Isaïe (SAV) 38
38 1 Naquele tempo, Ezequias esteve doente, quase à morte. O profeta Isaías, filho de Amós, veio ter com ele e lhe disse: Eis o que disse o Senhor: põe em ordem a tua casa porque vais morrer, não te restabelecerás.
2 Então Ezequias voltou-se para a parede e se pôs a orar ao Senhor;
3 Senhor, disse ele, lembrai-vos de que tenho andado diante de vós com lealdade, de todo o coração, segundo a vossa vontade. E chorava abundantemente.
4 Depois a palavra do Senhor foi dirigida a Isaías nestes termos:
5 Vai dizer a Ezequias: eis o que diz o Senhor, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi tua oração e vi tuas lágrimas, prolongarei tua vida por quinze anos,
6 livrar-te-ei, a ti e a esta cidade, das mãos do rei da Assíria. Protegerei esta cidade.
7 E eis o sinal, da parte do Senhor, para convencer-te de que cumprirá a promessa:
8 farei a sombra recuar os dez graus que o sol já lhe fez descer no relógio solar de Acaz. E o sol voltou dez graus para trás.
9 Poema composto por Ezequias, rei de Judá, quando esteve doente e se restabeleceu.
10 Eu dizia: É necessário, pois, que eu me vá, no apogeu de minha vida. Serei encerrado por detrás das portas da habitação dos mortos, durante os anos que me restariam a viver.
11 Eu dizia: Não verei mais o Senhor na terra dos viventes. Não verei mais a luz entre os habitantes do mundo.
12 Arrancam as estacas de meu abrigo, arrebatam-me como uma tenda de pastores. Como um tecelão, enrolam a tela de minha vida, depois cortam-lhe o laço. Dia e noite estou desamparado,
13 e grito até o amanhecer. Como um leão, quebram-me todos os ossos.
14 Como a andorinha, dou gritos agudos e gemo como a pomba. Meus olhos se cansam de olhar para o alto. Senhor, estou em agonia, socorrei-me.
15 Para que falar assim? Que dizer-lhe, uma vez que é ele mesmo quem assim o faz? O tempo que me resta eu o arrasto, vivendo em amargura.
16 Restituí-me a saúde, fazei-me reviver.
17 Eis que meu sofrimento se mudou em conforto; vós preservastes minha vida do túmulo onde se apodrece, e lançastes para trás de vós todos os meus pecados.
18 Com efeito, não é a morada dos mortos que vos louvará, nem a morte que vos celebrará. O que desce à sepultura não espera mais em vossa bondade.
19 Quem está vivo, somente quem está vivo pode louvar-vos, como eu o faço hoje. O pai dá a conhecer a seus filhos vossa fidelidade, diante da casa do Senhor.
20 Senhor, dignai-vos a nos salvar, e nós faremos soar a corda de nossos instrumentos todos os dias de nossa vida,
21 Isaías disse então: Que tragam um cataplasma de figos para aplicar sobre a úlcera, e Ezequias sarará.
22 Ezequias disse: Que sinal me garantirá que eu tornarei ao templo do Senhor?
39 1 Nessa mesma época, o rei de Babilônia, Merodac-Baladã, enviou a Ezequias embaixadores levando uma mensagem e presentes, porque soubera da doença e do restabelecimento do rei.
2 Ezequias sentiu-se lisonjeado e os fez visitar os tesouros de seu palácio: a baixela de prata e ouro, os perfumes, os ungüentos preciosos, assim como seu arsenal e todos os seus depósitos. Nada houve em seu palácio e em todos os seus domínios que Ezequias não lhes mostrasse.
3 Então o profeta Isaías veio visitar o rei Ezequias e lhe disse: Que disseram esses homens, e de onde vieram eles para fazer-te visita? Vieram ver-me de longe, de Babilônia, respondeu Ezequias.
4 E que visitaram eles em tua casa?, replicou Isaías. Viram tudo o que se encontra em meu palácio, respondeu Ezequias; nada há em meus tesouros que eu não lhes tenha mostrado.
5 Então Isaías disse a Ezequias; Escuta a, palavra do Senhor dos exércitos!
6 Aproxima-se o tempo em que se levará para Babilônia tudo aquilo que há em teu palácio, tudo o que acumularam os teus pais até este dia. Nada ficará, declara o Senhor.
