Discursos Bento XVI 13137

AO SENHOR ALAIN BUTLER-PAYETTE NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SEYCHELLES JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

13137 Excelência

É-me grato aceitar as Cartas mediante as quais Vossa Excelência é credenciado como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Seychelles junto da Santa Sé. Recordo-me com prazer da sua visita realizada no ano passado, em companhia do Presidente, Sua Excelência o Senhor James Alix Michel, e estou profundamente agradecido pelas saudações que me transmitiu da sua parte. Quanto a mim, retribuo-lhe de bom grado, com a certeza das minhas preces sinceras pelo seu querido país e por todo o seu povo.

Seychelles foi abençoado pela Providência não apenas com uma grandiosa beleza natural e com uma sólida vida económica, mas também com a harmonia social e com uma coesão derivada de valores compartilhados e de um vigoroso compromisso na solidariedade na busca do bem comum. Com efeito, a sua nação pode dar graças pelo seu elevado padrão de vida, que é fruto da visão e do sacrifício de muitas gerações de cidadãos. No contexto mais vasto do continente africano, Seychelles é conhecido pela qualidade e pela extensão do seu sistema educativo, bem como pela difusão da sua rede de serviços médicos, disponíveis a todos os seus cidadãos. Esta impressionante infra-estrutura oferece uma grande promessa para o futuro da nação, dado que fornece um fundamento firme para um crescimento económico constante e inclusivamente o que é ainda mais importante para a realização das maiores esperanças e aspirações das jovens gerações.

A este propósito, estou grato à referência de Vossa Excelência à importância de reconhecer e de promover os valores espirituais, derivados das raízes cristãs da sua nação, que foram determinantes para a formação do presente de Seychelles e que oferecem um alicerce seguro para o seu porvir. A Igreja que está em Seychelles orgulha-se, justamente, da sua contribuição para a vida da nação, de maneira particular através do seu compromisso histórico nos campos da educação dos jovens, da formação dos fiéis nas virtudes essenciais para o desenvolvimento humano integral e da construção de uma sociedade livre, justa e próspera. A comunidade católica deseja perseverar neste compromisso e, com um espírito de sinceridade e de cooperação respeitosa, trabalhar pela promoção de um bem comum através da pregação do Evangelho, do trabalho de formação das consciências em princípios religiosos e morais sadios, e da oferta da assistência caritativa de todos, sem discriminação de raças ou de religiões.

Nesta ocasião, não posso deixar de manifestar o meu apreço pelas cordiais relações que existem entre a República de Seychelles e a Santa Sé, caracterizadas pela confiança recíproca e pela colaboração tempestiva. Expresso, outrossim, o meu agradecimento pelos esforços do seu Governo, em vista de contribuir para a educação religiosa nas escolas primárias e para a edificação de novas igrejas e de estruturas escolares. Este compromisso constitui um sinal concreto da relação de confiança e de cooperação responsável que existe há muito tempo entre as autoridades civis e a comunidade católica no serviço aos jovens, que representam a esperança da sociedade.

Efectivamente, a nação tem feito das necessidades dos jovens e de uma sólida formação para os mesmos uma prioridade notável, e isto certamente dará os seus ricos frutos, na medida em que os jovens e as jovens desta época assumirem, gradualmente, os lugares que lhes competem como cidadãos responsáveis e líderes futuros. Tenho grande confiança nos jovens de Seychelles, e através de Vossa Excelência transmito-lhes as minhas carinhosas saudações e o meu encorajamento sincero, a fim de que consigam perseverar no cultivo das virtudes da honestidade, da fidelidade e do serviço generoso ao próximo, que não apenas suscita a felicidade pessoal e uma profunda realização, mas cria também uma sociedade de fraternidade, liberdade, justiça e paz cada vez maiores.

