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P. – Santidade, esta viagem realiza-se num período muito delicado para o Médio Oriente: há fortes tensões, por ocasião da crise de Gaza, pensou-se que talvez Vossa Santidade renunciasse a ela. Ao mesmo tempo, poucos dias depois da sua viagem, os principais responsáveis políticos de Israel e da Autoridade Palestiniana, encontrarão também o presidente Obama. Vossa Santidade pensa poder dar uma contribuição para o processo de paz que agora parece estar estagnado?
R. – Bom dia! Antes de tudo, gostaria de agradecer o trabalho que fazeis e desejarmo-nos uns aos outros boa viagem, uma boa peregrinação, um bom regresso. No que se refere à pergunta, certamente procuro contribuir para a paz não como indivíduo mas em nome da Igreja católica, da Santa Sé. Nós não somos um poder político, mas uma força espiritual e esta força espiritual é uma realidade que pode contribuir para os progressos no processo de paz. Vejo três níveis. O primeiro: como crentes, estamos convencidos de que a oração seja uma verdadeira força: abre o mundo a Deus. Temos a certeza de que Deus escute e de que possa agir na história. Penso que se milhões de pessoas, e crentes, rezam, é realmente uma força que influi e pode contribuir para ir em frente com a paz. O segundo nível: nós procuramos ajudar na formação das consciências. A consciência é a capacidade do homem de compreender a verdade, mas esta capacidade muitas vezes é obstaculada por interesses particulares. E libertar destes interesses, abrir maiormente para a verdade, para os verdadeiros valores é um compromisso grande: é tarefa da Igreja ajudar a conhecer os verdadeiros critérios, os valores autênticos, e a libertar-nos de interesses particulares. E assim terceiro nível falamos também e realmente! à razão: precisamente porque não somos parte política, talvez possamos mais facilmente, também à luz da fé, ver os verdadeiros critérios, ajudar a compreender quanto possa contribuir para a paz, falar à razão, apoiar as posições realmente razoáveis. Já fizemos isto, queremos fazê-lo também agora e no futuro.
P. – Como teólogo, Vossa Santidade reflectiu sobretudo sobre a raiz única que irmana cristãos e judeus. Porque se apresentam com frequência, não obstante esforços de diálogo, ocasiões de mal-entendidos? Como vê o futuro do diálogo entre as duas comunidades?
R. – Importante é que na realidade temos a mesma raiz, os mesmos Livros do Antigo Testamento que são quer para os judeus quer para nós Livro da Revelação. Mas, naturalmente, depois de dois mil anos de histórias distintas, aliás, separadas, não devemos admirar-nos que haja mal-entendidos, porque se formaram tradições de interpretação, de linguagem, de pensamento muito diversas, por assim dizer um "cosmos semântico" muito diferente, de modo que as mesmas palavras nas duas partes significam coisas diversas; e com este uso de palavras que, no decorrer da história assumiram significados diversos, obviamente nascem mal-entendidos. Devemos fazer o possível para aprender a linguagem uns dos outros, e parece-me que fazemos grandes progressos. Hoje temos a possibilidade de que os jovens, os futuros professores de teologia, possam estudar em Jerusalém, na Universidade judaica, e os judeus têm contactos académicos connosco: há assim um encontro destes "cosmos semânticos" diversos. Aprendemos reciprocamente e prosseguimos o caminho do diálogo verdadeiro, aprendemos uns dos outros e tenho a certeza e a convicção de que fazemos progressos. E isto ajudará também a paz, aliás, o amor recíproco.
P. – Esta viagem tem duas dimensões essenciais de diálogo inter-religioso, com o islão e com o judaísmo. São duas direcções completamente separadas entre elas ou haverá também uma mensagem comum que diga respeito às três religiões que se referem a Abraão?
R. – Certamente existe também uma mensagem comum e haverá ocasião para a evidenciar; apesar da diversidade das origens, temos raízes comuns porque, como já disse, o cristianismo nasce do Antigo Testamento e a Escritura do Novo Testamento sem o Antigo não existiria, porque se refere em permanência à "Escritura", isto é, ao Antigo Testamento, mas também o islão nasceu num ambiente no qual estavam presentes quer o judaísmo quer os diversos ramos do cristianismo: judaico-cristianismo, cristianismo-antioqueno, cristianismo-bizantino, e todas estas circunstâncias reflectem-se na tradição alcorânica de modo que temos muito em comum desde as origens e também na fé no único Deus, por isso é importante por um lado ter os diálogos bilaterais com os judeus e com o Islão e depois também o diálogo trilateral. Eu mesmo fui co-fundador de uma fundação para o diálogo entre as três religiões, na qual personalidades como o metropolita Damaskinos e o Grão-Rabino da França, René Samuel Sirat, etc., trabalhávamos juntos e esta fundação publicou também uma edição dos livros das três religiões: o Alcorão, o Novo Testamento e o Antigo Testamento. Portanto o diálogo trilateral deve prosseguir, é importantíssimo para a paz e também digamos para viver bem cada um a própria religião.
