Bento XVI Homilias 15806


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI A MÜNCHEN, ALTÖTTING E REGENSBURG (9-14 DE SETEMBRO DE 2006)


München, 10 de Setembro de 2006: CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

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NA ESPLANADA DE NEUE MESSE (NOVA FEIRA)


Queridos irmãos e irmãs!

Em primeiro lugar gostaria mais uma vez de vos saudar a todos com afecto: sinto-me feliz, como já disse, por me poder encontrar de novo entre vós e celebrar juntamente convosco a Santa Missa. Estou contente por poder visitar mais uma vez os lugares que me são familiares, que tiveram uma influência determinante sobre a minha vida, formando o meu pensamento e os meus sentimentos: os lugares nos quais aprendi a crer e a viver. É uma ocasião para agradecer a quantos vivos e mortos me guiaram e acompanharam. Agradeço a Deus esta bela Pátria e as pessoas que fizeram com que ela fosse a minha Pátria.

Acabámos de ouvir as três leituras bíblicas que a liturgia da Igreja escolheu para este domingo. Elas desenvolvem um duplo tema, que no fundo permanece um só, acentuando de acordo com as circunstâncias um ou outro dos seus aspectos. As três leituras falam de Deus como centro da realidade e da nossa vida pessoal. "Eis o vosso Deus!", grita o profeta Isaías (
Is 35,4). A Carta de Tiago e o trecho evangélico dizem de diferentes maneiras a mesma coisa. Querem guiar-nos para Deus, levando-nos assim pelo caminho recto da vida.

Mas com o tema "Deus" está relacionado o tema social: a nossa responsabilidade recíproca, a nossa responsabilidade pela supremacia da justiça e do amor no mundo. Isto é expresso de modo dramático na segunda leitura, na qual Tiago, um parente próximo de Jesus, nos fala. Ele dirige-se a uma comunidade, na qual se começa a ser soberbos, porque nela se encontram também pessoas ricas e distintas, enquanto há o perigo de que a preocupação pelo direito dos pobres venha a faltar. Tiago, nas suas palavras, deixa intuir a imagem de Jesus, daquele Deus que se fez homem e, mesmo sendo de origem davídica, isto é, real, tornou-se um homem simples entre os homens simples, não se sentou num trono, mas no final morreu na pobreza extrema da Cruz.

O amor ao próximo, que em primeiro lugar é solicitude pela justiça, é o termo de comparação pela fé e pelo amor de Deus. Tiago chama-o "lei real" (cf. Jc 2,8) deixando entrever a palavra profética de Jesus: a realeza de Deus, o domínio de Deus. Isto não indica um reino qualquer que chegará de vez em quando, mas significa que Deus deve tornar-se a força determinante para a nossa vida e para o nosso agir. É isto que pedimos quando rezamos: "Venha o vosso Reino". Não pedimos uma coisa qualquer distante, que nós próprios talvez nem sequer desejemos experimentar. Ao contrário, rezamos para que a vontade de Deus determine agora a nossa vontade e assim Deus reine no mundo; portanto, rezemos para que a justiça e o amor se tornem forças decisivas na ordem do mundo.

Esta oração dirige-se sem dúvida em primeiro lugar a Deus, mas atinge também o nosso coração. No fundo desejamo-lo verdadeiramente? Estamos a orientar a nossa vida naquela direcção? Tiago chama a "lei real", a lei da realeza de Deus, também "lei da liberdade": se todos pensam e vivem segundo Deus, então tornamo-nos todos iguais, tornamo-nos livres e desta forma nasce a verdadeira fraternidade. Isaías, na primeira leitura, falando de Deus "Eis o vosso Deus" fala ao mesmo tempo da salvação para os que sofrem, e Tiago, falando da ordem social como expressão irrenunciável da nossa fé, fala logicamente também de Deus, do qual somos filhos.

Mas agora devemos dirigir a nossa atenção ao Evangelho que narra a cura de um surdo-mudo realizada por Jesus. Também ali encontramos de novo os dois aspectos do único tema. Jesus dedica-se aos que sofrem, a quantos são postos na margem da sociedade. Cura-os e, proporcionando-lhes assim a possibilidade de viver e decidir juntos, introdu-los na igualdade e na fraternidade. Isto diz respeito obviamente a todos nós: Jesus indica-nos a direcção do nosso agir.

Mas toda a vicissitude apresenta outra dimensão, que os Padres da Igreja ressaltaram com insistência e que hoje diz respeito de modo especial também a nós. Os Padres falam dos homens e para os homens do seu tempo. Mas o que dizem refere-se de modo novo também a nós homens modernos. Não existe apenas a surdez física, que exclui em grande medida o homem da vida social. Existe uma debilidade dos ouvidos em relação a Deus da qual sofremos sobretudo neste nosso tempo. Nós, simplesmente, não o conseguimos ouvir mais são demasiadas as frequências diferentes que ocupam os nossos ouvidos. O que se diz acerca dele parece-nos pré-científico, já inadequado ao nosso tempo. Com a debilidade dos ouvidos ou até com a surdez em relação a Deus perde-se naturalmente também a capacidade de falar com Ele ou d'Ele. Mas, desta forma, falta-nos uma percepção decisiva. Os nossos sentidos interiores correm o perigo de se apagarem. Com a falta desta percepção é limitado de maneira drástica e perigosa o alcance da nossa relação com a realidade. O horizonte da nossa vida é limitado de modo preocupante.

