Audiências 2005-2013 26097

26 de Setembro de 2007: São João Crisóstomo (2)

26097
Queridos irmãos e irmãs!

Continuamos hoje a nossa reflexão sobre São João Crisóstomo. Depois do período passado em Antioquia, em 397 ele foi nomeado Bispo de Constantinopla, a capital do Império romano do Oriente. Desde o início, João projectou a reforma da sua Igreja: a austeridade do palácio episcopal devia servir de exemplo para todos clero, viúvas, monges, palacianos e ricos.

Infelizmente, muitos destes, atingidos pelos seus juízos, afastaram-se dele. Solícito pelos pobres, João foi chamado também "Esmoler". De facto, como administrador atento ele conseguiu criar instituições caritativas muito apreciadas. O seu arrojo nos vários âmbitos fez com que ele se tornasse para alguns um rival perigoso. Ele, contudo, como verdadeiro Pastor, tratava todos de modo cordial e paterno. Sobretudo, destinava considerações sempre ternas às mulheres e cuidados especiais ao matrimónio e à família. Convidava os fiéis a participar na vida litúrgica, por ele tornada esplendorosa e atraente com genial criatividade.

Não obstante o coração generoso, não teve uma vida tranquila. Pastor da capital do Império, viu-se com frequência envolvido em questões e intrigas políticas, devido aos seus contínuos relacionamentos com as autoridades e as instituições civis. Depois, a nível eclesiástico foi acusado de ter superado os confins da própria jurisdição, e tornou-se assim alvo de fáceis acusações. Outro pretexto contra ele foi a presença de alguns monges egípcios, excomungados pelo patriarca Teófilo de Alexandria que se refugiaram em Constantinopla. Uma acesa polémica foi depois originada pelas críticas feitas por Crisóstomo à imperatriz Eudóxia e às suas palacianas, que reagiram desacreditando-o e insultando-o. Chegou-se assim à sua deposição, no sínodo organizado pelo mesmo patriarca Teófilo em 403, com a consequente condenação ao primeiro breve exílio. Depois do seu regresso, a hostilidade suscitada contra ele desde o protesto contra as festas em honra da imperatriz que o Bispo considerava como festas pagãs, sumptuosas e a expulsão dos presbíteros encarregados dos Baptismos na Vigília pascal de 404 marcaram o início da perseguição de Crisóstomo e dos seus seguidores, os chamados "Joanitas".

Então João denunciou através de carta os factos ao Bispo de Roma, Inocêncio I. Mas já era demasiado tarde. No ano de 406 teve de novo que se refugiar no exílio, desta vez em Cucusa, na Arménia. O Papa estava convencido da sua inocência, mas não tinha o poder de o ajudar. Um Concílio, querido por Roma para uma pacificação entre as duas partes do Império e entre as suas Igrejas, não pôde ser realizado. O deslocamento extenuante de Cucusa para Pytius, meta nunca alcançada, devia impedir as visitas dos fiéis e interromper a resistência do exiliado extenuado: a condenação ao exílio foi uma verdadeira condenação à morte! São comovedoras as numerosas cartas do exílio, nas quais João manifesta as suas preocupações pastorais com tonalidades de participação e de sofrimento pelas perseguições contra os seus. A marcha rumo à morte terminou em Comano no Ponto. Aqui, João moribundo, foi levado para a capela do mártir São Basilisco, onde rendeu a alma a Deus e foi sepultado, mártir ao lado do mártir (Palladio, Vita 119). Era o dia 14 de Setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. A reabilitação teve lugar em 438 com Teodósio II. As relíquias do santo Bispo, colocadas na igreja dos Apóstolos em Constantinopla, foram depois trasladadas em 1204 para Roma, para a primitiva Basílica constantiniana, e agora jazem na capela do Coro dos Cónegos da Basílica de São Pedro. A 24 de Agosto de 2004 uma considerável parte delas foi doada pelo Papa João Paulo II ao Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla. A memória litúrgica do santo celebra-se a 13 de Setembro. O beato João XXIII proclamou-o padroeiro do Concílio Vaticano II.

Foi dito acerca de João Crisóstomo que, quando foi colocado no trono da Nova Roma, isto é, Constantinopla, Deus mostrou nele um segundo Paulo, um doutor do Universo. Na realidade, em Crisóstomo há uma unidade substancial de pensamento e de acção tanto em Antioquia como em Constantinopla. Mudam só o papel e as situações. Meditando sobre as oito obras realizadas por Deus no suceder-se dos seis dias no comentário do Génesis, Crisóstomo deseja reconduzir os fiéis da criação ao criador: "É um grande bem", diz, "conhecer o que é a criatura e o que é o Criador".

Mostra-nos a beleza da criação e a transparência de Deus na sua criação, a qual se torna assim quase que uma "escada" para subir a Deus, para o conhecer. Mas a este primeiro passo acrescenta-se um segundo: este Deus criador é também o Deus da condescendência (synkatabasis). Nós somos débeis na "subida", os nossos olhos são débeis. E assim Deus torna-se o Deus da condescendência, que envia ao homem pecador e estrangeiro uma carta, a Sagrada Escritura, de modo que criação e Sagrada Escritura completam-se. À luz da Escritura, da carta que Deus nos deu, podemos decifrar a criação. Deus é chamado "pai terno" (philostorgios) (ibid.), médico das almas (Homilia 40, 3 sobre o Génesis), mãe (ibid.) e amigo afectuoso (Sobre a providência 8, 11-12). Mas a este segundo passo primeiro a criação como "escada" para Deus e depois a condescendência de Deus através duma carta que nos deu, a Sagrada Escritura acrescenta-se um terceiro passo. Deus não só nos transmite uma carta: em definitiva, desce Ele mesmo, encarna-se, torna-se realmente "Deus connosco", nosso irmão até à morte na Cruz. E a estes três passos Deus é visível na criação, Deus dá-nos uma sua carta, Deus desce e torna-se um de nós acrescenta-se no final um quarto passo. No arco da vida e da acção do cristão, o princípio vital e dinâmico é o Espírito Santo (Pneuma), que transforma as realidades do mundo. Deus entra na nossa existência através do Espírito Santo e transforma-nos do interior do nosso coração.