7 Tomarão até os teus próprios filhos, que geraste, para fazer deles eunucos no palácio do rei de Babilônia.
8 Ezequias respondeu a Isaías: A sentença do Senhor, que acabas de proferir, é justa. Pois dizia a si mesmo: Ao menos terei paz e segurança enquanto viver.
40 1 Consolai, consolar meu povo, diz vosso Deus.
2 Animai Jerusalém, dizei-lhe bem alto que suas lidas estão terminadas, que sua falta está expiada, que recebeu, da mão do Senhor, pena dupla por todos os seus pecados.
3 Uma voz exclama: Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus.
4 Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas: que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas!
5 Então a glória do Senhor manifestar-se-á; todas as criaturas juntas apreciarão o esplendor, porque a boca do Senhor o prometeu.
6 Clama!, disse uma voz, e eu respondi: Que clamarei? Toda criatura é como a erva e toda a sua glória como a flor dos campos!
7 A erva seca e a flor fenece quando o sopro do Senhor passa sobre elas. (Verdadeiramente o povo é semelhante à erva.)
8 A erva seca e a flor fenece, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente.
9 Subi a uma alta montanha, para anunciar a boa nova a Sião. Elevai com força a voz, para anunciar a boa nova a Jerusalém. Elevai a voz sem receio, dizei às cidades de Judá: Eis vosso Deus!
10 Eis o Senhor Deus que vem com poder, estendendo os braços soberanamente. Eis com ele o preço de sua vitória; faz-se preceder pelos frutos de sua conquista;
11 como um pastor, vai apascentar seu rebanho, reunir os animais dispersos, carregar os cordeiros nas dobras de seu manto, conduzir lentamente as ovelhas que amamentam.
12 Quem, pois, mediu o mar no côncavo da mão, quem com seus dedos abertos mediu os céus? Quem com o alqueire mediu a matéria terrestre, pesou as montanhas no gancho, e as colinas na balança?
13 Quem determinou o espírito do Senhor, e que conselheiro lhe deu lições?
14 De quem recebeu conselho para julgar bem, para que se lhe indique o caminho da justiça, (se lhe ensine a ciência) e se lhe mostre a via mais prudente?
15 As nações são para ele apenas uma gota de água num balde, um grão de areia na balança; as ilhas não pesam mais que o pó,
16 o Líbano não bastaria para o braseiro de seu altar, nem seus animais para os holocaustos.
17 Todas as nações juntas nada são diante dele: a seus olhos são como que inexistentes.
18 A quem poderíeis comparar Deus, e que imagem dele poderíeis oferecer?
19 Um artesão funde uma estátua, o ourives, a placa de ouro, e faz derreter as correntinhas de prata. (4l,6) Prestam-se assistência mútua, dizem um ao outro: Coragem! (4l,7) O fundidor estimula o ourives, e o malhador, o ferreiro: A solda é boa, diz. Ele a reforça com rebites para que não oscile.
20 Aquele que deseja esculpir uma imagem, escolhe madeira que não apodrece; põe-se à procura de um operário hábil, a fim de assentar uma estátua que não oscile.
21 Não o sabíeis? Não o aprendestes? Não vos ensinaram desde a origem? Não compreendestes nada da fundação da terra?
22 Aquele que domina acima do disco terrestre, cujos habitantes vê como se fossem gafanhotos, aquele que estende os céus como um véu de gaze, e como tenda os desdobra para aí se abrigar,
23 reduz os príncipes a nada, e faz desaparecer os governantes da terra;
24 apenas estejam plantados, apenas sejam semeados, apenas seu talo tenha lançado raízes no solo, sopra sobre eles e os resseca, e o turbilhão os varre como palha.
25 A quem então poderíeis comparar-me, que possa ser a mim igualado?, diz o Santo.
26 Levantai os olhos para o céu e olhai. Quem criou todos esses astros? Aquele que faz marchar o exército completo, e a todos chama pelo nome, o qual é tão rico de força e dotado de poder, que ninguém falta ao seu chamado.
27 Por que dizer-te então, ó Jacó, por que repetir, ó Israel: Escapa meu destino ao Senhor, passa meu direito despercebido a meu Deus?
28 Não o sabes? Não o aprendeste? O Senhor é um Deus eterno. Ele cria os confins da terra, sem jamais fatigar-se nem aborrecer-se; ninguém pode sondar sua sabedoria.
29 Dá forças ao homem acabrunhado, redobra o vigor do fraco.
30 Até os adolescentes podem esgotar-se, e jovens robustos podem cambalear,
31 mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar.
