Ezéchiel (SAV) 13
13 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2 filho do homem, profetiza contra os profetas israelitas que (pretendem) profetizar, dize àqueles que profetizam de sua própria cabeça: escutai a palavra do Senhor:
3 eis o que diz o Senhor Javé: ai dos profetas insensatos que seguem sua própria inspiração sem terem tido (realmente) visão alguma.
4 Assim como chacais nos esconderijos, tais são os teus profetas, ó Israel.
5 Não subistes por sobre as brechas para refazer um muro à casa de Israel, a fim de poder estar seguro no combate no dia do Senhor.
6 Vêem só visões disparatadas, só fazem predições enganosas, eles que dizem: oráculo do Senhor! quando o Senhor não os enviou; e, todavia, esperam a realização de sua palavra.
7 Não é verdade que não tendes senão visões ineptas e não fazeis senão predições enganadoras, quando dizeis: oráculo do Senhor, quando eu não falei coisa alguma?
8 E, por isso, eis o que diz o Senhor Javé: porque proferis oráculos enganadores e tendes visões mentirosas, eu vou castigar-vos - oráculo do Senhor Javé.
9 Estenderei minha mão contra esses profetas de visões ineptas e de oráculos enganadores. Não farão mais parte do conselho do meu povo, não serão inscritos no número da casa de Israel e não regressarão à terra de Israel. E saberão assim que sou eu o Senhor Javé.
10 Porquanto abusam do meu povo, dizendo: Tudo vai bem, quando tudo vai mal. Quando o meu povo constrói um muro, ei-los a cobrirem-no de gesso.
11 Dize pois àqueles que põem esse gesso: este muro vai cair. Vai haver um aguaceiro, vai cair saraiva grossa, vai desencadear-se uma tempestade;
12 e o muro vai rachar. Então, se vos dirá: onde está o reboco de gesso que amassastes?
13 Pois bem! Eis o que diz o Senhor Javé: em minha indignação, desencadearei um furacão, em minha cólera, vou mandar uma tempestade, em meu furor de destruição, farei cair granizo.
14 Abaterei assim o muro que emboçastes, pô-lo-ei abaixo, desnudá-lo-ei até as suas fundações. Ele desmoronará e perecereis no meio dos (escombros). Sabereis assim que sou o Senhor.
15 Quando houver saciado o meu furor contra o muro e contra aqueles que o tiverem rebocado de gesso, direi: nada de muro! Desapareceram aqueles que o rebocaram,
16 esses profetas israelitas que profetizavam sobre Jerusalém e tinham para ela visões de bem-estar quando tudo ia mal! - oráculo do Senhor Javé.
17 Tu, filho do homem, volta-te agora para as filhas do teu povo que profetizam de sua própria cabeça, e pronuncia contra elas
18 o oráculo seguinte: eis o que diz o Senhor Javé: ai daquelas que cosem faixas para todos os punhos, que confeccionam véus para as cabeças de todos os tamanhos, com o fito de fazerem caça às almas. Como?! Capturais as almas do meu povo, enquanto vós conservais em vida vossas próprias almas!
19 Vós me aviltais perante o meu povo por alguns punhados de cevada e uns pedaços de pão, fazendo perecer vidas que não deveriam morrer, e dando vida a quem não deveria viver. Assim, enganais o meu povo, que não quer senão ouvir fábulas.
20 Eis por que diz o Senhor: vou contra as ligaduras de que vos servis para dar caça às almas: eu as arrancarei de vossos braços e darei vôo às almas que, como pássaros, apanhastes na armadilha.
21 Rasgarei do mesmo modo os vossos véus e livrarei o meu povo de vossas mãos, a fim de que deixem de ser presa em vossas mãos. E sabereis assim que eu sou o Senhor.
22 Porque vós abateis a coragem do justo com vossas mentiras, enquanto eu não o abato, porque encorajais o ímpio a não renunciar ao seu caminho perverso para não reencontrar a vida,
23 já não tereis essas visões tolas e não mais proferireis oráculos. Libertarei o meu povo de vossas mãos, e sabereis que eu sou o Senhor.
14 1 Vieram à minha procura alguns anciãos de Israel, e se assentaram junto de mim.
2 A palavra do Senhor foi-me então dirigida nestes termos:
3 filho do homem, esses homens têm os ídolos instalados no coração, e eles têm constantemente diante dos olhos o que os leva a cair no pecado. É preciso deixar-me consultar por eles?
4 Pois bem, fala-lhes e anuncia-lhes: eis o que diz o Senhor Javé: se acontecer a um israelita, que tem ídolos instalados no coração e conserva diante dos olhos o que o faz cair no pecado, vir ter com um profeta, sou eu, o Senhor, que lhe responderei pessoalmente segundo a multidão dos seus ídolos,
5 a fim de atingir no coração essa casa de Israel que, por amor aos seus ídolos, se tem afastado de mim.
