Audiências 2005-2013 4077

4 de Julho de 2007: São Basílio (1)

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Caros irmãos e irmãs

Hoje queremos recordar um dos grandes Padres da Igreja, São Basílio, definido pelos textos litúrgicos bizantinos um "luminar da Igreja". Foi um grande Bispo do século IV, para quem olha com admiração tanto a Igreja do Oriente como a do Ocidente pela santidade de vida, pela excelência da doutrina e pela síntese harmoniosa de dotes especulativos e práticos. Ele nasceu por volta de 330 numa família de santos, "verdadeira igreja doméstica", que vivia num clima de profunda fé. Completou os vários estudos com os melhores mestres de Atenas e de Constantinopla. Insatisfeito com os seus sucessos mundanos, e percebendo que tinha desperdiçado muito tempo nas vaidades, ele mesmo confessa: "Um dia, como que acordando de um sono profundo, dirigi-me para a admirável luz da verdade do Evangelho... e chorei sobre a minha vida miserável" (cf. Ep. 223, PG 32, 824a). Atraído por Cristo, começou a olhar para Ele e a ouvir somente Ele (cf. Moralia 80, 1: PG 31, 860bc). Com determinação dedicou-se à vida monástica na oração, na meditação das Sagradas Escrituras e dos escritos dos Padres da Igreja, e no exercício da caridade (cf. Epp.2 e 22), seguindo também o exemplo da irmã, Santa Macrina, que já vivia no ascetismo monástico. Depois foi ordenado sacerdote e enfim, em 370, Bispo de Cesareia da Capadócia, na actual Turquia.

Mediante a pregação e os escritos, desempenhou uma intensa actividade pastoral, teológica e literária. Com sábio equilíbrio, soube unir o serviço às almas e a dedicação à prece e à meditação na solidão. Valendo-se da sua experiência pessoal, favoreceu a fundação de muitas "irmandades" ou comunidades de cristãos consagrados a Deus, que visitava frequentemente (cf. Gregório Nazianzeno, Oratio 43, 29 in laudem Basilii: PG 36, 536b). Com a palavra e com os escritos, muitos dos quais chegaram até nós (cf. Regulae brevius tractatae, Proémio: PG 31, 1080ab), exortava-os a viver e a progredir na perfeição. Das suas obras hauriram também vários legisladores do monaquismo antigo, entre os quais São Bento, que considerava Basílio como o seu mestre (cf. Regula 73, 5). Na realidade, ele criou um monaquismo muito particular: não fechado à comunidade da Igreja local, mas aberto a ela. Os seus monges faziam parte da Igreja particular, eram o seu núcleo animador que, precedendo os outros fiéis no seguimento de Cristo e não só na fé, mostrava a firme adesão a Cristo o amor a Ele sobretudo nas obras de caridade. Estes monges, que tinham escolas e hospitais, estavam ao serviço dos pobres e mostraram assim a integridade da vida cristã. O Servo de Deus João Paulo II, falando do monaquismo, escreveu: "Muitos consideram que aquela estrutura principal da vida da Igreja que é o monaquismo foi posta, para todos os séculos, principalmente por São Basílio; ou que, pelo menos, não foi definida na sua natureza mais própria sem o seu contributo decisivo" (Carta Apostólica Patres Ecclesiae, 2).

Como Bispo e Pastor da sua vasta Diocese, Basílio preocupou-se constantemente pelas difíceis condições materiais em que viviam os fiéis; denunciou com firmeza os males; comprometeu-se a favor dos mais pobres e marginalizados; interveio também junto dos governantes para aliviar os sofrimentos da população, sobretudo em momentos de calamidade; vigiou pela liberdade da Igreja, opondo-se também aos poderosos para defender o direito de professar a verdadeira fé (cf. Gregório Nazianzeno, Oratio 43, 48-51 in laudem Basilii: PG 36, 557c-561c). De Deus, que é amor e caridade, Basílio deu um válido testemunho com a construção de vários albergues para os necessitados (cf. Basílio, EP 94, PG 32, 488bc), quase uma cidade da misericórdia, que dele recebeu o nome de Basilíada (cf. Sozomeno, Historia Eccl. 6, 34: PG 67, 1397a). Ela está nas origens das modernas instituições hospitalares de internação e de cuidado dos doentes.
Consciente de que "a liturgia é o ápice para o qual tende a acção da Igreja, e ao mesmo tempo a fonte da qual jorra toda a sua virtude" (Sacrosanctum concilium
SC 10) Basílio, embora sempre preocupado em realizar a caridade que é a prova da fé, foi também um sábio "reformador litúrgico" (cf. Gregório Nazianzeno, Oratio 43, 34 in laudem Basilii: PG 36, 541c). Com efeito, deixou-nos uma grande oração eucarística [ou anáfora], que dele recebe o nome, e deu um ordenamento fundamental à oração e à salmodia: pelo seu impulso o povo amou e conheceu os Salmos, e recitava-os também de noite (cf. Basílio, In Psalmum, 1-2: PG 29, 212a-213c). E assim vemos como a liturgia, a adoração, a oração com a Igreja e a caridade caminham juntas, condicionando-se reciprocamente.

