Sirach (BAV) 1





Libro do Eclesiástico


Prólogo

Pela Lei, pelos Profetas e por outros escritores...

I - A SABEDORIA NA VIDA (1-42,14)

Origem impenetrável da sabedoria

1 1 Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.
2
Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?
3
Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?
4
A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!
5
O verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.
6
A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios?
7
A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos?
8
Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono;
9
foi ele quem a criou no Espírito Santo, quem a viu, numerada e medida;
10
ele a espargiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida que a repartiu, e deu-a àqueles que a amavam.

O temor ao Senhor

11 O temor do Senhor é uma glória, um motivo de glória, uma fonte de alegria, uma coroa de regozijo.
12
O temor do Senhor alegra o coração. Ele nos dá alegria, regozijo e longa vida.
13
Quem teme o Senhor sentir-se-á bem no instante derradeiro, no dia da morte será abençoado.
14
O amor de Deus é uma sabedoria digna de ser honrada.
15
Aqueles a quem ela se mostra, amam-na logo que a vêem, logo que reconhecem os prodígios que realiza.
16
O temor do Senhor é o início da sabedoria. Ela foi criada com os homens fiéis no seio de sua mãe, ela caminha com as mulheres de escol, vemo-la na companhia dos justos e dos fiéis.
17
O temor ao Senhor é a religião da ciência.
18
Essa religião guarda e santifica o coração; ela lhe traz satisfação e alegria.
19
Aquele que teme ao Senhor achar-se-á confortado, no dia da morte será abençoado.
20
O temor ao Senhor é a plenitude da sabedoria, a plenitude de seus frutos, (para aquele que a possui)
21
ela enche toda a sua casa com os bens que produz, e seus celeiros com seus tesouros.
22
O temor do Senhor é a coroa da sabedoria: dá uma plenitude de paz e de frutos de salvação.
23
Ele a viu e numerou-a; ora, um e outra são um dom de Deus.
24
A sabedoria distribui a ciência e a prudente inteligência; eleva à glória aqueles que a possuem.
25
O temor do Senhor é a raiz da sabedoria, seus ramos são de longa duração.
26
A inteligência e a religião da ciência se acham nos tesouros da sabedoria, mas a sabedoria é abominada pelos pecadores.
27
O temor ao Senhor expulsa o pecado,
28
pois aquele que não tem esse temor não poderá tornar-se justo. A violência de sua paixão causará sua ruína.
29
O homem paciente esperará até um determinado tempo, após o qual a alegria lhe será restituída.
30
O homem de bom senso guarda suas palavras; muitos falarão, em voz alta, de sua prudência.
31
O sentido da instrução está encerrado nos celeiros da sabedoria.
32
Mas o culto de Deus é abominado pelo pecador.
33
Meu filho, tu que desejas ardentemente a sabedoria, sê justo e Deus ta concederá.
34
Pois o temor do Senhor é sabedoria e instrução, e o que lhe é agradável
35
é fidelidade e doçura; ele encherá os celeiros daqueles (que as possuem).
36
Não sejas rebelde ao temor do Senhor, não vás a ele com um coração fingido.
37
Não sejas hipócrita diante dos homens, e que teus lábios não sejam motivo de queda.
38
Vela sobre eles para que não caias, e não atraias sobre tua alma a desonra;
39
e para que Deus, revelando teus segredos, não te destrua no meio da assembléia,
40
por te teres aproximado do Senhor sorrateiramente, com o coração cheio de astúcia e engano.

Paciência

2 1 Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação;
2
humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade,
3
sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.
4
Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência.
5
Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.
6
Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.

O temor a Deus

7 Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais;
8
vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.
9
Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria.
10
Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.
11
Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido.
12
Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?
13
Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram.