O Evangelho narra-nos que Jesus colocou os dedos nos ouvidos do surdo-mudo, pôs um pouco de saliva na língua do doente e disse: "Effatha" "Abre-te!". O evangelista conservou-nos a palavra aramaica original que Jesus então pronunciou, transferindo-nos assim directamente para aquele momento. O que ali é narrado é uma coisa única, e contudo não pertence a um passado distante: Jesus realiza a mesma coisa de modo novo e repetidas vezes também hoje. No Baptismo Ele realizou sobre nós este gesto do tocar e disse: "Effatha!" "Abre-te!", para nos tornar capazes de ouvir Deus e para nos dar de novo a possibilidade de falar com Ele. Mas este acontecimento, o Sacramento do Baptismo, nada possui de mágico. O Baptismo abre um caminho. Introduz-nos na comunidade dos que são capazes de ouvir e de falar; introduz-nos na comunhão com o próprio Jesus, o único que viu Deus e portanto pôde falar d'Ele (cf. Jn 1,18): mediante a fé, Jesus quer partilhar connosco o seu ver Deus, o seu ouvir o Pai e falar com Ele. O caminho do ser baptizados deve tornar-se um processo de desenvolvimento progressivo, no qual nós crescemos na vida de comunhão com Deus, alcançando assim também um olhar diferente sobre o homem e sobre a criação.

O Evangelho convida-nos a tomar consciência de que em nós existe uma deficiência em relação à nossa capacidade de percepção uma carência que inicialmente não sentimos como tal, porque precisamente o restante é recomendado devido à sua urgência e racionalidade; porque aparentemente tudo procede de modo normal, mesmo se já não temos ouvidos nem olhos para Deus e vivemos sem Ele. Mas é verdade que tudo procede normalmente, quando Deus vem a faltar na nossa vida e no nosso mundo? Antes de fazer outras perguntas gostaria de contar algumas das minhas experiências feitas nos encontros com os Bispos do mundo inteiro. A Igreja católica na Alemanha é grandiosa nas suas actividades sociais; na sua disponibilidade para ajudar onde quer que haja necessidade. Sempre de novo, durante as suas visitas "ad Limina", os Bispos, ultimamente da África, contam-me com gratidão a generosidade dos católicos alemães e encarregam-me de me fazer intérprete desta sua gratidão o que agora desejo fazer publicamente.

Também os Bispos dos Países Bálticos, que vieram antes das férias, me contaram como os católicos alemães os ajudaram de maneira grandiosa na reconstrução das suas igrejas gravemente em ruínas devido aos decénios do domínio comunista. Mas, de vez em quando, um ou outro Bispo africano diz: "Se apresento na Alemanha projectos sociais, encontro imediatamente as portas abertas. Mas se apresento um projecto de evangelização, encontro bastantes reticências". É evidente que existe em alguns a ideia de que os projectos sociais devem ser promovidos com a máxima urgência, enquanto que as coisas que se referem a Deus ou até à fé católica são coisas bastante particulares e menos prioritárias. Contudo, a experiência daqueles Bispos é precisamente que a evangelização deve ter a precedência, que o Deus de Jesus Cristo deve ser conhecido, acreditado e amado, deve converter os corações, para que também as coisas sociais possam progredir, para que se dê início à reconciliação, para que por exemplo a Sida possa ser combatida enfrentando verdadeiramente as suas causas profundas e curando os doentes com a devida atenção e com amor. A questão social e o Evangelho são entre si inseparáveis. Onde dermos aos homens só conhecimentos, habilidades, capacidades técnicas e instrumentos, ali levaremos muito pouco.

Então manifestam-se muito depressa os mecanismos da violência, e a capacidade de destruir e de matar torna-se a capacidade prevalecente, torna-se a capacidade para alcançar o poder um poder que algumas vezes deveria trazer o direito, mas que nunca será capaz de o fazer. Desta forma, afastamo-nos cada vez mais da reconciliação, do compromisso comum pela justiça e pelo amor.

Os critérios segundo os quais a técnica entra ao serviço do direito e do amor, perdem-se; mas é precisamente destes critérios que tudo depende: critérios que não são apenas teorias, mas que iluminam o coração orientando assim a razão e o agir pela recta via.

Sem dúvida, as populações da África e da Ásia admiram as capacidades técnicas do Ocidente e a nossa ciência, mas ao mesmo tempo assustam-se perante um tipo de razão que exclui totalmente Deus da visão do homem, considerando que esta é a forma mais sublime da razão, que deve ser imposta também às suas culturas. A verdadeira ameaça à sua identidade não a vêem na fé cristã, mas no desprezo de Deus e no cinismo que considera o desprezo do sagrado um direito da liberdade e eleva a utilidade ao supremo critério moral para os futuros sucessos da pesquisa.