Nesta panorâmica, precisamente em Constantinopla João, no comentário continuativo dos Actos dos Apóstolos, propõe o modelo da Igreja primitiva (
Ac 4,32-37) como modelo para a sociedade, desenvolvendo uma "utopia" social (quase uma "cidade ideal"). De facto, tratava-se de dar uma alma e um rosto cristão à cidade. Por outras palavras, Crisóstomo compreendeu que não é suficiente dar esmola, ajudar os pobres sempre que precisem, mas é necessário criar uma nova estrutura, um novo modelo de sociedade; um modelo baseado na perspectiva do Novo Testamento. É a nova sociedade que se revela na Igreja nascente. Portanto João Crisóstomo torna-se assim realmente um dos grandes Padres da Doutrina Social da Igreja: a velha ideia da "polis" grega é substituída por uma nova ideia de cidade inspirada na fé cristã. Crisóstomo defendia com Paulo (cf. 1Co 8,11) a primazia de cada cristão, da pessoa como tal, também do escravo e do pobre. O seu projecto corrige assim a tradicional visão grega da "polis", da cidade, na qual amplas camadas de população eram excluídas dos direitos de cidadania, enquanto na cidade cristã todos são irmãos e irmãs com iguais direitos. A primazia da pessoa é também a consequência do facto que realmente partindo dela se constrói a cidade, enquanto que na "polis" grega a pátria era superior ao indivíduo, o qual estava totalmente subordinado à cidade no seu conjunto. Assim com Crisóstomo tem início a visão de uma sociedade construída pela consciência cristã. E ele diz-nos que a nossa "polis" é outra, "a nossa pátria está no céu" (Ph 3,20) e esta nossa pátria também nesta terra nos torna iguais, irmãos e irmãs, e obriga-nos à solidariedade.

No final da sua vida, do exílio nos confins da Arménia, "o lugar mais remoto do mundo", João, voltando à sua primeira pregação de 386, retomou o tema que lhe era tão querido do plano que Deus prossegue em relação à humanidade: é um plano "indizível e incompreensível", mas certamente guiado por Ele com amor (cf. Sobre a providência 2, 6). É esta a nossa certeza.

Mesmo se não podemos decifrar os pormenores da história pessoal e colectiva, sabemos que o plano de Deus se inspira sempre no seu amor. Assim, apesar dos sofrimentos, Crisóstomo reafirmava a descoberta de que Deus ama cada um de nós com um amor infinito, e por isso deseja que todos se salvem. Por seu lado, o santo Bispo cooperou nesta salvação generosamente, sem se poupar, ao longo de toda a sua vida. De facto ele considerava o fim último da sua existência a glória de Deus, que já agonizante deixou como extremo testamento: "Glória a Deus por tudo!" (Palladio, Vita 11).
* * *



Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, possa a vossa vinda a Roma cumprir-se nas vestes de um verdadeiro peregrino que, sabendo de não possuir ainda o seu Bem maior, põe-se a caminho decidido a encontrá-l'O! Sabei que Deus se deixa encontrar por quantos assim O procuram; e, com Ele e n'Ele, a vossa vida não poderá deixar de ser feliz. Sobre vós e vossas famílias desça a minha Bênção. Ide com Deus!



3 de Outubro de 2007: São Cirilo de Alexandria

3107
Queridos irmãos e irmãs

Também hoje, continuando o nosso itinerário que está a seguir os passos dos Padres da Igreja, encontramos uma grande figura: São Cirilo de Alexandria. Ligado à controvérsia cristológica que levou ao Concílio de Éfeso em 431, e último representante de relevo da tradição alexandrina, no Oriente grego Cirilo foi mais tarde definido "guardião da exactidão" que se deve entender como guardião da verdadeira fé e mesmo "selo dos Padres". Estas antigas expressões manifestam oportunamente um dado de facto que é característico de Cirilo, ou seja, a referência constante do Bispo de Alexandria aos autores eclesiásticos precedentes (entre eles, sobretudo Atanálio), com a finalidade de mostrar a continuidade da própria teologia com a tradição. Ele insere-se intencional e explicitamente na tradição da Igreja, em que reconhece a garantia da continuidade com os Apóstolos e com o próprio Cristo. Venerado como Santo quer no Oriente quer no Ocidente, em 1882 São Cirilo foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Leão XIII, que atribuiu contemporaneamente o mesmo título também a outro importante representante da patrística grega, São Cirilo de Jerusalém. Revelam-se assim a atenção e o amor pelas tradições cristãs orientais daquele Papa, que em seguida desejou proclamar Doutor da Igreja também São João Damasceno, mostrando deste modo que tanto a tradição oriental como a ocidental exprimem a doutrina da única Igreja de Cristo.