14 Ai do coração fingido, dos lábios perversos, das mãos malfazejas, do pecador que leva na terra uma vida de duplicidade;
15
ai dos corações tímidos que não confiam em Deus, e que Deus, por essa razão, não protege;
16
ai daqueles que perderam a paciência, que saíram do caminho reto, e se transviaram nos maus caminhos.
17
Que farão eles quando o Senhor começar o exame?
18
Aqueles que temem ao Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam permanecem em sua vereda.
19
Aqueles que temem ao Senhor procuram agradar-lhe, aqueles que o amam satisfazem-se na sua lei.
20
Aqueles que temem ao Senhor preparam o coração, santificam suas almas na presença dele.
21
Aqueles que temem ao Senhor guardam os seus mandamentos, têm paciência até que ele lance os olhos sobre eles,
22
dizendo: Se não fizermos penitência, cairemos nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens,
23
pois a misericórdia dele está na medida de sua grandeza.

Piedade filial

3 1 Os filhos da sabedoria formam a assembléia dos justos, e o novo que compõem é, todo ele, obediência e amor.
2
Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos.


3 Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos, e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.
4
Aquele que ama a Deus o roga pelos seus pecados, acautela-se para não cometê-los no porvir. Ele é ouvido em sua prece cotidiana.
5
Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.
6
Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração.
7
Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo à sua mãe.


8 Quem teme ao Senhor honra pai e mãe. Servirá aqueles que lhe deram a vida como a seus senhores.
9
Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência,
10
a fim de que ele te dê sua bênção, e que esta permaneça em ti até o teu último dia.
11
A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.
12
Não te glories do que desonra teu pai, pois a vergonha dele não poderia ser glória para ti,
13
pois um homem adquire glória com a honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha do filho.


14 Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida.
15
Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida,
16
e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa;
17
tua casa tornar-se-á próspera na justiça. Lembrar-se-ão de ti no dia da aflição, e teus pecados dissolver-se-ão como o gelo ao sol forte.


18 Como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe!

Doçura e humildade

19 Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles.
20
Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus acharás misericórdia;
21
porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado.


22 Não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras,
23
pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos.
24
Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus,
25
pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano.
26
Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.

Dureza e duplicidade de coração

27 O coração empedernido acabará por ser infeliz. Quem ama o perigo nele perecerá.
28
O coração de caminhos tortuosos não triunfará, e a alma corrompida neles achará ocasião de queda.
29
O coração perverso ficará acabrunhado de tristeza, e o pecador ajuntará pecado sobre pecado.


30 Não há nenhuma cura para a assembléia dos soberbos, pois, sem que o saibam, o caule do pecado se enraíza neles.
31
O coração do sábio se manifesta pela sua sabedoria; o bom ouvido ouve a sabedoria com ardente avidez.


32 O coração sábio e inteligente abstém-se do pecado. Ele triunfará nas obras de justiça.

Bondade com os infelizes

33 A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado.
34
Deus olha para aquele que pratica a misericórdia; dele se lembrará no porvir, no dia de sua infelicidade este achará apoio.


4 1 Meu filho, não negues esmola ao pobre, nem dele desvies os olhos.
2
Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência.
3
Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria;
4
não rejeites o pedido do aflito, não desvies o rosto do pobre.
5
Não desvies os olhos do indigente, para que ele não se zangue. Aos que pedem não deis motivo de vos amaldiçoarem pelas costas,
6
pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura de sua alma. Aquele que o criou o atenderá.
7
Torna-te afável na assembléia dos pobres, humilha tua alma diante de um ancião; curva a cabeça diante de um poderoso.
8
Dá ouvidos ao pobre de boa vontade. Paga a tua dívida, dá-lhe com doçura uma resposta apaziguadora.
9
Liberta da casa do orgulhoso aquele que sofre injustiça. Quando fizeres um julgamento, não o faças com azedume.
10
Sê misericordioso com os órfãos como um pai; e sê como um marido para a mãe deles.
11
E serás como um filho obediente do Altíssimo, que, mais do que uma mãe, terá compaixão de ti.