Um dos principais recursos de Seychelles é a sua vigorosa vida familiar, fundamentada no amor mútuo entre o marido e a sua esposa, e fortalecido pelo dom dos filhos. Como célula primária da sociedade, a família justamente busca na sociedade o ânimo de que tem necessidade para cumprir a sua missão insubstituível. Não posso deixar de encorajar os esforços que estão a ser envidados por todas as pessoas de boa vontade, em todos os sectores da vida e da política nacional, em vista de "garantir e promover a identidade genuína da família humana" (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 252), promovendo e defendendo esta instituição fundamental, reconhecendo e assumindo os desafios enfrentados pelas jovens famílias, e ajudando os pais no cumprimento das suas responsabilidades de primeiros educadores dos próprios filhos. O futuro do Estado depende em vasta medida das famílias, que são fortes na sua comunhão e estáveis no seu compromisso (cf. ibid., n. 213).

No momento em que Vossa Excelência dá início à sua missão em nome da República de Seychelles, peço-lhe que aceite os meus bons votos pessoais para a sua exigente função. Tenha a certeza de que os diversos departamentos da Santa Sé estão prontos a assisti-lo e ajudá-lo no cumprimento dos seus deveres. Com estes sentimentos, invoco cordialmente sobre o Senhor Embaixador, a sua família e todo o amado povo de Seychelles, copiosíssimas bênçãos divinas de alegria e de paz.



AO SENHOR PETER HITJITEVI KATJAVIVI NOVO EMBAIXADOR DA NAMÍBIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

13147 Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e que aceito as Cartas que designam Vossa Excelência Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Namíbia junto da Santa Sé. Agradeço-vos as saudações e os bons votos que o Senhor Embaixador transmitiu da parte do seu Presidente, Sua Excelência o Senhor Hifikepunye Pohamba, e pedir-lhe-ia a amabilidade de lhe comunicar, assim como ao povo namibiano, as minhas cordiais saudações pessoais e a certeza das minhas preces pela sua paz e pelo seu bem-estar.

Tendo conquistado a independência em 1990, a Namíbia é uma das nações mais jovens do mundo. Todavia, a história do seu povo remonta a uma época muito mais antiga, abrangendo períodos de grandes provações e sofrimentos, bem como momentos de notável sucesso. Vossa Excelência expressou amavelmente o seu apreço pela presença constante da Igreja ao longo desta história. Tendo chegado ao seu território na segunda metade do século XIX os missionários católicos, além de fundar lugares de culto, criaram inclusivamente numerosas escolas e hospitais, muitos dos quais continuam a servir a população namibiana também nos dias de hoje. A obra destas instituições dá testemunho do "dever da caridade", que esteve sempre no coração da missão da Igreja (cf. Deus caritas est ).

Como o Senhor Embaixador indicou, o amor autêntico pelo próximo deve expressar-se de maneiras tangíveis. No entanto, no sector público, muitas vezes é difícil certificar-se de forma específica daquilo que seria mais propício para o bem dos nossos irmãos e das nossas irmãs. Este discernimento exige uma visão a longo prazo. Este é o ímpeto das numerosas iniciativas que o seu país tomou, em vista de revigorar a qualidade de vida de todos os Namibianos, concentrando-se de maneira especial no autêntico desenvolvimento humano. Com efeito, a qualidade da vida humana não pode ser medida exclusivamente segundo termos de bens de consumo. A Igreja compartilha a convicção de que as sociedades têm o dever de abarcar toda "a hierarquia das suas necessidades materiais", mas também a sua "vida intelectual, moral, espiritual e religiosa" (Gaudium et spes
GS 64). Rezo a fim de que, fazendo progredir as suas estratégias em vista do desenvolvimento económico e social, a Namíbia mantenha o seu olhar fixo numa visão integral do homem, nas suas dimensões corporais, espirituais e sociais.

A visão que a Namíbia tem do futuro reconhece a urgente necessidade de debelar a preocupante difusão das enfermidades infecciosas. As trágicas consequências do Vih/Sida no Sul da África são particularmente alarmantes. A este propósito, asseguro ao povo do seu país que a Igreja continuará a assistir as vítimas da Sida e a ajudar as suas famílias. A contribuição da Igreja para atingir a meta da erradicação da Sida do meio da sociedade não pode deixar de se inspirar no conceito cristão do amor e da sexualidade do ser humano. A compreensão do matrimónio como uma comunhão de amor total, recíproco e exclusivo entre um homem e uma mulher não somente está em sintonia com o plano do Criador, mas também suscita os comportamentos mais eficazes para a prevenção da transmissão sexual desta doença: nomeadamente, a abstinência antes do matrimónio e a fidelidade na vida conjugal. É por este motivo que a Igreja não dedica menos energias à educação e à catequese, do que o faz à assistência médica e às obras corporais de misericórdia. Senhor Embaixador, encorajo os líderes da sua nação a governarem de maneira a promover a vida da família, que deve considerar-se sempre sagrada e extremamente fundamental para uma sociedade estável.

