Genèse (SAV) 39
39 1 José foi conduzido ao Egito, e Putifar, um oficial egípcio do faraó, chefe da guarda, comprou-o aos ismaelitas que o levavam.
2 O Senhor estava com José, e tudo lhe prosperava. Morava na casa do seu senhor, o egípcio.
3 Seu senhor viu que o Senhor estava com ele e lhe fazia prosperar tudo o que empreendia.
4 José conquistou a simpatia do seu senhor, que o empregou ao seu serviço, pondo-o à testa de sua casa e confiando-lhe todos os seus bens.
5 Desde o momento em que José tomou o governo de sua casa e de todos os seus bens, o Senhor abençoou a casa do egípcio, por causa de José: a bênção do Senhor desceu sobre tudo o que lhe pertencia, na casa como nos campos.
6 Ele entregou todos os seus negócios a José, sem mais se preocupar de coisa alguma, exceto do que se alimentava. Ora, José era belo de corpo e de rosto.
7 E aconteceu, depois de tudo isto, que a mulher de seu senhor lançou seus olhos em José e disse-lhe: “Dorme comigo.”
8 Mas ele recusou: “Meu senhor, disse-lhe ele, não me pede conta alguma do que se faz na casa, e confiou-me todos os seus bens.
9 Não há maior do que eu nesta casa; ele nada me interdisse, exceto tu, que és sua mulher. Como poderia eu cometer um tão grande crime e pecar contra Deus?”
10 Em vão se esforçava ela todos os dias, falando a José; ele não consentia em dormir com ela e unir-se a ela.
11 Certo dia, tendo ele entrado na casa para fazer seus serviços, e não se encontrando ali ninguém da casa,
12 ela segurou-o pelo manto, dizendo: “Dorme comigo!” Mas José, largando-lhe o manto nas mãos, fugiu.
13 Vendo a mulher que ele lhe tinha deixado o manto nas mãos e fugido,
14 chamou a gente de sua casa e disse-lhes: “Vede: trouxeram-nos este hebreu para a casa a fim de que ele abuse de nós. Este homem veio-me procurar para dormir comigo, mas eu gritei.
15 E vendo que eu me punha a gritar, deixou seu manto ao meu lado e fugiu.”
16 E guardou junto de si as vestes de José até a volta de seu senhor.
17 E fez-lhe a mesma narrativa: “O escravo hebreu, disse ela, que nos trouxeste, veio à minha procura para abusar de mim.
18 Mas, pondo-me a gritar, deixou o seu manto ao meu lado e fugiu.”
19 Ao ouvir isto de sua mulher, contando-lhe como se tinha comportado com ela o seu servo, ele enfureceu-se,
20 e lançou José na prisão, onde se encontravam detidos os prisioneiros do rei. E José foi encarcerado.
21 O Senhor estava com ele. Mostrou-lhe sua bondade e fez que ele conquistasse a simpatia do chefe da prisão.
22 Este confiou a José todos o presos que ali se encontravam, e nada se fazia sem sua ordem.
23 O chefe da prisão não fiscalizava nada do que fazia José, porque o Senhor estava com ele e fazia-lhe prosperar tudo o que empreendia.
40 1 Depois disto, aconteceu que o copeiro e o padeiro do rei do Egito ofenderam o seu senhor.
2 O faraó, encolerizado contra os seus dois oficiais, o copeiro-mor e o padeiro-mor,
3 mandou-os encarcerar na casa do chefe da guarda, na prisão onde se encontrava detido José.
4 O chefe da guarda associou-lhes José para os servir. Havia já um certo tempo que estavam detidos,
5 quando os dois prisioneiros, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, tiveram um sonho numa mesma noite, cada um o seu, com seu sentido particular.
6 Quando José voltou junto deles no dia seguinte pela manhã, viu que estavam tristes.
7 Perguntou então aos oficiais do faraó, detidos com ele na casa do seu senhor: “Por que tendes hoje um ar sombrio?”
8 “Tivemos um sonho, responderam; e não há ninguém para no-los interpretar.” “Porventura, não pertence a Deus, replicou José, a interpretação dos sonhos? Rogo-vos que mos conteis.”
9 E o copeiro-mor contou seu sonho a José: “Em meu sonho, disse ele, vi uma cepa que estava diante de mim,
10 e nesta cepa três varas, que pareciam brotar; saiu uma flor e seus cachos deram uvas maduras.
11 Eu tinha na mão a taça do faraó; tomei as uvas e espremi-as na taça, que entreguei na mão do faraó.”
12 José disse-lhe: “Eis o significado do teu sonho: as três varas são três dias.
13 Dentro de três dias, o faraó te reabilitará em tuas funções. Apresentarás ao faraó sua taça, como o fazias antes, quando eras seu copeiro.