Amor à sabedoria

12 A sabedoria inspira a vida aos seus filhos, ela toma sob a sua proteção aqueles que a procuram; ela os precede no caminho da justiça.
13
Aquele que a ama, ama a vida; aqueles que velam para encontrá-la sentirão sua doçura.
14
Aqueles que a possuem terão a vida como herança, e Deus abençoará todo o lugar onde ele entrar.
15
Aqueles que a servem serão obedientes ao Santo; aqueles que a amam serão amados por Deus.
16
Aquele que a ouve julgará as nações; aquele que é atento em contemplá-la permanecerá seguro.
17
Quem nela põe sua confiança tê-la-á como herança e sua posteridade a possuirá,
18
pois na provação ela anda com ele, e escolhe-o em primeiro lugar.
19
Ela traz-lhe o temor, o pavor e a aprovação. Ela o atormenta com sua penosa disciplina, até que, tendo-o experimentado nos seus pensamentos, ela possa confiar nele.
20
Então ela o porá firme, voltará a ele em linha reta. Ela o cumula de alegria,
21
desvenda-lhe seus segredos e enriquece-o com tesouros de ciência, de inteligência e de justiça.
22
Porém, se ele se transviar, ela o abandonará, e o entregará às mãos do seu inimigo.


23 Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o mal;
24
para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade,
25
pois há uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai glória d graça.
26
Em teu próprio prejuízo não te mostres parcial, não mintas em prejuízo de tua alma.
27
Não tenhas complacência com as fragilidade do próximo,
28
não retenhas uma palavra que pode ser salutar, não escondas tua sabedoria pela tua vaidade.
29
Pois a sabedoria faz-se distinguir pela língua; o bom senso, o saber e a doutrina, pela palavra do sábio; e a firmeza, pelos atos de justiça.
30
Não contradigas de nenhum modo a verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância.
31
Não te envergonhes de confessar os teus pecados; não te tornes escravo de nenhum homem que te leve a pecar.
32
Não resistas face a face ao homem poderoso, não te oponhas ao curso do rio.
33
Combate pela justiça a fim de salvares tua vida; até a morte, combate pela justiça, e Deus combaterá por ti contra teus inimigos.
34
Não sejas precipitado em palavras, e (ao mesmo tempo) covarde e negligente em tuas ações.
35
Não sejas como um leão em tua casa, prejudicando os teus domésticos e tiranizando os que te são submissos.
36
Que tua mão não seja aberta para receber, e fechada para dar.

Falsa segurança

5 1 Não contes com riquezas injustas. Não digas: Tenho o suficiente para viver, pois no dia do castigo e da escuridão, isso de nada te servirá.
2
Quando te sentires forte, não te entregues às cobiças de teu coração.
3
Não digas: Como sou forte! ou: Quem me obrigará a prestar contas dos meus atos?,
4
pois Deus tomará sua vingança. Não digas: Pequei, e o que me aconteceu de mal?, pois o Senhor é lento para castigar (os crimes).
5
A propósito de um pecado perdoado, não estejas sem temor, e não acrescentes pecado sobre pecado.
6
Não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados,
7
pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu furor visa aos pecadores.
8
Não demores em te converteres ao Senhor, não adies de dia em dia,
9
pois sua cólera virá de repente, e ele te perderá no dia do castigo.
10
Não te inquietes à procura de riquezas injustas, de nada te servirão no dia do castigo e da escuridão.

Domínio próprio

11 Não joeires a todos os ventos, não andes por qualquer caminho, pois é assim que se revela o pecador de linguagem dúbia.
12
Firma-te no caminho do Senhor, na sinceridade de teus sentimentos e teus conhecimentos, nunca te afastes de uma linguagem pacífica e eqüitativa.
13
Escuta com doçura o que te dizem a fim de compreenderes, darás então uma resposta sábia e apropriada.
14
Se tiveres inteligência, responde a outrem, senão, põe a mão sobre a tua boca, para que não sejas surpreendido a dizer uma palavra indiscreta, e venhas a te envergonhar dela.
15
A honra e a consideração acompanham a linguagem do sábio, mas a língua do imprudente é a sua própria ruína.
16
Não passes por delator, não caias com embaraço nas armadilhas de tua língua,
17
pois ao ladrão estão reservados a confusão e o arrependimento, à língua dúbia, uma censura severa; ao delator, ódio, inimizade e infâmia.
18
Faze justiça tanto para o pequeno como para o grande.