A saúde humana depende também de uma relação harmoniosa com a natureza, que foi confiada à gestão inteligente do homem. A Constituição da Namíbia foi uma das primeiras a mencionar de modo explícito a grave responsabilidade da salvaguarda do meio ambiente e o uso sábio dos seus recursos. Compartilho a preocupação de chamar a atenção da comunidade mundial para a importância de respeitar a natureza como um bem comum, destinado a beneficiar toda a família humana (cf. Centesimus annus CA 37). Tendo em vista esta finalidade, a Namíbia tem envidado esforços conjuntos em prol de uma reforma agrária. No entanto, o caminho não tem sido fácil. Sobretudo, as políticas neste campo devem fomentar sempre o direito essencial de quem tem fome, à sua porção diária de pão (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 42). Por conseguinte, animo calorosamente todas as pessoas comprometidas nestas iniciativas, a perseverarem. Administrando de forma eficaz os títulos, abrindo o acesso a créditos e lançando mão dos últimos progressos conquistados na ciência e na tecnologia (cf. Gaudium et spes GS 69), estou persuadido de que a sua nação alcançará uma distribuição mais equitativa da terra e terá uma colheita mais abundante dos seus frutos nos anos vindouros.

Asseguro-lhe, Senhor Embaixador, que a Igreja há-de continuar a permanecer ao lado dos seus compatriotas, enquanto eles procuram assistir-se uns aos outros em sintonia com o mandamento divino do amor ao próximo (cf. Mt 22,39). Na hora em que o Senhor Embaixador assume as suas responsabilidades, estou convicto de que encontrará os vários departamentos da Santa Sé prontos para o assistir no cumprimento da sua missão. Sobre Vossa Excelência, a sua família, o povo namibiano e os seus governantes, invoco abundantes bênçãos divinas.



AO SENHOR CHAIYONG SATJIPANON NOVO EMBAIXADOR DO REINO DA TAILÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

13157
Excelência

É com imenso prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Tailândia junto da Santa Sé. Aprecio enormemente as cordiais saudações que Vossa Excelência me transmitiu da parte de Sua Majestade o Rei Bhumibol Adulyadej. Retribuo-as calorosamente e peço que lhe comunique a certeza da minha profunda estima pela Família real, bem como as minhas preces pelo bem-estar dos cidadãos da sua nobre nação. Os sólidos vínculos de respeito e de amizade entre a Tailândia e a Santa Sé, que gozam de uma história notável de mais de quatrocentos anos, hoje permanece uma fonte de particular vigor, da qual ambas as partes haurem no seu serviço à família humana.

Na feliz ocasião do 60º aniversário da sucessão de Sua Majestade ao trono do Reino da Tailândia, tive a profunda satisfação de me unir a todos os cidadãos do seu país, no reconhecimento das numerosas bênçãos que Sua Majestade recebeu ao longo das últimas seis décadas. Tive também a oportunidade de expressar os meus obséquios pelo serviço amoroso que ele tem prestado através da sua atenção assídua à promoção da unidade, da tolerância religiosa e da compaixão pelos pobres. Com efeito, durante séculos a Família real e a Santa Sé compartilharam a preocupação e a solicitude pela família humana, especialmente pelos membros mais vulneráveis. A jubilosa visita de Natal da Princesa Maha Chakri Sirindhorn à Nunciatura Apostólica, que incluiu algumas actividades culturais e de serviço aos pobres, não apenas aqueceu o coração de todos os presentes, mas manifestou novamente o nosso compromisso conjunto em benefício dos marginalizados e dos menos afortunados.