6 Por isso diz à casa de Israel: eis o que diz o Senhor Javé: retornai! Renunciai a vossos ídolos, deixai de vez todas as vossas práticas abomináveis.
7 Se efetivamente sucede a algum israelita ou, também, a algum estrangeiro que more em Israel afastar-se de mim e instalar ídolos no coração, conservando diante dos olhos o que o faz cair no pecado, e depois se dirigir a um profeta para me consultar por seu ministério,
8 sou eu, o Senhor, que hei de responder contra esse homem; farei dele um exemplo que se há de tornar proverbial, porque o eliminarei do meu povo, e sabereis por essa forma que eu sou o Senhor.
9 E, se o profeta se deixar seduzir e proferir um oráculo, é que eu, o Senhor, o terei seduzido; estenderei a mão contra ele e o farei seduzir; contra ele estenderei a mão, e o farei desaparecer do meio do meu povo de Israel.
10 Carregarão o peso da sua falta, tanto o consulente como o profeta,
11 a fim de que a casa de Israel não se afaste para longe de mim, e não se manche por causa de todos os seus delitos. Então eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus - oráculo do Senhor Javé.
12 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
13 filho do homem, se uma terra pecasse contra mim por infidelidade e eu estendesse contra ela a mão, suprimindo-lhe o pão que fortifica, e a ela enviasse a fome exterminadora dos animais e dos homens,
14 ainda que houvesse nessa terra Noé, Daniel e Jó, esses três homens só salvariam a si próprios, devido à sua justiça - oráculo do Senhor Javé.
15 Se eu deixasse os animais ferozes percorrerem a terra para devorar as crianças e transformarem-na em deserto, onde ninguém, por temor dessas feras, ousasse passar,
16 e se esses três homens se encontrassem nessa terra - por minha vida! - oráculo do Senhor Javé -, eles não poderiam salvar nem seus filhos nem suas filhas; somente eles escapariam e a terra continuaria deserta.
17 Ou, se eu fizesse vir a espada sobre essa terra, dizendo: que a espada passe por aqui e corte indistintamente homens e animais,
18 e se esses três homens se encontrassem aí - por minha vida! - oráculo do Senhor Javé -, não poderiam eles salvar nem seus filhos nem suas filhas; somente eles seriam salvos.
19 Ou ainda, se eu enviasse a peste sobre essa terra, e fizesse cair sobre ela o meu furor no sangue, exterminando homens e feras,
20 e se Noé, Daniel e Jó se encontrassem aí - por minha vida! - oráculo do Senhor Javé -, não poderiam eles garantir por sua justiça nem seus filhos nem suas filhas, mas somente a sua própria vida.
21 Assim fala o Senhor Deus: mesmo que lance eu os meus quatro funestos flagelos - a espada, a fome, as feras e a peste - contra Jerusalém, para exterminar dela homens e animais,
22 subsistirão entretanto alguns sobreviventes, filhos e filhas, que sairão da cidade. Eis que eles virão até vós. Quando tiverdes visto seu proceder e seus atos, vós vos consolareis das calamidades que eu houver desencadeado contra Jerusalém, de tudo quanto eu lhe houver infligido,
23 Eles vos consolarão, quando houverdes observado o seu comportamento e seus atos: reconhecereis não ser sem motivo que eu tratei a cidade como fiz - oráculo do Senhor Javé.
15 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2 filho do homem, a lenha da vinha por que valeria mais que a de galhos das outras árvores da floresta?
3 Toma-se dela para fazer um objeto? Faz-se mesmo uma cavilha para pendurar o que quer que seja?
4 Eis aí: mete-se no fogo para destruir. Quando o fogo consumir as duas extremidades, e queimar o meio, pode ainda servir para alguma coisa?
5 Quando ele estava intacto, não servia para objeto algum; consumido e queimado pelo fogo, ainda menos poderá servir para qualquer coisa.
6 Eis por que diz o Senhor Javé: assim como entre as árvores da floresta é a madeira da vide que eu lanço ao fogo para consumir, assim lançarei eu os habitantes de Jerusalém.
7 Voltarei contra eles a minha face. Fugirão ao fogo; o fogo, porém, os devorará. Saberão que eu sou o Senhor, quando eu voltar contra eles a minha face,
8 e transformar a terra num deserto, porque me têm sido infiéis - oráculo do Senhor Javé;
16 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2 filho do homem, mostra a Jerusalém os seus crimes abomináveis.
3 Dir-lhe-ás: eis o que diz o Senhor Javé a respeito de Jerusalém: por tua origem e nascimento, pertences à terra de Canaã; teu pai foi um amorreu e tua mãe, uma hitita.