Queridos amigos, este cinismo não é o tipo de tolerância e de abertura cultural que os povos esperam e que todos nós desejamos! A tolerância da qual temos urgente necessidade inclui o temor de Deus o respeito por aquilo que para outros é sagrado. Portanto, este respeito por aquilo que os outros consideram sagrado pressupõe que nós mesmos aprendamos de novo o temor de Deus.

Este sentido de respeito só pode ser regenerado no mundo ocidental se crescer de novo a fé em Deus, se Deus estiver de novo presente para nós e em nós.

Não impomos esta fé a ninguém. Um semelhante género de proselitismo é contrário ao cristianismo. A fé pode desenvolver-se unicamente na liberdade. Mas é à liberdade dos homens que apelamos para que se abram a Deus, o procurem, o ouçam. Nós aqui reunidos pedimos ao Senhor com todo o coração que pronuncie de novo o seu "Effatha!", que cure de novo a nossa debilidade dos ouvidos em relação a Deus, ao seu agir e à sua palavra, que nos torne capazes de ver e de ouvir. Pedimos-lhe que nos ajude a reencontrar a palavra da oração, para a qual nos convida na liturgia e cuja fórmula essencial nos deixou no Pai-Nosso.

O mundo precisa de Deus. Nós precisamos de Deus. De qual Deus? Na primeira leitura, o profeta dirige-se a um povo oprimido dizendo: "A vingança de Deus virá" (Vulg. Is 35,4). Podemos intuir facilmente como o povo imagina essa vingança. Mas o mesmo profeta revela depois em que ela consiste: na bondade restabelecedora de Deus. A explicação definitiva da palavra do profeta, encontramo-la n'Aquele que morreu na Cruz: em Jesus, o Filho de Deus encarnado que aqui nos olha com tanta insistência. A sua "vingança" é a Cruz: o "Não" à violência, "o amor até ao fim". É este o Deus do qual temos necessidade. Não faltamos ao respeito pelas outras religiões e culturas, nem ao respeito profundo pela sua fé, se confessarmos em voz alta e sem meios termos aquele Deus que opõe à violência o seu sofrimento; que perante o mal e o seu poder eleva, como limite e superação, a sua misericórdia. A Ele dirigimos a nossa súplica, para que Ele esteja no meio de nós e nos ajude a ser suas testemunhas credíveis. Amém!




Domingo, 10 de Setembro de 2006: VÉSPERAS NA CATEDRAL DE MÜNCHEN

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Queridas crianças

da Primeira Comunhão
Estimados pais e educadores!
Queridos irmãos e irmãs!

A leitura que acabámos de ouvir é um trecho do último livro dos escritos neotestamentários, chamado Apocalipse. Ao vidente é concedido olhar para o alto, no céu, e em frente, em direcção ao futuro. Mas, precisamente desse modo ele fala também da terra e do presente, da nossa vida. Com efeito, durante a nossa vida estamos todos a caminho, progredindo rumo ao futuro. E queremos encontrar a estrada certa: descobrir a vida verdadeira, não acabar num beco sem saída ou no deserto. Não queremos dizer no final: tomei a estrada errada, a minha vida faliu, não deu certo. Nós queremos alegrar-nos com a vida; queremos, como disse Jesus certa vez, "ter vida em abundância".

Mas, escutemos agora o vidente do Apocalipse. O que nos disse neste trecho que há pouco nos foi lido? Ele fala de um mundo reconciliado. De um mundo no qual homens "de todas as nações, tribos, povos e línguas" (
Ap 7,9) estão reunidos na alegria. Então perguntamo-nos: "Como pode acontecer isto? Qual é a estrada que leva a esta situação?". Bem, a primeira coisa, a mais importante, é: essas pessoas vivem com Deus; Ele "abrigá-los-á na sua tenda" (Ap 7,15), diz a nossa Leitura. E perguntamo-nos ainda: "O que é esta "tenda de Deus"? Onde está? Como podemos chegar até ela?". O vidente refere-se talvez ao primeiro capítulo do Evangelho de João, onde se lê: "E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco" (Jn 1,14). Deus não está longe de nós, num lugar muito distante do universo, onde ninguém pode chegar. Ele armou a sua tenda no meio de nós: em Jesus tornou-se um de nós, com carne e sangue como nós. Esta é a sua tenda. E na Ascensão não foi para um lugar longe de nós. A sua tenda, Ele mesmo com o seu Corpo, permanece entre nós como um de nós. Podemos tratá-lo por Tu e falar com Ele. Ele escuta-nos, e se estivermos atentos, ouvimos também que Ele responde.