P. – Vossa Santidade recordou com frequência o problema da diminuição dos cristãos no Médio Oriente e em particular também na Terra Santa. É um fenómeno com diversas razões de carácter político, económico e social. O que se pode fazer concretamente para ajudar a presença cristã na região? Que contributo espera dar com a sua viagem? Há esperanças para estes cristãos no futuro? Terá uma mensagem particular também para os cristãos de Gaza que virão encontrá-lo em Belém?
R. – Certamente há esperanças porque estamos num momento, como o senhor disse, difícil, mas também um momento de esperança de um novo início, de um novo impulso no caminho rumo à paz. Queremos sobretudo encorajar os cristãos na Terra Santa e em todo o Médio Oriente a permanecer, a dar a sua contribuição nos países das suas origens: são uma componente importante da cultura e da vida destas regiões. Em concreto, a Igreja, além de palavras de encorajamento, da oração comum, tem sobretudo escolas e hospitais. Neste sentido temos a presença de realidades muito concretas. As nossas escolas formam uma geração que terá a possibilidade de estar presente na vidas de hoje, na vida pública. Estamos a criar uma Universidade católica na Jordânia: esta parece-me uma grande perspectiva, na qual os jovens quer cristãos quer muçulmanos se encontram, aprendem juntos, onde se forma uma élite cristã que está preparada precisamente para trabalhar pela paz. Mas geralmente as nossas escolas são um momento muito importante para abrir um futuro para os cristãos e os hospitais mostram a nossa presença. Além disso, existem muitas associações cristãs que ajudam de diversos modos os cristãos e com ajudas concretas encorajam-nos a permanecer. Assim espero que realmente os cristãos possam encontrar a coragem, a humildade, a paciência para estar nestes países, para oferecer a sua contribuição para o futuro destes países.
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Majestades
Excelências
Queridos Irmãos Bispos
Estimados amigos
É com alegria que saúdo todos vós aqui presentes, no momento em que começo a minha primeira visita ao Médio Oriente desde a minha eleição à Sé Apostólica, e estou feliz por pisar o solo do Reino Hachemita da Jordânia, uma terra tão rica de história, pátria de tantas antigas civilizações e profundamente imbuída de significado religioso para judeus, cristãos e muçulmanos. Estou grato a Sua Majestade o rei Abdullah II pelas suas gentis palavras de boas-vindas, e transmito as minhas particulares congratulações no corrente ano em que se celebra o 10º aniversário da sua subida ao trono. Ao saudar Sua Majestade, faço extensivos os meus sinceros bons votos a todos os membros da Família Real e do Governo, bem como a todo o povo do Reino. Saúdo Sua Beatitude Fouad Twal, Sua Beatitude Theophilus III e também os outros Patriarcas e Bispos aqui presentes, especialmente aqueles que têm responsabilidades pastorais na Jordânia. Estou ansioso por celebrar a liturgia na Catedral de São Jorge, no final da tarde de amanhã, e no Estádio Internacional no domingo juntamente convosco, queridos Bispos, e com os numerosos fiéis confiados aos vossos cuidados.
Venho à Jordânia como peregrino, para venerar os lugares santos que desempenharam um papel muito importante nalguns dos acontecimentos-chave da história bíblica. No Monte Nebo, Moisés guiou o seu povo até à vista da terra que se tornaria a sua pátria, e aqui ele faleceu e foi sepultado. Em Betânia, do outro lado do Jordão, João Baptista pregou e deu testemunho de Jesus, a quem ele baptizou nas águas do rio que a esta terra dá o seu nome. Nos próximos dias hei-de visitar ambos estes lugares santos, e terei a alegria de benzer as primeiras pedras das igrejas que serão edificadas no lugar tradicional do Baptismo do Senhor. A oportunidade que a comunidade católica da Jordânia tem de construir lugares públicos de culto constitui um sinal do respeito deste país pela religião, e em seu nome desejo dizer como é apreciada esta abertura. Naturalmente, a liberdade religiosa é um direito humano fundamental, e formulo votos ardentes e rezo a fim de que o respeito por todos os direitos inalienáveis e pela dignidade de cada homem e de cada mulher chegue a ser cada vez mais consolidado e defendido, não apenas em todo o Médio Oriente, mas em todas as regiões do mundo.
A minha visita à Jordânia oferece-me a agradável oportunidade para manifestar o meu profundo respeito pela comunidade muçulmana, e para prestar homenagem à liderança demonstrada por Sua Majestade o Rei, na promoção de uma melhor compreensão das virtudes proclamadas pelo Islão. Agora que já transcorreram vários anos desde a publicação da Mensagem de Amã e da Mensagem Inter-Religiosa de Amã, podemos dizer que estas iniciativas dignas de louvor contribuíram de modo muito positivo para fomentar uma aliança de civilizações entre o Ocidente e o mundo muçulmano, confundindo as previsões daqueles que consideram inevitáveis a violência e o conflito. Com efeito, o Reino da Jordânia está há muito tempo na linha de vanguarda das iniciativas que visam promover a paz no Médio Oriente e no mundo inteiro, encorajando o diálogo inter-religioso, sustentando os esforços em vista de encontrar uma solução justa para o conflito israelo-palestiniano, de acolher os refugiados provenientes do vizinho Iraque e de procurar contrastar o extremismo. Não posso deixar passar esta oportunidade sem evocar à mente os esforços pioneiros em prol da paz na região, envidados pelo saudoso rei Hussein. Como se demonstrou oportuno que o meu encontro de amanhã com os líderes religiosos muçulmanos, com o corpo diplomático e com os reitores universitários tenha lugar na mesquita que tem o seu nome. Possa o seu compromisso a favor da solução dos conflitos na região continuar a dar fruto nos esforços de promoção de uma paz duradoura e da verdadeira justiça para todos aqueles que vivem no Médio Oriente.