A amizade

6 1 De amigo não te tornes inimigo de teu próximo, pois o malvado terá por sorte a vergonha e a ignomínia, como todo pecador invejoso e de língua fingida.
2
Não te eleves como um touro nos pensamentos de teu coração, para não suceder que a tua loucura quebre a tua força,
3
devore as tuas folhas, apodreça os teus frutos e te deixe como uma árvore seca no deserto.
4
Pois uma alma perversa é a perda de quem a possui; torná-lo-á motivo de zombaria para seus inimigos, e conduzi-lo-á à sorte dos ímpios.


5 Uma boa palavra multiplica os amigos e apazigua os inimigos; a linguagem elegante do homem virtuoso é uma opulência.
6
Dá-te bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil.
7
Se adquirires um amigo, adquire-o na provação, não confies nele tão depressa.
8
Pois há amigos em certas horas que deixarão de o ser no dia da aflição.
9
Há amigo que se torna inimigo, e há amigo que desvendará ódios, querelas e disputas;
10
há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça.
11
Se teu amigo for constante, ele te será como um igual, e agirá livremente com os de tua casa.
12
Se se rebaixa em tua presença e se retrai diante de ti, terás aí, na união dos corações, uma excelente amizade.
13
Separa-te daqueles que são teus inimigos, e fica de sobreaviso diante de teus amigos.
14
Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro.
15
Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé.
16
Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo.
17
Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante.

Para aprender a sabedoria

18 Meu filho, aceita a instrução desde teus jovens anos; ganharás uma sabedoria que durará até à velhice.
19
Vai ao encontro dela, como aquele que lavra e semeia, espera pacientemente seus excelentes frutos,
20
terás alguma pena em cultivá-la, mas, em breve, comerás os seus frutos.
21
Quanto a sabedoria é amarga para os ignorantes! O insensato não permanecerá junto a ela.
22
Ela lhes será como uma pesada pedra de provação, eles não tardarão a desfazer-se dela.
23
Pois a sabedoria que instrui justifica o seu nome, não se manifesta a muitos; mas, naqueles que a conhecem, persevera, até (tê-los levado) à presença de Deus.
24
Escuta, meu filho, recebe um sábio conselho, não rejeites minha advertência.
25
Mete os teus pés nos seus grilhões, e teu pescoço em suas correntes.
26
Abaixa teu ombro para carregá-la, não sejas impaciente em suportar seus liames.
27
Vem a ela com todo o teu coração. Guarda seus caminhos com todas as tuas forças.
28
Segue-lhe os passos e ela se dará a conhecer; quando a tiveres abraçado, não a deixes.
29
Pois acharás finalmente nela o teu repouso. E ela transformar-se-á para ti em um motivo de alegria.
30
Seus grilhões ser-te-ão uma proteção, um firme apoio; suas correntes te serão um adorno glorioso;
31
pois nela há uma beleza que dá vida, e seus liames são ligaduras que curam.
32
Como ele te revestirás como de uma vestimenta de glória, e a porás sobre ti como uma coroa de júbilo.
33
Meu filho, se me ouvires com atenção, serás instruído; se submeteres o teu espírito, tornar-te-ás sábio.
34
Se me deres ouvido, receberás a doutrina. Se gostares de ouvir, adquirirás a sabedoria.
35
Permanece na companhia dos doutos anciãos, une-te de coração à sua sabedoria, a fim de que possas ouvir o que dizem de Deus, e não te escapem suas louváveis máximas.
36
Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele, desgaste o teu pé o limiar de sua porta.
37
Concentra teu pensamento nos preceitos de Deus, sê assíduo à meditação de seus mandamentos. Ele próprio te dará um coração, e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas.