41 1 Ilhas, silenciai para me ouvir, e que os povos renovem suas forças. Que venham tomar a palavra, e pleitear comigo sua causa!
2 Quem suscitou do Oriente aquele cujos passos são acompanhados de vitórias? Quem pôs então as nações à sua mercê, e fez cair diante dele os reis? Sua espada os reduz a pó, seu arco os dispersa como se fossem palha.
3 Persegue-os e passa invulnerável, sem mesmo tocar com seus pés o caminho.
4 Quem, pois, realizou essas coisas? Aquele que desde a origem chama as gerações à vida: eu, o Senhor, que sou o primeiro - e que estarei ainda com os últimos.
5 À sua vista as ilhas são presas de temor, e os confins da terra tremem. (Que se apresentem e venham).
8 Mas tu, Israel, meu servo, Jacó que escolhi, raça de Abraão, meu amigo,
9 tu, que eu trouxe dos confins da terra, e que fiz vir do fim do mundo, e a quem eu disse: Tu és meu servo, eu te escolhi, e não te rejeitei;
10 nada temas, porque estou contigo, não lances olhares desesperados, pois eu sou teu Deus; eu te fortaleço e venho em teu socorro, eu te amparo com minha destra vitoriosa.
11 Vão ficar envergonhados e confusos todos aqueles que se revoltaram contra ti; serão aniquilados e destruídos aqueles que te contradizem;
12 em vão os procurarás, não mais encontrarás aqueles que lutam contra ti; serão destruídos e reduzidos a nada aqueles que te combatem.
13 Pois eu, o Senhor, teu Deus, eu te seguro pela mão e te digo: Nada temas, eu venho em teu auxílio.
14 Portanto, nada de medo, Jacó, pobre vermezinho, Israel, mísero inseto. Sou eu quem venho em teu auxílio, diz o Senhor, teu Redentor é o Santo de Israel.
15 Vou fazer de ti um trenó triturador, novinho, eriçado de pontas: calcarás e esmagarás as montanhas, picarás miúdo as colinas como a palha do trigo.
16 Tu as joeirarás e o vento as carregará; o turbilhão as espalhará; entretanto, graças ao Senhor, alegrar-te-ás, gloriar-te-ás no Santo de Israel.
17 Os infelizes que buscam água e não a encontram e cuja língua está ressequida pela sede, eu, o Senhor, os atenderei, eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.
18 Sobre os planaltos desnudos, farei correr água, e brotar fontes no fundo dos vales. Transformarei o deserto em lagos, e a terra árida em fontes.
19 Plantarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras; farei crescer nas estepes o cipreste, ao lado do olmo e do buxo,
20 a fim de que saibam à evidência, e pela observação compreendam, que foi a mão do Senhor que fez essas coisas, e o Santo de Israel quem as realizou.
21 Pleiteai vossa causa, diz o Senhor; fazei valer vossos argumentos, diz o rei de Jacó.
22 Que se apresentem e nos predigam o que vai acontecer. Do passado ou do que souberam predizer, a que tenhamos dado atenção? Ou então anunciai-nos o futuro, para nos fazer conhecer o final.
23 Revelai o que acontecerá mais tarde, e admitiremos que vós sois deuses. Fazei qualquer coisa a fim de que nos possamos medir!
24 Mas nada sois, vossa obra é nula, afeiçoar-se a vós é abominável.
25 Eu o fiz surgir do norte e ele vem, do oriente, chamei-o pelo nome; ele calca aos pés os príncipes como lama, qual o oleiro quando amassa o barro.
26 Quem o havia predito para nos prevenir, quem o havia anunciado, para que se diga: É exato? Ninguém o declarou, ninguém o avisou, ninguém ouviu vossos oráculos.
27 Eu sou o primeiro que disse a Sião: Ei-los, e enviei a Jerusalém a boa nova.
28 Entre eles não encontrei ninguém, ninguém que soubesse dar um aviso. Pergunto-lhes: De onde vem ele? Não respondem.
29 Pois bem, todos eles nada são, suas obras são nulas. Suas estátuas, vazias como o vento.
42 1 Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião.
2 Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas.
3 Não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião; não desanimará, nem desfalecerá,
4 até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que as ilhas desejem seus ensinamentos.