4 No dia do teu nascimento, teu cordão umbilical não foi cortado; não te banharam com água para te purificar, não te untaram com sal, nem te enfaixaram.
5 Ninguém se inclinou sobre ti para te prestar algum piedoso cuidado. No dia em que nasceste foste exposta em meio das campinas; só havia infortúnio para ti.
6 Passei junto de ti e te percebi banhada em teu sangue. Eu te gritei: vive (malgrado o teu sangue), vive (malgrado o teu sangue),
7 e eu te fiz multiplicar como a erva dos prados. Cresceste. Ficaste moça. Teus seios se formaram, veio-te o pêlo. Mas estavas nua, inteiramente nua.
8 Passando junto de ti, verifiquei que já havia chegado o teu tempo, o tempo dos amores. Estendi sobre ti o pano do meu manto, cobri tua nudez; depois fiz contigo uma aliança ligando-me a ti pelo juramento - oráculo do Senhor Javé - e tu me pertenceste.
9 Então eu te mergulhei na água para limpar o sangue de que estavas coberta, e te ungi com óleo.
10 Eu te vesti de tecidos bordados, calcei-te com sapatos de pele de golfinho, cingi-te com um cinto de fino linho e um véu de seda.
11 Ornei-te de adornos: braceletes nos teus pulsos, colares em teu pescoço,
12 um anel para o teu nariz, brincos para tuas orelhas, uma coroa magnífica para tua cabeça.
13 Teus ornatos eram de ouro, prata, com vestimentas de linho fino, de seda e panos bordados; teu alimento era trigo, mel e óleo. Cada vez mais bela, chegaste à dignidade real.
14 A reputação da tua beleza correu entre as nações, pois essa beleza era perfeita, graças ao esplendor que te havia eu preparado - oráculo do Senhor Javé.
15 Tu, porém, te fiaste na beleza, aproveitaste da tua fama para te prostituíres e ofereceste a tua sensualidade a todo transeunte, a quem te entregaste.
16 Tomaste tuas vestimentas para delas fazeres lugares altos para ti, ornados de panos de variegadas cores, e te deste à depravação, o que jamais deveria ter sucedido, e que te não sucederá jamais.
17 Tomaste as esplêndidas jóias feitas com o meu ouro e minha prata, jóias que eu te havia doado, e fabricaste com elas imagens humanas, com que te prostituíste,
18 cobriste-as com as tuas próprias vestes bordadas, e lhes ofereceste o meu óleo e os meus aromas.
19 O pão que eu te havia dado, a flor da farinha, o óleo e o mel com que te nutrias, deste-os em oferenda de agradável odor. Eis o que tens feito - oráculo do Senhor Javé.
20 Depois tomaste os teus filhos e tuas filhas, que para mim deste à luz e os ofereceste a eles para sua nutrição. Por acaso são poucas as tuas prostituições?
21 Degolaste os meus filhos e os fizeste passar pelo fogo em sua honra.
22 Em meio a todas essas depravações abomináveis, não te lembraste do tempo de tua juventude, quando estavas toda nua e te rolavas em teu sangue.
23 Para cúmulo de todas essas maldades - Ai! Ai de ti! Oráculo do Senhor -,
24 edificaste uma colina, um lugar alto em todas as encruzilhadas.
25 À entrada de cada rua erigiste um lugar alto, e desonraste a tua beleza, dando teu corpo a todos os que vinham, multiplicando as tuas depravações.
26 Tu te prostituíste com os egípcios, teus vizinhos de corpos vigorosos, e multiplicaste as prostituições para me irritar.
27 Mas eu estendi a mão contra ti; reduzi a tua porção, deixei-te à mercê das tuas inimigas, as filhas dos filisteus, envergonhadas elas próprias do teu infame proceder.
28 Tu te prostituíste também com os assírios, porque não estavas satisfeita, e ainda assim não te deste por saciada;
29 multiplicaste as tuas depravações no país dos mercadores, entre os caldeus, sem que, contudo, te tenhas fartado.
30 Como é frouxo o teu coração - oráculo do Senhor Javé -, para teres tido ali o comportamento de uma prostituta,
31 por teres construído um montículo em todas as encruzilhadas, e um lugar alto à entrada de todas as ruas, sem mesmo procurar um salário como meretriz.
32 Tens sido mulher adúltera que acolhe os estranhos em lugar do esposo.
33 A todas as prostitutas se dão presentes, mas tu fizeste brindes a todos os teus amantes, procedeste com largueza para que de todos os lados viessem prostituir-se contigo.
34 Tens sido o avesso das outras mulheres em tuas depravações: não te procuravam; eras tu que pagavas ao invés de receber, fazendo tudo ao contrário do que fazem as outras.