As notícias sobre a vida de Cirilo antes da sua eleição para a importante sede de Alexandria são muito escassas. Sobrinho de Teófilo, que desde 385 como Bispo administrou com mão firme e com prestígio a diocese alexandrina, Cirilo nasceu provavelmente na mesma metrópole egípcia entre 370 e 380, foi depressa iniciado na vida eclesiástica e recebeu uma boa educação, tanto cultural como teológica. Em 403 estava em Constantinopla, no séquito do poderoso tio, e ali participou no Sínodo chamado do Carvalho, que depôs o Bispo da cidade, João (mais tarde chamado Crisóstomo), assinalando assim o triunfo da sede alexandrina sobre a tradicionalmente rival de Constantinopla, onde residia o imperador. Quando o tio Teófilo faleceu, em 412 o jovem Cirilo foi eleito Bispo da influente Igreja de Alexandria, que governou com grande energia durante trinta e dois anos, visando sempre afirmar o seu primado em todo o Oriente, fortalecido inclusive pelos tradicionais vínculos com Roma.

Dois ou três anos depois, em 417 ou em 418, o Bispo de Alexandria demonstrou-se realista ao recompor a ruptura da comunhão com Constantinopla, que já estava em acto desde 406, como consequência da deposição de João Crisóstomo. Mas o antigo contraste com a sede constantinopolitana voltou a inflamar-se cerca de dez anos mais tarde, quando em 428 foi eleito Nestório, um autorizado e severo monge de formação antioquena. Com efeito, o novo Bispo de Constantinopla depressa suscitou oposições porque na sua pregação preferia para Maria o título de "Mãe de Cristo" (Christolókos), no lugar daquele já muito querido à devoção popular de "Mãe de Deus" (Theotókos). Motivo desta escolha do Bispo Nestório era a sua adesão à cristologia de tipo antioqueno que, para salvaguardar a importância da humanidade de Cristo, terminava por afirmar a sua divisão da divindade. E assim já não era verdadeira a união entre Deus e o homem em Cristo e, naturalmente, já não se podia falar de "Mãe de Deus".

A reacção de Cirilo então máximo representante da cristologia alexandrina, que aliás tencionava sublinhar fortemente a unidade da pessoa de Cristo foi quase imediata, e desenfreou-se com todos os meios já a partir de 429, dirigindo-se também com algumas cartas ao próprio Nestório. Na segunda missiva (PG 77, 44-49), que Cirilo lhe enviou em Fevereiro de 430, lemos uma clara afirmação do dever dos Pastores de preservar a fé do Povo de Deus. Este era o seu critério, de resto válido também hoje: a fé do Povo de Deus é expressão da tradição, é garantia da sã doutrina. Assim ele escreve a Nestório: "É preciso expor ao povo o ensinamento e a interpretação da fé do modo mais irrepreensível, recordando que quem escandaliza um só dos pequeninos que crêem em Cristo há-de padecer um castigo intolerável".

Na mesma carta a Nestório carta que mais tarde, em 451, fora aprovada pelo Concílio de Calcedónia, o IV ecuménico Cirilo descreve com clareza a sua fé cristológica: "Afirmamos, assim, que são diferentes as naturezas que se reuniram numa verdadeira unidade, mas de ambas derivou um único Cristo e Filho, não por ter sido eliminada por causa da unidade a diferença das naturezas, mas sobretudo porque a divindade e a humanidade, reunidas em união indizível e inenarrável produziram para nós o único Senhor, Cristo e Filho". E isto é importante: realmente a verdadeira humanidade e a autêntica divindade unem-se numa única Pessoa, nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, continua o Bispo de Alexandria, "professaremos um só Cristo e Senhor, não no sentido que adoramos o homem juntamente com o Logos, para não insinuar a ideia da separação, ao dizer "juntamente", mas no sentido que adoramos um só e o mesmo, porque não é estranho ao Logos o seu corpo, com o qual está também sentado ao lado do seu Pai, não como se sentassem ao seu lado dois filhos, mas um só, único à própria carne".

E depressa o Bispo de Alexandria, graças a alianças prudentes, obteve que Nestório fosse reiteradamente condenado: por parte da sé romana, e depois com uma série de doze anatematismos por ele mesmo compostos e, enfim, pelo Concílio realizado em Éfeso no ano 431, o III ecuménico. A assembleia, reunida com vicissitudes alternadas e tumultuosas, concluiu-se com o triunfo da devoção a Mariae com o exílio do Bispo constantinopolitano, que não queria reconhecer à Virgem o título de "Mãe de Deus" por causa de uma cristologia errónea, que trazia divisão ao próprio Cristo. Assim, depois de ter prevalecido sobre o rival e sobre a sua doutrina, Cirilo soube porém alcançar, já em 433, uma fórmula teológica de compromisso e de reconciliação com os antioquenos. E também isto é significativo: por um lado, há a clareza da doutrina de fé, mas por outro também a busca intensa da unidade e da reconciliação. Nos anos seguintes, dedicou-se de todos os modos à defesa e ao esclarecimento da sua posição teológica até à sua morte, ocorrida no dia 27 de Junho de 444.