A característica moral do autêntico desenvolvimento é de importância fundamental para o progresso integral (cf. Sollicitudo rei socialis
SRS 9). O direito a um trabalho significativo e a um padrão de vida aceitável, a certeza de uma distribuição equitativa dos bens e das riquezas, e o uso responsável dos recursos naturais, tudo depende de um conceito de desenvolvimento que não se limita meramente a satisfazer as necessidades materiais. Pelo contrário, este conceito deve salientar também a dignidade da pessoa humana o sujeito próprio de todo o progresso e por conseguinte garantir o bem comum de todos, inclusive dos grupos minoritários. Embora esta finalidade exija a assistência da comunidade internacional, é também verdade que muito pode ser alcançado através de iniciativas regionais e locais. Os esforços envidados por parte da nação do Senhor Embaixador, em vista de promover a cooperação económica entre os Estados membros da ASEAN, confirmam o profundo valor da solidariedade comum. Com efeito, a cooperação económica e social tem contribuído de maneira substancial para a superação das divisões e das animosidades históricas nessa região. Além disso, tem ajudado a debelar os incidentes provocados por sublevações locais que, esporadicamente, se verificam no sul do país.

Como Vossa Excelência observou amavelmente, a Igreja que está na Tailândia serve a nação de modo considerável através do seu vasto apostolado educativo e social. A propósito da oferta da educação, sentimo-nos encorajados pelo facto de que, onde as escolas e os institutos de formação funcionam de maneira profissional, assistidos por indivíduos com integridade pessoal e amor pelo ensino, é oferecido um futuro à nação e de forma especial aos seus jovens. A educação é um instrumento altamente eficaz para interromper o ciclo da pobreza, que ainda atinge tantas famílias nos dias de hoje, e é cada vez mais reconhecida pela comunidade internacional como uma parte indispensável do caminho para a paz. Com a aprendizagem e a socialização adquiridas através dos estudos escolares, os alunos de todas as camadas da sociedade são integrados na vida cívica da nação e, deste modo, podem ter a satisfação de contribuir para a mesma.

No serviço da família humana, a Igreja católica chega a todos os membros da sociedade tailandesa, sem qualquer distinção. A missão caritativa, particularmente em benefício dos pobres e dos sofredores, dá testemunho do "nexo indivisível entre o amor a Deus e o amor ao próximo" (Deus caritas est ). Uma causa de particular preocupação para ela é o flagelo da Sida, da prostituição e do tráfico de mulheres e de crianças, que continua a afligir os países dessa região. Indubitavelmente, a pobreza é um dos principais factores que se encontram por detrás deste fenómeno, e é enfrentada constantemente pela Igreja. Deve-se também reconhecer que o declínio dos valores morais, alimentado pela banalização da sexualidade nos meios de comunicação e nas indústrias de diversões, leva à degradação das mulheres e mesmo ao abuso das crianças. A complexidade da exploração humana exige uma resposta internacional concertada. Tendo em vista esta finalidade, observo o compromisso crescente da Tailândia nas várias convenções e protocolos internacionais, designados para combater a exploração e o tráfico sexual. Esta cooperação internacional, assumida com uma firme determinação política nacional em vista de enfrentar a corrupção e a impunidade que facilitam estes crimes, há-de levar a uma irreversível situação de esperança e de dignidade para todos os interessados. Em tais esforços, posso assegurar-lhe a maior ajuda moral e assistência prática da parte da Igreja.

No ano passado, a Tailândia deu passos significativos rumo à revitalização das suas instituições democráticas. Uno-me à população do seu país, que visa o pleno restabelecimento das estruturas e dos procedimentos que hão-de contribuir para debelar as tensões sociais e para aumentar o respeito pelos direitos políticos das minorias. Aproveito este ensejo para encorajar um processo eleitoral justo nas próximas semanas, que favoreça a participação de todos e honre a voz do povo.
Estou persuadido de que a missão que o Senhor Embaixador começa no dia de hoje ajudará a fortalecer ainda mais os vínculos de compreensão entre a Tailândia e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre o Senhor Embaixador e os seus compatriotas, invoco abundantes bênçãos divinas.