14 Quando fores feliz, lembra-te de mim e faze-me o favor de recomendar-me ao faraó, para que ele me tire desta prisão.
15 Porque é por um rapto que fui tirado da terra dos hebreus, e aqui, igualmente, eu nada fiz para merecer a prisão.”
16 O padeiro-mor, vendo que José tinha dado uma boa interpretação, disse-lhe: “Eu também, em meu sonho, levava sobre minha cabeça três cestas de pão branco.
17 Nada de cima, havia toda a sorte de manjares para o faraó; mas as aves do céu comiam-nas na cesta que estava sobre minha cabeça.”
18 “Eis, disse José, o que isto significa: as três cestas são três dias.
19 Dentro de três dias, o faraó levantará a tua cabeça: ele te suspenderá numa forca, e as aves devorarão a tua carne.”
20 No terceiro dia, celebrava-se o aniversário natalício do faraó, e ele ofereceu um banquete todo o seu pessoal. Ele levantou a cabeça do copeiro-mor, no meio de todos os seus servos:
21 restabeleceu no seu cargo o copeiro-mor, que apresentou novamente a taça ao faraó,
22 e mandou suspender no patíbulo o padeiro-mor, segundo a interpretação que José lhes havia dado.
23 Mas o copeiro-mor não pensou mais em José; esqueceu-o.
41 1 Dois anos depois, o faraó teve um sonho: encontrava-se ele perto do Nilo,
2 de onde saíram sete vacas belas e gordas, que se puseram a pastar a verdura.
3 Mas, eis que saíram em seguida do mesmo Nilo sete outras vacas, feias e magras, que vieram e se puseram ao lado das outras na margem do rio.
4 As vacas feias e magras devoraram as sete vacas belas e gordas. E o faraó despertou.
5 Adormeceu de novo e teve outro sonho: sete espigas grossas e belas saíam de uma mesma haste.
6 Mas eis que em seguida germinaram sete outras espigas, magras e ressequidas pelo vento do oriente.
7 E as espigas magras devoraram as sete espigas grossas e cheias. E o faraó despertou: era um sonho.
8 Chegada a manhã, o faraó com o espírito preocupado, mandou chamar todos os mágicos e sábios do Egito. Contou-lhes seus sonhos, mas nenhum deles soube explicá-los.
9 Então o copeiro-mor disse-lhe: “Vou confessar a minha falta.
10 Um dia, tendo-se o faraó irado contra os seus servos, mandou-me meter na prisão em casa do chefe da guarda, com o padeiro-mor.
11 Eis que uma noite tivemos nós dois um sonho, cada um o seu.
12 Ora, estava lá conosco um jovem hebreu, escravo do chefe da guarda. Contamos-lhe nossos sonhos, e ele no-los interpretou, a cada um o seu.
13 E os acontecimentos confirmaram sua interpretação: eu fui restabelecido no meu cargo, e o outro foi pendurado.”
14 O faraó mandou chamar José, o qual foi, imediatamente, tirado do cárcere. Ele barbeou-se, trocou de roupas e apresentou-se diante do faraó.
15 Este disse-lhe: “Tive um sonho que ninguém pôde interpretar. Mas ouvi dizer de ti, que basta contar-te um sonho para que tu o expliques.”
16 “Não sou eu, respondeu José, mas é Deus quem dará ao faraó uma explicação favorável.”
17 O faraó disse então a José: “Em meu sonho, eu estava à margem do Nilo,
18 e eis que do Nilo saíram sete vacas gordas e belas, que se puseram a pastar a verdura.
19 E saíram em seguida sete outras vacas magras, feias e disformes, como jamais vi em todo o Egito.
20 As vacas magras e feias devoraram as sete primeiras, as gordas,
21 que entraram em seu ventre como se nada fossem, pois ficaram tão macilentas e feias como antes. Nesta altura despertei.
22 E tive outro sonho: vi elevar-se de uma mesma haste sete espigas cheias e belas.
23 Mas eis que sete outras espigas medíocres, finas e queimadas pelo vento do oriente, germinaram em seguida;
24 e as espigas magras engoliram as sete belas espigas. Em vão contei tudo isto aos mágicos; nenhum deles pôde dar-me a explicação”.
25 José disse ao faraó: “O (duplo) sonho do faraó reduz-se a um só. Deus revelou ao faraó o que ele vai fazer.
26 As sete belas vacas são sete anos, e as sete belas espigas, igualmente, sete anos; o sonho é um só.
27 As sete vacas magras e feias que saíram em seguida são também sete anos; e as sete espigas vazias e queimadas pelo vento do oriente serão sete anos de miséria.