35 Em vista de tudo isto, luxuriosa, escuta o que diz o Senhor:
36 eis o que diz o Senhor Javé: por tua prata dilapidada, por tua nudez descoberta no decurso de tuas prostituições com os teus amantes e com os teus ídolos abomináveis, pelo sangue de teus filhos que lhes deste,
37 vou reunir todos os teus amantes com aquele a quem juraste amor, todos quantos amaste e todos que detestas-te, vou reuni-los contra ti de todos os lados, e perante eles descobrirei a tua nudez, a fim de que te contemplem totalmente.
38 Eu infligirei o castigo às adúlteras e às criminosas, e contra ti desencadearei meu furor e meus ciúmes.
39 Entregar-te-ei nas suas mãos; eles demolirão o teu montículo, abaterão o teu lugar alto; despojar-te-ão dos teus vestidos; levarão os teus ornatos e te deixarão nua e despojada.
40 Em seguida sublevarão contra ti a multidão: serás apedrejada e perecerás pela espada;
41 atearão fogo à tua casa e se fará juízo contra ti, aos olhos de uma multidão de mulheres; porei fim às tuas prostituições e não terás mais salário a dar.
42 Saciarei o meu furor contra ti e, quando tiveres deixado de ser objeto do meu zelo, eu me acalmarei, e minha cólera terminará.
43 Porque não te lembraste do tempo da tua mocidade, e tudo isso fizeste com o fito de provocar-me, vou fazer cair sobre tua cabeça o peso de teu proceder - oráculo do Senhor Javé -, a fim de que não ajuntes novos crimes às tuas abominações.
44 Todos os amigos de provérbios dirão a teu respeito: tal mãe, tal filha.
45 De fato és bem filha de tua mãe, que tomou aversão a seu marido e a seus filhos; és bem irmã de tuas irmãs, que tomaram aversão a seus maridos e a seus filhos. Tua mãe era uma hitita e teu pai, um amorreu.
46 Tua irmã mais velha é Samaria, que habita à esquerda com suas filhas; tua irmã mais moça é Sodoma, que habita com suas filhas à tua direita.
47 Ainda não estavas contente em seguir seu passo e em imitar seus horrores; era pouco! Foste mais longe que elas na corrupção.
48 Por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, tua irmã Sodoma e suas filhas não fizeram o que fizeste tu e tuas filhas.
49 O crime da tua irmã Sodoma era este: opulência, glutoneria, indolência, ociosidade; eis como vivia ela, assim como suas filhas, sem tomar pela mão o miserável e o indigente.
50 Tornaram-se arrogantes e, sob os meus olhos, se entregaram à abominação; por isso eu as fiz desaparecer, como viste.
51 Quanto à Samaria, não cometeu ela a metade dos teus pecados, porque multiplicaste os teus crimes além dos seus e, por todas essas perversidades que cometeste, justificaste as tuas irmãs.
52 Carrega, pois, também tu, a vergonha das faltas pelas quais tu as justificaste graças a teus pecados, cuja malvadez superou a dos delas, afiguram-se elas mais justas que tu. De tua parte, carrega a vergonha e suporta a tua ignomínia, pois até fazes parecerem justas as tuas irmãs.
53 No tempo em que eu as tiver restaurado, Sodoma e suas filhas, Samaria e suas filhas, eu te restaurarei entre elas,
54 a fim de que carregues o teu opróbrio e sejas tu confundida por tudo quanto fizeste para seu conforto.
55 Tua irmã Sodoma e suas filhas retornarão a seu primitivo estado, Samaria e suas filhas igualmente; e tu também, com tuas filhas, voltareis à vossa antiga situação.
56 Ao tempo do teu orgulho, o nome de tua irmã Sodoma não era famoso em tua boca,
57 antes que houvesse sido patenteada a tua perversidade, como no tempo em que recebias os ultrajes das filhas da Síria e de suas vizinhas, das filhas dos filisteus que de toda parte te insultavam.
58 Eis-te carregada do peso dos teus crimes e das tuas abominações - oráculo do Senhor.
59 Pois eis o que diz o Senhor Javé: eu farei a ti conforme fizeste tu, que desprezaste a tua origem violando o pacto.
60 Mas eu me recordarei da aliança que contigo celebrei no tempo de tua juventude, e farei contigo uma eterna aliança.
61 Então te lembrarás de teu procedimento, e terás vergonha disso, quando eu tomar tuas irmãs mais velhas, juntamente com as mais novas, e tas der por filhas, mas isso não em virtude de tua aliança.
62 Sou eu que hei de restabelecer a minha aliança contigo, e tu saberás que sou eu o Senhor,
63 a fim de que te recordes (do passado) e te envergonhes, e que, em tua vergonha, não tenhas mais a audácia de abrir a boca, quando eu houver perdoado os teus delitos, - oráculo do Senhor Javé.