AO SENHOR BARRY DESKER NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SINGAPURA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

13167
Excelência

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas, no momento em que Vossa Excelência começa a sua missão, e por aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Singapura junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas suas gentis palavras e pelas saudações que me comunicou da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Sellapan Rama Nathan. Peço-lhe que tenha a cortesia de lhe transmitir os meus respeitosos bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e pela prosperidade de todo o povo da sua nação.

Há mais de vinte e cinco anos, a Santa Sé mantém excelentes relações diplomáticas com Singapura e deseja fortalecê-las ainda mais nos anos vindouros. Como um dos países mais desenvolvidos do sudeste da Ásia, Singapura tem uma significativa contribuição a oferecer em vantagem do progresso económico e social dessa região. Enquanto muitas áreas do sudeste da Ásia continuam a sofrer por causa da pobreza, do crime e da instabilidade política, Singapura como um país próspero, ordenado e democrático, representa uma liderança importante que pode transmitir esperança e inspiração também aos outros. A Santa Sé está desejosa de continuar a trabalhar com o governo do seu país, em vista de promover o bem-estar da região e a solução dos conflitos.

No entanto, o bom êxito económico tem necessidade de um fundamento ético sólido, se quiser beneficiar a sociedade de maneira duradoura. Com efeito, as necessidades da pessoa devem ser colocadas sempre no âmago dos empreendimentos financeiros, uma vez que como ensina o Concílio Vaticano II a pessoa humana "a fonte, o centro e a finalidade de toda a vida económico-social" (Gaudium et spes
GS 63). De maneira análoga, uma democracia autêntica não é meramente o resultado da formal observação de um conjunto de regras, mas sim "o fruto de uma aceitação convicta dos valores que inspiram os procedimentos democráticos: a dignidade de cada pessoa humana, o respeito pelos direitos do homem e o compromisso em benefício do bem comum" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 407). Por este motivo, encorajo o seu governo nos seus esforços em vista de envolver todos os cidadãos e grupos, a fim de que participem na vida política e social, para a promoção dos valores autênticos que estão no cerne de uma sociedade sadia.

Não obstante constituam somente uma pequena percentagem da população de Singapura, os católicos sentem-se felizes e desejosos de desempenhar a função que lhes é própria na vida nacional e de contribuir assim para o bem comum. O modo particularmente importante de o fazerem é mediante o testemunho da vida matrimonial e familiar. Como a comunidade natural em que a natureza social do homem adquire a sua experiência, a família oferece uma contribuição singular e insubstituível para o bem da sociedade. Efectivamente, uma condição sadia de vida matrimonial e familiar constitui a melhor garantia contra os efeitos prejudiciais do individualismo ou do colectivismo, porque "no seio da família a pessoa está sempre no centro da atenção, como fim e jamais como meio" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 213). Por esta razão, estou persuadido de que o seu governo desejará continuar a salvaguardar o papel vital, desempenhado no meio da sociedade, pela instituição do matrimónio e pela família.

Valorizando os direitos humanos, a Igreja preocupa-se de forma especial em defender os direitos universais à vida e à liberdade religiosa (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, n. 4). O direito à vida, desde a concepção até à morte natural, é o primeiro entre os direitos, além de ser a condição para todos os outros. Além disso, o reconhecimento concreto do direito à liberdade de consciência e à liberdade religiosa é um dos deveres mais sérios de cada comunidade que deseja assegurar o bem do indivíduo e da sociedade em geral. O governo do seu país é conhecido pelo seu compromisso em prol de iniciativas destinadas a promover o diálogo, o respeito e a cooperação entre os diferentes grupos religiosos, que são de particular importância na perspectiva das várias filiações étnicas e religiosas da sua população. Tenha certeza de que também a Santa Sé deseja trabalhar com o governo da sua nação neste campo, com a finalidade de alcançar os objectivos conjuntos.