Com zelo e coragem, Basílio soube opor-se aos hereges, que negavam que Jesus Cristo fosse Deus como o Pai (cf. Basílio , Ep. 9,3, PG 32, 272a; EP 52,1-3, PG 32, 392b-396a; Adv. Eunomium 1, 20: PG 29, 556c). Analogamente, contra aqueles que não aceitavam a divindade do Espírito Santo, ele afirmou que também o Espírito é Deus e "deve ser com o Pai e com o Filho igualmente numerado e glorificado" (cf. De Spiritu Sancto: SC 17bis, 348). Por isso, Basílio é um dos grandes Padres que formularam a doutrina sobre a Trindade: o único Deus, precisamente porque é amor, é um Deus em três Pessoas, que formam a unidade mais profunda que existe, a unidade divina.

No seu amor a Cristo e ao seu Evangelho, o grande Santo da Capadócia comprometeu-se também em recompor as divisões dentro da Igreja (cf. Epp. 70 e 243), empenhando-se para que todos se convertessem a Cristo e à sua Palavra (cf. De iudicio 4: PG 31, 660b-661a), força unificadora à qual todos os crentes devem obedecer (cf. ibid., 1-3: PG 31, 653a-656c).
Em conclusão, Basílio entregou-se completamente no serviço fiel à Igreja e no exercício multiforme do ministério episcopal. Segundo o programa por ele mesmo traçado, tornou-se "apóstolo e ministro de Cristo, dispensador dos mistérios de Deus, arauto do reino, modelo e regra de piedade, olho do corpo da Igreja, pastor das ovelhas de Cristo, médico piedoso, pai e sustento, cooperador de Deus, agricultor de Deus, construtor do templo de Deus" (cf. Moralia 80, 11-20: PG 31, 864b-868b).

Este é o programa que o santo Bispo entrega aos anunciadores da Palavra ontem e hoje um programa que ele mesmo se comprometeu generosamente a pôr em prática. Em 379 Basílio, não ainda cinquentenário, consumido pelos cansaços e pela ascese, retornou para Deus, "na esperança da vida eterna através de nosso Senhor Jesus Cristo" (De Baptismo 1, 2, 9). Ele era um homem que viveu verdadeiramente com o olhar fixo em Cristo. Era um homem do amor ao próximo. Cheio da esperança e da alegria da fé, Basílio mostra-nos como ser realmente cristãos.
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Saudações

A minha saudação amiga aos grupos de Gondomar, Guimarães, Lisboa, Lagos e Lamego, donde vem uma comunidade muito particular, que é o seu Seminário Maior diocesano: abençoado sejas pelos sacerdotes que preparaste para a Igreja ao longo dos teus cinquenta anos de existência! Mantém sempre vivo no teu seio o fogo da Eucaristia, para continuarem a sair da tua forja santos e sábios ministros de Deus. Possam formadores e alunos crescer diariamente na amizade com Jesus, Mestre e Senhor. Sobre vós e todos os peregrinos de língua portuguesa, desça a minha Bênção, que estendo aos familiares e benfeitores. Ide com Deus!

Mensagem em vista da Jornada Mundial da Juventude a realizar-se em Julho de 2008 em Sydney (Austrália)

Rumo a uma maravilhosa celebração da fé


Agora, o meu pensamento dirige-se para o Encontro Mundial dos Jovens, que terá lugar em Sydney, dentro de um ano. Aos jovens aqui presentes e a todos os jovens do mundo que estão a preparar-se para este jubiloso encontro de fé, quero agora dirigir em língua inglesa uma palavra de calorosa saudação e de vivo encorajamento:

Queridos jovens

Daqui a um ano encontrar-nos-emos para a Jornada Mundial da Juventude em Sydney! Quero encorajar-vos a preparar-vos bem para esta maravilhosa celebração da fé, que será vivida em companhia dos vossos bispos, sacerdotes, religiosos, líderes juvenis e uns dos outros. Entrai plenamente na vida das vossas paróquias e participai com entusiasmo nos eventos diocesanos! Deste modo, estareis espiritualmente preparados para experimentar novas interioridades de conhecimento de tudo aquilo em que acreditamos, quando nos reunirmos em Sydney no próximo mês de Julho.

"Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas Testemuhas até aos confins do mundo" (cf. Ac 1,8). Como sabeis, estas palavras de Jesus formam o tema da Jornada Mundial da Juventude de 2008. Como os Apóstolos se sentiram, ao ouvirem estas palavras, só podemos imaginar, mas sem dúvida a sua confusão foi temperada com um sentido de admiração e de ansiosa expectativa da vinda do Espírito. Unidos em oração com Maria e com os outros reunidos na Sala de Cima (cf. Ac 1,14), eles experimentaram o verdadeiro poder do Espírito,cuja presença transforma a incerteza, o medo e a divisão em propósito, esperança e comunhão.

Um sentido de admiração e de ansiosa expectativa descreve também como nos sentimos, ao preparar-nos para nos encontrar em Sydney. Para muitos de nós, será uma longa viagem. Contudo, a Austrália e o seu povo evocam imagens de calorosa hospitalidade e de maravilhosa beleza, de antiga história aborígena e de um grande número de vibrantes cidades e comunidades. Sei que as autoridades eclesiais e governamentais juntamente com numerosos jovens australianos, já estão a trabalhar arduamente para assegurar uma experiência extraordinária a todos nós. Transmito-lhes os meus sinceros agradecimentos.