17 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
2 Filho do homem, propõe um enigma, apresenta uma parábola à casa de Israel.
3 Dize-lhe: eis o que diz o Senhor Javé: A grande águia de grandes asas, de larga envergadura, toda coberta de plumagem malhada, veio do Líbano. E tirou a copa de um cedro,
4 arrancou o mais alto de seus ramos, levou-o ao país dos mercadores e o depôs na cidade do negócio,
5 depois tomou um tronco de árvore da terra, e colocou-o num terreno preparado; à beira de águas copiosas plantou-o, como um salgueiro.
6 Ele germinou e transformou-se em vide frondosa, ainda que pouco elevada, e voltou suas ramagens para a águia, com suas raízes debaixo dela. Ela se tornou um ramo da vinha, produziu hastes, e lançou ramos.
7 Havia outra grande águia, de grandes asas, com abundante plumagem; e eis que para ela essa vinha voltou suas raízes, e lançou seus braços para ela, do horto onde estava plantada, a fim de que a regasse.
8 Era num solo excelente, à margem de ondas copiosas, que esta cepa estava plantada, de maneira a lançar ramos e produzir frutos, e tornar-se uma esplêndida vinha.
9 Dize, pois: eis o que diz o Senhor Javé: esta vinha irá prosperar? A primeira águia não arrancará suas raízes? Não abaterá o seu fruto para que ela seque, de sorte que murche toda a folhagem que ela estendeu? Sem esforço e sem ajuda da multidão será arrancada.
10 Eis que ela está plantada: será que crescerá? Tocada pelo vento do oriente, não secará ela de todo? Não secará no horto onde está plantada?
11 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
12 pergunta a essa raça de recalcitrantes: não sabeis o que significa isso? - Dize: o rei de Babilônia chegou a Jerusalém, prendeu o rei e os dirigentes da cidade, para levá-los com ele à Babilônia.
13 Escolheu na estirpe real um homem com o qual celebrou um tratado e a quem fez prestar juramento. Ele, porém, levou os poderosos do país,
14 para que o reino fosse abatido sem esperança de soerguimento, a fim de que esse homem, observando o pacto, pudesse subsistir.
15 Entretanto, este se revoltou contra ele, enviando mensageiros ao Egito para pedir cavalos e um numeroso exército. Triunfará ele? Escapará por acaso aquele que procedeu dessa maneira? Após haver rompido a aliança, haveria ele de se salvar?
16 Por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, é no país do rei que o fez reinar, de quem ele desprezou o juramento e rompeu a aliança, é em Babilônia que ele morrerá.
17 Com o seu forte exército e a sua multidão de homens, o faraó nada poderá por si mesmo na guerra, quando forem levantados os terraços e construídos os muros para fazer perecer uma multidão de homens.
18 Ele desprezou o seu juramento e rompeu a aliança, embora tivesse já dado a sua palavra. Ele fez tudo isso; não escapará.
19 Por isso, eis o que diz o Senhor Javé: Por minha vida, é o meu juramento que ele rejeitou, é minha aliança que ele infringiu: farei cair isso sobre sua cabeça.
20 Estenderei sobre ele a minha rede e será apanhado no meu laço; levá-lo-ei a Babilônia e ali o processarei por causa da transgressão que cometeu contra mim,
21 Todos os fugitivos de suas tropas cairão sob minha espada, e os que ficarem serão espalhados pelos ventos. E sabereis que sou eu, o Senhor, que falei.
22 Eis o que diz o Senhor: Pegarei eu mesmo da copa do grande cedro, dos cimos de seus galhos cortarei um ramo, e eu próprio o plantarei no alto da montanha.
23 Eu o plantarei na alta montanha de Israel. Ele estenderá seus galhos e dará fruto; tornar-se-á um cedro magnífico, onde aninharão aves de toda espécie, instaladas à sombra de sua ramagem.
24 Então todas as árvores dos campos saberão que sou eu, o Senhor, que abate a árvore soberba, e exalta o humilde arbusto, que seca a árvore verde, e faz florescer a árvore seca. Eu, o Senhor, o disse, e o farei.
18 1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: por que repetis continuamente esse provérbio entre os israelitas:
2 os pais comeram uvas verdes, mas são os dentes dos filhos que ficam embotados?
3 Por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, não tereis mais ocasião de repetir esse provérbio em Israel.
4 É a mim que pertencem as vidas, a vida do pai e a vida do filho. Ora, é o culpado que morrerá.