Prezados amigos, no Seminário realizado em Roma no último Outono pelo Foro católico-muçulmano, os participantes examinaram o papel central desempenhado pelo mandamento do amor nas nossas respectivas tradições religiosas. A minha grande esperança é que esta visita, e efectivamente todas as iniciativas destinadas a fomentar boas relações entre cristãos e muçulmanos, nos ajudem a crescer no amor a Deus Todo-Poderoso e Misericordioso, e no amor fraterno de uns pelos outros. Obrigado pela vossa hospitalidade. Obrigado pela vossa atenção. Deus conceda felicidade e longa vida a Vossas Majestades! Que Ele abençoe a Jordânia com prosperidade e paz!
8529
Beatitudes
Excelências
Caros amigos
Sinto-me muito feliz por estar aqui convosco nesta tarde, e por saudar cada um de vós e os membros das vossas famílias, onde quer que eles se encontrem. Agradeço a Sua Beatitude o Patriarca Fouad Twal as suas amáveis palavras de boas-vindas e, de modo especial, desejo reconhecer a presença no de meio de nós do Bispo D. Salim Sayegh, cuja visão e obras em prol deste Centro, juntamente com as de Sua Beatitude o Patriarca Emérito Michel Sabbah, são honradas hoje através da bênção dos novos locais que acabaram de ser realizados. Desejo saudar também com grande afecto os membros da Comissão Central, as Irmãs Combonianas e os dedicados funcionários leigos, inclusive aqueles que trabalham nos numerosos sectores e unidades comunitárias do Centro. A vossa reputação pela notável competência profissional, pelos cuidados compassivos e pela promoção decidida do justo lugar na sociedade daqueles que têm necessidades particulares é bem conhecida aqui e em todo o Reino. Aos jovens aqui presentes, agradeço a sua comovente hospitalidade. É para mim uma grande alegria estar convosco.
Como sabeis, a minha visita ao Centro Nossa Senhora da Paz aqui em Amã é a primeira etapa da minha peregrinação. Como inúmeros peregrinos antes de mim, agora é a minha vez de satisfazer o profundo desejo de tocar, de haurir alívio e de venerar os lugares onde Jesus viveu, os lugares que se tornaram santos devido à sua presença. Desde os tempos apostólicos, Jerusalém tem sido o principal lugar de peregrinação para os cristãos, mas antes ainda, no Próximo oriente, as populações semíticas construíram santuários sagrados em vista de assinalar e de celebrar uma presença ou obra divina. E as pessoas simples iam a estes centros levando uma porção dos frutos da sua terra e dos seus animais, para oferecer como homenagem e acção de graças.
Caros amigos, cada um de nós é um peregrino. Todos nós somos impelidos para a frente, com determinação, ao longo do caminho de Deus. No entanto, é natural que tenhamos a tendência a rever a nossa vida passada às vezes com arrependimentos ou feridas, frequentemente com acção de graças e apreço e olhamos também para a frente por vezes com trepidação e ansiedade, mas sempre com expectativa e esperança, conscientes de que também há outros que nos encorajam ao longo do caminho. Sei que os itinerários que conduziram muitos de vós até ao Centro "Regina Pacis" foram caracterizados pelo sofrimento e pela provação. Enquanto alguns de vós lutam corajosamente com deficiências, outros tiveram que suportar a rejeição e outros ainda são atraídos para este lugar simplesmente para receber ânimo e apoio. Bem sei que é particularmente importante o grande êxito do Centro na promoção do justo lugar dos portadores de deficiência na sociedade, e na garantia da oferta de formação e oportunidades adequadas para facilitar tal integração. Por esta clarividência e determinação, todos vós mereceis grande louvor e encorajamento!
Às vezes é difícil encontrar uma razão para aquilo que parece ser unicamente um obstáculo a ser ultrapassado, ou mesmo como uma dor física ou emotiva a ser suportada. No entanto, a fé e a compreensão ajudam-nos a ver o horizonte para além de nós mesmos, em vista de imaginar a vida à maneira de Deus. O amor incondicional de Deus, que infunde vida em cada indivíduo humano, indica um significado e uma finalidade para toda a vida humana. O seu amor é salvífico (cf. Jn 12,32). Como os cristãos professam, é de facto através da Cruz que Jesus nos leva à vida eterna, e ao fazê-lo, mostra-nos o caminho a seguir o caminho de esperança que guia cada um dos nossos passos ao longo da vereda, de tal maneira que também nós sejamos portadores desta esperança e caridade para os outros.