Os escritos de Cirilo deveras muito numerosos e difundidos amplamente também em diversas traduções latinas e orientais já durante a sua vida, como testemunho do seu sucesso imediato são de importância primordial para a história do cristianismo. São importantes os seus comentários a muitos livros do Antigo e do Novo Testamento, entre os quais todo o Pentateuco, Isaías, os Salmos e os Evangelhos de João e de Lucas. São também relevantes as numerosas obras doutrinais, em que é recorrente a defesa da fé trinitária contra as teses arianas e contra as teses de Nestório. Base do ensinamento de Cirilo são a tradição eclesiástica e, em particular como já mencionei os escritos de Atanásio, o seu grande predecessor na sede alexandrina. Entre os outros escritos de Cirilo, devem recordar-se finalmente os livros Contra Juliano, a última grande resposta às polémicas anticristãs, ditada pelo Bispo de Alexandria provavelmente nos últimos anos da sua vida para responder à obra Contra os Galileus, composta muitos anos antes, no ano 363, pelo imperador que era chamado o Apóstata por ter abandonado o cristianismo em que tinha sido educado.

A fé cristã é sobretudo um encontro com Jesus, "uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte" (Encíclica Deus caritas est ). De Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado, São Cirilo de Alexandria foi uma testemunha incansável e determinada, sublinhando acima de tudo a sua unidade, como ele reitera no ano 433 na primeira carta (PG 77, 228-237) ao Bispo Sucenso: "Um só é o Filho, um só é o Senhor Jesus Cristo, tanto antes como depois da encarnação. Com efeito, não era um Filho o Logos nascido de Deus Pai, e outro o Filho nascido da Santa Virgem; mas acreditamos que precisamente Aquele que existe antes dos tempos nasceu também segundo a carne de uma mulher". Esta afirmação, para além do seu significado doutrinal, mostra que a fé em Jesus Logos nascido do Pai está também bem arraigada na história porque, como aifrma São Cirilo, este mesmo Jesus entrou no tempo com o nascimento de Maria, a Theotókos e, em conformidade com a sua promessa, há-de ficar connosco para sempre. E isto é importante: Deus é eterno, nasceu de uma mulher e permanece connosco todos os dias. Vivamos nesta confiança, e nesta confiança encontremos o caminho da nossa vida.
* * *


Saudações

Saúdo também os participantes de língua portuguesa, em especial o grupo de visitantes portugueses e os brasileiros da Paróquia de Santa Teresinha, de São Paulo, bem como os que provieram de diversas regiões do País. De todo o coração vos abençoo, desejando que as vossas comunidades, a começar da própria família, procurem consolidar-se pela força e à imitação da Eucaristia, donde irradia a caridade de Cristo, que se dá em alimento aos fiéis! Sede seus comensais devotos e assíduos moradores!

Dou as boas-vindas aos peregrinos de língua francesa e saúdo em particular os jovens do Liceu Marmoutier, de Tours, assim como o grupo de ex-mineiros de Falck en Moselle. A exemplo de São Cirilo, convido-vos a viver a fé como um encontro com a pessoa de Jesus. Com a minha bênção apostólica.

É-me grato dar as boas-vindas aos peregrinos de expressão inglesa, presentes nesta Audiência, especialmente aos da Austrália, da Dinamarca, da Escócia e dos Estados Unidos da América. De modo especial, saúdo os Missionários Maryknoll, os sacerdotes da Diocese de WheelingCharleston, os estudantes do Pontifício Colégio Beda e os Candidatos ao Diaconato do Pontifício Colégio Norte-Americano. Deus continue a fortalecer-vos no vosso esforço em vista de servir o seu povo. Sobre todos vós, invoco as abundantes bênçãos divinas da alegria e da paz.

Enfim, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. O exemplo luminoso de São Francisco de Assis, cuja memória celebraremos amanhã vos leve, queridos jovens, a viver sempre em plena fidelidade ao Evangelho. Ajude-vos, dilectos doentes, a enfrentar o sofrimento com coragem, procurando em Cristo crucificado serenidade e alívio. Conduza-vos, estimados novos casais, rumo a um amor cada vez mais profundo a Deus e entre vós, para que possais experimentar a alegria que brota do vosso dom recíproco, aberto à vida.




10 de Outubro de 2007: Santo Hilário de Poitiers

10107
Queridos irmãos e irmãs!

Gostaria hoje de falar de um grande Padre da Igreja do Ocidente, Santo Hilário de Poitiers, uma das grandes figuras de Bispos do século IV. Em relação aos arianos, que consideravam o Filho de Deus, Jesus, uma criatura, mesmo se excelente, mas só criatura, Hilário consagrou toda a sua vida à defesa da fé na divindade de Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus como o Pai, que o gerou desde a eternidade.

Não dispomos de dados certos sobre a maior parte da vida de Hilário. As fontes antigas dizem que nasceu em Poitiers, provavelmente por volta do ano 310. De família rica, recebeu uma sólida formação literária, que se reconhece bem nos seus escritos. Não parece ter crescido num ambiente cristão. Ele mesmo nos fala de um caminho de busca da verdade, que o conduziu pouco a pouco ao reconhecimento do Deus criador e do Deus encarnado, que morreu para nos dar a vida eterna.

Baptizado por volta de 345, foi eleito Bispo da sua cidade natal por volta de 353-354. Nos anos seguintes Hilário escreveu a sua primeira obra, o Comentário ao Evangelho de Mateus. Trata-se do mais antigo comentário em língua latina que nos tenha chegado deste Evangelho. Em 356 Hilário assistiu como Bispo ao Sínodo de Béziers, no sul da França, o "sínodo dos falsos apóstolos", como ele mesmo o chama, a partir do momento que a assembleia foi dominada pelos bispos filoarianos, que negavam a divindade de Jesus Cristo. Estes "falsos apóstolos" pediram ao Imperador Constâncio a condenação ao exílio do Bispo de Poitiers.AssimHiláriofoiobrigado a deixar a Gália durante o Verão de 356.