5 O homem justo - que procede segundo o direito e a eqüidade,
6 que não participa dos festins das montanhas, que não volve os olhos para os ídolos da casa de Israel, que não desonra a mulher do próximo, e não tem relação com uma mulher durante o tempo de sua impureza,
7 que não oprime ninguém, que restitui o penhor ao seu devedor, que não exerce a rapina, que dá seu pão aos famintos, e cobre com vestimenta o que está nu,
8 que não empresta à taxa usurária e não recebe com juros, que afasta a sua mão da iniqüidade, e julga eqüitativamente entre um homem e outro,
9 que segue os meus preceitos e observa as minhas leis, para proceder com retidão - esse homem é um justo: certamente viverá. Oráculo do Senhor Javé.
10 Porém, se esse homem gerou um filho violento e sanguinário, que comete (contra seu irmão) uma dessas faltas
11 embora ele próprio não tenha cometido nenhuma; um filho que come nas montanhas e desonra a mulher do próximo,
12 que oprime o infeliz e o indigente, que pratica a rapina e não restitui o penhor, que ergue os olhos para os ídolos e comete abominações,
13 que faz empréstimo com usura e recebe juros, esse rapaz não poderá permanecer em vida. Após as abominações que houver cometido, ele deve perecer, e seu sangue recairá sobre ele.
14 Se, pelo contrário, o homem gerou um filho que, à vista de todas as faltas cometidas por seu pai, tem o cuidado de não imitá-lo,
15 um filho que não come nas montanhas e não volve os olhos para os ídolos da casa de Israel, que não desonra a mulher do próximo,
16 não oprime ninguém, e não retém o penhor; não pratica a rapinagem, dá pão ao faminto e cobre com vestimenta o que está nu;
17 que se abstém de causar dano ao infeliz, que não empresta com usura e nem recebe juros, mas observa os meus mandamentos e procede de conformidade com as minhas leis - esse filho não perecerá pelas iniqüidades de seu pai mas certamente viverá.
18 É seu pai, que, pelas violências e rapinas que cometeu contra o próximo e pelo mal que fez no meio do seu povo, é este que há de perecer por causa de suas faltas.
19 Perguntais por que não leva o filho a iniqüidade do pai! É que o filho praticou a justiça e a eqüidade, e, como observa e cumpre as minhas leis, também ele viverá.
20 É o pecador que deve perecer. Nem o filho responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas do filho. É ao justo que se imputará sua justiça, e ao mau a sua malícia.
21 Se, no entanto, o mau renuncia a todos os seus erros para praticar as minhas leis e seguir a justiça e a eqüidade, então ele viverá decerto, e não há de perecer.
22 Não lhe será tomada em conta qualquer das faltas cometidas: ele há de viver por causa da justiça que praticou.
23 Terei eu prazer com a morte do malvado? - oráculo do Senhor Javé. - Não desejo eu, antes, que ele mude de proceder e viva?
24 E, se um justo abandonar a sua justiça, se praticar o mal e imitar todas as abominações cometidas pelo malvado, viverá ele? Não será tido em conta qualquer dos atos bons que houver praticado. É em razão da infidelidade da qual se tornou culpado e dos pecados que tiver cometido que deverá morrer.
25 Dizeis: não é justo o modo de proceder do Senhor. Escutai-me então, israelitas: o meu modo de proceder não é justo? Não será o vosso que é injusto?
26 Quando um justo renunciar à sua justiça para cometer o mal e ele morrer, então é devido ao mal praticado que ele perece.
27 Quando um malvado renuncia ao mal para praticar a justiça e a eqüidade, ele faz reviver a sua alma.
28 Se ele se corrige e renuncia a todas as suas faltas, certamente viverá e não perecerá.
29 E eis que a casa de Israel pretende que o modo de proceder do Senhor não seja justo! Não é acaso o vosso modo de proceder que é injusto?
30 Assim, pois, casa de Israel, é segundo o vosso próprio proceder que julgarei cada um de vós - oráculo do Senhor Javé. Convertei-vos! Renunciai a todas as vossas faltas! Que não haja mais em vós o mal que vos faça cair.
31 Repeli para longe de vós todas as vossas culpas, para criardes em vós um coração novo e um novo espírito. Por que haveríeis de morrer, israelitas?
32 Não sinto prazer com a morte de quem quer que seja - oráculo do Senhor Javé! Convertei-vos, e vivereis!
19 1 E tu, filho do homem, faze ouvir este cântico fúnebre acerca dos príncipes de Israel.
2 Quem era tua mãe? Uma leoa entre leões; estendida entre os leõezinhos, ela criava os seus filhotes.
3 Um dos filhotes cresceu até se tornar leão; aprendeu a despedaçar a presa, a devorar os homens.
4 Então as nações se coligaram contra ele, e foi preso em sua fossa; com cadeias foi levado para a terra egípcia.
5 Sua mãe viu que sua expectativa e sua esperança eram vãs; ela tomou outro dos seus filhotes para dele fazer um leãozinho.