5 Eis o que diz o Senhor Deus que criou os céus e os desdobrou, que firmou a terra e toda a sua vegetação, que dá respiração a seus habitantes, e o sopro vital àqueles que pisam o solo:
6 Eu, o Senhor, chamei-te realmente, eu te segurei pela mão, eu te formei e designei para ser a aliança com os povos, a luz das nações;
7 para abrir os olhos aos cegos, para tirar do cárcere os prisioneiros e da prisão aqueles que vivem nas trevas.
8 Eu sou o Senhor, esse é meu nome, a ninguém cederei minha glória, nem a ídolos minha honra.
9 Realizaram-se os primeiros acontecimentos anunciados, eu predigo outros; antes que aconteçam, eu vo-los faço conhecer.
10 Cantai ao Senhor um cântico novo, do fim do mundo entoai seus louvores; que o mar o celebre com tudo o que contém, assim como as ilhas com seus habitantes!
11 Que o deserto e suas vilas elevem a voz, assim como os acampamentos onde habita Cedar! Que os povos de Sela clamem alegremente, que do alto das montanhas lancem suas aclamações!
12 Que dêem glória ao Senhor e espalhem seu louvor pelas ilhas!
13 Tal como um herói, o Senhor avança; como um guerreiro, ele desperta seu ardor; lança seu grito de guerra, como um herói que afronta seus inimigos.
14 Muito tempo guardei o silêncio, permaneci mudo e me contive. Mas agora grito, como mulher nas dores do parto; minha respiração se precipita.
15 Vou devastar montanhas e colinas, secar toda a vegetação, transformar os cursos de água em terras áridas, e fazer secar os tanques.
16 Aos cegos farei seguir um caminho desconhecido, por atalhos desconhecidos eu os encaminharei; mudarei diante deles a escuridão em luz, e as veredas pedregosas em estradas planas. Todas essas maravilhas, eu as realizarei, não deixarei de executá-las.
17 Retrocederão, cheios de vergonha, aqueles que se fiam nos ídolos, e que dizem às estátuas fundidas: Sois nosso Deus.
18 Surdos, ouvi, cegos, olhai e vede!
19 Quem é cego, senão meu servo, e surdo como o mensageiro que envio? (Quem é cego como o meu mensageiro e surdo como o servo do Senhor?)
20 Vistes muitas coisas sem lhes dar atenção, tivestes os ouvidos abertos sem escutar.
21 O Senhor quer, por causa de sua justiça, publicar uma lei grande e magnífica.
22 Todavia é um povo saqueado e despojado, todos foram acorrentados nos cárceres, fizeram-nos desaparecer nas prisões; são expostos à pilhagem sem que ninguém os livre, despojam-nos, e ninguém lhes faz restituir.
23 Quem dentre vós prestará atenção a essas coisas? Quem as ouvirá pensando no futuro?
24 Quem então entregou Jacó aos saqueadores, Israel aos depredadores? (Não é o Senhor contra quem pecamos, cujas vias não quiseram seguir, nem respeitar suas ordens).
25 Então despejou sobre eles sua cólera, e as violências da guerra; esta os envolveu de chamas sem que se apercebessem, e os consumiu sem que dessem atenção.
43 1 E agora, eis o que diz o Senhor, aquele que te criou, Jacó, e te formou, Israel: Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu.
2 Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá.
3 Pois eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, teu salvador. Dou o Egito por teu resgate, a Etiópia e Sabá em compensação.
4 Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo, permuto reinos por ti, entrego nações em troca de ti.
5 Fica, tranqüilo, pois estou contigo, do oriente trarei tua raça, e do ocidente eu te reunirei.
6 Devolve-os!, direi ao setentrião e ao meio-dia: Não os retenhas! Traze meus filhos das longínquas paragens, e minhas filhas dos confins da terra;
7 todos aqueles que trazem meu nome, e que criei para minha glória.
8 Fazei comparecer o povo cego apesar de ter olhos, e os surdos que têm ouvidos!
9 Que todas as nações se congreguem e que os povos se reúnam! Quem dentre eles soube predizer o que se passa, e foi o primeiro que no-lo fez saber? Que apresentem suas testemunhas para justificar suas pretensões, que sejam ouvidas para que se possa dizer: É exato.
10 Vós sois minhas testemunhas, diz o Senhor, e meus servos que eu escolhi, a fim de que se reconheça e que me acreditem e que se compreenda que sou eu. Nenhum deus foi formado antes de mim, e não haverá outros depois de mim.