Nos últimos anos houve um trágico aumento do terrorismo a nível internacional, muitas vezes ligado a motivos religiosos, e ao sudeste da Ásia não têm sido poupados os efeitos deste incremento inquietador. A Santa Sé rejeita com firmeza a manipulação da religião por finalidades políticas, e de modo especial a tentativa de justificar a violência desta forma. Esta reiterada ameaça para a paz mundial exige um renovado compromisso da parte dos Estados, em vista da realização de um direito humanitário internacional (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, n. 14). A assistência oferecida pelo governo do seu país em benefício de iniciativas que visam a manutenção da paz no mundo inteiro constitui um sinal da firme decisão de Singapura, de contribuir para esta digna finalidade. A Igreja católica compartilha a solicitude de todos aqueles que procuram aliviar o sofrimento causado pelos conflitos armados e fomentar uma coexistência pacífica entre os povos e as nações.

Excelência, rezo para que a missão diplomática que o Senhor Embaixador começa no dia de hoje fortaleça ulteriormente as fecundas relações entre a Santa Sé e o seu país. Asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para lhe oferecer a ajuda e o apoio necessários no cumprimento dos seus deveres. Invoco abundantes bênçãos divinas sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo de Singapura.


À SENHORA ELIZABETH YA ALI HARDING NOVA EMBAIXADORA DA GÂMBIA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

13177

Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007


Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, no momento em que apresenta as Cartas Credenciais que a nomeiam Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República da Gâmbia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis saudações e sentimentos de boa vontade, que a Senhora Embaixadora manifestou em nome de Sua Excelência o Coronel Yahya Jammeh, Presidente da República. Enquanto retribuo de bom grado, peço-lhe que tenha a cortesia de comunicar a minha gratidão e os meus bons votos a Sua Excelência, às autoridades civis e ao povo gambiano.

As relações diplomáticas entre a República da Gâmbia e a Santa Sé foram estabelecidas formalmente no ano de 1978. Tais relações, que a Santa Sé estabelece de bom grado com cada um dos países, constituem uma oportunidade privilegiada para trabalhar em conjunto pela promoção de muitos valores importantes, favoráveis ao progresso genuíno da sociedade humana. Relações estreitas e cordiais podem ser uma grande vantagem para ambas as partes interessadas, especialmente em sectores relativos à defesa da vida, da dignidade e da liberdade de cada ser humano e à promoção da saúde, do desenvolvimento social e da educação dos grupos menos favorecidos da população.

O amor cristão é a força que motiva a Igreja no seu país, oferecendo o seu serviço ao povo gambiano através da promoção de valores importantes, como a justiça, a solidariedade e a paz. A Igreja católica que peregrina na África está comprometida directamente na difusão da mensagem de Jesus e, por conseguinte, no testemunho do amor de Deus Todo-Poderoso mediante a prática da caridade, como o bom samaritano da parábola do Evangelho (cf. Ecclesia in Africa ). Um testemunho de amor semelhante e os valores da hospitalidade e da compaixão são também praticados pelos seguidores de outras religiões presentes no seu país. A este respeito, é com prazer que reconheço as relações cordiais e pacíficas existentes na Gâmbia entre os membros das diferentes religiões. Elas dão um testemunho positivo da disposição amistosa da população e dos seus sentimentos religiosos genuínos. Rezo a fim de que esta atmosfera favorável seja consolidada e salvaguardada contra a influência de corrupção das ideologias que recorrem à religião para alcançar finalidades políticas.

O futuro da Gâmbia está interligado com o porvir da África ocidental. A Santa Sé considera com esperança os esforços envidados em vista de consolidar a paz nessa região. Nada pode dispensar o processo do diálogo político, onde as diferenças são harmonizadas e as expectativas comunitárias são orientadas para o bem comum do povo. A Gâmbia já deu o exemplo desta abordagem, num recente debate internacional. Encorajo o seu país a continuar ao longo deste nobre caminho na busca de uma solução para as diferenças externas e internas.