28 É como eu disse ao faraó: Deus lhe revela o que vai fazer.
29 Haverá sete anos de grande abundância para todo o Egito.
30 Virão em seguida sete anos de miséria que farão esquecer toda a abundância no Egito. A fome devastará o país.
31 E a abundância do país não será mais notada, por causa da fome que se seguirá, porque será violenta.
32 Se o sonho se repetiu duas vezes ao faraó, é que a coisa está bem decretada da parte de Deus, que vai apressar-se em executá-la.
33 Agora, pois, escolha o rei um homem sábio e prudente para pô-lo à testa do país.
34 Nomeie também o faraó administradores no país, que recolham a quinta parte das colheitas do Egito, durante os sete anos de abundância.
35 Eles ajuntarão todos os produtos destes bons anos que vêm, e armazenarão o trigo nas cidades, à disposição do faraó como provisões a conservar.
36 Estes mantimentos formarão para o país uma reserva em previsão dos sete anos de fome que assolarão o Egito. Dessa forma o país não será arruinado pela fome.”
37 Essas palavras agradaram o faraó e toda a sua gente.
38 “Poderíamos, disse-lhes ele, encontrar um homem que tenha, tanto como este, o espírito de Deus?”
39 E disse em seguida a José: “Pois que Deus te revelou tudo isto, não haverá ninguém tão prudente e tão sábio como tu.
40 Tu mesmo serás posto à frente de toda a minha casa, e todo o meu povo obedecerá à tua palavra: só o trono me fará maior do que tu.”
41 “Vês, disse-lhe ainda, eis que te ponho à testa de todo o Egito.”
42 E o faraó, tirando o anel de sua mão, pôs na mão de José; e o fez revestir-se de vestes de linho fino e meteu-lhe ao pescoço um colar de ouro.
43 E, fazendo-o montar no segundo dos seus carros, mandou que se clamasse diante dele: “Ajoelhai-vos!” É assim que ele foi posto à frente de todo o Egito,
44 e o faraó disse-lhe: “Sou eu o faraó: sem tua permissão não se moverá a mão nem o pé em toda a terra do Egito.”
45 O faraó chamou a José Tsafenat-Paneac, e deu-lhe por mulher Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On.
46 José tinha trinta anos quando se apresentou diante do faraó, o rei do Egito. Ele retirou-se da casa do faraó e percorreu todo o país.
47 A terra produziu abundantemente durante os sete anos de fertilidade.
48 José ajuntou todo o produto destes sete anos no Egito e os pôs em reserva nas cidades, e os mantimentos dos campos que estavam ao redor de cada cidade, guardou-os na mesma cidade.
49 José ajuntou trigo como a areia do mar, em tal quantidade que se não podia contar, pois que ela excedia a toda a medida.
50 Antes que viesse o ano de fome, nasceram a José dois filhos, que lhe deu Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On.
51 José chamou ao primeiro Manassés, “porque, dizia ele, Deus fez-me esquecer de todo o meu trabalho e de toda a minha família.”
52 Chamou ao segundo Efraim, “porque, disse ele, Deus tornou-me fecundo na terra de minha aflição.”
53 Tendo acabado os sete anos de abundância que houve no Egito,
54 os sete anos de miséria começaram, assim como o tinha predito José. A fome assolou todos os países, mas havia pão em toda a terra do Egito.
55 Em seguida houve fome também no Egito, e o povo clamou ao faraó pedindo pão. Este disse a todos os egípcios: “Ide a José, e fazei o que ele vos disser.”
56 Como a fome assolasse toda a terra, José abriu todos os celeiros e vendeu víveres aos egípcios. Mas a penúria cresceu no Egito.
57 E de toda a terra vinha-se ao Egito comprar trigo a José, porque a fome era violenta em toda a terra.
42 1 Jacó, sabendo que havia trigo no Egito, disse aos seus filhos: “Por que estais olhando uns para os outros?
2 Eu soube que há trigo no Egito. Descei lá e comprai-o para nós; poderemos assim viver e escaparemos à morte.”
3 E os dez irmãos de José desceram ao Egito para comprar trigo.
4 Jacó não deixou partir com seus irmãos Benjamim, irmão de José, “com medo, pensava ele, de que lhe acontecesse alguma desgraça.”
5 Os filhos de Israel chegaram, pois, no meio de uma multidão de outros para comprar víveres, porque a fome reinava na terra de Canaã.
6 José era o governador de toda a região, e era ele quem vendia o trigo a todo o mundo. Desde sua chegada, os irmãos de José prostraram-se diante dele com o rosto por terra.