6 Ele abriu caminho entre os leões, tornou-se um jovem leão; aprendeu a despedaçar a presa, a devorar os homens;
7 devastou seus palácios e desolou suas cidades, a terra e seus habitantes ficaram amedrontados com os seus rugidos.
8 Coligaram-se contra ele as nações vizinhas; lançaram sobre ele uma cilada; em sua fossa ele foi preso.
9 Foi posto na jaula com cadeias, conduziram-no ao rei de Babilônia, prenderam-no numa fortaleza, para que não se ouvisse mais a sua voz nas montanhas de Israel.
10 Tua mãe se assemelhava a uma vinha plantada à margem da torrente, carregada de frutos e de folhas, devido à abundância das águas.
11 Ela teve um ramo vigoroso, que se tornou um cetro real; sua estatura avultava-se em meio de uma espessa folhagem. Ela se distinguia por sua altitude e pelo número de seus ramos.
12 Ela porém foi arrancada furiosamente, e arremessada por terra. O vento do oeste dessecou seus frutos, que caíram; emurcheceu o seu vigoroso ramo, crestado pelo fogo,
13 e agora está ela plantada no deserto, em terra seca e árida.
14 O fogo, lançado num de seus ramos, devorou seu fruto; nela não há mais ramo forte, nem cetro real! É um canto fúnebre, que efetivamente serviu de lamentação.
20 1 No sétimo ano, no décimo dia do quinto mês, vieram alguns anciãos de Israel consultar o Senhor, e se assentaram diante de mim.
2 A palavra do Senhor me foi dirigida nestes termos:
3 filho do homem, dirige-te como se segue aos anciãos de Israel: eis o que diz o Senhor Javé: viestes para me consultar. Por minha vida! Eu não me deixarei consultar por vós - oráculo do Senhor Javé.
4 Julga-os, julga-os pois, filho do homem. Faze-os reconhecer as abominações de seus pais.
5 Dize-lhes: eis o que diz o Senhor Javé: no dia em que fiz a escolha de Israel, em que levantei a mão para a raça de Jacó, em que me dei a conhecer a eles no Egito, em que ergui a mão para eles, dizendo: sou eu que sou o Senhor, vosso Deus -,
6 foi nesse dia que jurei tirá-los do Egito para conduzi-los à terra que eu escolhera para eles, terra que mana leite e mel, a jóia de todos os países.
7 Eu lhes disse então: que cada um lance para fora os ídolos abomináveis que atraem os vossos olhos; não mais vos mancheis com os ídolos do Egito. Eu é que sou o Senhor, vosso Deus.
8 Eles, porém, se rebelaram contra mim e se recusaram a escutar-me; nenhum deles rejeitou os ídolos abomináveis que atraem os olhos e nenhum abandonou os ídolos do Egito. À vista disso, decidi desencadear sobre eles a minha cólera e contra eles e contra o próprio Egito saciar o meu furor.
9 Se eu os tirei do Egito, foi somente em consideração ao meu nome, a fim de que não fosse odiado aos olhos das nações entre as quais viviam, e onde eu me tinha dado a conhecer a eles.
10 Eu os fiz assim sair do Egito e os conduzi ao deserto.
11 Eu lhes dei as minhas leis e lhes ensinei os meus preceitos, em virtude dos quais vive aquele que os observa.
12 Instituí mesmo para eles os meus sábados, como sinal entre mim e eles, a fim de que reconhecessem que sou eu, o Senhor, que os santifica.
13 No deserto, todavia, os israelitas se rebelaram contra mim; não praticaram as minhas leis e rejeitaram os meus preceitos, em virtude dos quais o homem vive, quando os cumpre; profanaram gravemente os meus sábados. Por isso tomei a resolução de desencadear sobre eles o meu furor, no deserto, para aniquilá-los.
14 Mas o fiz em consideração ao meu nome, a fim de que não ficasse ele desmoralizado aos olhos das nações, perante as quais eu os tinha feito sair (do Egito).
15 Todavia, no deserto, eu lhes fiz o juramento de não levá-los à terra que eu lhes tinha prometido, terra onde corria leite e mel, a mais bela de todas as terras,
16 porque haviam rejeitado as minhas leis, abandonando os meus preceitos, profanando os meus sábados e entregando-se intimamente a seus ídolos.
17 Depois eu me compadeci deles; renunciei à idéia de destruí-los, e não os exterminei completamente no deserto.
18 Eu disse no deserto a seus filhos: não sigais os preceitos dos vossos pais, não imiteis as suas práticas, contaminando-vos com os ídolos.