11 Fui eu, sou eu o Senhor, não há outro salvador a não ser eu.
12 Sou eu quem predisse e salvei, e não um deus estranho entre vós. Vós sois minhas testemunhas, diz o Senhor, eu sou Deus
13 desde toda a eternidade. Ninguém poderia escapar de minha mão; quando executo, quem poderia destruir minha obra?
14 Eis o que diz o Senhor, vosso Redentor, o Santo de Israel: Por vossa causa, envio a Babilônia, a fim de fazer cair os ferrolhos dos cárceres, e os caldeus lamentar-se-ão em altos brados.
15 Eu sou o Senhor, vosso Santo, o criador de Israel, vosso rei.
16 Eis o que diz o Senhor que abriu uma passagem através do mar, um caminho em meio às ondas,
17 que pôs em campo carros e cavalos, a tropa de soldados e chefes: eles caíram então para nunca mais se levantar; Extinguiram-se como um pavio de vela.
18 Não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas,
19 porque eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe.
20 Dar-me-ão glória os animais selvagens, os chacais e as avestruzes, pois terei feito jorrar água no deserto, e correr arroios na estepe, para saciar a sede de meu povo, meu eleito;
21 o povo, que formei para mim, contará meus feitos.
22 No entanto, não foste tu que me chamaste, Jacó, tu não te fatigaste por mim, Israel.
23 Não me ofereceste carneiros em holocausto, nem me honraste com sacrifícios; não cobrei de ti um pesado imposto em oblações, nem te sobrecarreguei exigindo incenso.
24 Não me compraste, a preço alto, cana perfumada, nem me fartaste com a gordura das vítimas. Mas me atormentaste com teus pecados, cansaste-me com tuas iniqüidades.
25 Sempre sou eu quem deve apagar tuas faltas, e não mais me lembrar de teus pecados.
26 Refresca tua memória e discutamos: apresenta tuas contas, para te justificar!
27 Já teu primeiro pai pecou, teus representantes me ofenderam,
28 teus príncipes profanaram meu santuário. Então entreguei Jacó ao anátema e Israel às injúrias.
44 1 Agora escuta, Jacó, meu servo, Israel, a quem escolhi.
2 Eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o seio materno e te socorreu: nada temas, Jacó, meu servo, meu Israel, a quem escolhi!
3 Porque derramarei água sobre o solo sequioso, fá-la-ei correr sobre a terra árida, derramarei meu espírito sobre tua posteridade, e minha bênção sobre teus rebentos.
4 Crescerão como a vegetação irrigada, como os álamos à beira dos arroios.
5 Um dirá: Eu sou do Senhor, outro reclamará para si o nome de Jacó, um terceiro escreverá na sua mão: Ao Senhor, e receberá o cognome de Israel.
6 Eis o que diz o Senhor, o rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro e o último, não há outro Deus afora eu.
7 Quem é igual a mim? Que venha sustentar suas pretensões! Que prove e pleiteie contra mim! Quem anunciou o futuro, desde a origem? Que nos predigam o que deve ainda acontecer! Não tenhais medo então, e não tremais!
8 Não vos tenho esclarecido desde há muito tempo? Vós sois minhas testemunhas: existe outro Deus a não ser eu? Haverá outro rochedo além de mim?
9 Os fabricantes de ídolos nada são e suas preciosas obras nada valem; para confusão deles, suas testemunhas não sabem ver nem compreender.
10 Aquele que quer modelar um deus, funde uma estátua que não servirá para nada.
11 Seus fiéis ficarão decepcionados e seus operários são apenas homens. Que todos se congreguem e compareçam. Ficarão assustados e decepcionados.
12 O ferreiro manipula o formão e trabalha no forno; talha o ídolo com golpes de martelo; modela-o com mão vigorosa; mas tem fome, sente-se esgotado, tem sede, está extenuado.
13 O escultor em madeira estica o cordel, traça o esquema a lápis, desbasta a imagem com o cinzel, mede-a com o compasso; dá-lhe forma humana, fá-la um belo tipo de homem, para colocá-la numa casa.
14 Vai cortar madeira, apanha um roble ou um carvalho que tinham deixado crescer entre as árvores da floresta que o Senhor havia plantado, e que a chuva havia feito crescer.
15 Depois faz com a madeira um fogo, e leva-o para se aquecer; queima-a também para cozer o pão; enfim serve-se dela para fabricar um ídolo diante do qual se prosterna.
16 Queima a metade de sua madeira, sobre a brasa assa a carne, come esse assado até fartar-se. Então aquece-se e diz: Como é bom sentir o calor e admirar a chama!