7 José reconheceu-os imediatamente, mas, comportando-se com eles como um estrangeiro, disse-lhes com rudeza: “Donde vindes?” “Da terra de Canaã, responderam eles, para comprar víveres.”
8 Foi assim que José reconheceu a seus irmãos, mas eles não o reconheceram.
9 E lembrava-se dos sonhos que tivera outrora a respeito deles; disse-lhes: “Vós sois espiões: viestes explorar os pontos fracos do país.”
10 “Não, meu senhor, responderam, teus servos vieram comprar víveres.
11 Somos todos filhos dum mesmo pai, somos gente honesta; teus servos não são espiões.”
12 “Não é verdade –, disse-lhes ele, viestes explorar os pontos fracos do país.”
13 Eles responderam: “Somos doze irmãos, filhos dum mesmo pai, na terra de Canaã. O mais novo está agora em casa de nosso pai, o outro já não existe.”
14 José disse-lhes: “É bem como eu disse: sois espiões.
15 Sereis, aliás, postos à prova: pela vida do faraó, não saireis daqui antes que tenha vindo vosso irmão mais novo.
16 Mandai um de vós buscá-lo; enquanto isso, ficareis prisioneiros. Vossas palavras serão assim provadas, e veremos se dissestes a verdade. Do contrário, pela vida do faraó, sois espiões!”
17 E mandou metê-los numa prisão durante três dias.
18 No terceiro dia, José disse-lhes: “Fazei isto, e vivereis, porque sou cheio do temor a Deus.
19 Se sois gente de bem, que um dentre vós fique detido em prisão; e os outros partam levando o trigo para alimentar vossas famílias.
20 Trazei-me então vosso irmão mais novo, para que eu possa verificar a verdade de vossas palavras, e não morrereis.” Foi o que fizeram.
21 Disseram uns aos outros: “Em verdade, expiamos o crime cometido contra o nosso irmão, porque víamos a angústia de sua alma quando ele nos suplicava, e não o escutamos! Eis por que veio sobre nós esta desgraça!”
22 “Não vos tinha eu dito, disse-lhes Rubem, para não pecardes contra o menino? Não quisestes ouvir-me, e eis agora que nos é reclamado o seu sangue!”
23 Ora, não sabiam que José os compreendia, porque lhes tinha falado por meio de um intérprete.
24 E José afastou-se deles para chorar. Voltou em seguida e falou-lhes; e escolheu Simeão, ao qual mandou prender na presença deles.
25 José ordenou depois que se enchessem de trigo os seus sacos, e que se pusesse o dinheiro de cada um em seu saco de viagem, e também que se lhes dessem provisões para o caminho: assim foi feito.
26 Eles carregaram o trigo sobre os seus jumentos e partiram.
27 Na estalagem, abrindo um deles o seu saco para dar de comer ao seu jumento, viu que o seu dinheiro estava na boca do saco.
28 “Devolveram-me o meu dinheiro, disse ele aos seus irmãos; ei-lo aqui no meu saco!” Desfaleceu-se-lhes o coração, e, tomados de espanto, disseram uns aos outros: “Que é isto que Deus nos fez?”
29 Voltaram para junto de Jacó, seu pai, na terra de Canaã, e contaram-lhe nestes termos tudo o que lhes tinha acontecido:
30 “O homem que governa o país nos falou asperamente e nos tomou por espiões.
31 Dissemos-lhe que éramos gente honesta, e não espiões;
32 que éramos doze irmãos, filhos dum mesmo pai, dos quais um já não existia mais, e o mais novo estava no momento com nosso pai, na terra de Canaã.
33 O governador do país disse-nos: por isso reconhecerei se sois gente de bem: deixai junto de mim um de vossos irmãos, levai o trigo que precisais para alimentar vossas famílias, e parti.
34 Conduzir-me-eis então vosso irmão mais novo: assim saberei que não sois espiões, mas gente honesta. Eu vos devolverei então vosso irmão, e podereis negociar no país.”
35 E, esvaziando os seus sacos, eis que o pacote de dinheiro de cada um se encontrava em seu saco. Quando eles e seu pai viram seu dinheiro, tiveram medo.
36 Jacó disse-lhes: “Vós me tirais os meus filhos! José já não existe, Simeão tampouco, e quereis me tomar ainda Benjamim! Tudo vem cair sobre mim!”
37 Rubem disse-lhe: “Tira a vida aos meus dois filhos, se eu não te reconduzir Benjamim! Confia-o a mim: eu to reconduzirei.”
38 “Meu filho, tornou Jacó, não descerá convosco, porque seu irmão morreu, e só resta ele. Se lhe acontecesse um acidente nesta viagem que ides fazer, faríeis descer os meus cabelos brancos à habitação dos mortos, sob o peso da dor.”