19 Sou eu, o Senhor, que sou o vosso Deus. Deveis guardar as minhas leis, observar e praticar as minhas ordens.
20 Respeitai santamente os meus sábados, a fim de que sejam um sinal entre mim e vós, e que se saiba que eu, o Senhor, é que sou o vosso Deus.
21 Mas também os filhos se sublevaram contra mim, não cumpriram as minhas leis, não as observaram, pondo em prática os meus preceitos, em virtude dos quais o homem vive, desde que os cumpra; e eles profanaram os meus sábados. Por isso concebi o desígnio de desencadear contra eles a minha cólera, de fartar minha ira contra eles no deserto.
22 Se retirei a minha mão, foi em atenção ao meu nome, a fim de que não seja desrespeitado entre as nações perante as quais eu os tirei (do Egito).
23 Entretanto, fiz, no deserto, o juramento de dispersá-los entre as nações e de disseminá-los através dos países,
24 porque não haviam observado os meus preceitos, tinham rejeitado as minhas leis, profanando os meus sábados e deixando seus olhos se apegar aos ídolos de seus pais.
25 De minha parte, cheguei a dar-lhes estatutos que lhes foram funestos, ordens em virtude das quais não podiam viver;
26 eu os tornei impuros por suas oferendas - quando faziam passar seus primogênitos pelo fogo - para puni-los e dar-lhes a conhecer que eu sou o Senhor.
27 Por isso, filho do homem, dirige-te à casa de Israel: eis o que diz o Senhor Javé: ainda nisso me ultrajaram os vossos pais, e me foram infiéis.
28 Após haverem sido introduzidos por mim na terra que lhes havia jurado dar à vista de todas as suas colinas elevadas, de todas as árvores frondosas, ofereceram seus sacrifícios e apresentaram as suas oblações que me irritavam; depuseram o agradável odor (de suas oferendas) e derramaram as suas libações.
29 Então eu lhes disse: que lugar alto é esse, aonde ides? E esse nome de lugar alto é o que até hoje tem subsistido.
30 Por isso, dirige-te assim à casa de Israel: eis o que diz o Senhor Javé: vós vos contaminais, à maneira dos vossos pais, e vos prostituís como os seus ídolos.
31 Apresentando as vossas oferendas, fazendo passar vossos filhos pelo fogo, vós ainda hoje vos manchais com todos os vossos ídolos. E eu, casa de Israel, eu me deixarei consultar por vós? Por minha vida - oráculos do Senhor Javé -, não o farei.
32 Nada sucederá daquilo que sonhais quando dizeis: iremos fazer como as nações, como as raças da terra, rendendo culto à árvore e à pedra.
33 Por minha vida - oráculo do Senhor Javé -, é com mão forte, com braço estendido, no desencadeamento do meu furor, que eu reinarei sobre vós.
34 Eu vos tirarei do meio das nações; reunir-vos-ei fora dos países onde vos achais dispersos e, com mão poderosa, braço estendido, no desencadear do meu furor,
35 vos conduzirei ao deserto das nações onde, face a face, entrarei em julgamento convosco.
36 Como entrei em demanda com os vossos pais, no deserto do Egito, assim entrarei em demanda convosco - oráculo do Senhor Javé.
37 Eu vos farei passar sob o bastão e reentrar nos liames da aliança.
38 Segregarei do vosso meio os rebeldes e aqueles que contra mim se revoltaram, e os tirarei da terra onde se estabeleceram, e eles não entrarão na terra de Israel. Assim sabereis que sou eu o Senhor.
39 Quanto a vós, israelitas, eis o que diz o Senhor: ide, servi cada um de vós aos ídolos! Depois disso juro que me escutareis, e não profanareis o meu santo nome por vossas oferendas e vossos ídolos.
40 É na minha montanha santa, na montanha de Israel - oráculo do Senhor Javé -, é lá que me prestará culto toda a casa de Israel, todos desta nação. Lá vos farei uma acolhida favorável. Lá receberei vossas oferendas e as primícias dos vossos dons, com tudo o que me apresentardes.
41 Em vós deliciar-me-ei com perfume agradável, quando vos tiver arrancado do meio dos povos e reunido fora dos países em que vos acháveis dispersos. Aos olhos das nações, manifestarei em vós a minha santidade;
42 e sabereis que eu sou o Senhor, quando vos tiver conduzido à terra de Israel, que jurei dar a vossos pais.
43 Lá reconhecereis vossa má conduta pela qual vos tornastes impuros e sentireis desgosto de vós mesmos, pelo mal que cometestes.
44 E sabereis que eu é que sou o Senhor, quando eu proceder convosco em atenção ao meu nome, não em consideração aos vossos erros e vossos costumes corrompidos, ó casa de Israel - oráculo do Senhor Javé!
Ezéchiel (SAV) 13