Amigos, contrariamente aos antigos peregrinos, não venho trazer dons ou ofertas. Venho simplesmente com uma intenção, uma esperança: rezar pela preciosa dádiva da unidade e da paz, de modo mais específico para o Médio Oriente. Paz para os indivíduos, para os pais e os filhos, para as comunidades, paz para Jerusalém, para a Terra Santa, para a região, paz para toda a família humana; a paz duradoura que nasce da justiça, da integridade e da compaixão, a paz que deriva da humildade, do perdão e do profundo desejo de viver em harmonia e unidade.
A oração é a esperança em acção. E com efeito a verdadeira razão está contida na oração: entramos em contacto amoroso com o único Deus, o Criador universal, e ao fazê-lo conseguimos dar-nos conta da futilidade das divisões e dos preconceitos humanos, e sentimos as maravilhosas possibilidades que se abrem à nossa frente, quando os nossos corações se convertem à verdade de Deus, ao seu desígnio para cada um de nós e para o nosso mundo.
Queridos jovens amigos, desejo dizer-vos de modo particular que, permanecendo no meio de vós, recebo força de Deus. A vossa experiência de provações, o vosso testemunho de compaixão e a vossa determinação para superar os obstáculos que encontrais encorajam-me a acreditar que o sofrimento pode propiciar uma mudança para o bem. Nas nossas próprias provações, e permanecendo ao lado dos outros nas suas lutas, vislumbramos a essência da nossa humanidade e tornamo-nos, por assim dizer, mais humanos. E chegamos a aprender que, num outro plano, até mesmo os corações endurecidos pelo cinismo ou pela injustiça ou pela relutância em perdoar nunca se encontram além do alcance de Deus e podem ser sempre abertos a um novo modo de ser, a uma visão de paz.
Exorto cada um de vós a rezar todos os dias pelo nosso mundo. E hoje desejo pedir-vos que assumais uma tarefa específica: por favor, orai por mim todos os dias da minha peregrinação; pela minha renovação espiritual no Senhor e pela conversão dos corações ao caminho do perdão e da solidariedade de Deus, de tal modo que a minha esperança – a nossa esperança – pela unidade e a paz no mundo dê frutos abundantes.
Deus abençoe cada um de vós e as vossas famílias, e os professores, os assistentes, os administradores e os benfeitores deste Centro, e que Nossa Senhora, Rainha da Paz, vos proteja e vos guie ao longo do caminho de peregrinação do seu Filho, o Bom Pastor. Obrigado pela vossa atenção!
9509
Madaba
Sábado, 9 de Maio de 2009
Caros Irmãos Bispos
Prezados amigos
É para mim uma grande alegria benzer a primeira pedra da Universidade de Madaba. Estou grato a Sua Beatitude o Arcebispo Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém, pelas suas amáveis palavras de boas-vindas. Desejo fazer extensiva uma especial saudação de apreço a Sua Beatitude o Patriarca Emérito, Michel Sabbah, cuja iniciativa e esforços, conjuntamente com os do Bispo D. Salim Sayegh, esta nova instituição deve muito. Além disso, saúdo as Autoridades civis, os Bispos, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os fiéis, assim como quantos nos acompanham nesta importante cerimónia.
Justamente, o Reino da Jordânia tem dado prioridade à finalidade de expandir e de melhorar a educação. Sei que nesta nobre missão, Sua Majestade a Rainha Rania é particularmente activa, e a sua dedicação é motivo de inspiração para muitos. Enquanto elogio os esforços das pessoas de boa vontade comprometidas na educação, observo com satisfação a participação competente e qualificada das instituições cristãs, de maneira especial católicas e ortodoxas, neste esforço global. Foi este contexto que levou a Igreja católica, com o apoio das Autoridades jordanas, a envidar os próprios esforços na promoção da educação universitária neste país e alhures. Além disso, esta iniciativa inclusive corresponde ao pedido de muitas famílias que, satisfeitas com a formação recebida nas escolas geridas pelas autoridades religiosas, pedem para poder dispor de uma opção análoga a nível universitário.
Elogio os promotores desta nova instituição pela sua confiança corajosa na boa educação como primeiro passo para o desenvolvimento pessoal e para a paz e o progresso nesta região. Neste contexto, sem dúvida a Universidade de Madaba saberá ter presentes três finalidades importantes. Ao desenvolver os talentos e as nobres atitudes das sucessivas gerações de estudantes, prepará-los-á para servir a comunidade mais vasta a elevar os seus padrões de vida. Ao transmitir conhecimentos e incutir nos estudantes o amor pela verdade, promoverá em grande medida a sua adesão aos valores e a sua liberdade pessoal. Enfim, esta mesma formação intelectual aperfeiçoará a sua capacidade crítica, dissipará a ignorância e o preconceito, e ajudá-los-á a romper os sortilégios criados por velhas e novas ideologias. O resultado deste processo é uma universidade que não é só uma plataforma para consolidar a adesão à verdade e aos valores de uma dada cultura, mas também um lugar de compreensão e de diálogo. Enquanto assimilam a sua herança cultural, os jovens da Jordânia e os outros estudantes da região serão levados a um conhecimento mais profundo das conquistas culturais da humanidade, e serão enriquecidos por outros pontos de vista e formados para a compreensão, a tolerância e a paz.