43 1 A fome pesava sobre o país.
2 E tendo acabado o trigo trazido do Egito, o pai disse aos seus filhos: “Voltai e comprai-nos um pouco de víveres.”
3 Judá respondeu-lhe: “Aquele homem nos declarou formalmente que não voltássemos à sua presença sem levar conosco nosso irmão.
4 Se mandas nosso irmão conosco, desceremos para comprar víveres.
5 Mas, se o não deixas ir, não desceremos, porque ele nos disse: Não sereis admitidos em minha presença, se vosso irmão não estiver convosco.”
6 Israel disse: “Por que me fizestes este mal, dando-lhe a conhecer que tínheis ainda um irmão?”
7 “Aquele homem, responderam eles, perguntou por nós e por nossa família, e quis saber se nosso pai vivia ainda, se tínhamos outro irmão; e respondemos às suas perguntas. Podíamos, porventura, adivinhar que ele nos ia mandar levar a ele o nosso irmão?”
8 E Judá disse a Israel, seu pai: “Deixa partir o menino comigo, e pôr-nos-emos a caminho para essa viagem. Desse modo poderemos viver, e escaparemos à morte, nós, tu e nossos filhinhos.
9 Eu respondo por ele: é de mim que tu o reclamarás. Se eu não to reconduzir e não o recolocar diante de ti, serei eternamente culpado diante de ti.
10 Se não tivéssemos demorado tanto, certamente já pela segunda vez estaríamos de volta.”
11 “Se assim é, disse-lhes Israel, seu pai, tomai em vossas bagagens os melhores produtos da terra, e levai-os como presente a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, resina, ládano, nozes de pistácia e amêndoas.
12 Levai também convosco o dinheiro em dobro para restituir a soma que encontrastes na boca dos sacos, certamente por engano.
13 Tomai vosso irmão, parti e ide ter com esse homem.
14 Que o Deus todo-poderoso vos faça ganhar os favores desse homem, a fim de que ele deixe voltar vosso irmão, juntamente com Benjamim. Quanto a mim, se devo ser privado de meus filhos, paciência, que eu seja privado deles!”
15 Tomaram, pois, consigo o presente e uma soma dobrada de dinheiro, assim como Benjamim, e partiram para o Egito. E apresentaram-se a José.
16 José, vendo-os e com eles Benjamim, disse ao seu intendente: “Faze entrar estes homens na casa, mata um animal, e prepara-o, pois comerão comigo ao meio-dia.”
17 Fez o intendente como José tinha dito: introduziu-os na casa de José.
18 Vendo isto, ficaram amedrontados: “É, diziam eles, por causa do dinheiro, encontrado da outra vez nos nossos sacos, que nos conduzem aqui. Vão-nos assaltar, cair sobre nós, escravizar-nos e apoderar-se de nossos jumentos.”
19 Então, aproximando-se do intendente da casa de José, falaram-lhe à entrada da casa:
20 “Desculpa, meu senhor, disseram eles, viemos já uma vez comprar víveres.
21 Quando chegamos à estalagem e abrimos nossos sacos, o dinheiro de cada um se encontrava na boca de seu saco: era o peso exato do dinheiro. Tornamos a trazê-lo conosco;
22 e trazemos, ao mesmo tempo, outro dinheiro para comprar víveres. Não sabemos quem tenha metido nosso dinheiro em nossos sacos.”
23 “Ficai tranqüilos, respondeu-lhes ele, nada temais. É o vosso Deus, o Deus de vossos pais, quem vos pôs um tesouro em vossos sacos; o vosso dinheiro me foi entregue.” Depois trouxe-lhes Simeão.
24 Fê-los em seguida entrar na casa de José, deu-lhes água para lavarem os pés e forragem para os seus jumentos.
25 E, enquanto esperavam por José, que devia voltar ao meio-dia, preparavam o seu presente, pois foi-lhes anunciado que comeriam em casa dele.
26 Logo que José entrou em casa, ofereceram-lhe os presentes que tinham trazido, prostrando-se diante dele até a terra.
27 Ele perguntou pela saúde deles e ajuntou: “Vosso velho pai, do qual me falastes, vai bem? Ainda vive?”
28 “Teu servo, nosso pai, está passando bem; e vive ainda”, responderam-lhe inclinando-se até o solo.
29 Então, levantando os olhos, José viu Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe. “É este, disse ele, vosso irmão mais novo do qual me falastes?” E ajuntou: “Que Deus te faça misericórdia, meu filho!”
30 E retirou-se precipitadamente, porque suas entranhas se tinham comovido por causa de seu irmão, e tinha vontade de chorar; entrou em seu quarto e deu livre curso às lágrimas.