Repito: em Jesus é Deus que "acampa" no meio de nós. Mas repito também: Onde é que isto acontece realmente? À pergunta, a nossa Leitura dá duas respostas. Fala dos homens reconciliados que "lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro" (Ap 7,14). Isto parece-nos muito estranho. Constitui uma menção ao Baptismo na linguagem cifrada do vidente. A palavra acerca do "sangue do Cordeiro" refere-se ao amor de Jesus, por Ele conservado até à morte cruenta. Este amor divino, e ao mesmo tempo humano, é a purificação na qual Ele nos imerge no Baptismo a purificação com a qual nos lava, tornando-nos limpos para sermos adequados a Deus, para podermos viver na sua companhia. O acto do Baptismo, contudo, é somente o início. Ao caminhar com Jesus, na fé e na vida com Ele, o seu amor toca-nos profundamente para nos purificar e nos tornar luminosos. Escutámos que no banho do amor as vestes tornaram-se cândidas.

Segundo a ideia do mundo antigo, o branco era a cor da luz. As vestes brancas significam que na fé nos tornamos luz, depomos as trevas, a mentira, a ficção, o mal em geral, tornamo-nos pessoas claras, adequadas a Deus. O hábito baptismal e o da Primeira Comunhão que vestis querem recordar-nos e dizer-nos: mediante a convivência com Jesus e com a comunidade dos crentes, com a Igreja, torna-te tu mesmo uma pessoa luminosa, uma pessoa de verdade e de bondade uma pessoa da qual transparece o esplendor do bem, da bondade do próprio Deus.

O vidente dá-nos a segunda resposta à pergunta "onde encontramos Jesus" novamente na sua linguagem cifrada. Ele diz que o Cordeiro guia a multidão de pessoas de todas as culturas e nações às fontes de água viva. Sem água não existe vida. Sabiam-no bem as pessoas cuja pátria confinava com o deserto. Assim a água nascente tornou-se para eles o símbolo por excelência da vida. O Cordeiro, isto é Jesus, guia os homens às fontes da vida. A Sagrada Escritura, na qual Deus nos fala e nos diz como viver de modo justo, faz parte dessas fontes. Mas algo mais pertence a essas fontes: em verdade, a autêntica fonte é o próprio Jesus, no qual Deus se doa a nós. E faz isto sobretudo na santa Comunhão, na qual podemos, por assim dizer, beber directamente na fonte da vida: Ele vem a nós e une-se a cada um de nós. Podemos constatar isto: mediante a Eucaristia, o Sacramento da Comunhão, forma-se uma comunidade que ultrapassa todos os confins e abraça todas as línguas vemos isso aqui: estão presentes Bispos de todas as línguas e de todas as partes do mundo através da comunhão forma-se a Igreja universal, na qual Deus fala e vive connosco. Deste modo é que devemos receber a santa Comunhão: como encontro com Jesus, com o próprio Deus, que nos guia para as fontes da vida verdadeira.

Queridos pais! Gostaria de vos convidar vivamente a ajudar as vossas crianças a crer, convidar-vos a acompanhá-las no seu caminho rumo à Primeira Comunhão, um caminho que continua também depois, a acompanhá-las no seu caminho rumo a Jesus e com Jesus. Peço-vos, acompanhai as vossas crianças à igreja para participar na Celebração eucarística de domingo!

Vereis que isto não é tempo perdido; ao contrário, é o que mantém a família verdadeiramente unida, dando-lhe o seu centro. O domingo torna-se mais bonito, toda a semana torna-se mais bonita, se juntos participais na Liturgia dominical. E, por favor, rezai juntos também em casa: à mesa e antes de dormir. A oração leva-nos não somente para Deus, mas também uns em direcção aos outros. É uma força de paz e de alegria. A vida em família torna-se mais cordial e adquire um alívio mais amplo se Deus estiver presente, e experimenta-se esta sua proximidade na oração.

Queridos professores de religião e caros educadores! Peço-vos de coração para manter presente na escola a busca de Deus, daquele Deus que em Jesus Cristo se tornou visível para nós. Sei que no nosso mundo pluralista é difícil iniciar na escola o discurso sobre a fé. Mas não é de facto suficiente que as crianças e os jovens adquiram na escola somente alguns conhecimentos e algumas habilidades técnicas, e não os critérios que dão uma orientação e um sentido aos conhecimentos e às habilidades. Estimulai os alunos a fazer perguntas não somente sobre isto ou aquilo o que também é positivo mas a perguntar sobretudo acerca do "de onde" e do "para onde" da nossa vida.

Ajudai-os a perceber que todas as respostas que não chegam até Deus são demasiado curtas.
Queridos Pastores de almas e todos vós que desempenhais actividades de ajuda na paróquia! A vós peço para fazer todo o possível a fim de tornar a paróquia uma pátria interior para as pessoas uma grande família, na qual experimentamos ao mesmo tempo a família ainda maior da Igreja universal, aprendendo mediante a liturgia, a catequese e todas as manifestações da vida paroquial a caminhar juntos na estrada da vida verdadeira.

Os três lugares da formação família, escola e paróquia caminham juntos e ajudam-nos a encontrar a estrada rumo às fontes da vida e, queridas crianças, queridos pais e queridos educadores, todos nós desejamos verdadeiramente "a vida em abundância". Amém.