A Jornada Mundial da Juventude é muito mais do que um acontecimento. É um período de profunda renovação espiritual, cujos frutos hão-de beneficiar toda a sociedade. Os jovens peregrinos estão cheios do desejo de rezar, de ser alimentados pela Palavra e pelo Sacramento, de ser transformados pelo Espírito Santo que ilumina a maravilha da alma humana e indica o caminho para ser "expressão e instrumento do amor que d'Ele dimana" (Deus caritas est ).

É este o amor o amor de Cristo ao qual o mundo aspira. Deste modo, sois chamados a "ser suas testemunhas". Alguns de vós tendes amigos com escassa motivação real nas suas vidas, talvez envolvidos numa busca fútil de experiências infinitamente novas. Levai-os também convosco para a Jornada Mundial da Juventude! Com efeito, observei que, contra a onda de secularismo, numerosos jovens estão a redescobrir a busca satisfatória da beleza, da bondade e da verdade autênticas. Através do vosso testemunho, vós podeis ajudá-los na sua procura do Espírito de Deus. Sede corajosos neste testemunho! Esforçai-vos em vista de propagar a luz orientadora de Cristo, que dá motivação a toda a vida, tornando possível para todos a alegria e a felicidade duradouras.

Meus queridos jovens, que o Senhor vos proteja a todos, até nos encontrarmos em Sydney.

Confiemos estas preparações a Nossa Senhora do Cruzeiro do Sul, Auxílio dos Cristãos. Oremos com Ela: "Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor".





1° de Agosto de 2007: São Basílio (2)

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Queridos irmãos e irmãs!

Depois destas três semanas de pausa, retomamos os nossos habituais encontros da quarta-feira. Hoje desejo simplesmente relacionar-me com a última catequese, que tinha como tema a vida e os escritos de São Basílio, Bispo na actual Turquia, na Ásia Menor, no IV século. A existência deste grande Santo e as suas obras são ricas de temas de reflexão e de ensinamentos válidos também para nós hoje.

Antes de tudo a chamada ao mistério de Deus, que permanece a referência mais significativa e vital para o homem. O Padre é "o princípio de tudo e a causa de ser do que existe, a raiz dos vivos" (Hom. 15, 2 de fide: PG 31, 465c), e sobretudo é "o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo" (Anaphora sancti Basilii). Remontando a Deus através das criaturas, nós, "tomamos consciência da sua bondade e da sua sabedoria" (Basílio, Contra Eunomium 1, 14; PG 29, 544b). O Filho é a "imagem da bondade do Pai e sigilo de forma igual a ele" (cf. Anaphora sancti Basilii). Com a sua obediência e com a sua paixão o Verbo encarnado realizou a missão de Redentor do homem (cf. Basílio, In Psalmum 48, 8: PG 29, 452ab; cf. também De Baptismo 1, 2:
SC 357,158).

Por fim, ele fala amplamente do Espírito Santo, ao qual dedicou um livro inteiro. Revela-nos que o Espírito anima a Igreja, a enche dos seus dons, a torna santa. A luz maravilhosa do mistério divino reflecte-se sobre o homem, imagem de Deus, e eleva a sua dignidade. Olhando para Cristo, compreende-se plenamente a dignidade do homem. Basílio exclama: "[Homem], consciencializa-te da tua grandeza considerando o preço derramado por ti: olha para o preço do teu resgate, e compreende a tua dignidade!" (In Psalmum 48, 8: PG 29, 452b). Em particular o cristão, vivendo em conformidade com o Evangelho, reconhece que os homens são todos irmãos entre eles; que a vida é uma administração dos bens recebidos de Deus, pelos quais cada um é responsável perante os outros, e quem é rico deve ser como um "executor das ordens de Deus benfeitor" (Hom. 6 de avaritia: PG 32, 1181-1196). Todos nos devemos ajudar, e cooperar como os membros de um corpo (Ep 203,3).

E ele, nas suas homilias, usou também palavras corajosas, fortes sobre este ponto. De facto, quem segundo o mandamento de Deus deseja amar o próximo como a si mesmo, "não deve possuir nada mais de quanto possui o seu próximo" (Hom. in divites: PG 31, 281b).

Em tempos de carestias e de calamidades, com palavras apaixonadas o Santo Bispo exortava os fiéis a "não se mostrarem mais cruéis que as feras..., apropriando-se do que é comum, e possuindo sozinhos o que é de todos" (Hom. tempore famis: PG 31, 325a). O pensamento profundo de Basílio sobressai bem nesta frase sugestiva: "Todas os necessitados olham para as nossas mãos, como nós próprios olhamos para as de Deus, quando estamos em necessidade". É muito apropriado o elogio feito por Gregório de Nazianzo, que depois da morte de Basílio disse: "Basílio persuadiu-nos de que nós, sendo homens, não devemos desprezar os homens, nem ultrajar Cristo, cabeça comum de todos, com a nossa desumanidade para com os homens; antes, nas desgraças dos outros, devemos beneficiar nós próprios, e fazer empréstimo a Deus da nossa misericórdia, porque temos necessidade de misericórdia" (Gregório Nazianzeno, Oratio 43, 63; PG 36, 580b). São palavras muito actuais. Vemos como São Basílio é realmente um dos Padres da Doutrina Social da Igreja.