17 Com a sobra faz um deus, um ídolo diante do qual se prostra para adorá-lo e orar dizendo: Salva-me, tu és meu deus.
18 Falta bom senso e juízo a essa gente; têm os olhos tão fechados que não vêem, seus corações não podem compreender.
19 Ninguém reflete nem tem bom senso e inteligência para se dizer: Queimei metade, cozi pão sobre a brasa, aí assei a carne que comi e iria eu fazer do resto um ídolo miserável? Prostrar-me-ia diante de um pedaço de madeira?
20 Este homem se nutre de cinzas, seu coração desabusado o desencaminha, ele não consegue salvar-se nem dizer: Não será um logro o que tenho nas mãos?
21 Lembra-te dessas coisas, Jacó! (Recorda-te), Israel, que tu és meu servo. Eu te formei, tu és meu servo, Israel, não posso esquecer-te.
22 Fiz desaparecer tuas iniqüidades como uma nuvem, e teus pecados como uma neblina: volve a mim, porque te resgatei.
23 Céus, regozijai-vos, pois o Senhor agiu: Ressoai de alegria, profundezas da terra! Explodi de alegria, ó montanhas! E tu também, floresta, com todas as tuas árvores, porque o Senhor resgatou Jacó, e manifestou sua glória em Israel.
24 Eis o que diz o Senhor, teu Redentor, que te formou desde o seio de tua mãe: Sou eu, o Senhor, que fiz todas as coisas, sozinho estendi os céus. Firmei a terra: quem estava comigo?
25 Confundo os sinais dos falsos profetas, faço delirar os adivinhos, faço voltar atrás os sábios, e transformo sua sabedoria em loucura.
26 Mantenho a palavra de meus servos, cumpro o que predizem meus enviados; digo que Jerusalém deve ser reabitada. Que as cidades de Judá devem ser reedificadas. Delas reerguerei as ruínas.
27 Digo ao abismo: Seca-te, vou estancar tuas torrentes.
28 Digo de Ciro: É meu pastor, executará em tudo a minha vontade. Falando de Jerusalém: Que seja reedificada! E do templo: Que seja reconstruído!
45 1 Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, que ele levou pela mão para derrubar as nações diante dele, para desatar o cinto dos reis, para abrir-lhe as portas, a fim de que nenhuma lhe fique fechada:
2 Irei eu mesmo diante de ti, aplainando as montanhas, arrebentando os batentes de bronze, arrancando os ferrolhos de ferro.
3 Dar-te-ei os tesouros enterrados e as riquezas escondidas, para mostrar-te que sou eu o Senhor, aquele que te chama pelo teu nome, o Deus de Israel.
4 É por amor de meu servo, Jacó, e de Israel que escolhi, que te chamei pelo teu nome, com títulos de honra, se bem que não me conhecesses.
5 Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias,
6 a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival;
7 formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas.
8 Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso.
9 Ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: Que fazes? Acaso diz a obra ao operário: És incompetente?
10 Ai daquele que ousa dizer a seu pai: Por que me geraste? E à sua mãe: Por que me concebeste?
11 Eis o que diz o Senhor, o Santo de Israel e seu criador: Pretendeis pedir-me conta do futuro, ditar-me um modo de agir?
12 Fui eu quem fez a terra, e a povoou de homens; foram minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército.
13 Fui eu quem, na minha justiça, suscitou Ciro, e quem por toda parte lhe aplaina o caminho; e é ele quem fará reedificar minha cidade e libertar meus deportados, sem recompensa nem dádivas, diz o Senhor dos exércitos.
14 Eis o que diz o Senhor: os pobres do Egito, os traficantes da Etiópia, os de elevada estatura de Sabaim, passarão para a tua terra e serão teus, servir-te-ão e desfilarão acorrentados, prostrar-se-ão diante de ti e te implorarão: Deus só se encontra em tua morada, não tem rival algum, os outros deuses não existem.
15 Verdadeiramente um Deus se esconde em tua casa, o Deus de Israel, um Deus que salva!
16 Ficarão envergonhados e confusos todos aqueles que se lhe opuseram; ignominiosamente retirar-se-ão os fabricantes de ídolos.
17 Israel obterá do Senhor uma salvação eterna, sem confusão nem vergonha, até o fim dos tempos.
18 Eis o que diz o Senhor que criou os céus, ele, o único Deus que formou a terra e a estabilizou, que não a criou para que seja um caos, mas a organizou para que nela se viva: eu sou o Senhor, e não tenho rival.