Segunda-feira, 11 de Setembro de 2006: CONCELEBRAÇÃO NA PRAÇA DO SANTUÁRIO DE ALTÖTTING

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Caros irmãos no ministério episcopal

e sacerdotal
Amados irmãos e irmãs

Na primeira leitura, no salmo responsorial e no trecho evangélico deste dia encontramos três vezes, de modo sempre diferente, Maria, a Mãe do Senhor, como pessoa que reza. No Livro dos Actos encontramo-la no meio da comunidade dos Apóstolos que se reúnem no Cenáculo e invocam o Senhor que subiu ao Pai, a fim de que cumpra a sua promessa: "Dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo" (
Ac 1,5). Maria guia a Igreja nascente na oração; é praticamente a Igreja orante em pessoa. E assim juntamente com a grande comunidade dos santos e como seu centro, encontra-se também hoje diante de Deus e intercede por nós, pedindo ao seu Filho que envie novamente o seu Espírito à Igreja e ao mundo, e que renove a face da terra.

Nós respondemos a esta leitura, cantando juntamente com Maria o grande louvor entoado por Ela, quando Isabel a chamou bem-aventurada em virtude da sua fé. Trata-se de uma prece de acção de graças, de alegria em Deus, de bênção pelas suas grandes obras. O teor deste canto sobressai imediatamente nas primeiras palavras: "A minha alma glorifica isto é, engrandece o Senhor". Engrandecer Deus significa dar-lhe espaço no mundo, na própria vida, deixá-lo entrar no nosso tempo e no nosso agir: esta é a essência mais profunda da verdadeira oração. Onde Deus é engrandecido, o homem não é diminuído: ali também o homem é engrandecido e o mundo luminoso.

Enfim, neste trecho evangélico Maria dirige ao seu Filho um pedido em favor dos amigos que se encontram em dificuldade. À primeira vista, isto pode parecer um diálogo totalmente humano entre a Mãe e o Filho e, efectivamente, é um diálogo repleto de profunda humanidade. Todavia, Maria dirige-se a Jesus não simplesmente como a um homem, contando com a sua fantasia e a sua disponibilidade em socorrer. Ela confia uma necessidade humana ao seu poder a um poder que vai para além da habilidade e da capacidade humanas. E assim, no diálogo com Jesus, vemo-la realmente como Mãe que suplica, que intercede. Vale a pena mergulhar um pouco mais profundamente na escuta deste trecho evangélico: para compreender melhor Jesus e Maria, mas precisamente para aprender também de Maria a rezar da maneira justa. Maria não dirige um verdadeiro pedido a Jesus, mas diz-lhe somente: "Não têm vinho" (Jn 2,3).

Na Terra Santa, as bodas festejavam-se durante uma semana inteira; nelas participava todo o povoado, e portanto consumiam-se grandes quantidades de vinho. Agora os esposos encontram-se em dificuldade, e Maria simplesmente refere tal facto a Jesus. Não lhe pede algo específico, e ainda menos que Jesus exerça o seu poder, realize um milagre, produza vinho. Simplesmente confia a situação a Jesus, deixando-lhe a decisão sobre como agir. Assim, nas palavras simples da Mãe de Jesus identificamos dois elementos: por um lado, a sua solicitude carinhosa pelos homens, a atenção materna com que sente a dificuldade do próximo; vemos a sua bondade cordial e a sua disponibilidade a ajudar. Esta é a Mãe, à qual as pessoas há gerações se põem em peregrinação aqui em Altötting.

Confiamos-lhes as nossas preocupações, as necessidades e as situações de dificuldade. É aqui na Sagrada Escritura que vemos pela primeira vez a bondade da Mãe pronta a ajudar, em quem temos confiança. Mas a este primeiro aspecto, muito conhecido por todos, une-se mais um que facilmente nos passa despercebido: Maria remete tudo ao juízo do Senhor. Em Nazaré, entregou a sua vontade, infundindo-a na vontade de Deus: "Eis a serva do Senhor, faça-me em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Esta é a sua atitude fundamental permanente. É assim que Ela nos ensina a rezar: não desejar afirmar diante de Deus a nossa vontade e os nossos desejos, por mais importantes que sejam, por mais razoáveis que nos possam parecer, mas levá-los até à sua presença e deixar que Ele decida o que tenciona fazer. De Maria aprendemos a bondade pronta a ajudar, mas também a humildade e a generosidade de aceitar a vontade de Deus, dando-lhe confiança na convicção de que a sua resposta, qualquer que ela venha a ser, será o nosso, o meu verdadeiro bem.

Penso que podemos compreender muito bem a atitude e as palavras de Maria; contudo, temos ainda maior dificuldade de entender a resposta de Jesus. Já o apelativo não nos agrada: "Mulher". Por que motivo Ele não diz: mãe? Na realidade, este título exprime a posição de Maria na história da salvação. Ele remete ao futuro, à hora da crucifixão, em que Jesus lhe dirá: "Mulher, eis o teu filho filho, eis a tua mãe!" (cf. Jn 19,26-27). Por conseguinte, indica antecipadamente a hora em que Ele fará da mulher, sua mãe, a mãe de todos os seus discípulos. Por outro lado, este título evoca a narração da criação de Eva: no meio da criação com todas as suas riquezas, Adão sente-se sozinho como ser humano. Então é criada Eva, em quem ele encontra a companheira que esperava e a quem chama com o título de "mulher". Assim, no Evangelho de João, Maria representa a nova e definitiva mulher, a companheira do Redentor, a nossa Mãe: aparentemente pouco afectuoso, este apelativo expressa ao contrário a grandeza da sua missão perene.