Além disso, Basílio recorda-nos que para manter vivo em nós o amor a Deus e aos homens é necessária a Eucaristia, alimento adequado para os Baptizados, capaz de alimentar as novas energias derivantes do Baptismo (cf. De Baptismo 1, 3: SC 357,192). É motivo de imensa alegria poder participar na Eucaristia (Moralia 21, 3: PG 31, 741a), instituída "para conservar incessantemente a recordação daquele que morreu e ressuscitou por nós" (Moralia 80, 22: PG 31, 869b). A Eucaristia, imenso dom de Deus, tutela em cada um de nós a recordação do selo baptismal, e permite viver em plenitude e fidelidade a graça do Baptismo. Por isto o Santo Bispo recomenda a comunhão frequente, também quotidiana: "Comungar até todos os dias recebendo o santo corpo e sangue de Cristo é bom e útil; porque ele mesmo diz claramente: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue terá a vida eterna" (Jn 6,54). Portanto, quem duvidará de que comungar continuamente da vida não seja viver em plenitude?" (Ep 93, PG 32, 484b). A Eucaristia, em síntese, é-nos necessária para acolhermos em nós a verdadeira vida, a vida eterna (cf. Moralia 21, 1: PG 31, 737c).

Por fim, Basílio interessou-se naturalmente também daquela porção eleita do povo de Deus que são os jovens, o futuro da sociedade. A eles dirigiu um Discurso sobre o modo de tirar proveito da cultura pagã desse tempo. Com muito equilíbrio e abertura, ele reconhece que na literatura clássica, grega e latina, se encontram exemplos de virtude. Estes exemplos de vida recta podem ser úteis para o jovem cristão em busca da verdade, do modo recto de viver (cf. Ad Adolescentes 3). Por isso, é preciso tirar dos textos dos autores clássicos tudo o que é conveniente e conforme com a verdade: assim com atitude crítica e aberta de facto trata-se de um verdadeiro e próprio "discernimento" os jovens crescem em liberdade. Com a célebre imagem das abelhas, que tiram das flores apenas o que serve para o mel, Basílio recomenda: "Como as abelhas sabem tirar das flores o mel, diferenciando-se dos outros animais que se limitam a gozar do perfume e da cor das flores, assim também destes escritos... se pode obter algum proveito para o espírito. Devemos utilizar estes livros seguindo em tudo o exemplo das abelhas. Elas não vão indistintamente a todas as flores, nem sequer procuram tirar tudo das flores nas quais pousam, mas tiram só o que serve para a elaboração do mel, e deixam o resto. E nós, se formos sábios, tiraremos daqueles escritos o que se adapta a nós, e é conforme à verdade, e deixaremos o resto" (Ad Adolescentes 4). Basílio, sobretudo, recomenda aos jovens que cresçam nas virtudes, no recto modo de viver: "Enquanto os outros bens... passam deste para aquele como no jogo dos dados, só a virtude é um bem inalienável, e permanece durante a vida e depois da morte" (Ad Adolescentes 5).

Queridos irmãos e irmãs, parece-me que se pode dizer que este Padre de outrora fala também a nós e nos diz coisas importantes. Antes de tudo, esta participação atenta, crítica e criativa para a cultura de hoje. Depois, a responsabilidade social: este é um tempo no qual, num mundo globalizado, também os povos geograficamente distantes são realmente o nosso próximo. Portanto, a amizade com Cristo, o Deus com rosto humano. E, por fim, o conhecimento e o reconhecimento a Deus Criador, Pai de todos nós: só abertos a este Deus, Pai comum, podemos construir um mundo justo e um mundo fraterno.

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Saudações

Amados irmãos e irmãs

A catequese de hoje nos ajuda a reflectir sobre os escritos de São Basílio, com os quais esse Santo Doutor da Igreja pede a todos os cristãos um amor total e concreto por Deus e pelo próximo, manifestado por uma perfeita vida evangélica.

No ensejo destas reflexões, convido os peregrinos de língua portuguesa, mormente os portugueses aqui presentes de Évora, de Lisboa e de Matosinhos, que levem deste encontro, com a fé mais avivada, o empenho de dar testemunho d'Aquele que a si próprio se designou a Verdade, Jesus Cristo. E, em Seu nome, vos abençoo.

Saúdo o grupo de Escoteiros da Europa, que esta manhã com a sua presença pretendem reafirmar a sua participação eclesial, depois de ter renovado a promessa de escoteiros, que os compromete a realizar o próprio dever para com Deus e a servir os outros com generosidade. O meu pensamento dirige-se também a todos os escoteiros e guias do mundo, que renovam a sua promessa precisamente hoje, dia em que se celebra o centenário do início do escotismo. De facto, exactamente há cem anos, a 1 de Agosto de 1907, na Ilha de Brownsea teve início o primeiro campo de escotismo da história. Desejo de coração que o movimento educativo do escotismo, que surgiu da profunda intuição de Lord Robert Baden Powell, continue a produzir frutos fecundos de formação humana, espiritual e civil em todos os Países do mundo.