Este tipo de educação "mais ampla" é o que se espera das instituições da educação superior e do seu contexto cultural, quer ele seja secular, quer religioso. Na realidade, a fé em Deus não suprime a busca da verdade; pelo contrário, encoraja-a. São Paulo exortava os primeiros cristãos a abrir as próprias mentes a tudo "aquilo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso e virtuoso, ou que de algum modo mereça louvor" (Ph 4,8). Obviamente a religião, assim como a ciência e a tecnologia, como a filosofia e todas as expressões da nossa busca da verdade, podem ser corrompidas. A religião é desfigurada, quando obrigada a servir a ignorância e o preconceito, o desprezo, a violência e o abuso. Aqui não vemos somente a perversão da religião, mas inclusive a corrupção da liberdade humana, o limite e o ofuscamento da mente. Evidentemente, semelhante resultado não é inevitável. Sem dúvida, quando promovemos a educação proclamamos a nossa confiança no dom da liberdade. O coração humano pode ser empedernido por um ambiente limitado, por interesses e por paixões. Contudo, cada pessoa é também chamada à sabedoria e à integridade, para a mais básica e importante das escolhas, do bem sobre o mal, da verdade sobre a desonestidade, e pode ser apoiada nesta tarefa.
A chamada à integridade moral é sentida pela pessoa genuinamente religiosa, dado que o Deus da verdade, do amor e da beleza não pode ser servido de nenhum outro modo. A fé madura em Deus ajuda em grande medida a orientar a aquisição e a justa aplicação do conhecimento. A ciência e a tecnologia oferecem benefícios extraordinários à sociedade têm melhorado enormemente a qualidade da vida de muitos seres humanos. Sem dúvida, esta é uma das esperanças de quantos promovem esta Universidade, cujo mote é Sapientia et Scientia. Ao mesmo tempo, a ciência tem os seus limites. Não pode responder a todas as interrogações relativas ao homem e à sua existência. Na realidade, a pessoa humana, o seu lugar e a sua finalidade no universo não podem ser contidos no interior dos confins da ciência. "A natureza intelectual da pessoa humana completa-se e deve completar-se por meio da sabedoria, que atrai com docilidade a mente do homem a procurar e a amar as coisas verdadeiras e boas" (cf. Gaudium et spes GS 15). O recurso ao conhecimento científico tem necessidade da luz orientadora da sabedoria ética. Esta sabedoria inspirou o juramento de Hipócrates, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Convenção de Genebra e outros louváveis códigos internacionais de comportamento. Por conseguinte, a sabedoria religiosa e ética, respondendo às questões sobre o sentido e sobre o valor, desempenha um papel fulcral na formação profissional. Consequentemente, aquelas universidades onde a busca da verdade caminha a par com a investigação daquilo que é bom e nobre oferecem um serviço indispensável à sociedade.
Com estes pensamentos na mente, encorajo de maneira especial os estudantes cristãos da Jordânia e das regiões vizinhas a dedicar-se responsavelmente a uma recta formação profissional e moral. Sois chamados a ser construtores de uma sociedade justa e pacífica, composta por pessoas de vários contextos religiosos e étnicos. Tais realidades – desejo sublinhá-lo mais uma vez –devem conduzir, não à divisão, mas ao enriquecimento recíproco. A missão e a vocação da Universidade de Madaba consistem precisamente em ajudar-vos a participar de maneira mais completa nesta nobre tarefa.
Queridos amigos, desejo renovar as minhas congratulações ao Patriarcado Latino de Jerusalém e o meu encorajamento a quantos tiveram a peito este projecto, juntamente com aqueles que já se encontram comprometidos no apostolado da educação nesta nação. O Senhor vos abençoe e vos apoie. Rezo a fim de que os vossos sonhos se tornem depressa realidade, para que possais ver gerações de homens e mulheres qualificados, cristãos, muçulmanos e de outras religiões ocuparem o seu lugar na sociedade, dotados de perícia profissional, bem informados no seu campo e educados nos valores da sabedoria, da integridade, da tolerância e da paz. Sobre vós, sobre todos os vossos futuros estudantes e os funcionários desta Universidade e sobre as respectivas famílias, invoco as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso!
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Padre Ministro-Geral
Padre Guardião
Queridos amigos
Neste lugar santo, consagrado à memória de Moisés, saúdo-vos a todos com afecto em nosso Senhor Jesus Cristo. Agradeço ao Ministro-Geral da Ordem dos Frades Menores, Pe. José Rodríguez Carballo, as suas cordiais palavras de boas-vindas. Além disso, aproveito esta oportunidade para renovar a minha gratidão, bem como a da Igreja inteira, aos Frades Menores da Custódia, pela sua presença secular nestas terras, pela sua fidelidade jubilosa ao carisma de São Francisco, assim como pela sua generosa solicitude pelo bem-estar espiritual e material das comunidades cristãs locais e dos inúmeros peregrinos que todos os anos visitam a Terra Santa. Aqui desejo recordar também, com gratidão particular, o saudoso Pe. Michele Piccirillo, que dedicou a sua vida ao estudo das antiguidades cristãs e está sepultado neste santuário que ele amou de maneira tão intensa.