Exilado na Frígia, na actual Turquia, Hilário entrou em contacto com um contexto religioso totalmente dominado pelo arianismo. Também ali a sua solicitude de Pastor o levou a trabalhar incansavelmente pelo restabelecimento da unidade da Igreja, com base na recta fé formulada pelo Concílio de Niceia. Para esta finalidade ele iniciou a redacção da sua obra dogmática mais importante e conhecida: De Trinitate (Sobre a Trindade). Nela Hilário expõe o seu caminho pessoal rumo à consciência de Deus e preocupa-se em mostrar que a Escritura afirma claramente a divindade do Filho e a sua igualdade com o Pai não só no Novo Testamento, mas também em muitas páginas do Antigo, no qual já aparece o mistério de Cristo. Perante os arianos ele insiste sobre a verdade dos nomes de Pai e de Filho e desenvolve toda a sua teologia trinitária partindo da fórmula do Baptismo que nos foi dado pelo próprio Senhor; "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".

O Pai e o Filho são da mesma substância. E se alguns trechos do Novo Testamento poderiam fazer pensar que o Filho é inferior ao Pai, Hilário ofereceu regras claras para evitar interpretações desviantes: alguns textos da Escritura falam de Jesus como Deus, outros ao contrário põem em realce a sua humanidade. Alguns referem-se a Ele na sua preexistência junto do Pai; outros tomam em consideração o estado de abaixamento (kenosi), a sua descida até à morte; por fim, outros, contemplam-no na glória da ressurreição. Nos anos do seu exílio Hilário escreveu também o Livro dos Sínodos, no qual reproduz e comenta para os seus irmãos Bispos da Gália as confissões de fé e outros documentos dos sínodos reunidos no Oriente nos meados do séc. IV. Sempre firme na oposição aos arianos radicais, Santo Hilário mostra um espírito conciliante em relação aos que aceitavam confessar que o Filho era semelhante ao Pai na essência, naturalmente procurando conduzi-los para a fé plena, segundo a qual não há apenas uma semelhança, mas uma verdadeira igualdade do Pai e do Filho na divindade. Também isto me parece característico: o espírito de conciliação que procura compreender quantos ainda não a conseguiram e ajuda-os, com grande inteligência teológica, a alcançar a fé plena na divindade verdadeira do Senhor Jesus Cristo.

Em 360 ou 361, Hilário pôde finalmente regressar do exílio à pátria e imediatamente retomou a actividade pastoral na sua Igreja, mas a influência do seu magistério expandiu-se de facto muito além dos seus confins. Um sínodo celebrado em Paris em 360 ou 361 retoma a linguagem do Concílio de Niceia. Alguns autores antigos pensam que esta mudança antiariana do episcopado da Gália seja em grande parte devida à fortaleza e à mansidão do Bispo de Poitiers. Era precisamente este o seu dom: conjugar fortaleza na fé e mansidão na relação interpessoal. Nos últimos anos de vida ele compôs ainda os Tratados sobre os Salmos, um comentário sobre cinquenta e oito Salmos, interpretados segundo o princípio evidenciado na introdução da obra: "Não há dúvida de que todas as coisas que se dizem nos Salmos se devem compreender segundo o anúncio evangélico, de modo que, seja qual for a voz com a qual o espírito profético tenha falado, tudo esteja todavia referido ao conhecimento da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, encarnação, paixão e reino, e à glória e poder da nossa ressurreição" (Instructio Psalmorum, 5). Ele vê em todos os Salmos esta transparência do mistério de Cristo e do seu Corpo que é a Igreja. Em diversas ocasiões Hilário encontrou-se com São Martinho: precisamente perto de Poitiers o futuro Bispo de Tours fundou um mosteiro, que ainda hoje existe. Hilário faleceu em 367. A sua memória litúrgica celebra-se a 13 de Janeiro. Em 1851 o Beato Pio IX proclamou-o Doutor da Igreja.

Para resumir a essência da sua doutrina, gostaria de dizer que Hilário encontra o ponto de partida da sua reflexão teológica na fé baptismal. No De Trinitate Hilário escreve: Jesus "comandou que baptizassem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (cf.
Mt 28,19), isto é, na confissão do Autor, do Unigénito e do Senhor. Um só é o Autor de todas as coisas, porque um só é Deus Pai, do qual tudo procede. E um só é Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante o qual todas as coisas foram criadas (1Co 8,6), e um só é o Espírito (Ep 4,4) dom em todos... Em nada pode faltar uma plenitude tão grande, na qual convergem no Pai, no Filho e no Espírito Santo a imensidão no Eterno, a revelação na Imagem, a glória no Dom" (De Trinitate 2, 1). Deus Pai, sendo todo amor, é capaz de comunicar em plenitude a sua divindade ao Filho. É para mim particularmente bela a seguinte fórmula de Santo Hilário: "Deus sabe ser unicamente amor, sabe ser só Pai. E quem ama não é invejoso, e quem é Pai é-o na sua totalidade. Este nome não admite sujeições, como se Deus fosse Pai em certos aspectos, e noutros não" (ibid. 9, 61).

