos é unicamente o bem; o que espera os ímpios é a cólera.
24
Há quem dá com liberalidade e obtém mais. Outros poupam demais e vivem na indigência.
25
A alma generosa será cumulada de bens; e o que largamente dá, largamente receberá.
26
O povo amaldiçoa o que esconde o trigo, mas a bênção virá sobre a cabeça dos que o vendem.
27
Quem investiga o bem busca o favor; o que busca o mal será por ele oprimido.
28
Quem confia em sua riqueza cairá, enquanto os justos reverdecerão como a folhagem.
29
O que perturba sua casa herda o vento, e o néscio será escravo do sábio.
30
O fruto do justo é uma árvore de vida; o que conquista as almas é sábio.
31
Se o justo recebe na terra sua recompensa, quanto mais o perverso e o pecador!


12 1 Aquele que ama a correção ama a ciência, mas o que detesta a reprimenda é um insensato.
2
O homem de bem alcança a benevolência do Senhor; o Senhor condena o homem que premedita o mal.
3
Não se firma o homem pela impiedade, mas a raiz dos justos não será abalada.
4
Uma mulher virtuosa é a coroa de seu marido, mas a insolente é como a cárie nos seus ossos.
5
Os pensamentos dos justos são cheios de retidão; as tramas dos perversos são cheias de dolo.
6
As palavras dos ímpios são ciladas mortíferas, enquanto a boca dos justos os salva.
7
Transtornados, os ímpios não subsistirão, mas a casa dos justos permanecerá firme.
8
Avalia-se um homem segundo a sua inteligência, mas o perverso de coração incorrerá em desprezo.
9
Mais vale um homem humilde, que tem um servo, que o jactancioso, que não tem o que comer.
10
O justo cuida das necessidades do seu gado, mas cruéis são as entranhas do ímpio.
11
Quem cultiva sua terra será saciado de pão; quem procura as futilidades é um insensato.
12
O ímpio cobiça o laço do perverso, mas a raiz do justo produz fruto.
13
No pecado dos lábios há uma cilada funesta, mas o justo livra-se da angústia.
14
O homem se farta com o fruto de sua boca; cada qual recebe a recompensa da obra de suas mãos.
15
Ao insensato parece reto seu caminho, enquanto o sábio ouve os conselhos.
16
O louco mostra logo a sua irritação; o circunspecto dissimula o ultraje.
17
O homem sincero anuncia a justiça; a testemunha falsa profere mentira.
18
O falador fere com golpes de espada; a língua dos sábios, porém, cura.
19
Os lábios sinceros permanecem sempre constantes; a língua mentirosa dura como um abrir e fechar de olhos.
20
No coração dos que tramam males há engano; a alegria está naqueles que dão conselhos de paz.
21
Ao justo nenhum mal pode abater, mas os maus enchem-se de tristezas.
22
Os lábios mentirosos são abominação para o Senhor, mas os que procedem com fidelidade agradam-lhe.
23
O homem prudente oculta sua sabedoria; o coração dos insensatos proclama sua própria loucura.
24
A mão diligente dominará; a mão preguiçosa torna-se tributária.
25
A aflição no coração do homem o deprime; uma boa palavra restitui-lhe a alegria.
26
O justo guia seu companheiro, mas o caminho dos ímpios os perde.
27
O indolente não assa o que caçou; um homem diligente, porém, é um tesouro valioso.
28
A vida está na vereda da justiça; o caminho do ódio, porém, conduz à morte.