31 Depois de ter lavado o rosto saiu e, procurando dominar-se, disse: “Servi a mesa”.
32 Serviu-se-lhe à parte, seus irmãos também à parte, e igualmente à parte os egípcios, seus comensais, porque lhes é proibido comer com hebreus; isto é para eles uma coisa abominável.
33 Os irmãos de José foram colocados diante dele, desde o mais velho até o mais novo, segundo sua idade, o que lhes fez olhar uns para os outros assombrados.
34 José mandou que se lhes trouxessem porções de sua própria mesa, e a parte de Benjamim foi cinco vezes maior que a dos outros. Eles beberam e alegraram-se com ele.
44 1 José deu esta ordem ao intendente de sua casa: “Enche de víveres os sacos destes homens tanto quanto possam conter, e põe o dinheiro de cada um na boca do saco.
2 Porás minha taça de prata na boca do saco do mais novo, com o preço do seu trigo”. E fez o intendente como José lhe mandara.
3 De manhã, ao romper do dia, foram despedidos com seus jumentos.
4 Deixaram a cidade, mas, não tendo ido ainda muito longe, José disse ao seu intendente: “Levanta-te e persegue estes homens e, quando os tiveres alcançado, dir-lhes-ás: Por que pagastes o bem com o mal?
5 (A taça que roubastes) é aquela em que bebe o meu senhor e da qual se serve para suas adivinhações. Fizestes muito mal.”
6 O intendente, tendo-os alcançado, falou-lhes desse modo.
7 Eles responderam-lhe: “Por que fala assim o meu senhor? Longe de teus servos a idéia de fazerem semelhante coisa!
8 Nós te trouxemos de Canaã o dinheiro que tínhamos encontrado na boca dos sacos. Por que, pois, haveríamos de roubar prata ou ouro na casa de teu senhor?
9 Que aquele dos teus servos com quem for encontrada a taça morra, e, ao mesmo tempo, nós nos tornemos escravos do meu senhor”.
10 “Está bem! disse-lhes ele. Seja como dissestes! Aquele com quem for encontrada a taça será meu escravo. Vós outros sereis livres.”
11 E, imediatamente, pôs cada um o seu saco por terra e o abriu.
12 O intendente revistou-os começando pelo mais velho e acabando pelo mais novo; e a taça foi encontrada no saco de Benjamim.
13 Eles rasgaram suas vestes e, tendo cada um carregado de novo o seu jumento, voltaram para a cidade.
14 Judá e seus irmãos entraram em casa de José, que estava ainda em sua casa, e prostraram-se por terra diante dele.
15 José disse-lhes: “Que é isso que fizestes? Não sabíeis que sou um homem dotado da faculdade de adivinhar?”
16 Judá respondeu: “Que podemos dizer a meu senhor? Que falaremos? Como nos justificar? Deus descobriu o crime de teus servos. Somos os escravos do meu senhor, nós e aquele junto de quem foi encontrada a taça.”
17 “Longe de mim, replicou José, o pensamento de agir dessa forma! Mas aquele em poder de quem foi encontrada a taça, esse será o meu escravo. Vós outros, voltai em paz para junto de vosso pai.”
18 Então Judá adiantou-se e disse a José: “Rogo-te, meu senhor, que permitas ao teu servo dizer uma palavra aos ouvidos do meu senhor, e não se acenda a tua ira contra o teu servo, porque tu és como o próprio faraó.
19 Meu senhor havia perguntado aos seus servos: Tendes ainda vosso pai? Tendes um irmão?
20 E nós havíamos respondido ao meu senhor que tínhamos um velho pai e um irmãozinho, filho de sua velhice, do qual o irmão havia morrido; e que, como ele foi deixado o único de sua mãe, seu pai o amava.
21 Disseste aos teus servos: Trazei-o para junto de mim, a fim de que o veja com meus olhos.
22 Havíamos respondido ao meu senhor que o menino não podia abandonar o seu pai, pois, se o fizesse, seu pai morreria.
23 E disseste aos teus servos: Se vosso irmãozinho não vier convosco, não sereis admitidos na minha presença.
24 Quando voltamos para a casa do teu servo, nosso pai, referimos-lhe as palavras do meu senhor.
25 E, quando nosso pai nos mandou voltar para comprar alguns víveres,
26 respondemos-lhe: Não podemos descer. Mas, se nosso irmão mais novo nos acompanhar, fá-lo-emos, pois que não seremos admitidos na presença do governador, se nosso irmão não for conosco.