Por isso o Filho é plenamente Deus sem falta alguma ou diminuição: "Aquele que provém do Perfeito é perfeito, porque quem tem tudo lhe deu tudo" (Ibid. 2, 8). Só em Cristo, Filho de Deus e Filho do homem, a humanidade encontra a salvação. Assumindo a natureza humana, Ele uniu a si cada homem, "fez-se a carne de todos nós" (Tractatus in Psalmos 54, 9); "assumiu em si a natureza de toda a carne, e tendo-se tornado por meio dela a videira verdadeira, tem em si a raiz de cada ramo" (Ibid., 51, 16). Precisamente por isso o caminho rumo a Cristo está aberto a todos porque ele atraiu todos no seu ser homem mesmo se é sempre exigida a conversão pessoal: "Mediante a relação com a sua carne, o acesso a Cristo está aberto a todos, sob condição de que se despojem do homem velho (cf. Ep 4,22) e o preguem na sua cruz (cf. Col 2,14); sob condição de que abandonem as obras de antes e se convertam, para serem sepultados com ele no seu baptismo, em vista da vida (cf. Col 1,12 Rm 6,4)" (Ibid.,91, 9).

A fidelidade a Deus é um dom da sua graça. Por isso Santo Hilário pede, no fim do seu tratado sobre a Trindade, para se poder manter sempre fiel à fé do baptismo. É uma característica deste livro: a reflexão transforma-se em oração e a oração volta a ser reflexão. Todo o livro é um diálogo com Deus. Gostaria de concluir a catequese de hoje com uma destas orações, que se torna assim também nossa oração: "Faz, ó Senhor recita Hilário de maneira inspirada com que eu me mantenha sempre fiel ao que professei no símbolo da minha regeneração, quando fui baptizado no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Que eu te adore, nosso Pai, e juntamente contigo e com o teu Filho; que eu mereça o teu Espírito Santo, o qual procede de ti mediante o teu Unigénito... Amém" (De Trinitate 12, 57).
* * *


Saudações

A minha saudação amiga para todos os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente o grupo de São Salvador da Bahia e as Irmãs de Santa Elisabete de Fortaleza: viestes a Roma venerar as memórias dos Apóstolos e dos Mártires meditando sobre o fim glorioso do seu combate por Cristo, a fim de receberdes a mesma força do Espírito para idênticas batalhas em prol do Evangelho no meio onde o Pai do Céu vos colocou. Sobre vós, vossas famílias e comunidades, desça a minha Bênção Apostólica.



17 de Outubro de 2007: Santo Eusébio de Vercelli

17107

Queridos irmãos e irmãs!

Esta manhã convido-vos a reflectir sobre Santo Eusébio de Vercelli, o primeiro Bispo da Itália setentrional do qual temos notícias certas. Nasceu na Sardenha no início do séc. IV, e ainda em tenra idade transferiu-se para Roma com a sua família. Mais tarde foi instituído leitor: inseriu-se assim no clero da Urbe, num tempo em que a Igreja estava gravemente provada pela heresia ariana. A grande estima que cresceu em volta de Eusébio explica a sua eleição em 345 para a cátedra episcopal de Vercelli. O novo Bispo iniciou imediatamente uma intensa obra de evangelização num território ainda em grande parte pagão, especialmente nas zonas rurais.

Inspirado por Santo Atanásio que tinha escrito a Vida de Santo Agostinho, iniciador do monaquismo no Oriente fundou em Vercelli uma comunidade sacerdotal, semelhante a uma comunidade monástica. Este cenóbio deu ao clero da Itália setentrional uma marca significativa de santidade apostólica, e suscitou figuras de Bispos importantes, como Limenio e Onorato, sucessores de Eusébio em Vercelli, Gaudêncio em Novara, Exuperâncio em Tortona, Eustásio em Aosta, Eulógio em Ivrea, Máximo em Turim, todos venerados pela Igreja como Santos.

Formado solidamente na fé nicena, Eusébio defendeu com todas as forças a plena divindade de Jesus Cristo, definido pelo Credo de Niceia "da mesma substância" do Pai. Com esta finalidade aliou-se aos grandes Padres do séc. IV sobretudo com Santo Atanásio, o alferes da ortodoxia nicena contra a política filoariana do imperador. Para o imperador a fé ariana mais simples parecia ser politicamente mais útil como ideologia do império. Para ele não contava a verdade, mas a oportunidade política: pretendia instrumentalizar a religião como vínculo da unidade do império.

Mas estes grandes Padres resistiram defendendo a verdade contra o domínio da política. Por este motivo Eusébio foi condenado ao exílio como muitos outros Bispos do Oriente e do Ocidente: como o próprio Atanásio, como Hilário de Poitiers do qual falámos na semana passada como Ósio de Córdova. Em Citópolis na Palestina, onde foi confinado entre 355 e 360, Eusébio escreveu uma página maravilhosa da sua vida. Também aqui fundou um cenóbio com um pequeno grupo de discípulos, e daqui cuidou a correspondência com os seus fiéis do Piemonte, como demonstra sobretudo a segunda das três Cartas eusébianas reconhecidas como autênticas. Em seguida, depois de 360, foi exilado na Capadócia e em Tebaide onde sofreu maus-tratos físicos. Em 361, tendo falecido Constâncio II, sucedeu-lhe o imperador Juliano, chamado o apóstata, que não se interessava pelo cristianismo como religião do império, mas queria simplesmente restabelecer o paganismo. Ele pôs fim ao exílio destes Bispos e consentiu também que Eusébio voltasse a tomar posse da sua sede. Em 362 foi convidado por Anastásio a participar no Concílio de Alexandria, que decidiu perdoar os bispos arianos sob condição de que voltassem ao estado laical. Eusébio pôde exercer ainda durante uns dez anos, até à morte, o ministério episcopal, realizando com a sua cidade uma relação exemplar, que não deixou de inspirar o serviço pastoral de outros Bispos da Itália setentrional, dos quais nos ocuparemos nas próximas catequeses, como Santo Ambrósio de Milão e São Máximo de Turim.