13 1 Um filho sábio ama a disciplina, mas o incorrigível não aceita repreensões.
2
O homem de bem goza do fruto de sua boca, mas o desejo dos pérfidos é a violência.
3
Quem vigia sua boca guarda sua vida; quem muito abre seus lábios se perde.
4
O preguiçoso cobiça, mas nada obtém. É o desejo dos homens diligentes que é satisfeito.
5
O justo detesta a mentira; o ímpio só faz coisas vergonhosas e ignominiosas.
6
A justiça protege o que caminha na integridade, mas a maldade arruína o pecador.
7
Há quem parece rico, não tendo nada, há quem se faz de pobre e possui copiosas riquezas.
8
A riqueza de um homem é o resgate de sua vida, mas o pobre está livre de ameaças.
9
A luz do justo ilumina, enquanto a lâmpada dos maus se extingue.
10
O orgulho só causa disputas; a sabedoria se acha com os que procuram aconselhar-se.
11
Os bens que muito depressa se ajuntam se desvanecem; os acumulados pouco a pouco aumentam.
12
Esperança retardada faz adoecer o coração; o desejo realizado, porém, é uma árvore de vida.
13
Quem menospreza a palavra perder-se-á; quem respeita o preceito será recompensado.
14
O ensinamento do sábio é uma fonte de vida para libertar-se dos laços da morte.
15
Bom entendimento procura favor; o caminho dos pérfidos, porém, é escabroso.
16
Todo homem prudente age com discernimento, mas o insensato põe em evidência sua loucura.
17
Um mau mensageiro provoca a desgraça; o enviado fiel, porém, traz a saúde.
18
Miséria e vergonha a quem recusa a disciplina; honra ao que aceita a reprimenda.
19
O desejo cumprido deleita a alma. Os insensatos detestam os que fogem do mal.
20
Quem visita os sábios torna-se sábio; quem se faz amigo dos insensatos perde-se.
21
A desgraça persegue os pecadores; a felicidade é a recompensa dos justos.
22
O homem de bem deixa sua herança para os filhos de seus filhos; ao justo foi reservada a fortuna do pecador.
23
É abundante em alimento um campo preparado pelo pobre, mas há quem pereça por falta de justiça.
24
Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa.
25
O justo come até se saciar, mas o ventre dos pérfidos conhece a penúria.


14 1 A senhora Sabedoria edifica sua casa; a senhora Loucura destrói a sua com as próprias mãos.
2
Quem caminha direito teme o Senhor; o que anda desviado o despreza.
3
A boca do néscio encerra a vara para seu orgulho, mas os lábios do sábio são uma proteção para si mesmo.
4
Onde não há bois, a manjedoura está vazia; a abundância da colheita provém da força do gado.
5
A testemunha fiel não mente; a testemunha falsa profere falsidades.
6
O mofador busca a sabedoria, mas em vão; ao homem entendido a ciência é fácil.
7
Afasta-te da presença do tolo: em seus lábios não encontrarás palavras sábias.
8
A sabedoria do prudente está no cuidar do seu procedimento; a loucura dos insensatos consiste na fraude.
9
O insensato zomba do pecado; a benevolência (de Deus) é para os homens retos.
10
O coração conhece suas próprias amarguras; o estranho não pode partilhar de sua alegria.
11
A habitação dos pérfidos será destruída, mas a tenda dos justos florescerá.
12
Há caminho que parece reto ao homem; seu fim, porém, é o caminho da morte.
13
Mesmo no sorrir, o coração pode estar triste; a alegria pode findar na aflição.
14
O extraviado será saciado com seus próprios erros; o homem de bem, com seus atos.
15
O ingênuo acredita em tudo o que se diz; o prudente vigia seus passos.
16
O sábio teme o mal e dele se aparta, mas o insensato que se eleva dá-se por seguro.
17
O homem violento comete loucura; o dissimulado atrai a si o ódio.
18
Os ingênuos têm por herança a loucura; os prudentes, a ciência como coroa.
19
Diante dos bons humilham-se os maus e os ímpios ante as portas do justo.
20
Até mesmo ao seu companheiro o pobre é odioso; numerosos são os amigos do rico.
21
Quem despreza seu próximo comete um pecado; feliz aquele que tem compaixão dos desgraçados.
22
Porventura não erram os que maquinam o mal? Os que planejam o bem adquirem favor e verdade.
23
Para todo esforço há fruto, muito palavrório só produz penúria.
24
Para o sábio a riqueza é uma coroa. A loucura dos insensatos permanece loucura.
25
A testemunha fiel salva vidas; o que profere mentiras é falso.
26
No temor do Senhor encontra apoio sólido; seus filhos nele encontrarão abrigo.
27
O temor do Senhor é uma fonte de vida para escapar aos laços da morte.
28
A multidão do povo é a glória de um rei; a falta de população é a ruína de um príncipe.
29
O paciente dá prova de bom senso; quem se arrebata rapidamente manifesta sua loucura.
30
Um coração tranqüilo é a vida do corpo, enquanto a inveja é a cárie dos ossos.
31
O opressor do pobre ultraja seu criador, mas honra-o o que se compadece do indigente.
32
É por causa de sua própria malícia que cai o ímpio; o justo, porém, até na morte conserva a confiança.
33
No coração do prudente repousa a sabedoria. Entre os tolos ela se fará conhecer?
34
A justiça enaltece uma nação; o pecado é a vergonha dos povos.
35
O servidor inteligente goza do favor do rei, mas a sua ira fere o desonrado.


Proverbs (BAV) 1