Na conclusão da Audiência geral, gostaria de ressaltar uma boa notícia relativa ao Iraque, que gerou uma explosão popular de alegria em todo o País. Refiro-me à vitória da Copa da Ásia por parte da Representação de futebol iraquiana. Trata-se de um sucesso histórico para o Iraque, que pela primeira vez se tornou campeão de futebol da Ásia. Fiquei felizmente impressionado com o entusiasmo que contagiou todos os habitantes, fazendo-os sair pelas estradas para festejar o acontecimento. Assim como chorei tantas vezes com os Iraquianos, nesta circunstância com eles rejubilo. Esta experiência de feliz partilha revela o desejo de um povo de ter uma vida normal e serena. Faço votos para que o acontecimento possa contribuir para realizar no Iraque, com o contributo de todos, um futuro de paz autêntica na liberdade e no respeito recíproco. Parabéns!





8 de Agosto de 2007: São Gregório Nazianzeno (1)

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Queridos irmãos e irmãs!

Na passada quarta-feira falei de um grande mestre da fé, o Padre da Igreja São Basílio. Hoje gostaria de falar do seu amigo Gregório de Nazianzeno, também ele, como Basílio, originário da Capadócia. Teólogo ilustre, orador e defensor da fé cristã no século IV, foi célebre pela sua eloquência, e teve também, como poeta, uma alma requintada e sensível.

Gregório nasceu de uma família nobre. A mãe consagrou-o a Deus desde o nascimento, que aconteceu por volta de 330. Depois da primeira educação familiar, frequentou as mais célebres escolas da sua época: primeiro foi a Cesareia da Capadócia, onde estreitou amizade com Basílio, futuro Bispo daquela cidade, e deteve-se em seguida noutras metrópoles do mundo antigo, como Alexandria do Egipto e sobretudo Atenas, onde encontrou de novo Basílio (cf. Oratio 14-24:
SC 384,146-180). Reevocando a sua amizade, Gregório escreverá mais tarde: "Então não só eu me sentia cheio de veneração pelo meu grande Basílio devido à seriedade dos seus costumes e à maturidade e sabedoria dos seus discursos, mas induzia a fazer o mesmo também a outros, que ainda não o conheciam... Guiava-nos a mesma ansiedade de saber... Esta era a nossa competição: não quem era o primeiro, mas quem permitisse ao outro de o ser. Parecia que tínhamos uma só alma em dois corpos" (Oratio 43, 16.20: SC 384,154-156 SC 384,164). São palavras que representam um pouco o auto-retrato desta alma nobre. Mas também se pode imaginar que este homem, que estava fortemente projectado para além dos valores terrenos, tenha sofrido muito pelas coisas deste mundo.

Tendo regressado a casa, Gregório recebeu o Baptismo e orientou-se para uma vida monástica: a solidão, a meditação filosófica e espiritual fascinavam-no. Ele mesmo escreverá: "Nada me parece maior do que isto: fazer calar os próprios sentidos, sair da carne do mundo, recolher-se em si mesmo, não se ocupar mais das coisas humanas, a não ser das que são estritamente necessárias; falar consigo mesmo e com Deus, levar uma vida que transcende as coisas visíveis; levar na alma imagens divinas sempre puras, sem misturar formas terrenas e erróneas; ser verdadeiramente um espelho imaculado de Deus e das coisas divinas, e tornar-se tal cada vez mais, tirando luz da luz...; gozar, na esperança presente, o bem futuro, e conversar com os anjos; ter já deixado a terra, mesmo estando na terra, transportado para o alto com o espírito" (Oratio 2, 7: SC 247,96).

Como escreve na sua autobiografia (cf. Carmina [historica] 2, 1, 11 De vita sua 340-349: PG 37, 1053), recebeu a ordenação presbiteral com uma certa resistência, porque sabia que depois teria que ser Pastor, ocupar-se dos outros, das suas coisas, e portanto já não podia recolher-se só na meditação. Contudo aceitou depois esta vocação e assumiu o ministério pastoral em total obediência, aceitando, como com frequência lhe aconteceu na sua vida, ser guiado pela Providência aonde não queria ir (cf. Jn 21,18). Em 371 o seu amigo Basílio, Bispo de Cesareia, contra o desejo do próprio Gregório, quis consagrá-lo Bispo de Sasima, uma Cidade extremamente importante da Capadócia. Mas ele, devido a várias dificuldades, nunca tomou posse dela e permaneceu na cidade de Nazianzo.

Por volta de 379, Gregório foi chamado a Constantinopla, a capital, para guiar a pequena comunidade católica fiel ao Concílio de Niceia e à fé trinitária. A maioria aderia ao contrário ao arianismo, que era "politicamente correcto" e considerado pelos imperadores útil sob o ponto de vista político. Deste modo ele encontrou-se em condições de minoria, circundado por hostilidades.

Na pequena igreja de Anastasis pronunciou cinco Discursos teológicos (Orationes 27-31: SC 250,70-343) precisamente para defender e tornar também inteligível a fé trinitária, a habilidade do raciocínio, que faz compreender realmente que esta é a lógica divina. E também o esplendor da forma os torna hoje fascinantes. Gregório recebeu, devido a estes discursos, o apelativo de "teólogo". Assim é chamado na Igreja ortodoxa: o "teólogo". E isto porque para ele a teologia não é uma reflexão meramente humana, ou muito menos apenas o fruto de especulações complicadas, mas deriva de uma vida de oração e de santidade, de um diálogo assíduo com Deus. E precisamente assim mostra à nossa razão a realidade de Deus, o mistério trinitário. No silêncio contemplativo, imbuído de admiração diante das maravilhas do mistério revelado, a alma acolhe a beleza e a glória divina.