O seu povo continua a aspirar, e justamente, por uma vida de bem-estar na dignidade e na liberdade. Ele põe-se em busca de melhores condições políticas e sociais, que garantam o crescimento mediante a iniciativa, a criatividade e o intercâmbio. A Igreja católica oferece o seu pleno encorajamento e cooperação a todos os governos africanos que se esforçam em vista de revigorar a regra da lei e de erradicar a corrupção, pondo termo aos ultrajes políticos e ao abuso do poder (cf. Ecclesia in Africa ). Em todos os sectores da vida, especialmente nas questões públicas, o valor da abertura aos outros e da submissão à verdade constitui a pedra angular de uma sociedade humana digna deste nome. O compromisso em prol da verdade é a alma da justiça, porque estabelece e revigora o direito à liberdade e abre o caminho para o perdão e a reconciliação (cf. Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 9 de Janeiro de 2006). As instituições políticas e os oficiais públicos permanecem, pela sua própria natureza, abertos ao controle e à crítica legítimos, uma vez que servem o bem comum do país, bem como as necessidades e as apirações do povo por eles representado (cf. Gaudium et spes
GS 75). Um clima político alicerçado no respeito pela verdade constitui um fundamento indispensável da sociedade civil. O amor à própria nação deveria encorajar todos, as autoridades e os cidadãos, os partidos políticos e os meios de comunicação, a contribuírem concretamente para a consolidação de uma atmosfera política sadia, aberta e respeitosa.

Embora à Gâmbia como tal foi poupado o flagelo da guerra, ela ainda está a enfrentar numerosas dificuldades. O governo e os seus respectivos departamentos e ministérios, outras agências e partidos políticos estão atentos a estas situações e podem contar com a cooperação generosa da Igreja católica. Os padrões de vida e as condições de assistência à saúde de importantes segmentos da população exigem uma atenção permanente. Encorajo todos a comprometerem-se na promoção da igualdade e complementariedade essenciais do homem e da mulher. De igual modo, a luta contra a Sida deve continuar no campo médico e especialmente no sector educativo. O comportamento sexual promíscuo é uma das principais causas de numerosas enfermidades morais e físicas, e deve ser debelado mediante a promoção de uma cultura de fidelidade conjugal e de integridade moral. O deslocamento das populações e a influência dos refugiados que se põem em busca da liberdade das diversas misérias que os conflitos armados trazem consigo, ainda constituem um problema urgente que faz definhar os recursos disponíveis. Estou consciente das dificuldades envolvidas e encorajo a população e as instituições, públicas e particulares, que oferecem o próprio serviço às pessoas em necessidade. Ao mesmo tempo, dirijo um apelo à comunidade internacional a fim de que desempenhe um papel generoso no apoio a esta tarefa humanitária.

Senhora Embaixadora, estes são alguns dos pensamentos que derivam da consideração atenta e do apreço da Santa Sé pelo seu país e pelo continente africano. Formulo-lhe votos para o bom êxito na sua missão. Vossa Excelência poderá contar com a cooperação disponível e aberta dos departamentos do Vaticano e da Cúria Romana. Estou feliz por renovar mais uma vez os meus bons votos a Sua Excelência o Senhor Presidente Jammeh, ao governo e ao povo do seu país. Deus Todo-Poderoso derrame sobre a nação abundantes e duradouras bênçãos de bem-estar e de paz!



À SENHORA URMILA JOELLA-SEWNUNDUN NOVA EMBAIXADORA DA REPÚBLICA DO SURINAME JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

13187

Excelência

É com prazer que a recebo como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República do Suriname junto da Santa Sé. Aceito de bom grado as suas Cartas credenciais e agradeço-lhe a expressão das amáveis saudações manifestadas por parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Ronald Venetiaan. Pedir-lhe-ia a amabilidade de comunicar as minhas saudações pessoais a Sua Excelência e ao povo do Suriname, com a certeza das minhas orações contínuas pela paz e pelo bem-estar do seu país. O espírito congenial que caracteriza os laços diplomáticos entre o Suriname e a Santa Sé, a partir de 1994, constitui um grandioso sinal de esperança para o futuro. A Igreja, que desempenhou um papel-chave na história da sua região, continua a compartilhar as aspirações de tais populações pela paz, a harmonia social e a estabilidade financeira.