19 Não tenho falado às escondidas, nem numa terra tenebrosa. Não disse à raça de Jacó: Procurai-me no caos, eu, o Senhor, digo, a verdade, e me manifesto com toda a franqueza.
20 Vinde, reuni-vos todos, aproximai-vos, vós que fostes salvos dentre as nações! Nada disso compreendem aqueles que trazem seu ídolo de madeira, aqueles que oram a um deus impotente para salvar.
21 Fazei valer vossos argumentos, consultai-vos uns aos outros: quem havia predito o que se passa, quem o tinha anunciado desde longa data? Não fui eu, o Senhor, e nenhum outro? Não há Deus fora de mim.
22 Volvei-vos para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e sou o único,
23 juro-o por mim mesmo! A verdade sai de minha boca, minha palavra jamais será revogada: todo joelho deve dobrar-se diante de mim, toda língua deve jurar por mim,
24 dizendo: É só no Senhor que se encontra a vitória e a força. A ele virão envergonhados todos aqueles que se tinham levantado contra ele;
25 mas toda a raça de Israel achará no Senhor o triunfo e a glória.
46 1 Bel cai, Nebo desmorona. Suas estátuas são carregadas em lombo de mula, fazem delas o fardo de animais exaustos.
2 Desmoronam todos e desabam; incapazes de salvar aqueles que os carregam, vão eles mesmos ao cativeiro.
3 Ouvi-me, casa de Jacó, e vós, sobreviventes da casa de Israel, que eu carreguei desde vosso nascimento e sustentei desde o seio materno:
4 permanecerei o mesmo até vossa velhice, sustentar-vos-ei até o tempo dos cabelos brancos; eu vos carregarei como já carreguei, cuidarei de vós e preservar-vos-ei;
5 a quem podereis comparar-me ou igualar-me? Quem poreis em paralelo comigo, que me seja igual?
6 Eis os que desembolsam seu ouro, e pesam a prata na balança; contratam um ourives para que ele faça um deus, diante do qual se prostram em adoração;
7 eles o carregam nos ombros e o transportam, depois o colocam em seu posto, onde se mantém, sem mais poder mover-se. Por mais que o invoquem, nunca responde, e não salva do infortúnio;
8 lembrai-vos disso, sede razoáveis, e entrai em vós mesmos, pecadores.
9 Recordai-vos do que se passou outrora. Só eu sou Deus, e não há nenhum outro, eu sou Deus e ninguém me é semelhante.
10 Desde o princípio eu predisse o futuro, anuncio antecipadamente o que ainda não se cumpriu. Meu plano realizar-se-á, executarei todas as minhas vontades.
11 Chamo do oriente uma ave de rapina, de uma terra longínqua o homem de meus desígnios. O que disse, executarei; o que concebi, realizarei.
12 Escutai-me, homens desanimados, que vos julgais longe da salvação!
13 Faço aproximar-se a salvação que prometi; ela não está longe: e a libertação que predisse não tardará. Darei a vitória a Sião, e minha glória a Israel.
47 1 Desce de teu trono, agacha-te ao solo, virgem, filha de Babilônia; assenta-te no chão, sem trono, filha dos caldeus! Já não serás chamada a delicada e a voluptuosa.
2 Toma a mó, vai moer a farinha, tira teu véu, arregaça teu vestido, descobre tuas pernas para passar os rios,
3 (descobre tua nudez, que se veja teu opróbrio). Vou exercer uma implacável vingança,
4 diz o nosso Redentor, que se intitula o Senhor dos exércitos, o Santo de Israel.
5 Senta-te em silêncio, mergulha na escuridão, filha dos caldeus, porque não mais te chamarão a soberana dos reinos.
6 Sem dúvida eu me havia irritado contra meu povo, profanei minha herança, entreguei-o nas tuas mãos; mas tu o trataste sem piedade, fizeste pesar duramente teu jugo sobre o ancião.
7 Tu te dizias: Eu serei sempre soberana perpétua. Sem refletir, não consideraste o fim.
8 Agora, portanto, ouve isto, voluptuosa, que reinas em segurança, que dizes em teu coração: Eu e nada mais que eu! Não conhecerei a viuvez, nem a perda de meus filhos.
9 Estas duas desgraças virão sobre ti num só dia: a perda de teus filhos e a viuvez te atormentarão ao mesmo tempo, a despeito de todos os teus sortilégios e teus poderosos encantos.