Enquanto participava no segundo Concílio Ecuménico de 381, Gregório foi eleito Bispo de Constantinopla, e assumiu a presidência do Concílio. Mas desencadeou-se imediatamente contra ele uma grande oposição, e a situação tornou-se insustentável. Para uma alma tão sensível estas inimizades eram insuportáveis. Repetia-se o que Gregório já tinha lamentado anteriormente com palavras ardentes: "Dividimos Cristo, nós que tanto amávamos Deus e Cristo! Mentimos uns aos outros devido à Verdade, alimentámos sentimentos de ódio devido ao Amor, dividimo-nos uns dos outros!" (Oratio 6, 3: SC 405,128). Chega-se assim, num clima de tensão, à sua demissão. Na catedral apinhada Gregório pronunciou um discurso de despedida com grande afecto e dignidade (cf Oratio 42: SC 384,48-114). Concluía a sua fervorosa intervenção com estas palavras: "Adeus, grande cidade, amada por Cristo... Meus filhos, suplico-vos, guardai o depósito [da fé] que vos foi confiado (cf. 1Tm 6,20), recordai-vos dos meus sofrimentos (cf. Col 4,18). Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós" (cf. Oratio 42, 27: SC 384,112-114).

Regressou a Nazianzo, e por cerca de dois anos dedicou-se ao cuidado pastoral daquela comunidade cristã. Depois retirou-se definitivamente em solidão na vizinha Arianzo, a sua terra natal, dedicando-se ao estudo e à vida ascética. Nesse período compôs a maior parte da sua obra poética, sobretudo autobiográfica: o De vita sua, uma releitura em versos do próprio caminho humano e espiritual, um caminho exemplar de um cristão sofredor, de um homem de grande interioridade num mundo cheio de conflitos. É um homem que nos faz sentir a primazia de Deus e por isso fala também a nós, a este nosso mundo: sem Deus o homem perde a sua grandeza, sem Deus não há verdadeiro humanismo. Por isso, ouçamos esta voz e procuremos conhecer também nós o rosto de Deus. Numa das suas poesias escrevera, dirigindo-se a Deus: "Sê benigno, Tu, o Além de tudo" (Carmina [dogmatica] 1, 1, 29: PG 37, 508). E em 390 Deus acolheu nos seus braços este servo fiel, que com inteligência perspicaz tinha defendido nos escritos, e com tanto amor o tinha cantado nas suas poesias.


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Saudações

AmadosIrmãos e Irmãs

Saúdo com afeto e simpatia os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os que aqui se encontram provindos do Brasil e de Portugal, e invoco do Altíssimo abundantes dons que sirvam de estímulo para a sua vida cristã, ao conceder benevolamente minha Bênção Apostólica.

Recebo com prazer os peregrinos de língua francesa, particularmente os participantes na peregrinação organizada pelos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, o grupo de Mende, assim como os peregrinos vindos do Egipto. O Senhor vos ajude a crescer no conhecimento autêntico da sua pessoa, para o poderdes viver e testemunhar no meio dos vossos irmãos! Com a minha Bênção Apostólica.

Saúdo todos os visitantes e peregrinos de expressão inglesa, presentes nesta Audiência, inclusive os grupos vindos da Irlanda, de Israel, do Extremo Oriente e da América do Norte. Dou boas-vindas aos peregrinos que vieram até aqui de Da Nang, no Vietname. A paz e a alegria de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco e Deus abençoe todos vós!

Dou boas-vindas aos peregrinos polacos. Agradeço-vos a vossa proximidade espiritual e as orações segundo as intenções do Papa e da Igreja. A visita aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo reforce a vossa fé, vos encoraje a dar testemunho de Cristo e revive o espírito do amor fraterno. Deus vos abençoe, bem como os vossos entes queridos.

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de expressão italiana. Em particular, saúdo as Servas Paroquiais do Espírito Santo e as Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração, que celebram os respectivos Capítulos Gerais. Estimadas Irmãs, formulo-vos votos a fim de que continueis com entusiasmo o serviço que prestais ao Evangelho e à Igreja, e invoco sobre vós a ajuda do Senhor, para que possais trabalhar com maior fecundidade no âmbito da nova evangelização. Além disso, saúdo-vos a vós, Irmãs Franciscanas Elisabetinas "Bigie", que celebrais o VIII centenário de nascimento de Santa Isabel da Hungria. Possa esta próvida festa suscitar em cada uma de vós um renovado desejo de testemunhar em toda a parte o amor de Cristo por todas as pessoas humanas, especialmente pelos mais frágeis, na esteira do vosso fundador, Beato Ludovico de Casoria. Agora, saúdo-vos a vós, queridos Seminaristas provenientes dos Seminários Maiores de várias Dioceses italianas, reunidos em Sacrofano para um encontro de Verão: desejo-vos que valorizeis os ensinamentos e as experiências espirituais destes dias.

Enfim, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Celebra-se hoje a memória de São Domingos de Gusmão, incansável pregador do Evangelho e amanhã será a festa de Santa Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein, co-Padroeira da Europa. Estes dois Santos vos ajudem, queridos jovens, a ter sempre confiança em Cristo. O seu exemplo vos ajude, dilectos doentes, a participar com fé no poder salvífico da sua Cruz. E vos anime, caros novos casais, a ser imagem luminosa de Deus através da vossa fidelidade mútua.