A relação entre o Bispo de Vercelli e a sua cidade está iluminada sobretudo por dois testemunhos epistolares. O primeiro encontra-se na Carta já citada, que Eusébio escreveu do exílio de Citópolis, "aos amadíssimos irmãos e aos presbíteros tão desejados, e aos santos povos de Vercelli, Novara, Ivrea e Tortona, firmes na fé" (Ep. secunda, CCL 9, pág. 104). Estas expressões iniciais, que marcam a comoção do bom pastor perante o seu rebanho, encontram amplo confronto no final da Carta, nas saudações muito calorosas do Padre a todos e a cada um dos seus filhos de Vercelli, com expressões carregadas de afecto e de amor. Antes de tudo devemos notar a relação explícita que liga o Bispo às sanctae plebes não só de Vercellae/Vercelli a primeira e, durante alguns anos ainda, a única diocese do Piemonte mas também de Novaria/Novara, Eporedia/Ivrea e Dertona/Tortona, isto é daquelas comunidades cristãs que, no interior da mesma diocese, tinham alcançado uma certa consistência e autonomia. Outro elemento interessante é fornecido pela despedida com a qual a Carta se conclui: Eusébio pede aos seus filhos e filhas que saúdem "também aqueles que estão fora da Igreja, e que se dignam de nutrir por nós sentimentos de amor: etiam hos, qui foris sunt et nos dignantur diligere". Sinal evidente que a relação do Bispo com a sua cidade não se limitava à população cristã, mas se alargava também a quantos fora da Igreja reconheciam de certa forma a autoridade espiritual e amavam este homem exemplar.

O segundo testemunho da singular relação do Bispo com a sua cidade provém da Carta que Santo Ambrósio de Milão escreveu aos Vercelenses por volta de 394, mais de vinte anos depois da morte de Eusébio (Ep. extra collectionem 14: Maur. 63). A Igreja de Vercelli atravessava um momento difícil: estava dividida e sem pastor. Com franqueza Ambrósio declara hesitar em reconhecer naqueles Vercelenses "a descendência dos santos Padres, que aprovaram Eusébio logo que o viram, sem nunca o terem conhecido antes, esquecendo até os próprios cidadãos". Na mesma Carta o Bispo de Milão afirma do modo mais claro a sua estima em relação a Eusébio: "Um homem grandioso", escreve de modo categórico, "mereceu ser eleito por toda a Igreja". A admiração de Ambrósio por Eusébio fundava-se sobretudo no facto de que o Bispo de Vercelli governava a diocese com o testemunho da sua vida: "Com a austeridade do jejum governava a sua Igreja". De facto, também Ambrósio se sentia fascinado como ele mesmo reconheceu pelo ideal monástico da contemplação de Deus, que Eusébio tinha perseguido no seguimento do profeta Elias.

Em primeiro lugar - escreve Ambrósio - o Bispo de Vercelli recolheu o próprio clero em vita communis e educou-o à "observância das regras monásticas, mesmo vivendo na cidade". O Bispo e o seu clero deviam partilhar os problemas dos concidadãos, e fizeram-no de modo credível, precisamente cultivando ao mesmo tempo uma cidadania diversa, a do Céu (cf.
He 13,14). E assim construíram uma verdadeira cidadania, uma verdadeira solidariedade entre os cidadãos de Vercelli.

Assim Eusébio, enquanto fazia sua a causa da sancta plebs de Vercelli, vivia na cidade como um monge, abrindo a cidade a Deus. Esta característica, portanto, nada tirou ao seu dinamismo pastoral exemplar. Aliás, parece que ele instituiu em Vercelli as freguesias para um serviço eclesial ordenado e estável, e promoveu os santuários marianos para a conversão das populações rurais pagãs. Aliás, esta "característica monástica" dava uma dimensão peculiar à relação do Bispo com a sua cidade. Como já os apóstolos, pelos quais Jesus rezava na sua Última Ceia, os Pastores e os fiéis da Igreja "estão no mundo" (Jn 17,11), mas não são "do mundo". Por isso os pastores recordava Eusébio devem exortar os fiéis a não considerar as cidades do mundo como a sua habitação estável, mas a procurar a Cidade futura, a definitiva Jerusalém do céu. Esta "reserva escatológica" consente que os pastores e os fiéis salvem a justa escala dos valores, sem nunca se submeter às modas do momento e às pretensões injustas do poder político em acto. A autêntica escala dos valores parece dizer toda a vida de Eusébio não vem dos imperadores de ontem e de hoje, mas de Jesus Cristo, o Homem perfeito, igual ao Pai na divindade, mas homem como nós. Referindo-se a esta escala de valores, Eusébio não se cansa de "recomendar firmemente" aos seus fiéis "que guardem com toda a solicitude a fé, mantenham a concórdia, sejam assíduos na oração" (Ep. secunda, cit.).