No corrente ano celebra-se o 40º aniversário da Populorum progressio, a Carta Encíclica promulgada pelo meu Venerável Predecessor o Papa Paulo VI, para promover "o desenvolvimento completo do homem e o progresso de toda a humanidade" (n. 5). Os princípios fundamentais delineados neste documento suscitou um vigoroso debate não apenas entre os Bispos, mas também entre os líderes dos vários governos, advogados, economistas, empresários e intelectuais do mundo inteiro. Este interesse vivo persiste inclusivamente nos dias de hoje, gerando ideais renovadas para o progresso do bem comum de maneiras que não somente satisfaçam as necessidades materiais, mas também actualizem a sua plena potencialidade espiritual. A Populorum progressio salienta os desafios que devem ser enfrentados pelas ex-colónias no seu caminho rumo à sua soberania nacional (cf. n. 7). Este itinerário nem sempre foi fácil para o Suriname, mas as suas instituições democráticas e a sua identidade nacional foram fortalecidas como resultado deste processo de adaptação a uma nova realidade política. Exorto cordialmente o povo da sua nação, nos seus planos para o futuro, a beber na profunda nascente do ensinamento social da Igreja.

Vossa Excelência observou a extraordinária diversidade étnica e religiosa presente no seu país. As diferenças de origem, de tradição e de credo são maravilhosas oportunidades para os indivíduos aprenderem e pôr em prática a tolerância e a simpatia uns pelos outros. Estes hábitos constroem a unidade social e lançam uma base sólida para uma democracia estável (cf. Populorum progressio
PP 64). Familiarizando-se ulteriormente com os vários mores que coexistem no interior de uma determinada nação, os seus cidadãos aprendem a fixar o seu olhar nas verdades que os transcendem, quer como indivíduos quer como membros das comunidades locais. Estas verdades, que devem ser fomentadas pela regra da lei de um país e pelas instituições criadas para a promover, também inspiram homens e mulheres de boa vontade a abandonarem o seu limitado campo de interesse egoísta e a colocarem-se ao serviço do seu próximo (cf. Populorum progressio PP 73). O plano quinquenal do Suriname oferece numerosas oportunidades para a promoção do espírito de solidariedade no meio do seu povo, que procura preparar o caminho para iniciativas que hão-de fomentar a integração social. Rezo para que a realização deste plano quinquenal ajude a garantir que os direitos básicos de todos especialmente das minorias e dos pobres continuem a ser respeitados a todos os níveis da sociedade (cf. ibid., PP 9).

Vossa Excelência chamou também a atenção para a participação do Suriname em várias organizações internacionais, destinadas a promover o diálogo e a cooperação multilaterais. A disponibilidade da sua nação para participar em tais organizações demonstra o compromisso do Suriname na resolução das diferenças regionais, de maneira a honrar a justa autonomia de todos os Estados interessados. A cooperação com os seus vizinhos há-de fomentar também os esforços em vista de debelar a tendência inquietadora do narcotráfico internacional, cujos efeitos ameaçadores podem ser sentidos por toda a comunidade mundial e são particularmente nocivos para os pobres, os jovens e os deserdados. Não só o narcotráfico ilegal provoca graves prejuízos para as pessoas que abusam de tais substâncias, mas também as próprias estruturas necessárias para facilitar este comércio capturam a sociedade numa rede de corrupção, de ganância e de exploração.

Senhora Embaixadora, enquanto manifesto o meu sincero apreço pelos gestos já realizados para enfrentar esta situação tão complexa, encorajo-a, assim como todas as pessoas interessadas dessa sua região, a continuar a envidar todos os esforços em vista da erradicação deste problema da sociedade em geral, eliminando-o nas suas fontes e lutando contra os factores que levam as pessoas a terem comportamentos abusivos em relação a si mesmas: especialmente a pobreza, a ruptura familiar e a desintegração social.

Senhora Embaixadora, é com alegria que a recebo no dia de hoje, no momento em que dá início à missão que lhe foi confiada. Estou agradecido pela sua garantia do compromisso constante do Suriname em prol da liberdade religiosa e do seu espírito de cooperação com a Igreja católica no seu país. Em contrapartida, sinto-me feliz por confirmar a pronta colaboração dos vários departamentos e agências da Cúria Romana. Que a sua missão sirva para revigorar os vínculos de amizade e de boa vontade entre o seu governo e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência e todo o povo do seu país, invoco as copiosas bênçãos de Deus Omnipotente.





Discursos Bento XVI 13137