Mas agrada-nos ainda menos aquilo que em seguida, em Caná, Jesus diz a Maria: "Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora" (Jn 2,4). Gostaríamos de objectar: tens muito a ver com Ela! Foi Ela quem te deu a carne, o sangue o teu corpo. E não apenas o teu corpo: com o "sim", que brotou das profundidades do seu coração, carregou-te no seu seio e, com amor materno, introduziu-te na vida e ambientou-te no seio da comunidade do povo de Israel. Mas se falamos assim com Jesus, já estamos no bom caminho para compreender a sua resposta. Pois tudo isto deve evocar na nossa memória o facto de que por ocasião da Encarnação de Jesus existem dois diálogos que caminham juntos e se fundamentam um ao outro, tornando-se um só. Em primeiro lugar, há o diálogo que Maria mantém com o Arcanjo Gabriel, no qual Ela diz: "Faça-me em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).

Mas existe um texto paralelo a este, um diálogo por assim dizer no interior de Deus, do qual nos faz menção a Carta aos Hebreus, quando diz que as palavras tiradas do Salmo 40 se tornaram como que um diálogo entre Pai e Filho um diálogo em que tem início a Encarnação. O Filho eterno diz ao Pai: "Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo... Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade" (He 10,5-7 cf. Ps 40,6-8). O "sim" do Filho: "Venho para fazer a tua vontade", e o "sim" de Maria: "Faça-me em mim segundo a tua palavra" este dúplice "sim" torna-se um único "sim", e deste modo o Verbo torna-se carne em Maria.

Neste dúplice "sim", a obediência do Filho faz-se corpo; mediante o seu "sim", Maria dá-lhe um corpo. "Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo?". Aquilo que mais profundamente têm a ver um com o outro é este dúplice "sim", em cuja coincidência teve lugar a Encarnação. É este ponto da sua profundíssima unidade que o Senhor tem em vista com a sua resposta. É precisamente para ali que remete a sua Mãe. É ali, neste "sim" conjunto à vontade do Pai, que se encontra a solução. Também nós devemos aprender sempre de novo a caminhar rumo rumo a este ponto; é ali que sobressai a resposta às nossas interrogações.

A partir dali, compreendemos agora também a segunda frase da resposta de Jesus: "Ainda não chegou a minha hora". Jesus jamais age exclusivamente sozinho; nunca para agradar os outros. Ele age sempre a partir do Pai, e é precisamente isto que O une a Maria, porque foi ali, nesta unidade de vontade com o Pai, que Ela quis inserir também o seu pedido. Por isso, depois da resposta de Jesus, que parece rejeitar o pedido, surpreendentemente e com simplicidade Ela pode dizer aos servos: "Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jn 2,5). Jesus não realiza um prodígio, não brinca com o seu poder numa situação que, em última análise, é totalmente particular. Não, Ele realiza um sinal, mediante o qual anuncia a sua hora, a hora das bodas, a hora da união entre Deus e o homem.

Ele não "produz" simplesmente vinho, mas transforma as bodas humanas numa imagem das núpcias divinas, para as quais o Pai convida através do Filho e nas quais Ele confere a plenitude do bem, representada pela abundância do vinho. As bodas tornam-se imagem daquele momento, em que Jesus leva o seu amor até ao extremo, deixa que o seu corpo seja dilacerado e assim se entrega a Si mesmo a nós para sempre, tornando-se um só connosco união entre Deus e o homem. A hora da Cruz, a hora da qual brota o Sacramento, em que Ele se entrega realmente a nós em carne e sangue, deposita o seu Corpo nas nossas mãos e no nosso coração: esta é a hora das núpcias.

Assim, também a necessidade do momento é resolvida de modo verdadeiramente divino, e o pedido inicial é ultrapassado amplamente. A hora de Jesus ainda não chegou, mas no sinal da transformação da água em vinho, no sinal do dom festivo, Ele antecipa a sua hora já no momento presente.

A sua "hora" é a Cruz; a sua hora definitiva será o seu retorno no final dos tempos. Ele antecipa de forma incessante esta hora definitiva, também precisamente na Eucaristia, onde se manifesta sempre já neste momento. E sempre de novo, fá-lo por intercessão da sua Mãe, por intercessão da Igreja, que O invoca nas preces eucarísticas: "Vem, Senhor Jesus!". No Cânone, a Igreja implora sempre de novo esta antecipação da "hora", pedindo que ela chegue já agora e que se entregue a nós. Assim desejamos deixar-nos orientar por Maria, pela Mãe das Graças de Altötting, pela Mãe de todos os fiéis, rumo àquela "hora" de Jesus.