22 de Agosto de 2007: São Gregório Nazianzeno (2)

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Queridos irmãos e irmãs

Ao longo dos retratos dos grandes Padres e Doutores da Igreja que procuro oferecer nestas catequeses, a última vez falei de São Gregório Nazianzeno, Bispo do século IV, e hoje gostaria ainda de completar o retrato deste grande mestre. Procuraremos reunir alguns dos seus ensinamentos. Reflectindo sobre a missão que Deus lhe tinha confiado, São Gregório Nazianzeno concluía: "Fui criado para me elevar até Deus com as minhas acções!" (Oratio 14, 6 de pauperum amore: PG: 35, 865). De facto, ele colocou ao serviço de Deus e da Igreja o seu talento de escritor e de orador. Compôs numerosos discursos, várias homilias e panegíricos, muitas cartas e obras poéticas (quase 18.000 versos!): uma actividade verdadeiramente prodigiosa. Tinha compreendido que era essa a missão que Deus lhe confiara: "Servo da Palavra, eu adiro ao ministério da Palavra; que eu nunca consinta o descuido deste bem. Eu aprecio esta vocação e desejo-a, ela proporciona-me mais alegria do que todas as outras coisas juntas" (Oratio 6, 5: SC 405,134 cf. também Oratio SC 4,10).

O Nazianzeno era um homem mansueto, e na sua vida procurou fazer sempre obra de paz na Igreja do seu tempo, dilacerada por discórdias e heresias. Com audácia evangélica esforçou-se por superar a própria timidez para proclamar a verdade da fé. Sentia profundamente o anseio de se aproximar de Deus, de se unir a Ele. É quanto ele mesmo expressa numa sua poesia, na qual escreve: entre as "grandes flutuações do mar da vida, aqui e além por ventos impetuosos agitado, ... / uma só coisa me era querida, unicamente a minha riqueza, / conforto e olvido das canseiras, / a luz da Trindade Santa" (Carmina [historica] 2, 1, 15: PG 37, 1250ss.).

Gregório fez resplandecer a luz da Trindade, defendendo a fé proclamada no Concílio de Niceia: um só Deus em três Pessoas iguais e distintas Pai, Filho e Espírito Santo "tríplice luz que num único / esplendor se reúne" (Hino vespertino: Carmina [historica] 2, 1, 32: PG 37, 512). Portanto, afirma sempre Gregório no seguimento de São Paulo (
1Co 8,6), "para mim existe um Deus, o Pai, do qual tudo provém; um Senhor, Jesus Cristo, por meio do qual tudo existe; e um Espírito Santo, no qual tudo existe" (Oratio 39, 12: SC 358,172).

Gregório pôs em grande relevo a humanidade plena de Cristo: para redimir o homem na sua totalidade de corpo, alma e espírito, Cristo assumiu todas as componentes da natureza humana, porque de outro modo o homem não teria sido salvo. Contra a heresia de Apolinário, o qual defendia que Jesus não tinha assumido uma alma racional, Gregório enfrenta o problema à luz do mistério da salvação: "O que não foi assumido, não foi curado (Ep 101,32, SC 208, 50), e se Cristo não tivesse sido "dotado de intelecto racional, como teria podido ser homem?" (Ep 101,34, SC 208, 50). Era precisamente o nosso intelecto, a nossa razão que tinha e tem necessidade da relação, do encontro com Deus em Cristo. Tornando-se homem, Cristo deu-nos a possibilidade de nos tornarmos por nossa vez como Ele. O Nazianzeno exorta: "Procuremos ser como Cristo, porque também Cristo se tornou como nós: tornar-nos deuses por meio d'Ele, dado que Ele mesmo, através de nós, se tornou homem. Assumiu sobre si o pior, para nos doar o melhor" (Oratio 1, 5: SC 247,78).

Maria, que deu a Cristo a natureza humana, é verdadeira Mãe de Deus (Theotókos: cf. Ep. 101,16, SC 208, 42), e em vista da sua altíssima missão foi "pré-purificada" (Oratio 38, 13: SC 358, 132, quase um distante prelúdio do dogma da Imaculada Conceição). Maria é proposta como modelo aos cristãos, sobretudo às virgens, e como socorro a ser invocada nas necessidades (cf. Oratio 24, 11: SC 282,60-64).

Gregório recorda-nos que, como pessoas humanas, devemos ser solidários uns com os outros. Escreve: ""Todos nós somos uma só coisa no Senhor" (cf. Rm 12,5), ricos e pobres, escravos e livres, sadios e doentes; e única é a cabeça da qual tudo provém: Jesus Cristo. E como fazem os membros de um só corpo, cada um se ocupe do outro, e todos de todos". Depois, referindo-se aos doentes e às pessoas em dificuldade, conclui: "Esta é a única salvação para a nossa carne e para a nossa alma: a caridade para com eles" (Oratio 14, 8 de pauperum amore: PG 35, 868ab).