Queridos amigos, também eu vos recomendo com todo o coração estes valores perenes, ao saudar-vos e abençoar-vos com as mesmas palavras com que o Santo Bispo Eusébio concluiu a sua segunda Carta: "Dirijo-me a todos vós, meus irmãos e santas irmãs, filhos e filhas, fiéis dos dois sexos e de todas as idades, por a que vos digneis... levar a nossa saudação também a quantos estão fora da Igreja, e que se dignam ter por nós sentimentos de amor" (ibid.).
* * *


Saudações

Minha saudação cordial vai hoje também aos peregrinos de língua portuguesa, a todos desejando paz e harmonia para as suas famílias e comunidades. De modo especial desejo cumprimentar os portugueses vindos de Aveiro e os brasileiros de Ribeirão Bonito no Estado de São Paulo e os cearenses de Fortaleza. Faço também uma menção particular aos integrantes da Casa do Menor de Nova Iguaçu do Rio de Janeiro, com os votos de que prossigam nesta árdua, mas entusiasmante, tarefa de formar a juventude, mormente aquela mais abandonada no Brasil. Com a minha Bênção Apostólica.
Apelo em favor do Dia mundial da rejeição da miséria



Celebra-se hoje o Dia mundial da rejeição da miséria, reconhecido pelas pelas Nações Unidas com o título de Dia internacional para a eliminação da pobreza. Quantas populações ainda vivem em condições de extrema pobreza! A desigualdade entre ricos e pobres tornou-se mais evidente e preocupante, também no âmbito das nações economicamente mais progredidas. Esta situação preocupante impõe-se à consciência da humanidade, porque as condições em que se encontra grande parte das pessoas são tais que ofendem a dignidade do ser humano e comprometem, por conseguinte, o progresso autêntico e harmonioso da comunidade mundial. Portanto, encorajo a multiplicar os esforços para eliminar as causas da pobreza e as trágicas consequências que dela derivam.
* * *

Consistório para a nomeação de vinte e três Cardeais


Agora, tenho a alegria de anunciar que no próximo dia 24 de Novembro, vigília da solenidade de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, realizarei um Consistório em que, derrogando de uma unidade ao limite numérico estabelecido pelo Papa Paulo VI, confirmado pelo meu venerado Predecessor João Paulo II na Constituição Apostólica Universi dominici gregis (cf. ), nomearei dezoito Cardeais. Eles são:

1. D. LEONARDO SANDRI, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais;

2. D. JOHN PATRICK FOLEY, pró-Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém;

3. D. GIOVANNI LAJOLO, Presidente da Pontifícia Comissão e do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano;

4. D. PAUL JOSEPH CORDES, Presidente do Pontifício Conselho "Cor Unum";

5. D. ANGELO COMASTRI, Arcipreste da Basílica Vaticana, Vigário-Geral para o Estado da Cidade do Vaticano e Presidente da Fábrica de São Pedro;

6. D. STANISLAW RYLKO, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos;

7. D. RAFFAELE FARINA, Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana;

8. D. AGUSTÍN GARCÍA-GASCO VICENTE, Arcebispo de Valença (Espanha);

9. D. SEÁN BAPTIST BRADY, Arcebispo de Armagh (Irlanda);

10. D. LLUÍS MARTÍNEZ SISTACH, Arcebispo de Barcelona (Espanha)

11. D. ANDRÉ VINGT-TROIS, Arcebispo de Paris (França);

12. D. ANGELO BAGNASCO, Arcebispo de Génova (Itália);

13. D. THÉODORE-ADRIEN SARR, Arcebispo de Dacar (Senegal);

14. D. OSWALD GRACIAS, Arcebispo de Bombaim (Índia);

15. D. FRANCISCO ROBLES ORTEGA, Arcebispo de Monte Rei (México);

16. D. DANIEL N. DINARDO, Arcebispo de Galveston-Houston (Estados Unidos da América);

17. D. ODILO PEDRO SCHERER, Arcebispo de São Paulo (Brasil);

18. D. JOHN NJUE, Arcebispo de Nairobi (Quénia).

Além disso, desejo elevar à dignidade cardinalícia três venerados Prelados e dois beneméritos eclesiásticos, particularmente merecedores pelo seu compromisso ao serviço da Igreja:

1. S. B. EMMANUEL III DELLY, Patriarca de Babilónia dos Caldeus;

2. D. GIOVANNI COPPA, Núncio Apostólico;

3. D. ESTANISLAO ESTEBAN KARLIC, Arcebispo Emérito de Paraná (Argentina);

4. Pe. URBANO NAVARRETE, S.J., ex-Reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana;

5. Pe. UMBERTO BETTI, O.F.M., ex-Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense.


Entre estes últimos, era meu desejo elevar à Púrpura também o idoso Bispo D. IGNACY JEZ, de Koszalin-Kolobrzeg (Polónia), Prelado benemérito que ontem faleceu inesperadamente.

Dirijamos-lhe a nossa oração de sufrágio pela sua alma.

Os novos Purpurados provêm de várias regiões do mundo. No seu número reflecte-se bem a universalidade da Igreja, com a multiplicidade dos seus ministérios: ao lado dos Prelados beneméritos pelo serviço prestado à Santa Sé há Pastores que empregam as suas energias no contacto directo com os fiéis.

Há outras pessoas, a mim queridas, que pela sua dedicação ao serviço da Igreja mereceriam ser elevadas à dignidade cardinalícia. Espero ter no futuro a oportunidade de manifestar a elas, também deste modo, e aos países aos quais pertencem, o testemunho da minha estima e do meu carinho.

Confiemos os neo-eleitos à protecção de Maria Santíssima, pedindo-lhe que os assista nas respectivas tarefas, a fim de que saibam testemunhar com coragem em todas as circunstâncias o seu amor por Cristo e pela Igreja.



Audiências 2005-2013 26097