É justo que a minha peregrinação tenha início nesta montanha, onde Moisés contemplou de longe a Terra Prometida. O magnífico cenário que se nos abre à frente, da esplanada deste santuário, convida-nos a considerar como aquela visão profética abraçava misteriosamente o grande plano da salvação que Deus tinha preparado para o seu Povo. Com efeito no Vale do Jordão, que se estende abaixo de nós, na plenitude dos tempos João Baptista viria para preparar o caminho do Senhor. Nas águas do Jordão, depois do baptismo por obra de João, Jesus seria revelado como o Filho muito amado do Pai e, após ter sido ungido pelo Espírito Santo, inauguraria o seu próprio ministério público. Foi também do Jordão que o Evangelho se difundiria, primeiro mediante a própria pregação e os milagres de Cristo e depois, após a sua Ressurreição e a efusão do Espírito Santo no Pentecostes, através da obra dos seus discípulos até aos confins da terra.
Aqui, nas alturas do Monte Nebo, a memória de Moisés convida-nos a "elevar os olhos" para abraçar com gratidão não só as obras maravilhosas de Deus no passado, mas também a olhar com fé e esperança para o futuro que Ele reserva para nós e para o nosso mundo. Como Moisés, também nós fomos chamados pelo nome, convidados a empreender um êxodo quotidiano do pecado e da escravidão para a vida e a liberdade, e recebemos uma promessa inabalável para orientar o nosso caminho. Nas águas do Baptismo passamos da escravidão do pecado para uma nova vida e uma nova esperança. Na comunhão da Igreja, Corpo de Cristo, nós prelibamos a visão da cidade celeste, a nova Jerusalém, onde Deus será tudo em todos. Desta montanha santa, Moisés orienta o nosso olhar para o alto, rumo ao cumprimento de todas as promessas de Deus em Cristo.
Moisés contemplou a Terra Prometida de longe, no final da sua peregrinação terrena. O seu exemplo recorda-nos que também nós fazemos parte da peregrinação sem tempo do Povo de Deus ao longo da história. Seguindo os passos dos Profetas, dos Apóstolos e dos Santos, somos chamados a caminhar com o Senhor, a continuar a sua missão, a dar testemunho do Evangelho do amor e da misericórdia universais de Deus. Nós somos chamados a acolher a vinda do Reino de Deus mediante a nossa caridade, o nosso serviço aos pobres e os nossos esforços por ser fermento de reconciliação, de perdão e de paz no mundo que nos circunda. Sabemos que, como Moisés, não veremos o pleno cumprimento do plano de Deus no arco da nossa vida. E no entanto, temos confiança de que, cumprindo a nossa pequena parte, na fidelidade à vocação que cada um recebeu, contribuiremos para tornar rectos os caminhos do Senhor e para saudar o alvorecer do seu Reino. Sabemos que Deus, que revelou o seu próprio nome a Moisés como promessa que estaria sempre ao nosso lado (cf. Êx Ex 3,14), nos dará a força de perseverar em esperança jubilosa também no meios dos sofrimentos, das provações e das tribulações.
Desde os primeiros tempos, os cristãos vieram em peregrinação aos lugares associados à história do Povo eleito, aos acontecimentos da vida de Cristo e da Igreja nascente. Esta grande tradição, que a minha hodierna peregrinação tenciona continuar e confirmar, está fundamentada no desejo de ver, tocar e saborear em oração e em contemplação, os lugares abençoados pela presença física do nosso Salvador, da sua Mãe Bem-Aventurada, dos Apóstolos e dos primeiros discípulos que O viram ressuscitado dentre os mortos. Aqui, seguindo os passos dos inúmeros peregrinos que nos precederam ao longo dos séculos, somos desafiados, a apreciar mais plenamente o dom da nossa fé e a crescer naquela comunhão que transcende todo o limite de língua, de raça e de cultura.
Além disso, a antiga tradição da peregrinação aos lugares santos recorda-nos o vínculo inseparável que une a Igreja ao povo judeu. Desde os primórdios, a Igreja nestas terras comemorou na própria liturgia as figuras de Patriarcas e Profetas, como sinal do seu profundo apreço pela unidade dos dois Testamentos. Possa este nosso hodierno encontro inspirar em nós um renovado amor pelo cânone da Sagrada Escritura e o desejo de ultrapassar todos os obstáculos à reconciliação entre cristãos e judeus, no respeito recíproco e na cooperação ao serviço daquela paz para a qual a Palavra de Deus nos chama!
Estimados amigos, congregados neste lugar santo, elevemos os nossos olhos e os nossos corações ao Pai. Enquanto nos preparamos para recitar a oração que nos foi ensinada por Jesus, invoquemo-lo a fim de que apresse a vinda do seu Reino, de tal maneira que possamos ver o cumprimento do seu plano de salvação e experimentar, juntamente com São Francisco e com todos os peregrinos que nos precederam, assinalados com o sinal da fé, a dádiva da paz indizível – pax et bonum – que nos espera na Jerusalém celeste.