Para evitar a presunção

7 1 Não pratiques o mal, e o mal não te iludirá.
2
Afasta-te da injustiça, e a injustiça se afastará de ti.
3
Meu filho, não semeies o mal nos sulcos da injustiça, e dele não recolherás o sétuplo.
4
Não peças ao Senhor o encargo de guiar outrem, nem ao rei um lugar de destaque.
5
Não te justifiques perante Deus, pois ele conhece o fundo dos corações; não pretendas parecer sábio diante do rei.
6
Não procures tornar-te juiz, se não fores bastante forte para destruir a iniqüidade, para que não aconteça que temas perante um homem poderoso, e te exponhas a pecar contra a eqüidade.
7
Não ofendas a população inteira de uma cidade, não te lances em meio da multidão.
8
Não acrescentes um segundo pecado ao primeiro, pois mesmo por causa de um só não ficarás impune.
9
Não te deixes levar ao desânimo.
10
Não descuides de orar nem de dar esmola.
11
Não digas: Deus há de considerar a quantidade de meus dons; quando os oferecer ao Deus Altíssimo, ele os há de aceitar.
12
Não zombes de um homem que está na aflição, pois há alguém que humilha e exalta: Deus que tudo vê.
13
Não inventes mentira contra teu irmão, não inventes nenhuma mentira contra teu amigo.
14
Cuida-te para não dizeres mentira alguma, pois o costume de mentir é coisa má.
15
Na companhia dos anciãos, não sejas falador, não multipliques as palavras em tua oração.
16
Não abomines as tarefas penosas, nem o labor da terra, que foi criado pelo Altíssimo.
17
Não te coloques no número das pessoas corrompidas,
18
lembra-te de que a cólera não tarda.
19
Humilha profundamente o teu espírito, pois o fogo e o verme são o castigo da carne do ímpio.

Bondade e atenção

20 Não pratiques o mal contra um amigo que demora em te pagar, não desprezes por causa do ouro um irmão bem-amado.
21
Não te afastes da mulher sensata e virtuosa que te foi concedida no temor do Senhor; pois a graça de sua modéstia vale mais do que o ouro.
22
Não maltrates um escravo que trabalha pontualmente, nem o operário que te é devotado.
23
Que o escravo sensato te seja tão caro quanto a tua própria vida! Não o prives da liberdade, nem o abandones na indigência.
24
Tens rebanhos? Cuida deles; se te forem úteis, guarda-os em tua casa.
25
Tens filhos? Educa-os, e curva-os à obediência desde a infância.
26
Tens filhas? Vela pela integridade de seus corpos, não lhes mostres um rosto por demais jovial.
27
Casa tua filha, e terás feito um grande negócio; dá-a a um homem sensato.
28
Se tiveres mulher conforme teu coração, não a repudies, e não confies na que é odiosa.
29
Honra teu pai de todo o coração, não esqueças os gemidos de tua mãe;
30
lembra-te de que sem eles não terias nascido, e faze por eles o que fizeram por ti.

Respeito para com Deus

31 Teme a Deus com toda a tua alma, tem um profundo respeito pelos seus sacerdotes.
32
Ama com todas as tuas forças aquele que te criou; não abandones os seus ministros.
33
Honra a Deus com toda a tua alma, respeita os sacerdotes; (nos sacrifícios) oferece-lhes as espáduas.
34
Dá-lhes, como te foi prescrito, a parte da primícias e das vítimas expiatórias; purifica-te de tuas omissões com pequenas (oferendas);
35
oferece ao Senhor os dons das espáduas, os sacrifícios de santificação e as primícias das coisas santas.

Os pobres

36 Estende a mão para o pobre, a fim de que sejam perfeitos teu sacrifício e tua oferenda.
37
Dá de boa vontade a todos os vivos, não recuses esse benefício a um morto.
38
Não deixes de consolar os que choram, aproxima-te dos que estão aflitos.
39
Não tenhas preguiça de visitar um doente, pois é assim que te firmarás na caridade.
40
Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás.