Gregório ressalta que o homem deve imitar a bondade e o amor de Deus, e portanto recomenda: "Se és sadio e rico, alivia a necessidade de quem é doente e pobre; se não caíste, socorre quem caiu e vive no sofrimento; se és feliz, conforta quem está triste; se tens sorte, ajuda quem está aflito pela desventura. Dá a Deus uma prova de reconhecimento, porque és um dos que podem beneficiar, e não dos que têm necessidade de ser beneficiados... Sê rico não só de bens, mas também de piedade; não só de ouro, mas de virtude, ou melhor, unicamente dela. Supera a fama do teu próximo mostrando-te melhor de todos; entrega-te a Deus pelo desaventurado, imitando a misericórdia de Deus" (Oratio 14, 26 de pauperum amore: PG 35, 892bc).

Gregório ensina-nos antes de tudo a importância e a necessidade da oração. Ele afirma que "é necessário recordar-se de Deus com mais frequência de quanto se respira" (Oratio 27, 4: PG 250, 78), porque a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa sede. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d'Ele (cf. Oratio 40, 27: SC 358,260). Na oração devemos dirigir o nosso coração para Deus, a fim de nos entregarmos a Ele como oferenda para purificar e transformar. Na oração vemos tudo à luz de Cristo, deixamos cair as nossas máscaras imergimo-nos na verdade e na escuta de Deus, alimentando o fogo do amor.

Numa poesia que é ao mesmo tempo meditação sobre a finalidade da vida e vocação implícita para Deus, Gregório escreve: "Tens uma tarefa, ó minha alma / Uma grande tarefa, se quiseres. / Perscruta seriamente a ti mesma, / o teu ser, o teu destino; / de onde vens e onde deverás pousar; / procura conhecer se é vida a que vives / ou se há algo mais. / Tens uma tarefa, ó minha alma, / portanto purifica a tua vida: / considera, por favor, Deus e os seus mistérios, / indaga o que há antes deste universo / e o que ele é para ti, / de onde veio, e qual será o seu destino. / Eis a tua tarefa, / ó minha alma, / purifica, portanto a tua vida" (Carmina [historica] 2, 1, 78: PG 37, 1425-1426). Continuamente o Santo Bispo pede ajuda a Cristo, para se erguer e retomar o caminho: "Fui desiludido, ó meu Cristo, / pelo meu demasiado presumir: / das alturas caí muito em baixo. / Mas eleva-me de novo agora, porque vejo / que por mim próprio me enganei; / se ainda confiar demais em mim mesmo, / cairei de novo, e a queda será fatal" (Carmina [historica] 2, 1, 67: PG 37, 1408).

Portanto, Gregório sentiu a necessidade de se aproximar de Deus para superar o cansaço do próprio eu. Experimentou o impulso da alma, a vivacidade de um espírito sensível e a instabilidade da felicidade efémera. Para ele, no drama de uma vida sobre a qual pesava a consciência da própria debilidade e da própria miséria, a experiência do amor de Deus sempre teve a supremacia.

Tens uma tarefa, alma diz São Gregório também a nós a tarefa de encontrar a verdadeira luz, de encontrar a verdadeira altura da tua vida. E a tua vida é encontrar-te com Deus, que tem sede da nossa sede.
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Saudações

Saúdo afetuosamente os peregrinos presentes de língua portuguesa, mormente os que vieram de Portugal; a todos desejo graça e paz em Nosso Senhor Jesus Cristo. Penhor daquela juventude de alma e coração que brota do Espírito Santo em ação na Igreja e no mundo, seja para vós e vossos familiares a minha Bênção Apostólica.

Saúdo de coração os peregrinos e visitantes provenientes dos países de língua alemã. Antes de tudo saúdo os numerosos jovens que hoje se encontram aqui. Queridos amigos, ide ao encontro do próximo com o amor e a bondade de Cristo. Assim colaborais na construção da paz no mundo. Deus, o Senhor, vos acompanhe no vosso caminho, durante o tempo de repouso e em vossa casa!

Saúdo agora os peregrinos italianos. Em particular, as Irmãs Zeladoras do Sagrado Coração, que recordam o 25º aniversário da aprovação pontifícia. Queridas Irmãs, com fervoroso espírito missionário, prossegui no serviço aos mais necessitados e testemunhai em toda a parte de modo concreto o Evangelho da esperança e do amor. Saúdo, também, os participantes na Festa do peregrino em honra de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, desejando a cada um que a pausa junto dos Túmulos dos Apóstolos seja para todos encorajamento para uma proveitosa renovação espiritual. O meu pensamento dirige-se depois às Famílias e aos leigos animadores vocacionais Rogacionistas. Queridos amigos, continuai com alegria e generosidade o vosso compromisso a favor das vocações de especial consagração, segundo o exemplo e os ensinamentos de Santo Aníbal Maria Di Francia.

Por fim, como de costume, dirijo uma cordial saudação aos jovens, aos doentes e aos recém-casados. Elevemos o olhar para o Céu para contemplar o esplendor da Santa Mãe de Deus, que hoje a liturgia nos convida a invocar como nossa Rainha. Queridos jovens, ponde-vos a vós próprios e todos os vossos projectos sob a materna protecção daquela que doou ao mundo o Salvador. Queridos doentes, na expectativa da recuperação da saúde, invocai-a todos os dias para obter a força de enfrentar com paciência a prova do sofrimento. Queridos recém-casados, cultivai para com ela uma devoção sincera, para que esteja ao vosso lado na vossa existência quotidiana.





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