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Mesquita al-Hussein bin-Talal - Amã
Sábado, 9 de Maio de 2009
Alteza Real
Excelências
Ilustres Senhoras e Senhores
É para mim motivo de grande alegria encontrar-me convosco na manhã de hoje neste ambiente maravilhoso. Desejo agradecer ao Príncipe Ghazi Bin Muhammed Bin Talal as suas gentis palavras de boas-vindas. As numerosas iniciativas de Vossa Alteza Real para promover o diálogo e o intercâmbio inter-religioso e intercultural são apreciadas pelos cidadãos do Reino Hachemita e amplamente respeitadas pela comunidade internacional. Estou ao corrente de que tais esforços recebem o apoio activo de outros membros da Família Real, assim como do Governo da nação, e encontram uma vasta ressonância nas numerosas iniciativas de colaboração entre os Jordanos. Por tudo isto, desejo manifestar a minha sincera admiração.
Lugares de culto, como esta maravilhosa mesquita de Al-Hussein Bin Talal, intitulada ao venerado e saudoso Rei, elevam-se como jóias sobre a superfície da terra. Do antigo ao moderno, do sultuoso ao humilde, todos eles remetem ao divino, ao Único Transcendente, ao Omnipotente. E ao longo dos séculos, estes santuários atraíram homens e mulheres ao interior do seu espaço sagrado para fazer uma pausa, para rezar e para admitir a presença do Todo-Poderoso, assim como para reconhecer que todos nós somos suas criaturas.
Por este motivo, não podemos deixar de estar preocupados com o facto de que hoje, com insistência crescente, alguns consideram que a religião falhe na sua pretensão de ser, por sua própria natureza, edificadora de unidade e de harmonia, uma expressão de comunhão entre as pessoas e com Deus. Com efeito, alguns asseveram que a religião é necessariamente uma causa de divisão no nosso mundo; e por tal razão, afirmam que quanto menos atenção se presta à religião no sector público, melhor é. Sem dúvida, o contraste de tensões e divisões entre os seguidores de diferentes tradições religiosas, infelizmente, não pode ser negado. Todavia, não se verifica porventura também o caso que com frequência a manipulação ideológica da religião, às vezes com finalidades políticas, é o verdadeiro catalizador das tensões e das divisões, e não raro inclusive das violências na sociedade? Diante de tal situação, em que os opositores da religião procuram não simplesmente silenciar a sua voz, mas também substituí-la com a sua própria, a necessidade de que os crentes sejam fiéis aos seus princípios e aos seus credos é sentida de modo mais pungente do que nunca. Muçulmanos e cristãos, precisamente por causa da influência da nossa história conjunta, tão frequentemente assinalada por incompreensões, hoje devem comprometer-se para ser identificados e reconhecidos como adoradores de Deus, fiéis à oração, desejosos de se comportar e de viver em conformidade com as disposições do Omnipotente, misericordiosos e compassivos, coerentes ao darem o testemunho de tudo aquilo que é justo e bom, sempre reconhecidos pela origem e dignidade comuns de cada pessoa humana, que permanece no ápice do desígnio criador de Deus para o mundo e para a história.
A decisão dos educadores jordanos, assim como dos líderes religiosos e civis, para garantir que o semblante público da religião reflicta a sua verdadeira natureza, é digna de louvor. O exemplo de indivíduos e de comunidades, juntamente com a oferta de cursos e de programas, manifestam a contribuição construtiva da religião para os sectores educativo, cultural, social e outros campos caritativos da vossa sociedade civil. Também eu tive a possibilidade de constatar pessoalmente algo deste espírito. Ontem pude entrar em contacto com a célebre obra educativa e de reabilitação no Centro Nossa Senhora da Paz, onde cristãos e muçulmanos estão a transformar as vidas de famílias inteiras, assistindo-as com a finalidade de fazer com que os seus filhos portadores de deficiência possam ocupar o lugar que lhes compete na sociedade. No início da manhã de hoje, benzi a primeira pedra da Universidade de Madaba, onde jovens muçulmanos e cristãos, uns ao lado dos outros, receberão os benefícios de uma educação superior, que os tornará capazes de contribuir de forma válida para o desenvolvimento social e económico da sua nação. De grande mérito são também as numerosas iniciativas de diálogo inter-religioso apoiadas pela Família Real e pela comunidade diplomática, por vezes empreendidas em ligação com o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso. Elas incluem o trabalho permanente dos Institutos Reais para os Estudos Inter-Religiosos e para o Pensamento Islâmico, a Amman Message de 2004 e a Amman Interfaith Message de 2005, assim como a mais recente Carta Common Word, que fazia ressoar um tema semelhante àquele por mim tratado na minha primeira Carta Encíclica: o vínculo indestrutível entre o amor de Deus e o amor ao próximo, bem como a contradição fundamental do gesto de recorrer, em nome de Deus, à violência ou à exclusão (cf. Deus caritas est ).