Peçamos-lhe o dom de O reconhecer e compreender cada vez mais. E não permitamos que o nosso receber seja reduzido unicamente ao momento da Comunhão. Ele permanece presente na Hóstia santa e espera-nos continuamente. A adoração do Senhor na Eucaristia encontrou em Altötting, na antiga sala do tesouro, um novo lugar. Maria e Jesus caminham juntos. Através dela queremos permanecer em diálogo com o Senhor, aprendendo deste modo a recebê-lo melhor.

Santa Mãe de Deus, rogai por nós, como em Caná rogastes pelos esposos! Guiai-nos sempre de novo rumo a Jesus.

Amém!




Altötting, 11 de Setembro de 2006: VÉSPERAS MARIANAS COM OS RELIGIOSOS E OS SEMINARISTAS NA BASÍLICA DE SANTA ANA

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Estimados amigos

Neste lugar de graça, Altötting, reunimo-nos seminaristas a caminho do sacerdócio, presbíteros, religiosas, religiosos e membros da Pontifícia Obra para as Vocações de Especial Consagração na Basílica de Santa Ana, diante do Santuário da sua Filha, a Mãe do Senhor. Estamos aqui congregados para nos interrogarmos sobre a nossa vocação ao serviço de Jesus Cristo e para compreender esta nossa vocação sob os olhos de Santa Ana, em cuja casa amadureceu a maior vocação da história da salvação. Maria recebeu a sua vocação dos lábios do Anjo.

No nosso quarto, o Anjo não entra de modo visível, mas para cada um de nós o Senhor tem um seu plano; Ele chama cada um pelo nome. Por conseguinte, a nossa tarefa consiste em tornarmo-nos pessoas em escuta, capazes de ouvir a sua chamada, corajosas e fiéis, para O seguir e no final para sermos servos fiéis, que agiram correctamente com o dom que lhes foi confiado.

Sabemos que o Senhor procura trabalhadores para a sua messe. Foi Ele mesmo que o disse: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor para que envie trabalhadores para a sua messe!" (
Mt 9,37s.). Foi por isso que nos reunimos aqui: para apresentar este pedido ao Senhor da messe. Sim, a messe de Deus é grande e espera trabalhadores: no chamado Terceiro Mundo na América Latina, na África, na Ásia as pessoas esperam arautos que anunciem o Evangelho da paz, a mensagem do Deus que se fez Homem.

Mas também no chamado Ocidente, aqui na Alemanha, bem como na vastidão da Rússia é verdade que a messe poderia ser grande. Porém, faltam homens que estejam dispostos a tornar-se operários na messe de Deus. Acontece hoje, como outrora, quando o Senhor foi tomado pela compaixão diante das multidões que lhe pareciam como ovelhas sem pastor pessoas que provavelmente sabiam muitas coisas, mas não eram capazes de ver como orientar bem a sua vida. Senhor, olhai a tribulação desta nossa hora, que tem necessidade de mensageiros do Evangelho, de testemunhas para Vós, de pessoas que indiquem o caminho rumo à "vida em abundância"! Vede o mundo e também agora deixai-vos tomar pela compaixão! Olhai o mundo e enviai trabalhadores!

Com este pedido nós batemos à porta de Deus; mas é também com este mesmo pedido que o Senhor bate ao nosso próprio coração. Senhor, Vós quereis-me? Isto não seria porventura demasiado grande para mim? Não sou talvez demasiado pequeno para isto? "Não temas", disse o Anjo a Maria.

"Nada temas, porque Eu... te chamei pelo teu nome", diz-nos Ele mediante o profeta Isaías (Is 43,1) a cada um de nós.

Onde vamos, quando dizemos "sim" à chamada do Senhor? A descrição mais concisa da missão sacerdotal que é válida analogamente também para as religiosas e os religiosos é-nos oferecida pelo Evangelista Marcos que, na narração da escolha dos Doze, afirma: "Estabeleceu Doze para estarem com Ele e para os enviar..." (Mc 3,14). Permanecer com Ele e, como enviados, colocar-se a caminho rumo às pessoas estas duas coisas são paralelas e, ao mesmo tempo, constituem a essência da vocação espiritual do sacerdócio. Permanecer com Ele e ser enviados duas coisas inseparáveis entre si. Somente quem permanece "com Ele" aprende a conhecê-lo e pode anunciá-lo autenticamente.

Quem está com Ele não conserva para si mesmo aquilo que encontrou, mas deve transmiti-lo. Acontece como com André, que ao seu irmão Simão disse: "Encontrámos o Messias!" (Jn 1,41). "E levou-o até Jesus", acrescenta o Evangelista (Jn 1,42). Numa das suas homilias, o Papa Gregório Magno disse uma vez que os anjos de Deus, a qualquer distância que cheguem com as suas missões, caminham sempre em Deus. Estão sempre com Ele. E falando dos anjos, São Gregório pensou também nos bispos e nos sacerdotes: aonde quer que vão, deveriam "estar com Ele" sempre. A prática afirma: onde os sacerdotes, em virtude das grandes tarefas, permitem que o acto de estar com o Senhor se reduza cada vez mais, perdendo ali enfim, apesar da sua actividade talvez heróica, a força interior que os sustém. Aquilo que fazem torna-se um activismo vazio.