Vigilância nas relações sociais

8 1 Não disputes com um homem poderoso, para que não caias em suas mãos.
2
Não tenhas desavença com um rico, para não acontecer que ele te mova um processo;
3
pois o ouro e a prata perderam a muitos, e o poder deles chega até a transviar o coração de um rei.
4
Não tenhas desavença com um grande falador, e não amontoes lenha em sua fogueira.
5
Não convivas com um homem mal-educado, para não acontecer que ele fale mal de teus antepassados.
6
Não desprezes um homem que renuncia ao pecado, não lhe dirijas censuras; lembra-te de que todos merecemos o castigo.
7
Não desprezes um ancião, pois alguns dentre nós também envelheceremos.
8
Não te alegres com a morte de teu inimigo, pois sabes que todos morreremos, e não queremos que com isso se regozijem.
9
Não desprezes o que contarem os velhos sábios, mas entretém-te com suas palavras,
10
pois é com eles que aprenderás a sabedoria, os ensinamentos da inteligência, e a arte de servir irrepreensivelmente os poderosos.
11
Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, pois eles os aprenderam com seus pais.
12
Estudarás com eles o conhecimento e a arte de responder com oportunidade.
13
Não acendas os tições dos pecadores, repreendendo-os, para não acontecer que te queimes nas chamas dos seus pecados.
14
Não resistas perante um insolente, para que ele não arme ciladas às tuas palavras.
15
Não emprestes dinheiro a alguém mais poderoso do que tu, pois, se lhe emprestares, considera-o perdido.
16
Não prestes fiança a outrem além de tuas posses, pois se o fizeres, considera-te na obrigação de pagá-la.
17
Não julgues (o procedimento) de um juiz, pois ele julga conforme a eqüidade.
18
Não enveredes por um caminho com um audacioso, para não acontecer que ele faça recair sobre ti seus delitos; pois ele só age segundo o seu capricho, e por causa de sua loucura perecerás com ele.
19
Não tenhas desavença com um homem irascível; não vás para o deserto com um audacioso, porque para ele nada vale o sangue, e ele te destruirá quando te achares sem socorro.
20
Não deliberes com loucos, pois só amam o que lhes agrada.
21
Nada resolvas perante um estranho, pois não sabes o que ele pode imaginar.
22
Não abras teu coração a qualquer homem, para não acontecer que recebas uma falsa amizade, e, além disso, ultrajes.

Atitude com respeito às mulheres

9 1 Não tenhas ciúme da mulher que repousa no teu seio, para que ela não empregue contra ti a malícia que lhe houveres ensinado.
2
Não entregues tua alma ao domínio de tua mulher, para que ela não usurpe tua autoridade e fiques humilhado.
3
Não lances os olhos para uma mulher leviana, para que não caias em suas ciladas.
4
Não freqüentes assiduamente uma dançarina, e não lhe dês atenção, para que não pereças por causa de seus encantos.
5
Não detenhas o olhar sobre uma jovem, para que a sua beleza não venha a causar tua ruína.
6
Nunca te entregues às prostitutas, para que não te percas com os teus haveres.
7
Não lances os olhos daqui e dali pelas ruas da cidade, não vagueies pelos caminhos.
8
Desvia os olhos da mulher elegante, não fites com insistência uma beleza desconhecida.
9
Muitos pereceram por causa da beleza feminina, e por causa dela inflama-se o fogo do desejo.
10
Toda mulher que se entrega à devassidão é como o esterco que se pisa na estrada.
11
Muitos, por haveres admirado uma beleza desconhecida, foram condenados, pois a conversa dela queima como fogo.
12
Nunca te sentes ao lado de uma estrangeira, não te ponhas à mesa com ela;
13
não a provoques a beber vinho, para não acontecer que teu coração por ela se apaixone, e que pelo preço de teu sangue caias na perdição.

Relações sociais

14 Não abandones um velho amigo, pois o novo não o valerá.
15
Vinho novo, amigo novo; é quando envelhece que o beberás com gosto.
16
Não invejes a glória nem as riquezas do pecador, pois não sabes qual será a sua ruína.
17
Não sintas prazer com a violência dos injustos; sabe que o ímpio desagrada a Deus até na habitação dos mortos.
18
Afasta-te do homem que tem o poder de matar, e assim não saberás o que é temer a morte.
19
Mas, se dele de aproximares, cuida em não cometer nenhuma falta, para não acontecer que ele tire a tua vida.
20
Sabe que a morte está próxima, porque andas em meio de armadilhas, e no meio das armas de inimigos escolerizados.
21
Tanto quanto possível, desconfia de quem de ti se aproxima, e aconselha-te com os sábios e os prudentes.
22
Que os teus convivas sejam virtuosos. Põe tua glória no temor de Deus.
23
Que o pensamento de Deus ocupe o teu espírito, e os preceitos do Altíssimo sejam a tua conversa.
24
É pela obra de suas mãos que o artista conquista a estima; e um príncipe do povo, pela sabedoria de seus discursos; e os anciãos, pela prudência de suas palavras.
25
Um grande falador é coisa terrível na cidade; o homem de conversas imprudentes torna-se odioso.