Claramente, estas iniciativas levam a um maior conhecimento recíproco e promovem um respeito crescente tanto por aquilo que já temos em comum, como pelo que compreendemos de maneira diferente. Por conseguinte, elas deveriam induzir cristãos e muçulmanos a averiguar ainda mais profundamente a relação essencial entre Deus e o seu mundo, de tal forma que em conjunto possamos actuar a fim de que a sociedade se conforme harmoniosamente com a ordem divina. A este propósito, a colaboração realizada aqui na Jordânia constitui um exemplo animador e persuasivo para a região, aliás, para o mundo, da contribuição positiva e criativa que a religião pode e deve oferecer à sociedade civil.
Ilustres amigos, hoje desejo fazer menção de uma tarefa que indiquei em diversas ocasiões e que, creio firmemente, cristãos e muçulmanos podem assumir, de modo particular através do seu contributo para o ensino e bolsas de estudo, assim como para o serviço à sociedade. Tal tarefa constitui o desafio a cultivar para o bem, no contexto da fé e da verdade, a vasta potencialidade da razão humana. Com efeito, os cristãos descrevem Deus, entre outros modos, como Razão criadora, que ordena e orienta o mundo. E Deus dota-nos da capacidade de participar nesta Razão e assim de agir de acordo com o que é bom. Os muçulmanos adoram a Deus, o Criador do Céu e da Terra, que falou à humanidade. E como crentes no único Deus, sabemos que a razão humana constitui em si um dom de Deus, que se eleva ao plano mais alto quando é iluminada pela luz da verdade de Deus. Na realidade, quando a razão humana humildemente se permite ser purificada pela fé, em nada se debilita; pelo contrário, é revigorada para resistir à presunção de ir além dos seus próprios limites. Deste modo, a razão humana é reforçada no compromisso de perseguir a sua nobre finalidade de servir a humanidade, dando expressão às nossas comuns aspirações mais íntimas e ampliando em vez de manipular e limitar o debate público. Portanto, a adesão genuína à religião longe de restringir as nossas mentes alarga os horizontes da compreensão humana. Isto protege a sociedade civil dos excessos de um ego ingovernável, que tende a absolutizar o finito e a eclipsar o infinito; faz com que a liberdade seja exercida em sinergia com a verdade, e enriquece a cultura com o conhecimento daquilo que diz respeito tudo o que é verdadeiro, bom e belo.
Uma semelhante compreensão da razão, que impele continuamente a mente humana para além de si mesma na busca do Absoluto, apresenta um desafio: contém um sentido tanto de esperança como de prudência. Em conjunto, cristãos e muçulmanos são levados a procurar tudo aquilo que é justo e recto. Permaneçamos comprometidos em ultrapassar os nossos interesses particulares e em encorajar outros, de forma especial os administradores e os líderes sociais, a fazer o mesmo com a finalidade de saborear a profunda satisfação de servir o bem comum, embora com consequências pessoais. Somos recordados que precisamente porque é a nossa dignidade humana comum que dá origem aos direitos humanos universais, eles são igualmente válidos para cada homem e cada mulher, sem distinção de grupos religiosos, sociais ou étnicos aos quais pertencem. Sob este aspecto, temos que observar que o direito de liberdade religiosa vai além da questão do culto e inclui o direito – especialmente das minorias – de um acesso equitativo ao mercado de trabalho e outras esferas da vida civil.
Antes de vos deixar nesta manhã, gostaria de sublinhar de modo especial a presença no meio de nós de Sua Beatitude Emmanuel III Delly, Patriarca de Bagdad, a quem saúdo muito calorosamente. A sua presença faz-nos pensar nos cidadãos do vizinho Iraque, muitos dos quais encontraram uma hospitalidade cordial aqui na Jordânia. Os esforços da comunidade internacional para promover a paz e a reconciliação, juntamente com os esforços dos líderes locais, devem continuar em vista de produzir fruto na vida dos iraquianos. Exprimo o meu apreço por todos os que apoiam os esforços destinados a aprofundar a confiança e a reconstruir as instituições e as infra-estruturas essenciais para o bem-estar daquela sociedade. Mais uma vez, peço com insistência aos diplomatas e à comunidade internacional por eles representadas, juntamente com os líderes políticos e religiosos locais, que façam tudo o que for possível para assegurar à antiga comunidade cristã daquela nobre terra o seu direito fundamental a uma coexistência pacífica com os próprios concidadãos.
Distintos amigos, faço votos por que os sentimentos por mim expressos no dia de hoje nos deixem com uma renovada esperança para o futuro. O nosso amor e dever diante do Omnipotente não se manifestam unicamente no culto, mas também no amor e na preocupação pelas crianças e pelos jovens – as vossas famílias – e por todos os cidadãos da Jordânia. É por eles que vos empenhais e são eles que vos estimulam a pôr no âmago das instituições, das leis e das funções da sociedade o bem de cada pessoa humana. Possa a razão, enobrecida e tornada humilde pela grandeza da verdade de Deus, continuar a plasmar as vidas e as instituições desta nação, de tal maneira que as famílias consigam florescer e todos possam viver em paz, contribuindo para a cultura e ao mesmo tempo haurindo da cultura que unifica este grande Reino!
Muito obrigado!
Discursos Bento XVI 7509