27 Teu servo, nosso pai, nos replicou: Sabeis que minha mulher me deu dois filhos.
28 Um desapareceu de minha casa, e eu disse: Certamente foi devorado. E não mais o revi até hoje.
29 Se me tirais ainda este, e lhe acontecer alguma desgraça, fareis descer os meus cabelos brancos à habitação dos mortos, sob o peso da dor.
30 Se agora volto para junto de teu servo, meu pai, sem levar conosco o menino, ele, cuja vida está ligada à do menino,
31 desde que notar que ele não está conosco, morrerá. E teus servos terão feito descer à habitação dos mortos, sob o peso da aflição, os cabelos brancos do teu servo, nosso pai.
32 Ora, o teu servo respondeu pelo menino junto de meu pai; e disse-lhe que, se ele não lho reconduzisse, seria eternamente culpado para com seu pai.
33 Rogo-te, pois: aceita que teu servo fique escravo de meu senhor em lugar do menino, para que este possa voltar com seus irmãos.
34 Como poderia eu apresentar-me diante do meu pai, se o menino não for comigo? Oh, eu não poderia suportar a dor que sobreviria a meu pai!”
45 1 Então José, já não se podendo conter diante de todos os assistentes, exclamou: “Fazei sair todo o mundo.” Desse modo, ninguém ficou com ele, quando se deu a conhecer aos seus irmãos.
2 Pôs-se a chorar tão alto que os egípcios da casa do faraó o ouviram.
3 E disse aos seus irmãos: “Eu sou José! Meu pai vive ainda?” Mas não lhe puderam responder, porque estavam pasmados de se encontrar diante dele.
4 “Aproximai-vos”, disse-lhes ele; e eles aproximaram-se. E ele disse-lhes: “Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito.
5 Mas agora não vos entristeçais, nem tenhais remorsos de me ter vendido para ser conduzido aqui. É para vos conservar a vida que Deus me enviou adiante de vós.
6 Porque eis já dois anos que a fome assola a terra, e haverá ainda cinco anos sem amanho nem colheita.
7 Deus enviou-me adiante de vós para que subsista um resto de vossa raça na terra, e para vos conservar a vida por uma grande libertação.
8 Não sois vós, pois, que me haveis mandado para aqui, mas Deus mesmo. Ele tornou-me como o pai do faraó, chefe de toda a sua casa e governador de todo o Egito.
9 Apressai-vos em voltar para junto de meu pai e dizei-lhe: Eis o que diz o teu filho José: Deus elevou-me ao cargo de chefe de todo o Egito. Vem para junto de mim sem demora.
10 Habitarás na terra de Gessém, bem perto de mim, com teus filhos, teus netos, tuas ovelhas, teus bois e tudo o que te pertence.
11 Eu te sustentarei, pois haverá ainda cinco anos de fome; e assim não cairás na miséria, nem tu, nem tua casa, nem nada do que te pertence.
12 Vereis com vossos olhos, e meu irmão Benjamim também, que sou bem eu quem vos fala.
13 Contai ao meu pai as honras que recebo no Egito, e tudo o que vistes, e depois apressai-o para que venha para cá.”
14 Então ele jogou-se ao pescoço de seu irmão Benjamim e pôs-se a chorar; Benjamim também chorou sobre os seus ombros.
15 Beijou em seguida a todos os seus irmãos, chorando sobre eles, e puseram-se todos a conversar com ele.
16 A notícia da chegada dos irmãos de José espalhou-se logo na casa do faraó, e foi bem acolhida pelo faraó e por todo o seu pessoal.
17 Ele disse a José: “Dize a teus irmãos: Eis o que ides fazer: carregai vossos animais e voltai à terra de Canaã.
18 Tomai vosso pai e vossas famílias e vinde para junto de mim. Dar-vos-ei o que há de melhor no Egito e vos alimentarei com a gordura da terra.
19 Encarrego-te de dizer-lhes: Eis o que ides fazer: Tomai carros no Egito para vossos filhos e vossas mulheres, trazei vosso pai e vinde!
20 Não façais caso do que tereis de deixar, porque o que há de melhor em todo o Egito é vosso.”
21 Assim fizeram os filhos de Israel. Seguindo a ordem do faraó, José deu-lhes carros e provisões para o caminho.
22 Deu-lhes também a todos mudas de roupas; a Benjamim, porém, deu trezentas moedas de prata e cinco mudas de roupas.
23 Mandou, igualmente, ao seu pai dez jumentos carregados dos melhores produtos do Egito e dez jumentas carregadas de trigo, pão e provisões para sua viagem.
24 E, despedindo seus irmãos que partiam, disse-lhes: “Não alterqueis pelo caminho.”
25 Partiram do Egito e chegaram junto de Jacó, seu pai, na terra de Canaã.
26 E anunciaram-lhe a boa nova: “José vive ainda, disseram-lhe eles; e é mesmo ele quem governa todo o Egito.” Mas o coração de Jacó permaneceu frio, porque não acreditava no que ouvia.