Estar com Ele como é que isto se pode realizar? Bem, a coisa primordial e mais importante para o sacerdote é a Missa quotidiana, celebrada sempre com profunda participação interior. Se a celebramos verdadeiramente como pessoas orantes, se unimos a nossa palavra e o agir à palavra que nos precede e ao rito da celebração eucarística, se na comunhão nos deixamos realmente abraçar por Ele e se O acolhemos então, estamos com Ele.

Um modo fundamental de estar com Ele é a Liturgia das Horas: nela oramos como homens necessitados do diálogo com Deus, contudo envolvendo também quantos não têm tempo nem possibilidade de tal oração. A fim de que a nossa Celebração eucarística e a Liturgia das Horas permaneçam repletas de significado, devemos dedicar-nos sempre de novo à leitura espiritual da Sagrada Escritura; não somente decifrar e explicar as palavras do passado, mas procurar também a palavra que o Senhor actualmente me dirige, o Senhor que hoje me interpela por meio desta palavra. Somente assim seremos capazes de anunciar a Palavra sagrada aos homens deste nosso tempo, como Palavra presente e viva de Deus.

Uma maneira essencial de permanecer com o Senhor é a Adoração eucarística. Graças ao Bispo D. Schraml, Altötting obteve uma nova "sala do tesouro". Lá onde outrora eram conservados os tesouros do passado, objectos preciosos da história e da piedade, hoje encontra-se o lugar para o verdadeiro tesouro da Igreja: a presença permanente do Senhor no Sacramento. Numa das suas parábolas, o Senhor narra-nos acerca do tesouro escondido no campo. Quem o encontrou, assim nos diz, vende todos os seus bens para poder comprar o campo, uma vez que o tesouro escondido ultrapassa todos os outros valores. O tesouro escondido, o bem que está acima de todos os demais bens, é o Reino de Deus é o próprio Jesus, o Reino em pessoa. Ele, o verdadeiro tesouro, está presente na santa Hóstia para O podermos receber sempre. Somente na adoração desta sua presença aprendemos a recebê-lo de maneira justa aprendemos a comungar, aprendemos a celebração da Eucaristia a partir de dentro.

Gostaria de recordar neste contexto uma bonita citação de Edith Stein, a Santa co-Padroeira da Europa, que escreve numa das suas cartas: "O Senhor está presente no tabernáculo com divindade e humanidade. Ele está ali, não para si mesmo, mas para nós: porque a sua alegria consiste em estar com os homens. E porque sabe que nós, como somos, temos necessidade da sua proximidade pessoal. A consequência, para quantos pensam e sentem normalmente, é sentir-se atraídos e de parar ali de vez em quando, na medida em que lhes for possível" (Gesammelte Werke VII, 136 f). Gostamos de estar com o Senhor! Ali podemos falar de tudo com Ele.

Podemos apresentar-lhe as nossas interrogações, as nossas preocupações e as nossas angústias. As nossas alegrias. A nossa gratidão, as nossas decepções, as nossas súplicas e as nossas esperanças. Ali podemos também repetir-lhe sempre de novo: "Senhor, enviai trabalhadores para a vossa messe! Ajudai-me a ser um bom trabalhador da vossa messe!".

Aqui, nesta Basílica, dirigimos o nosso pensamento a Maria, que levou a sua vida totalmente no "estar com Jesus" e que, por isso, estava e ainda hoje está totalmente à disposição dos homens: as pequenas tábuas votivas demonstram-no de modo concreto. E pensemos na sua santa mãe Ana, e com ela na importância das mães e dos pais, das avós e dos avôs; pensemos na importância da família como ambiente de vida e de oração, onde se aprende a rezar e onde podem amadurecer as vocações.

Aqui em Altötting pensamos, naturalmente, de modo particular no bom frei Konrad. Ele renunciou a uma grande herança, porque queria seguir Jesus Cristo sem reservas e permanecer totalmente com Ele. Como o Senhor propõe na parábola, ele escolheu para si realmente o último lugar, o lugar do humilde frade porteiro. Na sua portaria, realizou precisamente aquilo que São Marcos nos diz dos Apóstolos: o "estar com Ele" e o "ser enviado" para os homens. Da sua cela podia contemplar sempre o tabernáculo, "estar com Ele" sempre.

Deste olhar, ele aprendeu a bondade inesgotável com que tratava as pessoas, que batiam quase ininterruptamente à sua porta por vezes até com maldade, para o provocar, e às vezes com impaciência e confusão. Mediante a sua bondade e a sua humanidade ele transmitiu-lhes, sem muitas palavras, uma mensagem que valia mais do que simples palavras. Roguemos ao santo frei Konrad, para que nos ajude a conservar o olhar fixo no Senhor e que deste modo ele nos ajude a levar o amor de Deus aos homens. Amém!




Bento XVI Homilias 15806