Sabedoria das autoridades

10 1 Um governador sábio julga o seu povo; o governo de um homem sensato será estável.
2
Tal o juiz do povo, tais os seus ministros; tal o governador da cidade, tais os seus habitantes.
3
Um rei privado de juízo perde o seu povo, as cidades povoam-se pelo bom senso dos que governam.
4
O domínio sobre um país está na mão de Deus. Ele lhe suscitará no tempo oportuno um governador útil.
5
A prosperidade do homem está na mão de Deus; é ele que põe na fronte do escriba um sinal de honra.

Orgulho e avareza

6 Não te recordes de nenhuma injustiça causada pelo próximo, nada faças por um procedimento injusto.
7
O orgulho é abominável a Deus e aos homens; e toda a iniqüidade das nações provoca horror.
8
Um reino passa de um povo a outro, por causa das injustiças, dos ultrajes e de fraudes diversas.
9
Nada há mais criminoso do que a avareza; de que se orgulha o que é terra e cinza?
10
Nada há mais iníqüo do que o amor ao dinheiro; aquele que o ama chega até a vender a sua alma. Vivo ainda, despojou-se de suas próprias entranhas.
11
A duração de todo o poder é breve; uma doença prolongada cansa o médico.
12
O médico atalha um breve mal-estar; assim, um que hoje é rei amanhã morrerá.
13
Quando o homem está morto, tem por herança serpentes, bichos e vermes.
14
O início do orgulho num homem é renegar a Deus,
15
pois seu coração se afasta daquele que o criou, porque o princípio de todo pecado é o orgulho; aquele que nele se compraz será coberto de maldições, e acabará sendo por elas derrubado.
16
Eis porque o Senhor desonrou a assembléia dos maus, e os destruiu para sempre.
17
Deus derrubou os tronos dos chefes orgulhosos e em lugar deles fez sentar homens pacíficos.
18
Deus fez secar as raízes das nações arrogantes, e implantou os humildes entre as mesmas nações.
19
O Senhor destruiu as terras das nações, e as arruinou até os alicerces.
20
Destruiu muitas delas e exterminou-as, apagou a sua lembrança de sobre a terra.
21
Deus apaga a memória dos orgulhosos, enquanto faz perdurar a dos humildes de coração.
22
O orgulho não foi criado para os homens, nem a cólera para o sexo feminino.

Felicidade dos que temem a Deus

23 A raça do homem que teme a Deus será honrada; será desonrado aquele que desprezar os preceitos do Senhor.
24
Entre os seus irmãos, a homenagem é feita para aquele que os governa; aqueles que temem a Deus serão honrados na presença do Senhor.
25
Rico, nobre ou pobre, sua glória é o temor do Senhor.
26
Não desprezes o homem justo, ainda que pobre; não enalteças um pecador, ainda que rico,
27
O grande, o justo e o poderoso recebem homenagens, mas ninguém é maior do que aquele que teme a Deus.
28
Homens livres serão os súditos de um escravo sensato. Repreendido, o homem prudente e bem educado não murmura, e o ignorante não será honrado.
29
Não te orgulhes do trabalho que fazes, não sejas indolente no tempo da adversidade.
30
Mais vale o trabalho e abundância, do que o jactancioso que não tem pão.
31
Meu filho, conserva tua alma na doçura, e dá-lhe a honra que merece.
32
Aquele que peca contra si mesmo, que o justificará? Quem devolverá a honra a quem desonrou sua vida?
33
Um pobre é honrado pelo seu conhecimento e temor a Deus; há quem o é por causa de suas riquezas.
34
Mas quanta glória teria se fosse rico aquele que é honrado, mesmo sendo pobre! Mas o que se gloria de sua riqueza, acautele-se para não se tornar pobre.