10 Tu te fiavas em tua malícia e dizias a ti mesma: Ninguém me vê! Mas tua habilidade e tua astúcia te desencaminharam a tal ponto que dizias em teu coração: Eu e nada a não ser eu!
11 Ora, uma calamidade virá sobre ti e não saberás conjurá-la; a catástrofe vai desabar sobre ti sem que possas impedi-la. Repentinamente alcançar-te-á uma ruína que não terás sabido evitar.
12 Agarra-te, portanto, a teus feitiços e à multidão de teus sortilégios, nos quais te esmeraste desde tua juventude! Talvez acharás uma receita eficaz para criar o terror.
13 Esbanjaste teus esforços entre tantos conselheiros. Que eles então se levantem e te salvem, aqueles que preparam o mapa do céu e observam os astros, que comunicam a cada mês como irão as coisas.
14 Ei-los como argueiros de palha que o fogo consumirá; não poderão escapar às investidas da chama. (Não será um braseiro onde se coze o pão, nem um fogo perto do qual se assenta).
15 Eis o que valerão teus feiticeiros que tens procurado consultar desde tua juventude. Eles fogem espavoridos, cada qual para seu lado, sem que nenhum venha em teu socorro.
48 1 Ouvi isto, casa de Jacó, vós, que tendes o nome de Israel, e que saístes das entranhas de Judá, vós, que jurais pelo nome do Senhor e que invocais o Deus de Israel, mas sem sinceridade nem retidão,
2 porque vós vos declarais da cidade santa, vós vos apoiais no Deus de Israel, cujo nome é o Senhor dos exércitos.
3 O que passou, eu predisse com muita antecipação; depois me pus à obra, e tudo se realizou.
4 Sabendo bem que és rígido, que tua cerviz tem músculos de ferro, e que tua fronte é de bronze,
5 eu te predisse os acontecimentos com muita antecedência, antes que acontecessem eu te preveni, para que não pudesses dizer: Foi meu ídolo quem os fez, foi minha estátua esculpida ou fundida quem os provocou.
6 Do que ouviste, vês a realização: não deves atestá-lo? Pois bem, vou revelar-te agora novos acontecimentos, ainda mantidos em segredo, e que tu não conheces.
7 Foram criados agora, e não antigamente; nunca até aqui ouviste falar disso, de maneira que não poderás dizer: Já o sabia.
8 Não, tu nada sabias, tu não o suspeitavas, eu não te havia feito ainda a confidência, porque sabia que eras desleal, chamado rebelde desde teu nascimento.
9 Eu continha minha cólera por minha honra, dominava-a, sem te ferir, por causa de minha glória.
10 Passei-te no cadinho como a prata, provei-te ao crisol da tribulação;
11 ajo unicamente preocupado com minha honra: como tolerar que se profane meu nome? A ninguém posso ceder minha glória.
12 Ouve-me, Jacó, e tu, Israel, que eu chamei! Sou sempre o mesmo, o primeiro, e sou também o último.
13 Foi minha mão que fundou a terra, e minha destra que estendeu os céus; quando os convoco, todos se apresentam.
14 Reuni-vos todos e escutai: quem dentre vós predisse esses acontecimentos? Aquele que o Senhor ama fará sua vontade contra Babilônia e a raça dos caldeus.
15 Eu mesmo falei e o chamei, eu o fiz vir e lhe dei feliz êxito.
16 Aproximai-vos de mim para ouvir isto: desde o início, nunca falei às escondidas, desde que a coisa existe, estou eu aí. (E agora o Senhor Deus com seu Espírito me envia).
17 Eis o que diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel: eu sou o Senhor teu Deus, que te dá lições salutares, que te conduz pelo caminho que deves seguir.
18 Ah! Se tivesses sido atento às minhas ordens! Teu bem-estar assemelhar-se-ia a um rio, e tua felicidade às ondas do mar;
19 tua posteridade seria como a areia, e teus descendentes, como os grãos de areia; nada poderia apagar nem abolir teu nome de diante de mim.
20 Saí de Babilônia, fugi da Caldéia! Proclamai a notícia com gritos de alegria, publicai-a até as extremidades do mundo. Dizei: o Senhor resgatou seu servo Jacó!
21 Não há sede para eles no deserto para onde os leva, porque faz brotar para eles água de um rochedo, fende as rochas para que as águas jorrem.
22 (Mas não há paz para os maus, diz o Senhor).
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Isaïe (SAV) 38