27 Entretanto, quando lhe disseram todas as palavras que José lhes havia dito, e viu os carros que José tinha enviado para o transportar, seu espírito se reanimou.
28 “Basta! disse ele; José, meu filho, vive ainda. Irei e o verei antes de morrer.”
46 1 Israel partiu com tudo o que lhe pertencia. Chegou a Bersabéia, onde ofereceu sacrifícios ao Deus de seu pai Isaac.
2 Em uma visão noturna Deus disse-lhe: “Jacó! Jacó!” “Eis-me aqui”, respondeu ele.
3 E Deus disse: “Eu sou Deus, o Deus de teu pai. Não temas descer ao Egito, porque ali farei de ti uma grande nação.
4 Descerei contigo ao Egito, e eu mesmo te farei de novo subir de lá. José fechar-te-á os olhos.”
5 E Jacó deixou Bersabéia. Os filhos de Israel levaram seu pai, assim como seus filhos e suas mulheres, nos carros que o faraó tinha enviado para os transportar.
6 Tomaram também seus rebanhos e os bens que tinham adquirido na terra de Canaã,
7 e Jacó com toda a sua família partiu para o Egito. Levou consigo os seus filhos e seus netos, suas filhas e suas netas, enfim, toda a sua família.
8 Eis os nomes dos filhos de Israel que foram para o Egito: Jacó e seus filhos.
9 O primogênito de Jacó: Rubem. Os filhos de Rubem: Henoc, Falu, Esron e Carmi.
10 Os filhos de Simeão: Jamuel, Jamin, Aod, Jaquim, Soar, e Saul, filho da Cananéia.
11 Os filhos de Levi: Gerson, Gaat e Merari.
12 Os filhos de Judá: Her, Onã, Sela, Farés e Zara. Her e Onã, porém, morreram em Canaã. Os filhos de Farés: Hesron e Hamul.
13 Os filhos de Issacar: Tola, Fua, Jó e Semron.
14 Os filhos de Zabulon: Sared, Elon e Jaelel.
15 São estes os filhos que Lia deu a Jacó em Padã-Arã, assim como sua filha Dina. Total de seus filhos e filhas: trinta e três pessoas.
16 Os filhos de Gad: Sefion, Hagi, Suni, Esebon, Heri, Arodi e Areli.
17 Os filhos de Aser: Jamné, Jesua, Jessui e Beria, assim como sua irmã Sara. Os filhos de Beria: Heber e Melquiel.
18 São estes os filhos que Zelfa, dada por Labão à sua filha Lia, deu à luz a Jacó: dezesseis pessoas.
19 Filhos de Raquel, mulher de Jacó: José e Benjamim.
20 No Egito José tivera de Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On, Manassés e Efraim.
21 Os filhos de Benjamim: Bela, Bocor, Asbel, Gera, Naamã, Equi, Ros, Mofim, Ofim e Ared.
22 São estes os filhos que Raquel deu a Jacó. Total: quatorze pessoas.
23 Filho de Dan: Husim.
24 Filhos de Neftali: Jasier, Guni, Jeser e Salém.
25 São estes os filhos que Bala, dada por Labão à sua filha Raquel, deu à luz a Jacó. Total: sete pessoas.
26 O total das pessoas saídas de Jacó, que vieram com ele para o Egito, sem contar as mulheres de seus filhos, era de setenta ao todo.
27 José teve dois filhos nascidos no Egito. O total das pessoas da família de Jacó que foram para o Egito era de setenta.
28 Jacó tinha enviado Judá adiante dele para informar a José de sua chegada a Gessém. Quando chegaram a Gessém,
29 José mandou preparar o seu carro e montou para ir ao encontro de seu pai em Gessém. E, logo que o viu, jogou-se ao seu pescoço e chorou longo tempo em seus braços.
30 “Agora posso morrer, disse-lhe Israel, porque vi o teu rosto, e vives ainda!”
31 José disse aos seus irmãos: “Vou avisar o faraó, dizendo: Meus irmãos e a família de meu pai que estavam em Canaã, vieram para junto de mim;
32 os homens são pastores, criadores de animais, e trouxeram suas ovelhas e seus bois com tudo o que lhes pertence.
33 Quando o faraó mandar chamar-vos e vos perguntar qual é vossa profissão,
34 responder-lhe-eis: Teus servos foram sempre criadores de animais, desde sua juventude até o presente, e nossos pais também. Desse modo podereis ficar na terra de Gessém, porque os egípcios têm aversão aos pastores.”
Genèse (SAV) 39