Juízos temerários

11 1 A sabedoria do humilde levantará a sua cabeça e o fará sentar-se no meio dos grandes.
2
Não avalies um homem pela sua aparência, não desprezes um homem pelo seu aspecto.
3
Pequena é a abelha entre os seres alados: o que produz, entretanto, é o que há de mais doce.
4
Não te glories nunca de tuas vestes, não te engrandeças no dia em que fores homenageado, pois só as obras do Altíssimo são admiráveis, dignas de glória, misteriosas e invisíveis.
5
Muitos príncipes ocuparam o trono, e alguém, em quem se não pensava, usou o diadema.
6
Muitos poderosos foram grandemente oprimidos, e homens ilustres foram entregues às mãos de outrem.
7
Não censures ninguém antes de estares bem informado; e quando te tiveres informado, repreende com eqüidade;
8
nada respondas antes de ter ouvido, não interrompas ninguém no meio do seu discurso.
9
Não indagues das coisas que não te dizem respeito; não te assentes com os maus para julgar.

Moderação

10 Meu filho, não empreendas coisas em demasia, porque, se adquirires riquezas, não ficarás isento de culpa; se empreenderes muitos negócios, não poderás abrangê-los; se te antecipares, não te sairás bem deles.
11
Há ímpio que trabalha, se apressa e se queixa, porém só se torna menos rico.
12
Há homem esgotado e em grande necessidade de alívio, pobre de energia e rico em necessidades,
13
que o olhar de Deus considera com benevolência, e tira do desalento para lhe dar ânimo; muitos, ao verem isso, ficam surpreendidos e dão glória a Deus.

Deus, origem de todas as coisas

14 Bens e males, vida e morte, pobreza e riqueza vêm de Deus.
15
Em Deus se encontram a sabedoria, o conhecimento e a ciência da lei; nele residem a caridade e as boas obras.
16
O erro e as trevas foram criados com os pecadores; aqueles que se comprazem no mal, envelhecerão no mal.
17
O dom de Deus permanece nos justos, e seu aproveitamento assegura um triunfo eterno.
18
Há homem que enriquece, vivendo com economia, e a única recompensa que dela usufrui é a
19
de poder dizer: Achei o repouso, vou agora desfrutar meus haveres sozinho.
20
E ele não considera que o tempo passa, que vem a morte, e que, ao morrer, tudo deixará para os outros.

Sob o olhar de Deus

21 Permanece firme em tua aliança com Deus; que isto seja sempre o assunto de tuas conversas. E envelhece praticando os mandamentos.
22
Não prestes atenção ao que fazem os pecadores; põe tua confiança em Deus, e limita-te ao que fazes.
23
É, com efeito, coisa fácil aos olhos de Deus enriquecer repentinamente o pobre.
24
A bênção divina não se faz esperar para recompensar o justo. Em pouco tempo ele o faz crescer e dar fruto.
25
Não digas: De que preciso eu? Que tenho a esperar doravante?
26
Não digas tampouco: Eu me basto a mim mesmo; que mal posso temer para o futuro?
27
No dia feliz não percas a recordação dos males, nem a recordação do bem no dia infeliz.
28
Pois no dia da morte é fácil para Deus dar a cada um conforme o seu comportamento.
29
A dor de um instante faz esquecer os maiores prazeres; com a morte do homem, todos os seus atos serão desvendados.
30
Não louves a homem algum antes de sua morte, pois é em seus filhos que se reconhece um homem.

Desconfiança com estranhos

31 Não tragas um homem qualquer à tua casa, pois numerosas são as armadilhas do que engana.
32
Assim como sai um hálito fétido de um estômago estragado, assim como a perdiz atrai para a armadilha, e o cabrito para os laços, assim é o coração dos soberbos, e daquele que está à espreita para ver a ruína do próximo.
33
Transformando o bem em mal, ele arma ciladas, e põe nódoas nas coisas mais puras.
34
Uma centelha basta para acender uma grande fogueira; um só rebanho é causa de múltiplos morticínios, e o pecador procura traiçoeiramente derramar sangue.
35
Acautela-te contra o corruptor que trama a iniqüidade, para não acontecer que ele faça de ti um eterno objeto de mofa.
36
Dás entrada em tua casa ao estrangeiro? Ele aí suscitará uma discórdia que te derrubará, e te tornará inimigo das pessoas de tua própria casa.

Discernir a quem fazer o bem

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Sirach (BAV) 1